ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA-USP Engenharia Bioquímica Débora Xavier Dias IMPACTO AMBIENTAL E MÉTODOS DE TRATAMENTO DE MICROPOLUENTES PARA A MINIMIZAÇÃO DE EFEITOS NOCIVOS AO ECOSSISTEMA Lorena-SP 2012 Débora Xavier Dias IMPACTO AMBIENTAL E MÉTODOS DE TRATAMENTO DE MICROPOLUENTES PARA A MINIMIZAÇÃO DE EFEITOS NOCIVOS AO ECOSSISTEMA Monografia apresentada junto ao Curso de Engenharia Bioquímica pela Escola de Engenharia de Lorena-USP, como requisito parcial à obtenção do título de Engenheira Bioquímica. Orientador: Prof. Teixeira da Silva Lorena-SP 2012 Dr. Flávio AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Biblioteca BLSTL Escola de Engenharia de Lorena Dias, Débora Xavier Impacto ambiental e métodos de tratamento de micropoluentes para a minimização de efeitos nocivos ao ecossistema / Débora Xavier Dias. Lorena, 2012. 46 p. Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão de Graduação do Curso de Engenharia Bioquímica - Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo. Orientador: Flávio Teixeira da Silva 1. Micropoluentes. 2. Impacto ambiental 3. Tratamento de efluentes. I.Título. II. Silva, Flávio Teixeira da, orient. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Flávio Teixeira da Silva pela disponibilidade e orientação. À minha família por toda a dedicação e suporte incondicional. Aos meus amigos e namorado que sempre me ajudaram. Por todos que de alguma forma contribuíram para a realização da monografia. RESUMO A ocorrência de micropoluentes em água (poluentes presentes em concentrações de mg L-1 e ng L-1) tem despertado o interesse de muitos pesquisadores, pois apesar das suas concentrações serem vestigiais, os efeitos na saúde humana e no ambiente ainda não estão comprovados e dessa forma torna-se necessário avaliá-los a longo prazo. As classes mais investigadas são os fármacos, desreguladores endócrinos e os produtos de cuidados pessoais. A detecção dessas substâncias em efluentes de estações de tratamento de esgoto (ETE) e em águas superficiais e de abastecimento é um forte indício da ineficiência dos tratamento empregados.O objetivo desse trabalho foi obter informações importantes sobre o impacto ambiental geral causado pela exposição de tais substâncias ao ecossistema e avaliar a viabilidade de tratamentos que sejam eficazes à minimização dos efeitos nocivos. Palavras chave: micropoluentes, impacto ambiental, tratamento de efluentes ABSTRACT The occurrence of organic micropollutants in water (concentrations of pollutants in mg L-1 and ng L-1) has attracted the interest of many researchers because despite it being trace concentrations, the effects on human health and on the environment are not yet proven and thus it is necessary to evaluate them in the long term. The most investigated classes are thedrugs, the endocrine disruptors and the personal care products. Detection of these substances in effluents from sewage treatment plants and surface water supply is a strong indication of the inefficiency of those treatments. The purpose of this study was to obtain important information about the overall environmental impact caused by exposure of such substances to the ecosystem and to evaluate the feasibility of treatments that are effective to minimize the harmful effects. Keywords: micropollutant, environmental impact, effluent treatment. SUMÁRIO 1.0 INTRODUÇÃO........................................................................................................1 2.0 INDICADORES DE PRESENÇA DE MICROPOLUENTES..................................3 2.1 Fármacos...............................................................................................................4 2.1.1 Rotas de contaminação e quantidades detectadas de micropoluentes por diferentes autores......................................................................................................4 2.1.2 Impacto ambiental de fármacos.....................................................................10 2.2 Desreguladores endócrinos..............................................................................10 2.2.1 Definição..........................................................................................................10 2.2.1.1Estrogênios....................................................................................................11 2.2.2 Mecanismos de atuação.................................................................................13 2.2.3 Ocorrência dos desreguladores endócrinos................................................15 2.2.4 Principais impactos de desreguladores endócrinos no ambiente e em seres vivos................................................................................................................18 3.0 MÉTODOS DE TRATAMENTO PARA MITIGAÇÃO DOS MICROPOLUENTES..................................................................................................21 3.1 Processos oxidativos avançados.....................................................................22 3.1.1 Fotólise de peróxido de hidrogênio...............................................................23 3.1.2 Ozonização.......................................................................................................23 3.1.3 Fotocatálise heterogênea...............................................................................23 3.1.4 Processo de Fenton........................................................................................24 3.1.5 Processo Foto-Fenton....................................................................................24 3.2 Carvão Ativado...................................................................................................28 3.3 Processos de Separação por Membranas.......................................................31 3.4 Osmose Inversa..................................................................................................32 3.5 Ultrafiltração.......................................................................................................32 3.6 Nanofiltração ......................................................................................................32 3.7 Processos combinados......................................................................................33 4.0 CONCLUSÕES....................................................................................................35 REFERÊNCIAS .........................................................................................................36 1.0 INTRODUÇÃO O aumento populacional e o crescimento industrial provocaram a expansão da contaminação atmosférica, do solo e dos recursos hídricos em todo o planeta. Dessa forma, a preocupação com a qualidade desses recursos tem aumentado expressivamente e tem sido alvo de estudos desenvolvidos pela comunidade científica. Na década de 70, os estudos indicaram a presença de fármacos no ambiente. Foi detectada a presença de ácido clofíbrico, metabólito dos antilipêmicos clofibrato e etofibrato, na faixa de concentração de μg L -1, em efluentes de estações de tratamento de esgoto (ETE) nos Estados Unidos (GARRISON et al.,1976). Desde então, diversos estudos foram realizados e revelaram a presença de micropoluentes em várias partes do mundo. As classes de substâncias que tem sido investigadas devido aos possíveis efeitos nocivos no ecossistema incluem os fármacos, os desreguladores endócrinos e os produtos de cuidados pessoais (PCPs) (RODRIGUES; ARAÚJO et al., 2007). O impacto gerado estão relacionados às propriedades de cada substância. Por exemplo, os desreguladores endócrinos são suspeitos de causarem efeitos adversos no sistema reprodutivo humano e animal. Já, no caso dos fármacos, o efeito mais discutido é o desenvolvimento da resistência bacteriana aos antibióticos (BILA, 2005). Os PCPs são substâncias químicas que podem ser tóxicas, e sua resistência à biodegradação favorece a acumulação no meio ambiente, e assim, são responsáveis por fenômenos como a biomagnificação na cadeia alimentar. (RODRIGUES; ARAÚJO et al., 2007). Tais substâncias, em alguns casos se relacionam entre si. Por exemplo, o 17etinilestradiol e o DES (dietilestilbestrol) são substâncias farmacêuticas, e também são classificadas como desreguladores endócrinos, pois causam efeitos adversos no sistema endócrino. Os principais questionamentos quanto a exposição de humanos e animais à esses compostos são: 1) se essas substâncias podem produzir efeitos tóxicos em baixas concentrações; 2) quais substâncias estão associadas aos efeitos tóxicos em baixas concentrações; 3) se essas substâncias estão presentes em concentrações ambientalmente relevantes que possam ser uma ameaça à saúde de animais e 1 humanos; 4) se existe uma concentração limiar abaixo da qual as substâncias químicas podem ser consideradas como seguras; 5) se os novos tipos de ensaios, usados para prever os efeitos causados em organismos expostos, podem realmente fornecer ferramentas para o entendimento do mecanismo de ação dos desreguladores endócrinos; e 6) se esses ensaios podem ser facilmente usados em larga escala para monitorar os efeitos no meio ambiente. (BILA, 2005) Sabe-se que o principal responsável pela presença desse tipo de contaminante em águas superficiais é o lançamento de esgoto in natura, visto que em muitas localidades há um grande déficit de infra-estrutura em saneamento. Para que haja uma melhor caracterização desses compostos e uma possibilidade de tratamento, a comunidade científica tem intensificado a pesquisa com o intuito de obter melhores técnicas de identificação de compostos e o posterior processo de remoção. Nesse trabalho são apresentados, de forma resumida, a presença de micropoluentes encontrados em alguns estudos realizados com água em diferentes lugares do planeta, os impactos causados por esses compostos e os possíveis tratamentos que visam reduzir significativamente essas substâncias. 2 2.0 INDICADORES DE PRESENÇA DE MICROPOLUENTES A contaminação de rios, lagos, lençóis freáticos e mares é objeto de estudos ambientais desde o início do século XX. Vários autores relatam em diversos países, inclusive no Brasil, a ocorrência de diferentes grupos de micropoluentes em corpos hídricos (LEITE; AFONSO et al., 2010). Na tabela 1 é mostrada a relação grupo/classe para vários micropoluentes, seguida de uma breve discussão dos usos e do impacto ambiental causado por esses tipos de compostos. Tabela 1- Relação grupo/classe de micropoluentes (fármacos, desreguladores endócrinos e Produtos de cuidado pessoal). 3 2.1 Fármacos Os fármacos são empregados com um propósito terapêutico, seja na prevenção, diagnóstico ou tratamento de doenças. Após atuarem no organismo, podem ser excretados como metabólitos, hidrolisados, ou na forma original. A taxa de excreção da forma inalterada depende do fármaco, da dose e do indivíduo. De modo geral, 40 a 90% da dose administrada é excretada em sua forma original. De acordo com RICHARDSON et al.(1985), nas estações de tratamento há três destinos possíveis para qualquer fármaco individual, que estão relacionados as características estruturais e propriedades químicas desses compostos, como por exemplo: fotodegradabilidade, biodegradabilidade e lipodegradabilidade (BILA 2005), ou seja: 1. pode ser biodegradado, ou seja, mineralizado a gás carbônico e água, como por exemplo, o ácido acetilsalicílico; 2. pode passar por algum processo metabólico ou ser degradado parcialmente, como as penicilinas; 3. pode ser persistente como o clofibrato, que é um antilipêmicos. 2.1.1 Rotas de contaminação e quantidades detectadas de micropoluentes por diferentes autores Entre os principais caminhos de entrada de fármacos no ambiente estão: o lançamento de esgotos domésticos tratados ou não em cursos de água, efluentes de indústrias farmacêuticas, efluentes rurais e ao inadequado destino de fármacos após expiração do prazo de validade. (Figura 1) 4 Figura 1 - Exemplo dos possíveis trajetos dos fármacos no ambiente. Fonte: COSTA, DORDIO (2007) As concentrações desses diferentes fármacos determinadas a partir de diferentes fontes e por diferentes autores é apresentado na tabela 2. O composto encontrado em maior concentração foi o antiinflamatório, cetoprofeno, na ordem de 1,62 g.L-1 em efluente de ETE na França (ANDREOZZI et al., 2003b apud BILA 2005) e o de menor concentração, o Ácido Clofíbrico, na ordem de 0,01 a 18 ng.L -1 nas águas superficiais do Mar do Norte (WEIGEL et al., 2002 apud BILA 2005). 5 Tabela 2- Concentrações de fármacos detectados em diversas fontes por diferentes autores. (Adaptado de BILA 2005) Substância Classe das Substâncias Concentração da substância na amostra analisada Ácido Acetilsalicílico Analgésico 0,22 g.L-1 0,36 g.L-1 0,066 g.L-1 Maior metabólico do de 3 agentes reguladores de lipídeos Ácido Clofíbrico 1,0 g.L-1 0,02 a 0,03 g.L-1 0,049 g.L-1 0,01 – 18 ng.L-1 19,3-43,5 ng.L-1 1-9 ng.L-1 0,46g.L-1 0,23-0,68g.L-1 0,41-5,77 ng.L-1 60 ng.L-1 5 – 25 ng.L-1 Maior metabólico do de 3 agentes Ácido Fenofíbrico reguladores de lipídeos 0,38 g.L-1 0,45 g.L-1 Betaxolol -bloqueador 0,057 g.L-1 Bisoprolol -bloqueador 0,057 g.L-1 1,2 g.L-1 1,0 g.L-1 0,025 g.L-1 2,2 g.L-1 Ezafibrato Agente regulador de lipídeo 0,91g.L-1 1,07g.L-1 0,79-57,15 ng.L-1 4,8-20,4 ng.L-1 Fontes Referência Efluente de TERNES, 1998 ETE/Alemanha Efluente de ETE/Alemanha TERNES, 1998 Água superficial/Alemanha Esgoto doméstico/Brasil STUMPF et al.,1999 Água superficial/Brasil Água superficial/Canadá WINKLER et al., 2001 Água superficial/Mar do WEIGEL et al., 2002 Norte Água superficial/Áustria AHRER et al., 2001 Água superficial/ Suíça BUSER et al, 1998ª Efluente de ETE/Suécia ANDREOZZI et al., 2003c Efluente de ETE/Itália CALAMARI et al., Águas naturais/Itália 2003 Efluente de ETE/Suíça MOL et al., 2000 Água superficial/ Suíça Efluente de ETE/Alemanha TERNES, 1998 Água superficial/Alemanha Efluente de TERNES, 1998 ETE/Alemanha Efluente de TERNES, 1998 ETE/Alemanha Esgoto doméstico/Brasil STUMPF et al., 1999 Efluente de ETE/Brasil Água superficial/Brasil STUMPF et al., 1999 Efluente de TERNES, 1998 ETE/Alemanha ANDREOZZI et al., Efluente de ETE/Itália 2003b Efluente de ETE/França CALAMARI et al., Águas naturais/Itália 2003 Água superficial/Áustria AHRER et al., 2001 6 Substância Classe das Substâncias Antiepiléptico Carbamazepina Cetoprofeno Antiinflamatório Ciprofloxacina Antibiótico Clorotetraciclin a Antibiótico Diazepan Dimetilaminofe nazona Medicamento Psiquiátrico Analgésico Concentração da substância na Fontes Referência amostra analisada Efluente de ETE/França 0,98-1,2g.L-1 Efluente de ETE/Suécia 0,87g.L-1 ANDREOZZI et al., -1 2003b Efluente de ETE/Itália 0,3-0,5g.L -1 Efluente de ETE/Grécia 1,03g.L Efluente de ETE/Alemanha 2,1 g.L-1 TERNES, 1998 Água superficial/Alemanha 0,25 g.L-1 Água superficial/ Suíça 0,03-0,25 g.L-1 MOL et al., 2000 -1 Efluente de ETE/ Suíça 0,1-0,8 g.L Efluente de ETE/Alemanha TERNES, 1998 0,20 g.L-1 ANDREOZZI et al., Efluente de ETE/França 1,62g.L-1 2003b FARRÉ et al., Água superficial/Espanha 0,02-0,3 g.L-1 2001 KOLPIN et al., Água natural/EUA 0,02 g.L-1 2002 45 - 450 ng.L-1 Efluente de ETE/ Suíça GOLET et al., 2001 Efluente de ETE/Suécia 0,03g.L-1 -1 Efluente de ETE/Itália 0,04-0,07g.L ANDREOZZI et al., 2003b Efluente de ETE/Grécia 0,07g.L-1 Efluente de ETE/França 0,06g.L-1 -1 5 - 18 ng.L Água superficial/Suíça 313 - 568 ng.L-1 Esgoto doméstico/ Suíça GOLET et al., 2002 62 – 106 ng.L-1 Efluente de ETE/ Suíça KOLPIN et al., Água natural/EUA 0,42 g.L-1 2002 LINDSEY et al., Água superficial/EUA 0,15 g.L-1 2001 CALAMARI et al., 0,13-2,13 ng.L-1 Águas naturais/Itália 2003 TERNES et al., Efluente de ETE/Alemanha 0,033 g.L-1 2001ª TERNES et al., Água superficial/Alemanha 0,053 g.L-1 2001ª REDDERSEN et al., Água de subsolo/Alemanha 0,4 g.L-1 2002 7 Substância Classe das Substâncias Concentração da substância na amostra analisada 0,02 a 0,06 g.L-1 0,81 g.L-1 0,15 g.L-1 200-370 ng.L-1 <1-12ng.L-1 6,2 ng.L-1 Diclofenaco Antiinflamatório 28,3-392,1 ng.L-1 0,47-5,45g.L-1 0,89g.L-1 0,25-0,41g.L-1 0,37 – 1,3 g.L-1 Fontes Referência Água superficial/Brasil STUMPF et al., 1999 Efluente de ETE/Alemanha TERNES, 1998 Água superficial/Alemanha Efluente de ETE/ Suíça BUSER et al., 1998b Água superficial/ Suíça Água superficial/Mar WEIGEL et al., 2002 do Norte Água AHRER et al., 2001 superficial/Áustria Efluente de ETE/Itália Efluente de ETE/Grécia Efluente de ETE/França Efluente de ANDREOZZI et al., ETE/Alemanha 2003b 0,10 g.L-1 Água superficial/Alemanha 0,01 g.L-1 Águas superficiais/Brasil 0,07 g.L-1 Águas superficiais/Alemanha 0,37 g.L-1 Efluente de ETE/Alemanha 1-3,3 g.L-1 Esgoto doméstico/ Suíça 2-81 ng.L-1 Efluente de ETE/ Suíça 1,5-7,8 ng.L-1 Água superficial/ Suíça 0,087 g.L-1 Água superficial/Canadá WINKLER et al., 2001 0,87-1,5 g.L-1 FARRÉ et al., 2001 0,06 g.L-1 Efluente de ETE/Espanha Água natural/EUA KOLPIN et al., 2002 0,12 g.L-1 Água natural/EUA KOLPIN et al., 2002 STUMPF et al., 1999 TERNES, 1998 Antiinflamatório Ibuprofeno Lincomicina Norfloxacina Antibiótico BUSER et al., 1999 Antibiótico 48 - 367 ng.L-1 Efluente de ETE/ Suíça GOLET et al., 2001 8 Substância Norfloxacina Classe das Substâncias Antibiótico Concentração da substância na amostra analisada 5 – 18 ng.L-1 255 – 553 ng.L-1 36 – 76 ng.L-1 Oxitetraciclina Antibiótico Propanolol Água superficial/Suíça Esgoto doméstico/Suíça GOLET et al., 2002 Efluente de ETE/Suíça Águas naturais/Itália CALAMARI et al., 2003 0,34 g.L-1 Água natural/EUA KOLPIN et al., 2002 Antibiótico 1,8 a 5,9 ng.L-1 -bloqueador 0,01-0,04g.L-1 0,01g.L-1 0,01-0,09g.L-1 0,01g.L-1 0,17 g.L-1 0,012 g.L-1 0,12 g.L-1 0,095 – 0,18 g.L-1 Propifenazona Referência 0,19-19,20 ng.L-1 0,07-1,34 g.L-1 Penicilina Fontes Analgésico 0,043 g.L-1 1 g/L 0,68 – 1,0 g.L-1 Água superficial/EUA Água superficial/Alemanha Efluente de ETE/França Efluente de ETE/Suécia Efluente de ETE/Itália Efluente de ETE/Grécia Efluente de ETE/Alemanha Água superficial/Alemanha Esgoto doméstico/Alemanha Efluente de ETE/Alemanha Água Superficial/Alemanha Água de subsolo/Alemanha LINDSEY et al., 2001 MULROY, 2001 ANDREOZZI et al., 2003b TERNES, 1998 TERNES et al., 2001ª TERNES et al., 2001ª REDDERSEN et al., 2002 Efluente de ETE/Alemanha HIRSCH et al., 1999 Roxitrocina Sulfametoxazol Antibiótico 0,56 g.L-1 Água superficial/Alemanha 0,05 g.L-1 Água natural/EUA 0,4 g.L-1 Efluente de ETE/Alemanha Antibiótico KOLPIN et al. (2002) HIRSCH et al., 1999 0,03 g.L-1 Água superficial/Alemanha 9 2.1.2 Impacto ambiental de fármacos Os princípios ativos de medicamentos possuem estabilidade e resistência a vários fatores externos como o PH, temperatura, umidade. Essas características reforçam o fato de esses fármacos se manterem recalcitrantes no meio ambiente e como compostos biologicamente ativos. Logo, a presença desses compostos nos corpos d’água podem interferir significativamente na fisiologia, metabolismo e no comportamento das espécies que habitam os corpos hídricos. Segundo GIL e MATHIAS (2005), as alterações genéticas associadas a essas substâncias estão entre os impactos ambientais de maior relevância. Assim, agentes antimicrobianos como penicilinas, estreptomicina, furazolidonas, ou antiparasitários como Ivermectin®, podem interferir diretamente no ciclo biológico por inibição do crescimento dos organismos aquáticos. Outro agravante seria o desenvolvimento de resistência microbiológica. Estima-se que 55% de todos os micro-organismos apresentem resistência a pelo menos um antibiótico. Alguns fatores podem contribuir para o desenvolvimento e disseminação de microrganismos resistentes: mutação em genes comuns que estendem seu espectro de resistência, transferência de genes de resistência entre diversos microrganismos e processos de seleção natural. 2.2 Desreguladores endócrinos 2.2.1 Definição Os endócrinos, desreguladores interferentes endócrinos endócrinos, (também disruptores designados endócrinos, perturbadores interferentes hormonais) são substâncias químicas que exercem influência no funcionamento natural do sistema endócrino de espécies animais, incluindo os seres humanos. (BILA; DEZOTTI, 2007) As substâncias classificadas como desreguladores endócrinos, incluindo substâncias naturais e sintéticas, usadas ou produzidas para um grande número de finalidades, podem ser agrupadas em quatro classes: 10 1. Substâncias sintéticas utilizadas na agricultura e seus subprodutos, como pesticidas, herbicidas, fungicidas e moluscicidas; 2. Substâncias sintéticas utilizadas nas indústrias e seus subprodutos, dioxinas, bifenilos policlorados, alquilfenóis e seus subprodutos, Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, ftalatos, bisfenol A, entre outros; 3. Substâncias naturais, como fitoestrogênios, tais como, genisteína e metaresinol e os estrogênios naturais 17-estradiol, estrona e estriol; 4. Compostos farmacêuticos, como o 17-etinilestradiol. (BILA 2005) 2.2.1.1- Estrogênios naturais e sintéticos Os hormônios esteróides são produzidos nas glândulas endócrinas e são excretados diretamente na corrente sangüínea, estimulando ou inibindo a atividade metabólica em outros tecidos ou órgãos. Os hormônios sexuais, que controlam a maturação e a reprodução, podem ser classificados em três grupos principais: (1) os hormônios sexuais femininos, tais como, estrogênios e progesteronas, (2) os hormônios sexuais masculinos, tais como, androgênios e (3) corticosteróides, que são divididos em glicocorticóides e mineralocorticoides (Bila, 2005). Os estrogênios podem ser naturais ou sintéticos e merecem à devida atenção, pois são excretados em grande quantidade. Os estrogênios naturais são secretados pelos ovários e promovem o desenvolvimento das características femininas secundárias que aparecem no início da puberdade, também estimulam o desenvolvimento das glândulas mamárias durante a gravidez e induzem o cio dos animais. Entre os principais estrogênios podemos citar 17-estradiol, estriol, estrona e 17-etinilestradiol (sintético). Na tabela 3 é mostrada a estrutura química as principais características de tais hormônios. 11 Tabela 3. Estrutura química e características dos compostos. Fonte: adaptada de Bila, 2005. Estrogênio Estrona Estrutura Química O Características É natural e se encontra em equilíbrio metabólico com 17 -estradiol HO OH Estriol OH É o principal estrogênio natural encontrado na urina de mulheres grávidas e também na placenta. HO 17 -estradiol OH HO 17 -etinilestradiol OH C É um estrogênio natural mais ativo do que a estrona e o estriol, sendo que estes dois últimos são derivados do primeiro. Estrogênio sintético, usado em pílulas, CH mais estável e potente do que o 17-estradiol. HO Esses compostos merecem atenção especial já que são encontrados comumente em águas, pois são excretados na urina, por mulheres, fêmeos animais e, em menor quantidade, por homens na forma de conjugados polares inativos, assim como pelas fezes (na forma livre), podendo posteriormente provocar efeitos prejudiciais ao ecossistema. 12 Tais efeitos serão explicitados no decorrer do presente trabalho. A tabela 4 mostra a carga de estrogênios encontrada por TERNES et al.1999 em uma estação de tratamento de efluentes na Penha/ RJ (1999a). Tabela 4. Remoções de estrogênios monitoradas na ETE da Penha/RJ por TERNES et al. (1999a). Substância Estrona 17 -estradiol 17 etinilestradiol Carga de estrogênios no esgoto Doméstico (g.dia-1) 5,0 2,5 0,6 2.2.2 Mecanismos de atuação De acordo com GHISELLI e JARDIM (2007c), esses compostos podem ser definidos com base nos seus efeitos, ou seja, trata-se de uma substância química que, mesmo presente em concentração muito baixa, é capaz de interferir no funcionamento natural do sistema endócrino, causando câncer e prejudicando o sistema reprodutivo. A alteração do sistema endócrino se dá de duas formas. A primeira quando os desreguladores endócrinos se acoplam aos receptores mimetizando, ou seja, imitando a ação do hormônio, podendo ativar uma resposta mais fraca ou mais forte que o hormônio natural, exercendo uma ação agonista (Fig 2A) ou a segunda maneira se ligando a um receptor, sendo que nenhuma resposta é produzida, ele estará agindo como um bloqueador, impedindo a interação entre o hormônio natural e o seu receptor, exercendo assim uma ação antagonista.(Fig 2B). 13 Fig 2- Disfunção Endócrinas- Efeito Agonista-A; Efeito Antagonista-B. Fonte adaptado de GHISELLI, 2006. Tais mecanismos de ação também podem ser visualizados no esquema da Figura 3. Os hormônios acoplam-se perfeitamente nos receptores e transmitem sinais indispensáveis às células Os desreguladores endócrinos ocupam o lugar dos hormônios endógenos enviam sinais diferentes e fora de tempo às células E por fim, os mesmos desreguladores hormonais atuam como bloqueadores dos sinais normais dos hormônios que seriam enviados às células. Hormônio Desregulador Endócrino Receptor específico Fig. 3 Esquema de ação dos desreguladores endócrinos. Fonte: ACPO, 2010 Já no meio ambiente,as substâncias podem se portar de diversas maneiras e assim apresentar efeitos biológicos, tais como os efeitos citados abaixo (GREENPEACE, 1997): 14 Persistência e bioacumulação: Alguns desreguladores endócrinos bioacumulam no tecido adiposo dos animais e seres humanos, alcançando níveis que podem ser mais altos do que os níveis encontrados no meio ambiente. Alguns são também persistentes, e levam longos tempos para degradar e assim, permanecem no corpo por vários anos. Como resultados disso, algumas substâncias com essas propriedades alcançam níveis no muitas vezes maiores do que os níveis dos hormônios naturais no organismo. Biomagnificação: O fenômeno da biomagnificação resulta, essencialmente, de uma sequência de etapas de bioacumulação que ocorrem ao longo da cadeia alimentar. Bioacumulação é um termo geral que descreve a tomada de um contaminante químico, do ambiente, por uma ou todas as rotas possíveis (respiração, dieta, via dérmica, etc.), a partir de qualquer fonte no ambiente onde tais substâncias estão presentes. Misturas de substâncias: No meio ambiente, humanos e animais são expostos, não a desreguladores endócrinos individuais, mas a misturas complexas de diferentes desreguladores endócrinos. Conseqüentemente é possível que a ação dessas substâncias juntas se adicione e cause efeitos cumulativos, ou sinérgicos. 2.2.3 Ocorrência dos desreguladores endócrinos As rotas mais comuns de disseminação dos hormônios naturais e sintéticos são os efluentes domésticos descartados em águas superficiais. O lançamento de efluentes in natura até mesmo tratados são os principais meios de contaminação do ambiente aquático, seja pela deficitária infraestrutura em saneamento ou pela ineficiência das Estações de tratamento de esgotos (ERICKSON, 2002). A maior parte do material estrogênico excretado provém de seres humanos, e, portanto, presente em esgotos sanitários na forma menos ativa de conjugados (glicuronidas e sulfatos). Entretanto, a ocorrência de estrogênios “livres” em esgotos tratados indica que os metabólitos de estrogênios são convertidos de volta a sua forma ativa durante o tratamento (ARAÚJO, 2006). A figura 4 mostra os possíveis caminhos de contaminação por desreguladores endócrinos. 15 Figura 4- Representação esquemática do principal meio de entrada de desreguladores endócrinos hormonais em ambiente aquático. FONTE: ARAÚJO, 2006 As concentrações desses desreguladores endócrinos foram determinadas a partir de diferentes fontes e por vários autores e variam de menos de 0,1 ng/L -1 de estrona, um estrogênio natural detectados em águas superficiais na Alemanha (KUCH e BALLSCHMITE 2001 apud BILA 2005) até 0,060 microgramas/L -1 detectado em um efluente de ETE na Itália (LAGANA et al. 2004 apud BILA 2005), como mostrado pelos dados apresentados na tabela 5 . 16 Tabela 5- Concentrações de estrona e estriol, estrogênios naturais, detectados em diversas fontes por diferentes autores. (Adaptado de BILA 2005) Substância Classe da Substância Concentrações no ambiente 2 ng.g-1 0,015-0,060 g.L-1 0,005-0,030 g.L-1 Estrona Estrogênio Natural 0,005-0,012 g.L-1 0,35 – 18 ng.L-1 0,1 – 4,1 ng.L-1 0,0002-0,0006 g.L-1 Estrogênio Natural Sedimento marinho/Alemanha Efluente de ETE/Itália Água superficial/Alemanha < 0,5 – 28 ng.L-1 Água Superficial/Países Baixos 24 – 188 ng.L-1 Esgoto doméstico/Itália 0,43 – 18 ng.L-1 Efluente de ETE/Itália 0,001 g.L-1 0,002-0,005 g.L-1 KUCH e BALLSCHMITE R, 2001 Água potável/Alemanha Efluente de ETE/Países Baixos 0,023-0,048 g.L-1 LAGANÀ et al., 2004 Efluente de ETE/Alemanha 2 – 120 ng.L-1 ng.L-1 TERNES et al., 2002 Água Superficial/Itália Água natural/EUA 2 – 4 ng.L-1 Referência Afluente de ETE/Itália 0,019 g.L-1 1,2 – 3,1 Estriol Condições Água superficial/Inglaterra KOLPIN et al., 2002 BELFROID et al., 1999 BARONTI et al., 2000 XIAO et al., 2001 Água natural/Inglaterra Afluente de ETE/Itália Efluente de ETE/Itália LAGANÀ et al., 2004 Água Superficial/Itália 0,01-0,015 g.L-1 Afluente de ETE/França 0,005-0,007 g.L-1 Efluente de ETE/França CARGOUËT et al., 2004 17 2.2.4 Principais impactos de desreguladores endócrinos no ambiente e em seres vivos. Atualmente, muitos efeitos danosos causados pelos desreguladores endócrinos presentes no meio ambiente têm sido relatados e estudados, incluindo: 1) anomalias no sistema reprodutivo de animais (peixes, répteis e pássaros); 2) indução da síntese de vitelogenina (VTG) no plasma de peixes, que tem sido usado como um biomarcador em águas com contaminação por efluentes de Estação de tratamento de esgotos e 3) efeitos na saúde de humanos, tais como, redução na produção de esperma, aumento da incidência de câncer de mama, testicular e de próstata, ovários policísticos e desenvolvimento sexual precoce. (HAMANN, 1990). FERNANDEZ et al. (2002) estudaram efeitos de desreguladores endócrinos no meio ambiente e relataram a exposição de organismos marinhos a compostos orgânicos contendo estanho, o tributilestanho (TBT) e o trifenilestanho (TPT), no litoral brasileiro (Rio de janeiro, Fortaleza). Os resultados mostraram que essas substâncias levaram ao o desenvolvimento de caracteres sexuais masculinos em fêmeas de moluscos, fenômeno conhecido como "imposex". GAGNÉ et al. (1983) avaliaram o efeito da atividade estrogênica dos efluentes de ETE sobre mexilhões da espécie Elliptio complanata de águas naturais. Os mexilhões foram expostos a um efluente de ETE por aproximadamente dois meses, sendo que depois desse período os autores observaram um aumento dos níveis de VTG em mexilhões machos e fêmeas, além de anomalias no crescimento da concha dos mexilhões, relativas a conformação. Em um experimento com tartarugas da espécie Chrysemys picta (IRWIN et al. 2001) foi possível visualizar que as fêmeas expostas a estrogênios foram afetadas com altos níveis de VTG no plasma, alterando o sistema reprodutivo causando alterações na produção de ovos. TIWARY (1998) relatou estudos mostrando o desenvolvimento sexual precoce em usuários expostos a produtos de cabelo com conteúdo estrógeno, seguido de regressão do quadro após suspensão do uso. No mesmo estudo foi relatado a hipótese de que o ácido bórico usado na fabricação de cosméticos também poderia ser responsável por essas alterações. 18 Uma compilação dos efeitos e anomalias atribuídos aos desreguladores endócrinos é apresentada na tabela 6. Tabela 6. Efeitos e anomalias atribuídos aos Desreguladores Endócrinos. Espécie Contaminante Efeitos Referência Bisfenol A Deformidades no sistema reprodutivo de ratos Alta mortalidade de golfinho Anomalias no sistema reprodutivo de ratos MARKEY et al., 2003 Mamíferos PCB- Bifenilas Policloradas DDT- Dicloro- DifenilTricloroetano AGUILAR e BORREL, 1994 BITMAN et al., 1968 Répteis DDT Concentrações anormais de hormônios sexuais no plasma (baixa concentração de testosterona), anomalias morfológicas nas gônadas (redução no tamanho do pênis) em jacarés. GUILLETTE et al., 1996 e 1999, MILNES et al., 2002 Mexilhões Efluente de Estação de tratamento de esgotos ETE Indução a síntese de VTG no sangue e anomalias no crescimento da concha dos mexilhões Surgimento de órgãos sexuais masculinos em fêmeas - imposex e esterilização Indução a síntese de VTG no sangue e alterações na produção de ovos. Decréscimo da fertilidade GAGNÉ et al., 2001 Moluscos TBT- Tributilestanho e TPT-trifenilestanho Tartarugas 17-estradiol Pássaros Pesticidas Anfíbios FERNANDEZ et al., 2002 IRWIN et al., 2001 FRY, 1995 DDT Feminização gaivotas machos FRY e TOONE, 1981 DDT Anomalias no sistema reprodutivo BITMAN et al., 1968 Herbicida (atrazina) Anomalias no sistema reprodutivo e declínio na população DALTON, 2002 Efluente de ETE Indução a síntese de VTG no sangue e hermafroditismo. BOGI et al., 2003 19 Espécie Contaminante Efeitos Referência Peixes Efluente de ETE Feminização de peixes Declínio na reprodução Indução a síntese de VTG 17-estradiol Feminização de peixes ALLEN et al.,1999 ROBINSON et al.,2002 LARSSON et al., 1999, RODGER-GRAY et al., 2000, SOLE et al., 2000, 2001 e 2003, ALLEN et al.,1999, PANTER et al., 1998 RODGER-GRAY et al., 2001, KÖGER et al., 2000, KNÖRR e BRAUNBECK, 2002 PANTER et al., 2000 HARTLEY et al., 1998, KÖGER et al., 2000 KANG et al., 2002 Alteração nas gônadas Hermafroditismo Incidência de testículoóvulos nas gônadas Declínio na reprodução Inibição do crescimento testicular Mortalidade elevada dos descendentes Indução a síntese de VTG Estrona 17-etinilestradiol bisfenol A e DEHP (ftalato) Nonilfenol, octilfenol e butilfenol Indução a síntese de VTG Inibição do crescimento testicular Indução a síntese de VTG Mortalidade da espécie Declínio na reprodução Declínio na reprodução Declínio na reprodução Indução a síntese de VTG DES 4-tert-pentilfenol Mortalidade elevada dos descendentes e feminização de peixes machos Indução a síntese de VTG no sangue Feminização de peixes machos SHIODA e WAKABAYASHI., 2000, KÖGER et al., 2000 PANTER et al., 1998 KNÖRR e BRAUNBECK, 2002 PANTER et al., 2000, MONCAUT et al., 2003, ROUTLEDGE et al., 1998, ROSE et al., 2002 PANTER et al., 1998, ROUTLEDGE et al., 1998 PANTER et al., 1998 SCHMID et al., 2002, ROSE et al., 2002, FOLMAR et al.,2000 SCHMID et al., 2002 ROBINSON et al.,2002 SHIODA e WAKABAYASHI., 2000 SHIODA e WAKABAYASHI, 2000 JOBLING e SUMPTER, 1993, ROUTLEDGE et al., 1998 KNÖRR e BRAUNBECK, 2002 FOLMAR et al., 2000 GIMENO et al., 1998 20 3.0 MÉTODOS DE MICROPOLUENTES TRATAMENTO PARA MINIMIZAÇÃO DOS Como já foi mencionado anteriormente, a preocupação quanto à preservação dos ecossistemas aquáticos e ao risco de contaminação das águas de abastecimento público tem incentivado a comunidade científica à buscar o desenvolvimento de métodos que possam identificar e quantificar esses micropoluentes. Esta seria uma das etapas necessárias à buscar meios de tratamentos com o objetivo de minimizar os possíveis efeitos nocivos desses compostos. Os processos convencionais, baseados na degradação biológica dos contaminantes, não tem se mostrado suficientes para a completa remoção e ou degradação desses compostos que muitas vezes possuem ação biocida. A recalcitrância dos micropoluentes está relacionada às estruturas químicas complexas dessas moléculas, o que tem sido comprovado em diversos estudos com efluentes de estação de tratamentos de esgoto com a presença desse tipo de contaminante. Nesse capítulo, serão descritos processos cujo objetivo é a redução significativa de tais efeitos. Convencionalmente, o tratamento de efluentes baseia-se em processos biológicos, químicos e físicos (Figura 5). Os processos biológicos são os mais utilizados já que possuem a capacidade de tratar grandes quantidades de efluentes reduzindo largamente a quantidade de matéria orgânica a um custo bastante reduzido. No entanto, a taxa de biodegradabilidade de fármacos está na ordem de 50% para sistemas convencionais de lodo ativado. (PIGNATELLO 1992) Os processos físicos (decantação, flotação, filtração, adsorção) promovem a transferência de fase do contaminante, sem que este seja de fato degradado. Por outro lado, costumam ser bastante eficientes, podendo ser úteis como pré ou póstratamento do processo final (FENT; WESTON 2006) Os processos químicos caracterizam-se pela oxidação dos contaminantes pela reação de oxidantes fortes (H2O2, Cl2, CO2, MnO4). No entanto, a utilização deste tipo de tratamento não promove a mineralização completa dos contaminantes 21 a CO2, havendo a formação de uma grande variedade de subprodutos de degradação, em geral, ácidos orgânicos (oxálico, tartárico, fórmico, acético). (FENT; WESTON 2006) Figura 5- Esquema detalhado de uma ETE. Fonte: Sabesp. Devido a ineficiência dos processos convencionais de tratamento de efluente em relação aos micropoluentes uma série de processos alternativos podem ser utilizados. Os fundamentos de alguns desses processos são mostrados a seguir. 3.1 Processos oxidativos avançados: baseiam-se no fato de os radicais hidroxila gerados serem altamente reativos e pouco seletivos, podendo atuar na oxidação química de uma vasta gama de substâncias (ANDREOZZI et al. 1999) . Nessa classe de processos os mais utilizados são: Fotólise com peróxido de hidrogênio, Ozonização, Fotocatálise heterogênea, Fenton e Foto-Fenton. 22 3.1.1 Fotólise com peróxido de hidrogênio Nesse processo, a irradiação UV promove a quebra homolítica da molécula de H2O2, produzindo radicais hidroxila. Isto só é possível com uma dose relativamente elevada de H2O2 e/ou um tempo de exposição a UV muito maior. O processo apresenta baixa eficiência no tratamento de efluentes com alta absorbância abaixo de 300 nm, devido à absorção máxima do H 2O2 em 220 nm. (DOMÈNECH et al 2001, SAFARZADEH-AMIRI et al 1999). 3.1.2 Ozonização O ozônio pode atuar na oxidação de contaminantes por mecanismo direto ou indireto. No primeiro, a molécula de ozônio reage diretamente por ataque eletrofílico a átomos com uma densidade de carga negativa ou a insaturações. O mecanismo indireto envolve a produção de radicais hidroxila em meio alcalino. Esse processo tem como vantagem principal utilizar O3 para gerar radicais hidroxila sendo que sua absortividade molar é bem maior que a do H2O2, e, portanto, pode ser aplicado ao tratamento de efluentes com alta absorbância . (DOMÈNECH et al. 2001, ANDREOZZI et al.1999). 3.1.3 Fotocatálise heterogênea Baseia-se na oxidação química dos contaminantes mediada por um semicondutor ativado por radiação UV. Em geral, utiliza-se TiO2, devido à sua alta fotoatividade, estabilidade e baixo custo, quando comparado com os demais semicondutores disponíveis. A reação é iniciada pela absorção de radiação por parte dos elétrons que provoca a sua ativação que consequentemente leva ao surgimento do poder redutor dos elétrons excitados que vão por sua vez permitir a redução do metal,formando um radical superóxido O2 , onde os níveis de valência restantes têm a capacidade de oxidar o H2O2 ou HO- absorvido a radicais reativos HO. (DOMÈNECH et al. 2001; OLLIS 1993; DANTAS et al. 2007) 23 3.1.4 Processo Fenton Nesse processo há produção de radicais OH pelo reagente de Fenton, conforme adição de H2O2 e sais de Fe2+. O ferro é considerado catalisador, mas não consegue levar à mineralização completa de todos os compostos orgânicos. (ZEPP et al 1992; PIGNATELLO 1992) 3.1.5 Processo Foto-Fenton É uma extensão do processo de Fenton, que utiliza a irradiação de luz UV nos comprimentos de onda superiores a 300 nm. A fotólise dos complexos de Fe3+ permite a regeneração de Fe 2+ e a ocorrência de reações de Fenton associadas à presença de H2O2. (ZEPP et al 1992; PIGNATELLO 1992) Esses processos são considerados satisfatórios no tratamento de efluentes já que conseguem degradar significativamente fármacos presentes na água, sendo que cada um possui vantagens e desvantagens próprias (como apresentados na tabela 7). 24 Tabela 7- Vantagens e desvantagens dos tratamentos apresentados. Métodos Vantagens Desvantagens -Degradação quase que total -O -Fotólise de peróxido de hidrogênio processo dos fármacos [DOMÈNECH eficiência apresenta no baixa tratamento de et al 2001, SAFARZADEH- efluentes com alta absorbância AMIRI et al,1999] abaixo de 300 nm, devido à absorção máxima do H2O2 em 220 nm (DOMÈNECH et al 2001, SAFARZADEH-AMIRI et al.,1999) Fotocatálise heterogênea -Elimina totalmente a -Dificuldade de penetração da atividade estrogênica em 50 irradiação no meio reacional e minutos de tratamento. separação dos catalisadores que são utilizados na forma de finas suspensões. Ozonização -Absortividade molar é bem -Custo de produção do O3 maior que a do H O 2 2 e, -A limitações por transferência portanto, pode ser aplicado de massa do O3 gasoso à fase ao tratamento de efluentes aquosa com alta e à formação de absorbância bromatos (DOMÈNECH et al. (DOMÈNECH et al. 2001, 2001, ANDREOZZI et al1999). ANDREOZZI et al.1999). -Fenton e fotoFenton -Degradação superior a 95% para todos os fármacos em intervalos de tempo de no máximo 5 minutos. No estudo proposto por BILA (2005) foi utilizado o método de ozonização em diferentes pHs para avaliar a remoção do 17-estradiol em solução aquosa. Com baixas quantidades de ozônio (1,0 mg.L-1 - dosagens normalmente utilizadas em plantas de tratamento de água) a remoção desse composto foi maior que 99%. Em 25 relação às concentrações de 17-estradiol, ao se utilizar concentrações maiores, não foram observadas alterações significativas com a mudança de pH, no entanto com pequenas concentrações a oxidação se tornou mais lenta. ANDREOZZI et al. (2003) estudaram a oxidação do paracetamol em soluções aquosas por meio da ozonização e fotólise com H2O2. Ambos os sistemas oxidativos foram capazes de destruir o anel aromático do substr ato com uma conversão parcial do conteúdo inicial de carbono em dióxido de carbono SOUZA (2011) estudou a aplicação de processo de oxidação avançado com peróxido de hidrogênio variando pH e tempo de reação. Em condições otimizadas (pH 3,tempo de reação 56 minutos e 485 mg/L de aproximadamente 80% dos micropoluentes H2O2/UV) foram removidos estudados 2,4,6-triclorofenol, pentaclorofenol, cafeína, dipirona, diclofenaco de sódio, bis (2-etil-hexil) ftalato, estrona , 17β-estradiol, β-estradiol 17-acetato, 17α-etinilestradiol e colesterol. Para o processo, as condições ótimas encontradas foram pH 3, tempo de contato de 56 minutos e 485 mg/L de H2O2/UV. Como citado por BILA (2005), FERREIRA (2008) e MANIERO et al. (2008) mostraram que os processos de ozonização e O3/H2O2 foram efetivos na remoção dos estrogênios 17β-estradiol e 17α-etinilestradiol. A fotocatálise reduziu consideravelmente a atividade estrogênica do bisfenol A em água. Após 6h de tratamento, a atividade foi reduzida para menos de 10% da inicial. Entretanto, 35% da concentração inicial do bisfenol A permaneceu em solução, em conjunto com alguns subprodutos. OHKO et al. (2001), SILVA et al. (2007) avaliaram a aplicação da radiação solar no processo fotofenton para remoção do herbicida tebu thiuron (TBT) e obtiveram remoções da ordem de 78 a 100% na faixa de pH de 2,5 a 7,5. A degradação dos fármacos amoxicilina, bezafibrato, paracetamol e tetraciclina foi estudada no pós-tratamento de esgotos tratados empregando o processo fotofenton sob radiação solar. Observou-se degradação superior a 95% para todos os fármacos em intervalos de tempo de no máximo 5 minutos (MELO et al., 2009). 26 Na tabela 8 são apresentados resumidamente os resultados da biodegradabilidade e toxicidade de fármacos tratados por processos de oxidação avançado compilados por IKEHATA et al. (2006) Tabela 8- Resumo de alguns compostos farmocêuticos após ozonização e processos avançados de oxidação (IKEHATA et al. 2006). Composto Processo de aplicação Biodegradabilidade e toxicidade Carbamazepina Ozonização Toxicidade diminuída para algas H2O2/UV Não definido TiO2/ hv Não definido Diazepam Ozonização Não definido Diclofenac Ozonização Toxicidade eliminada para algas e protozoários O3/H2O2 Não definido H2O2/UV Toxicidade eliminada para algas e protozoários 17-Estradiol Ácido clofídrico Fenton Não definido Foto-Fenton Não definido TiO2/ hv Sem redução de toxicidade Ozonização Estrogenicidade reduzida O3/H2O2 Estrogenicidade reduzida H2O2/UV Não definido Foto-Fenton Não definido TiO2/ hv Estrogenicidade removida Ozonização Toxicidade eliminada para algas e protozoários O3/H2O2 Não definido H2O2/UV Toxicidade eliminada para algas e protozoários Foto-Fenton Não definido TiO2/ hv Sem redução de toxicidade 27 Esses processos podem ser utilizados para degradação de micropoluentes tanto na saída das estações de tratamento de esgoto, quanto em etapas finais do processo do tratamento da água. No entanto, deve-se atentar ao fato de haver a formação de produtos intermediários recalcitrantes, que podem ser tóxicos e não biodegradáveis, logo, antes da efetivação de uso dessas técnicas, devem ser realizadas análises criteriosas de toxicidade e biodegradabilidade dos intermediários, comprovando que esses não causarão impactos negativos ao ecossistema, garantindo a efetividade e segurança da aplicação dessas técnicas no tratamento. Existem ainda outros processos capazes de minimizar a presença desses microcompostos na água, entre eles estão a carvão ativado, processos de separação por membranas, Osmose Inversa, Nanofiltração, Ultrafiltração. 3.2 Carvão Ativado O carvão ativado pode ser utilizado para reduzir a presença de pesticidas, compostos farmacêuticos e estrogênios da água. Devido às interações hidrofóbicas, a filtração por carvão ativado é responsável pela remoção eficiente de compostos orgânicos apolares. A capacidade de minimização dos compostos da água por filtração com carvão ativado depende da força das interações polares. SIMAZAKI et al. (2008 apud CID 2011) estudaram a remoção de vários compostos farmacêuticos por tratamento convencional em carvão ativado em pó. 28 Nos ensaios (Figura 6) foram avaliadas as taxas de remoção de cada composto numa mistura, contendo 0,1 mg L-1 de cada composto e 10 mg L-1 de carvão. Figura 6. Remoção de compostos por CAP num ensaio de solução mista (adaptado por CID 2011 de SIMAZAKI et al, 2008). A maioria dos compostos foi removidas efetivamente. Foram reduzidos ao mínimo de 20 % da concentração inicial dentro de 1 hora. Após 24 horas a remoção foi total. TERNES et al. (2002) elaboraram um ensaio à escala piloto para avaliar a eficiência de remoção de ácido clofíbrico, diclofenaco, carbamazepina e bezafibrato por adsorção em carvão ativado granulado, utilizando colunas com alturas de 80 e 160 cm. 29 Concentração relativa em porcentagem % Vazão específica em m3/L Figura 7-Concentração relativa dos compostos no CAG com 80 cm de altura Concentração relativa em porcentagem % (adaptado de TERNES et al., 2002) Vazão específica em m3/L Figura 8-Concentração relativa dos compostos no CAG com 160 cm de altura (adaptado por CID 2011de TERNES et al., 2002). Os resultados das figuras 7 e 8 exemplificam que cada fármaco tem capacidade diferenciada de adsorção, devido a suas características físico-químicas. Pode observar-se que o ácido clofíbrico foi o que menos foi absorvido pelo carvão ativado granulado enquanto a carbamazepina apresentou um comportamento oposto . 30 ZHOU; ZHANG et al (2010) investigaram o uso de processos de filtração com carvão ativado na remoção dos desreguladores endócrinos, tais como, 17-estradiol, bisfenol A e 17-etinilestradiol. Os resultados mostraram que foram alcançadas remoções maiores que 99% para baixíssimas concentrações iniciais do poluente. 3.3 Processos de Separação por Membranas Membranas são como “uma barreira que separa duas fases e que restringe, total ou parcialmente, o transporte de uma ou várias espécies químicas presentes nas fases”. Estes processos promovem a separação dos solutos dissolvidos com o objetivo de purificar a água. De um modo geral, os processos de separação por membranas são utilizados no tratamento de água para remoção de partículas, cor, trihalometanos e compostos inorgânicos. As membranas separam os contaminantes da água com base no tamanho do composto, forma e/ou carga. (CID 2010) O processo de separação por membranas permite a separação de determinados solutos e um permeado (fluxo de água purificada). A remoção de solutos por parte das membranas depende das suas características (tamanho dos poros, hidrofobicidade e/ou carga elétrica). No processo de separação por membranas os contaminantes não são destruídos, apenas separados do fluxo de água. Os principais processos de separação por membranas têm como força motriz o gradiente de pressão hidráulica ou a diferença de potencial elétrico. No tratamento de água para abastecimento o processo de separação por membranas mais utilizado é a separação por gradiente de pressão (HABERT et al 2006). Existem diferentes tipos processos de membranas que têm por força motriz a pressão hidráulica, selecionados de acordo com os objetivos propostos: microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração e osmose inversa (HAMANN et al. 1990). As diferentes separações por membranas são determinadas pelo tamanho dos poros. Assim, as membranas de nanofiltração possuem os poros de menor diâmetro, seguidas pelas membranas de ultrafiltração e microfiltração. Para as membranas de nanofiltração e osmose inversa a terminologia mais adequada, em vez de poros da membrana, é o “cut-off” (massa molar a partir do qual o soluto é 31 rejeitado pela membrana em mais de 90%), devido ao fato de nestas membranas o fator de rejeição ser o massa molar dos solutos. 3.4 Osmose Inversa (OI) A osmose inversa é um processo de separação de solutos de baixo massa molar do solvente. As membranas de osmose inversa atuam como uma barreira seletiva aos sais, moléculas orgânicas e inorgânicas existentes na água. A osmose inversa é o processo de separação mais utilizado na dessalinização de água para abastecimento. As pressões de operação na OI variam entre 10 e 100 bar, as membranas de OI não possuem poros (CID 2011) 3.5 Ultrafiltração A ultrafiltração (UF) é um processo de separação por membranas onde a força motriz se baseia na diferença de pressão através da membrana, ficando retidas macromoléculas tais como gorduras, emulsões, proteínas, polímeros, entre outras, cuja massa molar varia entre 500 e 500000 g.mol-1.(CID 2011) 3.6 Nanofiltração A nanofiltração (NF) é um processo de separação por membranas, sendo considerada uma tecnologia promissora na separação de solutos neutros ou carregados presentes na água. Segundo METCALF e EDDY (2003) este processo também conhecido por “loose” reverse osmosis, retém partículas de dimensões superiores a 0,001 μg/L, sendo por essa razão utilizado na remoção de determinados compostos dissolvidos presentes nas águas residuais, como é o caso de ions metálicos multivalentes responsáveis pela sua dureza. Relativamente ao processo de nanofiltração num sistema de tratamento de águas, pelo fato deste permitir a remoção de compostos orgânicos e inorgânicos, bem como as bactérias e vírus, os requisitos de desinfecção são minimizados, sendo este processo indicado para a obtenção de água para consumo que cumpra os critérios mais rigorosos de qualidade. 32 No estudo de VAN DER BRUGGEN et al. (1998 apud BILA 2005), a nanofiltração removeu 95% de pesticidas em águas subterrâneas em concentrações na faixa de 100 a 500 g.L-1. 3.7 Processos combinados Todos os métodos, acima apresentados, são ditos eficientes para o tratamento de micropoluentes e acoplados aos já utilizados reduziriam a quase zero a concentração desses compostos em águas tratadas. Huerta-Fontela et al. (2011) analisaram o comportamento de 55 compostos farmacêuticos ao longo de um sistema de tratamento de água de abastecimento em escala real,utilizando processos combinados. O sistema de tratamento foi dotado das seguintes etapas: pré-cloragem, coagulação, floculação, sedimentação, filtração em areia, ozonização, filtração por carvão ativado e pós-Cloração (Figura 9). Após a filtração foi feita uma diluição com água subterrânea, de forma que os compostos sofressem diluições entre 6 e 30%. Figura 9. Linha de tratamento para remoção de compostos farmacêuticos (adaptado de (Huerta-Fontela et al., 2011)). A etapa de coagulação/floculação e filtração em areia apresentou baixa eficiência de remoção dos micropoluentes, enquanto a Cloraçãoe ozonização possuem eficiências de remoção elevadas. A remoção de compostos por processos de oxidação eliminou entre 20 e 35 compostos. Compostos como antolodipino, tamoxifeno, sertralina, oxazepam e furosemida foram removidos com taxas superiores a 99% durante a pré-cloragem. Sendo que para o propanolol e metoprolol a pós-Cloração eliminou-os totalmente. Finalmente a 33 etapa de adsorção com carvão ativado eliminou os compostos hidrofóbicos presentes na mistura. Como evidenciado, tais processos combinados seriam suficientes para reduzir significativamente a presença desses micropoluentes em água, no entanto, autoridades no assunto afirmam que o custo de investimento para tais trocas seriam inviáveis. Enfim, fica evidente, com os dados já apresentados no presente trabalho, que mudanças na forma de tratamento da água e efluentes são indiscutivelmente necessárias já que as consequências desse descuido a longo prazo, devido a bioacumulação, podem ser irreversíveis. Logo, para que isso não ocorra, as companhias de saneamento devem incluir em sua rotina testes ecotoxicológicos a fim de fazer o monitoramento constante dos possíveis efeitos deletérios sobre a biota aquática, para que, possa se adequar sempre que necessário. Como enfatizado na resolução CONAMA 430 de 2011, nos artigos 1 e 2 ”O efluente não deverá causar ou possuir potencial para causar efeitos tóxicos aos organismos aquáticos no corpo receptor, de acordo com os critérios de toxicidade estabelecidos pelo órgão ambiental competente” (Brasil, 2011). Portanto, não é aceitável uma concentração de poluentes que possa causar efeito deletério, ainda que mínimo, ao ecossistema. 34 5. CONCLUSÕES Uma grande número de estudos tem sido realizados mediante os problemas relativos à contaminação da água por micropoluentes. Mesmo em concentrações vestigiais, diversos estudiosos afirmam a relação entre anomalias em seres vivos com presença desses compostos, como por exemplo: câncer de mama, testículo, próstata, ovários policísticos, desenvolvimento sexual precoce, além de resistência bacteriana e problemas no sistema reprodutivo de animais. Essa evidência deve ser levada em consideração, já que através do fenômeno de bioacumulação, os efeitos danosos causados por essas substâncias tendem a piorar, causando impactos irreversíveis no ambiente, afetando assim as futuras gerações. Em relação aos tratamentos para a minimização dos efeitos nocivos, os processos avançados de oxidação merecem destaque, afinal possibilitam a remoção dos compostos em cerca de 80%, sendo que em alguns estudos chegaram à 99% de degradação quando utilizada a técnica de ozonização. No entanto, em relação a esses processo é necessário estar atento à possibilidade de formação de compostos intermediários ainda mais tóxicos que o original, logo, faz-se necessário a análise das substâncias presentes no efluente para avaliar a possibilidade de utilização de cada método. Outras técnicas como nanofiltração, ultrafiltração e filtração por membranas também são promissoras, pois conseguem reduzir com eficiência a carga de contaminantes sem gerar compostos tóxicos. Porém, em larga escala, o custo para essas operações ainda é considerado inviável. Logo, a eficiência dos processos de tratamentos de águas muitas vezes depende da combinação de métodos de forma a reduzir ao máximo os efeitos nocivos que esses poluentes possam gerar. 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACPO, interferentes hormonais, disponível em: <http: //www.acpo.org.br/int_horm onais.htm>, acessada em 05/05/2012. ALLEN, V., MATTHIESSEN, P., SCOTT, A. 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