ISSN 0103-4235 Alim. Nutr., Araraquara v.16, n.4, p. 349-354, out./dez. 2005 EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ÁREA EM DESENVOLVIMENTO Ana Cristina do Amaral CAMOSSA* Fátima Neves do Amaral COSTA** Paula Fernanda de OLIVEIRA*** Tânia Poggi de FIGUEIREDO*** RESUMO: O presente trabalho, caracterizado como pesquisa exploratória, foi realizado com o objetivo de apresentar, de forma cronológica, a produção de conhecimentos sobre Educação Nutricional no período de 1990 a 2005, destacando contribuições possíveis à área. Por meio de levantamento bibliográfico, buscamos artigos e trabalhos que discutissem a educação nutricional identificando a princípio relação direta dos mesmos com a educação em saúde. A seguir, adentramos a educação nutricional, destacando sua evolução histórica e conceitos fundamentais. Apresentamos alguns campos de aplicação da educação nutricional e como a implementação de programas de educação nutricional beneficia-se das práticas de educação em saúde. Por fim, sugerimos a necessidade de prosseguimento de investigações desta natureza, em função de avanços que tal aprofundamento poderá proporcionar à área da Educação Nutricional. PALAVRAS - CHAVE: Educação em saúde; educação nutricional. Introdução A educação nutricional é conceituada como um processo educativo no qual, através da união de conhecimentos e experiências do educador e do educando, vislumbra-se tornar os sujeitos autônomos e seguros para realizarem suas escolhas alimentares de forma que garantam uma alimentação saudável e prazerosa, propiciando, então, o atendimento de suas necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais16. Do ponto de vista de sua importância, a educação nutricional é apontada como estratégia de ação, no campo da educação em saúde, a ser adotada prioritariamente em saúde pública para conter o avanço da ocorrência de doenças crônicodegenerativas uma vez que a alimentação de má qualidade é considerada um fator de risco para inúmeras doenças4, 19. A educação nutricional, além de educar para que o indivíduo saia de sua condição nutricional insatisfatória, apresenta ainda uma função social de eliminar os desníveis de conhecimentos técnicos e populares existentes, fazendo com que, através da socialização desses conhecimentos, ocorram alterações significativas nas formas de reflexão e ação não apenas dos indivíduos mas também dos profissionais de saúde. A fim de compor um quadro que expresse a sistematização de conhecimentos teórico-práticos sobre a temática, elegemos trabalhos que abordam as diferentes concepções de educação nutricional assim como aqueles que exemplificam algumas de suas práticas. Material e métodos O trabalho foi realizado a partir de um levantamento bibliográfico dos seguintes materiais: livros, teses, artigos e revistas especializadas sobre a temática da Educação Nutricional. Dentre o universo encontrado, o critério de escolha pautou-se pelos trabalhos que apresentassem coerência teórico-metodológica e conceituações teóricas consistentes. Uma das contribuições de se fazer uma avaliação do material bibliográfico, é que, podemos notar até onde outros investigadores têm chegado em seus esforços; os métodos que empregaram; as dificuldades que encontraram e o que ainda pode ser investigado27. A pesquisa que apresentamos pode ser considerada uma pesquisa exploratória que compreende algumas fases da construção de uma trajetória de investigação22. Consiste inicialmente numa aproximação geral à temática para contextualizá-la e posteriormente incidir num determinado foco da referida pesquisa com maior detalhamento e profundidade. Resultados e discussão Aproximações entre Educação em Saúde e Educação Nutricional O conceito de Educação em Saúde adotado neste trabalho pode ser definido como um processo que promove * Nutricionista em Saúde Pública - Secretaria Municipal de Saúde do Município de São Carlos - 13561-000 - São Carlos - SP - Brasil. ** Departamento de Didática - Faculdade de Letras - UNESP - 14801-902 - Araraquara - SP - Brasil. *** Programa de Mestrado - Alimentos e Nutrição - Faculdade de Ciências Farmacêuticas - UNESP - 14801-902 -Araraquara - SP - Brasil. 350 intercâmbio de informações entre profissionais de saúde e população onde cada indivíduo é considerado um ser autêntico, dotado de necessidades, valores próprios, origem e condições sociais específicas de vida. No decorrer do processo faz-se necessário provocar e despertar no indivíduo a sua capacidade de reflexão, análise e tomada de decisão para que se torne protagonista não apenas de sua saúde mas de sua condição de cidadão2,7. Vasconcelos 29 evidencia maneiras distintas e possíveis de se trabalhar com educação em saúde. Na abordagem tradicional ela pode ser considerada como uma maneira de fazer as pessoas mudarem algum comportamento prejudicial à saúde como se dependesse exclusivamente delas tais soluções. Segundo outra perspectiva, mas ainda tradicional, ela se baseia também na transmissão de conhecimentos para levar para a população a compreensão e as soluções corretas que os profissionais conscientizados, politizados e conhecedores da ciência já descobriram. Uma outra maneira de se abordar a educação em saúde identificase com a pedagogia de Paulo Freire: “educação baseada no diálogo, ou seja, na troca de saberes. Um intercâmbio entre o saber científico e o popular em que cada um deles tem muito a ensinar e aprender”. Segundo essa perspectiva educativa é necessário romper com métodos educativos centrados no exercício do poder sobre o outro, substituindo-o por métodos que valorizem o debate e as discussões de idéias, opiniões e conceitos com vistas à solução de problemas com o outro. Essa perspectiva considera os indivíduos e grupos socialmente desfavorecidos como cidadãos de direitos e busca contribuir para a emancipação humana por meio do desenvolvimento do pensamento crítico e do estímulo às ações que tenham como finalidade realizar a superação de situações de opressão. Segundo Pereira25, “a educação e a saúde são espaços de produção e aplicação de saberes destinados ao desenvolvimento humano”. Este desenvolvimento humano pode ser conquistado através da pedagogia problematizadora proposta por Freire, a qual possibilita que o “educando”, através de problematizações de determinados contextos, possa refletir e encontrar soluções para seus problemas. Freire13 relata que “é através do diálogo é que se dá a verdadeira comunicação, onde os interlocutores são ativos e iguais”, isto é, participam nos processos de aprendizagem, contrapondo-se ao modelo educativo tradicional, onde o educando é apenas um receptor e o educador um detentor de conhecimentos. Para que ocorra o enriquecimento na troca de experiências, sugere-se que as práticas educação em saúde sejam realizadas em grupos com a finalidade de fortalecer as ações comunitárias. Filgueiras & Deslandes12 afirmam que “o trabalho coletivo objetiva oferecer aos usuários a oportunidade de redimensionar as dificuldades ao compartilhar dúvidas, sentimentos e conhecimentos”. As práticas da educação em saúde na atualidade mesclam diferentes tendências. Aquelas que consideram o comportamento individual determinando exclusivamente a ocorrência de doenças mas também outras que vem possibilitando aos indivíduos uma ampliação do conhecimento popular a partir da tomada de consciência de seus contextos sociais e políticos maiores que impõem e determinam necessidades além do fortalecimento da capacidade de organização e autonomia desses indivíduos11,12. O novo enfoque da educação em saúde, que considera o foco do processo educativo no sujeito, em seu contexto, contribuindo para o desenvolvimento de seu espírito crítico e ação transformadora na realidade, poderia sinalizar caminhos para as práticas de educação nutricional que fizessem avançar a simples transmissão do conhecimento técnico para chegar à construção de um caminho partilhado, dialógico, flexível e indagador de conhecimentos entre nutricionista e educando. Valente 28 sistematizou, em seu trabalho, uma crítica severa às bases teóricas e à prática da educação nutricional tradicional e, ao mesmo tempo, lançou as bases para uma educação nutricional crítica e problematizadora, a qual parece ser efetivamente comprometida com a superação dos problemas alimentares. A seguir será apresentada a evolução do conceito de Educação Nutricional, resgatando os principais autores que trabalharam a temática. Educação Nutricional: concepções teóricas A Educação Nutricional despontou na década de 1940, quando surgiram os “programas governamentais de proteção ao trabalhador”, que se preocupavam com a alimentação dos mesmos e com a reprodução da força de trabalho3. Entre as décadas de 1950 e 1960, a Educação Nutricional voltava-se para as campanhas direcionadas à introdução de soja na alimentação, devido a interesses econômicos8. Na época, o governo brasileiro firmou um convênio com o MEC/USAID (United States Agency for International Development), onde a Educação Nutricional foi acionada com o objetivo de induzir a população a consumir aqueles alimentos enviados ao país, para aliviar os excedentes agrícolas americanos, mantendo, assim, o preço de seus cereais no mercado. Na década de 1960, a Educação Nutricional ocupava-se apenas da divulgação de folhetos ao público, os quais abordavam aspectos comportamentais sobre o assunto. Também nesta época, o Serviço Social da Indústria – SESI, através dos seus Centros de Aprendizados Domésticos, oferecia cursos de educação alimentar para a população, os quais existem até os dias atuais. O INCAP -Instituto de Nutrición de Centro América y Panamá- elaborava materiais relacionados à alimentação, voltados para professores do Serviço de Saúde3. No ano de 1964, a Educação Nutricional começa a ser relegada, pois foram instituídas medidas que “privilegiaram a suplementação alimentar, a racionalização do sistema produtor de alimentos e as atividades de combate às carências nutricionais específicas”. Neste período, as 351 indústrias começaram a se interessar pela pesquisa e produção de “novos alimentos”, que seriam comprados pelo Estado e introduzidos nos programas de suplementação alimentar3. Na década de 1970, a Educação Nutricional entrou em um período de “exílio” que durou aproximadamente duas décadas. A partir do Estudo Nacional de Despesas Familiar (ENDEF), foi evidenciado que o principal obstáculo à alimentação adequada era a baixa renda da população. Assim, o “binômio alimentação / educação” até então utilizado, transformou-se em “binômio alimentação / renda”. Portanto, começou-se a acreditar que para resolver os problemas alimentares da população, era preciso intervir no modelo econômico, deixando de lado os aspectos educativos deste campo de conhecimento3. Lima et al.14 realizaram uma retrospectiva histórica do conhecimento produzido em cursos de pós-graduação no período de 1980 a 1998. Na década de 1970 iniciou-se a Institucionalização da Pós Graduação em Nutrição no Brasil. Os trabalhos de Pós Graduação surgiram como objeto de política científica específica e sua produção era regulada pelo Estado, através do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN). Enfocavam basicamente o reforço do caráter instrumental e técnico da Educação Nutricional, para execução dos Programas de Alimentação e Nutrição, integrando PósGraduação e pesquisa ao projeto de nutrição no Brasil14. A produção científica do período de 1980 a 1990 baseia-se na “tese da ignorância alimentar”, a qual pode ser caracterizada por uma ignorância dos princípios básicos da alimentação, preconceitos e tabus alimentares, superstições, vícios de paladar e induções alimentares. Nesta visão, a formação do pesquisador em nutrição era pautada por uma abordagem intervencionista e técnica, cuja função principal era de “moldar o homem para ajustá-lo a situação” 14. Ao contrário, hoje não podemos mais conceber a Educação Nutricional como uma prática de “domesticação”. A partir de 1990, as produções acadêmicas na pósgraduação do Rio de Janeiro evidenciam uma mudança de enfoque, onde o pesquisador apresenta mais autonomia no ato de pesquisar. Além disso, o papel social do nutricionista como educador e o conteúdo da disciplina Educação Nutricional passam a ser criticados pela sua neutralidade histórico e política. Em 1996, a educação nutricional volta a ser tema de discussões no XIV Congresso Brasileiro de Nutrição, e passa a apresentar novos focos: ênfase no sujeito, democratização do saber, cultura, ética e cidadania14. O processo de Educação Nutricional é importante para despertar no individuo o interesse pela alteração de seus hábitos alimentares, levando em consideração suas crenças, sua cultura e seus costumes. Para que esta prática demonstre resultados positivos, torna-se necessário a utilização da metodologia problematizadora. Segundo Amatuzzi 1, “a educação dialógica, problematizadora, visa o renascer de dentro, o emergir da palavra do próprio do educando”, estimulandoo assim a uma reflexão frente a situação, levando-o a encontrar uma solução para o problema abordado. Atualmente, tornou-se competência do nutricionista a realização da prática de Educação Nutricional, pois, como cita Boog 3, antigamente não havia um profissional específico para realização destas atividades, sendo “função de todos”, onde as informações eram passadas de maneira abrangente a toda a população. Nesta época, o nutricionista era visto apenas como um “multiplicador”, cuja função era divulgar informações3. Segundo Boog 5, embora tendo caído em descrédito na década de 70, a disciplina Educação Nutricional foi mantida nos cursos de Nutrição, “muito mais como um apêndice da nutrição em saúde pública, do que como campo específico de conhecimento”, no qual efetivamente se configura, sofrendo as dificuldades causadas pela falta de referenciais bibliográficos e de docentes capacitados. No entanto, mesmo durante o período de exílio da educação nutricional, persistiu sua demanda, já que esta se configura num recurso importante para a prática profissional do nutricionista, especialmente em nutrição clínica e dietoterapia. Em seu trabalho, Boog 5 afirma que o senso comum construído no cotidiano acaba sendo critério primordial à análise dos problemas alimentares pelos profissionais de saúde e ainda: “essa impermeabilidade das crenças pessoais ao conhecimento técnico encontra explicação nos fatores antropológicos e psicológicos da alimentação. O ensino de nutrição que não enfrentar esse desafio, não possibilitará ao aluno desenvolver senso crítico para avaliar esses fatos e certamente não o tornará suficientemente sensível à compreensão dos problemas nutricionais individuais.” 5 As dificuldades para lidar com problemas alimentares decorrem também, além do desconhecimento sobre o assunto da maioria da população e de profissionais de saúde, “dos conflitos que emergem da contradição entre o que se sabe e o que se pensa, com o que se sente e se faz na prática” 5. Pesquisas indicam deficiência na formação em educação nutricional na graduação de estudantes de nutrição - e também de outros profissionais da área da saúde-. A disciplina é geralmente oferecida de forma precária e acaba se constituindo, no interior do currículo, uma disciplina “menos importante”. Como conseqüência, os conhecimentos desse campo tornam-se inconsistentes e não chegam a ser sistematizados, o que faz com que não haja uma visão global sobre o assunto. Avaliando o ensino de educação nutricional nos cursos de Nutrição conclui-se: “aos cursos de Nutrição cabe decidir entre manter a educação nutricional como um apêndice da disciplina Nutrição em Saúde Pública, ou entendêla como um vasto campo de conhecimento aplicável a diferentes áreas de atuação do nutricionista, 352 merecedora de verbas para a pesquisa, professores capacitados especificamente para ministrá-la (grifo nosso) e campos de prática condizentes com as propostas da disciplina” 5 O enfoque da educação nutricional problematizadora, aqui defendida, passaria a ser um desafio à prática profissional dos nutricionistas. Práticas de concretização da Educação Nutricional Com a ampliação das atividades do nutricionista, por meio de mudanças na legislação em 1991, a educação nutricional passa a ser “atividade privativa” deste profissional nas suas diferentes áreas de atuação. No início do século XXI, encontramos alguns trabalhos que discutem a aplicação da educação nutricional à prática do profissional nutricionista. Lima16, realizou um trabalho de educação nutricional para diabéticos numa unidade do Programa de Saúde da Família (PSF) de um município do interior de São Paulo, com o objetivo de analisar o processo de construção do conhecimento dietoterápico dos pacientes atendidos. O trabalho seguiu a concepção de educação problematizadora de Paulo Freire e foi efetivado através de encontros de grupo e visitas domiciliares. Ao final do trabalho, a autora pôde comprovar, dentre outros resultados, a complexidade do processo de ensino-aprendizagem e seus limites, visto que, nas atividades educativas em saúde, trabalhamos, geralmente, com sujeitos heterogêneos, com experiências particulares e únicas, que conseguem um entendimento único dos temas abordados durante os processos educativos. De um modo geral, a autora concluiu que o trabalho educativo cumpriu seu papel ao possibilitar a construção de conhecimentos relativos à alimentação em diabetes, além de possibilitar ao grupo se constituir em mais do que um espaço educativo, cumprindo ainda uma função de apoio social e de lazer. Manço18 realizou atividade de educação nutricional com indivíduos hipertensos através de encontros em Unidade de PSF e entrevistas com os pacientes, utilizando a pedagogia da problematização. A autora apontou como um dos resultados da ação educativa um grau crescente e complexo de aprendizado, contribuindo para a construção de conhecimentos dos participantes, assim como estimulando o convívio social como algo importante para a prevenção de doenças. O trabalho de educação nutricional, buscando a autonomia do sujeito, despertou para a participação, a co-responsabilidade pela saúde e solidariedade dentro do grupo. Lima et al.17 analisaram as características das práticas de Educação em Saúde e Nutrição em 65 serviços de saúde do município de João Pessoa, Paraíba. Os principais resultados observados foram: a ausência de caráter sistemático das atividades, a modesta inserção do nutricionista nos serviços de saúde, a maior freqüência do uso de palestras, cartazes e folhetos como estratégias de ensino, a falta de critérios de avaliação e a inexistência de planejamento e programação das ações de educação em saúde. Cervato et al. 9 avaliaram uma intervenção nutricional educativa desenvolvida para alunos de Universidade Aberta da Terceira Idade (UATI), a qual possuía como diretriz a conscientização quanto ao hábito alimentar, mobilizando os alunos para o auto-cuidado, por meio da pedagogia problematizadora. Os resultados encontrados sugeriram mudanças no consumo e no comportamento alimentar dos sujeitos. Rodrigues et al. 26 publicaram um trabalho com o objetivo de resgatar o conceito e os fundamentos do aconselhamento, como referência teórica para a atividade de atendimento nutricional que envolve educação e orientação nutricional. Segundo os autores, o aconselhamento dietético é uma estratégia educativa que vem sendo resgatada na prática profissional do nutricionista. Os autores concluem que: “o aconselhamento dietético pode prover ao nutricionista um instrumental teórico que lhe permite aprimorar suas habilidades e competências, com o fim de intervir sobre o comportamento alimentar do cliente, respeitando sua autonomia e valorizando seu potencial como sujeito histórico”. 26 Boog et al. 6 publicaram um artigo sobre a utilização de vídeo como estratégia de educação nutricional para adolescentes. A escolha do vídeo “comer... o fruto ou o produto?” foi justificada por se tratar de uma abordagem educativa alternativa que supera a mera transmissão de informações, é provocativo e pode suscitar polêmica junto aos sujeitos. A pesquisa trouxe resultados positivos, pois permitiu experenciar a interdisciplinaridade e parceria com o campo das artes, trazendo conhecimentos e perspectivas promissoras à educação nutricional. Melo et al.21 compararam duas estratégias de manejo da obesidade infantil: atendimento ambulatorial (individual) e programa de educação (em grupo). Esse estudo mostrou que um programa educativo não se revelou menos efetivo que o atendimento tradicional individualizado à obesidade infantil, e ainda apontou algumas vantagens, como por exemplo, a redução da colesterolemia. Costa et al.10 publicaram um trabalho enfocando o programa de alimentação escolar como espaço de aprendizagem e produção de conhecimento. Neste, o nutricionista deve ter participação ativa na execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), no que diz respeito à função do programa como um instrumento educativo, através de atividades que esclareçam a importância do programa e possibilitem o reconhecimento dos seus limites e possibilidades. A contribuição mais importante que o PNAE pode oferecer para a promoção da saúde dos escolares e de seus familiares é criar um ambiente favorável à aprendizagem, para que todos os que exercem atividades na escola possam efetivamente alimentar-se com mais qualidade e consciência dos condicionantes de suas práticas alimentares. No PNAE, o nutricionista pode desenvolver seu papel de educador em 353 nutrição, sendo responsável pela organização e facilitação do encontro entre o sujeito que aprende e o conhecimento a ser aprendido, além de fornecer ao sujeito (escolares, familiares, merendeiras, professores, etc) subsídios para que ele permaneça atento e possa aproveitar as experiências no trabalho como experiências de aprendizagem10. Os trabalhos mais recentes, portanto, reafirmam a importância da educação nutricional crítica e problematizadora, em contraponto à educação nutricional tradicional, ressaltando seu comprometimento com o sujeito e sua maior capacidade resolutiva em relação aos problemas alimentares. selected and their relation with the Health Education was identified. With this information, a recovery of the Practical-Theorical Healthy Education Evolution was made. The next step was present the historical evolution and Fundamentals of the Nutritional Education, showing how the Nutritional Education application and implementation took advantage of the Health Education. As a result, our study could identify that further studies have to be developed in order to increase the knowledge and the contribution that the Nutrition Education can offer to the Health Educational area. KEYWORDS: Health education; nutritional education programs. Conclusões A partir do exposto no desenvolvimento deste ensaio, é possível depreendermos algumas considerações. A escassez de material encontrado sugere que a área de Educação Nutricional dispõe de amplo campo teóricoprático a ser pesquisado. A educação nutricional pertence ao campo da educação em saúde, onde as práticas de educação em saúde e, conseqüentemente, de educação nutricional estão inseridas nas políticas de saúde do país. As práticas de concretização da educação nutricional direcionam-se para o exercício da mesma enquanto atividade privativa do nutricionista devidamente qualificado e tornase urgente a necessidade de novas propostas de conteúdo para a disciplina de educação nutricional nos cursos de graduação em Nutrição, enfocando aspectos sociais, políticos e econômicos como determinantes do estado nutricional e do acesso aos alimentos, incluindo diferentes discussões sobre abordagens pedagógicas, e destacando a educação problematizadora como forma de desenvolver consciência crítica e autonomia dos sujeitos. Os trabalhos de concretização da educação nutricional aqui apresentados exemplificaram alguns dos possíveis efeitos positivos das ações na vida dos sujeitos. No contexto apresentado, consideramos que o presente trabalho contribuiu para ampliar a base de conhecimentos teóricos sobre Educação Nutricional sugerindo a necessidade de prosseguimento de estudos na área. CAMOSSA, A.C.A; COSTA, F.N.A; OLIVEIRA.P.F, FIGUEIREDO,T.P.Nutrition educational: an area in development. Alim. Nutr., Araraquara, v.16, n.4, p. 349354, out./dez. 2005. ABSTRACT: This study, conceived as an exploratory research, was made with the aim to present a general view of the Nutrition Educational knowledge, from 1990 to 2005, taking into account their contribution to Nutrition. The bibliographic research, articles and studies that have relation with Nutritional Education, was Referências bibliográficas 1. AMATUZZI, M. M. O resgate da fala autêntica. Campinas: Papirus, 1989. 200 p. 2. AYRES, J. R. C. M. Sujeito, intersubjetividade e práticas de saúde. Ciênc. Saúde Coletiva, v.6, n.1,p. 63-72, 2001. 3. BOOG, M. C. F. Educação nutricional: passado, presente, futuro. Rev. Nutr. PUCCAMP, Campinas, v.10, n.1, p. 5-19, 1997. 4. BOOG, M. C. F. Educação nutricional: por que e para quê? J.UNICAMP, v.260, p.2-8 , ago.2004. 5. BOOG, M. C. F. 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