Gestalt-terapia Gestalt-terapia • Nome de batismo (marketing): Frederick Perls • 1951: livro Gesatlt-terapy por Perls, Goodman, Hefferline. • G 7: Isadore From, Paul Goodman, Paul Weisz, Sylvester Eastman, Eliot Shapiro, Ralph Hefferline, Laura e Fritz Perls. • Colcha de retalhos: síntese de várias correntes filosóficas, metodológicas e terapêuticas. • Terceira via original: “compreender e aprender mais, sobretudo, experimentar e promover nosso poder criativo de reintegrar as partes dissociadas; expandir ao máximo nosso campo vivido e nossa liberdade de escolha, tentar escapar ao determinismo alienante do passado e do meio, à carga de nossos condicionamentos ‘históricos’ ou ‘geográficos’ e encontrar assim um território de liberdade e de responsabilidade.” (Dicionário de Gestalt-terapia). “Poder-se-ia dizer que a Gestalt propõe, de certa forma, uma inversão do processo de cura: em psicanálise se supõe que a conscientização acarrete uma modificação do vivido, enquanto em gestalt as modificações do vivido – por meio a experiência – permitem uma mudança do comportamento, acompanhada de uma eventual conscientização. Para os psicanalistas, o desaparecimento do sintoma é um ‘luxo’, para os gestaltistas, é a conscientização que é assim considerada” (Ginger; Ginger, 1995) Pressupostos Filosóficos Humanismo: 1. O homem como centro: só o homem existe, as coisas são. 1.1. O homem é capaz de autogerir-se, regular-se, criando-se a cada instante, transformando-se num constante vir a ser. • Abarca a fenomenologia, o existencialismo e a filosofia dialógica de Buber. Fenomenologia: 1. Centrada na descrição subjetiva do sentimento. 1.1. Prevalência do como sobre o porquê; 1.2. Importância da vivência imediata, sentida corporalmente, tal como é aqui e agora; 1.3. Percepção do mundo dominados por fatores subjetivos. Pressupostos Filosóficos Existencialismo: 1. Existência precede a essência. 1.1. Primazia das vivências concretas sobre abstratas; 1.2. Singularidade do ser humano em sua existência; 1.3. Responsabilidade e liberdade inerente ao homem. Filosofia Dialógica: 1. O homem é um ser relacional. 1.1. Análise da existência humana; 1.2. Ser eu e falar “eu” é a mesma coisa; 1.3. A realidade vive em nós. Ginger (1985), afirma que o humanismo colou o homem como o centro da psicologia, pois na Psicanálise ortodoxa e no Behaviorismo o homem era produto das interações bioquímicas e do meio social e familiar em que estava inserido. “Não há ponte entre homem e homem... Pois estranhos somos e estranhos ficamos exceto algumas identidades em que eu e você nos juntamos. Ou melhor ainda, onde você me toca e eu toco você quando a estranheza se faz familiar” (Perls, 1969) Teorias de Base Psicologia da Gestalt: 1. Observação do fenômeno tal como ele se manifesta. 1.1.Interelação entre figura e fundo; Teoria de Campo de Lewin: 1. Influências sociais sobre o comportamento humano. 1.1. O campo forma um intricado mosaico de possibilidades, cabendo ao indivíduo decodificá-las através de sua percepção; 1.2. Compreensão global do funcionamento do indivíduo: meio externo e interno de cada um. Teorias de Base Teoria Organísmica de Goldstein: 1. O único motivo do organismo é a auto-realização. 1.1. A pessoa é una, integrada e consciente; 1.2. O organismo é um sistema organizado, com um todo diferenciado de suas partes; 1.3. O homem possui um impulso dominante de auto-regulação. Teoria Holística de Smuts: 1.Uma parte só pode ser compreendida a partir do todo. 1.1. Impossibilidade de dividir as partes, mas integrá-las num todo coerente; 1.2. Exame do comportamento manifesto, ao nível explícito da atividade física e ao nível oculto da atividade mental. Teorias de Base Reich e a análise do caráter: 1. Ênfase do como sobre o porquê. 1.1. Explicitação de conteúdos internos a partir de manifestações corporais; 1.2. Valor igualitário às lembranças e emoções que as acompanham; 1.3. Mais importância ao que o cliente expressa do que ele comunica. Moreno e o psicodrama: 1. Resignificação ou elaboração do que é e o que já foi. 1.1. Possibilidade de vivenciar sentimentos, fantasias ou conflitos, atuais ou não, promovendo catarse; Teorias de Base Pensamento Oriental – Zen Budismo: 1.Apreensão dos sentimentos pelo processo de conscientização através do mergulho gradativo na própria existência. 1.1. Ponto zero – estéril ou fértil; “Perca a cabeça, chegue aos sentidos.” (Perls) “As coisas estão longe de ser todas tangíveis e dizíveis quanto se nos pretenderia fazer crer. A maior parte dos acontecimentos é inexprimível, e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou...” (Rilke) Conceitos Básicos • Auto-regulação; • Holismo; • Figura e fundo; • Ciclo de contato; • Ajustamento criativo; •Teoria paradoxal da mudança; • Awareness; • Aqui e agora Auto-regulação ou Homeostase Termo auto-regulação organísmica: Kurt Goldstein; Perspectiva sistêmica – “ser humano como um todo, como um organismo vivo no qual ocorrem processos de inter-relação entre suas partes e que está em permanente relação com o meio, tomando deste o que necessita, a serviço da auto-regulação” (Dicionário de Gestaltterapia); Processo pelo qual o organismo satisfaz suas necessidades. Auto-regulação ou Homeostase Perls tomou emprestado o termo da biologia para descrever: “O processo através do qual o organismo mantém seu equilíbrio e conseqüentemente sua saúde sob condições diversas; é o processo, portanto através do qual o organismo satisfaz suas necessidades. Uma vez que suas necessidades são muitas e cada necessidade perturba o equilíbrio o processo homeostático perdura o tempo todo...” (Perls, 1973 p.20-21 apud Mezzarana,2001). “Quando um desejo se torna realidade, uma nova energia nasce no indivíduo. Desejos e necessidades são quase sempre estados deficitários a que as pessoas aspiram satisfazer, são buracos na personalidade que devem ser preenchidos (...). Costumamos dizer que a Gestal-terapia é uma tentativa, uma proposta de lidar com essas necessidades, estes desejos, estes buracos que impedem a centragem, a harmonia do organismo. (Ribeiro, 1985) Holismo Smuts: livro Holism and evolution (1926); O universo se constitui por unidades que forma um todo que é mais que a simples soma das partes. Paradigma Holístico: visão na qual o todo e qualquer uma de suas sinergias estão estritamente ligados em interações constantes e paradoxais. Organismo como um todo: mente e corpo, interno e externo; Visão intra-orgânica: relação direta entre mente e corpo – o que o indivíduo fala é igual ao modo como se comporta; A relação entre indivíduo e meio é fluída, permitindo contato e afastamento. • Contatar - formar gestalt • Afastar - fechar gestalt. No neurótico - contatar e afastar está perturbado. Não sabe priorizar necessidades dominantes. Figura e Fundo Figura é a necessidade que emerge a cada momento a fim de ser satisfeita; Fundo é toda gama infinita de possibilidades de outras vivências, necessidades e percepções que naquele instante cedem lugar para o surgimento e configuração de uma necessidade dominante. Figura e fundo Quando o organismo se depara com várias necessidades simultâneas a serem satisfeitas, tenta estabelecer um equilíbrio omeostático, daí se dá uma hierarquização. “A figura não é parte isolada do fundo, ela existe no fundo. O fundo revela a figura, permite à figura surgir (...). (Ponciano, 1985) Figura e Fundo “Desde que seja incapaz de fazer adequadamente mais de uma coisa de cada vez o organismo se encarrega da necessidade de sobrevivência dominante antes de cuidar de qualquer das outras; age, em primeiro lugar, com o princípio das coisas fundamentais [...]. Formulando esse princípio em termos de Psicologia da Gestalt podemos dizer que a necessidade dominante do organismo, em qualquer momento, se torna figura do primeiro plano, e as outras necessidades recuam, pelo menos temporariamente, para o segundo plano”. (Perls,1973,p.24) Figura e Fundo A necessidade a ser satisfeita imediatamente é a figura, e a que passa a segundo plano, o fundo. Esse processo dinâmico por excelência, quando em funcionamento harmonioso leva o indivíduo a “fechar a Gestalt” de determinada situação ou necessidade. A neurose surge a partir de interrupções no fluxo natural de figuras, tornando-as inacabadas. É da plasticidade da interação entre essa figura e fundo que o indivíduo interage com o meio, constituindo aquilo que em Gestalt terapia denominamos de Ciclo do Contato. “Para que o indivíduo satisfaça suas necessidades, feche a gestalt, passe para outro assunto, deve ser capaz de manipular a si próprio e ao seu meio, pois mesmo as necessidades puramente fisiológicas só podem ser satisfeitas mediante a interação do organismo com o meio”. (Perls,1973,p.24) Ciclo de Contato O contato é estabelecido para que o indivíduo possa satisfazer uma necessidade ou fechar uma figura, e após obter esse resultado existe uma retração para que surja uma necessidade, novo contato, nova assimilação e retração. “O Ciclo é, portanto, concebido como um sistema self-eu-mundo. Permite-nos ler a realidade por intermédio dele, bem como entender o processo pelo qual este sistema foi se estruturando ao longo do tempo” ( Ribeiro, 1997) Ciclo de Contato e relação dialógica Busca de uma relação de respeito e valorização da alteridade do outro. Diálogo genuíno: eu encontro o outro. Elementos do interhumano: presença, confirmação, diálogo genuíno e sem reservas, inclusão. A abordagem global, o processo e o objetivo da gestalt precisam estar assentados em uma perspectiva dialógica. O termo dialógico refere-se ao fato de que a existência humana, em seu nível mais fundamental, é inerentemente relacional. Ajustamento Criativo Natureza do contato que o indivíduo mantém na fronteira do campo organismo/ambiente, visando a sua auto-regulação sob condições diversas; Criativo – ajustamento resultante do sistema de contatos intencionais que o indivíduo mantém com seu ambiente; Ajustamento saudável – sujeito ativo, posse de sua aptidão de se orientar pelas exigências das novas circunstâncias; Ajustamento cristalizado – sujeito alienado das condições presentes e atuais. Refere-se aos ajustamentos possíveis entre o indivíduo e o meio que possam promover de alguma forma o fechamento de figuras, sendo este último uma interação com o campo na qual, por meio do contato, o indivíduo possa optar por uma decisão que lhe pareça a melhor no sentido de cumprir a demanda organísmica que se torna figura naquele momento. Teoria Paradoxal da Mudança Mudar é tornar-se o que é, não quanto tenta converter-se no que não é. “Quanto mais você tentar ser quem não é, Mais você permanece o mesmo. Crescimento, incluindo a assimilação da ajuda e do amor dos outros, requer sutosuporte. Tentar ser quem não se é não é auto suporte.” (Yontef, 1998) QUEM É VOCÊ? Teoria Paradoxal da Mudança “Trabalhar paradoxalmente é colocar o cliente diante de suas possibilidades reais para, ao vivenciar suas contradições internas, descobrir que o risco é o cotidiano da existência, e que a palavra ‘fácil’ não pertence ao vocabulário dos adultos, e sim ao das crianças.” (Ribeiro) “Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos, de nós mesmos somos desconhecidos e não sem motivo. Nunca nos procuramos: como poderia acontecer que um dia nos encontrássemos?” (Niezsche) Awareness Pode-se afirmar que awareness é um processo de contato na relação estabelecida entre o campo, organismo e meio, com qualidade acentuada de atenção e sentido. Forma de experenciar de estar em contato vigilante com o evento mais importante do campo indivíduo/meio, com total apoio sensório motor, emocional, cognitivo e energético. Na Gestalt-Terapia enfatiza-se awareness no sentido de saber o que eu estou fazendo agora, na situação que está sendo e não se confunde esse estar sendo com o que foi, poderia ter sido, poderia ser. Awareness é sempre aqui e agora, mesmo que seu conteúdo esteja distante. Saber que agora eu estou rememorando é muito diferente do que cair no ato de lembrar sem awareness. Awareness Awareness é experienciar e saber como e o que eu estou fazendo agora. Sendo que o agora muda a cada momento, awareness é um processo dinâmico e exclui um modo imutável de ser e de ver o mundo. Awareness é sensorial e não mágica. Ela existe. Tudo que existe, existe aqui e agora. O passado existe agora sob forma de memórias, remorsos, rancores,tensão corporal (...) o futuro não existe, exceto agora, como fantasias, esperanças, expectativas. Awareness Yontef postula três colorários sobre o tema: • Colorário I: Awareness só é suficiente quando fundamentada e energizada pela necessidade predominante presente no organismo. • Colorário II: Awareness não é completa sem o conhecimento direto da realidade da situação e de como se está nela. Este colorário está conectado com o pressuposto de responsabilidade de cada um. • Colorário II: Awareness é sempre aqui e a gora. É mutante, desdobrando- se e transcendendo-se. Aqui e Agora Conceito holístico que representa a junção do espaço e tempo, criando a possibilidade de plenitude. O “aqui e agora” é a totalidade da experiência humana. Inclui tudo e registra, no momento, as emoções e a solução do seu cotidiano. Não se trata de imediatismo irresponsável,e sim de uma responsabilidade engajada na totalidade do presente. É um processo totalizador que colhe no imediato todas as possibilidades do agir humano. Aqui e Agora Ansiedade “Sempre que não estamos seguros de alguns de nossos papéis, desenvolvemos a ansiedade (...) ligamos isso com o fato de toda a realidade estar no agora, e sempre que abandonamos a posição segura de estar em contato com o presente, e saltamos para o futuro em fantasia perdemos o apoio para nossa orientação (...) A palavra ansiedade tem sua conotação derivada da palavra latina ‘angústia’, passagem estreita. O excitamento não pode fluir livremente.” (Perls, 1969) Aqui e Agora Na intervenção clínica em vez de promover a busca ‘arqueológica’ no passado pelas causas do sofrimento atual, o terapeuta incentiva a ‘concentração’ do consulente nas manifestações presentes desse passado, tal como elas se dão a conhecer na atualidade da sessão (Dicionário de Gestaltterapia). Desse modo, o consulente recobra a awareness de seus próprios modos de ajustamento, da maneira como se interrompe e das possibilidades que ainda lhe restam ou que a atualidade inaugura para ele lidar com o que tiver restado como situação inacabada vinda do passado.