REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS DA REDE ESTADUAL DE SÃO PAULO SOBRE ESCOLA Marcos Antonio Lucci Maria Aparecida A.B. de Sousa Ana Maria P Siqueira Andréa S. Wuo Angela Maria Infante Orientadora:Profª Dra. Maria Laura P. B. Franco Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP INTRODUÇÃO Este trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla que objetiva identificar as Representações Sociais de professores, alunos, equipe gestora e supervisores de uma diretoria regional de ensino situada no extremo leste de São Paulo, sobre processos educativos e avaliação educacional. A avaliação educacional no atual contexto brasileiro vive um momento de influência da globalização, estando sujeita a permanentes inovações para oferecer produtos e serviços segundo as reais necessidades brasileiras. O processo de avaliação não se restringe à educação formal, mas deve se direcionar para atender às inovações tecnológicas, às novas formas de organização do trabalho, exigindo dos sistemas de educação e formação profissional a criação de novas políticas educacionais. Vianna (1997) em sua tese de doutorado nos dá várias indicações dessa transformação no âmbito da avaliação educacional: "A transformação técnico-científica, iniciada nos tempos modernos e ativada a partir da primeira década do século XX, sofreu um processo de aceleração que provocou o rápido envelhecimento dos currículos e programas, que se transformaram em obsolescências incompatíveis com a vida moderna, o que refletiu, naturalmente, nas práticas de ensino e nos materiais pedagógicos, que se tornaram inúteis para um ensino de qualidade e uma orientação pedagógica eficiente. A avaliação vai ter um papel importante na critica para a transformação da escola..." (p.7) 1107 Quando se fala em globalização, não podemos esquecer da influência das agências financiadoras, diz Vianna (1997): "As grandes agências financiadoras nacionais e internacionais são em parte responsáveis pelo desenvolvimento que a avaliação vem tendo, assim como o desenvolvimento de cursos..... Os altos investimentos financeiros exigem, necessariamente, um projeto de avaliação que demonstre os resultados em termos de custo-benefício, apesar de muitas vezes essa demanda refletir uma concepção econometrista de educação, sem considerar o componente humanista..."(p.8) A avaliação é uma maneira de autoconhecimento da própria sociedade, mediante a identificação do que prevalece em uma de suas principais instituições – a escola. A avaliação não se constitui num conjunto de técnicas para o levantamento de informações sobre diferentes sujeitos, mas um momento permanente de reflexão sobre os problemas educacionais. Conforme nos aponta Franco, a avaliação externa no Brasil vem sendo encomendada a pesquisadores e instituições, por parte de órgãos oficiais, projetos e programas de avaliação, visando cumprir as exigências de acordos internacionais. Por outro lado, Franco (2003) ainda ressalta que a avaliação busca suscitar interesses, tentando gerar atitudes positivas, prestando grandes serviços à sociedade, em particular, em relação a questões importantes para a escola, seu currículo, seus programas, seus professores e, acima de tudo, seus alunos, colaborando assim, para a promoção da qualidade do ensino. O estudo das representações sociais nesta pesquisa deve-se à necessidade de identificar como o homem compreende a realidade que o cerca, isto é, como ele a apreende, como dela se apropria e como a explica ou, pelo menos, tenta explicá-la. A teoria das Representações Sociais tem suscitado estudos teóricos e empíricos, como, por exemplo, os trabalhos de Guareschi e Joffe (1999); Castro; Sato; Guareschi e Arruda (1999), que têm como objetivo analisar o processo de apropriação do mundo pelo homem. Como mediadora da relação homem-mundo, a representação social é elaborada e re-elaborada nas relações estabelecidas no 1108 meio social e se manifesta no psiquismo individual, via linguagem gestual, oral ou escrita. Neste sentido, temos que “a representação social consiste num processo (...) em que o indivíduo assimila e também constrói a realidade. Ela, a representação, é um corpo de conhecimento organizado, uma atividade psíquica pela qual é possível ler e dominar a realidade produzida coletivamente. Ou seja, é um processo compartilhado pelos indivíduos em suas múltiplas interações, as quais os integram numa rede de relações que dá sentido aos seus comportamentos”. (Lucci, 2000:3) Tomar as Representações Sociais como aporte teórico implica adotar um quadro teórico-metodológico que, como nos diz Franco (2003) “representa um avanço, uma vez que significa efetuar um corte epistemológico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e já desgastados paradigmas das Ciências Psico-Sociais” (p.1). Ainda, segundo essa mesma autora, adotar este aporte teórico pode ser considerado como um ingrediente indispensável para a compreensão dos fenômenos sociais, entre eles a avaliação educacional: "Apesar de sua importância, o estudo das representações sociais não tem sido suficientemente explorado pela maioria dos educadores e nem mesmo pelos teóricos da psicologia tradicional, sob a falsa alegação de que "entre o que se diz " e "o que se faz" existe um abismo intransponível. Quando se fala em representações sociais, parte-se de outras premissas: a de que elas são elaborações mentais construídas socialmente, considerando a dinâmica que se estabelece entre a atividade psíquica do sujeito e o objeto do conhecimento. Relação que se dá na prática social e histórica da humanidade e que se generaliza pela linguagem. O objeto pensado e falado é, portanto, fruto da atividade humana, ou seja, uma réplica interiorizada da ação. Com base em Leontiev (1978), consideramos que as representações sociais são comportamentos em miniatura que apresentam um caráter preditivo, ou seja, permitem a partir do que o indivíduo diz, inferir suas concepções de mundo, e também, deduzir sua orientação para a ação. Daí a importância de se conhecer os sujeitos não somente pelas suas condições de subsistência ou de sua situação ocupacional. É preciso ampliar esse conhecimento pela compreensão de que são seres históricos, inseridos em uma determinada realidade familiar, com expectativas diferenciadas, dificuldades variadas e distintas níveis de apreensão crítica da realidade."(FRANCO, 2001, p. 172173) METODOLOGIA Em função do nosso objeto de pesquisa, optamos por fazer uso da metodologia do estudo de caso, por se constituir numa modalidade de pesquisa que assegura uma grande representatividade ao fenômeno investigado. Essa modalidade de pesquisa permite ao pesquisador investigar o problema em sua complexidade, como uma unidade dinâmica, levando-se em conta todas as 1109 suas inter-relações com o contexto, facilitando assim, desvelar os conflitos e contradições presentes nas situações dos atores sociais nele envolvidos. Esse tipo de pesquisa, permite ainda, uma ampla interação entre sujeito e objeto, possibilitando ao pesquisador entender, mediante as diferentes formas de comunicação e comportamentos, os sentidos e significados construídos e expressos pelo grupo investigado, por meio de suas atitudes, valores e crenças, ou seja, maneiras de ver e interpretar a realidade e o mundo. Nas palavras de Franco (2002), No estudo de caso, o pesquisador não parte de esquemas rígidos e concebidos unicamente a priori. Embora inicie seu trabalho baseando-se em indispensáveis pressupostos teóricos (já incorporados), durante a realização da pesquisa, deve estar atento para poder aproveitar e aprofundar as novas categorias que, com certeza, vão emergir a partir da interação concreta entre o investigador e o objeto que está sendo investigado. Daí a necessidade da utilização de fontes de informações diversificadas: dados secundários, documentos, professores, diretores, alunos, egressos, e assim por diante. Diferentes interpretações que diferentes indivíduos ou grupos desenvolvem acerca de uma mesma situação, é o que permite recuperar a dinâmica da situação estudada. Dinâmica que se expressa no processo vivenciado pelos indivíduos envolvidos e no relato das representações e interpretações dos informantes. Representações e interpretações que, por sua vez, serão reinterpretadas e reelaboradas pelo pesquisador e, posteriormente, pelo leitor." (p. 8) Tendo em vista estas características poder-se-ía indagar: como se coloca o problema da representatividade nos estudos de caso? Para responder a esta questão é necessário discuti-la em dois níveis de análise. Em um primeiro nível, é preciso considerar que a generalização, aqui tratada como processo de interação subjetivada, passa a ter significado, no nível individual, quando o pesquisador reconhece semelhanças, diferenças, ou aspectos típicos, na medida em que se percebe a equivalência (ou não) deste caso particular com outros casos ou situações por ele vivenciadas, na prática social. O estudo de caso supõe que o investigador vá buscar esse conhecimento para fazer as generalizações possíveis em determinado contexto e desenvolver novos significados, novos sentidos e novas compreensões a partir de um único caso. Nesse sentido, nos estudos de caso as condições, processos e efeitos que desvelam as condições objetivas da existência social, a qual diferenciam as pessoas 1110 entre si, com base em suas particulares condições de sobrevivência e atuação, ao mesmo tempo as homogeneiza na condição de seres históricos. Seres históricos aqui entendidos como produtores dessa mesma realidade que se concretiza na prática social, via pensamento, linguagem e ação e que se deixa impulsionar por necessidades biopsicossociológicas, que se orienta a um fim determinado e que se expressa no conjunto, socialmente elaborado das opiniões, das atitudes, das representações sociais e das ações. Procedimentos Metodológicos A população da presente pesquisa é composta de alunos, professores e gestores (diretores, vice-diretores e coordenadores pedagógicos) de escolas públicas da rede estadual de Ensino Médio, pertencentes às Diretorias de Ensino: Leste 3 da cidade de São Paulo e da Diretoria Regional de Taubaté, respectivamente jurisdicionadas à Coordenadoria de Ensino da Grande São Paulo e à Coordenadoria de Ensino do Interior. A escolha de duas regiões distintas foi decidida para estabelecer comparações acerca das representações sociais sobre avaliação. No caso de São Paulo, a escolha foi fruto de uma reunião que o grupo de pesquisadores teve na Fundação Carlos Chagas com uma responsável do setor de estatística. Dentre as cinco diretorias de ensino que compõem a zona leste foi decidido, por meio de sorteio, a definição pela diretoria leste 3. A princípio o grupo tinha por meta investigar a problemática junto às escolas da rede pública pertencentes ao bairro de origem dos pesquisadores, independente de serem escolas do Estado ou do Município. Ponderando-se que, já que haveria uma região específica no Interior, o mesmo deveria ocorrer na capital. De imediato pensou-se na região Oeste. Como a maioria das pesquisas da PUC/SP ocorrem nessa região, decidiu-se então pela Zona Leste. 1111 Como critério de escolha optou-se pela classificação vigente em 2000, atribuída pela Secretaria de Educação às escolas segundo o seu desempenho no SARESP. Ou seja, serão escolhidas escolas classificadas como: Azul, Verde, Amarela, Laranja e Vermelha. Nesta classificação por cores, as escolas que se encontravam nos níveis Azul e Verde eram consideradas detentoras de desempenho ótimo e bom, respectivamente. As de níveis Amarelo e Laranja, satisfatório e regular e, as de nível Vermelho, insatisfatório. O processo de escolha foi feito por sorteio. Na região de Taubaté, o grupo escolheu na Diretoria de Ensino um número semelhante de escolas seguindo o mesmo critério de São Paulo. O grupo de São Paulo, de posse da relação de escolas, se dividiu em duplas e escolheu um conjunto de escolas segundo a sua classificação por cor. Cada dupla, por sua vez, decidiu por duas escolas, totalizando, dessa forma, oito escolas. Após a escolha das escolas pelas duplas, foi marcada uma reunião com a dirigente de ensino da Leste 3 e os diretores das escolas escolhidas para explicar-lhes a pesquisa e estabelecer o cronograma de visitas. Em Taubaté, após a definição das escolas a serem pesquisadas, foi estabelecido um contato direto com os diretores das unidades escolares, com prévia autorização da dirigente regional. Foram elaborados três instrumentos de coleta de dados: roteiro de entrevista para a equipe gestora, questionário para os professores e questionários para os alunos, ambos contendo questões abertas e fechadas. Em todas as escolas foi realizada uma análise do seu contexto, para possibilitar a compreensão do contexto de inserção das Representações Sociais. 1112 Os dados provenientes das questões "fechadas", ou seja, de caracterização/contextualização dos sujeitos e todas as informações que puderam ser quantificadas foram tabulados, codificados e serão apresentados em termos proporcionais. As respostas provenientes das questões "abertas", que possibilitaram a investigação das representações sociais, objeto deste projeto, foram submetidas a uma consistente Análise de Conteúdo das mensagens emitidas para identificar seus significados e sentidos, compreendidos segundo Franco (2003a, p.15), como: O significado de um objeto pode ser absorvido, compreendido e generalizado a partir de suas características definidoras e pelo seu corpus de significação. Já, o sentido implica a atribuição de um significado pessoal e objetivado, que se concretiza na prática social e que se manifesta a partir das Representações Sociais, cognitivas, valorativas e emocionais, necessariamente contextualizadas. Vale considerar, porém, que em ambos os casos, não trabalhamos com informações estanques ou fragmentadas. Ao contrário, sempre que possível, as respostas e seus respectivos indicadores, foram analisados e, principalmente interpretados a partir de uma visão de conjunto para que as relevâncias teórica e contextual das informações pudessem ser preservadas. RESULTADOS: AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS ALUNOS SOBRE ESCOLA Os dados obtidos foram tabulados a partir de questionários aplicados em 311 alunos do Ensino Médio de escolas da rede paulista. Para facilitar o processo de análise, os resultados foram divididos em dois blocos: caracterização dos alunos e interpretação dos dados relacionados com as concepções de escola e avaliação educacional. Caracterização dos alunos Do total de alunos pesquisados, o sexo feminino representa a maior parte (57%), pois a cultura escolar ainda favorece sua permanência na educação básica, o que nos leva a refletir que mesmo sabendo da importância dos estudos para o futuro, os meninos evadem-se por ingressarem mais cedo no mercado de trabalho e, também, por serem mais vulneráveis a todo tipo de violência (drogas, crimes, etc.). 1113 Na distribuição dos alunos por períodos, evidencia-se que 47% frequentam o período diurno e 53%, o noturno. A concentração de alunos na faixa etária de 15 a 17 anos, 78% do total, é devido à implementação de políticas públicas que permitiram atender as exigências legais quanto à defasagem idade/série dos alunos ao longo desses anos. Dentre elas, a mais significativa refere-se à alteração de 15 para 16 anos como idade mínima para cursar o Ensino Médio regular noturno. Destes, 63% estão inseridos na faixa etária de 15 e 17 anos, 28% de 18 a 20 anos, 9% tem mais de 20 anos. A baixa incidência de alunos do ensino médio com mais 18 anos no ensino médio regular, pode estar relacionada com o aumento de procura pela modalidade de ensino para jovens e adultos (EJA) nos últimos anos. Esta modalidade de ensino permite aos jovens que se encontram em defasagem série/idade recuperarem o tempo perdido. Novamente observamos que as mudanças na regulamentação desta modalidade, principalmente em relação à idade (de 21 para 18 anos) favorecem a continuidade dos estudos. Com relação ao trabalho, 48% dos sujeitos só estudam, 31% estão procurando emprego, 16% trabalham e 5% estão desempregados. Podemos relacionar estes índices com a faixa etária (15 a 17 anos) em que encontramos maior concentração de alunos. Para este público, o mercado de trabalho formal fica restrito em função da falta de experiência, por ainda estarem cursando o Ensino Médio, e no caso dos meninos estarem em fase de alistamento militar obrigatório. Estes fatores os obrigam a procurar colocação no mercado informal, o que ficou constatado nesta pesquisa por meio das respostas dos que trabalham. Dentre os que trabalham, 44,90% prestam serviços (ajudante geral, manicure, empregada doméstica, motorista, pintor, eletricista), 32,65% encontram-se em 1114 atividades ligadas ao comércio (balconista, caixa, vendedor/a), 2,04% trabalham na construção civil, como pedreiros, 8,16% na área da indústria (metalurgia) e 4,08% desempenham outra funções, como estagiários. A maior parte dos alunos mora com a própria família (91% dos casos), 5% com parentes e 1% sozinho, 3% não responderam. Do total de sujeitos pesquisados, não querem fazer faculdade, 18,61%, 78,13% afirmaram que pretendem fazer faculdade, e 2,25% não responderam à pergunta. As áreas de maior representatividade são: Humanas (42,95%), com os cursos de Direito e Administração; Biológicas, 39,10%, com os cursos de Medicina e Enfermagem; e na área de Ciências Exatas, com os cursos de computação ou computação gráfica e engenharia. Os cursos profissionalizantes aparecem em 4% das respostas sendo distribuídos em: magistério, academia de polícia e outros. Nota-se que o desejo de 71% dos alunos cursarem faculdade, sobretudo as que exigem dedicação de tempo integral (medicina, engenharia, psicologia) pode estar relacionado à esperança de um futuro melhor, e de uma ascensão social tão distante da sua realidade. Na área de exatas, o número de interessados em fazer cursos ligados a computação aproxima-se dos que tem interesse em cursar Engenharia, em função da globalização e o mercado de trabalho exigir cada vez mais que os sujeitos dominem a linguagem da informática. Na área de Humanas, observa-se o crescente interesse pelos cursos de Hotelaria e Turismo que surgem como um incentivo para os profissionais do futuro, em decorrência da mídia que destaca o país como potencial turístico e como fonte de geração de recursos. 1115 Os motivos apresentados para não cursarem o ensino superior estão vinculados basicamente às questões financeiras, e também a descrença no Ensino Superior como garantia de colocação no mercado de trabalho. Concepções dos alunos sobre escola A partir da análise do nível de escolaridade e ocupação dos pais, procuramos estabelecer a relação entre esses dados e as concepções sobre escola que os alunos pesquisados formularam. A maior concentração de pais está no Ensino Fundamental incompleto (40,61% pais e 41,10% mães), os demais encontram-se no mesmo nível de escolaridade de seus filhos - Ensino Médio incompleto (8,30% pais e 7,63% mães) ou acima - ensino médio completo (9,61% pais e 8,05% mães), curso superior incompleto (1,75% pais e 2,97% mães) ou completo (3,49 pais e 2,97% mães). Essa baixa escolaridade observada explica a inserção no mercado de trabalho que não exige qualificação técnica para a maioria das ocupações (tabela 2). Constata-se que a maior incidência tanto dos pais quanto das mães concentra-se em atividades de prestação de serviços. No que se refere à qualidade de prestação de serviços dos pais constatamos as seguintes funções : • pais (43.48%): motoristas, taxistas, faxineiros e copeiros • mães (34,91%): doméstica, faxineira, auxiliar de limpeza, etc. Observa-se que apenas 6,55% das mães e 6,32% dos pais desempenham funções que exigem qualificações técnicas, como auxiliar de enfermagem, professor, secretaria(o). Nota-se, em ambos os casos, uma porcentagem significativa de desempregados, totalizando 10,55% das mães, e 14,23% dos pais. Convém 1116 ressaltarmos que no caso das mães 34,18% não trabalham, enquanto que apenas 6,72% dos pais se encontram nesta condição. Das respostas coletadas, 6,32% não sabiam a ocupação do pais, e 3,64%, das mães, o que pode nos indicar que, em alguns casos, os sujeitos vivem apenas com um dos pais ou com nenhum deles. A partir desses dados podemos estabelecer uma relação entre baixa escolaridade e ocupação dos pais e as concepções expressas pelos alunos em relação à escola. Observa-se na tabela 3 que, apesar de 38,84% conceberem a escola como local de aprendizagem e socialização, é importante observarmos que muito próximo a eles, 34,30% depositam na escola um valor fundamental para a vida futura, considerando-a como: • • • • • “construção de uma vida” “o caminho para o novo mundo” “estudo para um futuro melhor” “é para termos um futuro amanhã” “meu segundo lar” Poucas são as falas que concebem a escola como local insuficiente, que "precisa de melhoras", um "lugar chato", totalizando um índice de 4,96%. Nota-se ainda que apenas 8,68% das mensagens explicitadas atribuem à escola a idéia de obrigação, de "dever estudar". Vemos aqui que, estas mensagens mostram-se pouco representativas se comparadas com aquelas que consideram a escola um local sagrado/ esperança ou um local de aprendizado. Podemos talvez atribuir a alta representatividade destas duas categorias às próprias condições sócio-econômicas em que os sujeitos se encontram, pois a baixa escolaridade dos pais e conseqüente baixa qualificação para o mercado de trabalho, os levam a buscar na escola o conhecimento que acreditam necessitar em busca de "um futuro brilhante", ou, em outras palavras, o instrumento de superação da realidade em que estão inseridos. Vemos assim que a escola, para muitos, é vista com a porta de entrada, a escada para se subir para um mundo que ofereça aos alunos condições mais dignas de 1117 sobrevivência que ultrapassam a situação em que seus pais e eles próprios se encontram hoje. A avaliação, processo educativo básico, será vista por alguns, como o instrumento que lhes dará oportunidade para esta "escalada". Referências bibliográficas ARRUDA, Angela. Ecologia e desenvolvimento: representações de especialistas em formação. In SPINK, M. J. (org). 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