Profª Doutora Louise Lage As mudanças sociais geralmente ocorrem nas grandes metrópoles do mundo. Estas mudanças ocorrem em diferentes níveis – institucional, política, sociedade civil organizada como sindicatos, associações comerciais, etc. Mas numa sociedade globalizada, estas mudanças extrapolam as fronteiras físicas das cidades e acabam se estendendo tanto nacional como internacionalmente. Geralmente estas mudanças sociais têm origem nas interações informais que envolve as pessoas comuns, isto é, aquelas que compõem as comunidades. Muitas vezes estas interações se tornam sistemáticas e é possível reconhecermos as atividades organizadas. Neste caso, podemos classificar esta dinâmica social como movimento urbano ou movimento social urbano ( poderíamos ter um movimento social rural, mas a expressão não é muito utilizada). Quando este movimento é ainda mais específico, isto é, é expresso pelas classes consideradas de baixa renda, o movimento urbano assume uma outra denominação: movimento popular. A maioria dos movimentos urbanos, assim como os movimentos populares, são dinâmicos e descontínuos, o que não os torna inativos ou amorfos. Na verdade estes movimentos têm a tendência a atender necessidades prementes e se desaparecem quando suas demandas são atendidas ou porque não o foram, ou até mesmo quando os principais líderes mudam de bairro. Alguns movimentos urbanos, no entanto, se mantém vivos e se desenvolvem tornando-se institucionalizados, como é o caso, por exemplo, das associações de gênero ou raça. No entanto, o fator comum entre estes movimentos é que, na maioria das vezes, surgem nos locais de residência e são organizados neste espaço. Existem autores, principalmente do campo da sociologia, como Leda Maria Vieira Machado, que classificam o movimento urbano como um movimento heterogêneo segundo as suas características tempo-espacial (suas características dependem de onde ocorrem e das mudanças qualitativas que podem sofrer em seu percurso histórico). Mas a própria autora concorda que, do ponto de vista estrutural, não podemos classificá-lo como heterogêneo, em função de atender a um interesse específico. Outra característica que distingue o movimento social urbano - ou apenas movimento urbano – pelo menos epistemologicamente – do movimento popular é que o primeiro caracteriza-se pela formação de conjuntos de pessoas formados pelos mesmos grupos sociais (mulheres, negros, ecologistas, etc.) e o segundo, pela miscigenação de grupos sociais ( trabalhadores em geral, donas de casa, desempregados, etc.) . Sendo assim, a principal característica dos movimentos populares é justamente a heterogeneidade, a diferença. O fato é que os movimentos urbanos se intensificaram principalmente entre as décadas de 70 e 80, em função de inúmeras razões, mas a principal delas foi o êxodo rural e a segregação social do espaço imposto pelo inchaço das grandes cidades nesta mesma época. Os trabalhadores de baixa renda e imigrantes são obrigados a ocupar as áreas periféricas dos grandes centros, que não possuem infra-estrutura básica e serviços. Esta população é também obrigada a construir suas próprias casas sem qualquer assistência do governo. Outro fator importante que influiu no represamento deste movimento foi o regime militar repressivo da época, que impediu as manifestações em favor de melhores qualidades de vida e emprego. Uma grande mobilização desta parte da população começa a surgir. Grupos sociais que geralmente eram excluídos da vida política do país começam a se organizar, originando uma grande luta por maior igualdade. Esta luta, por começar no local de residência destas famílias, foi, em sua maior parte, organizada nas favelas (Rio de Janeiro e São Paulo) e vilas (Região Sul – Porto Alegre, principalmente), pelas mulheres donas de casa, o que continua ocorrendo até hoje, conforme veremos adiante neste trabalho. Vimos no início deste trabalho que o capitalismo passa por uma grande reestruturação, que no Brasil foi acelerada no início da década de 70, após a crise do petróleo. Esta reestruturação provocou a participação do Estado em todos os setores da economia, que desempenhava um papel importante na transição do de um sistema capitalista nacional para um período industrial. O aumento da intervenção Estatal na economia nacional também provocou a diminuição de recursos para aqueles setores que não estavam diretamente envolvidos na implementação da nova política. A crise da divida externa, que cresceu principalmente durante os anos 70, resultou num processo de polarização sócio-econômica e colocou em xeque a idéia de que o proletariado era o único sustentáculo da transformação social. Conforme Leda Machado “tornou-se difícil sustentar isso, uma vez que um crescente número de pessoas não era envolvido no processo de produção, e (...) a força de trabalho não era mais tão homogênea quando antes. Uma vez que o número de funcionários públicos cresceu, o Estado, embora em oposição ao capital, foi-se transformando em inimigo de classe deste setor de força da trabalho; os padrões de consumo, e não os de produção, cresceram em importância ma estruturação da vida cotidiana das formações sociais capitalistas”. (1995- 30/31) MACHADO, Leda Maria Vieira. Atores Sociais: movimentos urbanos, continuidade e gênero.. São Paulo ANNABLUME 1995 A revolução das telecomunicações, também iniciada no Brasil dos anos de 1970, marca um processo de rearticulação do território. Novos recortes espaço-temporais são estruturados a partir de uma nova ordem na divisão territorial do trabalho. Tanto sua constituição como seu uso exigem, todavia, parcelas volumosas de informação, que se distribuem segundo práticas diversas. A natureza dessa informação e sua presença desigual entre as pessoas e os lugares tampouco é alheia a esses conteúdos científico-técnicos. Podemos entender a informação como um recurso, com áreas de abundância e áreas de carência. Haveria assim uma existência paralela: um território bem-informado, um território pouco informado e um número infinito de situações intermediárias. Daí a necessidade de compreender as qualidades da informação, reconhecer seus produtores e possuidores, decifrar seus usos. Os meios de comunicação têm, através de sua ação, modificado o espaço e o tempo e também as relações sociais, transformando a idéia de comunidade. A comunicação mediada por computador também afeta a sociedade, influenciando o cotidiano e a noção de comunidade. Hoje, já não temos mais comunidades delimitadas territorialmente ou por suas relações parentais. Surge então um novo conceito: o de comunidades virtuais que, segundo autores como Rheingold e Palacios, que seriam os grupos humanos que travavam e mantinham relações sociais no ciberespaço. Podemos então dizer que as discussões públicas, as pessoas que se encontram e reencontram e que ainda mantém contato através da Internet para levar adiante a discussão, o tempo e o sentimento (Reingold in Recuero, 2002, p.228). Esses elementos combinados através do ciberespaço poderiam ser formadores de redes de relações sociais, constituindo-se em comunidades (Recuero, 2002, p.228) Recuero, Raquel da Cunha. Comunidades Virtuais: uma abordagem teórica. In Midia, Imprensa e as novas tecnologias. Poa. Coleção Comunicação.nº 24. 2002 Mas a pergunta é: Não haveria necessidade de se manter a base territorial para que se pudesse definir então comunidade? Na verdade, em função de novas tecnologias, não existe mais a necessidade locus específico. Para Jones, 1998, comunidade virtual pode ser entendida como: 1. Diversas formas de grupos via comunicação mediada por computador, com um lugar virtual no ciberespaço. 2. São novas formas de comunidade criadas através do uso de ferramentas de comunicação na CMC. Recuero, Raquel da Cunha. Comunidades Virtuais: uma abordagem teórica. In Midia, Imprensa e as novas tecnologias. Poa. Coleção Comunicação.nº 24. 2002 Para o autor, a primeira definição seria o estabelecimento virtual e a segunda, a verdadeira comunidade virtual. Jones tenta destinguir a comunidade virtual do local que ela ocupa no ciberespaço. Afirma que o estabelecimento virtual geralmente vem seguido de uma comunidade virtual associada. Seria assim possível identificar as comunidades virtuais a partir de seu estabelecimento. Este estabelecimento - que o autor chama de virtual settlement - é um ciberlugar que é simbolicamente delineado por um tópico de interesse, onde existe interatividade. Recuero, Raquel da Cunha. Comunidades Virtuais: uma abordagem teórica. In Midia, Imprensa e as novas tecnologias. Poa. Coleção Comunicação.nº 24. 2002 Portanto, podemos então classificar a interatividade como o estabelecimento de trocas mútuas (que se dá de forma negociada) e/ou o estabelecimento de trocas reativas (processo de estímuloresposta). Mas é na interação mútua que se encontra a construção relacional entre os indivíduos dessa nova comunidade. Essa interatividade está, então, intrínsecamente ligada à forma de utilização do meio, tornando-se sua característica. Outra característica dessas comunidades virtuais é a permanência, condição sine qua non para o estabelecimento de tempo, necessário à construção de relações mais aprofundadas. O pertencimento é outra característica importante da comunidade virtual, pois estabelece o sentido de ligação, associado à comunidade em si e não ao território, uma vez que é possível se escolher a comunidade da qual se deseja fazer parte. Recuero, Raquel da Cunha. Comunidades Virtuais: uma abordagem teórica. In Midia, Imprensa e as novas tecnologias. Poa. Coleção Comunicação.nº 24. 2002 Porto Alegre nasceu de uma pequena colônia de imigrantes açorianos, que se estabeleceram na Ponta de Pedra em 1752, dentro da Sesmaria de Santana, capitaneada por Jerônimo de Ornellas e Vasconcellos. A partir daí, a localidade começou a ser chamada de Porto dos Casais. A Vila Pinto, em Porto Alegre, integra um conglomerado de vilas pobres que formam a região da Grande Mato Sampaio. Cerca de 12.000 habitantes estão distribuídos em mais de 2.500 famílias. Metade desta população tem idade inferior a 18 anos e possui baixíssimo poder aquisitivo. A comunidade, de forma geral, tem baixo nível de escolaridade e de profissionalização.