Sólidos Viscoelásticos Área de hemiesferas de borracha contra uma superfície de vidro RENATO LUCATO GIMENEZ Fevereiro 2010 Agenda Introdução Revisão da Literatura Materiais e métodos Resultados experimentais Conclusão 2 Objetivo do trabalho Introdução Estudar a área de contato da borracha, mediante a compressão de hemiesferas de borracha contra uma superfície plana de vidro. Variáveis estudadas: Interesse da indústria Forças aplicadas Força de separação Tempo de aplicação da força Contato entre pneu e pavimento, vedações Importância acadêmica Mecanismos pelos quais se estabelece a área de contato em sólidos viscoelásticos Identificar a ocorrência e a intensidade do fenômeno de adesão 3 Histórico Revisão da literatura Aumento do consumo de elastômeros como material alternativo Propriedades específicas e diferenciadas Matéria-prima Viscoelasticidade Altíssima elasticidade – até 1000% Impermeabilidade Exploração vegetal (seringueiras) - Borracha natural (látex) Derivados do petróleo - Borracha sintética Outros - Enxofre, Sílica, Negro de fumo, entre outros Principais aplicações Pneus Vedações 4 Propriedades físico-mecânicas Revisão da literatura Curva de tensão-deformação para borracha natural vulcanizada e não vulcanizada à um alongamento de 600%. Influência da temperatura no polimetilmetacrilato. 5 Propriedades físico-mecânicas Revisão da literatura Viscoelasticidade combinação da resposta à deformação de um material, com a contribuição relativa do tempo, da temperatura, tensão, deformação e taxa de deformação do material. Resposta instantânea – módulo elástico Resposta no tempo – módulo viscoso ou módulo de relaxação Módulo de elasticidade E* E '2 E"2 tan E" E' 6 Propriedades físico-mecânicas Revisão da literatura Módulo de Relaxação, Er (t) É o módulo elástico dependente do tempo para polímeros viscoelásticos. Er(t ) (t ) o Dureza Medida de resistência do material à identação da superfície e abrasão Pode ser interpretado como uma função da tensão necessária para produzir alguma deformação específica na superfície do material. 7 Área de Contato Revisão da literatura Único ponto de interação entre os sólidos em contato Área aparente de contato – área da face Área aparente = 10 x 10 = 100 mm2 Área real de contato – contato efetivo Área definida pela superfície necessária para suportar os esforços atuantes. Comparação da área real de contato para (a) metal-metal; (b) plástico-metal. (Adamson, 1965) 8 Fatores que afetam a área de contato Revisão da literatura SÓLIDOS ELÁSTICOS Distribuição das asperezas Contato no regime plástico Densidade de probabilidade Distribuição exponencial – contatos proporcionais à carga aplicada Pressão de contato é constante e já atingiu o máximo – proporcional à carga Índice de plasticidade (Greenwood e Williamson, 1966) E' S H Cerâmicas e polímeros – contato predominantemente elástico E’/H – muito baixo 9 Fatores que afetam a área de contato Revisão da literatura SÓLIDOS ELÁSTICOS Área Real de contato vs. Área Aparente de contato Área Real de contato (mm2) área aparente = 10 cm2 área aparente = 1 cm2 Carregamento (kg) Área real de contato é independente da área aparente. (Hutchings, 2001) 10 Fatores que afetam a área de contato Revisão da literatura SÓLIDOS VISCOELÁSTICOS Contaminantes Força Normal Não é possível estabelecer contato íntimo entre os dois materiais Principal contribuição em altos carregamentos Forças de adesão Energia livre de superfície Energia eletrostática Forças de Van der Waals Devido às forças de adesão, a borracha se deforma de maneira a acompanhar todo o contorno das rugosidades superficiais 11 Fatores que afetam a área de contato Revisão da literatura SÓLIDOS VISCOELÁSTICOS Energia de separação Energia total necessária para separar os sólidos em contato γ (erg/cm2 = mJ/m2 = 10-3 N/m) γ (mJ/m2) Log γ 3,5 1600 (mJ.m-2) (50 g) 1200 3 (5 g) 800 Carregamento 50 Gramas 5 Gramas 1 Grama 2,5 (1 g) Velocidade de separação entre superfícies: ■ 10-3 mm/s ● 10-4 mm/s ▲ 10-5 mm/s 400 Log V (mm.s-1) Log t (seg) Log V (mm.s-1) 2,0 -6 -5 -4 -3 -2 0 -1 1 3 5 12 Fatores que afetam a área de contato Revisão da literatura SÓLIDOS VISCOELÁSTICOS Temperatura Variação do comportamento viscoelástico com a temperatura: Abaixo da Tg (transição vítrea) - comportamento puramente elástico Temperatura ambiente - predominantemente elástico, com influência viscosa Temperaturas elevadas - predominantemente viscoso, com influência elástica 13 Comentários Revisão da literatura Estimativa utilizando o modelo de JKR Efeito do tempo – Roberts e Othman Variação da energia de separação em função do carregamento e tempo Não considera a variação da área de contato em função do tempo Forças de adesão – Derjaguin, Muller e Toporov Coerentes para o contato de esferas contra uma superfície de vidro Não considera o efeito do tempo na variação da área. Energia eletrostática e forças de van der Waals Histerese no descarregamento – Briscoe, Arvanitaki, Adams e Johnson Grande influência no descarregamento 14 Estimativa da área de contato Revisão da literatura SEM ADESÃO Modelos de Hertz 1881 1896 Raio de contato dependente apenas do carregamento a – raio da área de contato R – raio das esferas E – módulo de elasticidade w – força normal aplicada K – constante elástica - constante de Poisson 15 Estimativa da área de contato Revisão da literatura COM ADESÃO A área de contato entre dois corpos é aumentada na presença de energia livre de superfície, em comparação à área calculada pelo modelo de Hertz 16 Estimativa da área de contato Revisão da literatura COM ADESÃO Johnson, Kendall e Roberts (1971) Equação de Hertz modificada, levando-se em consideração o efeito da energia de superfície: a3 Se 0, então: a3 R P 3R K RP K 2 6RP 3R Se P = 0, então: a3 R 6R K A separação das superfícies só ocorrerá quando: 3 P R 2 Independente do módulo elástico 17 Estimativa da área de contato Revisão da literatura Experimentos Superfícies: bem limpas, lisas, de baixo módulo elástico 19 x Raio de contato [cm] Seco erg 2 cm 71 4 Água Seco erg 2 cm 3.4 0.2 Água Solução de Dodecil Sulfonato de Sódio Solução Quando em contato com esta solução molar, os resultados foram praticamente iguais aos de Hertz Carregamento [g] 1 erg mJ 3 N 1 10 cm 2 m2 m 18 Estimativa da área de contato Revisão da literatura 15 x Diâmetro de contato [cm] Experimentos O --— Resultados do contato Teoria de Hertz Teoria modificada Carregamento [g] Esfera de borracha (R=2,2 cm) em contato seco, sob carregamentos leves positivos e negativos. 19 Procedimento experimental Materiais e métodos Superfícies limpas com água e detergente Aplicação de força Força de adesão Massa inicial = 45 g 15 em 15g – de 60 g até 120 g 30 em 30g – de 120 g até 270 g 60 em 60g – de 270 g até 570 g Massa inicial = 45 g Tempo de retirada do carregamento = 5 seg Efeito do tempo de contato 250 g – de 2 em 2 min até 16 min 45 g – de 2 em 2 min até 34 min 20 Equipamentos Utilizados Materiais e métodos Equipamento NIKON, o qual integra uma câmera digital (NIKON DXM1200F) e uma lente de aumento (SMZ800) acoplada à máquina 21 Materiais Utilizados Materiais e métodos 12 semiesferas de borracha com as seguintes propriedades: Material Enchimento (“A”) Rodagem (“B”) Lateral (“C”) Estanque (“D”) Semiesfera 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 Massa [g] 7,74 7,82 7,75 7,63 7,64 7,63 7,24 7,26 7,17 7,54 7,58 7,52 Rugosidade [µm] Diâmetro [mm] E [Mpa] Tan δ Dureza [Shore A] Ra = 0,6 Rmax = 0,8 30 16,8 0,132 87 Ra = 0,6 Rmax = 0,8 30 5,77 0,158 68 Ra = 0,6 Rmax = 0,8 30 5,42 0,111 57 Ra = 0,6 Rmax = 0,8 30 2,64 0,277 44 Chapa de vidro Recipiente plástico Material de massa aferida para aplicação de carga. 22 Limpeza do Materiais Materiais e métodos Método utilizado por Langmuir é muito agressivo para a limpeza de borracha As superfícies de vidro e esferas foram lavadas com água corrente e detergente Surfactante: Alquilbenzeno Linear Sulfonato de Sódio Após lavadas com o detergente, as superfícies foram enxaguadas em água corrente e então secas por meio de um secador (ar quente e seco soprado contra a superfície limpa) Verificação da limpeza das superfícies: Teste da gota de água Teste do talco Método de limpeza com detergente mostrou-se eficaz 23 Efeito da força normal Resultados experimentais Variação da área de contato Menor E – maior a área de contato Maior dureza – menor área de contato Correlação esperada Correlação inversamente proporcional Propriedade não considerada Taxa de aumento da área Maior módulo de elasticidade Maior dureza 24 Efeito da força normal Resultados experimentais Variação da área de contato vs Carregamento Estanque (D) E = 2,64 MPa / Tan δ = 0,277 Dureza = 44 Shore A 12.00 10.00 Área de contato [mm2] Lateral (C) E = 5,42 MPa / Tan δ = 0,111 Dureza = 57 Shore A 8.00 Rodagem (B) E = 5,77 MPa / Tan δ = 0,158 Dureza = 68 Shore A 6.00 4.00 Enchimento (A) E = 16,8 MPa / Tan δ = 0,132 Dureza = 87 Shore A 2.00 A B C D 0.00 15 30 45 60 75 90 105 120 Carregamento [g] 135 150 165 180 195 25 Efeito da força normal Resultados experimentais Comparação com resultados de JKR (1971) Diâmetro Contato vs. Carregamento - Semiesfera A (E = 16,8 MPa / Dureza = 87 Shore A) Diâmetro de Contato [mm] 5.00 A altos carregamentos – Hertz A baixos carregamentos – JKR Maior E – menor a influência das forças de adesão 5.00 A Hertz JKR Diâmetro Contato vs. Carregamento - Semiesfera D (E = 2,64 MPa / Dureza = 44 Shore A) Diâmetro de Contato [mm] D Hertz JKR 0.50 0.50 10 Carregamento [g] 100 10 Carregamento [g] 100 26 Adesão Resultados experimentais Energia de separação (γ) Semiesferas Massa para separação [g] E Dureza Tan δ Energia de separação (γ) MPa Shore A - mJ/m2 Enchimento A -0,5 16,8 87 0,132 115 Rodagem B -3,5 5,77 68 0,158 555 Lateral C -6,5 5,42 57 0,111 947 Estanque D -179,0 2,64 44 0,277 25.490 Fatores que influenciam a energia de separação Energia livre de superfície Vidro ≈ 28 mJ/m2 Borracha ≈ 40 mJ/m2 Energia eletrostática Forças de Van der Waals Forças viscosas 3 P R 2 27 Efeito do tempo Resultados experimentais Variação da área de contato Semiesferas Carregamento Variação de área [%] Descarregamento Variação de área [%] Tan δ Enchimento A 10 16 0,132 Rodagem B 20 18 0,158 Lateral C 8 8 0,111 Estanque D 23 11 0,277 Maior Tan δ – maior o tempo até equilíbrio Variação proporcional a Tan δ no carregamento Mais fatores influenciam a área em função do tempo 28 Efeito do tempo Resultados experimentais Variação da área de contato vs Tempo de exposição 9 8 E = 2,64 MPa / Tan δ = 0,277 Dureza = 44 Shore A 7 Estanque (D) Área de contato [mm] 6 5 E = 5,42 MPa / Tan δ = 0,111 Dureza = 57 Shore A 4 Lateral (C) E = 5,77 MPa / Tan δ = 0,158 Dureza = 68 Shore A 3 Rodagem (B) 2 E = 16,8 MPa / Tan δ = 0,132 Dureza = 87 Shore A 1 Enchimento (A) 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Tempo de contato [min] 22 24 26 28 30 32 34 29 Conclusões A formulação de JKR (1971) é válida para o contato estático de hemiesferas de borracha contra uma superfície de vidro. A dureza das hemiesferas de borracha é proporcional à variação de área de contato. A baixos carregamentos, as forças de adesão representam grande parcela da variação da área de contato. A energia de separação (γ), estimada a partir da formulação de JKR (1971), depende de 6 fatores principais: Força normal aplicada, tempo de exposição ao carregamento, energia de superfície, energia eletrostática, forças de Van der Waals e forças viscosas. A variação da área de contato em função do tempo de exposição mostrou ter grande representatividade para materiais viscoelásticos. 30 Referências Bibliográficas ADAMSON, A. W. - Physical chemistry of surfaces, Londres: Interscience, 1967. 317 p. ALNER, D. J. (Editor). Aspects of adhesion. Londres: University of London Press, 1971. Volume 6, 149 p. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM D 1566:2009: Terminologia de borrachas. 2009. ANDERSON, A. E. et al. Friction, Lubrication and Wear Technology. ASM HANDBOOK. Volume 18. 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