A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
GEOPOÉTICA DO CAFÉ - AO SABOR E AROMA DA TERRA
VERMELHA - UMA MANEIRA DE HABITAR O MUNDO
LÚCIA HELENA BATISTA GRATÃO1
Resumo
De onde vem a inspiração para esta escrita impressa e expressa na composição da
geopoética do café? Seria do desejo de retorno à Terra? Retorno à casa? Ou do
desejo que brota do campo enraizado da poética da terra? Ou seria do desejo de
habitar o mundo de maneira geopoética? Habitar o mundo de maneira geopoética é
destinação do ser no mundo no sentido de uma relação de existência. A geopoética
do café aqui se (ex)põe enquanto uma maneira de habitar o mundo. Ensaio que
circunscreve enquanto dimensão geopoética do habitar. Nesse enlevo, sabor e
aroma se impregnam enquanto essências que brotam da terra. No laborar a terra,
pertencimento e cumplicidade no sentido de essência, existência e resistência.
Palavras-chave: geopoética, geografia humanista, poética da terra
GEOPOETICS CAFE-THE FLAVOUR AND AROMA OF RED EARTH-A
WAY OF WORLD DWELLING
Abstract
Where does the inspiration for this script print and expressed in the composition of
the geopoetics coffee? Would the desire to return to homeland? Return home? Or
desire from the field of poetic Earth rooted? Or would the desire to world dwelling of
geopoetics way? world dwelling of geopoetics way is intended to be in the world in
the existence sense . The geopoetics coffee here if (e.g.) ut as a way of world
dwelling. Essay that is limited while geopoetics dimension of dwelling. In this haze, if
flavor and aroma impregnate while essences that sprout from the earth. In labor the
land, belonging and complicity in the sense of essence, existence and resistance.
Key-words: geopoetics, poetics of earth, humanist geography
1 –Introdução
A escrita deste ensaio foi feita ao enlevo poético. Uma escrita traçada à luz da
sedução poética. A este enlevo e a esta luz, Bachelard nos seduz e nos arrasta para
1
Docente do Programa de Pós-Graduação lato sensu em Ensino de Geografia pela
UEL/Pesquisadora do Grupo Geografia Humanista Cultural - GHUM-CNPq/UFF - e-mail
[email protected]
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o universo onírico. “Quando o sonho se apodera assim, temos a impressão de
habitar uma imagem” (BACHELARD, 1990, p. 76). A composição “sabor e aroma da
terra vermelha” conduz desde já, esse valor poético - a poética da terra. Como não
degustar uma xícara de café e não se transportar à Terra!
Terra fértil, sementes germinadas, mudas plantadas, pés a crescer, e,
passado o tempo, vem a floração anunciando a colheita e a fruta vermelha do café é
(a)colhida. Sabor e aroma brotam da terra e se estendem da roça-terra para a casa
– da Casa para a Terra – da Terra para o Mundo.
(En)volta desse laborar de plantação à colheita, amalgamada de sentidos e
sentimentos de terra, sabor e aroma, e, impregnada pelas essências de alegria e
encantamento pelo café, ponho-me a compor este ensaio (geo)poético por linhas da
geografia. “Essa grafia que é a própria existência humana em sua relação orgânica
com a Terra” (MARANDOLA, 2011, p. xiii), partindo da „casa‟. Casa “edificada” nas
terras férteis do Norte do Paraná, exalando sabor e aroma da terra vermelha no ato
de degustação e apreciação do fruto identitário que brota dessa terra fértil e de sua
gente enraizada no seu solo natal. É um prazer sentar-se em torno de uma mesa de
café, e, ao degustar uma deliciosa xícara de café, retornar às origens, retornar à
casa, “o nosso primeiro universo” (BACHELARD, 1988b, p. 24). Este mesmo ato já
não é uma expressão de uma relação sensível e inteligente com a Terra? O que
White (1994) chamou de geopoética? “Nas horas de grandes achados, uma imagem
poética pode ser o germe de um mundo, o germe de um universo imaginado diante
do devaneio de um poeta. A consciência de maravilhamento diante desse mundo
criado pelo poeta abre-se com toda ingenuidade. [...] a consciência está destinada a
maiores façanhas” (BACHELARD, 1988a, p. 1-2).
No ato de saborear a terra, revela-se o sentido de habitar o Mundo-Terra.
Momento especial entoado por conversas em torno da memória, imaginário,
imaginação, poética, existência, resistência. Conversas memoráveis que ao sabor
das essências que brotam da terra vermelha nos (en)levam às raízes da poética da
terra. Nesta terra vermelha brotou e propagou a “fruta vermelha que nasce da flor
branca e perfumada do pé de café e que tem sua origem geográfica nas terras
quentes a nordeste da África, em tempos muito remotos” (MARTINS, 2008, p. 1819). Ao sabor da terra vermelha, “o café viaja num mundo de sonhos e memória 5408
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cafezais em sonhos. Quantos que no sentido de “habitar” não se entregam ao sabor
e ao aroma da paisagem-solo-terra, seja em uma cafeteria, no interior de uma
biblioteca ou mesmo à mesa de trabalho em conversas cotidianos ao sabor do café”
(GRATÃO, 2009b, p. 3). Do grão à bebida, sabor e aroma despertam sentidos,
desvelam e revelam memória. No ato de saborear, fios da memória são desatados.
“Segure uma xícara exalando o aroma de um bom café e estará com a história em
suas mãos” (PASCOAL, 2006, p. 14) ou o mapa de geografias a serem
(des)veladas, reveladas? Ou a geografia do habitar? Ou um só documento com a
inscrição e impressão: Geopoética do Café? Na imbricação de sabor, aroma e terra
vermelha, saboreia-se a Terra. Expressão poética, poética da terra, língua da terra.
Cântico da terra-vermelha. Terra plantada, cantada e encantada frente aos homens
que aqui sonharam ou que se deixaram enlevar pela força da terra resguardada na
memória. Terra com cheiro de café. Café com gosto e aroma da terra vermelha. Nos
caminhos dos cafezais a terra recende em sabor e aroma. A mais pura geopoética.
É no (des)velamento que a Terra se põe a revelar sua essência. Na projeção
imaginária de imbricação, as essências da terra se revelam enquanto ligação
existencial do Homem com a Terra (GRATÃO, 2014).
Que essências são essas? Essências impregnadas de poética da Terra.
Amálgama de sentidos e imaginação. Amálgama de ser e existência (GRATÃO,
2014). Como não se deixar (en)volver e se (en)raizar nesse campo de encantamento
da Terra? Como não se deixar (en)trelaçar-se nesse emaranhado de raízes,
sentidos e sentimentos? Como resistir a esse sentimento de cumplicidade com a
Terra? “Uma apreensão da Terra como espaço telúrico”, nos substancia Dardel
(2011, p. 17). Como resistir a potência poética desse campo enraizado de raízes
geopoéticas? Campo geográfico que nos (en)leva de volta à Terra. (GRATÃO,
2011). “Como não deixar-se encantar e (en)levar-se pela geografia que torna
possível o trabalho poético, trabalho do devaneio, do sentimento e da sensação?”
(GRATÃO, 2012, p. 33-34).
Impregnado por esta mistura de terra-roxa e fruta vermelha do café, o homem
do Norte do Paraná é conhecido pela expressão poética como “pé-vermelho”.
Segundo Pozzobon (2006, p. 24): “O homem que construiu o Norte do Paraná
através do café tornou-se conhecido como “pé-vermelho”. Expressão popular
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atribuída às populações do Norte do Paraná caracterizado pelos pés e sapatos
vermelhos que espelham a cor vermelha da terra”. Diante do (ex)posto é possível
extrair o sentido que representa o café no Paraná, especialmente, na região Norte
do Paraná. Nestas terras-vermelhas do norte paranaense, o café está enraizado na
memória das pessoas e dos lugares: Londrina - Capital do Café; Teatro - Ouro
Verde; Shopping - Catuai. Está impresso, expresso e manifesto na música, na
literatura, na pintura e na fotografia. Está bem guardado em algum lugar da memória
paranaense e que aguarda para ser resgatado por esta via geográfica-geopoética.
Ainda vem sendo (res)guardado até mesmo, na recuperação e conservação de
antigas fazendas de café e que vêm sendo (re)apropriadas pelo turismo ecológico e
gastronômico (GRATÃO, 2009b).
Assim
também,
encontramo-nos
impregnados
pela
“essência
fenomenológica” diante do horizonte dos novos trabalhos e novas perspectivas que
se projetam e se propagam pelo fértil e sedutor campo da geopoética. O prazer do
café seduziu até mesmo o brilhante Johan Sebastian Bach compôs, em 1732, a
Cantata do Café, uma de suas raras composições de caráter profano e jocoso, uma
história de amor, na qual exalta as qualidades da bebida, de forma arrebatada: “Ah,
como é doce o seu sabor! Delicioso como milhares de beijos, mais doce que vinho
moscatel! Eu preciso de café” (MARTINS, 2008, p. 25).
A esse enlevo, peguemos uma xícara exalando o aroma de um bom café e
teremos em nossas mãos uma escrita geopoética do café!
Sobre esta escrita geográfica tenho me deleitado e apreciado sabores da
terra à luz da imaginação poética. A esta luz, uma boa xícara de café contém uma
boa dose de inspiração! Nesse enlevo, poetizei (GRATÃO, 2009b).
O café está na roça,
está na mesa,
na roda de conversa.
Está na arte,
na música “Flor do Cafezal”,
na “Cantata do Café”.
Está na pintura, na poesia.
Está na dança da peneira.
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Está na terra vermelha do Paraná!
Está no comprazer-se e deleitar-se da Casa-Terra-Mundo!
A poética do café está na propagação da fruta vermelha que nasce da flor
branca e perfumada do pé de café que tem sua origem geográfica nas terras
quentes a nordeste da África. Está na Flor do Cafezal, música de Cascatinha e
Inhana, do compositor, Luiz Carlos Paraná.
Meu cafezal em flor quanta flor meu cafezal
Meu cafezal em flor quanta flor meu cafezal
Ai menina meu amor minha flor do cafezal
Ai menina meu amor branca flor do cafezal
Era florada lindo véu de branca renda
Se estendeu pela fazenda qual um manto nupcial
E de mãos dadas fomos juntos pela estrada
Toda branca e perfumada pela flor do cafezal
Meu cafezal em flor quanta flor meu cafezal
Meu cafezal em flor quanta flor meu cafezal
Ai menina meu amor minha flor do cafezal
Ai menina meu amor branca flor do cafezal
Nesse enlevo, o ensaio que se apresenta brota do sabor e aroma da terra
vermelha enquanto relação existencial Homem-Terra, uma relação que liga o
homem à Terra. Pelo sabor se enraíza. O ensejo é esse – uma composição ensaísta
de geopoética do café.
2- DESENVOLVIMENTO
De onde vem a inspiração para esta escrita impressa e expressa na
composição geopoética do café? Seria do desejo de retorno à Terra? Retorno à
casa? Ou do desejo que brota do campo enraizado da poética da terra? Ou seria do
desejo de habitar o mundo de maneira geopoética? Habitar o mundo de maneira
geopoética é destinação do ser no mundo no sentido de uma relação de existência e
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resistência. Nesse sentido, a geopoética do café se (ex)põe enquanto uma maneira
de habitar o mundo. A palavra "mundo" é fundamental para que se compreenda a
relação entre a ciência geográfica essencial, ou fenomenológica, e a sua essência,
que pode ser denominada geograficidade [...]. A geograficidade, enquanto essência,
define a relação do ser-no-mundo, e não do ser-no-espaço. (HOLZER, 1997, p. 80).
Nesta perspectiva, sabor e aroma se impregnam enquanto essências da terra.
Essências que brotam da terra. No laborar a terra, pertencimento e cumplicidade na
relação visceral do Homem com a Terra como modo de habitar o mundo. Essências
poéticas manifestas numa relação de geograficidade (DARDEL, 2011), esta relação
de existência cuja fundação reside em um movimento existencial de compreensão
do ser. Uma relação fundada na geopoética. Uma fundação de base existencial que
se revela à profunda escavação do sentido e condição de existir. “Há uma
experiência concreta e imediata da “crosta terrestre”, um enraizamento, uma espécie
de fundação da realidade geográfica” (DARDEL, 2011, p. 15). Sabor e aroma a esta
raiz geopoética conduz à própria condição originária do ser. Sabor e aroma da terra
se unificam em torno de uma tonalidade afetiva dominante, colocando “em questão a
totalidade do ser humano, suas ligações existenciais com a Terra, ou, se
preferirmos, sua geograficidade original: a Terra como lugar, base e meio de sua
realização” (DARDEL, 2011, p. 31). Sabor e aroma, essências da terra manifestas
numa relação de ser no mundo. Ao chão, pés „vermelhos‟ enraizados na terra
„vermelha‟ e o brotar da fruta vermelha. Expressão geopoética do café.
Nesse emaranhado de essências, no laborar a terra o sentimento de
pertencimento e cumplicidade Homem-Terra. “[...] nas relações indicadas por
habitar, construir, cultivar, circular, a Terra é experimentada como base. Não
somente ponto de apoio espacial e suporte material, mas condição de toda “posição”
da existência, de toda ação de assentar e de se estabelecer (de poser et de
reposer).” (DARDEL, 2011, p. 40). Nesse traço de escrita de existência e realidade
geográfica, Dardel (2011, p. 33) diz “[...] que o homem se sinta e se saiba ligado à
Terra como ser chamado a se realizar em sua condição terrestre”. E, ainda, nesta
mesma escrita, nos arrebata com mais um traço geopoético: “A geografia não é, no
fim das contas, uma certa maneira de sermos invadidos pela terra, pelo mar, pela
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distância, de sermos dominados pela montanha, conduzidos em uma direção,
atualizados pela paisagem como presença da Terra?” (DARDEL, 2011, p. 39).
A esta maneira, sabor e aroma da terra vermelha envolvem imaginação,
projeta imaginário e desvela memória. É o que está impresso na composição “sabor,
aroma, terra vermelha”, e que poeticamente, imprime e expressa o ato de laborar e
saborear a terra. A esse modo, esta escrita é um traço de um esforço reflexivo
ensaísta para um conhecimento de mundo que se dá de corpo inteiro, mediado pela
experiência, seja intelectual, empírica, cultural ou subjetiva. A imagem das coisas
nos (en)leva pela imaginação e pela memória a entendemos a forma de ver, de
sentir e de ser no mundo, dimensões do existir humano inscritas e prescritas na
geopoética. À mesa de escrita geopoética, saboreando a terra volta-se à “casa”“mundo” - espaço de cheiros, gostos, sensações, lembranças... Ao sabor e aroma do
café volta-se à terra vermelha – Casa-Mundo.
Segundo o escritor franco-escocês Kenneth White, a geopoética visa
desenvolver uma relação sensível e inteligente com a Terra. “Apaixonados por
viagens em países distantes ou por flâneries pela sua própria cidade, por
caminhadas nas montanhas ou passeios pela orla, autores e/ou leitores de poesia,
de narrativas e de mapas, providos de um “olho geográfico” ou de um “olho
fotográfico”, perambulam pelo campo geopoético cada um a seu modo...” (BOUVET,
2012, p. 10-11). Nesse caminhar, seguem para explorar conjuntamente o mundo
exterior e o mundo das ideias e desenvolver uma relação sensível e inteligente com
a terra (WHITE, 1994). A geopoética privilegia um pertencimento comum à Terra. “O
prefixo geo nos liga à terra – é preciso ter um dia sentido o apelo que vem de fora,
essa tensão que nos expulsa para fora de nossos confortáveis lares e que nos deixa
entrever novos horizontes, para poder caminhar tranquilamente nas trilhas da
geopoética”, assegura Bouvet (2012, p. 11). “A geopoética abre um espaço de
cultura, de mentalidade, de vida. Em uma palavra, de mundo” (WHITE, 1994). Com
esses traços escrita fazem-nos (en)levar e reconhecer ainda mais, a base existencial
da obra de Dardel (2011). Os seduzidos ou encantados pela geopoética devem
seguir escavando a base de fundação que envolve a existência e a realidade
geográfica fundada na geografia dardeliana.
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É com essa base de fundação que a geopoética do café se (ex)põe e se
vincula ao geógrafo francês Eric Dardel. Base que reside em um movimento
existencial de compreensão do ser, “uma geograficidade (géographicité) do homem
como modo de sua existência e de seu destino” (DARDEL, 2011, p. 1-2) ou esta
experiência que coloca em jogo ao mesmo tempo, como nos mostra Bachelard, uma
estética do sólido ou do pastoso e uma certa forma de vontade ou do sonho
(BACHELARD,
1991).
“Há
uma
experiência
concreta
e
imediata
onde
experimentamos a intimidade material da “crosta terrestre”, um enraizamento, uma
espécie de fundação da realidade geográfica” (DARDEL, 2011, p. 15). A geopoética
do café, assim se funda. Sabor e aroma conduzindo à própria condição originária do
ser. Fundamento de base existencial que se revela em profunda escavação de
sentido e condição de existir. “Escavação” de existência - Homem e Terra numa só
mistura de existência-essência-resistência - escavação geopoética.
Sabor e aroma da terra numa extensão da Terra-Mundo manifestos da Casa
– raiz - “espaço poético” (BACHELARD, 1988). Casa-Terra-Mundo. Terra lavrada,
terra que se planta, terra que se cultiva, terra que alimenta. Terra que se mora, terra
que (a)colhe; existe e resiste! Terra-Mundo-Habitar. “Porque a casa é o nosso canto
do mundo. Ela é, diz amiúde, o nosso primeiro universo. É um verdadeiro cosmos”
(BACHELARD, 1988, p. 24). Sabor e aroma, essências de uma só potência poética
capaz de desvelar ao homem (ele mesmo) a terra natal - terra de morar - terra de
habitar - sua casa onírica (BACHELARD, 1990). Sabor e aroma da terra, volta à
Casa-Terra-Mundo. A infância de onde vem o cheiro, o gosto, o prazer, a alegria,
essências que brotam da terra. Café, cheiro da terra; gosto da terra. Meu “solo”. Meu
“chão”. Meu “lugar”. Minha Terra. Meu Mundo!
A escrita dos textos em torno do sabor (GRATÃO, 2014; 2012; 2009a;
2009b); (GRATÃO e MARANDOLA JR, 2011), foram os primeiros passos de um
longo percurso permeado por leituras de geopoética, que impulsionaram a
composição deste pequeno ensaio em torno do café. O sabor, aqui apreciado pelo
sentido de habitar o mundo de maneira geopoética. Assim (ex)posto, é um novo e
forte (im)pulso no sentido de “substanciar”e “sustentar” a idéia de que sabor e aroma
do café tem uma base geopoética. Este foi o modo que adotei como maneira de
expressar o que melhor revelasse o que apreendi na convivência e na relação
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sensível e visceral com a Terra - terra vermelha - por caminhos da geografia
humanista aos traços fenomenológicos. A esse modo, seguindo no sentido de
contribuir para a investigação geopoética, sempre ligada de perto ao lugar
explorado, testemunho das relações do habitar geopoético e da partilha dos olhares
e dos saberes geográficos, mas, também, concretização de uma relação singular do
ser-no-mundo, e não do ser-no-espaço.
Na escavação do imaginário material terrestre aprofunda-se no enraizamento
telúrico plantado enquanto ligação geopoética.
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