Projeto: Governança Global, Redes Transnacionais e os Países em Desenvolvimento: O Caso dos Regimes de Propriedade Intelectual Pesquisador Reponsável: André de Mello e Souza (PUC-Rio) Os países em desenvolvimento têm desempenhado um papel cada vez mais assertivo nas negociações econômicas internacionais do século 21. A reação desses países à globalização dos direitos de propriedade intelectual (PI), embora tardia e limitada, tem evidenciado sua maior participação nos regimes multilaterais — especialmente naqueles administrados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) — e tido repercussões importantes em áreas tão diversas quanto o comércio internacional, os investimentos estrangeiros diretos, a produção e disseminação de tecnologia, o acesso à informação, a produção agrícola, a saúde pública e a segurança internacional. Não obstante, a influência dos países em desenvolvimento no principal regime de PI, estabelecido no âmbito da OMC por meio do Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (conhecido pela sigla em inglês TRIPS) tem sido profundamente desigual: conquanto aqueles países tenham obtido relativo sucesso ao flexibilizar a legislação de patentes farmacêuticas, sobretudo por meio da Declaração sobre o Acordo TRIPS e a Saúde Pública assinada na reunião ministerial de Doha, sua influência sobre as leis de direitos autorais de software, sobre o patenteamento de outros recursos biológicos como genes e sementes e seus esforços para conter a biopirataria e proteger o conhecimento tradicional têm sido bastante limitados. Este projeto busca explicar os sucessos e limitações da atuação dos países em desenvolvimento nos regimes globais e regionais de propriedade intelectual. A principal hipótese da pesquisa ora proposta é que os países em desenvolvimento têm sido mais bem sucedidos em seus esforços para influenciar os regimes internacionais de PI quando estabelecem alianças com redes de ativismo transnacionais, compostas na sua maior parte por organizações não-governamentais (ONGs) mas também por outros setores da sociedade civil e por organizações internacionais. Tais redes reforçam a posição dos países em desenvolvimento de duas formas. Primeiro, elas influenciam a definição das prioridades políticas desses países por meio de processos de persuasão e aprendizado, moldando seus interesses e assegurando a equivalência (ou pelo menos consistência) dos Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. mesmos. Em geral, ONGs também usufruem de maior legitimidade enquanto atores políticos, o que aumenta sua capacidade de mediar e coordenar a atuação de países em desenvolvimento nos foros internacionais, e de contribuir para a formação de coalizões entre esses países, os quais passam a atuar em bloco. Segundo, ao fornecer informações relevantes, assistência técnica, conhecimentos especializados, fazer lobbying, organizar manifestações e utilizar a mídia para chamar a atenção da opinião pública, as redes de ativismo têm permitido aos países em desenvolvimento prevalecer sobre países convencionalmente muito mais poderosos, e especialmente sobre os Estados Unidos, em algumas negociações. Pretendo avaliar tais hipóteses por meio de uma pesquisa de campo realizada em Genebra, com foco particular na atuação de três países em desenvolvimento que têm desempenhado papel importante nas negociações internacionais de PI, quais sejam, Brasil, Índia e África do Sul. A investigação dos atores e processos políticos que influenciaram o desempenho desses países nas negociações multilaterais de PI, tanto a nível doméstico quanto internacional, é relevante para um melhor entendimento das suas motivações, possibilidades e limitações na construção de instituições de governança global. De fato, este projeto de pesquisa tem por fim produzir conclusões importantes sobre as estratégias que os países em desenvolvimento podem adotar para obter maior poder de barganha frente a países mais poderosos, incluindo a expansão das parcerias com atores não-estatais, a utilização de discurso ampliado de direitos humanos, a associação e articulação das diversas questões econômicas que interessam àqueles países — no caso da PI, as patentes farmacêuticas, o conhecimento tradicional e a biopirataria, o software livre, etc. — e a maior cooperação internacional entre eles. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.