DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA (DFC): CONCEITOS E ESTRUTURA COSTA, Rodrigo Simão da Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB) [email protected] RESUMO: A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) se tornou obrigatória no Brasil com a criação da Lei 11.638/2007 e, desde então, todos os profissionais que fazem parte do ambiente empresarial precisaram conhecer essa demonstração e saber interpretar os seus resultados. Com o presente estudo, procurou-se através de uma pesquisa bibliográfica abordar os conceitos e a estrutura da DFC e, ao final, apresentar a resolução passo-a-passo de um exemplo prático para demonstrar as suas técnicas de elaboração. PALAVRAS-CHAVE: Fluxo de Caixa, Contabilidade, Finanças, Demonstração. ABSTRACT: The Statement of Cash Flows (CFD) became mandatory in Brazil with the creation of Law 11638/2007, and since then, all professionals who are part of the business environment needed to go through this demonstration and to interpret their results. In fact, the control box has always been practiced by companies, but the CFD brought a standardization to that tool. As the present study, we sought through a literature search addressing the concepts and structure of the CFD and at the final table the resolution step by step in a practical example to demonstrate their techniques of manufacture. KEYWORDS: Cash Flow, Accounting, Finance, Demo. 1. INTRODUÇÃO No atual mundo competitivo e globalizado, cada vez mais se torna necessária a utilização de ferramentas que garantam a sobrevivência das empresas no mercado. Com a criação da Lei 11.638, em 28 de Dezembro de 2007, a Contabilidade brasileira passou a ser convertida nos moldes do padrão internacional, isto é, das IFRS – International Financial Reporting Standards e, somada ao intenso processo de informatização do sistema de fiscalização, tornou a Contabilidade, mais do que nunca, peça chave para a sobrevivência das empresas. Uma das novidades apresentada por essa lei foi a obrigatoriedade da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), em substituição à antiga DOAR – Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos. Mesmo antes da aprovação da lei, o IBRACON (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil), pela NPC 20, de abril de 1999, e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), já recomendavam a apresentação da DFC como informação complementar. (FIPECAFI, 2010, p.565). Salotti e Yamamoto (2008, p.48) elaboraram uma pesquisa onde constataram que as companhias abertas que negociam suas ações na BOVESPA, divulgavam a DFC de forma voluntária antes da adoção da Lei 11.638/2007 porque já a divulgavam em período anterior e também porque dão mais importância às percepções dos seus outsiders (usuários externos). Nem todas as empresas estão obrigadas a apresentar a DFC, por exemplo, ficam dispensadas as sociedades anônimas de capital fechado com patrimônio líquido reduzido (inferior a R$ 2.000.000,00 na data do balanço) e as sociedades limitadas de pequeno e médio porte (as que possuem ativo total igual ou inferior a R$ 240.000.000,00 ou receita bruta anual igual ou inferior a R$ 300.000.000,00). A utilização da DFC pode proporcionar todo um gerenciamento do caixa, Interciência & Sociedade 117 COSTA, R. S. da onde as empresas podem identificar os períodos de sobra e escassez de recursos. Sobre esse aspecto, Marion (2009, p.446) diz que ”por meio do planejamento financeiro o gerente saberá o montante certo em que contrairá empréstimos para cobrir a falta (insuficiência) de fundos, bem como quando aplicar no mercado financeiro o excesso de dinheiro, evitando, assim, a corrosão inflacionária e proporcionando maior rendimento à empresa”. O objetivo desse artigo é apresentar os conceitos de caixa e a estrutura da DFC, elaborando-se um exemplo prático no final. Pretende-se demonstrar uma linha de raciocínio para acompanhar o passo-a-passo da elaboração de uma DFC. Como metodologia, foi realizada uma pesquisa bibliográfica para se identificar os conceitos utilizados na DFC nos mais recentes materiais publicados sobre o assunto e através de sua conclusão, espera-se contribuir para um melhor entendimento sobre essa tão importante demonstração contábil, e que o material sirva para posteriores estudos. 2. A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) O objetivo da DFC é evidenciar as variações ocorridas no disponível das empresas entre um determinado período de tempo. Observe que apesar do nome “fluxos de caixa”, farão parte dessa demonstração todas as contas do grupo do disponível, isto é, caixa, bancos e aplicações de liquidez imediata (como a caderneta de poupança, por exemplo). Segundo a FIPECAFI (2010, p.565) “o objetivo primário da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é prover informações relevantes sobre os pagamentos e recebimentos, em dinheiro, de uma empresa, ocorridos durante um determinado período”. O conceito trabalhado na DFC é o regime de caixa onde se evidencia o que realmente entrou e o que realmente saiu de recursos no disponível das empresas. As informações históricas do fluxo de caixa são extremamente importantes para o planejamento futuro de qualquer em- 118 presa, onde através de projeções, é possível construir cenários e se antecipar na execução das ações. Os resultados da DFC também são importantes para auditar as informações contábeis na busca por erros e possíveis fraudes contábeis, conforme comentado por Lamas e Gregório (2009, p.101) e Marion (2009, p.446). Serão alvos da DFC todos os recebimentos, ou entradas, e pagamentos, ou saídas, de caixa (ou disponível). Quando uma operação representar uma entrada de caixa, deverá ser somada na demonstração e, quando representar uma saída, deverá ser subtraída na demonstração. No próximo capítulo, serão abordadas a estrutura e as formas de apresentação da DFC. 3. Estrutura e Formas de Apresentação da DFC A elaboração de um fluxo de caixa pode ser feita de várias maneiras, pois cada pessoa ou empresa poderia realizar o controle dos recebimentos e pagamentos de caixa conforme seus próprios entendimentos. Porém, segundo Lamas e Gregório (2009), ao se elaborar uma DFC estruturada em normas, é possível comparar o desempenho operacional entre diferentes empresas, uma vez que elimina os efeitos desiguais dos possíveis tratamentos contábeis. Em razão dessa necessidade de uniformização das demonstrações contábeis, torna-se necessário que algumas regras sejam respeitadas na elaboração da DFC. A norma contábil responsável por esta normatização no Brasil é o Pronunciamento Técnico CPC 03 – Demonstração dos Fluxos de Caixa. Esse pronunciamento determina a estruturação da DFC em três atividades: operacionais, de investimentos e de financiamentos. As atividades operacionais se referem ao montante dos recursos que a empresa gerou através de sua atividade-fim. Farão parte dessas atividades os elementos relacionados com a DRE (DemonstraInterciência & Sociedade Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC): conceitos e estrutura ção do Resultado do Exercício). As contas pertencentes ao Balanço Patrimonial, mas que foram originadas de transações ligadas às receitas, custos e despesas, também deverão ser consideradas, por exemplo: as contas a receber (relacionadas com as vendas a prazo), os estoques (relacionados com os custos), os fornecedores (relacionados com as compras a prazo) e as contas a pagar (relacionadas com as despesas). Segundo a FIPECAFI (2010, p.567), as atividades operacionais “envolvem todas as atividades relacionadas com a produção e entrega de bens e serviços e os eventos que não sejam definidos como atividades de investimento e financiamento”. Como exemplos de atividades operacionais, poderão ser classificadas como entradas as vendas à vista, o recebimento de clientes e o recebimento de juros, e como saídas, o pagamento de fornecedores, o pagamento de impostos e o pagamento de despesas diversas. As atividades de investimento se referem às transações onde a empresa utilizou as sobras de caixa e aplicou, investiu recursos visando um benefício futuro. Dessa forma, quando há recurso disponível que possa ser investido pela empresa, ela pode emprestá-lo para terceiros ou investi-lo na compra de ativos fixos classificados como investimentos, imobilizado ou intangíveis no Balanço Patrimonial. Quando a empresa adquiri um determinado ativo fixo, isso representará uma saída de caixa e, quando vende algum desses ativos, representará uma entrada de caixa. Na IAS 7, a importância da divulgação separada de fluxos de caixa de atividades de investimentos é destacada, onde diz ser “importante porque os fluxos de caixa representam a extensão dos gastos efetuados com recursos destinados a gerar receita e fluxos de caixa futuros” (IASCF, 2008, p.862). Farão parte das atividades de investimentos todas as transações relacionadas com o ativo não circulante do Balanço Patrimonial. Como exemplos de entradas têm-se as vendas de investimentos, as vendas de imobilizado e o recebimento de empréstimos, e como exemplos de saídas, têm-se as aquisições de investimentos, de imobilizado e de ativos intangíveis. Já as atividades de financiamento, ao contrário das atividades de investimento, referem-se às transações onde a empresa toma recursos emprestados, geralmente, quando há uma escassez de caixa. Os recursos podem ser captados tanto de terceiros, quanto dos próprios proprietários ou sócios das empresas. Farão parte das atividades de financiamento todos os elementos relacionados com o exigível a longo prazo, o patrimônio líquido e os financiamentos e empréstimos de curto prazo, localizados no passivo circulante, todos localizados no Balanço Patrimonial. Para as atividades de financiamento, podem-se citar como exemplos de entradas de recursos, os aumentos de capital, as emissões de novas ações e os empréstimos e financiamentos tomados, e como exemplos de saídas, os pagamentos de dividendos, as recompras de ações da empresa e os pagamentos de empréstimos e financiamentos. Algumas transações podem não ser percebidas somente pelas informações do Balanço Patrimonial e da DRE, necessitando da utilização de uma outra demonstração contábil, como a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. O resultado final da DFC será a soma algébrica dos resultados líquidos de cada uma das atividades, que deverá ser conciliada com a diferença entre os saldos respectivos das disponibilidades, isto é, entre o início e o fim do período considerado (FIPECAFI, 2010, p.573). Lustosa e Santos (2004) dizem que essa classificação em três atividades é muito útil em termos informativos, mas também existem alguns aspectos polêmicos que devem ser melhor estudados para algumas transações financeiras, por exemplo, as reservas de capital. Algumas situações podem apresentar transações onde os fluxos de caixa serão classificados em mais de uma atividade, por exemplo, quando há um desembolso de caixa para pagamento de empréstimo, onde os juros podem ser classificados como atividade operacional e o valor do Interciência & Sociedade 119 COSTA, R. S. da principal deve ser classificado como atividade de financiamento (BRASIL2, 2008). Existem ainda algumas operações que não deverão fazer parte da DFC, pelo fato de não afetarem o caixa, por exemplo, as depreciações, as provisões, os ganhos e perdas de equivalência patrimonial, entre outros. Também podem acontecer transações de investimento e financiamento sem efeito no caixa, como por exemplo, as dívidas convertidas em aumento de capital, mas essas, devem ser evidenciadas em notas explicativas (FIPECAFI, 2010, p.569). A DFC pode ser elaborada se- gundo dois métodos, o direito e o indireto. A diferença entre eles está nas atividades operacionais. No método direto as atividades operacionais são elaboradas utilizando os reais recebimentos de clientes, pagamentos de fornecedores e pagamentos de despesas. Segundo a FIPECAFI (2010, p.573), “o método direto explicita as entradas e saídas brutas de dinheiro dos principais componentes das atividades operacionais, como os recebimentos pelas vendas de produtos e serviços e os pagamentos a fornecedores e empregados”. Tabela 1. Balanço Patrimonial BALANÇO PATRIMONIAL – EMPRESA ALFA ATIVO (em R$) 31/12/X1 Circulante Disponível Dupl. a receber Estoques Total Circulante Não Circulante Investimentos Part.outras cias Imobilizado Móveis e utensílios (-) Depr. acum. Terrenos Total Não-Circul. Total PASSIVO (em R$) 31/12/X2 1.500 500 1.000 2.300 1.000 1.500 3.000 4.800 500 500 2.640 2.640 1.200 (200) 2.000 3.000 1.500 (320) 3.000 4.180 3.500 6.820 6.500 11.620 Circulante Fornecedores Empr. bancários I.R. a recolher Total Circulante Patrimônio Líquido Capital social Lucros retidos Total do P.L. Total Fonte: Autor. 120 Interciência & Sociedade 31/12/X1 31/12/X2 1.000 1.000 - 2.000 1.470 1.050 2.000 4.520 4.500 4.500 6.000 1.100 7.100 6.500 11.620 Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC): conceitos e estrutura Tabela 2. Demonstração do Resultado do Exercício. DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO FINDO EM 31/12/ X2 (em R$) Receita Bruta 10.000 (-) CMV (5.500) Lucro Bruto 4.500 (-)Despesa Operacional Desp.Vendas (500) Desp. Administração (380) Desp.c/Depreciação (120) Outras Despesas (500) 1.500 Lucro Antes Impostos 3.000 (-) Provisão p/ I.R. (1.050) Lucro Líquido 1.950 Fonte: Autor. Tabela 3. Demonstração das Mutações do Patrimônio Lìquido. DEMONSTR. DAS MUTAÇÕES DO PATRIM. LÍQUIDO FINDO EM 31/12/X2 (em R$) Movimentações Saldo Inicial em 31/12/X1 Aumento de capital Capital Social 4.500 1.500 L. Retidos - Total 4.500 1.500 Lucro Líquido 1.950 1.950 Distribuição Dividendos Saldo final em 31/12/X2 (850) 1.100 (850) 7.100 6.000 Fonte: Autor. O primeiro método a ser elaborado será o método direto. Para se iniciar a DFC, primeiramente é preciso conhecer a variação do disponível. O valor encontrado é de R$ 800,00, obtido pela diferença do disponível entre os dois períodos, ou seja, R$ 2.300,00 menos R$ 1.500,00. Uma vez encontrada a variação do disponível, o próximo passo é elaborar as atividades operacionais, as quais possuem, basicamente, três elementos: recebimento de clientes, pagamento de fornecedores e pagamento de despesas. Para se encontrar o valor que foi realmente recebido dos clientes é preciso realizar um pensamento lógico, considerando todas as vendas como sendo a prazo. Isso porque não é possível identificar de forma direta qual seriam os valores à vista e a prazo, pelo fato da Contabilidade ser elaborada por regime de competência, ou seja, os fatos contábeis são contabilizados independentemente do seu recebimento ou pagamento. No ano de X1, a empresa tinha para receber R$ 500,00 (duplicatas a receber – ativo) e vendeu em X2 mais R$ 10.000,00 (receitas brutas – DRE), tendo para receber, portanto, um montante de R$ 10.500,00. Como o valor a receber no ano de X2 é de R$ 1.000,00 (duplicatas a receber – ativo), significa dizer que a empresa recebeu a diferença, isto é, R$ 9.500.00 de seus clientes. Depois de encontrado o valor do recebimento dos clientes, é preciso calcular o valor do pagamento das compras. O raciocínio é bem semelhante ao utilizado no recebimento dos clientes, com a única diferença, que para se encontrar o valor dos pagamentos dos fornecedores, primeiramente é preciso encontrar o valor das compras, o qual está embutido no valor do CMV na DRE. Interciência & Sociedade 121 COSTA, R. S. da O procedimento é utilizar a fórmula do CMV e substituir os valores que podem ser encontrados nas demonstrações contá- beis. A fórmula está descrita abaixo, já com os valores rastreados do Balanço Patrimonial e da DRE: CMV = ESTOQUE INICIAL + COMPRAS – ESTOQUE FINAL R$ 5.500,00 = R$ 1.000,00 + COMPRAS – R$ 1.500,00 COMPRAS = R$ 6.000,00 Encontrado o valor das compras, deve-se também considerá-lo como sendo todo a prazo. O raciocínio é o seguinte: Se a empresa devia ao seu fornecedor R$ 1.000,00 (passivo circulante) em X1, e comprou a prazo em X2 mais R$ 6.000,00, teria que pagar um montante de R$ 7.000,00 a ele, mas como aparece no saldo da conta de fornecedores em X2 apenas R$ 2.000,00, significa dizer que a empresa realmente pagou aos seus fornecedores a diferença, ou seja, R$ 5.000,00. Em relação ao pagamento das despesas, é preciso relacionar as despesas da DRE com as contas do passivo. Caso uma determinada despesa conste na DRE e também conste, no mesmo valor, no passivo, significa que a mesma ainda não foi paga, não havendo a necessidade de evidenciá-la na DFC e, caso ocorra o contrário, deverá ser evidenciada. As despesas constantes na DRE são as de vendas, administração, com depreciação, outras despesas e provisão p/ I.R. É possível verificar que além das despesas operacionais, também foi incluída a provisão para imposto de renda, pois também se trata de uma despesa, porém classificada de uma outra forma. Dentre as despesas elencadas na DRE, a única conta que não deverá fazer parte da DRE é a com depreciação, pelo fato de não afetar o caixa (não representar um desembolso). Fazendo a relação com as contas de passivo, não é possível verificar nenhuma conta intitulada “contas a pagar” ou alguma coisa parecida, o que demonstra que todas essas contas foram realmente pagas pela empresa, com exceção da provisão para imposto de renda, pois aparece a conta de “I.R. a recolher”, cujo valor é exatamente 122 o demonstrado na DRE, o que significa que tal imposto ainda não foi pago. Dessa forma, somente serão consideradas pagas as despesas com vendas, administração e outras despesas, cujo montante soma R$ 1.380,00. Utilizando os valores dos recebimentos dos clientes, pagamento dos fornecedores e pagamento das despesas, as atividades operacionais totalizam, portanto, R$ 3.120,00. Encerradas as atividades operacionais, o próximo passo é elaborar as atividades de investimentos, onde serão utilizados os grupos do ativo não circulante, com exceção do ativo realizável a longo prazo, onde será utilizado apenas quando tiver valores relacionados com as vendas de mercadorias a longo prazo. Na empresa ALFA, todas as contas do ativo não-circulante tiveram uma variação positiva (aumento), devendo ser consideradas como aquisições da empresa e saídas de caixa na DFC. A única conta que não será utilizada é a da depreciação acumulada, pois não afeta o caixa. Aliás, pode-se verificar que a diferença entre os saldos dessa conta é de R$ 120,00, exatamente o mesmo valor evidenciado na DRE na conta de despesas com depreciação. Considerando as variações das contas do ativo não-circulante, com exceção da depreciação acumulada, as atividades de investimento totalizam um montante de R$ 3.440,00 que deve ser subtraído na DFC por representar uma saída de caixa. As últimas atividades a serem encontradas são as de financiamento, as quais se referem aos grupos do exigível a longo prazo, patrimônio líquido e os empréstimos e financiamentos do passivo circulante. Observando o grupo do passivo circulante, percebe-se que existe uma conInterciência & Sociedade Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC): conceitos e estrutura ta de empréstimos bancários, a qual apresenta uma variação positiva de R$ 470,00. Isso quer dizer que a empresa necessitou captar recursos e pegou mais essa quantia dos bancos, representando assim, uma entrada de caixa na DFC. Já no patrimônio líquido, a conta capital social também sofreu uma variação positiva de R$ 1.500,00, representando assim, um aumento de capital realizado pelos sócios e uma entrada de caixa na DFC. A outra conta é a de lucros retidos que em X1 não possuía saldo e em X2 passou a ficar com R$ 1.100,00. Como não tinha nada e agora tem um saldo, subentende-se tratar do lucro líquido do exercício que foi transportado para essa conta, porém, o valor do lucro líquido demonstrado na DRE é de R$ 1.950,00. A diferença é de R$ 850,00 e se justifica pela retirada desse valor da conta lucros retidos para a constituição de dividendos (localizada no passivo circulante), que está discriminada na Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. Como os dividendos não apare- cem no passivo circulante, entende-se que os mesmos foram pagos pela empresa e, portanto, devem ser evidenciados na DFC como uma saída de caixa. As variações na conta de lucros retidos não devem ser utilizadas na DFC, pois, na verdade, as transações que afetaram o seu resultado já foram contempladas pelas atividades quando foram utilizados os valores relacionados com a DRE. Considerando as variações dos empréstimos de curto prazo, do capital social e o valor dos dividendos, as atividades de financiamento totalizaram R$ 1.120,00, uma vez que os valores das aquisições de empréstimos de curto prazo e aumento de capital foram somados e o pagamento de dividendos foi subtraído. Para se elaborar a DFC, basta somar as três atividades e verificar se o resultado é o mesmo identificado pela variação do disponível, no caso, R$ 800,00. A DFC pelo método direto fica estruturada da seguinte forma: Tabela 4. DFC Método Direto. DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA DA EMPRESA ALFA MÉTODO DIRETO ATIVIDADES OPERACIONAIS Recebimento de clientes Pagamento de fornecedor Pagamento de despesas Caixa líquido atividades operacionais R$ R$ R$ R$ 9.500,00 (5.000,00) (1.380,00) 3.120,00 ATIVIDADES DE INVESTIMENTO Aquisição de Ações (Part.Outras Cias) Aquisição de Móveis e Utensílios Aquisição de Terrenos Caixa líquido atividades de investimento R$ R$ R$ R$ (2.140,00) (300,00) (1.000,00) (3.440,00) ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO Aquisição empréstimos curto prazo Aumento de capital Pagamento de dividendos Caixa líquido atividades de financiamento R$ R$ R$ R$ 470,00 1.500,00 (850,00) 1.120,00 Variação de Caixa e Equivalentes Saldo Inicial de Caixa e Equivalentes Saldo Final de Caixa e Equivalentes R$ R$ R$ 800,00 1.500,00 2.300,00 Fonte: Autor. Interciência & Sociedade 123 COSTA, R. S. da Para se elaborar a DFC pelo método indireto, a diferença está nas atividades operacionais. Ao invés de apresentarem os reais recebimentos de clientes e pagamentos de fornecedores e despesas, serão elaboradas ajustando-se o lucro líquido e considerando as variações das contas patrimoniais relacionadas com a DRE. As atividades de investimento e de financiamento serão idênticas às do método direto. A primeira coisa a se fazer no método indireto é verificar o valor do lucro líquido na DRE, no caso, R$ 1.950,00. Nesse valor, é necessário fazer alguns ajustes referentes às contas que não afetam o caixa. Na DRE da empresa ALFA, a única conta que não afeta o caixa é a despesa com depreciação, no valor de R$ 120,00. Para eliminar o seu efeito sobre o lucro líquido, é preciso inverter o seu sinal na DFC, isto é, se na DRE a despesa com depreciação foi subtraída, na DFC ela será somada. Caso existam outras contas que também não afetem o caixa, é preciso que se faça o mesmo procedimento na DFC. Feitos os ajustes no lucro líquido, é preciso verificar as variações nas contas patrimoniais relacionadas com a DRE. Essas variações serão favoráveis (aumento) ou desfavoráveis (diminuição) para o caixa, utilizando-se conta por conta do Balanço Patrimonial. No ativo, a primeira conta é a do disponível e já foi utilizada para verificar a variação de quanto tem que dar a DFC. A próxima conta é duplicatas a receber e ela tem relacionamento com a DRE, pois se origina das vendas a prazo. A variação de X1 para X2 é um aumento de R$ 500,00, e é desfavorável para o caixa, ao passo que a empresa abriu mão de parte de suas vendas à vista para recebê-las em um momento futuro, e representará uma saída de caixa. Logo após, tem-se a conta dos estoques que também está relacionada com a DRE, pois se origina das compras 124 de mercadorias. A variação foi positiva em R$ 500,00, e também é desfavorável para o caixa, uma vez que a empresa, para aumentar seus estoques, precisou tirar dinheiro do caixa. As outras contas do ativo não possuem relação direta com a DRE e não farão parte das atividades operacionais, pois já foram utilizadas na atividade de investimento. No passivo, a primeira conta é fornecedores que está relacionada com a DRE, pois é originada pela compras a prazo de mercadorias. Ela traz um aumento de X1 para X2 no valor de R$ 1.000,00, sendo favorável para o caixa e representará uma entrada na DFC, ao passo que a empresa está, de certa forma, postergando um pagamento. A próxima conta é a de empréstimos bancários, e essa não tem relação direta com a DRE, pois pertence às atividades de financiamento. Já a conta de imposto de renda a recolher possui relacionamento direto com a DRE, pois recebe os valores da provisão de imposto de renda. A variação de X1 para X2 dessa conta foi um aumento de R$ 1.050,00 e também significa uma entrada na DFC, pois é favorável para o caixa, isto é, uma postergação de pagamento do seu imposto de renda. As outras duas contas do passivo não se referem às atividades operacionais, pois a conta capital social pertence às atividades de financiamento e a conta de lucros retidos já foi computada, pois é composta pelo lucro da DRE que já foi considerado na DFC. O resultado encontrado deve ser o mesmo do método direto, ou seja, R$ 3.120,00, pois se trata do mesmo caixa, da mesma empresa, só que elaborado de uma outra forma. Portanto, a DFC elaborada pelo método indireto fica representada dessa forma: Interciência & Sociedade Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC): conceitos e estrutura Tabela 5. DFC Método Indireto. DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA DA EMPRESA ALFA MÉTODO INDIRETO ATIVIDADES OPERACIONAIS Lucro Líquido (+/-) Ajustes Depreciação Variações nos Ativos e Passivos Variação em duplicatas a receber Variação em estoques Variação em fornecedores Variação em imposto de renda a recolher Caixa líquido atividades operacionais R$ 1.950,00 R$ 120,00 R$ R$ R$ R$ R$ (500,00) (500,00) 1.000,00 1.050,00 3.120,00 ATIVIDADES DE INVESTIMENTO Aquisição de Ações (Part.Outras Cias) Aquisição de Móveis e Utensílios Aquisição de Terrenos Caixa líquido atividades de investimento R$ (2.140,00) R$ (300,00) R$ (1.000,00) R$ (3.440,00) ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO Aquisição empréstimos curto prazo Aumento de capital Pagamento de dividendos Caixa líquido atividades de financiamento R$ R$ R$ R$ 470,00 1.500,00 (850,00) 1.120,00 Variação de Caixa e Equivalentes Saldo Inicial de Caixa e Equivalentes Saldo Final de Caixa e Equivalentes R$ R$ R$ 800,00 1.500,00 2.300,00 Fonte: Autor. O método indireto é o mais utilizado pelas empresas, pois sua elaboração é mais simples, mas, é o método direto o preferido para a tomada de decisão, uma vez que para os usuários seria muito mais interessante conhecer os reais recebimentos de clientes e os pagamentos de fornecedores e de despesas. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O controle do fluxo de caixa sempre foi e ainda é amplamente utilizado por qualquer tipo de pessoa ou negócio, pois o gerenciamento das entradas e saídas de caixa é a base para todo planejamento e posterior tomada de decisão. Para que seja possível a comparação entre a posição financeira dos recursos de caixa das empresas, foi criada a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), que no Brasil, passou a ser exigida como demonstração contábil obrigatória com a criação da Lei 11.638/2007, embora já fosse evidenciada como informação complementar pelas instruções do IBRACON. Interciência & Sociedade 125 COSTA, R. S. da A segregação da DFC em atividades operacionais, de investimento e de financiamento torna possível uma melhor análise da composição da variação de caixa. Para se elaborar a DFC é preciso seguir algumas técnicas que utilizam as informações de outras demonstrações contábeis, como o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício e a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. Com a realização dessa pesquisa, procurou-se elaborar uma DFC explicando cada passo e relacionando cada conta com sua origem nas demonstrações contábeis. Esse tipo de estudo torna-se importante não só para os profissionais relacionados com a Contabilidade das empresas, mas para todas as pessoas que estejam relacionadas com o ambiente de negócios no qual a empresa esteja inserida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei n. 11.638, de 27 de dezembro de 2007. Altera os arts. 176 a 179, 181 a 184, 187, 188, 197, 199, 226 e 248 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 28 dez.2007. BRASIL2. Pronunciamento Técnico CPC 03. Demonstração dos Fluxos de Caixa. Ata CPC, Brasília, DF, 13 jun.2008. FIPECAFI. Manual de Contabilidade Societária. São Paulo: Atlas, 2010. IASCF INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS COMMITTEE FOUNDATION. Normas Internacionais de Relatório Financeiro (IFRSs). Incluindo Normas Internacionais de Contabilidade (IASs) e Interpretações , aprovadas em 1º de Janeiro de 2008. Volume 1. IASCF – International Accounting Standards Committee Foundation e IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, 2008 LAMAS, F. R.; GREGÓRIO, A. A. Demonstração dos Fluxos de Caixa e Contabilidade Criativa. Revista Universo Contábil, Blumenau, v5, n.3, p.99-115, jul./ set. 2009. LUSTOSA, P. R. B.; SANTOS, A. Como Classificar as Reservas de Capital na Demonstração dos Fluxos de Caixa? In: XXVIII EnANPAD. Curitiba-PR, 2004. MARION, J. C. Contabilidade Empresarial. 14. ed. 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É palestrante de diversos temas relacionados à área contábil e financeira, publicou diversos artigos em revistas científicas e é o autor dos livros Contabilidade para Iniciantes em Ciências Contábeis e Cursos Afins e Práticas de Contabilidade Gerencial, ambos publicados pela Editora Senac de São Paulo. ERRATA: O artigo acima está sendo republicado devido a problemas de formatação referentes ao título e cabeçalho ocorridos no vol. 1 - n. 1 - março 2011 da revista Interciência & Sociedade. 126 Interciência & Sociedade