Muraro, MG¹; Nalin, S¹; Trevisan, CA¹; Zanella, L¹; Almeida, DR² ¹ Acadêmicos de Medicina da Universidade de Passo Fundo, RS, Brasil. ² Médica Hematologista no Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo, RS, Brasil e professora de Hematologia e Hemoterapia na Universidade de Passo Fundo, RS, Brasil. INTRODUÇÃO DESCRIÇÃO DO CASO Síndromes paraneoplásicas são manifestações desencadeadas por respostas do sistema imunológico a uma neoplasia. Nesse relato, a síndrome paraneoplásica (trombose venosa) desenvolveu-se devido a uma leucemia ambígua ou bifenotípica, que é uma doença hematológica clonal caracterizada pela expressão de antígenos de duas linhagens celulares distintas: a linhagem mieloide e a linhagem linfoide. É uma entidade rara, representando menos de 5% das leucemias agudas. O diagnóstico é confirmado pela biópsia de medula óssea (BMO). A terapêutica consiste em quimioterapia e, em casos particulares, transplante de medula óssea. Conquanto, o prognóstico é reservado. Paciente feminina, parda, 22 anos, refere que há 8 meses iniciou com dor em membro superior esquerdo, irradiada para região cavo-axilar, acompanhada de edema e diminuição de temperatura do membro acometido. Foi tratada, em unidade básica de saúde, com ibuprofeno. O edema persistiu e a paciente passou a apresentar sudorese noturna, febre de 38ºC e tontura aos esforços, além de dois episódios de síncope e emagrecimento de 10kg em dois meses. Realizou-se ultrassonografia com Doppler que diagnosticou trombose venosa profunda ocluindo a veia jugular interna, subclávia, axilar e ainda oclusão da veia basílica, no nível do braço. Ao exame físico, apresentava linfonodos palpáveis e aumentados em região cervical. Exames laboratoriais evidenciaram: Leucócitos: 29.900/mm³, Bastonetes 0/mm³, Basófilos 0/mm³, Linfócitos 6.578/mm³, Linfócitos atípicos 2.691/mm³, Monócitos 1.794/mm³, Blastos/jovens 14.352/mm³, Hemácias 3,68 milhões /mm³, Hemoglobina 10,3 g/dL, Hematócrito 30%, H.C.M. 28pg, CHCM 34%, RDW 14,6%. Desta forma foi indicado estudo medular sendo que o resultado da imunofenotipagem por citometria de fluxo identificou Leucemia ambígua ou bifenotípica. Iniciou-se, então, quimioterapia Protocolo 7+3 (Aracytin e Daunorrubicina). No décimo dia de tratamento, apresentou neutropenia febril, necessitando ser transferida para centro de tratamento intensivo (CTI). A paciente evolui a septicemia e, no quinto dia de CTI, a óbito. OBJETIVOS INTRODUÇÃO O objetivo deste estudo foi relatar o caso de uma paciente que apresentou trombose venosa profunda em localização atípica como primeira manifestação da leucemia bifenotípica. DELINEAMENTO E MÉTODOS Realizou-se um estudo retrospectivo e observacional, relatando-se o caso de uma paciente diagnosticada com Leucemia Ambígua. Muraro, MG¹; Nalin, S¹; Trevisan, CA¹; Zanella, L¹; Almeida, DR² ¹ Acadêmicos de Medicina da Universidade de Passo Fundo, RS, Brasil. ² Médica Hematologista no Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo, RS, Brasil e professora de Hematologia e Hemoterapia na Universidade de Passo Fundo, RS, Brasil. DISCUSSÃO A Leucemia bifenotípica aguda é caracterizada pela união das linhagens mieloide e linfoide, especificidade que ocorre pelo acometimento da doença nos blastos, antes da diferenciação entre as duas linhagens comprometendo ambas as evoluções. As células nesta patologia se caracterizam por grande carga nuclear, com citoplasma azul acinzentado e núcleo contendo até dois nucléolos distintos. Pode haver a expressão de antígenos de hematopoiese precoce (CD34, CD38, HLA-DR) e antígenos mieloides (por exemplo, CD13, CD33, CD117), contudo apresentando níveis mínimos ou nulos de antígenos de maturação de granulócitos (por exemplo, CD15, CD65). A etiologia dessa afecção é desconhecida, mas acredita-se que ocorra com maior frequência em pacientes portadores de síndrome mielodisplásica prévia, leucemias INTRODUÇÃO secundárias, leucemias associadas a translocação e o cromossomo Filadélfia (Porwit e Bene, 2015). Em relação à terapêutica, não há protocolo estabelecido. Dessa forma, a maioria dos profissionais utiliza protocolo híbrido com indução para leucemia mieloide e manutenção para leucemia linfoide (Moraveji et al., 2014). Nessa paciente, houve manifestação inicial com trombose venosa profunda em localização atípica apresentou-se como primeira manifestação da leucemia bifenotípica caracterizando assim uma síndrome paraneoplásica (Enck, 2004). Endereço eletrônico: [email protected] Ainda que a febre seja a principal manifestação da síndrome, não se pode deixar de atentar para outras disfunções – síndrome de Cushing, polimiosite, dermatomiosite, neuropatia periférica e outras doenças envolvendo o SNC – como possíveis pistas diagnósticas de tumores (Pittock et al., 2004) . CONSIDERAÇÕES FINAIS O caso descrito salienta a apresentação inicial de trombose venosa em lozalização atípica (membro superior) como sintoma inicial de neoplasia hematológica, destoando da apresentação típica da síndrome paraneoplásica. Consoante a isso, a leucemia bifenotípica é uma doença de evolução rápida e de alta mortalidade, o que exige do médico redobrada atenção diante de sintomas infreqüentes da prática clínica. Ademais, a produção científica e bibliográfica acerca do tratamento específico da leucemia bifenotípica é escassa, evidenciando a necessidade de mais estudos a fim de evitar a morbimortalidade elevada da doença. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ENCK, R. E. Paraneoplastic syndromes. Am J Hosp Palliat Care, v. 21, n. 2, p. 85-6, Mar-Apr 2004. ISSN 1049-9091 (Print)1049-9091 (Linking). Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?cmd=Retrieve&db=PubMed&dopt=Citation&list_uids=15055506>. PITTOCK, S. J.; KRYZER, T. J.; LENNON, V. A. Paraneoplastic antibodies coexist and predict cancer, not neurological syndrome. Ann Neurol, v. 56, n. 5, p. 715-9, Nov 2004. ISSN 0364-5134 (Print) 0364-5134 (Linking). Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?cmd=Retrieve&db=PubMed&dopt=Citation&list_uids=15468074>. PORWIT, A.; BENE, M. C. Acute Leukemias of Ambiguous Origin. Am J Clin Pathol, v. 144, n. 3, p. 361-76, Sep 2015. ISSN 1943-7722 (Electronic) 0002-9173 (Linking). Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?cmd=Retrieve&db=PubMed&dopt=Citation&list_uids=26276768 >.