CMYK 26 • Cidades •Brasília, segunda-feira, 25 de junho de 2012 • CORREIO BRAZILIENSE Fax: 3214-1112 • e-mail: [email protected] Direito do consumidor Empresas investem em serviços de mapeamento dos problemas de relacionamento com o consumidor, mas desprezam mecanismos, como a ouvidoria, a fim de garantir a solução dos atritos. A preocupação é fugir das ações judiciais e indenizações Preservação da imagem, descaso com o cliente Gustavo Moreno/CB/D.A Press FiscaisdoProconfazemblitzemlojadeempresadetelefonia:osetoréumdosrecordistasdereclamações,juntocomasáreasdeaviaçãoeenergia s t a r entre as mais reclamadas no cadastro dos órgãos de defesa do consumidor se transformou em pesadelo para a maioria das empresas do Brasil. Além do desgaste da marca, as companhias acabam perdendo muito dinheiro com indenizações e clientes. Telefonia, aviação, energia e setor de eletrodomésticos são os que mais sentem os efeitos do atrito com o consumidor insatisfeito. Uma das novas estratégias é contratar assessoria jurídica para analisar as reclamações feitas nos Procons e os processos que chegam aos juizados especiais. A ideia é impedir o aumento da quantidade de ações judiciais e tentar melhorar o serviço ou produto oferecido. Nos últimos três anos, a procura por análises técnicas dessa natureza cresceu 50%. Em algumas empresas, houve queda de 80% nas ações judiciais. Uma companhia de telefonia chegou a economizar R$ 75 milhões em cinco anos de uso do serviço. Outra, de eletrodomésticos, reduziu os gastos em R$ 99 milhões. “A gente faz um mapeamento para evitar novos conflitos e damos sugestões para melhorar”, explica Gustavo Coelho, gerente de um escritório jurídico, que realiza esse tipo de serviço. Os profissionais trabalham com base nos dados dos Procons e juizados especiais estaduais, analisam a natureza das críticas dos consumidores e enviam os relatórios para E as empresas com sugestões de como elevar os índices de satisfação dos clientes. Avaliação Os especialistas avaliam como positiva a preocupação das empresas com a natureza dos conflitos. No entanto, eles entendem que as novas opções para sanar os impasses no relacionamento com o cliente distanciam os estabelecimentos de canais básicos de comunicação, como o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) e as ouvidorias. Um forte indicativo de subutilização das ouvidorias é o fato de que oito entre as 10 empresas mais reclamadas ao Procon do DF têm esse espaço de atendimento ao cliente. Porém, elas não conseguem deixar o ranking da insatisfação. Se bem trabalhadas, as ouvidorias podem resolver 90% das questões dos clientes, segundo um levantamento feito pela Associação Brasileira das Relações Empresa Cliente (Abrarec). A impressão da gerente de Relacionamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, Karina Alfano, é a de que as empresas estão interessadas em se proteger do cliente e não em realmente melhorar o serviço ou os produtos. “As empresas têm ouvidorias, SACs, mas eles não funcionam. Se elas quisessem melhorar o relacionamento com o consumidor, treinariam os seus atendentes de forma satisfatória e eles resolveriam os problemas”, argumenta. Para o diretor executivo da Abrarec, Stan Braz, quando a empresa contrata um escritório de advocacia está pensando que ela tem conflitos com clientes que podem chegar à esfera judicial. “As empresas precisam entender que a maior parte da demanda de reclamações ocorre por falta de informação. Elas têm que investir nos canais de relacionamento com o cliente, não no que vai se transformar em processo.” Stan defende que as companhias invistam em multicanais de comunicação como web, rede social, telefone e, no futuro, TV digital interativa. Canais inoperantes A dificuldade das empresas em informar e se comunicar com o cliente é tamanha, que a quantidade de reclamações envolvendo o SAC no Procon-DF subiu 85% de janeiro a junho deste ano na comparação com igual período de 2011. As empresas têm o desafio de melhorar a comunicação com o cliente.“Os atendentes de telemarketing não são treinados para entender o Código de Defesa do Consumidor, nem sempre as críticas dos ouvidores são ouvidas, e as empresas sempre partem do princípio de que o cliente está agindo de má-fé”, afirma Karina. Para ilustrar, ela lembra que as companhias atendem primeiro as reclamações postadas nas redes sociais do que as do SAC. “O que mostra que elas estão mais preocupadas em manter a imagem do que cumprir a lei e respeitar o consumidor.” As empresas têm ouvidorias, SACs, mas eles não funcionam. Se elas quisessem melhorar o relacionamento com o consumidor, treinariam os seus atendentes" Karina Alfano, gerente de Relacionamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor Diferentes A ouvidoria é a última instância para a solução administrativa dos conflitos dentro da organização. Ela mantém o foco no coletivo, procurando corrigir problemas recorrentes entre vários clientes. Já o SAC é o responsável por atender a demanda de um consumidor. CMYK » FLÁVIA MAIA