Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 13, n. 1, p. 1-10, jan./mar. 2010 DOI: 10.4260/BJFT2010130100001 Revisão Aminas biogênicas em embutidos cárneos e em outros alimentos Review Biogenic amines in sausages and other foods Autores | Authors José Mauro GIROTO Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Av. Monteiro Lobato, s/n - Km 04 CEP: 84016-210 Ponta Grossa/PR - Brasil e-mail: [email protected] Maria Lucia MASSON Sônia Maria Chaves HARACEMIV Universidade Federal do Paraná (UFPR) e-mail: [email protected] [email protected] Autor Correspondente | Corresponding Author Recebido | Received: 12/01/2009 Aprovado | Approved: 17/08/2009 Resumo Aminas biogênicas são substâncias presentes naturalmente em muitos alimentos e são produzidas principalmente pela ação de microrganismos através de atividades aminoácido-descarboxilases. Utilizando-se de dados de diversas fontes, este trabalho teve como objetivo apresentar uma revisão sobre a presença destes compostos em alimentos e de forma particular em embutidos cárneos. Critérios de boas práticas de fabricação descritos por diversos autores indicam que são toleráveis níveis de 50-100 ppm de histamina, 100-200 ppm de tiramina e 30 ppm de feniletilamina, ou um total de aminas biogênicas de 100-200 ppm. Os dados obtidos indicam a existência de uma grande variabilidade na quantidade e concentração de diferentes aminas em alimentos in natura e em embutidos cárneos. O tratamento dos dados da literatura indicou que: 22,2% dos produtos atendem aos requisitos de boas práticas de fabricação em relação ao total de aminas biogênicas, todos os produtos atendem aos requisitos para histamina, 77,8% atendem aos requisitos para tiramina e 100% dos produtos atendem aos requisitos para feniletilamina. Todos os produtos apresentaram quantidades inferiores aos parâmetros descritos na literatura para os efeitos toxicológicos. Pesquisas para identificação de microrganismos aminoácido-descarboxilases negativos e outros fatores que reduzem a sua formação e acumulação é o principal mecanismo para o estabelecimento de medidas para melhorar a qualidade e segurança alimentar destes produtos. Palavras-chave: Aminas biogênicas; Embutidos cárneos; Qualidade; Segurança alimentar. Summary Biogenic amines are compounds naturally present in many foods, and are produced mainly by the action of microrganisms through the activity of amino acid descarboxylases. Using the data from various sources, the aim of this work was to present a review on the presence of these compounds in foods and especially in sausages. The criteria of good manufacturing practices described by various authors indicate that levels of 50-100 ppm of histamine, 100-200 ppm of tyramine and 30 ppm of phenylethylamine, or a total of 100-200 ppm total biogenic amines, can be tolerated. The data obtained indicated considerable variability in the quantity and concentration of the different amines both in foods in natura and in sausages. The treatment of the data obtained from the literature indicated that: 22.2% of the products complied with the requirements of good manufacturing practices with respect to the total biogenic amines, all the products complied with the requirements for histamine, 77.8% for tyramine and 100% for phenylethylamine. All the products presented inferior quantities as compared to the parameters described in the literature for toxicological effects. Research for the identification of aminodescarboxylase negative microorganisms and other factors that reduce their formation and accumulation represent the main mechanism to establish measures to improve the quality and food safety of these products. Key words: Biogenic amines; Sausage; Quality; Food safety. www.ital.sp.gov.br/bj Revisão Aminas biogênicas em embutidos cárneos e em outros alimentos GIROTO, J. M. et al. 1 Introdução A qualidade e segurança dos alimentos têm sido ao longo do tempo os principais parâmetros que norteiam a competitividade das indústrias. Em relação às questões de saúde pública, as preocupações têm sido principalmente voltadas às contaminações dos alimentos de origem microbiológicas. Por outro lado, diversos são os perigos de natureza química que podem estar presentes nos alimentos e, alguns têm sido descritos como inerentes ao próprio processo de transformação de matéria-prima em produto, como é o caso das aminas biogênicas. Quimicamente, o termo aminas é descrito como sendo bases orgânicas derivadas da amônia. Na biologia, o termo está relacionado a compostos formados ou degradados durante os processos metabólicos normais dos seres vivos, apresentando diferentes funções fisiológicas e, por isso, chamadas de “aminas bioativas” ou “aminas biologicamente ativas”. Na tecnologia de alimentos, o termo “aminas biogênicas” está relacionado a uma categoria de compostos presentes em determinados tipos de alimentos e descritos como potencialmente perigosos, devido ao fato de apresentarem propriedades vasoativas, psicoativas e toxicológicas (BOVER-CID et al., 2006; LATORRE‑MORATALLA et al., 2007). Devido a estes fatos, o objetivo deste trabalho foi apresentar uma revisão sobre a presença de aminas biogênicas em alimentos e em embutidos cárneos quanto aos aspectos quantitativos. 2 Nomenclatura e estrutura química Na tecnologia de alimentos, a nomenclatura mais utilizada para designar as aminas biogênicas tem sido a partir dos nomes de aminoácidos precursores. Como exemplo, tem-se que a histamina, é uma amina originada a partir de histidina; tiramina uma amina originada a partir de tirosina e triptamina, a partir do triptofano (LIMA e GLÓRIA, 1999; SANCHES-CASCADO, 2005). De acordo com o número de grupos amínicos, as aminas podem ser classificadas em monoaminas (tiramina, feniletilamina); diaminas (histamina, serotonima, triptamina, putrescina, cadaverina) e poliaminas (putrescina, espermina, espermidina). Quanto a sua estrutura química, são classificadas em três grandes grupos: aromáticas (histamina, tiramina, feniletilamina, triptamina, serotonina, dopamina e octopamina); diaminas alifáticas (putrescina e cadaverina); e poliaminas alifáticas (agmatina, espermina e espermidina). Quanto à ação no organismo, as aminas são classificadas em vasoativas (tiramina, triptamina, feniletilamina, isoamilamina, histamina e serotonina) e psicoativas Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 13, n. 1, p. 1-10, jan./mar. 2010 (noropinefrina, serotonina e dopamina) (EEROLA e MAIJALA 2004; CÖISSON et al., 2004; MARINÉ-FONT, 2005; SANCHES‑CASCADO, 2005). 3 Origem e formação das aminas Além da síntese a partir da amônia, as aminas podem ser formadas por transaminação de aldeídos ou cetonas, hidrólise de compostos nitrogenados e decomposição térmica. Algumas aminas denominadas de poliaminas (putrescina, espermina e espermidina) são formadas durante o processo bioquímico chamado de novo biossíntese, porém a principal via de formação destes compostos é a partir da descarboxilação de aminoácidos por enzimas microbianas (HALÁSZ et al., 1994; EEROLA et al., 1997; MARINÉ-FONT, 2005; LAPA‑GUIMARÃES, 2005; KALAČ, 2006; ÖNAL, 2007). As aminas são classificadas em aminas naturais e aminas biogênicas quanto a sua origem. As aminas naturais (putrescina, cadaverina, agmatina, espermidina e espermina) são formadas durante os processos metabólicos de plantas e animais à medida que são requeridas e, estarão presentes quando estes forem transformados em produtos alimentícios. Também podem ser formadas a partir dos aminoácidos ornitina e lisina por ação de enzimas descarboxilases produzidas por microrganismos (LIMA e GLÓRIA, 1999; SANCHES‑CASCADO, 2005; BOVER-CID et al., 2006). Quanto às aminas espermidina e espermina, são formadas a partir de aminoácidos precursores (ornitina e arginina), sendo a putrescina um intermediário obrigatório (LIMA e GLÓRIA, 1999; SANCHES-CASCADO, 2005). As aminas biogênicas são substâncias formadas durante as fases de transformação dos alimentos pela ação de enzimas descarboxilases, produzidas por microrganismos sobre aminoácidos específicos. Neste grupo estão incluídas a tiramina, a histamina, a triptamina e a feniletilamina (MAIJALA et al., 1995; EEROLA et al., 1997; SUZZI e GARDINI, 2003; CÖISSON et al., 2004; MARINÉ-FONT, 2005; KALAČ, 2006). As atividades descarboxilases não estão distribuídas amplamente entre as bactérias, no entanto, as bactérias láticas (Lactobacillus, Enterococcus, Carnobacterium, pediocossus, lactococcus e leuconostoc), as enterobactérias (Morganella, Hafnia, Klebsiella, Escherichia, Salmonella, Shigella), Pseudomonas e Staphylococcus, Micrococcoccus e kocuria, são descritos como capazes de produzir enzimas aminoácidodescarboxilases (PARENTE et al., 2001; ANSORENA et al., 2002; ERKKILÃ, 2001; SUZZI e GARDINI, 2003; MARINÉFONT, 2005; LAPA-GUIMARÃES, 2005; KALAČ, 2006; ÖNAL, 2007). 2 www.ital.sp.gov.br/bj Revisão Aminas biogênicas em embutidos cárneos e em outros alimentos GIROTO, J. M. et al. 4 Aminas em alimentos in natura e processados As aminas biogênicas têm sido descritas como naturalmente presentes nos alimentos in natura. Em alimentos processados via fermentação/maturação, tais como queijos, vinhos, cerveja e embutidos cárneos, a presença destes compostos tem sido descrita principalmente como resultado de ação das enzimas de microrganismos sobre aminoácidos específicos (EEROLA et al., 1997; TREVIÑO et al., 1997; ANSORENA et al., 2002; CÖISSON et al., 2004; LATORRE‑MORATALLA et al., 2007; ÖNAL, 2007). Diversos são os trabalhos realizados para a identificação e quantificação destes compostos nos alimentos, tanto in natura quanto processados. A Tabela 1 ilustra a presença e variação na concentração de aminas biogênicas em alimentos in natura de origem vegetal e animal. Na Tabela 1 pode ser visualizada a variação quantitativa e qualitativa para as diferentes aminas e diferentes tipos de alimentos in natura. Em relação aos produtos de origem vegetal, observa-se que os maiores valores estão relacionados à amina putrescina, o que pode Tabela 1. Presença e variação na concentração de aminas biogênicas em alimentos não processados. Amina/produto Tomate Laranja Carne Carne (mg.kg–1 ou mg.L–1) bovina suína Putrescina 15-49 59-200 < 1-23 nd-16 Cadaverina nd-< 5 19-31 < 1-17 nd-8 Histamina nd-< 7 nd-< 5 10-83 <1-10 Tiramina nd-< 7 nd-< 6 <1-24 <2-15 Feniletilamina nd nd <1 Triptamina nd-< 10 Espermidina nd-< 10 nd-< 5 < 2-185 1-102 Espermina nd-< 7 nd-< 6 18-473 2-564 Serotonina nd-< 7 nd Fonte: adaptado de Bauer et al. (2004), -: não informado, nd: não detectado. indicar que já estejam em estado de deterioração. Em relação à carne suína e bovina, as aminas (espermidina e espermina) estão presentes em maior concentração. Os valores para estas substâncias podem estar relacionados ao mecanismo de formação destas substâncias nos alimentos, conforme descrito por Lima e Glória (1999), Sanches-Cascado (2005) e Suzzi e Gardini (2003), os quais relatam que estas são as únicas aminas presentes em níveis significativos em carne fresca. Também, ainda de acordo com os autores, altas concentrações destas aminas podem ser atribuídas ao crescimento de microrganismos, ou então, que os produtos já estejam em processo de deterioração, devido ao fato de estes produtos serem mais facilmente contaminados em seu processo de obtenção. Lima et al. (2006) analisaram teores de poliaminas em alimentos e destacaram que alface, laranja, tomate, banana e batata frita ou cozida foram as maiores fontes de putrescina e que estes alimentos também contribuem com espermidina e espermina na dieta. A presença de aminas biogênicas nestes produtos é dependente do tipo de vegetal, tipo de tecido, estágio de maturação e formas de armazenamento. Em alimentos frescos, aminas biogênicas podem ser geradas devido à atividade descarboxilase endógena ou à ação de microrganismos descarboxilase positiva sobre aminoácidos livres em condições favoráveis à atividade enzimática, sendo esta considerada a principal via de formação em alimentos (LAPA-GUIMARÃES, 2005). A Tabela 2 ilustra o conteúdo de aminas biogênicas em diversos alimentos processados. Na Tabela 2, podem ser visualizados quantitativa e qualitativamente para as diferentes aminas em diferentes tipos de alimentos processados. Etapas de processamento tais como a fermentação e maturação (atividades enzimáticas proteolíticas) e condições de processamento (boas práticas de fabricação), podem influenciar consideravelmente os valores para estes compostos. Mariné-Font (2005) relata que não é fácil estabelecer uma correlação entre o conteúdo de aminas Tabela 2. Presença e concentração de aminas biogênicas em alimentos processados. Amina/produto Vegetais Queijos Linguiça Peixe e fermentados maturados fermentada derivados mg.kg–1 ou mg.L–1 Putrescina Cadaverina Histamina Tiramina Feniletilamina Triptamina Espermidina Espermina 148,7 148,2 11,7 149,8 5,1 - 68,3 125,6 185,2 117,3 22,3 15,0 199,7 31,6 197,9 48,1 99,0 176,8 37,8 18,7 38,9 11,7 5,6 106,7 6,4 6,8 4,1 Vinho Linguiça cozida 3,4 0,1 1,0 1,7 1,5 - 5,4 5,3 5,9 7,1 2,0 4,4 2,1 Fonte: Adaptado de BAUER et al. (2004) (-) não informado. Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 13, n. 1, p. 1-10, jan./mar. 2010 3 www.ital.sp.gov.br/bj Revisão Aminas biogênicas em embutidos cárneos e em outros alimentos GIROTO, J. M. et al. biogênicas e a contagem microbiana de forma segura, devido à capacidade da aminoácido-descarboxilases em se apresentar com diferentes composições segundo as espécies bacterianas e as condições nas quais elas se desenvolvem. É o que pode ocorrer, por exemplo, em vinho e linguiça cozida, em que o teor alcoólico e a temperatura elevada podem destruir os microrganismos e, consequentemente, não haver produção de enzimas, não ocorrendo desta forma a produção de aminas biogênicas ou produção em baixas concentrações. 5 Formação de aminas em derivados cárneos fermentados Na literatura há registros de inúmeros trabalhos os quais buscam avaliar determinados fatores que podem influenciar em maior ou menor intensidade a formação destes compostos. Particularmente para derivados cárneos, a Tabela 3 ilustra trabalhos de pesquisa de diversos autores, os parâmetros analisados e os resultados obtidos quanto à presença destes compostos. Conforme ilustrado na Tabela 3, vários são os parâmetros (NaCl, alta pressão, congelamento de matérias-primas, uso de culturas starters, misturas de condimentos, diâmetro do produto, redução na quantidade de açúcar adicionada, uso de aditivos (sulfitos, variação nos tempos e temperaturas de maturação) que já foram utilizados para avaliar a formação de aminas biogênicas em embutidos cárneos, demonstrando em seus resultados maior ou menor concentração de aminas biogênicas no produto final. Outros parâmetros, tais como pH, umidade, concentração de aminoácidos precursores (BOVER-CID et al., 2006), adição de açúcar, adição de sulfitos, tempo de armazenamento (KOMPRDA et al., 2004), uso de materiais com alta qualidade higiênica, uso de culturas starters aminoácido-descarboxilases Tabela 3. Parâmetros analisados e resultados obtidos na avaliação de aminas biogênicas em embutidos cárneos fermentados. Autor Parâmetros analisados Resultados obtidos Roseiro et al. (2006) Cloreto de sódio O uso de Cloreto de sódio reduz o nível de aminas biogênicas. Cöisson et al. (2004) Vida de prateleira Aminas são importantes para avaliação do estado de conservação do produto produto durante o armazenamento. Bover-Cid et al. Adição ou não de Não é recomendável a omissão, pois aumenta a quantidade de aminas (2001a) açúcar biogênicas durante a manufatura e armazenamento. Eerola et al. (1997) Vida de prateleira do Contaminação por bactéria ou a formação de aminas biogênicas podem produto ocorrer após o processo de fermentação. LatorreAlta pressão e culturas O uso de culturas iniciadoras foi mais efetivo do que o uso de alta pressão Moratalla, et al. (2007) iniciadoras na formação de aminas biogênicas. Bover-Cid et al. (2006) Congelamento da carne Ajuda a reduzir o desenvolvimento de enterobactéria e produção de cadaverina Komprda et al. (2004) Culturas starters, Os tipos de culturas iniciadoras e tipo de linguiça (condimentos) mistura de condimentos, influenciaram a formação putrescina e tiramina. O tempo de armazenagem tempo de armazenagem em temperatura ambiente não seria recomendado. e temperatura Bover-Cid et al. Concentração de sulfito Reduz a contagem microbiana e entre as aminas analisadas apenas a (2001b) de sódio quantidade de cadaverina foi menor em linguiça sem sulfito. Tiramina e putrescina parecem ser estimuladas com a presença de sulfito. Maijala et al. (1995) Temperatura, Matérias-primas contaminadas afetam a formação de aminas biogênicas. matérias‑primas, Flora inicial, altas temperaturas e acidificação resultam em alta acidificação e culturas concentração de aminas biogênicas. starters Komprda et al. (2001) Cultura iniciadora O efeito da temperatura de armazenamento não afeta a formação de aminas e temperatura de biogênicas. Tipos de culturas starters influenciam a formação de aminas armazenamento biogênicas, quando o produto é armazenado a uma mesma temperatura. Bover-Cid et al. (1999) Diâmetro da linguiça O diâmetro do produto pode afetar a formação de aminas biogênicas durante a etapa de fermentação. Gençcelep et al. Culturas iniciadoras e Utilizando culturas iniciadoras, obteve-se menor quantidade de putrescina, (2007) nível de nitrito em Sucuk cadaverina e tiramina que sem o uso de culturas. Porém culturas iniciadoras tiveram efeitos sobre a formação de aminas biogênicas. O uso de nitrito influenciou a formação de aminas biogênicas, com exceção de espermina e espermidina. Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 13, n. 1, p. 1-10, jan./mar. 2010 4 www.ital.sp.gov.br/bj Revisão Aminas biogênicas em embutidos cárneos e em outros alimentos GIROTO, J. M. et al. negativas pré-selecionadas, entre os quais Lactobacillos sakei e Lactobacillus curvatos (BOVER-CID, 2004), ou desativação de microrganismos que acarretam a descarboxilação de aminoácidos em embutidos, são referenciados por Eerola et al. (1997); Komprda et al. (2001) e Mariné-Font (2005) como procedimentos que já foram pesquisados e importantes, para que fossem conhecidos os mecanismos da formação e, consequentemente, proporcionassem conhecimentos para a prevenção da formação de aminas biogênicas. 6 Quantificação e qualificação de aminas biogênicas em embutidos cárneos Durante a etapa de fermentação e maturação de embutidos cárneos, diferentes transformações físicas, químicas e bioquímicas ocorrem nos carboidratos, lipídios e proteínas, originando compostos responsáveis pelo odor e sabor, cor e textura (RÚBIO, 1994; MARTIN‑JUÁREZ, 2005). As proteínas sofrem uma série de transformações pela ação de proteases e peptidases de origem microbiana e da própria carne (calpaínas, catepsinas e oligopeptidases), obtendo-se peptídeos e aminoácidos, influenciando também de forma significativa nas modificações das propriedades sensoriais (doce, salgado, ácido e amargo) e nutritivas destes produtos (RÚBIO, 1994, BOLUMAR-GARCIA, 2005). Os aminoácidos livres podem sofrer uma série de reações de degradação, como desaminações e descarboxilações, produzindo compostos como cetoácidos, ácidos graxos, amoníaco e aminas (BOLUMAR-GARCIA, 2005). A quantidade e tipo de aminas nos alimentos em geral dependem da natureza, origem, disponibilidade de aminoácidos livres, de bactérias capazes de descarboxilar aminoácidos e condições favoráveis para o seu crescimento. O resultado da ação das enzimas microbianas sobre os aminoácidos livres é uma amina que, dependente do peso molecular e estrutura do aminoácido que a origina, pode resultar em monoaminas, diaminas ou aminas com grupos químicos suplementares (LAPA-GUIMARÃES, 2005). A Tabela 4 ilustra a composição de diferentes tipos de embutidos cárneos em relação à concentração de aminoácidos. Observa-se que, embora sejam produtos diferentes, apresentam semelhanças na composição de aminoácidos, devido à natureza da matéria-prima, ocorrendo uma pequena variação entre os produtos. Desta forma, conforme descrito por Lapa-Guimarâes (2005), ocorrendo proteólise e existindo microrganismos capazes de produzir enzimas descarboxilases, estas enzimas se ligarão aos aminoácidos descarboxilando-os e formando aminas biogênicas, e a quantidade formada é dependente do tipo de aminoácidos livres e do mecanismo de ligação entre aminoácido/enzima presente no produto. Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 13, n. 1, p. 1-10, jan./mar. 2010 Tabela 4. Composição de aminoácidos em diferentes tipos de embutidos cárneos (g.100 g–1 parte comestível do produto). Aminoácidos Linguiça Linguiça Salame Salame polonesa italiana italiano bovino suína suína suíno e suíno crua cozido Histidina 0,444 0,411 0,614 0,359 Isoleucina 0,611 0,520 1,084 0,675 Leucina 1,076 0,956 1,625 0,929 Lisina 1,110 1,083 1,878 1,107 Metionina 0,379 0,346 0,470 0,301 Fenilalanina 0,539 0,477 0,940 0,481 Treonina 0,591 0,563 1,012 0,521 Triptofano 0,138 0,114 0,253 0,114 Valina 0,679 0,572 1,120 0,668 Alanina 0,902 0,789 1,336 0,880 Arginina 0,925 0,842 1,373 0,855 Ácido 1,293 1,186 2,095 1,285 aspartico Cistina 0,157 0,144 0,289 0,196 Ácido 2,117 1,970 3,829 1,929 glutâmico Glicina 0,992 0,865 1,553 1,189 Prolina 0,712 0,663 1,336 0,831 Serina 0,584 0,552 0,903 0,537 Tirosina 0,444 0,411 0,686 0,552 Hidroxiprolina 0,318 Fonte: USDA - National Nutrient Database for Standard Reference, (2008). Pode ser observado na Tabela 4 que, entre os aminoácidos livres, a maior concentração é de lisina, leucina, alanina, arginina, ácido aspártico, ácido glutâmico, glicina e prolina. As aminas biogênicas histamina, putrescina, cadaveina, tiramina, triptamina, feniletilamina, espermina e espermidina são as mais importantes aminas biogênicas em alimentos (SUZZI e GARDINI, 2003). Trabalhos voltados à avaliação quantitativa de aminas biogênicas em produtos alimentícios são frequentemente disponibilizados na literatura científica. Para ilustrar a variação quantitativa destes compostos em produtos cárneos, são apresentados na Tabela 5 os resultados catalogados por Suzzi e Gardini (2003), descritas as médias dos valores de diferentes aminas e a concentração total em amostras de 255 tipos de embutidos fermentados. De um total de 255 amostras, dos mais variados tipos de embutidos cárneos fermentados (produtos), pode-se observar, na Tabela 5, que as aminas (histamina, tiramina, cadaverina, putrescina) foram analisadas em todas as amostras. Triptamina, feniletilamina, espermina e serpermidina não foram avaliadas em todas as amostras. O maior valor médio para histamina foi obtido na amostra 5 www.ital.sp.gov.br/bj Revisão Aminas biogênicas em embutidos cárneos e em outros alimentos GIROTO, J. M. et al. 7, o maior valor médio para tiramina foi obtido na amostra 17, o maior valor médio para cadaverina foi para a amostra 11, o maior valor médio para putrescina foi para a amostra 1 e para feniletilamina foi na amostra 12, conforme já descrito por diversos autores (BOVER-CID, 1999; KOMPRDA et al., 2001; PARENTE et al., 2001; EKICI et al., 2004; ROSEIRO et al., 2006; RUIZ‑CAPILLAS et al., 2007; LATORE‑MORATALLA et al., 2007). Mariné-Font (2005) relata que alguns critérios de boas práticas de fabricação indicam que são toleráveis níveis de 50-100 ppm de histamina, 100-200 ppm de tiramina e 30 ppm de feniletilamina, ou um total de aminas biogênicas de 100-200 ppm. Em relação à ingestão de produtos contendo estes compostos, diversos autores relatam que o consumo de alimentos contendo níveis de 1.000 ppm destas aminas biogênicas pode provocar efeitos psicoativos e vasoativos em função do tipo de amina presente (LIMA E GLÓRIA, 1999; PARENTE et al., 2001; KOMPRDA et al., 2001; CÖISSON et al., 2004; M A R I N É ‑ F O N T, 2 0 0 5 ; B O V E R - C I D e t a l . , 2 0 0 6 ; ROSEIRO et al., 2006). Para ilustrar o conceito de boas práticas de fabricação descrito por Mariné-Font (2005) e valores que podem proporcionar efeitos psicoativos e vasoativos descritos por Lima e Glória (1999); Komprda et al. (2001); Cöisson et al. (2004); Ekici et al. (2004); Mariné-Font (2005); Bover-Cid et al. (2006); Roseiro et al. (2006), fez-se uma avaliação a partir da Tabela 5 dos valores dados para histamina, tiramina, feniletilamina e a soma das médias para aminas biogênicas total. Em relação à presença de aminas biogênicas totais, conforme pode ser observado na Tabela 5, somente os produtos 4, 5, 13 e 18 atendem aos critérios descritos para boas práticas de fabricação, totalizando 22,2% das amostras. Em relação à presença de histamina, todos os produtos atendem ao conceito anteriormente descrito, perfazendo 100% das amostras. Em relação à tiramina e feniletilamina, 77,8 e 100%, respectivamente, atendem aos critérios conforme preconizado por MarinéFont, 2005, embora, para alguns produtos, nem todas as aminas tenham sido avaliadas pelos autores, porém não interferindo neste critério de análise. A Tabela 6 ilustra diferenças nas concentrações de aminas biogênicas para diferentes produtos. Na Tabela 6, pode ser visualizada a variação quantitativa e qualitativa para as diferentes aminas e diferentes tipos de carne e produtos processados. Em relação à linguiça fermentada, diferentes autores obtiveram diferentes valores para aminas biogênicas. Quanto aos efeitos adversos à saúde, todos os produtos apresentam quantidade inferior, conforme pode ser visualizado na Tabela 5, ao descrito por Lima e Glória (1999); Komprda et al. (2001); Cöisson et al. (2004); Mariné‑Font (2005); Bover-Cid et al. (2006); Roseiro et al. Tabela 5. Média de valores para aminas biogênicas em amostras de vários tipos de embutidos fermentados cárneos. Produtos HIS TYR TRY CAD PUT 2PH SPD SPM Total (mg.kg ) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 –1 71 15,3 21,9 0 4,1 54 89 9 21 1,8 15,2 19,4 28,5 17,5 7,3 2,2 9 5,3 220 164,3 17,8 76,7 36,8 88 110 54 72 121,8 156,9 198,4 89 282,3 280,5 190,7 332,1 14 3,9 14 22 27 18 6,5 10 21,3 5 15,9 8,5 8,7 11,5 13 103 71,3 60,8 6,7 2,5 50 10 180 6 56,3 367,2 26,4 6 20,1 11,7 18,9 12,6 19 279 223 98.8 19,7 15,1 79 93 130 77 105,2 64,7 138,5 54 60,4 102,7 71,6 65,2 39 4 1,3 3,4 0 0,9 13 11 2 3 5,3 10,1 17,4 1,2 6,7 1,9 2,2 9,7 5,1 4,3 40 18,8 4 5 7 6 9,2 10,3 5,6 2,5 23 91 83,7 33,5 2,8 31 33 37 29 32,8 30,6 35,2 2 1,8 777 563,2 438,9 124,7 59,9 214 333 446 232 338,9 665 665 187 397,4 417,4 294 432,6 104,1 Nº amostras 5 3 9 10 24 11 4 8 12 15 23 19 2 20 22 11 7 50 HIS – histamina, TYR – tiramina, TRY – triptamina, CAD – cadaverina, PUT – putrescina, 2PH – feniletilamina, SPD – espermidina, SPM – espermina, - não informado 1. Salsichão industrial, 2. Salsichão tradicional Espanhol, 3. Salame típico Italiano, 4. Salsicha Italiana, 5. Salsicha Bélgica, 6. Salsicha Finlandesa, 7. Salsicha Russa, 8. Salsicha Dinamarquesa, 9. Linguiça Alemã, 10. Salsicha fina Espanhola, 11. Salsicha Espanhola, 12. Salsichão, 13. Salsicha Polonesa, 14. Chouriço Espanhol, 15. Salsichão Espanhol, 16. Salsicha típica Espanhola, 17. Linguiça tradicional Espanhola, 18. Salsicha Egípcia. Fonte: adaptado a partir de Suzzi e Gardini (2003). Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 13, n. 1, p. 1-10, jan./mar. 2010 6 www.ital.sp.gov.br/bj Revisão Aminas biogênicas em embutidos cárneos e em outros alimentos GIROTO, J. M. et al. Tabela 6. Valores para aminas em diferentes produtos. Amina/produto Carne Carne Linguiça Linguiça (mg.kg–1) bovina suína fermentada fermentada (b) Putrescina <1-23 nd-16 <1-580 197,9 Cadaverina <1-17 nd-8 <1-790 48,1 Histamina 1-83 <1-10 <1-200 99,0 Tiramina <1-24 <2-15 3-320 176,8 Feniletilamina <1 <1-48 37,8 Triptamina <1-91 Espermidina <2-185 1-102 <1-14 18,7 Espermina 18-473 2-561 19-48 38,9 Fonte: Eerola e Maijala (2004). (b) Bauer et al. (2004), -: não mencionado, nd: não detectado. (2006), e, portanto, a princípio não causariam efeitos adversos à saúde. No entanto, Lima e Glória (1999) citam, como exemplo dos efeitos toxicológicos para teores de histamina, que: valores entre 5 e 10 mg.100 g–1 do alimento podem causar sintomas em indivíduos mais sensíveis; níveis entre 10 e 100 mg.100 g–1 do alimento são potencialmente tóxicos; acima de 100 mg.100 g–1 apresentam toxicidade elevada; que a ingestão de alimentos contendo 6 mg.100 g –1 de tiramina pode causar enxaqueca e de 10 a 25 mg pode provocar crise de hipertensão em indivíduos em tratamento com medicamentos inibidores da monoamino-oxidase (ÖNAL, 2007). Caccioppoli et al. (2006) analisaram teores de aminas biogênicas em salames tipo italiano. Foram detectadas aminas biogênicas em todas as amostras com teores totais de 28,33 a 53,27 mg.100 g–1. Relatam também que a tiramina foi a amina predominante, seguida da putrescina e da cadaverina, e que todas as marcas apresentaram teores de tiramina capazes de causar efeito tóxico em indivíduos sensíveis, dependendo da quantidade ingerida. Várias aminas biogênicas (serotonina, histamina e tiramina) desempenham importantes funções fisiológicas no homem e em outros animais, atuando como hormônios no sistema nervoso e nos processos de digestão e de síntese proteica. No homem, sob circunstâncias normais, as aminas exógenas absorvidas através da ingestão de alimentos são rapidamente metabolizadas através de reações de acetilação e oxidação, mediadas por enzimas mono, di e poliamino-oxidase (OLIVEIRA et al., 2004; EEROLA e MAIJALA, 2004; SANCHES-CASCADO, 2005) No entanto, o mecanismo de metabolização destas substâncias pode ser insuficiente se o indivíduo apresenta atividade enzimática reduzida, em situações de um elevado consumo de alimentos contendo aminas biogênicas ou a ingestão de alimentos contendo aminas biogênicas e fármacos inibidores da enzima monoamino-oxidase Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 13, n. 1, p. 1-10, jan./mar. 2010 (EEROLA e MAIJALA, 2004; SANCHES-CASCADO, 2005). Neste sentido, é extremamente difícil avaliar o risco dos consumidores em relação à presença destes compostos em alimentos (EEROLA e MAIJALA, 2004; ÖNAL, 2007). Em função do significado que pode ser atribuído, o conteúdo de aminas biogênicas em alimentos Sanches‑Cascado (2005) estabelece a seguinte classificação para os alimentos: alimentos fermentados e/ou maturados - neste grupo a formação de aminas biogênicas pode estar associada à ação microbiana desejada, bem como à possibilidade destes produtos sofrerem contaminação durante sua elaboração e armazenamento que provoque a produção de aminas biogênicas, alcançando níveis superiores ao esperado do ponto de vista higiênico; alimentos que por suas características próprias de composição apresentam relativa facilidade para sofrer processos de decomposição e/ou deterioração - neste grupo a acumulação de aminas biogênicas ocorreria pela ação aminoácido descarboxilase dos microrganismos relacionados com o processo de deterioração; alimentos que contêm certas quantidades de aminas biogênicas pré-formadas - neste grupo encontram-se alimentos que utilizam sangue ou víceras em sua composição e alguns produtos vegetais, como a pinha e o tomate, em que a presença de aminas biogênicas não é atribuída a uma atividade bacteriana. A autora demonstra com esta classificação que grande parte dos alimentos derivados de origem animal é passível de apresentar tais compostos, pois, por sua natureza, são perecíveis e muitos deles são obtidos por processos de fermentação. 7 Considerações sobre aminas biogênicas Conforme pode ser observado nas Tabelas 1, 2 e 6, o consumo daqueles produtos pode proporcionar a ingestão de quantidades significativas destes compostos. A presença destes compostos nos alimentos, do ponto de vista qualitativo, apresenta grande importância, tendo em vista que algumas aminas possuem origem pela ação de microrganismos e sua presença pode indicar o grau de frescor e/ou alteração destes alimentos. Porém, de acordo com Bover-Cid (1999), não está definitivamente bem estabelecido quais são e em que quantidades a presença de aminas biogênicas seria considerado normal e inevitável, e em quais níveis indicaria uma deterioração ou falha no processo de elaboração. A presença de aminas biogênicas e outros compostos nitrogenados nos alimentos podem favorecer a formação de quinolinas, quinoxalinas e seus derivados, os quais podem apresentar atividade mutagênica ou carcionogênicas, principalmente em derivados de carne e peixes submetidos a processos térmicos de elaboração (ROIG, 2004). Além disso, pode ocorrer a formação dos compostos denominados de N-nitrosaminas, descritos 7 www.ital.sp.gov.br/bj Revisão Aminas biogênicas em embutidos cárneos e em outros alimentos GIROTO, J. M. et al. como potencialmente carcinogênicas (BOVER-CID et al., 2001a; KOMPRDA et al., 2004). As consequências negativas sobre a saúde, devidas à presença destes compostos nos alimentos, não estão suficientemente demonstradas e, necessitam de maior investigação, tendo em vista que nem todas as aminas apresentam efeitos negativos. Por exemplo, algumas poliaminas são essenciais para o desenvolvimento e crescimento das células, e várias aminas biogênicas (serotonina, histamina e tiramina) desempenham importantes funções fisiológicas no homem e em outros animais (ROIG, 2004; OLIVEIRA et al., 2004). A carne, seus derivados frescais e aqueles tratados termicamente não deveriam conter aminas biogênicas (MUNTAL, 2007). Neste caso, a presença de aminas biogênicas seria indicador do estado higiênico de tais produtos, conforme descrito por Marinée-Font (2005). Por outro lado, Suzzi e Gardini (2003), Cöisson et al. (2004), Komprda et al. (2001), Bover-Cid et al. (2006), Gençcelep et al. (2007), entre outros autores, relatam que em produtos em cujas etapas de obtenção são utilizados processos de fermentação e maturação, tais como em embutidos cárneos, podem ocorrer mudanças nas proteínas pela ação de enzimas proteolíticas endógenas ou microbianas, obtendo-se assim aminoácidos livres, os quais são componentes precursores de aminas biogênicas. Outros fatores também foram descritos, entre os quais altas temperaturas durante a fermentação e maturação, elevado valor de pH, reduzido conteúdo de sal, aditivos utilizados, qualidade sanitária das matérias‑primas e durante as etapas do processo e tecnologia utilizada, que constituem em conjunto com a presença de microrganismos adicionados ou não ao produto, um ambiente ideal para a formação de aminas biogênicas nesta categoria de produto. Um dos fatores relacionados à minimização destes compostos nesta categoria de produto estaria relacionado à seleção de culturas iniciadoras não aminogênicas e sua aplicação quando da elaboração de tais produtos (MUNTAL, 2007). Neste sentido, pesquisas para identificação destes microrganismos e de outros fatores que proporcionam a formação destes compostos devem ser realizadas para que seja possível conhecer mecanismos de prevenção e redução destes compostos, proporcionando aos consumidores produtos com melhor qualidade neste requisito. No entanto, a presença de aminas biogênicas nos alimentos, quando comparada a outros tipos de perigos, representa pouca preocupação, pois sua presença é muitas vezes inerente aos alimentos, bem como aos processos utilizados na sua obtenção. Controlar, porém, a presença destes compostos, utilizando-se do conceito de boas práticas de fabricação é um início para garantir a qualidade microbiológica dos produtos, o que de fato Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 13, n. 1, p. 1-10, jan./mar. 2010 já é um início na prevenção. Pesquisas que buscam identificar os fatores relacionados à formação destes compostos foram descritas. Como exemplo da aplicação de culturas microbianas adicionadas aos produtos, cita-se o trabalho desenvolvido por Talon et al. (2007), que relataram o desenvolvimento de cultura starter a partir de uma mistura de microrganismos isolados de linguiça fabricada artesanalmente na França, constituída basicamente de L. sakei, S. equorum e S. succinus, as quais, segundo os autores, proporcionaram resultados positivos na redução de aminas biogênicas, de oxidação lipídica e do colesterol total, além de não modificarem o sabor dos produtos. A real avaliação da exposição às aminas biogênicas seria possível apenas por meio de estudos de hábitos alimentares, bem como sua absorção e metabolização pelo organismo. Referências ANSORENA, D.; MONTEL, M. 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