Levar a Vovó para uma Casa de Repouso?
Artigo escrito por Juliana Teixeira da Silva (*)
Minha avó Rosa, aos 89 anos, era uma pessoa dinâmica, auto suficiente e com excelente
saúde. Morava sozinha, ia a supermercado, visitava as amigas e gabava-se de sua
independência e forma física.
De repente, recebo um telefonema do resgate avisando que ela tinha sofrido uma queda na
rua. Susto enorme. Corremos, acompanhamos o caso ( nada grave, felizmente) e minha avó foi
para minha casa.
No dia seguinte, sozinha em casa, ela resolveu fazer um café. Ligou o gás, pegou o jornal foi
ler na sala. Detalhe: ela não acendeu o fogão e o gás ficou exalando sem que ela percebesse.
Até que minha mãe chegou. Desnecessário relatar que este foi apenas o primeiro problema, de
alto risco, produzido por minha avó. Outros se seguiram. Ela levantou à noite, sozinha,
tropeçou no tapete da sala e caiu. Diariamente, nossa preocupação aumentava..
Não estávamos preparados para isso. Não tínhamos um quarto a mais para ela. Precisaríamos
contratar uma enfermeira. Ou melhor, três, para cobrirem 3 turnos de 8 horas cada. Mais a
folguista para os finais de semana.
Ela passou a apresentar problemas de memória, irritabilidade ( nós também porque não
estávamos preparados para cuidarmos de uma idosa que começava a ficar dependente),
solidão, tristeza e às vezes agressividade. Meus pais e meu irmão trabalhavam o dia inteiro e
eu fazia Faculdade. A diarista retirava-se às 17 horas.
Então nos conscientizamos das peculiaridades, das carências e das limitações que minha avó
estava enfrentando naquela nova fase de vida. E a nossa incompetência para atendermos a
essa demanda.
Após várias alternativas de soluções para o problema chegamos à conclusão de que o melhor
seria uma Casa de Repouso. Decisão difícil, muito difícil. A razão e a emoção se alternam
fortemente. Visitamos diversos lares para idosos com uma premissa em mente: queríamos
uma casa em que minha avó tivesse, prioritariamente, qualidade de vida. Era o que ela
merecia.
Além disso, uma casa geriátrica adaptada para as limitações dos idosos para que ela estivesse
segura. Queríamos também que minha avó tivesse terapia ocupacional, e fisioterapia para
manter sua saúde física, mental e social.
Durante dois finais de semana visitamos quase 20 casas de repouso. Encontramos apenas
uma que atendia às nossas expectativas.
Com profissionais amáveis e treinados para cuidar de idosos minha avó fazia algumas
atividades que lhe davam muito prazer, alegria e bom convívio social. Atividades físicas e
mentais para lhe garantir uma velhice confortável e prazeirosa. Ela tinha parceiras de conversa
para lembrar histórias que lhe marcaram. Fazia exercícios para garantir a saúde física.
Participava de jogos que exercitavam a mente e a memória.
Eu visitava minha avó frequentemente. Duas ou 3 vezes por semana. Afeiçoei-me aos outros
companheiros e companheiras dela e participava de diversas atividades. Eu sentia muita
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alegria ao constatar a alegria de viver que eles transmitiam.
Minha avó viveu ali, feliz e alegre, por mais 5 anos. Faleceu aos 94 anos, dormindo.
Todos nós sentimo-nos muito realizados e felizes em termos proporcionado uma excelente
qualidade de vida para a Vovó Rosa.
Eu, pessoalmente, fiquei tão envolvida com o mundo do idoso que decidi inaugurar uma casa
de repouso para proporcionar a outros tudo aquilo que minha avó desfrutou nos últimos anos
de sua vida.
(*) Juliana Teixeira da Silva é
Diretora da Casa de Repouso Viva Bem
[email protected]
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