1 Curso de Medicina Veterinária Disciplina de Alimentação Animal Apontamentos de aula - 2011 ESTUDO DOS NUTRIENTES – CARBOIDRATOS Leia os livros-textos, onde esse assunto está muito melhor apresentado! Contribua para a construção desta apostila apontando incorreções e enviando sugestões. [email protected] carboidratos = “oses” ou hidrocarbonetos substâncias orgânicas constituídas de C, H e O, na proporção 1:2:1 p. ex.: C6H12O6 (glicose) fórmula geral Cn(H2O)n alguns álcoois (como os inositóis) são incluídos no estudo dos carboidratos. Classificação dos carboidratos quanto ao nível de polimerização: açúcares = < 10 cadeias monossacarídicas não-açúcares xilose ribose pentoses C5H10O5 monossacarídios glicose (dextrose) galactose manose frutose (levulose) hexoses C6H12O6 Açúcares sabor + doce macrocristalinos hidrossolúveis dissacarídios C12H24O12 sacarose (cana) glicose + frutose lactose (leite) galactose + glicose maltose (grãos germinados) 2 glicoses lig celobiose (unidade básica da celulose) trealose ( fungos e algas) trissacarídios C18H32O16 oligossacarídios (3 a 10 unid. sacar.) rafinose estaquiose tetrassacarídios C24H42O21 tetrassacarídios outros oligossacarídios C24H42O21 pentosanas (unidade básica da hemicelulose) polissacarídios hexosanas Não-açúcares heteropolissacarídios celulose glicogênio em animais amido em vegetais dextrinas hemicelulose resinas vegetais pectinas mucilagens (ágar) 2 Monossacarídios nos alimentos, são poucos os monossacarídios livres - apenas glicose e frutose. Ocorrem também pequenas quantidades de galactose, manose, xilose, ramnose e mioinositóis, como subprodutos da hidrólise de oligossacarídios da família da rafinose ou provenientes de polissacarídios como a hemicelulose. Os mioinositóis (xilitol, manitol e sorbitol, que não são estritamente carboidratos, e sim álcoois) são empregados como umectantes em alimentos de umidade intermediária. Na dieta animal, as principais fontes de monossacarídios são o mel e confeitos açucarados (destinados a animais de companhia). Já na forma conjugada, a glicose está presente na dieta através do amido e da celulose, bem como em todos os dissacarídios comestíveis. A frutose (açúcar de frutas) é considerado o monossacarídio de maior doçura. Quando as frutas amadurecem, elas tornam-se mais doces devido sua sacarose clivar-se em glicose e frutose. 1 Nomenclatura dos monossacarídios (IUPAC-IUB, 1982 ) os açúcares simples podem ser designados por uma abreviatura formada por três letras do seu nome (p. ex. glicose = Gli ou Glc). Em solução aquosa, apenas 0,02% dos monossacarídios estão presentes na sua forma aberta. O restante das moléculas está ciclizada na forma de um anel hemiacetal de 5 vértices (furanose - f) ou de 6 vértices (piranose - p). No anel, o carbono onde ocorre a formação do hemiacetal é denominado carbono anomérico, e sua hidroxila pode assumir 2 formas: alfa () quando fica para baixo do plano do anel beta () quando fica para cima do plano do anel O tipo de enlace (ligação sacarídica) é indicado por setas, como em A - (14)-B. Exemplo para a sacarose: -D-Glip-(1 2)--D-Fruf. Fig 1 – principais isômeros da glicose (dextrose) Fig. 2 – estrutura química da frutose. É quando dissolvida em água, a glicose se apresenta o açúcar natural mais doce como uma mistura de 64% de - e 36% de - piranose. Dissacarídios o mais conhecido é a sacarose (presente na cana-de-açúcar, na beterraba, na uva etc). Outro dissacarídio importante é a lactose, sintetizada pela glândula mamária e presente 1 International Union of Pure and Applied Chemistry - www.chem.qmul.ac.uk/iupac/ 3 no leite. Nas frutas e verduras existem quantidades pequenas de maltose (dissacarídio que se repete no amido) e celobiose (unidade que se repete na celulose), provenientes da hidrólise de grandes polímeros. A sacarose apresenta elevada solubilidade (490 g/100 cm 3 a 100oC), o que permite a obtenção de xaropes com apenas 10-12% de umidade. Pode transformar-se em caramelo quando aquecida e, nas conservas, favorece a formação de géis. Pode ser usada como conservante, devido sua capacidade de reduzir a atividade de água das soluções. Em confeitaria, pode ser empregada na forma de pó microcristalino (maior superfície), que permite grande absorção de aromas e corantes. A sacarose é hidrolisada facilmente em soluções ácidas fracas. Oligossacarídios (oligos = poucos) contêm de três a dez unidades de sacarídios (C-O-C – unidades de açúcares simples). As ligações sacarídicas desses polímeros de açúcares simples não são quebradas pelas enzimas do TGI, portanto eles são relativamente indigestíveis (podem ser aproveitados apenas se houver fermentação microbiana). SLAVIN (2.003) classifica os oligossacarídios como carboidratos integrantes da fibra dietética. Amido embora seja igualmente um polímero de açúcares simples, pode ser hidrolisado pelas amilases. Principais tipos de oligossacarídios a rafinose e a estaquiose são os dois principais oligossacarídios de importância nutricional. A rafinose é encontrada na beterraba açucareira (mas não na cana-de-açúcar), nos cereais e nas raízes e tubérculos. A estaquiose é o único tetrassacarídio presente com freqüência em raízes comestíveis e leguminosas. Esses oligossacarídios produzem flatulência, devido sua fermentação, sob a ação de microrganismos no intestino grosso, gerar CO2 ou CH4. (além de AGV - ácidos graxos voláteis). No caso de formação de metano, ocorre desperdício de energia da dieta. Há alguns aditivos alimentares enzimáticos (p. ex. beano) que podem ser empregados para degradação de oligossacarídios. fruto-oligossacarídios (FOS) polímeros de frutose. são prebióticos atuam como fonte de nutrientes para bifidobactérias do TGI inferior. Tais microrganismos são considerados desejáveis (bactérias probióticas) por controlar a população intestinal de bactérias patogênicas tais como Salmonella. manano-oligossacarídios (MOS) polímeros de açúcares do tipo manana. Também são utilizados como aditivos, promovendo a adsorção de micotoxinas e impedindo sua passagem pelo epitélio intestinal. A parede celular de leveduras é uma das principais fontes de MOS. prebióticos (frutooligossacarídios, inulina ou oligofrutose) são alimentos funcionais que têm a capacidade de estimular o crescimento de bactérias probióticas (desejáveis). Portanto, os prebióticos não devem sofrer hidrólise nem absorção no intestino delgado. Ao atingirem o cólon, devem ser metabolizados seletivamente por determinadas bactérias benéficas, potencializando o crescimento destas e induzindo efeito fisiológico importante para a saúde. probióticos são organismos vivos que, quando ingeridos em determinada quantidade, exercem efeitos benéficos para a saúde. Exemplos: Lactobacilus acidophilus, L. casei, L. bulgaricus, L. lactis, L. plantarum; Streptococcus termophilo; Enterococcus faecium, E. faecalis; Bifidobacteria bifidus, B. longus e B. infantis. Ação do FOS (carboidratos formados pela polimerização de menos de dez frutoses ) é fermentado a ácidos graxos voláteis (AGV) no intestino grosso fonte de energia p/o indivíduo. a presença de AGV tende a reduzir o pH intestinal, inibindo a proliferação de bactérias como Salmonela (patogênicas) e Escherichia coli. reduz o teor de MS fecal (23,0% x 19,6%) fezes mais macias 4 possíveis efeitos indesejáveis acidose sistêmica e diarréia. Ação do MOS estimula o sistema imunológico (eleva o título de anticorpos intestinais). é capaz de ligar-se a certas bactérias patogênicas e evitar sua aderência ao intestino (a primeira fase da infecção intestinal). pode melhorar a digestibilidade da fibra solúvel (fibra de fermentação média). pode reduzir o teor fecal de amônia e deslocar a síntese de AGV. Inulina - é um precursor de FOS. A inulina reúne todo um grupo de carboidratos pertencentes à classe das frutanas (polímeros de frutoses), em cuja extremidade terminal há uma glicose. O número de frutoses nos diferentes tipos de inulina varia de 20 a vários milhares. Quando a inulina é hidrolisada, resultando em cadeias inferiores a dez frutoses, temos um FOS. A fórmula molecular geral é C6nH10n+2O5n+1 e a fórmula estrutural é a seguinte: uma glicose muitas frutoses A inulina é encontrada em raízes e rizomas (caules subterrâneos) de diversas plantas, como as chicórias (escarola, endívia etc). A maioria das plantas que utilizam a inulina como tecido de reserva de energia, não armazena amido. A inulina é classificada como um carboidrato fibroso (fibra solúvel). Já que o organismo animal não tem enzimas capazes de hidrolisar a inulina crua, seu aproveitamento só é possível pela digestão microbiana presente no TGI. Assim, quando ingerida crua e em grande quantidade, e especialmente em indíviduos sensíveis ou desacostumados ao seu consumo, pode gerar desconforto pela elevada produção de gás no intestino. A hidrólise provocada pelo cozimento (e outras formas de processamento) dos alimentos pode melhorar a utilização da inulina. A energia obtida pela digestão microbiana da inulina equivale a apenas 1/3 a ¼ da energia do açúcar (sacarose) ou do amido, e a 1/6 a 1/9 da energia das gorduras, portanto seu uso pode ser uma alternativa para formular dietas hipocalóricas, substituindo farinhas e açúcar. A inulina também aumenta a absorção do cálcio (e talvez a do magnésio) contidos na dieta, então é útil na prevenção da osteoporose e outras doenças esqueléticas. Tem um impacto mínimo sobre a glicemia (baixo índice glicêmico), sendo potencialmente aplicável na alimentação de diabéticos e no manejo de doenças relacionadas com a hiperglicemia. É útil ainda como alimento funcional, atuando como um prebiótico, quer dizer, servindo de substrato para a flora desejável do trato intestinal (lactobacilos, bifidobactérias etc – a flora probiótica). Classificação dos polissacarídios pelo critério funcional: estruturais (fibra) celulose hemicelulose lignina não-estruturais (CNE) pectina amido glicogênio carboidratos 5 POLISSACARÍDIOS ESTRUTURAIS (FIBRA) 2 A fibra alimentar ou dietética é a parte orgânica dos alimentos de origem vegetal que apresenta resistência à hidrólise pelas enzimas digestivas dos animais. Corresponde aos carboidratos presentes na parede celular e nos tecidos de sustentação (esclerênquima e colênquima) vegetais. Quimicamente, é uma fração complexa, variando em quantidade e qualidade, na dependência do estágio de vida em que a planta é colhida e da parte da planta que é consumida como alimento. plantas jovens Conteúdo celular alta digestibilidade Parede celular (fibra) digestibilidade baixa ou nula, dependente de -organismos. % parede celular % conteúdo celular 100% do vegetal alta % de conteúdo celular baixa % de parede celular maior valor nutritivo Principais componentes da parede celular (fibra): celulose ............................................. polímero de glicose, com ligação 1-6 hemicelulose ..................................... arabinanas, mananas, xilanas etc lignina ............................................... polímeros fenólicos pectina (comum em frutos, leguminosas e aveia) componentes menores .............. proteoglicanas e glicoproteínas Os animais não têm enzimas digestivas endógenas capazes de hidrolisar fibra. Assim, a digestão da fibra no TGI só é possível devido à simbiose com microrganismos (bactérias, leveduras, protozoários e fungos) presentes no TGI e que ali proliferam usando a fibra como substrato. Como resíduo da fermentação da fibra, há produção de AGVs (ácidos graxos voláteis) que os animais hospedeiros utilizam como fonte de energia e, no caso das fêmeas leiteiras, como substrato para a síntese da gordura contida no leite. Os animais hospedeiros também se valem da proteína e das vitaminas sintetizadas pela flora saprófita no processo de fermentação. Esse mecanismo é importante sobretudo para os animais ruminantes, bem como para os herbívoros de ceco funcional. Já para os animais monogástricos, a fibra dietética é considerada um “alimento funcional”, com grandes implicações sobre a saúde e bem-estar desses animais (v. adiante). Segundo sua solubilidade em água, as fibras são classificadas em: Fibras insolúveis: celulose, lignina e muitas hemiceluloses. Principais fontes: forragens (alimentos volumosos), verduras e grãos de cereais. Efeitos fisiológicos: aumentam o volume, o teor de umidade e o peso das fezes, melhorando o trânsito intestinal, fator importante na prevenção do câncer de cólon e da constipação intestinal. No caso dos ruminantes, previnem distúrbios como a acidose ruminal e o deslocamento de abomaso. Para os eqüídeos, a fibra insolúvel contribui para a prevenção da cólica. Fibras solúveis: pectina, gomas, certas hemiceluloses e alguns polissacarídios. Principais fontes: frutas e legumes, aveia, cevada, plantas leguminosas. Efeitos fisiológicos: retardam o esvaziamento gástrico, proporcionando maior saciedade. Grandes quantidades de fibras solúveis têm um efeito positivo no controle dos lipídios sangüíneos. 2 Abordagem Nutricional em Diabetes Mellitus http://www.nutritotal.com.br/publicacoes/files/154-manual%20diabetes.pdf 6 Um consumo diário de alimentos que contenham cerca de 20 a 35 gramas de fibras dietéticas é recomendado aos diabéticos, assim como para a população em geral. Para tanto, é importante incentivar o uso de alimentos pouco cozidos e não refinados. As frutas e vegetais devem ser ingeridos preferencialmente crus, procurando-se evitar consumí-los liquidificados, picados e fatiados. A fibra também pode ser classificada em duas frações: a insolúvel (a maior parte da fibra) e a solúvel em água. A fração insolúvel, também denominada FDN (fibra em detergente neutro), é formada pela celulose, hemicelulose e lignina. Tem menor importância nutricional porque a lignina é 100% indigestível e a celulose e hemiceluloses somente são degradadas mediante fermentação pela flora microbiana presente no TGI. Contudo, tem importância como alimento funcional (aquele que melhora as funções fisiológicas ou metabólicas, contribuindo para a prevenção e/ou tratamento de patologias). Já a fração solúvel, formada principalmente pela pectina e gomas, tem maior benefício nutricional, além de também atuar como alimento funcional. A importância nutricional da fibra é indireta: ao servir de substrato para o crescimento microbiano simbiótico no cólon, ela é degradada a AGV – ácidos graxos voláteis, em decorrência da fermentação microbiana. Os principais AGVs formados são o ác. acético (C2), ác. propiônico (C3) e ác. butírico (C4). Devido seu baixo peso molecular, os AGVs conseguem ser absorvidos pelo cólon, podendo ser empregados como substrato para geração de energia no ciclo de Krebs. O acetato e o propiônico são também importantes substratos para a síntese de gordura. A flora microbiana que fermenta a fibra igualmente sintetiza vitaminas, notadamente a vit. K e as hidrossolúveis do complexo B que contribuem, em parte, para atender aos requisitos vitamínicos do indivíduo. A fibra também exerce grande importância no nível de consumo voluntário de alimento pelo animal. carboidratos carboidratos não-fibrosos (CNF) açúcar amido parede celular pectina fibra em detergente neutro (FDN) hemicelulose fibra em detergente ácido (FDA) celulose fermentação rápida – média fermentação lenta lignina indigestível Os carboidratos são considerados a fonte primária de energia para o organismo liberam energia química para a formação de ATP. Fornecem energia para vários tecidos e órgãos (cérebro, medula, nervos periféricos, eritrócitos etc) que têm uma necessidade obrigatória de glicose. Como os estoques orgânicos de glicose são normalmente pequenos, é recomendável a ingestão freqüente de carboidratos. No período entre refeições, a proporção de carboidratos no organismo varia mais, enquanto a de outros nutrientes (proteínas e gorduras) varia menos. Deficiência dietética de carboidratos (ver pág. 7): 7 menor funcionamento do SNC. geração de corpos cetônicos. catabolismo de ácidos graxos em CHO + água + energia. cessa o “efeito protetor” dos CHO sobre as proteínas (“economizador” das proteínas para suas funções plásticas). Fontes de glicose sangüínea: absorção intestinal. síntese hepática (via neoglicogênica), a partir de outros açúcares, aminoácidos, ácidos graxos com número ímpar de carbonos (propiônico e lático) e glicerol. glicogênio armazenado no fígado. nos omnívoros absorção intestinal nos carnívoros gliconeogênese, a partir de aminoácidos. nos ruminantes ácidos graxos com número ímpar de carbonos (propiônico etc). Destinação da glicose sangüínea: ciclo de cadeia síntese de glicogênio Krebs respiratória síntese de lipídios síntese de aminoácidos naturais em aerobiose (presença de O2) 2 piruvatos + 2 ATP (energia) + 2 NADH + 4 H+ + 2 H2O em anaerobiose 2 lactatos (C3H6O3)+ 2 H2O + 2 ATP oxidação pelo ciclo das pentoses-fosfato: ocorre no fígado, tecido adiposo e glândula mamária geração de NADPH reduzido (substrato para síntese de ácidos graxos). O amido: polímero de glicose, com ligações └O┘ amilose fração solúvel do amido (15-20% da molécula de amido) estrutura linear (não-ramificada), enrolada, 250-300 unidades de glicose ligadas por -1,4 amilopectina fração insolúvel do amido (80-85% da molécula de amido) estrutura tipo “árvore”. As ramificações laterais têm 20-25 moléculas de glicose e ligam-se por -1,6 na cadeia linear. a degradação e absorção da amilose é contínua e mais lenta que a amilopectina glicemia mais constante (melhor para obesos e diabéticos). amido resistente fração do amido total que não é digerida no intestino delgado, somente sendo digerida pela flora microbiana no intestino grosso. dextrina produto intermediário resultante da hidrólise do amido: amido amido solúvel + maltose amido solúvel eritrodextrina + maltose eritrodextrina acrodextrina +maltose acrodextrina maltose maltose glicose + glicose Os grânulos de amido diferem entre plantas: diferentes proporções entre amilose e amilopectina diferença no número e tamanho das ramificações diferença quanto as inserções das ramificações na cadeia linear Efeito do processamento: a) do amido: cozimento: hidrolisa a molécula, facilitando a ação digestiva enzimática. O volume se expande (a amilopectina forma gel quando processada em água quente - princípio da produção de geléia com pectina de frutas). 8 extrusão termoplástica = processo contínuo que combina atrito mecânico com calor para gelatinizar o amido e desnaturar o material protéico. O alimento sofre uma plastificação e reestruturação. extrusão por expansão = o alimento é tratado com compressão mecânica, calor e vapor. Ao final, há uma abrupta redução da pressão e temperatura, que provoca uma expansão (“explosão”) das partículas. Cerca de 90% do amido tornam-se gelatinizados. Porém, pode haver perda de nutrientes, principalmente vitaminas e aminoácidos. É possível modificar a densidade dos grânulos, variando a quantidade de calor, de vapor e do tempo de tratamento da massa farelada. peletização = consiste em reagrupar as partículas moídas, formando grânulos (péletes). Para isso, o alimento moído (ou uma mistura de diversos alimentos) é umedecido com água na forma líquida ou de vapor e prensado. A peletização de alimentos farelados melhora a digestibilidade do amido, diminui a segregação de partículas; reduz a perda daquelas muito pequenas e tem um certo efeito bactericida. Para facilitar a formação dos péletes, normalmente acrescenta-se outros líquidos como óleo ou melaço na massa farelada, o que também melhora a qualidade nutricional do alimento peletizado, bem como suas características sensoriais (textura e sabor). b) dos carboidratos estruturais moagem: reduz o tamanho de partícula, aumentando a exposição da fibra aos sucos digestivos. No caso de ruminantes, o menor tamanho de partícula aumenta a taxa de passagem pelo ORO – orifício retículo-omasal aumenta o consumo. Quando a moagem é excessiva, tem a desvantagem de reduzir o tempo de residência da fibra no rúmen-retículo prejudica a digestão microbiana diminui a digestibilidade da fibra. Fatores que determinam a biodisponibilidade dos carboidratos da dieta: estado da mucosa intestinal (borda em escova) e tempo de trânsito. P. ex.: hipermotilidade reduz o tempo de trânsito menor absorção vitaminas especialmente vitaminas do complexo B (tiamina, niacina e riboflavina) atuam como coenzimas dos sistemas enzimáticos de oxidação dos carboidratos. glucágon (células A do pâncreas) degrada glicogênio. somatotrofina (hipófise) inibe a secreção de insulina. glicocorticóides (córtex da adrenal) estimulam a neoglicogênese hiperglicemiantes e se opõem a ação da insulina. catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e dopamina). São hormônios: sintetizadas principalmente na medula adrenal. Estimulam a degradação do glicogênio. insulina (células B do pâncreas) aumenta a permeabilidade celular à glicose. Estimula a síntese de AGs e glicogênio. somatostatina (hipotálamo) regula a secreção da insulina. hipoglicemiantes Funções especiais dos carboidratos no organismo: SNC o cérebro não armazena glicose depende minuto a minuto do suprimento de glicose sangüínea hipoglicemia prolongada = possíveis danos ao SNC. coração o combustível preferido do músculo cardíaco são os ácidos graxos. O glicogênio é uma importante fonte emergencial para a atividade contrátil do miocárdio. fonte de E reserva de glicogênio polissacarídio de reserva que se armazena nos tecidos animais (fígado e músculos). papel importante na manutenção da glicemia durante períodos de jejum (sono, p. ex.). primeira fonte de energia mobilizada no trabalho muscular. 9 ação poupadora de proteína quando há débito de energia, as proteínas são oxidadas. A oferta constante de carboidratos evita a utilização de proteínas como combustível. efeito anticetogênico os corpos cetônicos (acetoacetato, di-OH-butirato, acetona) são sintetizados no fígado, a partir da oxidação de ácidos graxos, e distribuídos aos tecidos periféricos para servirem de combustível. Normalmente sua concentração circulante é pequena mas ocorre cetose (acumulação de corpos cetônicos) quando há grande utilização de gordura para a geração de ATP, ou na ausência ou indisponibilidade acentuada de carboidratos (jejum ou diabete não-controlado). controle dos mecanismos fisiológicos de fome e saciedade síntese de lactose pela glândula mamária. A deficiência da enzima lactase pode surgir em indivíduos adultos. Em algumas raças a perda da capacidade de síntese de lactase é mais acentuada e resulta na intolerância à lactose (diarréia por acúmulo de lactose na luz intestinal). síntese de glicoproteínas (quase todas as proteínas que ocorrem na membrana externa das células e no plasma sangüíneo) e glicolipídios (cerebrosídios, encontrados também na membrana externa celular). marcadores celulares os monossacarídios permitem a formação de polímeros com muitas combinações de tamanho de cadeia e posição das ramificações, implicando em várias funções biológicas, como tipagem sangüínea ABO, ligações entre vírus e células, receptores de membrana etc. As fibras alimentares têm papel essencial no trofismo intestinal. Além disso, no intestino grosso, elas são fermentadas a ácidos graxos de cadeia curta dos quais o ácido butírico, em particular, é importante fonte de energia para a mucosa intestinal. Absorção dos carboidratos: Os animais superiores têm enzimas para degradar apenas ligações sacarídicas do tipo . A absorção ocorre no ID, na forma de monossacarídios (glicose principalmente, + frutose e galactose). A maior absorção se dá por difusão. Há ainda mecanismo de transporte ativo (carreador = sódio). Distúrbios que reduzem as vilosidades intestinais diminuem a capacidade de absorção. Os monossacarídios absorvidos seguem para o fígado pelo sistema porta. No fígado, ocorre a conversão de frutose e galactose para o isômero D da glicose. Esta, quando em excesso, é convertida a glicogênio, para ser armazenada. Excesso ou déficit de açúcar na dieta: o açúcar não contém outros nutrientes (proteínas, gorduras, minerais e vitaminas). Assim, quando o açúcar substitui quantidades significativas de outros alimentos na dieta, o resultado pode ser má-nutrição ou obesidade. Em indivíduos suscetíveis, excesso de açúcar pode elevar os níveis séricos de lipídios. Em indivíduos diabéticos, pode elevar a glicemia. Índice glicêmico (efeito glicêmico): O índice glicêmico (IG %) indica a taxa de entrada de glicose na corrente sangüínea provocada pela ingestão de determinado alimento, quando comparada a um alimento de referência. Alimentos de baixo IG contribuem para manter baixas a concentração pós-prandial de glicose e, conseqüentemente, de insulina. Já os alimentos de elevado IG produzem um aumento acentuado da glicemia, o que implica em um estresse metabólico. Para determinar o índice glicêmico de um alimento, indivíduos são alimentados com determinada porção (50g por ex.) de carboidrato fornecida por determinado alimento. Em outro dia, os mesmos indivíduos são alimentados com uma porção (50g) de carboidrato proveniente do alimentoreferência. A glicemia é determinada nos seguintes períodos após a ingestão: 15 min, 30 min, 45 min, 60 min, 90 min e 120 min. A mudança na concentração da glicose sangüínea com o passar do tempo é representada pela área formada abaixo da curva, e expressa como “Área abaixo da Curva” (AUC). Índice glicêmico (IG%) = AUC alimento teste/ AUC alimento-referência X 100, ou 10 IG (%) = Aumento da glicemia 2 horas após a ingestão de uma quantidade conhecida de alimento Aumento da glicemia 2 horas após a ingestão de uma quantidade conhecida de um alimento-referência x 100 Carga glicêmica (GL – glycemic load) O índice glicêmico refere-se a um único alimento contendo 50g de carboidrato. Porém, a dieta diária é constituída de quantidades diferentes de carboidrato, e de diferentes tipos (provenientes de diferentes alimentos). A GL considera o índice glicêmico de um determinado alimento e a quantidade total (peso) dele consumida. Assim, a GL é considerada melhor que o IG para expressar o impacto da quantidade total consumida de um alimento sobre a glicemia e a secreção de insulina pós-prandial. A GL é calculada em três etapas: a) estimativa do índice glicêmico de cada ingrediente. b) estimativa da carga glicêmica de cada ingrediente contido na dieta. Divide-se o IG por 100 e multiplica-se pela quantidade (em grama) do correspondente ingrediente na dieta. c) carga glicêmica da dieta total, que corresponde à soma das cargas glicêmicas de cada um dos ingredientes que compõem a dieta. Os alimentos ou dietas testados são classificados em função do alimento – referência adotado: alimento – referência p/ determinação do IG classificação do alimento GL ou dieta quanto ao IG e GL glicose pão branco baixo(a) ....................................................... IG < 55 IG < 40 GL < 10 moderado(a) ................................................ IG de 56 a 69 IG de 40 a 49 GL de 11 a 19 alto(a) .......................................................... IG > 70 IG > 50 GL >20 Para converter IG determinado com pão branco para o equivalente IG relativo a glicose, basta multiplicar o primeiro por 1,4. Exemplos de índice glicêmico (IG) e carga glicêmica (GL) de determinados alimentos: quantidade considerada em 1 porção Alimento, conforme classe de IG IG total (g) carboidratos (g) GL baixo IG (< 55) amendoim soja, grão centeio, grãos leite, integral grão-de-bico feijão lentilha banana arroz 50 150 150 250 150 150 150 120 150 6 6 42 12 30 25 18 24 37 14 18 25 27 28 28 29 52 54 1 1 11 3 8 7 5 12 20 médio IG (56 – 69) arroz, cozido 150 36 64 23 30 1/2 xícara 1 batata média 26 5 24 92 71 85 24 4 20 alto IG ( > 70) flocos de milho cenoura batatas IG baseado em glicose = 100 (alimento de referência). Fonte: http://www.mendosa.com/gilists.htm Efeito do índice glicêmico e da carga glicêmica na ingestão de alimentos. O destino final de todo carboidrato digerido é ser absorvido como glicose, mas as fontes de carboidratos diferem entre si quanto ao efeito glicêmico (a concentração de glicose no plasma glicemia). Como o organismo busca manter constante a glicemia, é liberada insulina durante o período pós-prandial, para controlar a tendência de aumento da glicemia provocada pela ingestão do alimento. A longo prazo, esse hormônio influencia o ganho de peso e o risco de desenvolvimento de doenças crônicas. A curto prazo ocorre o seguinte: 11 a) primeira fase (até 2 h) - após ingerir alimento com alta GL, em 2 h a concentração de glicose pode alcançar o dobro do nível se comparada a alimentos de baixo GL. A exposição constante a alimentos de alta GL resulta em contínua hiperinsulinemia e favorece o desenvolvimento de resistência à insulina, acarretando também: estímulo à glicogênese (síntese de glicogênio) e lipogênese (síntese de ácidos graxos). inibição da glicólise, devido à diminuição do hormônio glucágon. no tecido adiposo, supressão da lipólise por inibição da lipase hormônio-sensível, em decorrência do aumento da insulina. O resultado final é o aumento do anabolismo (síntese de tecidos), e inibição da liberação e oxidação de energia armazenada nos tecidos de reserva. b) segunda fase (2 a 4h) - os nutrientes foram quase todos absorvidos, mas a proporção insulina/glucágon permanece elevada, fazendo com que a glicemia continue diminuindo. Devido ser a glicose a única fonte de energia para o cérebro, uma sensação de fome se intensifica. c) terceira fase (4 a 6h) - após a ingestão de refeição de alta GL, as baixas concentrações circulantes de glicose e ácidos graxos livres estimulam a liberação dos hormônios glucágon, cortisol, somatotrofina (hormônio do crescimento - GH) e adrenalina (epinefrina). Glucagon e cortisol primeiramente aumentam a glicemia devido a glicogenólise (quebra de glicogênio) e à gliconeogênese (nova glicose, sintetizada a partir de aminoácidos). GH e adrenalina liberam ácido graxo do tecido adiposo para geração de energia no ciclo de Krebs. O aumento contínuo de insulina, contudo, inibe as reações normais desses hormônios, desregulando suas funções. Então, de 4 a 6h após refeição de alta GL o indivíduo continuará com fome, que só pode ser saciada com ingestão de mais calorias na próxima refeição. Tais alterações hormonais drásticas não ocorrem quando a refeição é de baixa GL. Aumento da fome No curto prazo, a GL de uma única refeição tem efeito substancial na fome e conseqüentemente na ingestão de calorias, implicando em grandes mudanças hormonais na corrente sanguínea. A médio prazo (6 dias), dietas de alta GL aumentam o apetite (através da regulação hormonal) e podem aumentar os triglicerídios do plasma em 38% e diminuir o HDL em 10%. Por outro lado, dietas de baixa GL reduzem a fome e favorecem a sensação de saciedade. Nessas, a concentração de triglicerídios diminui 35% e o HDL não se modifica, no mesmo período (6 dias). Além disso, a oxidação de gordura acumulada no organismo diminui quando a dieta é de alta GL comparada à dieta de baixa GL. Assim, indivíduos que seguem dietas de alta GL têm mais dificuldade em perder peso, além da maior sensação de fome e do efeito indesejável de uma lipidemia maior. Benefícios do consumo de dietas de baixa carga glicêmica: a) nos programas de perda de peso – regimes baseados em dietas com baixos níveis de GL são mais eficazes que os tradicionais, que recomendam baixo nível de gordura / alto nível de carboidrato. Dietas de baixa GL reduzem a fome e aumentam a oxidação das gorduras, porque são digeridas e absorvidas mais lentamente, produzindo menor hiperinsulinemia e hiperglicemia pós-prandial. De modo geral (há muitas exceções), a presença de gordura ou proteína no alimento tende a reduzir e/ou retardar o aumento glicêmico pós-prandial (gordura retarda o trânsito pelo TGI e proteína estimula a síntese de insulina). b) doenças cardiovasculares (DCV) - O consumo de dietas de baixa GL está associado à redução de doenças cardiovasculares por três motivos principais: promovem perda de peso; reduzem a hiperinsulinemia, associada à resistência a insulina; reduzem a circulação de corpos cetônicos. c) diabetes - Dietas com alta GL estimulam a liberação de insulina, já que a hiperglicemia pósprandial é maior. A longo prazo, o consumo de alta GL favorece a hiperglicemia crônica e a resistência à insulina, levando a hiperinsulinemia e a danos nas funções celulares das ilhotas do pâncreas, podendo resultar em diabete tipo 2. Uma dieta consistindo primeiramente da ingestão de frutas, vegetais e fibras como fonte de carboidratos pode ser uma boa alternativa para reduzir o risco de diabetes. Frutas e vegetais têm GL menor que a maior parte dos grãos. Como balancear dietas de baixo índice glicêmico e baixa carga glicêmica 12 aumentar consumo de frutas e outros vegetais (legumes e grãos) ricos em fibras solúveis. evitar alimentos que contêm farinha, ou alta concentração de açúcar. Em nosso meio, há uma tendência de aumento da GL da dieta ao longo do tempo, devido ao maior consumo de carboidratos e pelo uso de alimentos de alto índice glicêmico como, por exemplo, as comidas processadas. O consumo de gorduras tem sido substituído pelo de carboidratos de alto IG, os quais aumentam a sensação de fome pelo desequilíbrio hormonal e podem desencadear doenças crônicas. Uma opção recomendável seria o consumo de alimentos de baixo IG e GL, os quais tendem a reduzir a sensação de fome e, a longo prazo, diminuir a obesidade e prevenir outras doenças. Dietas de baixa GL são indicadas para regimes de manutenção do peso corporal ou para redução do risco de doenças crônicas. Além disso, tem baixa predisposição à fome. Efeitos da fibra: fração solúvel ação hipocolesterolemizante (principalmente a pectina, goma guar, psyllium, farelo de aveia) intervém no metabolismo de lipídios fração insolúvel efeitos fisiológicos: reduz a densidade energética da dieta e promove sensação de saciedade (aplicação no controle da obesidade) a fibra retém água, aumentando o volume do bolo fecal e conferindo-lhe maciez. Reduz o tempo de trânsito da ingesta no TGI, contribui para a remoção de pólipos, previne diverticulites, hemorróidas e constipação intestinal. Seu papel na prevenção de câncer colorretal tem resultados conflitantes. possível efeito sobre a biodisponibilidade de nutrientes minerais problema para oligoelementos minerais Fe e Zn (menor TT – tempo de trânsito) Hemicelulose: São polissacarídios formados por diferentes açúcares (xilose, arabinose, glicose etc). Pode ser parcialmente digerida pelos monogástricos. Pectina: Está presente tanto no interior da célula vegetal como no espaço extracelular. Ocorre principalmente em frutos. Tem aplicação terapêutica nos casos de diarréia, devido a capacidade de ligação da pectina com água, formando gel. Só é digestível por fermentação microbiana. Lignina: A lignina é importante para o vegetal, pelo seu papel de sustentação e defesa contra predadores. Ela reveste as fibras de celulose e hemicelulose e é considerada 100% indigestível, até mesmo pela flora microbiana do TGI. Portanto, quanto maior o teor de lignina, menor será a digestibilidade da fibra. Ela atua dificultando o acesso e a colonização da celulose e hemicelulose pelos microorganismos e, parece, há também um efeito antibiótico do grupo fenólico da lignina sobre as bactérias do TGI. Quimicamente, a lignina é um polímero de fenilpropano, amorfo, de composição e proporção variáveis conforme a espécie da planta, sua idade e a região anatômica. Plantas de metabolismo C4 (a maioria das gramíneas tropicais) têm maior teor de lignina que plantas C3 (leguminosas tropicais e a maioria das gramíneas de clima temperado). Plantas mais velhas acumulam maior teor de lignina. Os caules têm maior teor de lignina que as folhas. A base do caule é mais lignificada que sua extremidade apical. Admite-se também um efeito do clima: altas temperaturas aumentam a concentração de lignina nas plantas. Fibra x ação imunológica A literatura mostra que, no pós-operatório de cirurgias abdominais de grande porte ou pós-trauma, a instituição de nutrição enteral precoce com soluções contendo fibras (e probióticos), pode reduzir a translocação bacteriana, minimizando a incidência de infecções no pós-operatório e reduzindo as complicações infecciosas. Cerca de 70% do sistema imune estão centrados no trato gastrointestinal, o qual, normalmente, contém 10 vezes mais microrganismos do que o número de células eucariotas presentes no corpo inteiro. A função ótima dessas bactérias colônicas depende da oferta adequada de substratos, principalmente fibras fermentáveis (pouca lignina), proteínas complexas e secreções gastrintestinais. Nas enfermarias e mesmo nas unidades de terapia 13 intensiva, a oferta reduzida de alimentos com tais nutrientes e o uso de drogas como antibióticos são prejudiciais tanto para a flora como para a secreção gastrintestinal ótima. Portanto, para melhorar o tratamento de indivíduos convalescentes, é recomendável ofertar prebióticos (alimentos para a flora) e probióticos (nova e efetiva flora não-patogênica), favorecendo a síntese e a absorção de produtos simbióticos (que favorecem a saúde) ao nível principalmente da mucosa gastrointestinal baixa. *************************************************