Universidade Estadual de São Paulo Escola de Engenharia de Lorena Separação e recuperação de bioprodutos Prof. Dr. Arnaldo Marcio Ramalho Prata Rompimento Celular Produtos associados às células requerem o rompimento ou a permeabilização. Deve-se considerar alguns fatores: Tamanho da célula Resistência a tensão de cisalhamento Necessidade de controle de temperatura Rendimento do processo Gasto de energia Capital de investimento Rompimento celular O equipamento de rompimento é selecionado com base no tipo de microrganismo, pois cada um apresenta uma resistência específica ao rompimento. A escolha da técnica de rompimento determina o tamanho dos fragmentos celulares, que por sua vez irão influenciar nas operações utilizadas para sua separação. A separação dos fragmentos celulares em solução deve ser iniciada assim que as células forem rompidas. Como resultado desta etapa o produto estará em uma solução com proteínas e outros compnentes solúveis. Rompimento Celular Características da Parede celular de microorganismos • 10 % da parede Peptideoglicano. • Membrana externa: proteínas, fosfolipideos e LPS. • Membrana interna: fosfolipideos e Peptideoglicano. • 90 % da parede Peptideoglicano. • Alguns com ácido teicóico. celular: celular: Rompimento Celular Características da Parede celular de microorganismos • 18 – 60% glucana • 20 – 23% manoproteínas • 0,6 – 2,7% quitina Rompimento Mecânico Homogeneizador a alta pressão • Constituído por pistões projetados para a aplicação de altas pressões, forçando a passagem da suspensão celular por um orifício estreito seguida de colisão contra uma superfície em uma câmara de baixa pressão. • A redução instantânea da pressão associada ao impacto provoca rompimento celular sem danificar as biomoléculas. • Rompimento celular ocorre por cavitação, turbulência e cisalhamento. • • • • A quantidade de células rompidas é proporcional à pressão empregada. Utiliza-se pressões de 5.000 a 20.000 psi Velocidades de alimentação de 180 a 280 m/s Concentrações celulares de 450 a 750 g/L (massa úmida) Rompimento Mecânico Homogeneizador a alta pressão • Células maiores se rompem mais facilmente. • O material pode ser recirculado, porém gera fragmentos menores. • O meio de cultivo pode influenciar no rompimento celular. • Amplamente utilizado na indústria • Exceto para fungos filamentosos Rompimento Mecânico Moinho de bolas • Originalmente desenvolvidos para reduzir partículas de pigmentos para indústrias de tintas. • Foram realizados testes para rompimento celular de fungos filamentosos • Projetou-se novos equipamentos adaptados para rompimento celular de fungo filamentosos, leveduras e microalgas Rompimento Mecânico Moinho de bolas • Câmara cilíndrica fechada, vertical ou horizontal . • Possui sistema de refrigeração e um eixo que gira em alta rotação • Internamente existe esferas de vidro e um ou mais discos ou hastes que giram em alta velocidade. • Rompimento ocorre pela força de cisalhamento Rompimento Mecânico Moinho de bolas • Eficiência do processo depende de: • Geometria da câmara de rompimento (Horizontais) • Velocidade (depende do microrganismo) • Tipo do agitador • Tamanho e composição das esferas (vidro, inox e cerâmica) • Carga de esferas (80-85% câmara horizontal e 50-60% câmara vertical) Rompimento Mecânico Moinho de bolas • Eficiência do processo depende de: • Concentração celular (30 a 50% v/v) • Velocidade da alimentação (depende da velocidade do agitador, da carga de esferas, da geometria do equipamento e das propriedades do microorganismo) • Temperatura (Controlada entre 5 e 15°C) Rompimento Mecânico Moinho de bolas • No aumento de escala conservar: • Tamanho das esferas. • Proporção entre volume da suspensão celular e das esferas. • Velocidade de rotação do eixo ou velocidade periférica das pás do agitador. https://www.youtube.com/watch?v=hSgpx9KWiwU https://www.youtube.com/watch?v=O2-gg0C2Asw Rompimento Mecânico Ultra-som • Ocorre por ondas sonoras, convertidas em vibrações em um meio líquido que causam o efeito de Cavitação. • Com o tempo e as vibrações, as bolhas entram em colapso, gerando uma onda de choques que circundam pelo meio líquido, produzindo uma tensão de cisalhamento. • Deve-se controlar a temperatura. • Utilizado em escala laboratorial • Inviável em grande escala. Rompimento não mecânico Choque osmótico • Células são mantidas em solução de sacarose (20%) por 30 min. • A suspenção é centrifugada e ressuspendida em água destilada a 4 °C. • Proporciona permeabilização seletiva (Proteínas). • Indicado para bactérias gram negativas (parede celular mais sensível) Rompimento não mecânico Congelamento e Descongelamento • Realizam-se ciclos de congelamento e descongelamento. • Formam-se cristais de gelo que perfuram a célula ou a lesionam. • Fatores que influenciam: • Idade da célula • Temperatura • Velocidade de congelamento e descongelamento • Processo demorado e de custo elevado. • Não indicado para biomoléculas sensíveis à variações de temperatura. • Inviável em grande escala. Rompimento não mecânico Termólise • Elevação da temperatura da suspensão celular. • Indicado para larga escala. • Amplamente utilizado para algas, fungos filamentosos, leveduras e bactérias. • Gera fragmentos celulares relativamente grandes, que são mais facilmente removidos com filtração ou centrifugação. Rompimento não mecânico Termólise • Autólise de Kluyvermyces fragilis para liberação de inulinase intracelular. • Incubação a 50%, pH 5,0-6,0, por 12-14h • Proporciona liberação de 100% • Produção de frutose pela hidrólise enzimática da inulina • Produção de frutooligossacarideos: Prébiótico Rompimento não mecânico Álcalis • Utilizado quando a biomolécula for estável a pH maior que 11 • Método simples e barato, adequado para larga escala. • Álcalis utilizados: Amônia e hidróxido de sódio. • Inativam patógenos rompimento celular. • Desvantagem: Geração de poluentes durante o Rompimento não mecânico Álcalis Extração de L-asparaginase de Erwinia carotovona Aplicação na indústria de alimentos e farmacêutica • Ajuste do pH para 11,5 por 30 min • Redução do pH para 6,5 com ácido acético • Centrifugação Rompimento não mecânico Lise enzimática • Enzimas hidrolisam a PC microbiana. • Adequado para biomoléculas sensíveis à tensão de cisalhamento. • Deve-se considerar: • Inibidores • Possibilidade de enzima • Pode sofrer influencia de: • pH • Temperatura • Substrato • Enzima reciclo da Rompimento não mecânico Lise enzimática Modo de ação: Quando parte da parede é rompida a pressão osmótica interna rompe a MP, extravasando o conteúdo intracelular. Rompimento não mecânico Lise enzimática Lisozima comercial • Obtida da clara do ovo • Eficiente para Gram positiva (ligações glicosídicas β- 1,4) • Gram negativa necessita de pré-tratamento para desestabilizar a membrana externa Rompimento não mecânico Lise enzimática • Vantagens: • Fácil controle de pH e temperatura • Alta especificidade para degradação da parede celular • Pode ser associada a outros métodos • Desvantagem: Alto preço da enzima Rompimento não mecânico Solventes Invertase: Catalisa a hidrólise da sacarose em frutose e glicose Produção de xarope invertido Aplicação na indústria de alimentos • Liberação de enzimas intracelulares ou localizadas no espaço periplasmático • Invertase – Leveduras • • • Suspensão com 60% células (massa úmida) a 40°C Tolueno 0,1 M Precipita a invertase com etanol 95% (v/v) Rompimento não mecânico Detergentes Extração de colesterol oxidase presentes em células de Nocardia sp em larga escala Detecção de colesterol • Triton 0,5% Rompimento não mecânico Detergentes • Dissociam proteínas e lipoproteínas das paredes celulares, formando poros. • A célula pode ser totalmente rompida. • Detergentes utilizados: • Lauril sulfato de sódio. • Dodecil sulfato de sódio (SDS). • Triton. • Desvantagens: • Formam espuma. • Desnaturam ou precipitam proteínas. Purificação de baixa resolução Precipitação • Operação muito adotada em escala de laboratório e industrial • Empregada nas etapas iniciais do processo de purificação • Aplicado na purificação de proteínas • A precipitação altera as propriedades químicas ou fisicas da molécula, causando a formação de partículas insolúveis que podem ser posteriormente recuperadas. • É considerado um método de concentração, reduz o volume inicial. • Viável quando a conformação da biomolécula não é alterada. Rompimento não mecânico Solventes • Utilizados como químicos das células. • Indicado para biomoléculas que não sejam desnaturadas na presença do solvente empregado. • Solventes utilizados: • Etanol • Metanol • Tolueno • Acetona desidratantes Purificação de baixa resolução Precipitação • Vantagens: • Facilidade na operação • Processo contínuo • Equipamentos simples • Agentes precipitantes possuem baixo custo • Técnicas: • 1° Solubilidade é reduzida por alteração no solvente, pela adição de sais ou solventes orgânicos. • 2° Diminiução da solubilidade por alteração da própria proteína, com mudança de carga pela adição de ácidos e bases, ou precipitantes catiônicos ou aniônicos, ou interações com íons metálicos. Purificação de baixa resolução Salting-out • Reduz o volume inicial e aumenta a concentração do bioproduto. • Ocorre em concentrações salinas de 1,5 a 3,0 mol/L. • Sais utilizados: • Citrato de sódio • Sulfato de sódio • Sulfato de amônio • Princípio: • Reduz a disponibilidade de água, devido a hidratação dos íons adicionados. • Reduz a disponibilidade de moléculas de água que circundam as zonas hidrofóbicas da superfície das proteínas. • Precipitação por interação entre as zonas hidrofóbicas de moléculas de proteínas. Purificação de baixa resolução Salting-out • Aumento da temperatura pode favorecer a precipitação das proteínas, porém aumenta o risco de desnaturação. • Sulfato de amônio • Ação estabilizante sobre a proteína. • Pode promover estabilidade por anos. • Protege contra proteólise e ação bacteriana. • Desvantagens: • Material corrosivo • Difícil disposição final • Em produtos alimentícios pode causar gosto • São tóxicos em uso clínico, devem ser removidos. Precipitação Salting-out • Larga escala é difícil reproduzir a mesma eficiência • Controle de lotes deve ser rigoroso • É difícil manter a homogeneidade do sistema Ultrafiltração Purificação de protéínas Filtração em membranas com poros de diâmetros de 0,001 a 0,1 µm, sob pressão transmembrana; Usado para concentrar proteínas ou polissacarídeos. Água e pequenas moléculas são filtradas Poros da membrana não são uniformes. O tamanho do poro deve ser 20% menor que a molécula alvo Resolução da técnica é baixa Extração em sistema de duas fases Ocorre em duas fases líquidas imiscíveis: Fase aquosa e solvente Aplicado em proteínas sensíveis à desnaturação Molécula alvo e as impurezas são separadas pelas diferentes solubilidades nas fases líquidas. Aplicada de acordo com carga elétrica, hidrofobicidade e massa molecular. Purificação de proteínas e partículas de células Extração em sistema de duas fases Ocorre em duas fases líquidas imiscíveis: Fase aquosa e solvente Sistemas utilizados: polietilenoglicol (PEG)/Dextrana (Dx) polipropilenoglicol (PPG)/Sulfato de dextrana de sódio (PPG) PEG/Fosfato de potássio PEG/Sulfato de Magnésio PEG/Citrato de sódio Extração em sistema de duas fases • Pode ser aplicado na remoção de células e fragmentos • Podem reduzir o número de operações unitárias do processo, porque pode clarificar o meio e fracionar proteínas. • Completa separação requer de 5 a 30 min, dependendo da concentração e massa molecular do polímero Extração em sistema de duas fases Exemplo: • Extração de amiloglicosidase extracelular produzida por Aspergillus awamori. • Fases PEG/fosfato • Maior parte dos contaminantes foram extraídos na parte superior • Enzima permaneceu na fase salina, totalmente recuperada. Extração em sistema de duas fases Vantagens: • Possibilidade de operação contínua temperatura ambiente. em larga escala à • Manutenção de proteínas em solução em meio a polímeros ou sais protegem da desnaturação. • Possibilidade de eliminação de algumas etapas do processo de purificação para moléculas intracelulares, devido à extração de células e seus fragmentos simultaneamente ao fracionamento de proteínas e outras moléculas. Purificação de alta resolução: Cromatografia • Solutos (Metabólitos celulares) presentes no meio líquido são retidos em um leito de material poroso, por adsorção (química ou física) ou partição e removidos por uma fase líquida móvel (eluente). • Fase estacionária pode ser polímeros orgânicos sintéticos, sílica porosa ou polímeros de carboidratos. • A remoção ocorre pela passagem de um eluente ou fase móvel por migração. Purificação de alta resolução: Cromatografia • Fase estacionária é empacotada em uma coluna • Fase móvel é bombeada na fase estacionária • O volume que passa pela coluna até o instante da saída da molécula é o volume de retenção Cromatografia Processos Cromatográficos mais utilizados: Gel de filtração ou exclusão molecular: Baseada na separação de moléculas em função de seu volume efetivo na solução. Cromatografia de troca iônica: Baseado na afinidade que componentes de uma amostra têm com sítios iônicos em uma matriz sólida. Cromatografia Exclusão Molecular Moléculas sofrem partição em virtude das diferenças de tamanho das espécies. Solução de proteínas flui por gravidade ou auxílio de bombas, por uma coluna preenchidas por esferas microscópicas, equilibrado com tampão. Moléculas menores penetram em todos os porors e movem-se lentamente Cromatografia Exclusão Molecular • Método mais simples e suave • Matrizes utilizadas nas colunas: • Dextrana • Agarose • Poliacrilamida • Sílica • Devem ser considerados: • pH • Eluente compatível com o produto • Seleção do gel com base na sua porosidade e compatibilidade com o pH a ser adotado. Cromatografia Troca iônica Ocorre uma adsorção reversivel de moléculas de solutos eletricamente carregados a grupos com cargas opostas, imobilizados em matriz sólida. Os solutos adsorvidos são subsequentemente eluídos aopós serem trocados por outros íons com o mesmo tipo de carga, porém com maior afinidade pela fase estacionária. Os diferentes graus de afinidade eletrostática entre a fase estacionária e os íons da fase móvel que regem esse tipo de cromatografia Cromatografia Troca iônica Matrizes empregadas: Materiais porosos, naturais ou sintéticos, inerte, insolúvel em água e solventes orgânicos, apresentando ligações covalentes a grupos trocadores iônicos • Celulose • Agarose • Dextrana • Poliacrilamida Tratamentos finais Liofilização Remoção do solvente por sublimação. Material é congelado e submetido à baixa pressão para sublimação da água livre. No congelamento a água é transformada em gelo com alto grau de pureza e os solutos são concentrados. Materiais liofilizados estão em forma de pó e a atividade biológica se mantem por maior tempo. Tratamentos finais Cristalização Agregação de cristais de moléculas presentes em soluções homogêneas supersaturadas Purificação de proteínas e enzimas Devem ter elevado grau de pureza Compostos cristalizados são estáveis