Revista Brasileira de Ensino de Fsica vol. 20, no. 3, Setembro, 1998 307 Vanderlei S. Bagnato Editor da RBEF Instituto de Fsica de S~ao Carlos-USP Caixa Postal 369 13.560-970. S~ao Carlos, SP Comentario sobre o artigo: \Determinac~ao da Densidade e da Massa dos Aneis de Saturno" Wilson Lopes Universidade Guarulhos1 Universidade de Mogi das Cruzes2 Prezado Editor da RBEF: Atraves do conhecimento da profundidade ou espessura optica media do anel B de Saturno, da sua densidade media e da densidade das partculas que o constituem, pode-se ampliar os resultados do artigo \Determinacao da Densidade e da Massa dos Aneis de Saturno" (Lopes, 1995): determinando-se o raio medio das partculas, o numero de partculas por unidade de volume e o numero de partculas que constitui esse anel. Supondo-se que uma regi~ao do espaco contem um numero muito pequeno de partculas, por unidade de volume, um raio de luz que a atravessa o fara sem muita diculdade, correspondendo a um valor de espessura optica desprezvel, muito proximo de zero. Por outro lado, admitindo-se que o numero de partculas, por unidade de volume, seja t~ao grande que o raio luminoso n~ao consegue atravessa-la, diz-se que a regi~ao tem espessura optica innita. A espessura optica e denida por: = ds = n ds (1) onde n e o numero de partculas por unidade de volume, , representa a secc~ao de choque em torno de cada partcula para a radiac~ao luminosa de frequ^encia (Rybicki e Lightman, 1979) e ds e a dist^ancia percorrida pela radiac~ao no meio. Se a radiac~ao luminosa forma um ^angulo com a normal a superfcie, tem-se: ds = dy=cos = secdy: (2) Substituindo-se (2) em (1), vem: d = n secdy: (3) d 1 2 Figura 1: A radiac~ao atravessa um comprimento ds, de uma camada de espessura dy, formando com a reta normal a superf cie um a^ngulo . Universidade Guarulhos, Praca Tereza Cristina 1, CEP 07023-070, Guarulhos, SP Universidade de Mogi das Cruzes, Caixa Postal 411, CEP 08780-911, Mogi das Cruzes, SP. 308 Wilson Lopes Se = 0 ds = dy e d = n dy (4) ou seja, a profundidade optica depende da dist^ancia percorrida pela radiac~ao que e a propria espessura da camada. O perl de um anel de forma elptica, de espessura 2b = 2 6 103 m (Wilson, 1995), raio interno R1 = 9 1 107 m e externo R2 = 11 7 107 m, em relac~ao ao referencial x O y , e dado por: x2 + y2 =1 (5) a2 b2 onde a = (R2;R1 )=2 e b representam, respectivamente, os semi-eixos maior e menor da secc~ao reta do anel (a espessura do anel e denida por AB = 2b). 0 0 0 0 0 a) A radiac~ao luminosa que atravessa o anel e paralela ao eixo de rotac~ao de Saturno (o eixo de rotac~ao do planeta e dos aneis s~ao, praticamente, coincidentes). b) As partculas que constituem o anel s~ao todas de forma esferica, de raio medio r e se encontram uniformemente distribudas. c) A secc~ao de choque de cada partcula, em relac~ao a radiac~ao luminosa, e dada por: = r2: Integrando-se a express~ao (4) e levando-se em considerac~ao a hipotese c, obtem-se a profundidade optica para a dist^ancia y, a saber: =2 = n r2y : (8) Substituindo-se (7) em (8), obtem-se: p = 2n r2 R 2b (;x + R2)(x ; R1 ) 2 ; R1 Figura 2: Secc~ao reta do anel de Saturno. O anel gira em torno do eixo de rotac~ao de Saturno, Oy. R, e R2 sao, respectivamente, os raios intemo e externo do anel. O ponto P, pertencente ao perl el ptico, apresenta coordenadas (x', y') em relac~ao ao sistema x'O'y' e coordenadas (x, y) em relac~ao ao sistema xOy. Para se escrever a equac~ao, do mesmo perl elptico, em relac~ao ao sistema referencial xOy, devem-se proceder, na equac~ao (5), as seguintes transformac~oes: x = x ; (R1 + R2)=2 e y'= y: 0 ; x ; R1 +2 R2 2 y2 + b2 = 1 : a2 Resolvendo-se a equac~ao (6) em y, vem: (6) p y = (R 2b (;x + R2)(x ; R1): (7) 2 ; R1) A equac~ao (7) dene o perl elptico do anel, em relac~ao ao sistema xOy, onde Oy e o eixo de rotac~ao de Saturno. Para uma soluc~ao simples do problema, assumem-se as seguintes hipoteses: (9) A equac~ao (9) fornece a profundidade optica do anel, a uma dist^ancia x do eixo de rotac~ao de Saturno, apos a radiac~ao ter percorrido a dist^ancia 2y. O valor maximo da profundidade optica, na equac~ao (9), ocorre para x = (R1 + R2)=2 max = n r2 2b (10) e o valor medio da profundidade optica e denido por3 1 = R ; R 2 1 Z anel dx Z R2 p = 2n r2 (R ;2bR )2 ;x + R2)(x ; R1) dx: 2 1 x=R1 = 41 n 2 r2 2b : (11) A partir da equac~ao (11), obtem-se: nr2 = 242b : (12) Por outro lado, a densidade media do anel e denida por: 3 A integral que resulta no valor m edio da profundidade optica, equac~ao (11), foi resolvida com o auxlio das integrais 146 e 145, nesta ordem, do Handbook of Chemistry and Physics, 1971. Revista Brasileira de Ensino de Fsica vol. 20, no. 3, Setembro, 1998 = m n (13) = 43 r3 p n onde p e n representam, respectivamente, a densidade de cada partcula e o numero de partculas por unidade de volume. Da equac~ao (13), pode-se escrever: 3 (14) n 4 p : Com as equac~oes (12) e (14) obt^em-se, respectivamente, o raio medio das partculas, constituintes do anel, e o numero de partculas por unidade de volume, a saber: r3 = 2b r = 3 16 (15) n = 4 3 r3 : (16) p e p Substituindo-se, na equac~ao (15), = 0 101 103 kg/m3, 2b = 2 60 103 m (Largura sugerida por Lopes, 1995, compatvel com a massa do anel determinada por McLaughlin e Talbot, 1977), P = 2 50 103kg/m3 (densidade tpica de material rochoso) e = 1 5 (Esposito et al., 1983) t^em-se, para o raio medio das partculas, r = 41 2 m. Substituindo-se esse valor do raio medio na equac~ao (16), obtem-se a densidade de partculas por unidade de volume n = 1 37 10 7 m3. Sendo V = 2 2b (R22 ; R21 )=4 = 3 97 1019 m3 o volume do anel B, pode-se calcular o numero de partculas que o constitui: N = n V = 4 77 1012. Desta maneira, a massa do anel B sera dada por: MB = Nm = N 4 r3 p =3 = 3 50 1021 kg ou, ent~ao, MB = 6 15 10 6 MS (MS = 5 69 1026 kg representa a massa de Saturno), que concorda com o valor encontrado por MacLaughlin e Talbot (1977). Por outro lado, para uma densidade p = 1 00 103 kg/m3 (densidade tpica de gelo) e a mesma profundidade optica, ; ; 309 obtem-se, respectivamente, para o raio medio, numero de partculas por unidade de volume e para o numero de partculas: 103 m, 2 20 10 8 m 3 e 7 63 1011 (para estes valores a massa do anel continua a mesma). ; ; Refer^encias Bibliogracas 1. L. W. Esposito, M. O'Callaghan, E. Simmons, C. W. Hord, A. West, A. L. Lane, R. B. Pomphrey, D. L. Co een, M. Sato, \ Voyager Photopolarimeter Stellar Occultation of Saturn's Rings". Journal of Geophysical Research: 88(A1), 8643 (1983). 2. Handbook of Chemistry and Physics. Editor: Robert C. Weast. Cleveland: ed. 51. Chemical Rubber CO. p. A-172. 1971. 3. W. Lopes, \Determinac~ao da Densidade e da Massa dos Aneis de Saturno". Revista Brasileira de Ensino de Fsica. S~ao Paulo, 17(4), 265 (1995). 4. W. I. McLaughlin, e T. D. Talbot, \On the Mass of Saturn's Rings". Monthly Notices R. Astr. Soc. London, 179 (3), 619 (1977). 5. G. B. Rybicki e A. P. Lightman, Radioactive Processes in Astrophysics, New York: John Wiley & Sons, 1979, 382 p. Sem mais para o momento, subscrevo-me, Atenciosamente, Wilson Lopes Resid^encia: Wilson Lopes Rua Jo~ao Marcelo Santoni, 325 Parque Renato Maia CEP 07114-120, Guarulhos, SP.