UTILIZAÇÃO DE BACULOVÍRUS PARA EXPRESSÃO DE PROTEÍNAS DO CIRCOVÍRUS SUÍNO TIPO 2 (PCV2) - FASE DE PADRONIZAÇÃO DO CULTIVO CELULAR Autores: Keila Catarina PRIOR, Talita Carina BOGONI e Diogenes DEZEN. Identificação autores: Bolsista PIBITI/CNPq; Coautora; Orientador IFC-Câmpus Concórdia. Introdução A circovirose suína é uma doença infectocontagiosa de distribuição mundial, causada pelo circovírus suíno tipo 2. A forma mais frequente e importante de manifestação dessa enfermidade é a Síndrome Multissistêmica do Definhamento Suíno (SMDS), caracterizada pelo emagrecimento rápido e progressivo. Atualmente a circovirose é considerada uma doença endêmica no Brasil, pois tem apresentado um aumento gradual em número de casos clínicos com confirmação laboratorial (MORÉS et al., 2007). O PCV2 é considerado um dos patógenos mais importantes em suínos, causando sérios prejuízos econômicos devido à elevada mortalidade, atraso na produção ou pela ocorrência de infecções secundárias associadas ao vírus. O principal problema da SMDS é a sua duração nos rebanhos, podendo persistir por vários meses se medidas de controle apropriadas não forem adotadas. As taxas de mortalidade podem triplicar nas fases de creche e terminação, podendo normalizar dentro de alguns meses (CIACCI-ZANELLA, 2007). Uma alternativa importante para o controle da doença baseia-se na utilização de vacinas, as quais estão sendo aplicadas nos rebanhos brasileiros desde 2008, sendo que até esse momento, a prevenção era baseada única e exclusivamente na correção de fatores de risco para a infecção (CIACCI-ZANELLA & MORÉS, 2003). Dentre os genótipos já identificados, o PCV2a foi incialmente o mais prevalente em suínos afetados pela SMDS até 2003, e as vacinas comerciais foram desenvolvidas baseadas neste genótipo. No entanto o PCV2b emergiu globalmente, sendo associado a surtos mais severos da SMDS, tornando-se o genótipo prevalente em suínos do mundo inteiro (CIACCIZANELLA et al. 2015). Atualmente existem quatro vacinais comerciais registradas na maioria dos países, inclusive no Brasil. No entanto, elas ainda são de alto custo e todas são construídas a partir de amostras do vírus ocorrentes em outros países e baseadas no genótipo PCV2a (CIACCIZANELLA et al. 2015). Portanto, o desenvolvimento e uso de vacinas com cepas autóctones poderia contribuir na melhoria de imunidade de rebanhos locais, haja vista que podem existir diferenças antigênicas importantes entre cepas. Neste sentido, em experimentos prévios, realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foram produzidas três construções de baculovírus recombinantes capazes de produzir e secretar a proteína do capsídeo (ORF2) do PCV2, proteína esta originada de uma amostra autóctone, representativa das amostras de PCV2b circulantes no Brasil. Visando a continuidade do experimento, novas etapas que otimizem a produção da proteínas recombinantes são necessárias. Uma destas etapas é o estabelecimento de um sistema de cultivo celular, o qual foi o objetivo deste trabalho, e será descrito a seguir. Material e Métodos Para o cultivo celular, foram utilizadas garrafas de cultivo de 75cm² de superfície, contendo células da linhagem Sf21, as quais são derivadas de tecido ovariano da lagarta Spodoptera frugiperda. O repique foi realizado seguindo as recomendações previamente descritas (INVITROGEN, 2002) e em condições assépticas. Para garantir estas condições, o repique foi realizado em cabine de segurança biológica, onde se realizou a desinfecção desta com luz ultravioleta durante trinta minutos e todo material utilizado no cultivo foi submetido anteriormente a processo de esterilização. O repique celular foi realizado em garrafas com cerca de 80-90% de confluência da monocamada de células. Para a análise da confluência, observou-se as a monocamada em estereomicroscópio, sob aumento de 40x. Em seguida, realizou-se a remoção do meio de cultivo presente nas garrafas e adicionou-se 4 mL do meio de cultivo TC-100 suplementado com 10% de soro fetal bovino. Posteriormente realizou-se ação mecânica sobre as garrafas para que as células se desprendessem da parede e fossem ressuspendidas no meio de cultivo. Com o auxílio de uma pipeta fez-se a homogeneização da suspensão e realizou-se a transferência de 2 mL dessa, para uma nova garrafa. Em seguida completou-se o volume final de 15 mL desejado para cada garrafa com a adição de 13 mL do meio de cultivo em cada. Posteriormente as garrafas foram incubadas a 27ºC em atmosfera ambiente, até atingirem 8090% de confluência, o que foi obtido entre o 4º e 5º dia. Resultados e Discussão Através do acompanhamento diário do desenvolvimento dos cultivos realizados, observou-se que a formação de 80-90% de confluência da monocamada ocorre em média no período de quatro a cinco dias (Figura 01). Portanto a periodicidade dos repiques deve ser cumprida estritamente, pois a divisão celular exacerbada causa o fenômeno de inibição por contato, caracterizado por interrupção da divisão celular por consequência do contato físico entre duas células, devido a um excesso de densidade celular em um meio de cultivo, gerando atrasos na multiplicação da linhagem de célula (Alves e Guimarães, 2010). Além disso, deve-se ressaltar que o cultivo celular é um procedimento muito suscetível a contaminações, uma vez que utiliza de meios ricos em nutrientes e a presença de contaminantes no cultivo leva a morte celular e consequente perda do procedimento (Alves e Guimarães, 2010). Figura 01: Cultivo celular observado em estereomicroscópio demonstrando aproximadamente 80% de confluência. Aumento de 40x Considerações Finais A multiplicação de células em laboratório é um processo que requer inúmeros cuidados e o estabelecimento dos procedimentos demanda tempo, uma vez que falhas resultam em morte celular e o processo deve ser retomado. Atualmente, a pesquisa encontrase em andamento e após o completo estabelecimento do cultivo celular, o próximo passo será a infecção das células com os estoques virais, visando determinar qual dos baculovírus recombinantes produzirá a proteína codificada pela ORF2 com maior eficiência e eficácia. Referências ALVES, E. A.; GUIMARÃES, A. C. R. Capítulo 5: Cultivo celular. In: MOLINARO, E.; CAPUTO, L.; AMENDOEIRA, R. Conceitos e métodos para formação de profissionais em laboratórios de saúde. Vol 2. Rio de Janeiro: EPSJV; IOC, 2010. p. 215-253. CIACCI-ZANELLA, J. R. Circoviridae. In: FLORES, E.F. (Ed.) Virologia Veterinária. Santa Maria: UFSM, 2007. p. 363-374. CIACCI-ZANELLA, J. R.; SCHAEFER, R.; GAVA, D. et al. Novos conhecimentos sobre a infecção por PCV2 e a emergência de novas estirpes virais. In: IX SINSUI Simpósio Internacional de Suinocultura. Anais… Porto Alegre: UFRGS, 2015. p. 207-220. INVITROGEN. Guide to Baculovirus Expression Vector Systems (BEVS) and Insect Cell Culture Techniques. 2002. p. 30. Disponível em <https://tools.thermofisher.com/content/ sfs/manuals/bevtest.pdf>. Acesso em 20 de agosto de 2014. MORÉS, N.; BARCELLOS, D.; CIACCI-ZANELLA, J. Circovirose suína. In: SOBESTIANSKY, J., BARCELLOS, D. (Ed.) Doença dos Suínos. Goiânia: Canône Editorial, 2007. p. 213-225.