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1 APRESENTAÇÃO
O presente trabalho apresenta o estudo de caso dos Vinhos Bettú, localizado no
município de Garibaldi – Nordeste do Rio Grande do Sul. Através de pesquisas históricas e
entrevista com Vilmar Bettú foi realizado este estudo, que certamente agregará ainda mais
valor à história de nossa vitivinicultura.
Estes vinhos, de autoria de Vilmar Bettú, alcançaram notoriedade nacional por suas
características singulares, principalmente em função da filosofia de trabalho deste
vinhateiro, Professor e Engenheiro Mecânico.
O engajamento deste enófilo e sua incessante busca em elaborar vinhos cada vez
melhores, atrai a curiosidade e admiração de muitos, e este trabalho é uma pequena
contribuição, como forma de testemunho, com o intuito de registrar esta história que é
pioneira e que certamente ainda terá um longo trajeto a ser percorrido.
As dificuldades físicas existentes se tornam minúsculas quando comparadas às
mentais, principalmente no que diz respeito às mudanças de comportamento, e esta é uma
das maiores dificuldades encontradas pelos que elaboram vinhos com uvas de terceiros.
Os vinhos nacionais estão conquistando o reconhecimento merecido no cenário
mundial e existe uma forte tendência de surgimento de vinícolas butiques, ou dos chamados
vinhos de garagem, pois a quantidade não ocupa o mesmo posto de outrora, e é a qualidade
que atrai os paladares mais apurados.
E Vilmar Bettú está ciente disto.
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2 INTRODUÇÃO
O setor vitivinícola nacional, localizado no sul do país, tem como principal distinção
histórica, a supremacia da produção e do provimento do mercado brasileiro de vinhos.
Mesmo tendo se alicerçado em vinhos de mesa, produzidos a partir de cultivares
americanas e híbridas, que ainda hoje representam cerca de 80% do volume total de vinhos
produzidos no país, mais recentemente, especialmente a partir da década de 80, começaram a
ocorrer investimentos no setor vitivinícola, com a implantação e a modernização das
vinícolas, motivados por um mercado interno com potencial para o consumo de vinhos finos
com padrão internacional e de maior valor agregado. Esse mercado, entretanto, seguindo uma
tendência mundial, assimilou e passou a exigir novos referenciais de qualidade. A ampla
oferta de produtos importados também contribuiu para esta nova postura do consumidor.
O objetivo geral deste trabalho é abordar os aspectos da história da cultura vitivinícola
no mundo e no Brasil, especialmente na região Nordeste do Rio Grande do Sul, onde se
encontra nosso objeto de estudo: os Vinhos Bettú. O objetivo específico deste estudo de caso
é descrever o trabalho singular de Vilmar Bettú em sua vinícola e em seus parreirais,
contextualizando-o no cenário nacional.
O presente estudo esta dividido em quatro capítulos. O primeiro capítulo tem como
referencial teórico a história do surgimento e o desenvolvimento da vitivinicultura no mundo,
e dos três povos que mais se destacaram neste aspecto na antiguidade. O segundo capítulo
aborda o avanço da vitivinicultura nos períodos históricos, assim como o seu surgimento no
Brasil. O terceiro capítulo, por sua vez, retrata a expansão da vitivinicultura no Rio Grande do
Sul, enquanto que o último capítulo tem como objetivo principal do trabalho de pesquisa a
história do surgimento dos Vinhos Bettú.
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3 METODOLOGIA DA PESQUISA
A metodologia, segundo Dencker (2004), é o estudo do método da pesquisa. Deste
modo, utiliza-se o Método Histórico, partindo do princípio de que a forma de vida social
atual, as instituições e os costumes têm origem no passado, logo, é de suma importância
identificar suas raízes, para compreender sua natureza e função.
Enquanto método é possível investigar os fatos, os acontecimentos, os processos e
instituições do passado, facilitando a análise e compreensão destes fenômenos, principalmente
acerca de seu desenvolvimento, possibilitando também averiguar modificações, variações e
relações entre sociedades diferentes. Logo, o método histórico completa as lacunas dos fatos e
acontecimentos, alicerçando-se em um tempo, e garantindo a percepção da continuidade e do
entrelaçamento dos fenômenos passados e atuais (MARCONI; LAKATOS 2003).
Enquanto técnica de pesquisa o presente trabalho fundamenta-se em obras de distintos
autores, entrevista com o Sr. Vilmar Bettú e conhecimentos adquiridos no decorrer do curso
de Enologia.
O alicerce da metodologia histórica, de acordo com Fagherazzi (2007), é a própria
reflexão dos acontecimentos históricos, com o intuito de compreendê-los e poder modificálos. Baseia-se nas obras humanas, no passado e nas suas relações com o presente.
A presente pesquisa teve o propósito de obter informações em diferentes fontes, como
a pesquisa em documentos oficiais, políticas de governo, dados estatísticos, documentos
históricos, publicações em jornais, revistas, folhetos, sites, livros, fotografias, organizações
privadas, organizações não governamentais, associações, entrevista, entre outros. Em suma,
nas mais diferentes fontes de pesquisa que podem subsidiar a compreensão da trajetória da
história da viticultura na região sul do Brasil e, especificamente na Vinhos Bettú.
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4 BREVE HISTÓRICO DA VITIVINICULTURA MUNDIAL
Neste capítulo encontra-se a história da vitivinicultura, enfatizando o papel dos
pioneiros no processo de disseminação da cultura da uva e do consumo do vinho pelo mundo.
4.1 Origem da videira
Inúmeras Eras se sucederam na formação do planeta Terra. Algumas delas têm ligação
estreita com a história e surgimento da videira. Com a consolidação da crosta terrestre, na Era
Arqueozóica, boa parte do solo brasileiro se formou. As temperaturas eram bastante elevadas,
não possibilitando o desenvolvimento de seres vivo. Com o resfriamento gradual da crosta
terrestre, várias Eras se passaram, como a Proterozóica, a Paleozóica, a Mesozóica, e por fim,
a Cenozóica em que as condições já possibilitavam o surgimento da vida, pois já havia calor
no Equador, frio nos pólos e as estações do ano já eram percebidas. A Era Cenozóica
aconteceu há cerca de 100 milhões de anos atrás, e divide-se em dois períodos, o Terciário e o
Quaternário. No período Terciário a vida já estava presente na terra, no mar e no ar.
Segundo Manfrói (2004), a videira surgiu aproximadamente há cem milhões de anos.
Portanto, quando o ser humano apareceu sobre a Terra, há três milhões de anos, a videira
selvagem já dominava seu habitat, enfeitava as copas das árvores, crescia ao longo dos rios ou
em pedras, com suas formas, troncos, folhas, cores e frutos. Sendo assim, a videira tem sua
origem no Período Terciário da Era Cenozóica.
O ser humano surgiu no Quaternário dessa mesma Era Cenozóica, e nos primeiros
passos de sua evolução, utilizava o fruto da videira na sua alimentação. Este fato é
comprovado por achados arqueológicos, onde sementes de uva apareciam junto com os
vestígios de populações pré-históricas.
Phillips (2005) e Giovannini (2005) afirmam que os fósseis mais antigos das ancestrais
das videiras são provenientes da Groenlândia, de onde foram se alastrando para regiões mais
meridionais, seguindo duas direções: uma Américo-Asiática e a outra Euro-Asiática. No
roteiro Euro-asiático encontramos a Vitis sezannesnsis considerada como a Vitis tercearia
mais importante, pois é a ancestral da evolução para a Vitis vinifera.
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No final do Período Quaternário, as vitis já estavam presentes em grande número com
dois subgêneros: o Euvitis e o Muscadinea. Nessa época, sobreveio a glaciação, ou seja, o
período Glacial em que a terra ficou quase totalmente coberta de gelo. As videiras foram
atingidas por esse flagelo, restando apenas três focos de sobrevivência; um americano, um
europeu e um asiático-ocidental.
O foco americano originou as atuais espécies Vitis labrusca, Vitis rupestris, Vitis
berlandieri, entre outras. O foco europeu, abrangendo as áreas mediterrâneas francesas e
italianas, até a península balcânica, originou uma única espécie: a Vitis vinifera silvestris.
O foco asiático-ocidental, localizado entre o mar Cáspio e o mar Negro, deu origem às
Vitis vinifera Caucásicas. Essa região corresponde exatamente à região citada na Bíblia onde
Noé, após o dilúvio, plantou e cultivou a primeira videira.
Videiras silvestres cresciam em várias regiões do Hemisfério Norte, especialmente na
Eurásia, na América do Norte e na Ásia. Indícios arqueológicos e botânicos sugerem
fortemente que as videiras foram cultivadas pela primeira vez no Oriente Médio antes de 4000
a.C.. Outros estudos apontam a possibilidade de ter iniciado o cultivo até por volta de 6000
a.C., tendo sido encontrados indícios na Geórgia. O homem só pode ter iniciado o cultivo de
videiras no período neolítico, quando passou a criar animais, e não só caçar animais
selvagens, e cultivar alimentos.
Embora houvesse uvas silvestres em muitas partes da Europa e do oeste da Ásia,
os primeiros vestígios surgiram numa região bem delimitada do Crescente Fértil:
as encostas do Cáucaso entre o mar Negro e o mar Cáspio, as montanhas Tauros da
Turquia e a parte norte das montanhas Zagros no oeste do Irã. (PHILLIPS, 2005, p.
30).
O mesmo autor destaca que não devemos confundir a origem da videira com a origem
da viticultura. A videira é anterior ao homem. A viticultura é uma decorrência da evolução da
civilização do homem. Muitos milhões de anos separaram uma da outra.
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4.2 Difusão da vitivinicultura no mundo
Os primeiros produtores de vinho da Idade da Pedra podem ter colhido as uvas
selvagens, as amassado, deixado o sumo e os resíduos da uva fermentar em pequenos sulcos
nas rochas e bebido antes que o líquido azedasse. Com o passar do tempo, o ser humano foi
evoluindo e a intervenção do homem para a elaboração do vinho aumentou progressivamente.
As uvas eram cultivadas e as variedades mais adequadas eram selecionadas e fermentadas.
(PHILLIPS, 2005).
A influência humana sempre esteve muito ligada à cultura do vinho:
A ação do homem está presente na elaboração do vinho que bebemos hoje como
nunca esteve na história e a garrafa de vinho que compramos é o resultado de uma
série de decisões. Muitas decisões dizem respeito à viticultura: onde plantar, que
variedades de uva escolher, a distância entre as videiras, como deve ser guiadas e
podadas, como podem ser irrigadas e adubadas, quando colher a uva, com máquina
ou manual. Resumindo: cultivar uvas para vinho é um processo complexo no qual
o viticultor deve pensar antes de tomar a decisão. (PHILLIPS, 2005, p.18).
As origens do vinho são nebulosas como devem ter sido as primeiras safras. É muito
difícil saber quem foi o primeiro que permitiu que o sumo fermentasse até se tornar vinho,
também nunca saberemos quem foi o primeiro que colheu os grãos de trigo e assou o primeiro
pão. (PACHECO, 2006; PHILLIPS, 2005).
Vestígios de vinho foram encontrados em jarras de barro ou outros tipos de vasos que
continham evidências de que foram usados para guardar vinho: restos de uvas - sementes, ou
manchas e resíduos de vinho. Tais vestígios foram encontrados em vários lugares do Oriente
Médio que datam do período neolítico, que se estendeu de 8500 a 4000 a.C.
A prova mais consistente da descoberta das origens do vinho foi obtida em vários
sítios arqueológicos na montanha Zagros, no que é hoje o Irã. Os mais antigos achados desse
período são seis jarras de nove litros enterradas no piso de uma construção de tijolos de
barro que data de 5400 a 5000 a.C., a noroeste das montanhas Zagros. Os vasos não
continham apenas resíduos de vinho, mas também sedimentos de resina, usada como
conservante de vinho no passado por sua capacidade de matar algumas bactérias. Vários
tampões de argila foram encontrados próximo às jarras, o que se entende que a bebida pode
ter sido até protegida do contato do ar.
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A teoria do vinho foi limitada a um só lugar, sendo muitas vezes chamada de
“hipótese de Noé,” por causa do relato de Noé e o vinho presentes no primeiro livro do
Antigo Testamento. O livro faz curiosa sugestão de que a viticultura e a produção de vinhos
começaram no Monte Ararat, onde a Arca de Noé atracou depois que as águas do dilúvio
refluíram. Segundo a descrição bíblica do gênese do vinho, Noé foi o primeiro viticultor e o
pioneiro produtor da bebida. (PACHECO, 2006).
Da Ásia menor, a viticultura propagou-se para a Síria, Egito e Grécia. No
Egito as uvas eram cultivadas por reis, sacerdotes e importantes autoridades. Raramente o
cultivo se dava em vinhedos, pois eles preferiam os jardins maiores e as videiras eram
plantadas normalmente no centro das plantações, com o propósito de ficarem protegidas do
vento por outras árvores mais altas a sua volta. A viticultura ganha maior desenvolvimento
no Egito, no período final da colonização grega, quando o cultivo da uva passou a cobrir
uma extensão de terras bem maior. (PHILLIPS, 2005).
Segundo Phillips (2005), o vinho também se tornou importante símbolo de conceitos
fundamentais, como a morte e a ressurreição, e passou a representar o sangue de algumas
divindades em religiões tão diversas quanto as do Antigo Egito e do cristianismo. As
videiras também ficaram associadas a um grupo de crenças religiosas e, quando essas
crenças se expandiram no mundo, se disseminou, inicialmente com propósitos religiosos e,
mais tarde, para satisfazer o desejo do povo.
Uma das mais freqüentes associações é ao mistério da morte e ressurreição enigma que acabou sendo representado pela própria videira. As videiras parecem
morrer no inverno, quando suas folhas caem e o tronco seca; o “renascimento” das
videiras acontece [...] na primavera. Em muitas pinturas egípcias, a videira
simboliza a ressurreição [...]. (PHILLIPS, 2005, p.52).
O mesmo autor cita que este povo relacionava também o vinho à fertilidade, uma
causa talvez um pouco mais “cortesã”:
O vinho tem a capacidade de relaxar as convenções e as travas sociais, facilitando
a interação das pessoas, incluindo as relações sexuais. A ligação entre vinho e
sexo, uma conexão tanto celebrada quanto deplorada há milênios, deu origem à
associação do vinho com a fertilidade. (PHILLIPS, 2005, p.52).
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O vinho passa a ser um instrumento de várias religiões no mundo antigo, era usado
freqüentemente em libações. Também foi muito usado em nome de um deus específico,
derramando-o durante uma oração em agradecimento a um presente recebido por este.
As técnicas de viticultura, segundo Phillips (2005), são transferidas do Egito para
Creta, baseadas na lenda do deus do vinho para os gregos. Após o nascimento de Dionísio,
Zeus decide salvar o filho, enviando-o ao Egito. É lá que Dionísio conhece a arte da
vinicultura, com a qual se identifica.
De acordo com Novakoski e Freitas (2003), foram os mais antigos habitantes da
Península Ibérica, os tartessos, que iniciaram a cultura das videiras para fabricação, consumo
e comercialização de vinhos, nos vales do rio Tejo e Sado, há aproximadamente 4.500 anos.
Os tartessos, possuidores de um conhecimento tecnológico avançado para a época, realizavam
negociações comerciais com outros povos, utilizando o vinho como moeda de troca. Muitos
séculos depois, foram dominados pelos fenícios, que além de notáveis comerciantes, eram
especialistas em técnicas de navegação.
Conforme Johnson (1989), foi na Grécia que a viticultura ganhou desenvolvimento e
passou a integrar os seus costumes, religião, história e tradições. Da Grécia foi levada para
todos os cantos do mar Mediterrâneo pelos fenícios, mercadores e aventureiros, que
difundindo os famosos vinhos gregos, introduziram também a cultura da videira.
A Itália foi a região que mais aceitou e cultivou a videira, há cerca de 2000 a.C.
Entretanto, essa cultura só começou a ganhar proporções maiores em 400 a.C. Nesta época,
Plínio já catalogava 91 variedades de videiras e 40 tipos de vinho.
Johnson (1989) e Phillips (2005) descrevem que, em Roma, as uvas eram colhidas o
mais tardar possível, por este motivo, inúmeras vezes eram deixadas secar ao sol para poder
desidratar e concentrar o açúcar. Os romanos inventaram a prensa e utilizaram barricas de
madeira para armazenar o vinho, e assim melhor conservá-lo. Também tornaram o vinho uma
marca própria, uma forma de impor seus costumes e sua cultura. Expandiram o hábito de
cultivar e beber vinho em todo o seu vasto império. Transformaram o vinho no principal
produto do Império Romano e foram responsáveis pela fundação de grandes regiões vinícolas
no mundo, até hoje famosas, principalmente na Itália, França e Alemanha.
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Da Itália, as legiões romanas, nas suas conquistas, disseminaram a videira pela
Europa. Nessa época, em todo Continente, se bebia vinho romano que era trazido pelos toscos
caminhos de terra ou pelo mar. O interesse pelo vinho, conseqüentemente, trouxe o cultivo da
videira. Vinhedos foram sendo formados por toda a Europa. Variedades foram se adaptando
aos climas mais frios, e assim, a arte de cultivar a uva se propaga e se fixa na França, Suíça,
Alemanha, Inglaterra, Espanha e Portugal, que foi o último a ser conquistado pela viticultura,
cerca de 100 a. C.. A partir desta época, começou a ensaiar a sua viticultura, que mais tarde se
caracterizou por desenvolver variedades e técnicas próprias de cultivo, elaborando vinhos e
aguardentes. Quando Portugal começou a se projetar como país de grandes navegantes e
colonizadores, levou com suas expedições a videira, disseminando-a pelas terras que
conquistava, entre elas, a Ilha da Madeira, onde foi introduzida a viticultura e, rapidamente, aí
se desenvolveu, produzindo vinhos que eram muito disputados na Inglaterra (JOHNSON,
1989).
Saindo da Idade das Trevas, que se seguiu à queda do Império Romana, entramos na
Idade Média. De acordo com os autores Novakoski e Freitas (2003), foi a partir das
expedições colonizadoras que as videiras européias chegaram a outros continentes. Na
América, Cristóvão Colombo introduz as primeiras videiras na sua segunda viagem às
Antilhas, em 1493, e mais tarde as videiras se espalham para o México e os Estados Unidos,
chegando às colônias espanholas da América do Sul, em especial Chile e a Argentina.
Na Europa, os padres desenvolveram os vinhedos e a técnica de elaborar os vinhos foi
aprimorada. O vinho passa a ser símbolo da liturgia, uma bebida sagrada para os cristãos. Foi
muito consumido em festas de casamento e esta forte relação entre a Igreja e o vinho mantémse até os dias atuais.
Na Idade Moderna, além de inspirar grandes artistas, o vinho passa a acompanhar os
alimentos, nascendo assim a enogastronomia. Surge a garrafa de vidro e a rolha de cortiça.
Louis Pasteur torna-se o pai da Enologia. Nesta mesma época aparecem o espumante e os
vinhos licorosos. Pertence ao século XVII a criação da maior parte dos vinhos que hoje
consideramos clássicos (NOVAKOSKI; FREITAS, 2003).
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MacNeil (2003) cita que, no final do século XIX, a filoxera* espalhou-se por toda a
Europa, destruindo todos os vinhedos. Da Europa, esta praga se deslocou por todo o mundo,
matando vinhedos na África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e América. Na década de 1860,
videiras nativas da América foram enviadas para a França, a fim de serem utilizadas para
experiências. A filoxera entrou neste país de carona nas raízes destas plantas. Em duas
décadas, a maioria dos vinhedos da Europa fora destruídos. Existe um pequeno consolo nessa
história, os vinhedos foram replantados com variedades, clones e bacelos adequados a cada
local.
No século XX, a difusão do vinho intensificou-se com a utilização de modernos
equipamentos e novas tecnologias, como o cruzamento genético de diferentes cepas de uvas e
o desenvolvimento de leveduras selecionadas geneticamente, controle de temperatura, entre
outros, permitindo assim que se produzisse vinho em todos os continentes.. Para os
produtores, o vinho é feito no vinhedo, o que significa que a qualidade do vinho vem da uva
da qual ele é feito.
De acordo com estatísticas fornecidas pelo Office Inernational de la Vigne et du Vin
(Escritório Internacional da Uva e do Vinho - OIV), verificou-se que, nos últimos quinze
anos, a produção e o consumo de vinhos reduziu. Segundo as autoridades internacionais
ligadas ao setor vitivínicola, embora o consumo esteja em declínio, o consumidor está em
busca de maior qualidade, pois o que reduziu foi a elaboração de vinhos comuns. Em
compensação, aumentou a elaboração de vinhos finos. As mesmas estatísticas apontam os
fatores que contribuíram para a diminuição do consumo de vinhos, se destacam, por exemplo:
o desconhecimento da bebida pelos jovens, o alto preço do produto (altas taxas
administrativas e alíquotas de impostos) e a falta de campanhas publicitárias e educativas
sobre os benefícios da bebida.
*
Filoxera é um pequeno inseto altamente destrutivo que ataca as raízes das videiras destruindo-as aos poucos.
Recentemente, este ataque está sendo observado em folhas de Vitis vinifera. Videiras americanas nativas, como
as pertencentes às espécies Vitis labrusca ou Vitis riparia, toleram esse inseto, sem conseqüências adversas. No
inicio, denominada Phylloxera vastatrix (a devastadora), hoje identificada como o inseto Dactylasphaera
vitifoliae.
22
5 A VITIVINICULTURA NO BRASIL
De acordo com Souza (1996) e Santos (1998), embora o Brasil tenha sido descoberto
em 1500, somente em 1532, com a expedição colonizadora de Martin Afonso de Souza, que
trazia agricultores da Ilha da Madeira e dos Açores, homens com tradições vitícolas, é que a
videira foi trazida ao Brasil.
Com a intenção de colonizar a nova colônia, conhecida como Terra de Santa Cruz,
formando povoados, surgiu a necessidade de desenvolver uma agricultura de subsistência.
Assim davam-se condições à cultura da videira, que foi trazida junto a animais, sementes e
outras árvores frutíferas.
São Vicente é fundado nessa época e, conseqüentemente, a agricultura brasileira e,
com ela, a introdução da videira. Quando chega Dom Martim Afonso de Souza, enviado por
Dom João III, Rei de Portugal que traz da Ilha da Madeira as primeiras vinhas. Brás Cubas,
donatário de vastas terras cultiváveis, mandou trazer do Porto (Portugal) seus irmãos e seu
pai, em 1540, e nas terras infecundas de Jeribatiba, na serra de Piratininga, na modesta Vila de
São Paulo dos Campos, cultivou seus vinhedos, que já estavam em franca produção em 1551,
dando origem aos vinhos que supriam a falta do produto português, conforme comprova o
Inventário dos Bens, documento guardado no Convento do Carmo na cidade de Santos no
Estado de São Paulo.
A vitivinicultura brasileira iniciou após 32 anos do descobrimento do Brasil. Podemos
dizer que estes primeiros vinhos brasileiros foram elaborados brancos originários de uvas
Malvasia, provenientes do Douro ou de Verdelho, uma das mais cultivadas na Ilha da Madeira
ou ainda da Galego de Alentejo; os tintos com a casta Bastardo, Tinta e Alvaralho
provenientes da Ilha Madeira e do Douro. As referências históricas enumeram ainda
variedades como Ferraes, Boaes, Bastardo e Dedo de Dama, como as uvas mais destacadas.
Também é de procedência portuguesa o registro de 1542, referente à plantação de
vinhedos em Pernambuco, e de 1549, na Bahia, no litoral do Nordeste do Brasil, com castas
Ferral, Moscatel e Dedo de Dama, muito usadas na elaboração de vinhos.
23
A descoberta de ouro, em Minas Gerais, foi um desastre para a agricultura em geral. A
“febre do ouro” esvaziou a região agrícola. Todos queriam minerar e enriquecer rapidamente.
Tempos mais tarde, com a decadência das minas, a agricultura começou a renascer, mas com
outros objetivos.
A cana-de-açúcar, algodão e o café eram as prioridades. Santos (1998) comenta sobre
a facilidade de importar vinhos. Isso fez com que a viticultura não fosse importante e, no ano
de 1785, Dona Maria I, por meio de um documento proibiu o cultivo da videira e a elaboração
de vinhos no Brasil, para não prejudicar a produção vinícola portuguesa. Esse “alvará” só foi
revogado em 1808 por Dom João VI.
Mesmo depois dessa revogação, a viticultura não marcou presença entre as culturas
agrícolas do Brasil. O fracasso das variedades viníferas não se limitou apenas ao Brasil. Na
América do Norte também essas culturas não tiveram sucesso, então os Estados Unidos se
voltaram para variedades nativas que produziam mais e com muito menos trabalho. Tal foi o
sucesso das variedades americanas que o mundo inteiro passou a se interessar por elas.
Reforçam Albuquerque, Souza e Oliveira (1987) que, tanto a Bahia quanto
Pernambuco, apresentavam irretorquível documentação de existência da viticultura desde o
Século XVI. Onde consta que o ponto de partida do cultivo das videiras foi introduzido pela
expedição colonizadora vinda de Portugal e hábil para introduzir, nas novas terras, bacelos e
povoadores pioneiros. A primeira expedição capacitada foi a de Duarte Coelho que deu inicio,
em 1535, ao povoado de Pernambuco estabelecendo seu primeiro núcleo em Mirim, hoje
Olinda, onde as primeiras vinhas foram plantadas no nordeste brasileiro (ALBUQUERQUE;
SOUZA; OLIVEIRA, 1987).
Os mesmos autores também reforçam que, em 1542, desembarcou na Ilha de
Itamaracá o capitão João Gonçalves, com a incumbência de retomar a administração.
Em sua atuação fomentou a lavoura, importou mudas e sementes e, acrescenta o
autor, “o cultivo da cana, da vinha, do tabaco e do algodão generalizou-se na ilha e
logo foi se estendendo pelo continente fronteiriço”. (ALBUQUERQUE; SOUZA;
OLIVEIRA, 1987, p.01).
Na Bahia, pode-se admitir o cultivo da parreira antes de 1549, como se verifica no
exame das cartas escritas, mais precisamente na Carta V, Informações da Terra Brasil, escrita
em 1549 na Bahia, por Nóbrega (1931, apud ALBUQUERQUE; SOUZA; OLIVEIRA, 1987),
nas quais relata que a produção de uvas chega a duas vezes por ano, quando não atacadas
24
pelas formigas. Souza (1938) confirma que a principal árvore é a videira, quanto mais a
podam, mais fruto produz.
O mesmo autor cita ainda, que na Bahia, em toda época do ano, há uvas que
amadurecem e são muito doces, e é possível encontrar em uma só videira, braços com uvas
maduras e outros com a fruta em flor.
Os cultivares, plantados na Bahia e Pernambuco, eram todos de Vitis vinifera, as
mesmas castas trazidas pelos primeiros portugueses, que fizeram vir da Ilha da Madeira ao
tempo das primeiras viagens, vale destacar as Malvasias, Moscatéis, Dedo de Dama, entre
outras. Estas variedades já davam celebridade ao vinho da Madeira ao tempo das viagens
colonizadoras para o Brasil (ALBUQUERQUE; SOUZA; OLIVEIRA, 1987).
De acordo com Philips (2005), estudos arqueológicos atuais, realizados por Oldemar
Blasi e Igor Chmyz, comprovam a existência de uma viticultura com raízes espanholas, nas
margens do rio Paraná, mais precisamente na fundação da cidade Real de Guairá, no ano de
1557. Esta cidade foi colonizada por espanhóis que entraram por Buenos Aires.
Esta viticultura, em terras paranaenses, dura até 1631 quando sua população foi
aniquilada por Raposo Tavares. O missionário jesuíta Roque Gonzáles de Santa Cruz, foi
precursor e pioneiro da viticultura no extremo sul do Brasil no ano de 1626. Graças a sua ação
de catequizar os autóctones, funda a Redução Cristã de São Nicolau, na margem esquerda do
rio Uruguai, introduzindo ferramentas e mudas de videiras de origem espanholas, via Buenos
Aires. Após a morte do jesuíta Roque Gonzáles, pelos índios Caparaós, os catequizadores da
Companhia de Jesus prosseguem a obra de expansão, fundando os Sete Povos das Missões,
onde cultivaram diversas lavouras, inclusive as videiras de origem européia, além de
fabricarem doces, conservas, roupas, pão e vinho, como relata os escritos do padre Luiz
Gonzaga Jaeges (1939). Os Sete Povos das Missões, considerados a cunha da viticultura sulrio-grandense, terminaram como ruínas históricas por obra de dominadores espanhóis e
portugueses.
Uma segunda introdução vitícola portuguesa no Nordeste do Brasil surge na Ilha de
Itamaracá com vinhedos constituídos por castas Ferral, Moscatel e Dedo de Dama e, desde
então, se difunde no continente, inclusive merecendo incentivos oficiais durante a dominação
holandesa, iniciada em 1647.
25
Vale relembrar que no período colonial a vitivinicultura não chegou a ter importância
econômica, e a videira se manteve como uma planta de cultivo mais doméstico.
A imigração italiana no Brasil se iniciou aos poucos, no ano de 1820, principalmente
em São Paulo, crescendo até o final do século XIX. Muito ligados à viticultura, devido a
tradição e vocação, os imigrantes italianos, trouxeram a videira para ser cultivada em suas
terras. Provavelmente, trouxeram espécies de Vitis vinifera que, ou secaram, devido a
travessia, ou não chegaram a crescer e se desenvolver como o esperado, devido às
enfermidades e pragas já introduzidas anteriormente com as variedades americanas.
Com o passar do tempo, os imigrantes italianos, e/ou seus descendentes, levaram as
videiras para o Rio Grande do Sul e promoveram sua expansão geográfica rumo ao norte,
implantando centros vitivinícolas em Santa Catarina, no Vale do Rio do Peixe; no Paraná, em
União da Vitória, Curitiba e Londrina alcançando, recentemente, as regiões do sul - médio:
São Francisco (Juazeiro, Irecê e Curaça/ Bahia e Petrolina, Santa Maria da Boa Vista e Casa
Nova/ Pernambuco), e do Centro-Oeste do Brasil.
O século XIX foi importante na contribuição da viticultura do sul do Brasil,
principalmente pela contribuição dos imigrantes europeus. A partir de 1824, os imigrantes
alemães chegaram ao Rio Grande do Sul, sendo que muitos eram conhecedores e apreciadores
de vinho e tornaram-se em propagadores do cultivo de videiras nos municípios de São
Lourenço do Sul e São Leopoldo.
Também se deve aos agricultores das colônias alemãs de São Francisco do Sul e
Joinvile, em Santa Catarina, a expansão da viticultura entre 1850 e 1870, no Vale do Rio
Negro e, mais tarde, para o norte, até Curitiba – Paraná, e para o sul, até Blumenau - Santa
Catarina, com sarmentos de Isabel, procedente do Rio Grande do Sul.
A imigração de origem francesa também esteve associada à expansão da viticultura
sul-brasileira. Em 1865, se estabeleceram nos arredores de Curitiba cem agricultores franceses
chegados da Argélia, formando os primeiros grupos de viticultores com interesses comerciais
no Paraná. No Rio Grande do Sul os franceses foram notórios desde 1880, difundindo a
viticultura em Pelotas onde foram formados vinhedos com 340 mil cepas de Isabel, Concord e
Barbera na região de Santo Antônio.
26
Com a segunda imigração italiana, em 1875, ao Rio Grande do Sul, iniciou uma nova
realidade na história da vitivinicultura brasileira, com o cultivo da parreira na Encosta
superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, denominada hoje Serra Gaúcha.
Segundo dados da OIV, o Brasil tem se situado nos últimos anos entre os 20 maiores
produtores de vinho do mundo. O consumo é ainda reduzido, cada brasileiro consome cerca
de 2 litros de vinho por ano - bem pouco, se forem levadas em consideração a superfície e a
população do país. Nos últimos anos tem havido um grande avanço no consumo, devido
principalmente à melhora da qualidade do vinho nacional. (MACNEIL, 2004).
Com o aumento dos investimentos em pesquisa e a conquista do mercado externo fez
do Brasil , em 1995, membro da Organização Mundial do Vinho (OMV), órgão que regula as
normas internacionais de cultivo e produção do vinho.
5.1 Variedades americanas chegam ao Brasil
Na primeira metade do século XIX, com o fracasso da Vitis vinifera, inicia na América
do Norte a formação de vinhedos com videiras nativas, rústicas e produtivas, em primeiro
lugar com a Alexandre ou Cape, em 1801, seguida pela Isabella em 1861; pela “Catawba”, em
1823, e por muitas outras que rapidamente se disseminaram pelo mundo.
De acordo com Souza (1996) e Santos (1998), no Brasil a primeira variedade
americana introduzida foi a Isabella, uma Vitis labrusca, que aqui foi chamada de Isabel.
No Rio Grande do Sul, graças à rápida aclimatação da Isabel e sua capacidade de
produção e expansão, passa a ser conhecida como “uva nacional”. Mais tarde chegam outras
Vitis labrusca, como a Concord, Catawba, Martha, Delaware e York Madeira; também
algumas Vitis bourquina como Jacquez e Herbemont, e diversas Vitis aestivalis como Black
July, Rulander, Clinton e Norton’s Virginia. Em 1894 Benedito Marengo introduz a Niágara
Branca, que rapidamente se estendeu por todas as regiões brasileiras. Em 1933, no vinhedo do
Sr. Antônio Carbonari, no município de Louveira, surge a Niágara Rosada, dada à cor rosada
de suas bagas, sendo que, em menos de dez anos, é convertida na mais importante uva de
mesa do Brasil.
27
Entretanto, a falta de cultura vitivinícola de algumas regiões, ou a opção pelo cultivo
de outras variedades agrícolas, tais como o café e a cana-de-açúcar, fez com que não tivesse
êxito a produção de uvas no Brasil, cabendo ao Rio Grande do Sul o papel de desenvolver a
cultura vitivinícola brasileira.
Com o surgimento do míldio*, a história da viticultura brasileira sofre transformações.
*
Míldio: Doença causada pelo fungo Plasmopara viticola e que ataca a videira (frutas, ramos e folhas).
28
6 A EXPANSÃO DA VITIVINICULTURA NO RIO GRANDE DO SUL
Sem dúvida, o nascimento da vitivinicultura na Província do Rio Grande de São Pedro
(Rio Grande do Sul), ocorreu graças aos imigrantes açorianos que povoaram o litoral desde
Rio Grande e Pelotas até Porto Alegre. No período compreendido entre 1732 e 1773, além das
variedades de uvas já citadas anteriormente, introduzem as variedades Bastardo, Alvaralhão e
Malvasia. Atribui-se a Manoel de Macedo Brum da Silveira, natural da Ilha do Pico, o título
do primeiro vitivinicultor gaúcho, sendo que elaborou seus vinhos no município de Rio Pardo.
Um decreto de D. João VI, datado de 11 de março de 1813, reconhece seu pioneirismo.
(UBALDO, 1999).
Em 1824 os imigrantes alemães chegam ao Rio Grande do Sul, muitos deles eram
conhecedores e apreciadores de vinho que rapidamente difundem a vitivinicultura
aproveitando as plantas existentes, ou melhor, a Isabel.
A introdução de variedades americanas no Rio Grande do Sul, conforme Ubaldo
(1999) deu-se em 1840, por José Marques Lisboa, que envia dos Estados Unidos da América
mudas da variedade Isabel. As variedades Niágara e Concord são introduzidas na década
seguinte por viticultores paulistas.
O nascimento oficial da exploração vitivinícola, com caráter econômico-industrial, no
Rio Grande do Sul, deu-se em 1870. Em 1890, o Liceu Riograndense de Agronomia e
Veterinária de Pelotas, incluiu a cadeira de viticultura e enologia e, no mesmo ano, foi
fundada a firma Scalzilli & Cia. Ltda, com adegas em Caxias do Sul e Bento Gonçalves e
filiais no Rio de Janeiro e em São Paulo. (RODRIGUES, 1972).
Uma publicação da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, no Jornal da
Semana de 14/02/71, mostrava que no Estado existiam 1.120 estabelecimentos vinícolas e 329
engarrafadores, representando 80% do total do vinho elaborado no país.
Em 1873, a produção de vinho na província foi de 987 litros e, em 1880, já subia para
63.160 litros elaborados com uvas híbridas, americanas e européias. (BRAMBATTI, 2002).
29
Em 1889, no final do Império, ocorre a Primeira Exposição de Vinhos nacionais,
juntamente com a Primeira Exposição Internacional do Açúcar, no Rio de janeiro.
Concorreram ao certame, vinhos brancos e tintos, das províncias do Rio Grande do
Sul, Santa Catarina, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e de Pernambuco, num
total de 58 amostras. Todos foram analisados e comentados do ponto de vista organoléptico,
sensorial.
Como consta, a arte de elaborar bons vinhos no Rio Grande do Sul já era percebida
no final do Brasil Império. A província do Rio Grande do Sul apresentou seis
vinhos, um dos quais branco. Um deles tinto, Monte Bonito, 1882, de Pelotas, de
uva “portuguesa”, mereceu a qualificação maior, com o comentário “não
artificialmente adoçado” e considerado semelhante ao vinho da Borgonha.
(SANTOS, 1998, p. 60).
Em 21 de abril de 1899, foi inaugurada em Pelotas, pelo Governo do Rio Grande do
Sul, a 1ª Exposição Agrícola do Estado, com uma presença expressiva de vinhos elaborados
naquele município.
Atualmente, o Rio Grande do Sul é o maior produtor de uvas do País, com 54,2% do
total, sendo que 90% da uva é transformada em vinhos, sucos e derivados. Isto mostra um
aumento de área de cultivo em relação a 2006 em 12,09%, segundo levantamento do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007).
Segundo dados estatísticos da União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA, 2010*), o
Rio Grande do Sul vem aumentando a produção de uvas, e as viníferas, timidamente,
conquistam seu espaço. (ANEXO 1)
Um forte aliado que tem contribuído para o aumento do consumo do vinho é o seu
benefício para a saúde. Além disto, muito se fala e se escreve sobre a harmonização dos
vinhos com os cardápios da gastronomia.
6.1 A vitivinicultura na Serra Gaúcha
O clima característico da Serra gaúcha é distinto do encontrado na maioria das outras
regiões vitícolas mundiais, com verões temperados e úmidos, possibilitando o cultivo da
*
Disponível em www.uvibra.com.br. Acessado em 10/06/2010.
30
videira. Esses fatores possibilitam a obtenção de vinhos brancos, tintos e espumantes, com
uma tipicidade própria.
A identidade cultural também se destaca a influência dos imigrantes italianos e seus
descendentes. As casas centenárias de basalto ou de madeira fazem parte dessa identidade,
bem como os capitéis, uma característica do apego religioso e o uso de plátanos e pedras para
sustentação das videiras.
Em Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi, conhecidas como “Pequena Itália”
pode-se encontrar algumas das melhores vinícolas do Brasil, com bastante destaque para o
Vale dos Vinhedos, situado entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo
do Sul e que em 2001, passa a ter a primeira Indicação Geográfica no Brasil, e que atualmente
está em vias de conquistar a Denominação de Origem (D.O.). Este é um dos motivos que
fazem com que a região do Vale dos Vinhedos seja considerada o maior pólo enoturístico do
país.
Assim, sendo a uva e o vinho produtos de atração turística em todos os lugares do
mundo, o que não poderia ser diferente nesta região, esses autênticos produtos da cultura
regional passaram a ser um dos principais ingredientes na atração dos turistas, que
alavancaram a economia da região.
Atualmente existem muitos outros municípios da Serra Gaúcha que produzem vinhos,
como Antônio Prado, Cotiporã, Farroupilha, São Marcos, Guaporé, Nova Pádua, e outros
mais.
6.1.1 Bento Gonçalves
A arte de elaborar vinhos inicia na metade da década de 1885, quando surgem uns dos
primeiros estabelecimentos vinícolas na Colônia Dona Isabel.
Augusto Pasquali & Irmãos- estabelecimento fundado em 1885, pelo imigrante
italiano Alexandro Pasquali, elaborava vinhos e queijos, comercializados em todo o país.
Chegou a produzir em 1925, 45.000 litros de vinho e 100.000 quilos de queijo. A indústria
mantinha uma filial em São Paulo, denominada Nardon Cia. (DE PARIS, 2006, p. 112).
31
A viticultura regional ganha grande impulso de desenvolvimento, iniciado na década
de 1930, com Celeste Gobatto, técnico italiano, que ensina métodos de enxertia e traz para a
região o enólogo “Paternó,” e inicia-se a fundação de muitas cooperativas.
Na Região Uva e Vinho a vitivinicultura moderniza-se com a fundação da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, em 1972. Seu programa visa à geração de
conhecimentos que permitam melhorias no processo de produção agropecuário. Trata-se de
uma empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura, possui autonomia
administrativa e financeira. Sua unidade desenvolve pesquisa relacionada ao desenvolvimento
da vitivinicultura através da implantação de novas tecnologias. Vem atuando de forma
integrada e em parceria com produtores e instituições, tendo como meta viabilizar soluções
tecnológicas para o desenvolvimento sustentável do agronegócio da vitivinicultura brasileira.
No ano de 1985 através da Deliberação 008/85, a EMBRAPA passa a se denominar
Centro Nacional de Pesquisa de Uva e Vinho – CNPUV. É uma empresa pública, vinculada
ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e caracteriza-se por ser um dos
centros de pesquisa mais modernos da América do Sul na área da vitivinicultura. Apresenta
atualização constante e convênios de cooperação técnico-científica com a França.
No período de 1948 - 1955, Bento Gonçalves é muito bem representado na
vitivinicultura, sendo que possuía uma das maiores áreas de parreiras do país, com uma
produção anual de 25.900 toneladas de uvas.
O desenvolvimento regional passa a se solidificar mais em 1959, quando o Ministério
da Agricultura cria uma instituição de ensino profissionalizante, a Escola de Viticultura e
Enologia de Bento Gonçalves. No entanto em 1967, a Escola passa a ser vinculada ao
Ministério da Educação e Cultura – MEC. Em outubro de 1985, passa a denominar-se de
Escola Agrotécnica Federal “Presidente Juscelino Kubitschek” de Bento Gonçalves. No ano
de 2002, a Escola torna-se CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica, passando a ser
uma pequena universidade federal, e atualmente é um IFRS – Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul.
Este município esta localizado na Encosta superior do Nordeste da Serra Gaúcha. Com
altitude média de 618 metros, apresenta clima subtropical e quatro estações bem definidas.
Possui uma área geográfica de 382,5 km² e uma população de 100.643 habitantes
32
(PREFEITURA MUNICIPAL DE BENTO GONÇALVES, 2007*).
Esta situado a 115 km
de Porto Alegre, Capital do Rio Grande do Sul. Seu PIB é de R$ 2.367.582,00 e sua Renda
per capita de R$ 22.763,00 (dados de 2006). A base da economia é a indústria, com destaque
ao setor moveleiro e vinícola.
6.1.2 Caxias do Sul
A ocupação por imigrantes italianos em sua maioria camponeses provenientes da
região do Vêneto (Itália) deu-se a partir de 1875, localizando-se em Nova Milano.
Embora tivessem ganhado auxílio do governo, através de ferramentas, alimentação e
sementes, esse auxílio teve que ser reembolsado aos cofres públicos.
Os Imigrantes eram agricultores, porém, muitos deles possuíam outras profissões. O
cultivo da videira e a elaboração de vinho marcaram a evolução e a identidade de um povo
que acreditou no trabalho.
Num primeiro momento, este vinho era para consumo próprio e mais adiante para
comercialização. A indústria vinícola na década de 60 chegou a ser a principal da região de
colonização italiana. No interior nasciam as cantinas familiares e os parreirais ocupam os
espaços destinados a outras culturas, na cidade expandiam-se as vinícolas. A qualidade do
vinho era uma busca constante, surgiram as cooperativas, oferecendo alternativas
protecionistas ao setor. Na década de 30, muitas cantinas coloniais foram incorporadas pelas
grandes vinícolas, estas já possuíam um complexo de atividades: parreirais, tanoarias,
vidraçarias e empalhamento de garrafões. Mesmo com dificuldades a produção de vinhos
crescia significativamente. Nos anos 70, a vitivinicultura continuava a ocupar destaque na
economia local, mas a tecnologia de produção permanecia estacionada e com poucos ou
talvez sem recursos para novos investimentos, algumas vinícolas começam a enfraquecer e a
mostrar sinais de falência.
Na localidade de Vila Forqueta, no ano de 1929, foi fundada a primeira Cooperativa
Vitivínicola da América Latina por um grupo de pequenas famílias em um momento de
dificuldade em que o setor estava passando. Através da uva e do vinho, Caxias se notabilizou,
*
Disponível em www.bentogoncalves.rs.gov.br. Acessado em 16/05/2010.
33
sendo o berço do turismo do Estado quando em 1931, lançava a maior festa do sul: a Festa da
Uva. Este município esta localizado na Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha e
apresenta altitude média é de 760 a 800 metros. O clima é subtropical. Possui quatro estações
bem definidas. Sua área geográfica é de 1.588,4 km² e conta com uma população de 412.053
habitantes (2006). Esta situado a 130 km de Porto Alegre. Suas principais vias de acesso são
a BR 116 e RST 122. Seu PIB é de 8,1 milhões (2004) e sua Renda per capita de R$
20.485,00 (2004). A base da economia é a indústria 50,01%; comércio e serviços, 38% e
agropecuária 4,51%.*
6.1.3 Flores da Cunha
Segundo os historiadores, a colonização de Flores da Cunha começou em 1877, com a
chegada das famílias vindas do Vêneto, Piemonte e Treviso.Em 1878, chegaram mais famílias
de imigrante italianos vindos, principalmente, de Cremona e do Trento.
Este município esta localizado na Encosta Superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. A
altitude média é de 710 metros, apresenta clima subtropical tipo serrano. Possui uma área
geográfica de 253 km² e uma população de 23.678 habitantes (2000). Esta situado a 150 km
de Porto Alegre. Sua economia é baseada na agricultura e indústria, atualmente detém o titulo
de maior produtor de vinhos e de 2º maior produtor de uvas do país†.
Em função da forte produção vitivinícola, é fundada, em 23 de janeiro de 2002, a
Associação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes – APROMONTES, uma associação
de doze vinícolas localizadas nos municípios de Flores da Cunha e Nova Pádua.
6.1.4 Garibaldi
Em maio de 1870, o Presidente da Província do Rio Grande do Sul, Dr. João Sertório,
desejando ampliar a área de colonização, criava as Colônias de Dona Isabel e Conde D’Eu,
em terras devolutas do Planalto.
*
†
Dados do site www.caxiasdosul..rs.gov.br Acesso em 16/05/2010.
Dados do site www.floresdacunha.rs.gov.br . Acesso em 16/05/2010.
34
Os imigrantes alemães, temendo os índios e feras, não chegaram a povoar estas terras.
O mesmo aconteceu com os descendentes portugueses, estes não apreciavam esta região,
devido ser pouco apropriada à criação de gado bovino.
Em 1875, é aberta a Linha Colonial Figueira de Melo, ao longo da qual e da Estrada
Geral estavam disseminadas 790 pessoas em 348 lotes demarcados. Destas pessoas, 48 eram
francesas, sendo que o Presidente da Província, Dr. José Antônio de Azevedo Castro,
anunciava terem sido mandadas para servirem de núcleo e 729 eram italianos que tinham
vindo espontaneamente à Província, sem que seus nomes contassem nas listas de imigração.
No fim de 1876, chegam novas levas de imigrantes italianos.
Em 11 de outubro de 1890, o Governo do Estado desmembrava as colônias Conde
D’Eu e Dona Isabel, do município de Montenegro, passando ambas a constituírem o
município de Bento Gonçalves.
Para desenvolver a vitivinicultura no município, Aurélio Porto*, promoveu a primeira
Exposição de Uvas de Garibaldi, nos dias 24 a 26 de fevereiro de 1913, onde compareceram
133 expositores de uvas, com 38 diferentes variedades, e 20 expositores de vinhos. Em 1914,
realiza a segunda Exposição de Uvas, nos dias 12 a 15 de fevereiro, onde participaram 268
expositores. (GIRONDI, 2007, p. 24; COSTA, 1999, p. 102).
Pelo Decreto de 31 de Outubro de1900, foi desmembrado o território do Município e a
ex-colônia Conde D’Eu passou à categoria de Município com a denominação de Garibaldi.
“O sábio governo do Estado, sob a égide de um Júlio de Castilhos e de um Borges de
Medeiros, ao declarar autônomo de Bento Gonçalves quis glorificar e imortalizar um se seus
filhos na gloriosa epopéia de 1835, Garibaldi: ‘o herói dos dois mundos’.” (DE PARIS, 2005,
p. 82).
Os Irmãos Maristas fundaram a Vinícola Pindorama e plantaram parreirais de cepas
européias e, em 1908, elaboram seus primeiros vinhos. No ano seguinte, seu primeiro
*
Aurélio Porto- foi o 3º Intendente no período de 1910 – 1917. Nasceu em Cachoeira do Sul, em 1879,
descendente do herói farroupilha Jacinto Guedes. Faleceu em 1945. Foi intendente de Garibaldi e Montenegro.
Dirigiu e redigiu vários jornais, lançou os Fundamentos do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Sul, e mais tarde, da Academia Sul- Riograndense de Letras. Foi escritor, jornalista, ensaísta, genealogista e
orador, teatrólogo e um dos mais notáveis historiadores do Rio Grande do Sul. Preocupou-se com o social,
fundou escolas, construiu novas estradas, melhorou a energia elétrica e telefonia. Em 1913, compôs a letra do
Hino às Uvas, com música do Maestro Francisco Zani. (GIRONDI, 2007, p. 25).
35
espumante é elaborado. Vitório Espac, engenheiro prático, constrói as primeiras máquinas
para auxiliar no processo dessa bebida, tanto na elaboração quanto no engarrafamento.
A indústria vinícola, a partir de 1924, passa a formar a base da economia do
município, com grandes vinícolas conhecidas em todo o país, tais como: a Cooperativa
Garibaldi (a maior da América do Sul, no gênero, fundada em 1936), a Cooperativa
Tamandaré, a Vinícola Armando Peterlongo (produtor do famoso champagne que leva seu
nome), a Carraro - Brosina & Cia. (produtora dos vinhos Palácio), a Vinícola Riograndense e
a Granja Santo Antônio (dos irmãos Maristas).*
Garibaldi está localizada na Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. A altitude
média é de 613 metros. Apresenta clima subtropical, quatro estações bem definidas e possui
uma área geográfica de 181,2 km² que abriga uma população de 29.709 habitantes. Seu PIB é
de US$ 397 milhões (2006) e sua renda per capita de R$ 23.502,00 (2005). A base da
economia é a indústria metalúrgica, moveleira, alimentícia e metalúrgica. (GARIBALDI,
2008).
6.1.5 Monte Belo
O município de Monte Belo do Sul situa-se na região da Encosta Superior do Nordeste
do Rio Grande do Sul, no contexto da Serra Gaúcha, a principal produtora de vinhos do
Brasil. Seu território assim como o do município de Santa Tereza, integrou a área da Colônia
Dona Isabel, atual município de Bento Gonçalves, sendo colonizado por imigrantes italianos,
das regiões do Vêneto, Piemonte e da Lombardia, que chegaram a partir de 1876.
O plantio de videiras iniciou-se por volta de 1878 e, em 1880, já havia uma pequena
produção de vinhos, elaborados nos porões das casas feitas de basalto. Nas primeiras três
décadas do século XX, em toda a região de colonização italiana, a policultura vai
desaparecendo gradativamente cedendo lugar à expansão da viticultura. Leis estaduais e
federais promulgadas nas décadas de 1920/1930, especialmente relativas à higiene na
elaboração de alimentos, centralizam a produção de vinhos em grandes vinícolas localizadas
nas cidades, algumas das quais instalaram, posteriormente, centrais de recebimentos da
colheita, o que dificultou o desenvolvimento de vinícolas locais.
*
Informações obtidas no Arquivo Histórico Municipal de Garibaldi.
36
O comércio local foi se desenvolvendo com o passar dos anos, como cita Razador
(2005), a família Franzoni possuía casa de comércio, cantina de vinhos e licores (em 1913 já
produzia 15.000 hl anuais), fábrica de queijos, salames e serraria e mulas para o transporte de
mercadorias. Possuía filiais em Porto alegre e São Paulo. Em 1930, a família Scanzili
construiu cantina de vinhos.
O município, que serviu de cenário para gravação da novela da Globo Esperança
(capítulos finais) e do filme Saneamento Básico, também é conhecido como o berço da
vitivinicultura
da
Serra
Gaúcha.
Destacam-se
na
produção
de
cítricos,
leite,
hortifrutigranjeiros e agricultura de subsistência.
Seguindo os passos do Vale dos Vinhedos e de Pinto Bandeira (distrito de Bento
Gonçalves), Monte Belo do Sul busca a delimitação geográfica. Os avanços dos trabalhos
desta futura Indicação Geográfica de seus vinhos e espumantes tendem a valorizar ainda mais
a produção local de vinhos de qualidade, de origem controlada, que expressam a identidade da
região.
A área para a Indicação Geográfica Monte Belo do Sul, foi delimitada de modo a
privilegiar a homogeneidade em termos de fatores como altitude, cuja média é de 691 metros,
bem como a valorização da paisagem e a preservação ambiental, pela preservação da mata
nativa que forma um cinturão em torno da área. Esta demarcação abrange parte dos
municípios de Monte Belo do Sul (4.114,6 hectares), Santa Tereza (381,08 hectares) e Bento
Gonçalves (553,48 hectares), totalizando 5.049,02 hectares.
Onze vinícolas, reunidas desde 2003, fazem parte da área demarcada. São cultivados
segundo dados do Cadastro Vitícola 2007, 2.450 hectares de videiras, sendo 800 delas de
variedades de uvas finas. (EMBRAPA UVA E VINHO, 2008). Este município esta localizado
na Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. A altitude média é de 691 metros,
apresenta clima subtropical, quatro estações bem definidas. Apresenta uma área geográfica de
70 km² e uma população de 2.879 habitantes (2007). Seu PIB é de R$ 64.497,00 e sua renda
per capita de R$ 22.559,00. A base da economia é a agricultura, principalmente o cultivo da
uva. A taxa de analfabetismo chega 0, 956% e a expectativa de vida aos 78 anos. (MONTE
BELO DO SUL, 2007*).
*
Dados do site www.montebelodosul.rs.gov.br . Acesso em 16/05/2010.
37
7 A HISTÓRIA DOS VINHOS BETTÚ
Este capítulo aborda a história do surgimento dos Vinhos Bettú, desde a chegada da
família Bettú ao Brasil, até os dias atuais.
7.1 A chegada dos primeiros imigrantes
De acordo com Bettú (2010) condições dos italianos que vieram para o Brasil no final
do século XIX eram extremamente precárias. Eles não possuíam terras e por isto deviam
pagar arrendamento das terras que cultivavam. O arrendamento era pago com parte da
produção. As técnicas empregadas na agricultura na época e nesta região, norte da Itália, eram
muito primitivas. Além disso, havia o esgotamento das terras. Essas condições tornavam a
vida destes agricultores quase inviável. Era uma agricultura de subsistência que eliminava
qualquer esperança de progresso. Moravam em construções rudimentares e na mesma
construção era normal estarem acompanhados por animais domésticos para vencerem os
rigores do inverno. Profissionalmente também tinham muitas restrições, pois a grande maioria
eram agricultores. Uma das poucas condições que poderia ser considerada boa era morarem
próximos de uma pequena vila. Além disso, tinham acesso ao vinho que eles próprios
elaboravam.
O problema social e econômico que estes agricultores eram para a Itália e a
necessidade de colonizar regiões do Brasil. provocaram a emigração.
Bettú (2010) afirma que a partida e a viajem foram dramáticas. O ato de deixar sua
terra natal, seus amigos e parentes e pensar que talvez essa separação fosse definitiva, tudo
isto somado à incerteza do que iriam encontrar na América, tornava o ato de partir um ato
heróico. Este ato e a viajem foram uma seleção dos mais fortes. Só partiram os que tinham
muita coragem e devido às péssimas condições da viagem, doentes e fracos pereceram. Antes
de embarcar em Genova, este povo foi espoliado de todas as formas. Na época da emigração
instalaram-se nas proximidades do porto de Genova toda sorte de exploradores, desde
comerciantes que praticavam preços abusivos até os bandos de assaltantes que subornavam
38
policiais para atuarem livremente. Esta situação fez com que quase ninguém chegasse ao
Brasil com algum dinheiro obtido com a venda do pouco que possuíam na Itália.
Os testes a que este povo foi submetido continuaram quando chegaram ao Brasil.
Idioma diferente, falta de informações, dependência total dos outros, deslocamentos
extremamente precários, alimentação e uma série de outros contratempos tornaram esta
chegada não menos penosa do que a partida e a viagem, pelo contrário, os acontecimentos
pareciam cada vez piores.
Embora tivessem ocorrido mudanças extremas, entre a situação na Itália e a nova
situação no Brasil, o sofrimento continuou. Os imigrantes receberam ajuda inicial do Estado
brasileiro, mas tiveram que comprar a terra. O preço foi acessível e teve carência para iniciar
o pagamento parcelado. Construíram, em mutirão, os primeiros casebres. Uma grande
diferença foi o isolamento das famílias. Cada uma construiu sua casa na propriedade e por isto
moravam longe uma das outras. Na Itália moravam num vilarejo todos próximos. Este
isolamento e a saudade fez surgir a vontade de voltar. Isto era impossível, pois podiam
receber passagem de volta somente viúvas e órfãos.
Ao se estabelecerem em suas propriedades, obtiveram uma certa liberdade que não
possuíam na Itália e com isto a esperança de novas conquistas nasceu intensa nas almas dos
nossos antepassados. Tiveram que derrubar a mata, formar a primeiras roças, e também
implantaram os primeiros parreirais. Foi muito trabalho.
Os primeiros anos foram de adaptação. O clima não era exatamente o mesmo. O
trabalho duro e a cooperação permitiram o surgimento de pequenos núcleos. Alguns deles
são as cidades que hoje conhecemos na região. A principal dificuldade existente junto aos
imigrantes era a falta de infra-estrutura, incluindo: estradas, hospitais, e a precária formação
de quem atuava como médico. Surgiram epidemias que causaram a morte de muitos
imigrantes e de seus filhos brasileiros. Havia também muita dificuldade de comunicação
entre os imigrantes e os brasileiros. Eram poucos os que falavam os dois idiomas.
Segundo Bettú (2010), não foi de maneira diferente que Pietro Bettú, acompanhado
de uma mulher descrita como empregada no passaporte, e 4 filhos de outra mulher, que
ficou na Itália, chegaram ao Brasil em 1886. Ele tinha 44 anos e seu único filho homem, avô
de Vilmar Bettú, chamava-se Deonigi Rodolfo Ferdinando Bettú, e tinha então onze anos.
39
Compraram a propriedade que ainda pertence ao Sr. Augusto Bettú, hoje com 94 anos de
idade, um dos 14 filhos de Deonigi Rodolfo Ferdinando Bettú, sendo que 12 já estão mortos.
Figura 1 – Deogini Rodolfo Ferdinando Bettú e família
Fonte: Acervo da família Bettú.
O registro da compra do lote está assinado por Manoel Peterlongo Filho, que era o
topógrafo local em 1898.
40
Figura 2 – Escritura do Lote 8
Fonte: Acervo da família Bettú.
7.2 Primeiras videiras cultivadas
Bettú (2010) destaca que junto com os imigrantes vieram as cepas européias, as quais
devido às condições não resistiam na região. Foi no contexto da descrição já feita que os
Bettú implantaram os primeiros parreirais no município de Garibaldi, em um terreno cuja
altitude média é de 500 metros . Um deles, com 117 anos de idade foi erguido em 1893 e está
ainda produzindo com mais de 90 % das parreiras originais. A área deste parreiral é de
aproximadamente 3000 metros quadrados com 15 fileiras (11 de Isabel e 4 eram de
Peverella*).
*
Esta cultivar de origem italiana pertence ao grupo das Malvasias, e era também chamada de Malvasia di
Vicenza, mas seu nome correto é Verdicchio.
41
Figura 3 – Foto aérea do Lote 8
Fonte: Acervo da família Bettú.
Restaram apenas algumas variedades, como a Peverella por exemplo, das quais Vilmar
Bettú teve a oportunidade de conhecer e que na década de 60 desapareceram. A uva era
utilizada para elaborar vinho na propriedade, aonde também produziam a grappa.
As principais viníferas trazidas pelos italianos foram: Barbera (bonarda), Peverella,
Nebbiolo, Canaiolo, Moscato e Malvasia.
A não adaptação das viníferas ao nosso solo e clima motivou a busca de cepas que
melhor se adaptassem. A variedade que melhor se adaptou foi a Isabel, que foi encontrada
entre os imigrantes alemães que vieram para o Brasil 50 anos antes. Esta variedade é nativa da
Carolina do Sul, nos Estados Unidos e foi a principal responsável pelo desenvolvimento da
vitivinicultura na Serra Gaúcha, em função de sua resistência às moléstias fúngicas e sua alta
capacidade de produção (GIOVANNINI, 2005).
Com o tempo foram surgindo as primeiras vinícolas. Antes disto os agricultores
elaboravam seu próprio vinho. Em 1931 foi fundada a Cooperativa Vinícola Garibaldi Ltda. e
Deonigi Rodolfo Ferdinando Bettú foi um dos sócios fundadores, passando a fornecer a maior
parte de uva para ser vinificada pela cooperativa.
42
Na década de 40 entra em cena Augusto Bettú, ampliando os parreirais e plantando
viníferas, basicamente Malvasia e Trebbiano. Inicialmente fornecia as uvas para a Vinícola
Armando Peterlongo e, mais tarde, associou-se à Cooperativa Garibaldi. Sempre, parte da uva
era vinificada para o consumo familiar e outra parte destinada à comercialização.
Segundo Bettú (2010), a produção individual das propriedades era pequena em função
da falta de capital e condições materiais para a implantação de parreirais maiores. Ele
menciona que no início, praticamente, não havia arame. As parreiras eram conduzidas pelo
sistema latada, mas não com arame. O material de sustentação horizontal eram estacas obtidas
da rachadura de grandes torras de pinheiro com aproximadamente cinco metros de
comprimento e isentas de nós. Madeira perfeita que não existe mais. Com estas condições o
preço pago pelas uvas era relativamente baixo. Concorria ainda para diminuir o preço a baixa
qualidade de uva em função do excesso de uvas que as parreiras produziam devido à
fertilidade do solo, inadequado para produção de uvas de melhor qualidade.
Já com a implantação de um certo número de instalações vinícolas em boas condições,
como a Peterlongo, Pindorama, Mônaco, Dreher, e diversas cooperativas como a Granja
União, Antunes, Michelon e outras, Bettú (2010) destaca que houve um certo incremento das
uvas viníferas, se destacando a Malvasia, a Peverella e a Barbera.
Somente a Carraro Brosina, nos anos 50, elaborou 50 mil litros de Peverella e anos
mais tarde a produção de Barbera era de aproximadamente 12 milhões de quilos. De acordo
com Bettú (2010), a falta de mercado ocasionou a baixa dos preços das uvas viníferas e o
conseqüente abandono de seu cultivo. Foi um período de surgimento de grandes vinícolas em
detrimento das pequenas.
A própria legislação dificultava enormemente a criação de pequenas vinícolas. Esta
situação levou o setor vitivinícola a uma certa decadência. O resultado foi a falência de várias
delas e o comprometimento da maioria das cooperativas, provocando muitos prejuízos aos
agricultores. Neste momento, houve o abandono desta atividade por muitos viticultores,
buscando alternativas, tais como a criação de galinhas, de gado leiteiro, plantio de batatas e o
cultivo de frutíferas. Outra mudança ocorrida com bastante significado foi a mudança para as
cidades para estudar ou para exercer outra atividade. “O aumento das nossas cidades se deve
muito às dificuldades enfrentadas pelos viticultores”(BETTÚ, 2010).
43
Bettú (2010) destaca que foi nesta mesma época, pelos idos de 70, que se instalaram
na Serra Gaúcha algumas das mais importantes empresas do mundo do ramo de bebidas.
Estas multinacionais trouxeram novamente as viníferas, agora lideradas pelo Cabernet Franc,
Merlot, Riesling Itálico e Semillón. Lona corrobora esta informação e acrescenta:
[...],estas novas variedades que deram início aos primeiros vinhos “varietais”, ou
seja, que declaram a uva no rótulo, exigiam novos sistemas de vinificação. Os
vinhos brancos melhoraram muito devido ao fato de que, nesta época, se
introduziram novos sistemas de prensagem de uvas, tais como prensas descontínuas
Vaslin, da França, e as sofisticadas prensas pneumáticas Willmes, da Alemanha.
(LONA, 1998, p.56).
Bettú (2010) prossegue, e lembra que houve uma retomada das atividades
vitivinícolas. Os parreirais ficaram maiores, e as cantinas menores. Surgiram muitas pequenas
vinícolas no interior com características familiares que se dedicaram exclusivamente na
elaboração de vinhos de uvas americanas de péssima qualidade.
Na década de 80 houve, através das multinacionais e cooperativas, a introdução de
variedades com maior potencial, como as brancas Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling
Renano, Gewurztraminer, e as tintas Cabernet Sauvignon, Tannat e Pinot Noir. Lona destaca
que os vinhos tintos evoluíram mais em função das novas variedades do que pela tecnologia
utilizada nos processos de elaboração, mas aos poucos foram ocorrendo mudanças nos
sistemas de condução, na utilização dos porta-enxertos e tipos de poda. Somado a isto, os
produtores perceberam que as madeiras locais utilizadas no envelhecimento dos vinhos tintos
eram inadequadas, e decidiram investir em barricas de carvalho, que aportavam aos vinhos
melhor qualidade.
Bettú (2010) afirma que com o passar dos anos, várias multinacionais desistiram de
seus projetos vitivinícolas, e isso somado ao fato da péssima qualidade dos vinhos em
garrafão, fez ressurgir a crise no setor. Ele destaca que no final da década de 80, surgiram as
pequenas vinícolas que se dedicaram à elaboração de vinhos a partir das uvas viníferas, e
algumas delas, como por exemplo a Miolo, se destacaram no cenário nacional. Em 2010, esta
vinícola comprou uma das últimas multinacionais que ainda estava instalada no Rio Grande
do Sul, a Almadén.
Na década de 90, com a invasão dos vinhos importados, os produtores perceberam que
ficou muito difícil comercializar vinhos de qualidade inferior. Para Bettú (2010), este é o
principal motivo de estarmos diante de safras cada vez melhores.
44
7.3 A Bolsa de New York e os Bettú
Bettú (2010) cita que um fato marcante relacionado às atividades vitivinícolas da
família Bettú ocorreu em 1929/1930. Foi um ano de produção excessiva de uva e de péssima
qualidade. O vinho elaborado com 40.000 kg de uva não apresentava as mínimas condições
para ser bebido. Por isto não foi vendido e para não perdê-lo totalmente, foi destilado. A
grappa obtida também não tinha comércio, eram os anos 30, de crise. Finalmente apareceu um
negociante de cavalos que propôs a troca da grappa por um cavalo. A proposta foi aceita e três
dias após o cavalo adoeceu e morreu.
7.4 Nasce o Vinho Bettú
Uma nova fase teve início na década de 80, narra Bettú (2010). Um dos filhos de
Augusto Bettú, Olavo Bettú, que havia se transferido para Porto Alegre, voltou a residir em
Garibaldi, e junto com o irmão Orgalindo Bettú, plantou novas cepas, como a Cabernet
Sauvignon, a Merlot, a Riesling, a Sauvignon Blanc e a Pinot Blanc. Aumentaram a área
cultivada e se associaram à Cooperativa Aurora, sem nunca abandonar a elaboração de
vinhos. Por este motivo, foram repreendidos severamente pelos dirigentes da cooperativa,
Neste momento, aproximadamente 20 anos atrás, entra em cena Vilmar Bettú, inicialmente,
para livrar os irmãos Orgalindo e o Olavo da enrascada com a Cooperativa Aurora, e nasce
então o Vinho Bettú.
Juntos, escolhem a razão social da empresa que passa a se chamar Orgalindo Bettú
ME. Embora elaborassem vinhos finos, Bettú (2010) relata que a produção era em sua maior
parte de vinho Isabel. Só no final da década de 90 a vinícola passa a elaborar vinhos finos,
não mais como atividade comercial. No início da primeira década do século, os irmãos
registram a Indústria e Comércio de Vinhos Reliquiae Vini Ltda., mas a projeção dos
produtos ocorre com a marca Bettú, e por esta razão neste trabalho de conclusão a referida
empresa é mencionada sempre como Vinhos Bettú.
“Várias tentativas de elaborar vinhos Isabel de boa qualidade sempre esbarravam no
preço aviltado dos vinhos de garrafão da época”, lamenta Bettú (2010). Os irmãos tentaram
também vinhos viníferas bem elaborados, porém, sem o emprego dos conhecimentos técnicos
aprofundados. Eram vinhos de boa qualidade, elaborados a partir de conhecimentos
45
empíricos. Mesmo assim, eram vinhos que se destacaram entre os apreciadores de vinho. Mas
o preço ainda era considerado um entrave. Não havia clientes dispostos a pagar o preço que os
irmãos Bettú consideravam justo.
As tentativas continuaram, até que Orgalindo iniciou o Curso Superior de Tecnologia
em Viticultura e Enologia em Bento Gonçalves. Trabalhou na Cooperativa Aurora e se
especializou na Borgonha e em Bordeaux, na França. A partir de toda uma história da família
com mais derrotas do que vitórias, os irmãos Orgalindo e Vilmar decidiram juntar
experiência, vontade, tecnologia e amor para elaborar vinhos somente a partir de uvas
perfeitas, objetivando a melhor qualidade possível. Foi neste momento que Olavo desligou-se
da parceria com os irmãos, e que Ivair Carraro, irmão da esposa de Vilmar, Salete Carraro
Bettú uniu-se à sociedade dos Bettú.
Os três sócios determinaram que o preço seria estipulado por eles e caso não
encontrassem compradores, “não teriam suas vidas afetadas, a não ser o fígado, pois nenhum
deles dependia da venda de Vinhos Bettú para viver”, brinca Bettú (2010). Orgalindo
continuava trabalhando na Cooperativa Vinícola Aurora; Vilmar, que é Engenheiro Mecânico,
atuava como professor de Física em Carlos Barbosa, enquanto Ivair trabalhava em outra
vinícola no Vale dos Vinhedos, a Reserva da Cantina. Os três amigos decidiram que
elaborariam menores quantidades, que já eram pequenas e seu destino seria para o próprio
consumo.
O texto do primeiro contra-rótulo que foi utilizado nos vinhos elaborados pelo trio era
o seguinte: “Fazia muito frio na Serra Gaúcha, em 1990, no aconchego de uma velha casa
construída por imigrantes italianos, três amigos: um era viticultor, um enólogo e o outro um
enófilo, reunidos saboreavam pinhões acompanhados com ótimo vinho. No local, várias pipas
centenárias sugeriam que fossem novamente ocupadas. O trio aceitou a sugestão e elaborou
um vinho que impressionou a muitos por sua qualidade. A quantidade elaborada foi superior
ao consumo, por isto, uma parte foi dedicada aos amantes do vinho, pois sabiam que neste
fermentado de uva não havia conservantes, contudo, a dose de amor e dedicação com que foi
elaborado, o deixaram íntegro na sua constituição, transmitindo o caráter e a dedicação de
quem o elaborou. É assim que deve ser; pois como já dizia Pasteur há muito tempo: “O vinho
é a mais sã e higiênica de todas as bebidas” e, se através desta arte assim o for, o privilégio da
degustação será exclusivo aos amantes do vinho.”
46
Nesta época, a marca utilizada era Dal Castel, sobrenome da esposa de Ivair Carraro.
Bettú (2010) afirma que escolheram este nome porque acreditaram ser forte, mas depois
optaram por utilizar esta marca apenas no vinho Isabel, e passaram a adotar a marca Bettú
para os demais vinhos.
Mais adiante, também o contra-rótulo foi modificado, e passou a receber a assinatura
de Vilmar Bettú, além de informações sobre a quantidade de garrafas disponíveis, graduação
alcoólica, safra e tipo de vinho. A impressão destes novos contra-rótulos foi feita com base
em um rótulo manuscrito, o que encanta os clientes pela simplicidade e originalidade. Bettú
pretendeu com isto transmitir a idéia de vinho artesanal inclusive à embalagem.
.
Figura 4 – Rótulo dos Vinhos Bettú
Fonte: Vinhos Bettú.
Preocupado mais com o líquido que ocupa a garrafa do que com a garrafa em si,
Vilmar utiliza para seus vinhos apenas um modelo de garrafa: a bordalesa.
47
Atualmente Vilmar é quem cuida da elaboração dos Vinhos Bettú, mantendo a idéia
original de preservar a qualidade dos vinhos com alto valor agregado. Orgalindo e Ivair
optaram por dedicar-se ao trabalho em outras vinícolas, e não participam mais da sociedade.
7.5 Vinhos diferenciados
Mais recentemente iniciou o surgimento daquilo que chamamos de vinhos de butique
ou vinhos de garagem. Bettú (2010) acredita que com a presença de grande número de
pequenas e médias cantinas elaborando produtos satisfatórios e a presença de mini-vinícolas,
tal como a Vinhos Bettú, que é pioneira, será possível a identificação de uma região vinícola.
Vilmar é enfático ao afirmar que não faz questão de ter seus vinhos associados à idéia
de vinhos de butique, ou de garagem. Ele prefere ser visto como um elaborador de vinhos sem
modismos.
7.6 A propriedade
A vinícola, localizada no município de Garibaldi, foi mantida no porão da casa do pai
de Vilmar, com o intuito de preservar as raízes da família. Divide-se em seis ambientes, sendo
uma delas um local onde são armazenados os tanques de aço inoxidável, que é também onde
são recebidas e pisadas as uvas; uma sala de degustações para 12 pessoas, uma sala para
degustações para até seis pessoas, em meio às antigas pipas que hoje servem apenas de
decoração; e um espaço para estocagem de vinhos envasados.
Vilmar possui aproximadamente 1 hectare de videiras, importadas, na sua maioria, da
África do Sul, França e Itália, com mais de 20 variedades cultivadas. Embora faça parcerias
com produtores de uvas de outros locais, como Encruzilhada do Sul, Porto Alegre, Mariana
Pimentel e Ipê, anualmente elabora aproximadamente cinco mil garrafas de vinho de 750mL,
e dependendo da qualidade das uvas, a produção fica bem abaixo desta quantidade, como
ocorreu neste ano.
A utilização de diversas variedades teve a finalidade de descobrir as que melhor se
adaptariam nas terras. Paralelo a isso, os enófilos adoram provar, e ele promete aos seus
48
clientes um novo vinho a cada nova visita, criando assim o desejo nesses clientes de retornar à
propriedade e degustar diferentes vinhos. Bettú comenta que um de seus clientes fez a
seguinte declaração: “Conheço todas as regiões vinícolas importantes do mundo, já tomei
muitos bons vinhos, mas nunca tantos no mesmo lugar” (BETTÚ, 2010).
Variedades que, segundo Vilmar (2010), se adaptaram bem na propriedade: Merlot,
Riesling, Tannat, Malbec, Nebbiolo e Cabernet Franc. As cultivares Pinot Noir,
Gewurztraminer e Chardonnay são muito dependentes da podridão.
Mas Vilmar destaca que não basta ter muitas variedades: é preciso muita dedicação
para poder colher bons frutos. E é por isso que ele realiza a poda seca e, posteriormente, a
verde, removendo o excesso de folhas que obstruem a passagem do sol. Além disto, remove
também os ramos ladrões e suprime as extremidades dos ramos, no caso das videiras muito
vigorosas. Outra prática adotada por Vilmar é o raleio de brotos e de cachos. O primeiro, visa
o descarte dos ramos mal posicionados e ao mesmo tempo abre o dossel vegetativo. O
segundo é praticado no momento da pinta, com o intuito de favorecer os cachos
remanescentes.Vilmar mantém parreirais conduzidos em sistema latada e espaldeira, além de
testar novos sistemas, na esperança de descobrir algo que melhor se adapte às uvas por ele
cultivadas. A última experiência foi realizada em 2009, quando o inquieto vitivinicultor
conduziu algumas fileiras de Sangiovese, numa espécie de cortina simples, mas sem
entrelaçar os galhos da videira. Os resultados têm sido satisfatórios, mesmo que as duas
últimas safras tenham sido bastante prejudicadas pelo excesso hídrico.
49
Figura 5 – Parreiral de Sangiovese em sistema experimental
Fonte: Vinhos Bettú.
A vinícola possui tanques de aço inoxidável, barricas de carvalho novas e barricas de
carvalho de diversos usos. Bettú (2010) utiliza um lagar de madeira para fazer a pisa das uvas,
e para esta atividade conta com o auxílio da esposa e de suas duas filhas.
50
Figura 6 – Lagar para pisagem das uvas
Fonte: Vinhos Bettú.
Este sistema é mantido principalmente porque tem apresentado bons resultados, e
também porque a quantidade de uvas recebidas em uma safra é pequena, e permite que o
processo seja realizado de forma suficientemente rápida, evitando a oxidação, e
concomitantemente suave, não esmagando demais os engaços.
A uva é sempre colhida na parte da manhã, e é transportada em caixas plásticas
adequadas para este fim, com no máximo 13 kg, embora a capacidade de cada caixa seja de
até 25 kg. Este padrão foi adotado por Vilmar (2010), a fim de garantir a integridade das
bagas. Em seguida a uva é esmagada através da pisa, conforme foi detalhado acima, sendo os
engaços separados posteriormente manualmente com o auxílio de uma peneira. Após as uvas
são transportadas para os tanques de fermentação que possuem sistema de refrigeração, a fim
de melhor controlar a temperatura nesta fase. O transporte de quantidades pequenas de vinho
é realizado através de baldes, evitando oxigenar demais os vinhos. No caso de quantidades
acima de 500 litros é utilizada uma bomba. Terminada a fermentação alcoólica o vinho é
transportado para os tanques de aço inoxidável ou barricas de carvalho onde acontecerá a
fermentação malolática. Após esta etapa o vinho é estocado em garrafões de 4,6 litros para
51
envelhecer, e cada vinho é avaliado de tempos em tempos, a fim de decidir o momento ideal
para ser comercializado. Também são feitas análises no decorrer das etapas, visando evitar
qualquer falha.
Os resíduos industriais, que são mínimos devido à pequena produção, são conduzidos
a uma fossa, para compostagem, e posterior utilização como adubo nos parreirais.
7.7 A filosofia
A filosofia de Vilmar é manter a elaboração de pequenas quantidades de vinhos,
utilizado somente uvas perfeitas, em recipientes de inox, de madeira perfeita ou de vidro,
reduzindo ao máximo a possibilidade de haver qualquer tipo de contaminação. Ele elabora
vinhos varietais e, somente quando estiverem maduros, faz os cortes entre eles. Aconselha a
nunca por no mercado vinhos com defeito, pois é mais aconselhável fazer vinagre. E ele
enfatiza: “Pode-se também dormir durante a safra, mas não normalmente. Fazer tudo na hora
certa e bem feito e nunca tentar aproveitar uva ou vinho que possa estar comprometido por
pequenos acidentes” (BETTÚ, 2010).
O desafio de Vilmar é tentar elaborar vinhos ainda mais longevos, de qualidade cada
vez melhor.
7.8 Perfil dos Consumidores dos Vinhos Bettú
Em função do alto valor agregado aos Vinhos Bettú, eles destinam-se quase que
exclusivamente a consumidores pertencentes à classe A, normalmente homens com formação
de nível superior, e com idade entre 40 e 60 anos.
Vilmar não fez nenhum trabalho específico visando a comercialização, além das
degustações oferecidas gratuitamente no início do negócio, mas que hoje são cobradas*.
Ele orgulha-se de ter sido convidado a participar de um programa exibido pelo Globo
Repórter no dia 18 de março de 2005 (ANEXO 2) sem precisar desembolsar sequer um real,
*
O valor de uma degustação de sete vinhos na vinícola é de R$ 100,00, no entanto, caso o cliente adquira algum
vinho, este valor é abatido no valor da compra.
52
pois foi a própria equipe da TV Globo que o procurou, sabendo da qualidade dos vinhos e da
proposta inédita que os Bettú ofereciam. Paralelo a este fato, estava sendo comercializado na
mesma época o Chardonnay 2005, com passagem em barricas de carvalho e que foi vendido
rapidamente, apesar de seu custo ser de R$ 150,00, ou seja, bem acima dos valores praticados
pelas demais cantinas brasileiras.
O preço médio da maioria dos vinhos hoje comercializados na propriedade é de R$
100,00 por garrafa de 750ml, sendo que o mais barato custa atualmente R$ 55,00, enquanto
que o mais caro custa 740,00. Esta realidade demonstra que é possível comercializar vinhos
com alto valor agregado, desde que a qualidade seja compatível com o que é cobrado.
Aos clientes, Vilmar envia semanalmente um boletim eletrônico, desde 2008, onde
narra as principais atividades desenvolvidas na propriedade (ANEXO 3). Desta forma,
mantém um canal aberto com seu público, favorecendo a comunicação.
O Rio de Janeiro é atualmente o maior consumidor dos Vinhos Bettú, representando
30% das vendas, enquanto que o Distrito Federal, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais
juntos correspondem a 25% das vendas. Os 35% restantes são divididos entre os demais
estados. O marketing é feito pelos próprios clientes, que, satisfeitos com os vinhos, os
indicam para seus conhecidos, gerando assim uma cadeia que aumenta gradativamente.
Os Vinhos Bettú integram a Estrada do Sabor, que é um roteiro turístico do município
de Garibaldi, voltado para a enogastronomia rural.
Outro fator que favorece o fluxo de clientes na pequena cantina é a proximidade com o
Vale dos Vinhedos. “Algumas pessoas vêm para a região buscando fugir do turismo de massa,
e procuram lugares não convencionais, como nossa vinícola”, comenta Bettú (2010).
De acordo com a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos
(APROVALE, 2010*), o fluxo de visitantes no Vale dos Vinhedos vem crescendo a cada ano.
Em 2009, foram 182.229 turistas, um aumento de 18% em relação ao ano anterior,
como pode-se constatar na tabela a seguir:
*
Disponível em www.valedosvinhedos.com.br. Acessado em 17/06/2010.
53
Tabela 1: Fluxo de turistas no Vale dos Vinhedos
Ano
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Número de Turistas
45.000
60.000
82.000
102.000
115.737
105.617
120.962
153.779
182.229
Fonte: APROVALE (2010).
O objetivo de Vilmar é atender aos enófilos que nos visitam, disponibilizando os
Vinhos Bettú em alguns restaurantes selecionados.
7.9 Vinhos elaborados
A tabela a seguir apresenta todos os vinhos disponíveis para venda, mas Bettú destaca
que além desses, existem muitos outros vinhos, ainda em fase de envelhecimento, aguardando
o momento ideal para serem comercializados. E existem também os vinhos que não são
comercializados em função de estarem reservados para o consumo da família. Estes, garante
Vilmar, “não são vendidos por preço nenhum” (2010).
54
Tabela de Preços dos Vinhos Bettú
Touriga Nacional 2008
Touriga Nacional 2005
Teroldego 2006
Tannat 2005
Tannat 2003/4
Tannat 2002
Sangiovese 2003
Rosé de Merlot 2008
Rosé de Cabernet Sauvignon 2008
Riesling Italico Licoroso 1992
Rebbo 2005
Pinotage 2005
Pentacorte 2003
Nebbiolo 2002
Montepulciano 2007
Merlot 2007
Merlot 2005
Merlot 2004
Merlot 2003
Marselan Corte 2004
Marselan 2005
Malvasia di Candia Lic. 2005 (375ml)
V
A
L
O
R
Malvasia di Candia 2008
Malbec c/ 10% Barbera 2003
Malbec 2002
Exacorte 2001/02/03/04
CORTE ESPECIAL BETTÚ
Corte Cabernet Sauvignon/Tannat 2005
Corte Bordalês "F" 2003
Corte Bordalês "E" 2004
Corte Bordalês "D" 2002
Corte Bordalês "C" 2001
Corte Bordalês "B" 2003
Corte Bordalês "A" 2000
Chardonnay 2009
Chardonnay 2006
Chardonnay 2004
Carmenere 2007
Cabernet Sauvignon 2005-3
Cabernet Sauvignon 2005-2
Cabernet Sauvignon 2005-1
Cabernet Sauvignon 2004
Cabernet Sauvignon 2002
Cabernet Franc 2003
Barbera 2005
Ass. Montepulciano 2003
Arinarnoa 2005
R$ -
R$
100,00
R$
200,00
R$
300,00
R$
400,00
R$
500,00
R$
600,00
R$
700,00
R$
800,00
Arinarnoa 2004
Ancellotta 2006-2
Ancellotta 2006-1
Alicante Bouchet 2007
Alicante Bouchet 2006
Gráfico 1 – Tabela de Preços dos Vinhos Bettú
Fonte: Vinhos Bettú.
55
No caso dos Cortes Bordaleses, Vilmar explica que trata-se do corte entre Cabernet
Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Tannat e Malbec. Já no caso do Exacorte, a explicação é
mais longa:
Quando dei este nome ao vinho, estava pensando na Resolução número dez, da
décima quinta Conferência Geral de Pesos e Medidas, realizada em 1975, na
cidade de Genebra. Na referida conferêcia ficou estabelecido que no Sistema
Internacional de Unidades (SI) o prefixo EXA, simbolizado por E, adaptado
arbitrariamente, do grego “héks” (multiplicado por 10 na potência
18:1.000.000.000.000.000.000). Portanto o prefixo EXA indica um número muito
grande. Era este o significado quando chamei o vinho de EXACORTE. Fiz isto em
2001, 2002, 2003 e 2004. No início de 2008, resolvi fazer um corte com estes
quatro vinhos, que são resultado de aproximadamente 100 vinificações, 25
variedades e quatro safras diferentes (BETTÚ, 2010).
A característica comum nos vinhos Bettú, é o elevado teor alcoólico, embora não seja
uma regra. De acordo com Vilmar (2010), tratam-se, em sua maioria, de vinhos longevos,
estruturados e complexos, de verdadeira exuberância, tanto em boca quanto em nariz.
A preocupação do vitivinicultor com a qualidade de seus vinhos é tamanha, que não
raro ele vinifica quantidades pequeníssimas de garrafas, fator este que contribui no aumento
do custo final do produto.
56
8 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho dobrou-se sobre o estudo do surgimento dos Vinhos Bettú, no
município de Garibaldi, Rio Grande do Sul e permite reconhecer a realidade desta vinícola,
bem como a de seu fundador, Vilmar Bettú.
As dificuldades enfrentadas pela família Bettú, desde a chegada ao Brasil, comprovam
que o sofrimento não foi em vão, pois hoje os Vinhos Bettú são nacionalmente conhecidos
pela qualidade que detêm.
Trabalhos pioneiros, como o de Vilmar Bettú, especialmente pelo diferencial de seus
produtos, são capazes de interferir no desenvolvimento da região, pois estimulam o
surgimento de vinícolas que realizam um trabalho similar, solidificando uma nova fase para a
vitivinicultura nacional.
Ao mesmo tempo em que contribui para a preservação da identidade histórico-cultural,
Bettú é ousado. E ousar é o segredo do sucesso. O futuro pertence aos vinhos de sabores
distintos e inesquecíveis, sejam ou não reconhecidos de imediato. No fim, será sempre o
mercado quem ditará o rumo das mudanças, e hoje, sua exigência é inquestionável: os vinhos
precisam ter qualidade.
Considera-se por fim a presente pesquisa como uma espécie de prólogo acerca deste
case de sucesso, mas que ainda é bastante recente e certamente necessitará de outras tantas
folhas para encerrar sua história no cenário vitivinícola nacional.
57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APROVALE. Inverno deverá atrair mais de 85 mil visitantes ao Vale dos Vinhedosa.
Disponível em:< http://www.valedosvinhedos.com.br/>. Acesso em: 17 jun.2010.
BETTÚ, Vilmar. História do Surgimento da Vinhos Bettú – Garibaldi . [maio. 2010].
Entrevistador: Larissa Bettú. Garibaldi: entrevista não gravada, concedida no dia 23 de maio
de 2010.
BRAMBATTI, Luiz E. Roteiros de turismo e patrimônio histórico. Porto Alegre: Est,
2002.
COSTA, Rovílio. As colônias italianas Dona Isabel e Conde d’Eu. Porto Alegre: Est, 1999.
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Histórico Municipal. Porto Alegre: Suliani, 2006.
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1999.
60
ANEXO A – PRODUÇÃO DE UVAS, ELABORAÇÃO DE VINHOS E
DERIVADOS
61
ANEXO B – TRECHO DA REPORTAGEM DO GLOBO REPÓRTER
(EXIBIDA EM 18 DE MARÇO DE 2005, NA TV GLOBO)
Produção à moda antiga
O homem e o vinho têm uma história de amor que já dura sete mil anos. Em alguns
lugares, essa paixão é mais ardente: os franceses bebem 56 litros de vinho por ano. Nos
trópicos, tudo é feito um pouco mais devagar. Os brasileiros tomam pouco menos de dois
litros de vinho ao ano. Mas muito ou pouco, beber vinho é uma arte.
"O bom bebedor de vinho é aquele que toma o vinho no momento certo, na
temperatura certa e na quantidade certa", avalia o sommelier Patrick De Neufville.
Patrick sabe tudo sobre vinhos e fez do seu conhecimento profissão. Embora não
descarte os grandes produtores, ele tem uma teoria: quanto menor a produção melhor o vinho.
"O vinho de pouca quantidade normalmente é bem feito", comenta o especialista.
A família Bettú sabe disso. A produção de vinhos faz parte da história da família no
Brasil. Algumas parreiras são centenárias. Já estavam na região quando seu Augusto Bettú
nasceu, em 1915. Foram plantadas pelo avô e pelo pai dele, que vieram de Gênova, na Itália, e
se instalaram em Garibaldi, no Rio Grande do Sul.
Hoje, com 90 anos de idade, seu Augusto só observa o trabalho dos filhos e netas, mas
se lembra que já suou muito a camisa.
"Quando a gente trabalha com amor, não cansa", ensina seu Augusto.
Na região do Vale dos Vinhedos, onde ficam as grandes produtoras de vinho do Rio
Grande do Sul, os Bettú se destacam exatamente por remarem contra a corrente: preferem
permanecer pequenos. Produzem apenas cinco mil garrafas de vinho por ano. A área cultivada
na fazenda não chega a um hectare, e os métodos de produção, em nome da qualidade, não se
modernizaram.
O preparo do vinho começa imediatamente na cantina da fazenda. E o melhor: é feito à
moda antiga, da mesma forma que faziam os velhos imigrantes italianos.
62
Eles vão como já faziam outros homens e mulheres milênios atrás, ao longo da
História dos povos. As uvas vão sendo esmagadas e logo se vê o primeiro suco, denso, escuro.
"No início, era por tradição. Atualmente, porque se descobriu que tem certas
vantagens no resultado do vinho. Nós não agredimos o engaço, as sementes da uva também
não são machucadas e, com isso, evitamos transmitir algum gosto ruim ao vinho", justifica o
produtor Vilmar Bettú.
É uma espécie de dança, um ritual. Toda a cantina se enche com o perfume, mas não é
uma brincadeira. Equilibrar-se e ficar pisando continuamente é um esforço grande.
"Vale como uma ginástica, perdemos algumas calorias. Depois a gente prova os
vinhos e vê que vale a pena todo o esforço", diz Catenca Bettú, filha de Vilmar.
Mais do que colaborar para a produção de um bom vinho, todo o empenho tem um
sentido maior: manter sempre vivo o propósito de tirar da terra prazer e saúde. As filhas e a
sobrinha de seu Vilmar ajudam na produção. A paixão é igual, mas os objetivos, diferentes.
A prima Rosângela Bettú Lazzari estudou enologia. É a que mais se dedica à produção
de vinhos.
"Tem a parte teórica, que aprendemos em sala de aula e visitas técnicas. Mas
aprendemos bastante no dia-a-dia, embaixo das parreiras. É o melhor aprendizado. Sou
apaixonada por isso", afirma Rosângela.
A filha mais nova de seu Vilmar, Catenca, está seguindo novos caminhos, mas não
abandona a tradição da família.
"Eu sou formada em comércio exterior e fiz curso de mecatrônica. Trabalho nessa
área. Para mim é um lazer ajudar a família nos finais de semana, nas férias. É uma coisa muito
boa", diz ela. "Vou estudar chinês. Mas quem sabe na China não se pode fazer vinho
também?", comenta Catenca.
"Eu trabalho para ajudar a construir o sonho dos meus pais, porque acho que todo pai
quer ver a continuidade dos projetos de vida. Com certeza, gosto mais de tomar do que de
fazer", diz Larissa Bettú, filha de Vilmar.
63
A pequena adega guarda os tesouros produzidos pela família Bettú. Produção tão
pequena, de vinhos tão especiais. Há garrafas que estão ali há muito tempo, esperando o
momento de revelar seu segredo.
"Vamos abrir um vinho licoroso, com quase 13 anos de idade. Quem gosta desse
vinho passa dos 90", garante seu Vilmar.
Fonte: Rede Globo
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ANEXO C – BOLETIM SEMANAL Nº 2
Videiras e Vinhos de Vilmar Bettú
Boletim Semanal nº 2 – 14 a 20 de setembro de 2008
Dia 14 houve a formação de geada.
Os termômetros marcaram a mínima de – 0,7 ºC. Felizmente os brotos não
congelaram. A geada apareceu somente sobre os vegetais rentes ao solo e nos caules das
parreiras. Alguns décimos de temperatura menor teriam “queimado” as videiras localizadas na
área mais baixa da propriedade.
A formação de geada e suas conseqüências se manifestam mais acentuadamente nas
áreas de menor altitude, diminuindo à medida que a altitude aumenta. A propriedade, que tem
aproximadamente 20 hectares, varia sua altitude entre o ponto mais alto e o ponto mais baixo,
aproximadamente em 80 metros.
Os demais dias da semana foram frios com temperaturas que variaram de 3 a 15º
Celsius. Não houve extremos na umidade relativa do ar. Foi uma sequência de dias muito
lindos e a chuva ocorreu somente no final do dia, e muito fraca, menos de 10 milímetros.
A baixa temperatura foi um fator limitante do crescimento vegetativo das videiras
(gemas e brotos), mas por outro lado o clima restringiu o aparecimento de moléstias fúngicas.
Se a temperatura não tivesse retardado o desenvolvimento da brotação, já teríamos iniciado a
poda verde, que consiste na retirada do excesso da brotação com a finalidade de restringir a
quantidade de uva e melhorar a aeração.
Em virtude disto, somente iniciaremos a poda verde na próxima semana.
Abraços,
Vilmar Bettú.
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Estudo de caso vinhos Bettú