Sim, é verdade que os
enfermeiros existem!
José Ferreira
Enfermeiro
Afirmo que existem.
Fomos visíveis e presentes no ato eleitoral,
do dia 12 de dezembro sem referir vitória
individual mas sim vitória colectiva da
ENFERMAGEM. Porque os enfermeiros se
mobilizaram elaborando programas e apresentados as suas candidaturas aos órgãos da
Ordem dos Enfermeiros (OE), num total
de quatro candidatos a Bastonário e sete
listas às Secções Regionais, é de salutar.
Apraz-me dizer que a enfermagem não está
moribunda. Esquecida? Talvez!
Durante o período da idealização à conceção e consequente divulgação dos programas de ação das várias listas concorrentes,
notei uma certa desmotivação para com a
OE. Porquê? Arrisco-me dizer, ser devido
a um problema já com alguma idade: o
poder político que nada tem feito para nos
valorizar pelo mérito que nos é devido.
De facto, somos profissionais com conhecimento técnico e científico confirmado,
certificados e licenciados. Mas em termos
remuneratórios não há coragem para nos
gratificarem como tal. Daí um dos motivos
da desmotivação. Insisto. Somos tão bem
formados como em outros países, nomeadamente Inglaterra, Suíça, França, que nos
aliciam com propostas de trabalho difíceis
de recusar, com a vantagem de ficarem
com profissionais cuja formação lhes custou zero. E o que faz o poder politico para
travar tais propostas? Nada! Ao contrário
da ideia preconcebida de que o que vem
de fora é que é bom, aqui há, a meu ver,
um paradoxo: o que vai para fora é que
tem valor.
Sim é verdade que os enfermeiros existem!
Enraizada na nossa cultura coletiva, persiste
a ideia do enfermeiro ser aquele que assiste
o médico. Porque é errado, digo somos
profissão autónoma e garante do funcionamento das instituições prestando cuidados
diretos ao utente, assegurando a qualidade
e a continuidade dos cuidados de saúde
adequados a cada pessoa.
14 • Enfermagem e o Cidadão • SRCOE
Urge passar esta mensagem para a sociedade e, para isso, teremos de parar de falar
exclusivamente para dentro de nós próprios.
Pensa-se, erradamente, que o enfermeiro é o
“fim da linha” no processo de cuidar. Mas,
antes pelo contrário, é o início: quem recebe
e acolhe. Senão vejamos: em quase todos os
serviços das instituições de saúde o primeiro
contacto com o utente é estabelecido através
do enfermeiro. Um de muitos exemplos que
me ocorre é o caso da triagem no serviço
de urgência, pelo que se o enfermeiro não
estivesse capacitado profissionalmente, o
processo de cuidar morreria mesmo antes de
nascer! Participamos no processo de desenvolvimento do SER HUMANO ao longo
de toda a sua vida.
No seu exercício profissional o enfermeiro
avalia e é responsável pelos cuidados que
planeia, executa e delega, assegurando a
sua qualidade e a segurança para o utente.
Para além disto, os utentes podem contar
connosco como interlocutores e descodificadores da linguagem de outros profissionais da equipa.
Nesta linha de pensamento, gostaria de
referir uma conversa, num contexto de
discussão informal, não só dirigida a mim
mas a todos os enfermeiros, onde alguém
dizia,”…os enfermeiros esses vaidosos e mal formados agora até
querem prescrever…!”
Como enfermeiro senti necessidade de elucidar dizendo-lhe: “... amigo, é com
todo o gosto e prazer
que esses seres de que
fala, vaidosos e mal formados, ouvem os doentes queixarem-se não
importa de quê, não
importa a que hora da
madrugada, ouvindo-os,
não como sendo uma obrigação,
muito menos por compaixão mas
sim com o prazer e responsabilidade de saber que estamos lá
para tudo o que ele necessite.”
...a enfermagem
não está
moribunda.
Esquecida?
Talvez!
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EnfERMEIROs ExIsTEM! - Ordem dos Enfermeiros