A92 ID: 58751590 10-04-2015 Tiragem: 36211 Pág: 13 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 15,87 x 24,46 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 2 Quer ir ao médico de família? Pode ter de recorrer a uma instituição de solidariedade PAULO PIMENTA Saúde Alexandra Campos Intenção de alargar lista de utentes até um máximo de 2500 foi contestada pelos sindicatos e abandonada Para resolver o problema de falta de médicos de família, que afecta perto de 1,3 milhões de portugueses, o Ministério da Saúde está a estudar uma série de medidas que incluem a possibilidade de contratar este tipo de serviços às instituições particulares de solidariedade social (IPSS). “Procurar o estabelecimento de acordos temporários com o sector social para a prestação de cuidados primários” é uma das medidas idealizadas para ajudar a resolver este problema que se arrasta há anos e ao qual o actual ministro, à semelhança dos antecessores, prometeu dar resposta, sem sucesso. A “contratação de serviços de consulta a IPSS” é a 12.ª das 18 medidas já em curso ou em preparação enumeradas pelo ministério numa lista enviada ao PÚBLICO ontem, e que inclui ainda a contratação de médicos da UE e de clínicos reformados. Mas foi outra medida que parecia poder ajudar a resolver de forma meramente aritmética a questão — e que pressupunha o alargamento da lista de utentes de um máximo de 1900 actuais para 2500 doentes por médico, ou seja, mais 600 —que gerou polémica, apesar de ter sido abandonada no primeiro embate com os sindicatos. A proposta de decreto-lei que previa este valor máximo foi duramente criticada não só pelos sindicalistas, mas também por responsáveis da Ordem dos Médicos e da Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral. Rui Nogueira, desta associação, fez as contas e concluiu que ter 2500 utentes implicaria que cada médico passasse a dispor de me- Há 1,3 milhões de portugueses sem médico de família nos de cinco minutos por consulta. Na primeira reunião para negociar esta proposta, face às críticas dos sindicatos, o valor máximo de 2500 foi abandonado, mas o ministério mantém a intenção de “discutir o alargamento da lista de utentes”, medida que será transitória, aplicada apenas em zonas carenciadas e voluntária. “Terá a dimensão que os médicos estiverem dispostos a aceitar individualmente até um limite a definir” e “será alvo de pagamento suplementar”, precisou o gabinete do ministro. “O ministério deixou cair [o limite de 2500] em 30 segundos”, congratula-se Roque da Cunha, do Sindicato Independente dos Médicos, para quem no máximo um médico de família poderá ter 1900 utentes. Mas esta proposta, frisa, vem no seguimento das medidas que visam “minorar a indignidade de cerca de um milhão de pessoas não ter médico de família” em Portugal. “O ministério não deixou cair nada porque a reunião foi uma mera troca de impressões. Propusemos uma solução mais simples: que fosse alargado às unidades de Saúde Familiar [USF] do modelo A e às unidades de Cuidados de Saúde Personalizados o que já está legislado para as USF mode- lo B”, contrapõe Henrique Botelho, da Federação Nacional dos Médicos (Fnam). A reacção do secretário de Estado adjunto da Saúde “foi dizer que iam fazer uma simulação e discutir o assunto com as Finanças”. Os médicos que trabalham nas USF modelo B já têm há muitos anos incentivos para aceitarem mais utentes. No mínimo têm listas de 1917 “unidades ponderadas” em função da idade. Crianças e idosos contam a dobrar, porque recorrem mais aos serviços e ocupam mais tempo. Na prática isto corresponde a uma “lista padrão de cerca de 1550 utentes”, explica Henrique Botelho. Por cada aumento de 55 unidades ponderadas, os médicos das USF modelo B recebem cerca de 130 euros, mas a lei só permite nove múltiplos de 55 unidades ponderadas, justamente para evitar um decréscimo da qualidade dos serviços, frisa o dirigente da Fnam. No máximo cada médicos pode acumular 2414 unidades ponderadas, o que corresponde a uma lista padrão que ronda os 1800 a 1900 utentes. O conselho regional do Norte da OM considera que o ministério tem estado apenas a anunciar “em catadupa” medidas “avulsas” para resolver “problemas por si criados”. Página 92