Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" Departamento de Genética Disciplina: LGN-320/321 – Ecologia Evolutiva Humana Docente Responsável: Dra. Silvia Maria Guerra Molina Colaboraram na elaboração dos slides: Monitor PEEG: Felipe Carvalho Beltrão Cavalcanti Monitor PAE: Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira Interfaces da Ecologia Humana com outras Disciplinas e Áreas do Conhecimento - I A ecologia humana é um campo de estudos interdisciplinar, ou uma disciplina que estabelece interfaces com diversas outras áreas do conhecimento. Neste presente conjunto de slides abordamos as interfaces já tradicionais na ecologia humana (ecologia cultural, antropologia ecológica, etnociências) e novas interfaces que vêm se estabelecendo mais recentemente (ecologia da paisagem, história ambiental, ecologia histórica, economia ecológica, ecologia política, bioeconomia economia solidária, ecologia profunda) Ecologia Cultural, Antropologia Ecológica e Abordagem Etno-Ecológica (Morán, 1994) Os avanços teóricos nos estudos humanos/hábitat, desde a década de 50, serviram para aprimorar significativamente a qualidade dos estudos ecológicos. A abordagem ecológico-cultural proposta por Julian Steward forneceu uma estrutura que delimitou de forma mais nítida o âmbito das pesquisas. 1902-1972 A ênfase no método comparativo e na primazia das considerações comportamentais foram registradas da abordagem ecológico-cultural. as marcas Esse tipo de estudos atraiu pesquisadores ao longo das décadas de 50-60 e levou a importantes revisões da nossa compreensão sobre caçadores-coletores, pastoralistas e agricultores. O fundamento lógico para que as sociedades evoluíssem da caça-coleta para a agricultura tornou-se menos evidente na medida em que os estudos mostraram que os caçadorescoletores não eram povos que viviam no limite da subsistência, mas que, na verdade, desfrutavam de uma vida relativamente tranquila. O reconhecimento da sofisticação das técnicas de cultivo deu origem a importantes questões para pesquisas. Contudo não levaram em conta alguns aspectos relevantes da EH: doenças, alterações fisiológicas, rituais, política,... Descontentes com esses lapsos e devido à influência intelectual dos crescentes campos da ecologia biológica, os pesquisadores começaram a adotar uma estrutura ecológica mais ampla: antropologia ecológica ou ecologia de sistemas - adotando unidades de estudo da biologia e, em certos casos, unidades de medida. A população substitui a cultura ou a sociedade como unidade de estudo. Vários estudos optaram por enfocar o fluxo de energia na sociedade humana como uma forma de se compreender o uso do ambiente. Uma outra razão para tal escolha é que ela levava em consideração a comparabilidade dos dados. O estudo do fluxo de energia é relativamente recente. A união de biólogos do comportamento humano e cientistas sociais, sob a mesma estrutura ecológica, só pode significar avanço na nossa compreensão sobre a adaptabilidade do homem ao ambiente. Ecologia Cultural - o estudo de como se deram as adaptações humanas ao ambiente, por meio de mecanismos culturais. Antropologia Ecológica - estudo multidisciplinar de como as populações humanas enfrentam problemas (agentes estressores) nos seus ambientes. Enfoque da Antropologia Ecológica: como a população enfrenta o principal estressor. (AMBIENTES ESPECÍFICOS, DIVERSIDADE CULTURAL E O PROCESSO DE EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE HUMANA) Zonas Árticas Grandes Altitudes Terras Áridas Campos Trópicos Úmidos As Cidades A abordagem etno-ecológica - integrar ao estudo ecológico o conhecimento de como as populações percebem os recursos. A busca por categorias nativas acrescentou uma importante dimensão ao estudo ecológico, particularmente nos estágios iniciais da pesquisa de campo. Ecologia da Paisagem Metzger (2001) A ecologia de paisagem é uma nova área de conhecimento dentro da ecologia e ainda está em busca de uma estrutura teórica e de conceitos sólidos. Aurélio: Paisagem - Espaço de terreno que se abrange com um lance de vista. É o olhar do observador que dá sentido ao “espaço” referente à paisagem. A paisagem nunca está em primeiro plano, sendo de certa forma onde não estamos, um “pano de fundo”. O geógrafo Alexander von Humboldt, no início do séc. XIX definiu paisagem como a característica total de uma região terrestre. 1769-1859 O termo Ecologia da Paisagem por sua vez surgiu em 1939, cunhado pelo biogeógrafo alemão Carl Troll (quatro anos após Tansley, em 1935, ter cunhado o termo Ecossistema). 1899-1975 O ponto de partida da Ecologia da Paisagem é muito parecido como da Ecologia de Ecossistemas, qual seja a observação das inter-relações da biota com o seu ambiente. Mas a noção de paisagem envolve a espacialidade, a heterogeneidade do espaço onde o ser humano habita (relações horizontais) enquanto na ecologia de ecossistemas enfatiza-se as interações dentro da comunidade e o meio abiótico (relações verticais). As abordagens atuais de paisagem consideram que esta seja uma entidade heterogênea, com aspectos geomorfológicos e de recobrimento naturais e culturais. O conceito de paisagem proposto evidencia ainda que a paisagem não é obrigatoriamente um amplo espaço geográfico ou um novo nível hierárquico de estudo em ecologia, acima de ecossistemas, dado que a escala e o nível biológico da análise dependem do observador e do objeto de estudo. Ou seja, as escalas de estudo dependem do tamanho e da capacidade de deslocamento da(s) espécie(s) considerada(s). Nessa nova definição as unidades de paisagem não são obrigatoriamente ecossistemas, mas unidades de uso/ocupação e cobertura do território na abordagem geográfica e habitats na abordagem ecológica. Nenhuma dessas unidades têm propriedades de sistemas. História Ambiental (Leff, 2001) A história ambiental vem sendo definida como um campo de estudo dos impactos de diferentes modos de produção e formações sociais sobre as transformações de sua base natural, super-exploração dos incluindo a recursos naturais e a degradação ambiental. Seus estudos abordam a análise de padrões de uso dos recursos e de formas de apropriação da natureza, integrando as estruturas econômicas, políticas e culturais que induzem certos padrões de uso dos recursos. Abordam as condições ecossistêmicas que estabelecem as condições de sustentabilidade ou de insustentabilidade de um determinado território. A História Ambiental observa estas relações em diferentes etapas da história. Por meio do estudo de vários documentos pode obter dados sobre as formas de intervenção no meio e a degradação do ambiente em diferentes momentos históricos e espaços geográficos. Ex: narrativas sobre a destruição ecológica e sobre o desaparecimento das etnias – refletem o impacto desenvolvimento sobre as culturas e sobre a natureza. do Sua aplicação retrospectiva encontra seus limites na obtenção de informação relevante. Como, por exemplo, a revalorização da crise ambiental da civilização maia e de novos métodos científicos que permitam o resgate de suas histórias e culturas. Há também o estudo das transformações do meio geradas por : - processos de colonização e de exploração mercantil - a introdução de modelos tecnológicos associados ao progresso e à modernidade - grandes empreendimentos (petroleiros, pecuaristas) - a expansão da fronteira agrícola. TRÊS VERTENTES DA HISTÓRIA AMBIENTAL: (1) História epistemológica da complexidade ambiental (estudo dos fundamentos lógicos, valor e objetivo desse conceito) (2) Hermenêutica (interpretação) das narrativas sobre as relações sociedade-natureza (3) A construção de identidades e as transformações sociais induzidas pelo movimento ambientalista. Ecologia Histórica (Bellée & Erickson, 2006) A Ecologia Histórica é uma abordagem interdisciplinar. Tem como seu foco central a história da paisagem. Assume que a história das ações humanas pode ser inferida a partir da observação da paisagem. A cultura está fisicamente imersa e inscrita na paisagem em um padrão não casual, frequentemente em palimpsetos de ocupações contínuas e descontínuas de povos passados e presentes. Na perspectiva da Ecologia Histórica - os ambientes naturais, uma vez modificados por humanos, podem nunca mais regenerar a si mesmos tal com já foram. W. Bellée W. Bellée Práticas são mantidas ou modificadas, decisões são tomadas, ideias tomam forma - a paisagem retém as evidências físicas dessas atividades mentais. Em outras palavras, os ambientes são, em um certo sentido, adaptados aos sistemas políticos e socioculturais humanos que com eles têm coexistido, algumas vezes por longos períodos de tempos histórico. Talvez uma melhor orientação filosófica seja considerar a Ecologia Histórica como um programa de estudos. A espécie humana é ela mesma um meio de mudança no mundo natural, um meio qualitativamente tão significativo quanto a seleção natural. Cada um dos principais ambientes da Terra tem uma única e frequentemente complexa história humana imersa na paisagem local e regional. COMPREENDER O PAPEL HUMANO NA CRIAÇÃO E MANUTENÇÃO DESSA UNICIDADE É O OBJETIVO CENTRAL DA ECOLOGIA HISTÓRICA, que se refere às paisagens como “ecossistemas culturais”. A Ecologia Histórica revela os meios pelos quais mudanças condicionam no ambiente, gerações induzidas subsequentes por em humanos, termos de línguas, tecnologias e cultura. Representa uma gama de estudos que permitem a comparação entre diversas entidades sociopolíticas em relação às paisagens locais, e mesmo com fenômenos regionais ou com a biosfera em si. Emprega uma perspectiva multi-escalar geográfica (da paisagem local à regional) e temporal (de curto a longo prazos) para a compreensão histórica das atividades humanas no ambiente e de como o próprio ambiente pode vir a ser. Como consequência, pode fornecer estratégias práticas para o gerenciamento de paisagens no presente e no futuro. Economia Ecológica Ecologia Política Bioeconomia (Leff,2001) Economia Solidária (Gaiger, 2003) A crise ambiental colocou em questão os fundamentos da racionalidade econômica hegemônica no sistema capitalista. Entre as respostas da sociedade, surgiram a Economia Ecológica e a Ecologia Política, como novos campos teóricos e de ação política. Essas propostas vão além do simples objetivo de internalizar as externalidades ambientais por meio dos mecanismos de mercado. A economia fundada nos princípios mecanicistas retirou a vida e a natureza do campo da produção, minando as condições de sustentabilidade ecológica do desenvolvimento. Os conflitos socioambientais dela decorrentes estão mobilizando a reconstrução do processo de produção em novas bases. Coloca-se o desafio de transformar, a partir de suas bases, o paradigma insustentável da economia. Como forma de resistência a essa mudança paradigmática a economia neoclássica vem procurando ajustar os ciclos econômicos, atribuindo preços de mercado à natureza, com a esperança de que as mercadorias poderão continuar circulando de maneira contínua de acordo com a ordem econômica vigente. Partindo do reconhecimento de que toda atividade humana incide no ecossistema quer pelo lado da extração de recursos, quer pelo do lançamento de dejetos sob a forma de matéria ou energia degradada, o processo econômico - que opera dentro de um subsistema aberto envolvido pelo ecossistema global - tem que respeitar limites. Social adequada equitativa Sustentável Ambiental víável Econômica Na perspectiva da sustentabilidade, o tipo de processo econômico que importa é aquele que produz bens e serviços considerando simultaneamente todos os custos (ou danos) que lhes são inevitavelmente associados. Esta é a tarefa para um modelo de desenvolvimento novo, e também para uma ciência da economia de fundamentos ecológicos. A Economia Ecológica introduz uma mudança fundamental na percepção dos problemas de alocação de recursos e de como eles devem ser tratados, do mesmo modo que uma revisão da dinâmica do crescimento econômico é intrinsecamente estabelecida. Objetivo: obter a unificação sobre bases biofísicas dos sistemas ecológicos e econômicos como categorias interdependentes e coevolutivas. A Economia Ecológica está construindo um novo paradigma teórico, abrindo as fronteiras interdisciplinares com diferentes campos científicos para valorizar e incorporar as condições ecológicas do desenvolvimento. As propostas teóricas estendem-se também à ecologia humana, buscando alternativas às suas abordagens mais reducionistas. Também alguns enfoques da antropologia ecológica reduzem a racionalidade da apropriação cultural da natureza a uma contabilidade energético-social. Não se trata de propor uma nova ciência, e sim uma empreitada entre cientistas naturais e sociais, junto com os atores envolvidos em ações concretas de promoção do desenvolvimento para chegar-se a um novo entendimento da realidade humana, tirando dele lições para fins de análise e política. Chega-se assim a uma verdadeira economia política da ecologia. A partir de uma visão ecossistêmica da produção, a Economia Ecológica busca considerar a economia dentro da ecologia, por ser esta última uma teoria mais abrangente, a ciência das inter-relações por excelência. Ou seja, o sistema econômico deve passar a respeitar critérios, condições e normas ecológicas. A economia ecológica faz, portanto, uma crítica à degradação ecológica e energética resultante dos processos de produção e consumo. Entretanto, no mundo contemporâneo, a produção continua sendo guiada e dominada pela lógica de mercado. A proteção ao ambiente ainda é considerada um “custo” dentro de economia mecanicista. As grandes desavenças Os economistas ecológicos negam a posição dos “economistas ambientais”, dizendo que sua visão é somente parcial e que por isso não conseguem ver as diferentes inter-relações que se estabelecem na sociedade como um todo. O ataque está especialmente sobre as bases da economia, sobre seu mainstream, e para isso se apoiam na física. O que dizem é que dado que a economia esta baseada na física, então ela deve seguir o caminho proposto e seguido pela física, não deixando de lado os novos desenvolvimentos que essa ciência tem experimentado, especialmente na consideração da 2ª lei da termodinâmica. A problemática ambiental converteu-se numa questão política. As identidades culturais e os valores da natureza não podem ser contabilizados e regulados pelo sistema econômico. A pobreza, a degradação ambiental, a perda de valores e práticas culturais, a regeneração ecológica, a degradação entrópica de massa e energia – todas essas “externalidades” – constituem processos incomensuráveis que não podem ser reabsorvidos pela economia que, portanto, não pode lhes conferir um padrão comum de medida por meio dos preços de mercado. Assim, o discurso e as políticas de sustentabilidade estão marcados pelo conflito de interesses em torno da apropriação da natureza. Muitos países reivindicam seu direito de consumir seus recursos naturais para impulsionar seu crescimento econômico e atenuar a brecha que os separa dos ricos, não contribuindo para uma solução global dos problemas ambientais. Apesar disso, há entre os países pobres aqueles em que novas buscas em face do problema da sustentabilidade partem de uma percepção mais crítica e consciente de suas condições ecológicas, culturais, econômicas e políticas. De alguns países tropicais emerge um novo paradigma de produção, baseado no potencial ecológico de sua geografia e na pluralidade de suas identidades étnicas, na descentralização da economia e na diversificação dos tipos de desenvolvimento, mobilizando a sociedade a se reapropriar de seu patrimônio de recursos naturais e a autogerir seus processos de produção. A globalização econômica junto com as mudanças ambientais globais estão deslocando as práticas tradicionais de produção. Camponeses, povos indígenas e a população urbana marginalizada estão se organizando e lutando em resposta à extrema pobreza gerada pela destruição de seus recursos naturais, à degradação de suas condições de produção e à falta de infra-estrutura como o saneamento básico. Os movimentos ambientais são lutas de resistência e protesto contra a marginalização e a opressão, e reivindicações por seus direitos culturais, pelo controle de seus recursos naturais, pela autogestão de seus processos produtivos e a autodeterminação de suas condições de vida. Essas lutas pela erradicação da pobreza vinculam a sustentabilidade à democracia, entrelaçam-se com a reivindicação de suas identidades culturais, com a reapropriação de conhecimentos e práticas tradicionais e o direito das comunidades para desenvolver formas alternativas de desenvolvimento. A sustentabilidade aparece como uma necessidade de restabelecer o lugar da natureza na teoria econômica e nas práticas de desenvolvimento, internalizando condições ecológicas da produção que assegurem a sobrevivência e um futuro para a humanidade. Questiona-se os fundamentos da economia a partir da percepção de seus limites ecológicos e entrópicos dado que a condição e escassez, base da ciência econômica, passou do processo de substituição contínua de recursos esgotados para uma escassez global induzida pela expansão econômica. É a racionalidade intrínseca do crescimento econômico que destrói ecológicas e culturais da sustentabilidade. as condições O socialismo pré-ecológico deixou de ser “a alternativa” ao capitalismo antiecológico, abrindo caminho à construção de um novo ecossocialismo. Assim, a economia deve ser reconstruída. E isso levanta a questão de fundamentar uma nova teoria da produção que internalize condições ecológicas e sociais do desenvolvimento sustentável - que leve em conta os complexos processos ambientais gerados pelo potencial ecotecnológico de diferentes regiões, mediado pelos valores culturais e pelos interesses sociais das populações. É preciso, entretanto, superar certos limites do modelo produtivo e tecnológico atual. Por exemplo, o potencial da energia solar concentrou-se em seu uso tecnológico e limitou-se por causa dos custos atuais dos coletores solares e da concorrência com outras fontes de energia. O manejo produtivo dos ecossistemas, por meio de processos de regeneração seletiva ou de sistemas de cultivos múltiplos agroflorestais e agroecológicos, pode gerar uma colheita permanente de recursos naturais e uma oferta sustentável com altos níveis de produtividade ecotecnológica. Ao valorizar a importância da fotossíntese como um processo neguentrópico, a bioeconomia poderia construir uma teoria positiva da produção, capaz de equilibrar a produção natural de biomassa com a degradação entrópica da matéria e da energia que entram no processo econômico, seja no metabolismo dos organismos vivos ou nos processos de transformação tecnológica. Esta aproximação da ecologia produtiva a uma economia sustentável oferece importantes perspectivas, de desenvolvimento às regiões tropicais, permite forjar uma nova economia, fundindo a produtividade ecológica com os valores culturais e como o potencial científico-tecnológico. Enfim, a característica mais importante de todos esses ecomovimentos é contribuir para a construção de outra racionalidade sustentabilidade produtiva, sobre ecológica, diversidade cultural. as equidade bases social de e A construção desse paradigma ecoprodutivo permitirá estabelecer novos equilíbrios ecológicos e dar bases de sustentabilidade ao processo econômico, equilibrando a produção de recursos biológicos com a degradação entrópica dos processos tecnológicos. Além disso, permitirá aliviar a pobreza e melhorar a qualidade de vida de uma população crescente por meio de um processo de descentralização de produção, aberto a diversos tipos de desenvolvimento, em harmonia com as condições ecológicas e culturais de cada região. http://www.ecoeco.org.br/ https://www.conftool.com/isee2010/ Obras existentes... BÁSICO, GERAL DE ECOLOGIA... Algo para se pensar... A economia ecológica, ao tentar explicar o sistema econômico a partir de leis físicas – as da termodinâmica – tende a admitir que as possíveis soluções para a crise ambiental são fundamentalmente técnicas. Com isso, a presente abordagem exclui as relações sociais, todas orientadas pelos mais distintos interesses de grupos. Em outros termos, preservar os recursos naturais sem questionar a forma social de produção capitalista permite a reprodução de indivíduos apenas resignados a servir ao mercado. Economia Solidária (Gaiger, 2003) Economia solidária é uma forma de produção, consumo e distribuição de riqueza centrada na valorização do ser humano - e não do capital de base associativista e cooperativista, voltada para a produção, consumo e comercialização de bens e serviços, de modo autogerido, tendo como finalidade a reprodução ampliada da vida. Assim, nesta economia, o trabalho se transforma num meio de libertação humana dentro de um processo de democratização econômica, criando uma alternativa à dimensão alienante e assalariada das relações do trabalho capitalista. A economia solidária origina-se na Primeira Revolução Industrial, como reação dos artesãos expulsos dos mercados pelo advento da máquina a vapor. Na passagem do séc. XVIII ao séc. XIX, surgem na Inglaterra as primeiras Uniões de Ofícios e as primeiras cooperativas A economia solidária é um modo específico de organização de atividades econômicas. Ela se caracteriza pela autogestão, ou seja, pela autonomia de cada unidade ou empreendimento e pela igualdade entre os seus membros. Em suma... A economia solidária apresenta-se como uma reconciliação do trabalhador com seus meios de produção e fornece, de acordo com Gaiger (2003), uma experiência profissional fundamentada na equidade e na dignidade, na qual ocorre um enriquecimento do ponto de vista cognitivo e humano. fim Ecologia Profunda A Ecologia Profunda surgiu em 1973, com Arne Naess, que pela primeira vez distinguiu entre aquilo que designou como Shallow e Deep Ecology, portanto uma Ecologia Superficial e uma Ecologia Profunda. De acordo com esse autor, a emergência dos ecólogos, de sua obscuridade inicial marca um ponto de virada em nossas comunidades científicas. Mas suas mensagens são distorcidas e mal empregadas. Um movimento superficial, mas bastante poderoso, e um movimento profundo, mas menos influente, competem por nossa atenção. Enquanto a Ecologia seria um estudo das interações entre os seres vivos e destes com o ambiente a Ecologia Profunda é uma forma de pensar e agir, dentro da ecologia ou de qualquer outra atividade. A Ecologia Superficial envolveria aquelas preocupações ambientais que estão fundamentalmente centradas em preservar os recursos naturais para a utilização do ser humano. O que interessa é a preservação do desenvolvimento humano e não a natureza em si. Os pressupostos básicos do movimento de Ecologia Profunda são os seguintes: 1 - As formas de vida humana e não humana existentes sobre a Terra têm um valor intrínseco. O valor das formas de vida não – humanas é independente de sua utilidade para os objetivos humanos específicos. 2- A riqueza e a diversidade das formas de vida são valores em si mesmos e contribuem para a manutenção da vida humana e nãohumana sobre a Terra. 3 - Os seres humanos não têm direito de reduzir essa riqueza e diversidade exceto para satisfazer suas necessidades vitais. 4 - A interferência humana atual na vida não-humana do mundo é excessiva, e a situação está se tornando problemática rapidamente. 5 - A manutenção da vida e das culturas humanas é compatível com um decréscimo substancial da população humana. A manutenção da vida não-humana requer tal decréscimo. 6 - Mudanças significativas nas condições de vida para melhor, requerem mudanças políticas. Essas afetam as estruturas econômicas, tecnológicas e ideológicas. 7 - A mudança ideológica refere-se principalmente à apreciação da qualidade da vida antes que a aderir a um alto padrão de vida. 8 - Aqueles que subscrevem esses pontos (propostos por Arne Naess e George Sessions no final dos anos de 1970), têm a obrigação de participar direta ou indiretamente nas tentativas de implantação das mudanças necessárias. A Ecologia Profunda aborda valores e emoções no pensamento e experiência da realidade e como alcançar uma personalidade humana madura e integrada capaz de agir a partir de uma visão holística; discute os limites entre ecologia, ecofilosofia, ecosofia. - É um movimento social - Assume valores prioritários – segundo seus pontos de vista - Lida com temas filosóficos Bibliografia: Barnhill, D. & Gottlieb, R. (2001). Deep Ecology and World Religion: New Essays on Sacred Ground. Albany: New York University Press. Balée, W; Erickson, C.L. Time and complexity in historical ecology - studies in the neotropical lowlands. New York: Columbia University Press. 2006. 417p. Drengson, A. (1995). The Deep Ecology Movement: An IntroductoryAnthology. Berkeley: North Atlantic Books. Gaiger, L.I. Os empreendimentos econômicos solidários diante do modo de produção capitalista. Revista Caderno CRH. Salvador, UFBA, 2003. n.39, p. 181-211. Leff, E. Economia Ecológica e Ecologia Produtiva. In: Leff, E. Saber Ambiental – sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2001 (p. 42-55). Leff, E. História Ambiental. In: Leff, E. Saber Ambiental – sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2001 (p. 385-402). Metzger, J.P. O que é ecologia da paisagem? Biota Neotropica , Campinas, v. 1, n°1/2, 2001. Moran, E.F. Adaptabilidade Humana: uma introdução à Antropologia Ecológica. EDUSP. São Paulo. 1994. 445p. Naess, A. Ecology, community and lifestyle. Cambridge University Press, 1995 (1a impressão: 1989), 223 p. fim