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Título: A Melhor Condutora do Mundo
Autor: António Mota
Ilustrações: Sandra Serra
Capa e paginação: Espiral Inversa
Copyright 2010, Edições Gailivro
Rua Cidade de Córdova, nº 2
2610-038 Alfragide - Portugal
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1ª Edição, Setembro de 2010
ISBN: 9789895578238
Gailivro, uma editora do grupo LeYa
Uma história de
António Mota
Ilustrada por
A
Melhor
Mundo
do
Sandra Serra
1.
N
a casa da minha avó Rita há um calendário.
Está pendurado na parede da cozinha, por
baixo do relógio.
O relógio tem a forma de uma maçã vermelha, onde
cabem muitos algarismos e dois ponteiros pretos, um
mais comprido que o outro. No meio daquela apetitosa
maçã há uma borboleta amarela, cheia de sono.
No calendário há uma montanha com rochedos,
ervas, flores, neve, e duas vacas muito gordas. A vaca que
tem mais manchas pretas está a comer ervas, a outra
olha para o céu, se calhar a ver se chove, ou se vai cair
mais neve.
O calendário está cheio de círculos, de palavras e
de pontos de interrogação. A avó Rita gosta de escrever
com um lápis naquele calendário com uma montanha
e duas vacas. Mas nem sempre usa o lápis porque no
calendário há algumas datas pintadas com um marcador amarelo fluorescente. São os dias dos aniversários.
Ela chama-lhe as datas brilhantes do ano. E ri-se.
No mês de Agosto, o dia dez é a única data brilhante.
Está pintada a azul, a cor preferida da avó Rita, porque é
o dia do seu aniversário.
07
A avó Rita comemora a sua data brilhante de
uma forma muito especial. Nesse dia não há bolo de
aniversário, nem velas, nem cantorias. Levanta-se muito
cedo, senta-se ao volante do seu carro azul e desaparece.
Minha mãe telefona-lhe muitas vezes, manda-lhe imensas mensagens, mas ela não responde porque tem o
telemóvel desligado, ou sem rede. A meio da tarde,
a avó envia uma mensagem com quatro palavras:
“Vou regressar beijinhos Rita”. Minha mãe fica menos
preocupada e espera que ela volte a telefonar. A avó
regressa no dia seguinte. Depois de ter estacionado o
carro na garagem, telefona a dizer que já chegou.
Este ano, no último dia de Julho, a avó Rita fez-me
uma pergunta muito estranha:
— Tens algum compromisso para o dia dez de
Agosto?
— Vou ver… — disse eu, muito sério. Depois de
fazer de conta que tinha consultado a agenda do meu
telemóvel, respondi que não, que tinha todo o dia livre.
— Artur, queres vir comigo?
Fiquei muito espantado. Teria ouvido bem? A avó
Rita estava a convidar-me para sair com ela no dia dez
de Agosto, a sua data brilhante?
08
Perguntei, para ter a certeza:
— Avó, estás a convidar-me para irmos passear de
carro no dia dos teus anos?
— Exactamente.
— A sério? Mas vais sempre sozinha.
— Mudei de opinião. Chegou o tempo de ir acompanhada pelos meus dois netos. Não queres ir comigo? É
um dia diferente, disso podes ter a certeza…
A minha prima Sandra, que só é mais velha do que
eu dois anos, disse que não podia acompanhar a avó
porque no dia dez de Agosto contava estar com a mãe
dela, a minha tia Fátima, a gozar férias na praia de Monte
Gordo, no Algarve.
A avô Rita, que detesta a praia e muita gente apinhada no mesmo sítio, resmungou que não entendia
como era possível haver seres humanos com paciência
para estarem como os lagartos horas e horas deitados ao
sol, a queimar a pele e a apanhar com areia nos olhos, no
nariz e nas orelhas, e a levar com bolas na cabeça…
— Enfi m, gostos não se discutem — , concluiu. Mas eu
bem via que ela falava assim porque estava triste por a
Sandra não poder estar com ela no dia dez de Agosto.
— Artur, no dia dez vens comigo. Combinado?
— Sim, avó, está combinado.
— Será melhor vires jantar e dormir em minha casa
no dia nove. Assim não perdemos tempo. Achas bem?
— Acho muito bem.
Quando contei a novidade, minha mãe também ficou admirada. E eu estava contente. A avó Rita cozinha
muito bem.
10
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A Melhor Condutora do Mundo