MEUS QUERIDOS OLHOS VERDES “Avó, conta-me como conheceste o Avô.”, pediu Miriam. “Mas eu já te contei essa história tantas vezes! Ainda não te cansaste de ouvir as palermices desta velha?”, replicou a Avó. “Não! Conta lá! Quero ouvir outra vez!”, insistiu a pequena de 10 anos. “Muito bem. Já que insistes tanto em desperdiçar mais uma horinha a ouvir-me, vou fazer-te a vontade.”, a Avó cedeu e recostou-se no seu sofá enquanto Miriam se sentava no seu colo, bem aconchegada e preparada para, mais uma vez, ouvir a história de como os seus Avós se conheçeram. “Então aqui vai”, começou a Avó, “Como já bem sabes, a história começa quando fui de férias para as Caraíbas com os meus pais. Numa manhã bem quente, a minha mãe acordou com uma vontade enorme de ir à praia – o que não era estranho, dado o calor que estava – e o meu pai, como sempre gostou de fazer as vontades todas à minha mãe, não hesitou um segundo em aceitar a proposta. Já eu, que gostava pouco de ir à praia – nem sei como conseguiram convencer-me a ir às Caraíbas –, recusei-me redondamente a acompanhá-los. Desculpei-me, dizendo que não fazia bem à minha pele apanhar tanto sol num dia como aquele, mas a minha mãe, que era teimosa como tudo – já se sabe bem de onde vem essa teimosia toda, minha menina – não me deixou escapar. Ela dizia que eu passava o tempo todo dentro daquele quarto de hotel, que precisava de sair, apanhar algum sol, apreciar as Caraíbas. Tentei tudo, arranjei mil e uma desculpas para não ir, mas não havia maneira de a fazer mudar de ideias. Enquanto a minha mãe preparava a nossa comida, o meu pai colocava tudo o que precisávamos no carro. Quando tudo estava preparado, saímos e dirigimo-nos para aquela bela praia perto do hotel onde estávamos hospedados. Era uma praia linda, realmente. Mas mais lindos ainda eram os rapazes! Tenho de confessar que, nos meus 16 anos, eu só pensava em rapazes e, bem, achei que estava no Paraíso! Estendemos as nossas toalhas junto de uma palmeira e os meus pais decidiram ir dar uma volta pela praia, pelo que eu fiquei sozinha a ler. De vez em quando ainda deitava um olho por cima do livro para ver as “vistas”, mas o livro começou a ficar cada vez mais interessante e acabei por concentrar nele toda a minha atenção. Estava tão concentrada na minha leitura que qual não foi o grito que dei quando, de repente, senti algo bater-me na cabeça. Um rapaz rapidamente se aproximou de mim a pedir desculpa por me ter acertado com a bola. E que rapaz! Se eu já achava que tinha visto todos os rapazes giros daquela praia, aquela visão mudou tudo! Oh!, aqueles olhos verdes! Apaixonei-me instantaneamente por aquela que era, provavelmente, a mais bela criatura que alguma vez tinha conhecido. Ela continuava a pedir desculpa e eu, sem conseguir dizer nada de tão atordoada que estava por causa daqueles olhos, apenas sorria. Eventualmente voltei a mim e acalmei-o, assegurando-o de que estava tudo bem. Com um sorriso, disse-me que se chamava Bob e eu disse-lhe também o meu nome. Para grande prazer meu, o teu Avô era um atrevido e convidou-me para sair nessa noite, para me compensar pelo incidente. Como é óbvio, eu aceitei. Como poderia recusar um pedido assim? Durante o resto do dia, ele e os amigos mantiveram-se perto e eu reparei que, de vez em quando, ele olhava para mim, o que me fazia sentir aquelas borboletas no estômago. Contei aos meus pais o que tinha acontecido e que tinha um encontro naquela noite. No início, o meu pai estava um pouco hesitante em deixar-me ir, mas, como a minha mãe adorou a ideia e estava do meu lado, ele acabou por ceder. Arranjei-me da melhor maneira que pude e, depois de jantar, saí para me encontrar com o Bob num bar junto da praia. Quando cheguei, ele já lá estava. A luz da lua fazia-o parecer ainda mais bonito do que naquela tarde e os seus olhos verdes estavam ainda mais brilhantes. Cumprimentámo-nos. Eu estava muito nervosa e posso dizer-te, minha querida, que ele estava também muito nervoso, senão ainda mais do que eu, embora ele o tenha sempre negado durante todos estes anos. Conversámos muito nessa noite. Com o passar do tempo e à medida que nos começávamos a conhecer melhor, o nervosismo passou e ambos começámos a sentirnos bem mais confortáveis um com o outro. Sem dúvida que ele era um rapaz muito simpático e eu cada vez gostava mais dele. Estávamos muito animados, até que ele perguntou quando é que eu iria voltar a Portugal. Eu ia voltar dentro de dois dias e, quando lhe disse isso, a expressão dele mudou. Vi na cara dele que aquela resposta o tinha deixado triste e algo chateado, apesar de eu não perceber por quê. As minhas dúvidas foram respondidas quando ele disse que estava chateado comigo por não lho ter dito mais cedo, mas estava chateado principalmente com ele mesmo porque já sabia que eu estava ali só a passar férias, que mais tarde ou mais cedo iria voltar para casa e, mesmo assim, não se foi embora e deixou-se começar a gostar de mim. Ora, eu não estava à espera de ouvir aquilo e fiquei sem saber o que responder. Infelizmente, ele nem me deixou pensar em algo para dizer. Aqueles olhos verdes que eu tanto admirava fixaram os meus e ele disse que não valia a pena começar uma coisa que nunca poderia continuar. Levantou-se e foi embora. Acho que fiquei ali sentada a olhar para nada por mais uma hora. Não sabia como reagir ao que tinha acontecido. A atitude dele não foi certamente aquela que eu estava à espera, mas quem o poderia culpar? Se era verdade que ele estava mesmo a começar a gostar de mim, saber que eu iria embora dentro de dois dias não devia ser fácil. Finalmente consegui levantar-me e ir embora. Cheguei a casa e fui diretamente para o meu quarto. Continuei a pensar no que tinha acontecido e a tentar arranjar uma maneira de voltar a ver o Bob, mas não me ocorria nada. Acho que adormeci mais ou menos uma hora depois.” “Avó, e o aconteceu depois? Tu e o Avô encontraram uma maneira de ficar juntos... Já que nós vivemos aqui, nas Caraíbas. Como foi?”, perguntou Miriam, saltando no colo da Avó. “Fazes-me essas perguntas como se não soubesses as respostas. Ó minha querida neta, se queres mesmo que eu te conte o resto da história outra vez, vais ter de esperar até amanhã. Já estou muito cansada! Sabes como é, já não sou o que era naqueles tempos!”, a Avó disse rindo, “Agora vai lá. Deixa-me dormir um pouco. Vai.” “Está bem. Mas amanhã tens de me contar o resto.”, Miriam replicou, levantando-se do colo da Avó e dirigindo-se para a porta. “Está bem, minha pequena.”, a Avó respondeu, já de olhos fechados. “Prometes?” “Prometo.” Carla Sofia Sousa Moreira, 9.º ano, Escalão C (Prosa) – 2.º lugar Escola Básica e Secundária Padre António Morais da Fonseca