O que é uma instalação? A arte contemporânea vive, pulsa, voa, viaja e morre. Absorve e constrói o espaço à sua volta ao mesmo tempo que o desconstrói. A desconstrução de espaços, de conceitos e idéias está dentro da práxis artística da qual a instalação se apropria para se afirmar enquanto obra. O termo instalação se refere ao tipo de arte no qual o espectador adentra o espaço da obra. Quando uma obra nos é apresentada como um lugar e não como um objeto ou como uma pintura, a nossa experiência se modifica, nosso olhar é convidado a extrapolar os limites da obra, a distância e a passividade. Somos parte da obra, estamos imersos da ponta do nosso dedão ao último fio de cabelo. É muito interessante prestarmos a atenção em como nossa postura se modifica. Andamos, procuramos, olhamos para cima, para baixo, espiamos, nos aproximamos, às vezes tocamos, deitamos, sentimos... Numa instalação, redescobrimos o corpo, os sentidos, novas rotas, ou seja, nos perdemos, nos desconhecemos, para nos reencontrar e nos redescobrir. Percebemos a liberdade e uma nova noção de conhecimento – mais direta, participativa e perceptiva. Essencialmente, uma instalação é uma construção de uma realidade espacial em lugar e tempo determinados. É passageira, é presença transitória que se materializa de forma definitiva apenas na memória. A instalação é como um espelho de seu próprio tempo, pensa o homem atual e sua interação com a própria obra. A transmutação do objeto em instalação, ou melhor, o caminho percorrido pelo objeto artístico até a instalação se inicia em Marcel Duchamp e nos ambientes surrealistas. Marcel Duchamp Sendo dados: 1. A queda d’água, 2. A lâmpada de gás 1946-66 Na década de 1960, os artistas passaram a experimentar outros suportes, formatos e mídias. A pintura, a escultura, a gravura e o desenho já não davam conta de refletir o mundo com tanto vigor, com o advento de novas tecnologias, o surgimento de novos pensamentos, teorias e modelos sociopolíticos. Nesse contexto, surge a instalação, à época, sob outras terminologias – como a Arte Ambiental de Hélio Oiticica. Hélio Oiticica, Título (ano) Estes trabalhos tinham em comum a apropriação de espaços e o questionamento da arte em suas modalidades convencionais – pintura e escultura. Já que a experiência diante de uma instalação apresenta peculiaridades próprias e exige contato direto, torna-se complexo e inócuo vislumbrar essa experiência sem adentrar e vivenciar uma instalação ou conhecê-la por meio de registros ou descrições do trabalho. Em resposta a essa realidade e ao seu caráter rarefeito e a priori tautológico, o ensino de arte, muitas vezes, não se aprofunda ou mesmo negligencia este conteúdo, tão caro e exemplar para compreender o mundo e suas vicissitudes. Após conhecer as instalações da exposição moradas do íntimo, suas trajetórias e histórias, você poderá estender as reflexões sobre essa temática em sala de aula. A seguir, dispomos uma série de imagens, a partir das quais você poderá estabelecer um percurso pela história da instalação com seus alunos. No Brasil... Observe as características das instalações da década de 70, tais como a ênfase às questões conceituais e perceptivas, e a neutralidade marcadas pelo racionalismo da Arte Conceitual: Helio Oiticica 1937 (Rio de Janeiro) – 1980 (Rio de Janeiro) O grande núcleo (1960) Hélio Oiticica é um artista cuja produção se destaca pelo caráter experimental e inovador. Seus experimentos, que pressupõem uma ativa participação do público, são, em grande parte, acompanhados de elaborações teóricas, comumente com a presença de textos, comentários e poemas. Pode-se identificar duas fases na obra de Oiticica: uma mais visual, que tem início em 1954 na arte concreta e vai até a formulação dos Bólides, em 1963, e outra sensorial, que segue até 1980. Éden (1969) Em 1960, cria os primeiros Núcleos, também denominados Manifestações Ambientais e Penetráveis, placas de madeira pintadas com cores quentes penduradas no teto por fios de nylon. Neles tanto o deslocamento do espectador quanto a movimentação das placas passam a integrar a experiência. Cildo Meireles 1948 - Rio de Janeiro. No final da década de 1970, Cildo Meireles passa a explorar através de seus trabalhos, a capacidade sensorial do público (gustativa, térmica, oral, sonora) como chave da fruição estética, e em detrimento da predominância visual das artes plásticas. Emprega cada vez mais, mas sempre em função de uma idéia, materiais precários, efêmeros, de uso cotidiano e popular. Particularmente na década de 80, Cildo Meireles não aderiu à proposta de revitalização da pintura, como grande número de artistas da geração 80 a fizeram. Ele seguiu com sua produção conceitual de múltiplas linguagens e suportes empregados. Entretanto, perpassando décadas e acumulando estilos e idéias, este artista - sendo um seguidor e fomentador da contravenção Duchampiana de dessacralizar a arte - incorpora em seu repertório um citacionismo irônico da tradição da arte que domina nos anos 80. Deste modo, ele promove amplas possibilidades de expressão sobre a escultura desmobilizada de preceitos formais. Vale dizer, que a intensa produção de Cildo Meireles, ainda em andamento, ampliou seu campo criativo ao inserir instalação, objeto e tecnologia. Além disso, ele reafirmou seu compromisso com o público e não com o mercado de arte. Seu trabalho simboliza o máximo grau atingido pela relação aberta entre linguagem e interação. Desvio para o vermelho I: Impregnação, II: Entorno, III: Desvio (1967-84) A instalação Desvio para o vermelho, obra de Cildo Meirelles, é composta por um espaço tridimensional monocromático. Um espaço vemelho! Por que vermelho? Que sensações esta cor transmite? Que objetos compõem a instalação? Que lugar é esse? Desvio para o vermelho I: Impregnação, II: Entorno, III: Desvio (1967-84) O ambiente em Desvio para o vermelho não é nem um quarto, nem um escritório ou uma sala, nem mesmo uma cozinha, seria uma casa inteira? É um ambiente indefinido, pois apresenta móveis e objetos misturados: quadros, esculturas, móveis, roupas e tapetes. Uma máquina de escrever, um laptop passando um vídeo - mostrando a mutação da casa desde sua primeira apresentação nos anos 80 - uma geladeira, um guarda-roupas cheio, mesa, elementos que estruturam um espaço familiar a todos, mas, particularmente, vermelho.