A. Bebeachibuli et al. III O Experimento de Perrin [1] A medida do numero de Avogadro consiste em contar, direta ou indiretamente, o numero de constituintes num MOL. Os atomos (ou moleculas) s~ao extremamente pequenos para serem contados diretamente. Perrin procurou um sistema fsico onde as partculas fossem pequenas o suciente para se comportarem como um gas mas grandes o sucientes para serem contadas. Da sua vasta experi^encia, como o estudo do movimento Browniano, Perrin notou que o movimento aleatorio das partculas assemelhava- se muito com o movimento de moleculas com tanto sucesso tratados pela teoria cinetica dos gases. A ideia de Perrin foi considerar uma suspens~ao constituda de partculas pequenas o suciente para se comportarem como moleculas de um gas (devido ao seu movimento aleatorio), mas grandes o suciente para terem sua massa individual medida, comportariam-se como um sistema gasoso. 447 Perrin utilizou uma suspens~ao de nas partculas na presenca do campo gravitacional. Medindo-se a densidade destas partculas como funca~o da altura determina-se o MOL, e conhecendo-se m, obtem-se N0 . A Fig. 1 mostra o aspecto geral da distribuic~ao do gas e seu equivalente na suspens~ao de partculas. IV Materiais e Procedimento Experimental Para o experimento, e necessario o seguinte material: tubo de vidro de 1,40 m 6,3 cm (com um extremo fechado); l^ampada incandescente (7,0 W); fotocelula; multmetro; alumina em po de pouca dispers~ao; agua destilada; suporte para o tubo e o detetor. Na Fig. 2, temos a montagem experimental basica: Figura 1. Comparac~ao da distribuica~o das partculas suspensas num lquido com um sistema gasoso na presenca do campo gravitacional. Um gas ideal na presenca de um campo gravitacional distribui-se obedecendo a conhecida formula barometrica [2,3], segundo o qual a densidade de moleculas decresce com a altitude segundo a lei experimental Mgz n(z) = n0 exp , R onde n(z) e a densidade a uma posica~o z, n0 a densidade na superfcie, M o mol ou massa molecular das partculas e g a acelerac~ao da gravidade. Se medirmos a distribuic~ao da densidade de um gas no campo gravitacional podemos determinar o valor de seu MOL (M). Se conhecermos a massa de cada partcula (m) do sistema, podemos deter o valor do numero de Avogadro atraves de: N0 = MOL m Figura 2. Montagem experimental basica. Figura 3. Montagem mostrando a abertura sobre o detetor. 448 Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 21, no. 3, Setembro, 1999 Num suporte prendemos um tubo de vidro 1,40m 6,3cm onde foi adicionado uma mistura de agua des- tilada e alumina. Deve-se usar alumina de polimento, para que a dispers~ao seja pequena e o tamanho medio das partculas n~ao varie muito. Uma l^ampada incandescente e uma fotocelula foram presas em uma base movel. Foi conectada na fotocelula um ampermetro e um voltmetro para medir a pot^encia na fotocelula. A ideia geral do experimento consiste em medir ao longo do tubo a intensidade da luz que o atravessou. Dessa forma conseguimos determinar a variac~ao na densidade de partculas com a altura. A intensidade de luz diminui a medida que o numero de partculas aumenta e esta diminuic~ao e proporcional a densidade de partculas em cada posic~ao. Para medir o di^ametro medio das partculas, observamos ao microscopio o po de alumina e seu tamanho medio e determinado com o auxlio de uma escala milimetrada. Usamos o aumento de 500 vezes e o tamanho medio do di^ametro obtido a partir de varias partculas observadas foi: Dm = (5:45 2) 10,6m A massa da alumina pode ser determinada a partir de sua densidade conhecida que e 3.987 g/cm3. Portanto a massa m = (3:38 3) 10,13Kg Para medida do perl de intensidade comecamos incidindo a luz branca no tubo contendo agua destilada, medindo a voltagem na fotocelula a cada 2 centmetros do tubo, obtendo assim o \zero" da medida. Desta forma, as imperfeic~oes e eventuais sujeiras no tubo poder~ao ser eliminadas na medida nal. Seguimos com a preparaca~o da suspens~ao de alumina em agua destilada com uma concentrac~ao de 1,22 g/l. Adicionamos a soluca~o no tubo e esperamos a decantac~ao da alumina durante 1 hora e meia. Obtemos assim uma distribuic~ao das partculas no tubo visvel a olho nu. Medimos novamente a voltagem na fotocelula nos mesmos pontos onde medimos o zero. A partir da corrente e voltagem obtida, pudemos calcular a pot^encia da luz que chegou ate a fotocelula. Determinando a pot^encia perdida devido a presenca das partculas em func~ao da altura. Este resultado esta mostrado na Fig. 4. A pot^encia resultante e a diferenca entre a pot^encia medida com o valor do \zero" obtido inicialmente usando agua pura. Figura 4. Pot^encia na fotocelula x altura do tubo. A pot^encia medida na fotocelula e proporcional a intensidade de luz que emerge da soluc~ao (I). Essa intensidade e proporcional a densidade de partculas pela relac~ao: I = I0 e,nx onde: = secc~ao de choque n = densidade de partculas x = caminho otico dentro da soluc~ao Assim e possvel determinar o numero de partculas por: ln II0 NP ln II0 = ) x rP2 x = V NP = numero de partculas V = secc~ao volumetrica de medida pelo detetor rP = raio da partcula Por m, determinamos o numero de Avogadro construindo o graco mostrado na Fig. 5. Figura 5. Numero de partculas em func~ao da altura. Lembrando que o numero de partculas em cada fatia localizada a posic~ao z e: M N gz NP = NP 0 e, PRT0 onde: MP = massa molecular da alumina g = acelerac~ao da gravidade R = constante universal dos gases A. Bebeachibuli et al. 449 T = temperatura em Kelvin Obtemos ent~ao: ln NNPP0 12 1 = ( , 1:15 0:54) 10 z m Por m, para determinarmos o numero de Avogadro, usamos: 12 N0 = 1:15 M10g RT P N0 = (8:36 0:9) 1023mol,1 Que e um valor bem proximo do valor especicado na literatura [4]: N0 = 6:022137 1023mol,1 : Lembrando que n~ao levamos em conta forcas variadas existentes na suspens~ao o desvio de 30% com relac~ao ao valor considerado na literatura chega mesmo a ser surpreendente. V Conclus~ao O numero de Avogadro tem uma import^ancia fundamental na ci^encia pois une o mundo microscopico ao macroscopico. Como recomendaca~o nal a aqueles que far~ao este experimento lembramos que a utilizac~ao de agua destilada fez com que as partculas de alumina cassem mais impregnadas na parede do tubo. Recomendamos o uso de agua comum ltrada. O posicionamento da fotocelula deve ser o mesmo na medida do \zero" e da suspens~ao. A luz ambiente n~ao deve incidir no sensor. A granulac~ao da alumina deve ser uniforme, pois o tamanho medio das partculas e fundamental no calculo de N0 . A medida ao longo do tubo com a suspens~ao, deve ser rapida pois a decantac~ao varia muito com o tempo. Refer^encias 1. From Nobel Lectures Physics 1922-1941. 2. Apostila de Fsica Moderna Elementar. Introduc~ao a Atomstica. Cap. III por V. S. Bagnato e L.G. Marcassa, 1999 - IFSC 3. Qualquer livro basico de qumica.