Parnasianismo (1880-1920) Profissão de Fé Assim procedo. Minha pena Segue esta norma, Por te servir, Deusa serena, Serena Forma! (Olavo Bilac) Características: O Parnasianismo é a manifestação poética da época do Realismo e do Naturalismo. No entanto, ideologicamente, a poesia parnasiana não revelou preocupação com as questões sociais de seu tempo, pois era o movimento identificado com a “sociedade sorriso”, era a arte da chamada Belle Époque. O apego à tradição clássica é, portanto, uma das marcas fundamentais dos parnasianos: racionalismo, objetividade, equilíbrio, harmonia, mitologia, enfim, referências à cultura grecoromana. O Parnasianismo opõe-se ao Romantismo, preferindo temas universais (fim do individualismo e do sentimentalismo), valorizando a impessoalidade e a impassibilidade (contenção emocional). Apoiados no ideal da “arte pela arte”, os poetas parnasianos reverenciam o culto à forma (métrica e rima perfeitas), buscam o soneto com chave de ouro (síntese das idéias no último terceto), perseguem o descritivismo (aspecto exterior, objetivo, plástico). Olavo Bilac (1865 - 1918) Suas obras mais importantes podem ser divididas da seguinte forma: Viagens: aqui aparece “O Caçador de Esmeraldas”, poema nacionalista que exalta a figura do bandeirante Fernão Dias Paes Leme. Bilac define o texto como “episódio da epopéia sertanista no século XVII”, embora seja considerada uma tentativa frustrada de poesia épica. Panóplias: poesia voltada para a temática clássica. A Um Poeta Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego. Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua Rica mas sóbria, como um templo grego. Via Láctea: apresenta 35 sonetos marcados por um lirismo espiritualizado. Soneto XIII Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A Via-Láctea, como pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo? E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas.” Sarças de Fogo: exploração do nu feminino, com forte apelo sensual. Sobe... Cinge-lhe a perna longamente; Sobe... e que volta sensual descreve Satânia Para abranger todo o quadril! [prossegue Nua, de pé, solto o cabelo às costas, Sorri. na alcova perfumada e quente, Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura Pela janela, como um rio enorme Morde-lhe os bicos túmidos dos seios Profusamente a luz do meio-dia Corre-lhe a espádua, espia-lhe o [recôncavo Entra e se espalha, palpitante e viva. Como uma vaga preguiçosa e lenta Da axila, acende-lhe o coral da boca. Vem lhe beijar a pequenina ponta E aos mornos beijos, às carícias ternas Do pequenino pé macio e branco Da luz, cerrando levemente os cílios Satânia... abre um curto sorriso de [volúpia... Alberto de Oliveira (1857-1937) Foi o mais parnasiano dentre os parnasianos, ou seja, foi o seguidor mais fiel dos preceitos da escola. Seus poemas retratam, em geral, a natureza e objetos, como é o caso de Vaso Grego, Vaso Chinês, A Estátua, O Muro, nos quais se destacam a descrição e a forma. Vaso Grego Esta, de áureos relevos, trabalhada De divas mãos, brilhante copa, um dia, Já de aos deuses servir como cansada, Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Vaso Chinês Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o Casualmente, uma vez, de um perfumado Contador sobre o mármor luzidio, Entre um leque e o começo de um bordado. Raimundo Correia (1859-1911) Machado de Assis, em um ensaio a respeito do primeiro livro poeta, diz ter sentido “o cheiro romântico da decadência”, ou seja, Raimundo Correia começou sob influência romântica. Como parnasiano, dominou perfeitamente a técnica exigida pela escola, embora estudiosos tenham percebido a sua falta de originalidade, como é o caso dos sonetos As Pombas (influência ou plágio do francês Gautier) e Mal Secreto (plágio do italiano Metastásio). Os poemas de Correia refletem um forte pessimismo, uma percepção negativa do mundo. É também considerado o mais melodioso dos parnasianos, por isso alguns críticos o consideram um poeta de tendência simbolista. Raimundo Correia completa, juntamente com Bilac e Alberto de Oliveira, a famosa Tríade Parnasiana. As Pombas Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sangüínea e fresca a madrugada. E à tarde, quando a rígida nortada Sopra, aos pombais de novo elas, serenas Ruflando as asas, sacudindo as penas Voltam em bando e em revoada. Também, dos corações onde abotoam Os sonhos, um por um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais, No azul da adolescência as asas soltam Fogem, Mas aos pombais as pombas voltam E eles aos corações não voltam mais... Mal Secreto Se a cólera que espuma, a dor que mora N’alma, e destrói cada ilusão que nasce, Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse; Se se pudesse, o espírito que chora, Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então piedade nos causasse! Quanta gente que ri, talvez, consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo, Como invisível chaga cancerosa! Quanta gente que ri, talvez existe, Cuja ventura única consiste Em parecer aos outros venturosa! Tríade Parnasiana Olavo Bilac Raimundo Correia Alberto de Oliveira Machado de Assis (1839-1908) Na segunda fase de sua produção, o autor revelou tendências realistas na prosa e tendências parnasianas na poesia, como é o caso de A Carolina (abaixo), A Mosca Azul, Círculo Vicioso. Querida, ao pé do leito derradeiro Em que descansas dessa longa vida, Aqui venho e virei, pobre querida, Trazer-te o coração do companheiro. Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro Que a despeito de toda a humana lida, Fez a nossa existência apetecida E num recanto pôs o mundo inteiro.