ESTRATÉGIA DE DIVERSIFICAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO NUMA PEQUENA EMPRESA DE CONFEITO DE AMENDOIM DA CAPITAL NACIONAL DO ALIMENTO: ESTUDO DE CASO DA YUPPIS ALIMENTOS Vânia Érica Herrera1 Andréia de Abreu2 Nerissa de Araujo Siqueira3 RESUMO O presente trabalho procura apresentar a estratégia de diversificação e diferenciação realizada por uma pequena empresa de confeitos de amendoim, localizada no cluster alimentício de Marília. Tal empresa, partiu para a diversificação e diferenciação, para conseguir continuar sobrevivendo de forma satisfatória num mercado que é muito competitivo, tanto local, regional, quanto nacionalmente. Algumas estratégias adotadas pela empresa, foram bem sucedidas, outras não. Verifica-se que produzir para terceiros, sendo estes grandes empresas, tornou-se um atrativo interessante para a empresa. Tal estratégia demandou elevado investimento em maquinaria, matéria-prima e mão-de-obra. Mas, tal parceria não perdurou por muito tempo, o que acarretou para a empresa, grandes prejuízos. Logo, empresas de porte pequeno, antes de partir para qualquer estratégia, deve utilizar-se de estudos prévios para não incorrer em grandes erros, comprometendo inclusive a sobrevivência da empresa. Palavras-chave: estratégia, diversificação, diferenciação, amendoim, pequena empresa. 1 Economista, MSc. Engenharia de Produção – UFSCar; Prof.ª Pesq. do Centro Universitário Eurípides de Marília – UNIVEM. E-mail: <[email protected]>. 2 Graduanda em Administração com ênfase em Comércio Exterior – UNIVEM; Auxiliar de Pesquisa dos Cursos de Administração do UNIVEM. 3 Graduada em Administração de Empresas – UNIVEM. 2 1 INTRODUÇÃO O mercado como um todo vive em constante modificação. Mudam-se as maneiras de se produzir, os recursos, as tecnologias, buscando sempre atingir um nível de excelência superior àquele até então utilizado. Justificativa para esta constante evolução pode ser dividida em duas grandes partes: a primeira direcionada à exigência dos consumidores, que buscam produtos qualificados e inovadores que atendam as suas necessidades e desejos. A segunda retrata a concorrência acirrada que o mercado presencia, onde a globalização é a principal responsável, já que as empresas são beneficiadas pela rapidez com que as tecnologias são repassadas, o que ocasiona uma produção maior, com reduções nos preços, possibilitando assim, atender a uma maior fatia do mercado. Porém, a globalização tem seus efeitos colaterais representados pela crescente concorrência, pois o mercado agora já não é mais regional e sim mundial. Como as empresas concorrem com outras de toda parte do mundo, somente aquelas que possuem um diferencial sobreviverão neste mercado. As micro e pequenas empresas (MPE’s) são as mais prejudicadas por estas constantes alterações no mercado, onde se destacam a ineficácia nas decisões estratégias, a falta de recursos, de capacidade de seus responsáveis em colocar a empresa em uma situação competitiva no mercado. Contudo, Wright (2000, p.210), relata que as empresas pequenas possuem uma superioridade competitiva em relação às unidades de negócio de porte médio, incluindo a flexibilidade em satisfazer as demandas especificas do mercado e sua reação potencialmente mais rápida as mudanças ambientais, e em virtude dos investimentos menores, as pequenas empresas podem buscar pequenos pedidos que não seriam lucrativos para empresas de porte médio. O presente trabalho objetiva analisar a estratégia de diversificação e de diferenciação em uma pequena empresa de alimentos situada no cluster alimentício da cidade de Marília - Yuppis Alimentos Ltda - atuante no mercado de confeitos de amendoim. Este mercado é muito interessante por três motivos: o primeiro é por ser constituído por um grande número de concorrentes, só em Marília oito empresas estão neste ramo; o segundo motivo está direcionada a grande variedade de produtos de amendoim; e o terceiro é representado pela qualidade deste produto, pois apesar da qualidade ser um pré-requisito em qualquer produto, e principalmente aqueles do ramo alimentício, o amendoim possui um agravante - a aflatoxina - substância altamente tóxica e carcinogenética para o homem e animais - um problema que influi diretamente na qualidade. O intuito é verificar como esta empresa se comporta no mercado em relação aos seus produtos, a qualidade, a variedade, a diferenciação que possa contribuir para sua melhor colocação no mercado. É focado, principalmente sob a ótica da estratégia de diversificação e diferenciação dos seus produtos e negócios, como eles ocorrem, quais os maiores problemas enfrentados por esta empresa em relação aos seus grandes concorrentes, como a mesma 3 verifica a necessidade de ampliar a sua gama de produtos e principalmente como vêem o mercado e quais ações acham mais significativas para obter sucesso. Para atingir o objetivo do estudo, o trabalho apresenta inicialmente uma revisão teórica sobre os conceitos de diversificação e diferenciação. Após, é demonstrado a estratégia de crescimento de pequenas empresas. Depois, é apresentado o estudo de caso da Yuppis Alimentos Ltda, bem como suas estratégias de diversificação e diferenciação. E, finalmente, é apresentado a conclusão acerca do trabalho. 2 A ESTRATÉGIA DE DIVERSIFICAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO: UMA ABORDAGEM TEÓRICA Oliveira (1993) enquadra a estratégia de diversificação e diferenciação como uma estratégia de desenvolvimento, onde a empresa tendo pontos fortes e o mercado apresentando oportunidades pode procurar novos mercados e clientes, novas tecnologias diferentes daquelas que a empresa domina. Ela pode tanto procurar aumentar as vendas através da expansão do seu mercado, ou seja, atuar em novos mercados geográficos, como pode desenvolver novos produtos e serviços, através de novas características dos produtos e serviços, como variações de tamanhos, embalagens etc. Faz-se necessário, portanto, analisar teoricamente os dois conceitos de forma separada, para a melhor compreensão das duas estratégias. 2.1 A ESTRATÉGIA DE DIVERSIFICAÇÃO A estratégia mais forte do desenvolvimento de uma empresa é para Oliveira (1993) a estratégia de diversificação. Esta estratégia pode assumir alguns aspectos, dentre eles pode-se destacar: a) diversificação horizontal – onde a empresa concentra o seu capital, pela compra ou associação com empresas similares; b) diversificação vertical – onde a empresa passa a produzir novo produto ou serviço, que se acha entre o seu mercado de matérias-primas e o consumidor final do produto que já se fabrica; c) diversificação concêntrica – diversificação da linha de produtos, com aproveitamento da mesma tecnologia ou força de vendas, oferecendo uma quantidade maior de produtos no mesmo mercado; d) diversificação conglomerativa – diversificação de negócios em que a empresa não aproveitará a mesma tecnologia ou força de vendas. Em sua obra, Kon (1994, p.83) enquadra as estratégias de diversificação e diferenciação como estratégias de crescimento, afirmando que as empresas capitalistas 4 buscam o acúmulo de capital, representado pela procura de novas oportunidades de crescimento da produção e de aplicação do capital acumulado. Se a empresa optar por uma estratégia que tenha com objetivo introduzir novos produtos com ou sem semelhanças tecnológicas com aqueles que ela produz, atendendo o mesmo grupo ou diferentes grupos de clientes, esta estratégia é denominada como estratégia de diversificação. Esta entrada em um novo mercado, segundo Kon (1994, p.91 e 95) pode implicar a produção de uma mercadoria que já esteja sendo fornecida por outras empresas daquele mercado, ou pela introdução de um novo produto, o que consistirá na diferenciação do produto para aquele mercado, como também pode ser constituída pela integração vertical, que tem um papel preponderante no crescimento da empresa. Esta integração envolve um aumento no número de produtos intermediários produzidos pela firma para seu próprio uso. A diversificação pode ser voltada para a substituição de insumos comprados de outras empresas por produção própria, integrando-se “para trás” ou para a distribuição e outros serviços para frente na cadeia de produção –distribuição-consumo. 2.2 A ESTRATÉGIA DE DIFERENCIAÇÃO Kon (1994), ao abordar a estratégia de diferenciação enfatiza a idéia de que os compradores não possuem conhecimentos suficientes sobre as alternativas de oferta, apresentando uma incapacidade para comparar os preços relativos de diversos produtos rivais. Mas, alerta que, quando esta diferença é expressa nos produtos os consumidores possuem preferências irracionais, que conduzem suas aquisições, pois quando as diferenças em qualidade são patentes, o comprador é menos sensível a concorrência entre preços. Afirma ainda que esta capacidade limitada dos consumidores de comparar qualidades motivou a estratégia dos empresários de oferecer tipos e qualidades diferentes dos produtos concorrentes, ou seja, diferenciar os produtos. Esta diferenciação se revela através de mercadorias que ofereçam, mesmo que aparentemente, qualidade superior ou preferível em relação aos seus concorrentes. Portanto, Kon (1994, p.87) aborda a diferenciação de um produto como a introdução, na gama de produtos de uma empresa, de uma nova mercadoria que tenha característica de ser substituta próxima de outra anteriormente por ela produzida, e que será comercializada em seus mercados. Alerta que a diferenciação pode estabelecer-se não só através de traços próprios do produto, ou características exclusivas que são patenteadas, mas também por marcas registradas ou marcas industriais que adquirem uma conotação de prestígio. Então, a diferenciação pode originar tanto produtos similares daqueles produzidos pela empresa, com características distintas em relação a natureza do produto, embalagem, tamanho, qualidade e particularidades do desenho, cor e estilo, como também por uma marca forte no mercado. 5 Porter (1990, p.9) ao dissertar sobre as estratégias que uma empresa pode optar para obter uma vantagem competitiva, relata que só há duas opções: custos baixos e diferenciação. O mesmo autor (1990) observa que a lucratividade de uma empresa não depende apenas da posição que ela ocupa, em relação aos seus concorrentes, mas também da estrutura setorial em que atua. Assim, Porter (1990) disserta sobre as "estratégias genéricas", classificando-as em três categorias: diferenciação, que consiste em procurar projetar uma forte identidade própria para o serviço ou produto; liderança em custo, oferecer um produto ou serviço mais barato; e foco, consiste em selecionar um nicho no mercado e dominar os recursos para explorá-la da melhor forma possível. Ao detalhar as estratégias genéricas Porter (1990, p.11) relata que na liderança por custo total, a empresa tem um escopo amplo e atende a muitos segmentos industriais, exigindo altos investimentos nas instalações, em escala eficiente, redução constante de custos a partir da experiência da organização, controle rigoroso do custo e das despesas gerais e minimização do custo em áreas como P&D, assistência ao cliente, força de vendas etc. Com preços equivalentes ou mais baixos do que seus rivais, a posição de baixo custo de um líder no custo traduz-se em retornos mais altos. Um líder em custo não pode, contudo, ignorar as bases da diferenciação. Afirma que se o produto não é considerado comparável ou aceitável pelos compradores, um líder de custo será forçado a reduzir os preços bem abaixo de sua posição de custo favorável. Na estratégia de diferenciação, ao contrário de custo, uma empresa procura ser única em sua indústria, ao longo de algumas dimensões amplamente valorizadas pelos compradores. Ela seleciona um ou mais atributos, que muitos compradores numa indústria consideram importantes, exigindo que a empresa escolha atributos que sejam diferentes dos seus rivais. Porter (1990), salienta que os meios para a diferenciação são peculiares a cada indústria, podendo ser baseada no próprio produto, no sistema de entrega pelo qual ele é vendido, no método de marketing e em uma grande variedade de outros fatores, e para tanto necessita de altos investimentos em P&D, desenvolvimento do produto e marketing, além de pessoas criativas e qualificadas. Ao contrário das duas estratégias genéricas, custo e diferenciação, que buscam alcançar seus objetivos no âmbito de total da indústria, a estratégia de Enfoque está baseada na escolha de um ambiente competitivo estreito dentro de uma indústria, ou seja, o Enfoque procura atingir seus objetivos em um segmento específico, seja ele: grupo comprador, linha de produtos ou mercado geográfico. A estratégia de enfoque tem duas variantes. No enfoque no custo, uma empresa procura uma vantagem de custo em segmento-alvo, enquanto no enfoque na diferenciação uma empresa busca a diferenciação em seu segmento-alvo. 6 A respeito desse assunto, Day (1990, p.42) afirma que a superioridade competitiva é revelada no mercado, como uma combinação de valor superior para os clientes e custo mais baixo na entrega. A empresa é diferenciada quando é considerada superior em atributos que são importantes para os clientes, e este valor superior é criado quando os benefícios auferidos pelos clientes, devido a esse desempenho superior valem mais que o preço mais alto que eles tem de pagar. Para a empresa obter uma vantagem em custos, é preciso desempenhar a maior parte das atividades a um custo inferior aquele dos concorrentes. Ao definir estratégia de diferenciação através da oferta de valor superior ao cliente, Day (1990, p.204) atribui a uma ou mais de algumas armadilhas, quando os pontos de superioridade não são importantes para os clientes, ou não há benefícios para eles, quando a adição de características torna custosa para a empresa, e quando o cliente não estiver consciente de que existe uma diferenciação, conseqüência de problemas de comunicação. Kotler (1998, p.254) também define diferenciação como o ato de desenvolver um conjunto de diferenças significativas para distinguir a oferta da empresa das ofertas de seus concorrentes. Complementa que o número de oportunidades de diferenciação varia com o tipo de setor industrial. 3 ESTRATÉGIAS DE CRESCIMENTO PARA EMPRESAS DE PEQUENO PORTE As estratégias para empresas de pequeno e grande porte são tratadas por alguns autores separadamente, pois, estas atuam em mercados onde o público alvo tem necessidades e sensibilidade aos preços distintos, assim devem ser abordados de maneiras diferentes levando em conta as suas características. Seguindo este raciocínio Wright (2000, p.185) sugere para as pequenas unidades de negócios, estratégias de nicho-custos baixos, nicho-diferenciação e nicho custos baixos/diferenciação, e para grandes unidades de negócio indica estratégias de custos baixos, diferenciação e custos baixos-diferenciação, e em alguns casos, a grande unidade pode empregar a combinação dessas estratégias, abordando como estratégias múltiplas. Definindo as estratégias para pequenas unidades de negócios, Wright (2000) informa que as unidades de negócio que adotam estratégia de nicho-custos baixos produzem mercadorias e serviços sem sofisticação para clientes que são sensíveis aos preços. Na estratégia de nicho-diferenciação, recomenda adotá-la em negócios que produzem bens ou serviços altamente diferenciados que suprem as necessidades especializadas de uma estreita faixa de clientes ou um nicho de mercado, e a última, estratégia de nicho- custos baixos/diferenciação, destina-se às pequenas unidades de negócio, em que as unidades produzem bens ou serviços altamente diferenciados que suprem as necessidades especializadas de um grupo seleto de clientes ou um nicho de mercado, ao mesmo tempo mantendo custos baixos. Sendo assim, o autor apresenta várias 7 maneiras pelos quais as empresas podem simultaneamente diferenciar seus produtos/serviços e reduzir seus custos. Verifica-se que o tema relacionado à Vantagem Competitiva tem sido alvo de inúmeros estudos por parte de importantes pesquisadores, com a constante preocupação de orientar as empresas rumo ao sucesso continuado. Sendo assim, cada autor adota uma metodologia própria para definir qual a melhor medida de obtenção de uma vantagem competitiva, e por quanto tempo uma empresa conseguirá desfrutar de uma lucratividade acima da média do mercado ao longo do tempo. Afirmam então, que as estratégias de diferenciação tornam-se uma abordagem competitiva atrativa sempre que as necessidades e preferências do comprador forem muito diversificadas para serem completamente satisfeitas por um produto padronizado, e que tal vantagem surge quando os compradores tornam-se altamente interessados nos atributos e características que o diferenciador incorporou no produto oferecido. Conclui-se que, quanto mais forte for a atratividade do comprador pelas características de diferenciação da empresa, mais forte será a vantagem competitiva. As estratégias de diversificação também podem apresentar vantagem competitiva, pois ao ingressar em novos negócios diferentes daqueles em que atua, introduzindo um novo produto no mercado, a empresa esta diferenciando o produto para aquele mercado. É evidente que qualquer estratégia adotada pela empresa deve ser analisada e planejada para que realmente apresente bons resultados. Amato Neto (1999) citado em Rodrigues(2003) informa que algumas cidades do interior paulista têm se utilizado das vantagens oferecidas pelos clusters para se destacarem, ganhando escala e projeção no mercado nacional e internacional. Como exemplos de sucesso cita-se o setor calçadista, destacando-se as cidades de Franca, Jaú e Birigui. Já no setor de cerâmicas, destacam-se as cidades de Porto Ferreira, Jardinópolis e Itu e no setor de móveis as cidades de Votuporanga e Itatiba. Rodrigues (2003) em sua obra, aborda a cidade de Marília como um cluster alimentício, devido o seu destaque no segmento industrial com a produção de alimentos, abrigando importantes empresas tais como a Nestlé, Coca-Cola, Marilan, Bel, Xereta e Dori, além de inúmeras outras pequenas empresas do ramo. Identificou 58 empresas do ramo alimentício na cidade de Marília, das quais 74% são micro e pequenas empresas, ou melhor, 45,28% enquadradas pela classificação por faturamento são micro empresa, e 28,30% são consideradas pequena empresa. 4 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA 8 O presente estudo de caso foi realizado na empresa Yuppis Alimentos Ltda – com a marca Dingo –, uma indústria atuante no ramo de amendoim, salgadinhos de trigo e confeitos de açúcar, pertencente ao cluster alimentício da cidade de Marilia. A análise da pesquisa exploratória foi realizada através de levantamento de dados secundários e dados primários. Os dados secundários são provenientes de material oficial e público da empresa Yuppis Alimentos Ltda, e os dados primários foram obtidos através de entrevista com gerente sócio proprietário da empresa no ano de 2003. Para uma análise mais acurada, torna-se fundamental apresentar a história da empresa. Fundada em 1983, a Dingo era uma pequena fabrica de confeitos de amendoim que ocupava um espaço físico de 40m², possuía apenas uma máquina drageadeira e três funcionários. Contudo, devido à instabilidade econômica do período e sem capital suficiente para a sua gestão, em 1984 a empresa foi vendida. Após a aquisição, a empresa aumentou a sua produção em consequência da melhor exploração do mercado, e em apenas quatro meses, mudou suas instalações para um prédio de 150m². Foi a partir de então que a produção começou a ter resultados, passando a fabricar outros tipos de confeitos de amendoim como amendoim frito com ou sem pele, salgadinhos de trigo e a embalar o amendoim colorido e chocolate, vindo mais tarde a fabricá-los. Em 1996, a empresa cresceu significativamente por começar a fabricar para grandes empresas como a Fritex, uma empresa de salgadinhos de milho, a Elma Chips, Bauduco, Kibon, Chocolates Garoto e à rede de supermercados Sesi. Em 2000, adquiriu novos sócios que mudaram sua razão social para Yuppis Alimentos Ltda, mas utilizando a marca Dingo, usada em seus produtos até os dias de hoje. Tal estratégia de crescimento é conhecida como “estratégia de produção com marca do distribuidor”. A estrutura organizacional da empresa é formal, o superior hierárquico delega as atividades de acordo com a função estabelecida em cada departamento. O sistema de produção da Yuppis é a produção puxada, ou seja, produz somente o que vende, e nos meses onde ocorre uma queda na demanda (janeiro, julho e dezembro), há um controle na produção, reduzindo a quantidade produzida, porém não deixa de produzir, para evitar ociosidade, criando um estoque mínimo. Sendo assim, a produção varia de acordo com a demanda. A capacidade produtiva diária é de aproximadamente quatro toneladas com apenas um turno de oito horas, chegando a 80 toneladas ao mês. Com toda sua capacidade produtiva, a empresa não produz para outras empresas do setor (concorrentes), porém vende para grandes industrias, que adquire o amendoim embalado a vácuo para utilizar em seus produtos. As máquinas são antigas, com mais de dez anos de uso, e são controladas pelo chefe de produção, auxiliado pelos próprios colaboradores, tendo como objetivo garantir a precisão das medidas obtidas com tais equipamentos. Todas condições ambientais e físicas 9 para realização das verificações internas, manuseio e armazenamento, são garantidas para não invalidar as condições de confiabilidade dos produtos. Assim, cada maquina, material usado, rotina e estágio de produção tem os padrões estabelecidos para que se obtenham uma boa qualidade. A empresa utiliza uma tabela de inspeção de produto acabado chamada de TIP, que apresenta as verificações e os ensaios que devem ser realizados antes da liberação do produto para a expedição. Há na empresa 40 representantes e 30 distribuidores, todos autônomos, sendo monitorados pelo gerente geral, que revisa periodicamente o volume de pedidos encaminhados a empresa. Tais vendedores são orientados em como manusear e certos cuidados com amendoim, porém não existe uma padronização em expor os produtos nas gôndolas. Assim, o varejista/distribuidor dispõe os produtos da maneira que quiser. As vendas são realizadas em todo território nacional, e cada estado possui representantes atuantes, que enviam pedidos via fax, salientando que, no estado de São Paulo não há um representante nessa região, e as vendas são realizadas diretamente com a empresa, os vendedores não tem autonomia de decisão, sendo centralizada no gerente geral. Não há consignação de produtos, o que há é um prazo estipulado pela empresa de quarenta e cinco dias a contar da emissão da nota fiscal para possíveis reclamações e devoluções, entretanto, a empresa não aceita devoluções por data de validade vencida. Sendo assim, o varejista assume todas as responsabilidades por tais ocorrências como a não venda do produto. A distribuição da Dingo é terceirizada, assim a empresa utiliza transportadoras, sendo os fretes pagos totalmente pela empresa para qualquer lugar do território nacional. Os pedidos faturados são separados por regiões e distribuídos para as transportadoras que atendem as localidades destinas. As mercadorias que vão para o nordeste são levadas até São Paulo e colocadas em transportadoras que fazem os redespachos. O gerente faz toda uma pesquisa de mercado para verificar os preços de seus concorrentes e traça uma relação com os preços dos seus produtos. O preço dos produtos da empresa em comparação com o mercado é um preço acessível que permite concorrer com os outros fabricantes. Assim a empresa analisa todas as influências do mercado e os preços de seus fornecedores, para que quando for formular seu preço possa ter um nível compatível com os que estão no mercado, os produtos são vendidos pelo mesmo preço dos concorrentes. Seus maiores concorrentes são a Dori (Marília), e Santa Helena (Ribeirão Preto), estas grandes empresas são beneficiadas pela escala de produção alta, que gera custos menores e conseqüentemente preços mais reduzidos no mercado, assim muitas vezes a Dingo se vê com produtos mais caros que seus grandes concorrentes não podendo reduzi-los. Assim, muitas vezes a saída é diminuir quantidade embalada, neste mesmo sentido tem produtos que o público aceita pagar até x, 10 mais do que isto ele não paga, assim com o aumento dos preços dos suprimentos a única saída é diminuir a embalagens e manter o preço. O desenvolvimento da empresa em torno do composto de marketing é elaborar promoções para os clientes e fazer pesquisa de mercado com relação aos preços dos concorrentes. As propagandas são feitas através de caixas de amostras e catálagos enviados a diversas empresas, sendo clientes ou não. No ano de 1984 a empresa fabricava apenas um tipo de amendoim, conhecido como amendoim japonês. Ainda nos dias de hoje é o produto mais vendido representando aproximadamente 24,26% das vendas. Após quatro meses, a partir da aquisição, as vendas começaram a crescer devido a melhor exploração do mercado. Com o passar do tempo, verificou-se a necessidade de ofertar diferentes produtos já que a concorrência estava crescendo e ofertando uma grande variedade, de confeitos no mercado. Assim, em 1988, a empresa passou a fabricar amendoins fritos com pele e passou a fabricar em diferentes pesagens. Durante três anos a empresa continuou a fabricar somente os amendoins tipo japonês e frito com pele em diferentes pesagens. Contudo, verificando a possibilidade de ingressar nos confeitos doces, pois estudos comprovavam que regiões mais carentes tinham a tendência a preferirem por alimentos doces, a Dingo passou a embalar os amendoins doces coloridos e de chocolates e distribuir nas regiões que já atuava. Em 1991, com aquisição dos equipamentos necessários para a fabricação destes novos produtos, a empresa incorporou a sua produção a elaboração dos amendoins colorido e de chocolate, que juntos representam atualmente 25% dos produtos vendidos. O mercado de amendoins é marcado pela grande variedade de produtos, o que exige constante atenção aos lançamentos pelos concorrentes Assim as empresas atuantes neste mercado devem estar atentas aos lançamentos de novos produtos, pois se ficarem paradas no tempo podem perder parte de seu mercado para os seus concorrentes. Ciente dessa realidade, a Dingo vem gradativamente aumentando a sua diversidade de produtos conforme a necessidade do mercado. A empresa foi uma das pioneiras a fabricar o amendoim frito sem pele em 1992, naquele mesmo ano o amendoim torrado começou a ser fabricado. Em 1993 o amendoim tipo Ovinho começou a ser fabricado, era um tipo ainda novo no mercado mais vinha agradando uma parcela significante da população o que levoua ingressar neste novo produto. Além da análise do mercado, que é uma etapa essencial para as empresas que querem ou necessitam diferenciar e diversificar os seus produtos, é necessário que as empresas verifiquem a capacidade de produção e os recursos disponíveis e tracem um paralelo quanto a viabilidade de entrar em um novo negócio, com a produção de novos produtos diferentes ou não daqueles produzidos pela empresa. De uma forma bem racional a Dingo vem incrementando a variedade de produtos oferecidos por ela no mercado. 11 Racional, pois leva em conta os seus recursos disponíveis e os maquinários que podem ser utilizados para fabricar produtos diferentes. Analisando os recursos que poderiam ser reaproveitados e juntamente com o mercado de salgadinhos de trigo com uma margem crescente de vendas por parte de seus concorrentes, a empresa passou a fabricá-lo em 1993, o que levou a primeira diversificação de seus produtos, pois até então, tinha somente fabricado produtos a base de amendoim. Esta diversificação deu-se grande parte a fabricação do amendoim frito, pois este produto levantou a possibilidade de fabricar outros produtos que fossem fritos, o que resultou na fabricação dos salgadinhos de trigo, onde a gordura utilizada para fritar o amendoim é a mesma para fritar os salgadinhos. Com a fabricação dos salgadinhos de trigo, a gama de produtos aumentou ainda mais, pois foi necessário a diferenciação dos sabores. Para atender o gosto dos consumidores, a empresa passou a fabricar o salgadinho nos sabores pimenta, queijo, bacon e churrasco. Atualmente estes produtos representam 12% do total de vendas da empresa. Um quesito importantíssimo quando se atende a nível nacional é atentar-se aos gostos predominantes de cada região e adaptar-se a estes diferentes estilos. Com esta mentalidade a Dingo muitas vezes fabrica produtos específicos para determinadas regiões como os salgadinhos de trigo sabor pimenta , por exemplo na Bahia eles são mais apimentados. Com os resultados positivos conquistados pela empresa, em 1994 a empresa resolveu diversificar ainda mais, entrando no ramo de confeitos de açúcar. Este novo negócio está aliado não somente a sua participação significativa no mercado, mas também a ociosidade das máquinas que eram as necessárias para a fabricação destes confeitos. Desta forma, não foi preciso investimentos em equipamentos e máquinas, porém a Dingo não possuía funcionários suficientes para o processo de embalagem destes produtos, pois este processo é muito minucioso e devido a quantidade reduzida da produção seria inviável a etapa de embalagem na empresa o que levou a terceirizar esta etapa. Até 2002 a empresa manteve a sua gama de produtos somente diferenciando as embalagens, optando por estilos mais chamativos e modernos, e pesos diferenciados, quando em 2003 dois novos produtos passou a fazer parte da empresa, confeitos de amendoim crocante chocolate e crocante chocolate branco. Atualmente, além dos produtos acima citados, a empresa também fabrica amendoim em pó, pasta de amendoim e os amendoins embalados a vácuo, somando um total de aproximadamente 70 itens entre variedades de produtos. A empresa ainda possui dois produtos, a goma e delicado, na sua gama de produtos, mas estes são fabricados por uma empresa de Tupã e somente são embalados pela empresa, pois a Dingo não possui o maquinário necessário para fabricá-los e devido a quantidade demandada destes produtos o investimento para fabricá-los não se faz viável, assim a terceirização é no momento a melhor opção. 12 O gráfico abaixo mostra as participações de cada tipo de produto no faturamento do mês de abril/2003. 13 9% 5% 24% 12% 13% 16% 2% Japones Goma e delicato Ovinho Salgadinhos de trigo Chocolate 9% 10% frito com e sem pele Amendoim Picado e Pasta Colorido Cigarro de Itu A compra da matéria prima é uma etapa essencial para as empresas de um modo geral, porém no ramo alimentício, mas especificamente para as empresas que tem como matéria prima principal o amendoim, esta essencialidade sobe significativamente. A aflatoxina - contaminação do amendoim - representa sérios problemas para as empresas que produzem ou utilizam este alimento em seu processo produtivo, por serem as práticas de colheitas, secagem, armazenagem e manuseio inadequados as responsáveis pelo desenvolvimento de fungos que produzem a aflatoxina, esta por sua vez, trás conseqüências gravíssimas a saúde humana. Assim, dos insumos utilizados no seu processo produtivo é o amendoim aquele que tem maior relevância. As compras de insumos são feitas de vários fornecedores da região. A Yuppis exige dos cerealistas um laudo de aprovação do amendoim que permite a utilização sem nenhum risco de contaminação, não refaz a análise deste quando chega na empresa. Porém o processo de escolha dos cerealistas recebe bastante atenção, assim, o gerente geral da empresa, freqüentemente visita estes fornecedores de amendoim para verificar se as práticas necessárias para a boa qualidade do amendoim estão sendo respeitadas. O amendoim já vem limpo, mas é feito uma inspeção para verificar sem tem alguma sujeira, folhas, e bichos. Os amendoins são de diversas espécies, pois para cada tipo de confeito é utilizado um tipo de amendoim, chamados de debulhado, caiapó, brancos, vermelhos, e miúdo, utilizando mais o amendoim branco, devido à gama de produtos. 14 5 CONCLUSÃO É de conhecimento geral, que a globalização e o aumento da concorrência interna, está levando as empresas, a tomarem decisões estratégicas, como a diversificação e a diferenciação, de forma muitas vezes sem muita ponderação e análise, o que pode comprometer o negócio principal da empresa. Como apresentado na revisão teórica, a estratégia de diversificação e diferenciação são consideradas, por alguns autores, como uma estratégia de desenvolvimento. Através do presente estudo de caso, foi possível analisar a estratégia de diversificação e diferenciação, realizada por uma pequena empresa de confeitos de amendoim da região de Marília/SP. A estratégia de diversificação de atividades pelas empresas, acaba sendo a alternativa para continuar sobrevivendo num mercado altamente competitivo e globalizado. A empresa Dingos realizou diversas estratégias, algumas foram bem sucedidas e outras não. Uma estratégia bem sucedida foi a de diferenciação de produtos, quando a empresa verificou através de estudo prévio, que deveria produzir alimentos de amendoim, mais condimentados para atender especificamente a região nordeste do Brasil. Aumentar a gama de produtos, diversificando seu negócio, também foi uma estratégia bem sucedida, pois acaba tornando a marca mais conhecida, pois a empresa acaba atingindo diversos segmentos de mercado. Mas, na ânsia de tentar crescer, a empresa pode acabar incorrendo em grandes prejuízos. Isso fica patente, quando foi apresentado no trabalho, a estratégia de produzir para terceiros, inclusive adotando a estratégia de produzir com a “marca do distribuidor”. Trata-se de uma estratégia muito arriscada, pois demanda muito investimento financeiro e aumenta a complexidade da gestão de produção e administrativa de uma organização que, por ser pequena, ainda não está preparada para um crescimento repentino. Depois de muito investimento e de iniciar a produção, as empresas “parceiras” começaram a romper os contratos, o que começou a comprometer o funcionamento da empresa. Conclui-se que a estratégia de diversificação e diferenciação, se bem estudada e analisada, pode ser uma alternativa de crescimento para pequenas empresas do setor alimentício. Mas tal estratégia não pode ser tomada de forma indiscriminada. Aponta-se aqui que uma alternativa de sobrevivência para empresas do porte da empresa estudada, é sem dúvida nenhuma, trabalhar de forma conjunta com as empresas do mesmo porte através da formação de cluster, como também foi apresentado no presente trabalho. Através dessa estratégia, as empresas do cluster podem compartilhar os canais de distribuição, comprar insumos de forma conjunta aumentando o poder de barganha do grupo de indústrias e, finalmente, tornar a marca das empresas do cluster, conhecida de forma mais abrangente. 15 BIBLIOGRAFIA DAY, S. George. Estratégia voltada para o mercado: Market Driven Strategy; Processos para a criação de valor dirigido ao cliente. Rio de Janeiro: Record, 1990. KON, Anita. Economia industrial. São Paulo: Nobel, 1994. KOTLER, Philip. Administração de marketing: análise, planejamento, implementação e controle. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1998. OLIVEIRA, Djalma de P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologias e práticas. São Paulo: Atlas, 1997. PORTER, Michael E. Vantagem competitiva. Tradução: BRAGA, Elisabeth M. de Pinho. Rio de Janeiro: Campus, 1990. WRIGHT, Peter L.; Mark J. Kroll; John Parnell. Administração estratégica: conceitos. São Paulo: Atlas, 2000.