A ARTICULAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO NA ESCOLA 1 ANE CARINE MEURER – UFSM/UFBA 2 MIGUEL ANGEL GARCÍA BORDAS – UFBA 3 Partindo do pressuposto de que todas as escolas tem um projeto político-pedagógico, argumenta-se que, na maioria delas, ele está implícito, não é explicitado por toda a comunidade, expressando as determinações dos governos, direções, equipes pedagógicas e não o processo de aprendizagem e formação continuada dos envolvidos. Esse texto busca analisar os resultados parciais da primeira parte da investigação “Escola de ensino médio: espaço-tempo de reflexão político-pedagógica”. A pesquisa divide-se em três momentos: O primeiro relaciona-se a um estudo de caso, sobre a prática de uma pedagoga, desenvolvido nos anos de 1998 e 1999 em instituição pública de ensino médio do interior do Estado do RS, e que teve como propósito responder a seguinte questão: é possível a equipe pedagógica da escola articular o seu projeto político-pedagógico – fundamentado em uma racionalidade comunicativa -, com os cinco segmentos envolvidos, ou seja, pais, alunos, funcionários, professores e comunidade, explicitando os seus valores a fim de reconstruí-los? O segundo e terceiro momentos da pesquisa irão desenvolver-se de 2000 a 2003, analisando e teorizando a referida prática da pedagoga envolvida com a universidade e a escola, discutindo sobre a possibilidade dos educadores/pedagogos articularem o projeto político-pedagógico com os cinco segmentos, explicitando os seus valores, a fim de reconstruí-los, assegurando assim, que a proposta fundamente-se em uma ação comunicativa. A pesquisa tem como objetivos: explicitar a atual função do pedagogo na escola, os valores, representações, saberes, discursos presentes nas práticas políticas e pedagógicas de todos os segmentos envolvidos com a escola, tendo como perspectiva a racionalidade comunicativa e consequentemente a aprendizagem de todos. Discutir questões relacionadas à pedagogia e à articulação dessa às várias áreas do conhecimento, visualizando formas de efetivar a formação continuada de todos os envolvidos. Acompanhar a continuidade da pesquisa universidade/escola estabelecendo relações entre a presença e a ausência do pedagogo/articulador, que trabalhe ao mesmo tempo na 1 Este texto trata em grande parte dos resultados da pesquisa “Projeto político-pedagógico na escola: uma releitura a partir dos paradigmas de racionalidade” – UFSM/CE/FUE. 2 Professora Assistente na Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Educação – Departamento de Fundamentos da Educação e Doutoranda da Universidade Federal da Bahia – Faculdade de Educação – Doutorado em Educação. 3 Professor Titular da Universidade Federal da Bahia – Faculdade de Educação – Orientador da Tese de Doutorado. escola e na universidade. Detectar indicativos que mostrem que a escola pode ou não, responsabilizar-se pela reconstrução autônoma do seu projeto político-pedagógico. Explicitar os fundamentos éticos, políticos, estéticos, que justifiquem a prática do educador/pedagogo responsável pela articulação do projeto institucional com todos os envolvidos. Até o presente é possível dizer preliminarmente que: o pedagogo articulador redefine a sua função vinculando-a diretamente a reconstrução do projeto político-pedagógico da escola; o trabalho de um profissional especializado em projeto político-pedagógico auxilia na elaboração de um projeto autônomo na escola; é possível redimensionar a prática dos sujeitos envolvidos na escola de tal forma que os mesmos vinculem o ensino à pesquisa e à articulação do projeto; somente um trabalho coletivo da equipe pedagógica possibilitará o envolvimento de todos os segmentos na reconstrução proposta. Assim é possível dizer que a reconstrução do projeto político-pedagógico da escola pode ser um espaço-tempo de explicitação dos valores de toda a comunidade e pode também desencadear constantemente o repensar na escola, na universidade, nos cursos de formação de professores e das relações intersubjetivas presentes, desencadeando um amplo processo de formação continuada dos envolvidos. PALAVRAS CHAVE: escola; projeto político-pedagógico; articulador; racionalidade A ARTICULAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO NA ESCOLA 4 ANE CARINE MEURER – UFSM/UFBA 5 MIGUEL ANGEL GARCÍA BORDAS – UFBA 6 Partindo do pressuposto de que todas as escolas tem um projeto político-pedagógico, argumenta-se que, na maioria delas, ele está implícito, não é explicitado por toda a comunidade, expressando as determinações dos governos, direções, equipes pedagógicas e não o processo de aprendizagem e formação continuada dos envolvidos. Esse texto busca analisar os resultados parciais da primeira parte da investigação 4 Este texto trata em grande parte dos resultados da pesquisa “Projeto político-pedagógico na escola: uma releitura a partir dos paradigmas de racionalidade” – UFSM/CE/FUE. 5 Professora Assistente na Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Educação – Departamento de Fundamentos da Educação e Doutoranda da Universidade Federal da Bahia – Faculdade de Educação – Doutorado em Educação. “Escola de ensino médio: espaço-tempo de reflexão político-pedagógica”. A pesquisa divide-se em três momentos: O primeiro relaciona-se a um estudo de caso, sobre a prática de uma pedagoga, desenvolvido nos anos de 1998 e 1999 em instituição pública de ensino médio do interior do Estado do RS, e que teve como propósito responder a seguinte questão: é possível a equipe pedagógica da escola articular o seu projeto político-pedagógico – fundamentado em uma racionalidade comunicativa -, com os cinco segmentos envolvidos, ou seja, pais, alunos, funcionários, professores e comunidade, explicitando os seus valores a fim de reconstruí-los? O segundo e terceiro momentos da pesquisa irão desenvolver-se de 2000 a 2003, analisando e teorizando a referida prática da pedagoga envolvida com a universidade e a escola, discutindo sobre a possibilidade dos educadores/pedagogos articularem o projeto político-pedagógico com os cinco segmentos, explicitando os seus valores, a fim de reconstruí-los, assegurando assim, que a proposta fundamente-se em uma ação comunicativa. A pesquisa tem como objetivos: explicitar a atual função do pedagogo na escola, os valores, representações, saberes, discursos presentes nas práticas políticas e pedagógicas de todos os segmentos envolvidos com a escola, tendo como perspectiva a racionalidade comunicativa e consequentemente a aprendizagem de todos. Discutir questões relacionadas à pedagogia e à articulação dessa às várias áreas do conhecimento, visualizando formas de efetivar a formação continuada de todos os envolvidos. Acompanhar a continuidade da pesquisa universidade/escola estabelecendo relações entre a presença e a ausência do pedagogo/articulador, que trabalhe ao mesmo tempo na 6 Professor Titular da Universidade Federal da Bahia – Faculdade de Educação – Orientador da Tese de Doutorado. 2 escola e na universidade. Detectar indicativos que mostrem que a escola pode ou não, responsabilizar-se pela reconstrução autônoma do seu projeto político-pedagógico. Explicitar os fundamentos éticos, políticos, estéticos, que justifiquem a prática do educador/pedagogo responsável pela articulação do projeto institucional com todos os envolvidos. Até o presente é possível dizer preliminarmente que: o pedagogo articulador redefine a sua função vinculando-a diretamente a reconstrução do projeto político-pedagógico da escola; o trabalho de um profissional especializado em projeto político-pedagógico auxilia na elaboração de um projeto autônomo na escola; é possível redimensionar a prática dos sujeitos envolvidos na escola de tal forma que os mesmos vinculem o ensino à pesquisa e à articulação do projeto; somente um trabalho coletivo da equipe pedagógica possibilitará o envolvimento de todos os segmentos na reconstrução proposta. Assim é possível dizer que a reconstrução do projeto político-pedagógico da escola pode ser um espaço-tempo de explicitação dos valores de toda a comunidade e pode também desencadear constantemente o repensar na escola, na universidade, nos cursos de formação de professores e das relações intersubjetivas presentes, desencadeando um amplo processo de formação continuada dos envolvidos. PALAVRAS CHAVE: escola; projeto político-pedagógico; articulador; racionalidade A ARTICULAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO NA ESCOLA ANE CARINE MEURER – UFSM/UFBA MIGUEL ANGEL GARCÍA BORDAS – UFBA Introdução A referida pesquisa desenvolveu-se em uma escola pública de ensino médio no interior do Estado do Rio Grande do Sul e quer compreender se é possível articular o projeto político-pedagógico da escola com todos os segmentos envolvidos, ou seja, com os pais, com os alunos, com os professores, com os funcionários e com a comunidade. Acredita-se que todas as escolas tem um projeto político-pedagógico, porém nem sempre ele é refletido por todos os envolvidos, assim sendo reconstruir o mesmo, sob outras bases é, desencadear um processo de participação de todos os sujeitos. A pesquisa vem envolvendo esses segmentos desde 1998, através de reuniões, questionamentos, análise do processo de ensino e aprendizagem, cursos e explicitação pública das intencionalidades individuais/coletivas dos mesmos. Além de coordenadora do projeto e professora do Departamento de Fundamentos da Educação da UFSM, trabalhei na escola durante os anos de 1998 a 1999, pelo período de 20 horas semanais no Serviço de Supervisão Escolar da escola pesquisada, com o propósito de ser uma das articuladoras do seu projeto político-pedagógico. Portanto, a pesquisa pretende teorizar sobre uma prática singular, mas que não quer desvincular-se do global, caracteriza-se dessa forma como um estudo de caso. Atualmente, como aluna do curso de doutorado em educação da Faculdade de Educação, da Universidade Federal da Bahia, pretendo nos anos de 2000 a 2003, analisar e teorizar sobre a referida prática de pedagoga envolvida com a universidade e com a escola e discutir sobre a possibilidade dos educadores/pedagogos articularem o projeto político-pedagógico da escola com os cinco segmentos, explicitando os seus valores, a fim de reconstruí-los, assegurando assim, que a proposta fundamente-se em uma racionalidade comunicativa. Além disso pretendo discutir as questões referentes a: atual função do pedagogo na escola, os seus valores, as suas representações, os seus saberes e os discursos presentes nas práticas políticas e pedagógicas de todos os segmentos envolvidos com a escola, tendo como perspectiva a racionalidade comunicativa e consequentemente a aprendizagem de todos. Discutir questões relacionadas à Pedagogia e à articulação dessa às várias áreas do conhecimento, visualizando formas de efetivar a formação continuada de todos os envolvidos. Acompanhar a continuidade da pesquisa universidade/escola estabelecendo relações entre a presença e a ausência do pedagogo/articulador, que trabalhe ao mesmo tempo na escola e na universidade. Detectar indicativos que mostrem que a escola pode ou não, responsabilizar-se pela reconstrução autônoma do seu projeto político-pedagógico. Explicitar os fundamentos éticos, políticos, estéticos, que justifiquem a prática do educador/pedagogo responsável pela articulação do projeto político-pedagógico com todos os envolvidos. Até o presente apenas a primeira parte da pesquisa encontra-se concluída, é sobre ela que irei me referir no decorrer do texto, procurando explicitar algumas questões e conclusões sobre a mesma. Nesse contexto o propósito é compreender que esse projeto está atrelado a uma forma de se estabelecer relações dos homens consigo mesmos, com os outros e com o mundo, pensando o próprio pensamento, que mesmo apresentando algumas variações, mantém-se sob a égide do mesmo paradigma de racionalidade. (....) Trata-se de pensar o próprio pensamento no que tem ele de impensado, nos seus pressupostos mais esconsos. Para além, ou para mais fundo do que costumamos denominar pressupostos filosóficos, científicos ou técnicos, para além dos modelos e teorias que decididamente esposamos, torna-se imperioso repensar a educação nos seus paradigmas, entendidos estes como as estruturas mais gerais e radicais do pensamento e da ação educativa. (....) Servimo-nos de nossa estrutura de pensamento para pensar. Teremos ainda de nos servir de nossa estrutura de pensamento para repensar a nossa estrutura de pensamento (....) (Marques, 1994, p.547-565). O paradoxo da modernidade Encontra-se implícito ao projeto da modernidade os paradoxos que podem ser visualizados das mais diversas formas na nossa sociedade. Se por um lado o desenvolvimento tecnológico tem ajudado na melhoria da qualidade de vida, na longevidade, epidemias, mortalidade infantil das populações, universalização da educação, em contrapartida, a tecnologia tem destruído as maneiras tradicionais de vida. Muitos estudiosos tem se preocupado com a cura das doenças através de medicamentos e com isso excluem outras práticas, considerando-as ilegalizadas, assim, juntamente com a tecnologia, com o conhecimento científico está também a exclusão. Juntamente 2 com as propostas de universalizar o acesso à escola, disponibilizando equipamentos tecnológicos nas mesmas, mantém-se os alarmantes índices de evasão e reprovação nas escolas que oferecem educação básica no país. Segundo Heller (2000), não existem ganhos sem perdas, o que nos resta é perguntar se existem formas de, mesmo sem podermos evitar as perdas, minimizá-las, aumentando os ganhos na sociedade moderna em que vivemos. O arranjo moderno é o oposto da forma com que as sociedades antigas e medievais se organizavam, pois nessas o nascimento determinava a classe social a qual iria pertencer. Assim ao nascer seria mulher, servo, nobre. Já na modernidade o nascimento não determina o lugar que o sujeito irá ocupar na sociedade, mas tem a possibilidade de optar e traçar o seu próprio destino. Na modernidade todos são livres e iguais, assim, se todos tiverem as mesmas oportunidades, tem condição de ocupar deteminado local social de acordo com o seu desempenho, esforço, dedicação. Expressa-se mais uma vez o paradoxo, pois esse reside justamente no fato de pensar que todos são iguais, pois sabemos que todos são desiguais. Todos temos potencialidades “iguais”, mas não existem oportunidades iguais, e assim nascemos livres mas presos, devido as condições que nos são impostas. O paradoxo da liberdade impõe uma imagem de oportunidade igual, porém essas não existem, nunca existirão, estão a nível da idealidade, pois jamais seremos iguais. Quanto as oportunidades elas são sempre desiguais, mas espera-se que as oportunidades sejam minimamente iguais. Homens e mulheres acharam que com as mesmas oportunidades, haveria igualdade entre ambos, fato que até hoje provoca discriminações. Mesmo com as mesmas oportunidades não existe igualdade substantiva, pois não somos todos iguais, nem com as mesmas oportunidades teríamos o mesmo desenvolvimento e não haveria igualdade. Há um degrau que não permite que se desenvolva a vida de maneira justa, decente, com comida, casa, acesso a educação para todos. O projeto moderno não prioriza a todos terem os mínimos (Heller, 2000). Diante disso a escola não encontra-se isolada, nem sequer alienada do projeto moderno, inclui-se na perspectiva da exclusão, relativizando para muitos o direito ao acesso dos conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade. Alguns tem direito as melhores escolas porque tem dinheiro para pagar, enquanto que outros precisam mendigar vagas em escolas públicas que nem sempre são de boa qualidade. Essas questões complexas estão longe de serem resolvidas, e assim questões como salário 3 digno, formação continuada para os profissionais da educação estão longe de ser resolvidas, muito embora as legislações assim o prevêem. Nesse contexto, na modernidade ciência e ética são dois aspectos que precisam ser enfrentados na perspectiva de uma ética universal, ou seja, de uma ética que contemple as pluralidades, reconhecendo as diferenças, mas que ao mesmo tempo não seja relativista, já que essa ética pode ser considerada inumana, pois privilegia o individual em detrimento do coletivo. Assim uma ética universal contempla o valor absoluto das pessoas, não aceitando o fato delas serem tratadas como instrumentos, pois admite que elas possuem dignidade que as faz sujeitos de direitos. Inscrevem-se nesses o direito a viver em paz, desfrutar de um meio ambiente sadio, o valor da vida, a liberdade (positiva e negativa), a igualdade, a solidariedade, a paz e a tolerância ativa (Cortina, 1996, p.102-103). A ética universal para Apel (2000, p.407-420) reside no fato de que ela necessita ser obrigatória e a crise da ética está justamente na carência e dificuldade de sua implementação. Diante desse paradoxo o que é possível fazermos na escola? ficamos discutindo sobre as questões ou efetivamente agimos na perspectiva de auxiliar na superação do que temos? acredito que ambas as questões são importantes, precisamos refletir, discutir e agir localmente sem contudo perder a perspectiva global. Uma das formas pelas quais se acredita que será possível superar, mesmo sem garantias, o que temos, é a articulação em torno de uma comunidade argumentativa, onde seja possível a participação de todos, na escola essa proposta poderia ser implementada a medida que todos forem sendo envolvidos na reconstrução constante e coletiva do seu projeto político-pedagógico. As políticas públicas educacionais e a perpetuação do paradigma da razão individual centrada no sujeito: a pós-modernidade Chega-se à exasperação da modernidade, sendo que esta constitui-se em uma ameaça ao futuro. Esta crise é a crise da própria modernidade, em seu âmago, em seu conteúdo interno, em seu cerne como forma da razão humana, como o próprio exercício da razão, condições e possibilidades de conhecimento (Marques, 1992). Os pós-modernos se diferenciam e se autodenominam críticos pós-estruturalistas e que com o auxílio de Ogiba (1995) analisar-se-á. Estes caracterizam-se por um olhar crítico dos sujeitos sobre si mesmos, sobre o conhecimento, sobre a natureza e demais relações que se dão. Eles rompem com a racionalidade e tradição ocidental - moderna, criando 4 problemas de legitimidade para com os paradigmas científicos que até então direcionaram as investigações na área da educação, recusando as idéias das grandes narrativas, assim como, a idéia de uma razão universal como fundamento para as questões humanas. No campo educativo os críticos pós-estruturalistas tomam a linguagem como discurso, e este passa a ser entendido como efeito de sentido que se constrói na interlocução, sem que no entanto, esses possam ser considerados proprietários, pois isso tem a ver com as condições em que são produzidos e com os outros dizeres (Ogiba,1995). Com o neoliberalismo, que pretende ser mais uma forma através da qual o capitalismo mantém sua hegemonia não reverte os avanços científicos e tecnológicos da humanidade para todos. O projeto neoliberal pretende que as escolas funcionem pelas leis do mercado, com a implantação de testes a nível estadual, municipal e nacional a fim de aumentar a competência tanto docente quanto discente, além de avaliar os sistemas educativos, para que a partir daí tenham uma tabela das melhores instituições e com isso dar subsídios para o consumidor fazer a escolha de acordo com a circulação de informações que dispuser. Desta forma a educação incorpora um conjunto mais amplo de compromissos ideológicos sendo que seus objetivos passam a ser econômicos, os dos "livre mercado", com uma drástica redução da responsabilidade governamental nas áreas de saúde e educação. A educação é entendida como propriedade individual, onde os que têm acesso a ela, também tem direito a excluir os outros. Além disso, os indivíduos têm o direito de comprá-la e vendê-la, podendo usufruir sobre a sua renda e sobre o seu lucro, enquanto que os que não têm acesso, não têm direito a reclamar o seu direito sobre ela. O neoliberalismo questiona a noção de direito e a concepção de igualdade, já que esta serve teoricamente de fundamento filosófico à existência de certos direitos sociais nas sociedades democráticas. O direito social tem efeito homogeinizador, contradizendo a possibilidade de conquistar educação de qualidade e diferenciada. É importante salientar que para os neoliberais, qualquer iniciativa do Estado irá gerar mais pobreza, sendo assim, a melhor forma de voltar a recuperar o discurso ético é começar a pensar uma nova forma de cultura, uma nova ética, que se baseie no critério da justiça e da igualdade, pois uma sociedade só poderá ser democrática se ela for radicalmente "igual". 5 Argumentamos, porém, que a igualdade atinge interesses individuais e deve ser considerada sob o enfoque dos que têm direitos, dos que têm privilégios. A justiça não pode se basear em critérios fantasiosos, não pode haver distribuição igual para os desiguais, pois é necessário que se considere o ponto de partida desses sujeitos. Não podemos distribuir a educação de forma igual, mas sim, precisamos, distribuí-la de forma desigual, pois todos somos diferentes. A sociedade chega ao caráter micro e macro da competição, que é uma forma de relacionamento social, pano de fundo do individualismo. Pensamos de forma individual, aceitando que as pessoas tenham as suas coisas, além de acreditar que o coletivismo impede a felicidade. Sendo assim, devemos considerar desprezíveis as questões relacionadas à cidadania e ao direito social, pois esses não valorizam o mérito individual e o esforço cotidiano que consagram os indivíduos enquanto consumidores/ empreendedores. Para os neoliberais contemporâneos, o direito à propriedade é inviolável, sendo assim, perdemos o direito comunitário, ao passo que os novos liberais comunitários vão expressar a necessidade de recuperar o pensamento ético desses liberais clássicos, fazendo o inverso, questionando o direito de propriedade. Os neoliberais estão definindo uma nova forma de fazer, pensar e acontecer a educação, que se caracteriza na medida em que todos reconhecem que a educação está em crise e esperam receitas para sair dessa. Veiculam na imprensa incutindo no modo de pensar do povo que a crise se dá pela grande ineficiência do Estado em administrá-la e sendo assim, a solução é privatizá-la. O novo consenso é de que o ajuste estrutural da educação aconteça com a reestruturação educacional e esse é parte do ajuste global pelo qual a sociedade está vivendo. Outra função da escola dentro da visão neoliberal é a de formar trabalhadores, hierarquizando a força de trabalho e selecionando os melhores para as profissões. Sendo assim, o mercado de trabalho torna-se cada vez mais seletivo. Argumentam que a educação não pode mudar, nem deixar de estabelecer critérios de seleção, pois esta só terá qualidade à medida que melhor selecionar. Sob este enfoque, não é mais educação para o trabalho, mas educação para o desempenho no trabalho. A política educacional tem como objetivo submeter gradualmente o sistema público de ensino aos mecanismos de mercado e à privatização, implementação de parcerias com empresas privadas, sendo que a educação começa a efetivar propostas empresariais de produtividade, gerência e avaliação como aqueles entendidos nos princípios da qualidade total. Quer-se estabelecer um mecanismo de mercado centrado nas 6 preferências, na avaliação e na escolha do "consumidor". Dentro dessa perspectiva faz-se necessário estabelecer um rancking das universidades e escolas, aspecto esse que já está em processo de plena implementação através dos currículos nacionalmente unificados, diretrizes curriculares para os cursos de graduação e exame nacional de cursos. Chauí (1999) ao referir-se a recentes pesquisas brasileiras, coloca que os dados apontam que apenas 1,6% da população reconhece que existem direitos políticos e desses, 80% entendem que esses direitos estão relacionados ao direito de voto. Quanto aos direitos civis, apenas 11% da população os reconhece, enquanto que os direitos sociais são reconhecidos apenas por 25% da população. A autora afirma que as pesquisas demonstram a racionalidade da população brasileira perpetua a manutenção da dualidade, rico/pobre, mar/céu. Diante disso o direito a propriedade, a igualdade, a segurança, a escola com qualidade, não são reconhecidos como direitos e o não acesso a eles, não caracteriza, não se constitui em não direito. Mantém-se uma relação verticalizada, relação mando x obediência, quando o outro não é reconhecido como alguém que também tem direitos, não é reconhecido como alteridade. A racionalidade presente na população brasileira alicerça-se na naturalização da diferença ética, racial, esvaziando a gênese da desigualdade e da diferença. Não há espaço para perceber o direito à igualdade (Chauí, 1999). Afirma que o neoliberalismo não é o afastamento do Estado da economia, é sim a desvinculação do fundo público dos direitos da população. Alerta para que resgatemos os valores da sociedade, a manutenção do direito a igualdade, pensando-a como igualdade de oportunidades e acima de tudo igualdade de condições (Chauí,1999). Algumas considerações sobre o Serviço de Supervisão Escolar O dia-a-dia do Serviço de Supervisão Escolar da escola vem perpetuando uma prática que historicamente tem sido marcado pelo controle, inspeção sendo que os profissionais que trabalham no setor, supervisores ou não (licenciados em Pedagogia ou especialistas em educação, supervisão escolar) já chegam com o propósito de reproduzir a mesma prática. Cada supervisor é responsável pela correção de um determinado número de cadernos de chamada. É um trabalho exaustivo e que nem sempre é muito apreciado pelos colegas professores. Argumento que nesse aspecto o Serviço mantém-se instituído sobre o paradigma de poder instituído na modernidade. Questiono se os professores 7 precisam e farão seus registros com responsabilidade quando sabem que alguém irá posteriormente conferi-lo. Por outro lado, considero imprescindível assegurar aos alunos o direito a uma educação de qualidade, aos dias letivos legalmente instituídos, a uma avaliação comprometida. Quando Chauí (1999) refere-se a crise de direitos que vivemos é fácil perceber que a sociedade brasileira mantém-se numa racionalidade alicerçada em um paradigma que é o da natureza e que segundo Meurer (1998, p.26-31), é “O paradigma ontológico do saber”, reconhecido como advindo da Antigüidade e Idade Média. Fundamenta-se portanto, numa racionalidade tutelada por alguém. Na Idade Média, a igreja católica e mais tarde os burguesia exerceu essa mesma tutela com a manutenção dessa racionalidade até nossos dias, principalmente na sociedade brasileira, refletindo assim uma pequena amostra da sociedade colonial, autoritária, escravista e senhoril, com preponderância do privado sobre o público e da hierarquia familiar reproduzida. As repercussões dessa racionalidade ocorrem nas questões econômicas, políticas, éticas, abrangendo o fundamento das relações que se estabelecem com o mundo, com o conhecimento, ou seja, elas permanecem sustentadas, justificadas no Paradigma da Razão Individual Centrada no Sujeito. A racionalidade que impera nesse paradigma é a instrumental, cuja base justifica-se na premissa de que se refutam verdades universais, conhecimentos que não estejam comprovados pelas ciências empírico-matemáticas, sendo que os homens passam a estabelecer relações com o mundo, consigo e com os outros tendo em vista fins. Diante disso o setor reunia-se semanalmente para pensar o andamento da escola nos seus aspectos administrativo-pedagógico, com planejamento de calendário, andamento das atividades principalmente com os pais e professores, discussões sobre aspectos legais e propostas da Secretaria de Educação do Estado. Fica visível que a reflexão e ação ocorre muito mais na perspectiva do que o outro fez ou não do que em relação ao que o setor poderia, deveria ter feito no sentido de assegurar o direito dos envolvidos. Aspectos relacionados a articulação do projeto político-pedagógico da escola com todos os segmentos eram prioritariamente incumbência da pesquisadora, professora da universidade e escola, reproduzindo a fragmentação dentro do próprio setor, além de explicitar a pouca relevância dada a questão. Argumento que as questões relacionadas ao supervisor escolar precisam ser rediscutidas na escola, sem contudo esquecer os aspectos legais, pois esses são direito dos alunos, assim como dever do professor e da escola, corretamente oferecidos e registrados. Por 8 outro lado relegar a função prioritariamente para o trabalho burocrático é passível de questionamento. Aspectos relacionados a função do Supervisor, Orientador, Diretor precisam ser discutidos com toda a escola, porque há interferência direta do trabalho de um no outro e consequentemente no andamento da vida estudantil dos alunos. Fica visível porém que esses profissionais gostam mais é de propor discussões sobre as outras áreas, criticando-as, sem contudo expor seu trabalho a apreciação pública. Quando o serviço de supervisão não entra em questão pensa formas de discutir o trabalho do professor, mas não propõe formas para que ele pense sobre a sua própria prática e a escola como um todo. Os supervisores mantém-se na função administrativo-pedagógica, sem parar para pensar em como implementar a autonomia da/na escola, mas sempre em como cumprir o que lhes é delegado, o que querem e solicitam, vive-se de certa forma sob égide de uma liberdade vigiada. A instituição mantenedora regulamenta e cobra que as normas sejam seguidas e o Serviço de Supervisão Escolar é o primeiro que se dispõe a cumpri-las rigorosamente distribuindo tarefas hierarquicamente. Pergunta-se sobre que autonomia é essa que nem sequer permite o diferente, o respeito à história da comunidade, a contemplação das pluralidades? Que Serviço é esse que se dispõe a cumprir e não é autônomo o suficiente para justificar suas ações? A competência do supervisor está alicerçada a uma racionalidade tutelada a mesma que Chauí (1999) fala quando se refere a racionalidade da população brasileira. Acrescenta-se ainda que o professor também é marcado por essa tutela, na verdade o assujeitamento de todos está muito bem marcado pelas incumbências e funções que exercem. O que se entende por pedagógico, quando no Serviço de Supervisão Escolar, elege como mais importante pensar preponderantemente o andamento do ano letivo de forma administrada? Ao ser discutido o que é o pedagógico, pode-se entender que esse não se alia aos fundamentos epistemológicos das demais ciências, a uma lógica formal, porém pode ser compreendido sob outro enfoque a medida que promove à reflexão sobre a prática, teoriza e consequentemente faz ciência. Tal pensamento contrapõe-se aos entendimentos alicerçados na compreensão de ciência advinda dos paradigmas hegemônicos. Nesse contexto a discussão sobre avaliação, currículo, questões éticas que possibilitarão ao professor desenvolver as suas aulas pensando na sua função, a 9 competência profissional fundamentada em uma ética de direitos, da igualdade, do público, da solidariedade, remetem o professor a qualidade de produtor de ciência. O educador/pedagogo Estabeleço uma separação entre o professor/supervisor escolar (profissional que exerce a função - especialista) e o professor de sala de aula (mantenho a dicotomia presente na fala dos professores), para melhor analisar a separação que encontra-se presente na escola, muito embora não concorde com ela e entenda que todos os professores são pedagogos. Marques (1992) considera a Pedagogia como a ciência do coletivo dos educadores, empenhados em produzir entendimento comum acerca das práticas educativas a que se dedicam e a possibilidade de criticarem reflexivamente, continuamente sobre elas, nos horizontes de uma racionalidade de muitas vozes e amplas bases, crítico-reflexivas e estratégico-instrumentais. Articula-se, ela em sua unidade de núcleo orgânico da razão interessada em educação, o mundo intersubjetivo/social dos valores e normas consensuais, o mundo objetivo das coisas e facticidades, como instrumentos de trabalho, e o mundo subjetivo das vivências pessoais e emoções. Até o momento considero como pedagogos todos os sujeitos que de uma ou de outra forma tem se preocupado em pensar a prática docente, independente de sua formação inicial, ou seja, que durante o processo constante de formação continuada tenha como preocupação pensar a educação e as questões relacionadas ao projeto político-pedagógico da instituição, articulado com todos os sujeitos envolvidos, os seus saberes e às áreas do conhecimento. Sujeito singular que faz da sua área do conhecimento, da comunidade na qual trabalha espaço-tempo de pesquisa constante, capaz de pensar o seu fazer, o seu pensamento num processo permanente de reflexão, ação, teorização. “Pode-se, então sustentar que a Pedagogia, ao ser o exame das práticas educativas, desenvolver-se-ia por meio da formalização de teorias sobre aquelas práticas – por meio da crítica que tenha por base o exame das lógicas subjacentes aos enunciados presentes nas teorias; desenvolver-se-ia pela investigação do caráter dos fatos postos como reais em cada teoria, verificando a qualidade das induções – metodologia da investigação científica; procurando estabelecer um corpus de enunciados corretos, embora não-validados – aqueles de que não se conseguiu por alguma razão demonstrar a validade lógica – e enunciados 10 indutivos verdadeiros – que tenham validade demonstrada.” (Mazzotti,1998, p.34) A competência profissional do educador precisa alicerçar-se em uma ética universal, pois é um profissional que pensa e estuda as questões relacionadas a pedagogia, ao processo de ensino-aprendizagem, ao currículo, a avaliação, entre outras questões, resignificando sempre o fazer docente. Assim os profissionais da educação ao reconhecerem uma ética universal, entendem essa como contempladora das diferenças, contrariando os projetos totalitários que pretendem atingir a todos com igualdade. As diferenças são compreendidas na perspectiva do pluralismo respeitoso o que é humanamente necessário, para que se tenha condições de viver dignamente, assegurando a todos o mínimo (Cortina, 1996). Porém, cabe ressaltar que os fundamentos éticos são universais, estabelecem-se dentro de um contexto comunicativo, para além do unicamente instrumental, técnico, burocrático, para além dos pressupostos dos brancos, burgueses, capitalistas. Para tanto faz-se necessário e urgente articular o projeto político-pedagógico da instituição com a formação continuada dos professores em serviço, aspecto que caracterizará efetivamente ao professor ser pedagogo, porque pensa o seu fazer, pensa a educação. Ele se alicerça na reflexão, ação, teorização, pesquisa do profissional da educação, continuamente articulado e mediado pela prática. Acredita-se que muito falta para conseguirmos estabelecer tal reflexão com todos os professores, quanto muito com todos os segmentos envolvidos no processo, porém é crucial que se comece, que se contribua na tentativa de diminuir, possibilitar, através da educação, ao maior número de pessoas formas de atingir os mínimos essenciais, que lhes são de direito. Apesar da carência e dificuldade na sua implementação, trabalhar na perspectiva de superar o que se tem. Dentro dessa perspectiva o professor licenciado em Pedagogia especialista em educação, redefine-se na função de articulador do projeto político-pedagógico da escola de acordo com a realidade na qual encontra-se inserido. O projeto político-pedagógico da escola Ao discutir sobre o projeto político-pedagógico da escola penso que é difícil conceituá-lo, e nem é esse o objetivo neste momento. A proposta é discutir sobre 11 algumas questões que possibilitarão aos sujeitos envolvidos refletirem, para, a partir daí, reconstruírem suas ações teorizando suas práticas. Acredito que todos esses aspectos devem estar explicitados no documento que legalmente é solicitado às escolas e que é denominado de projeto político-pedagógico. Tal projeto redimensiona-se em uma proposta - do latim “positum”, significa propôr, depositar, apostar a, estabelecer, instituir, considerar. É um plano que está próximo, colocado, pois nele estão presentes os aspectos do que se quer, do que se pretende atingir, articulando-se a ele as intencionalidades da direção da escola, dos professores, dos alunos, dos funcionários, dos pais, da mantenedora, do regimento escolar, do estatuto de trabalho dos trabalhadores em educação, das legislações vigentes. A proposta não precisa necessariamente ter sido pensado pelas pessoas envolvidas com a escola, naquele momento histórico, podem antecedê-la. Projeto do latim “projectum”, significa lançar para diante, ejetar (crença), verter para diante, proferir, expor-se, arriscar-se, tomar um partido, produzir-se, apresentar-se, mostrar-se. Projeto é resultado da reflexão de todos os segmentos no sentido de pensarem o que querem da escola, para quê, para quem, por quais motivos e interesses. Essas intencionalidades precisam refletir ao máximo a expressão da oralidade e da escrita (entrevistas, trabalhos em grupo, pesquisa de campo) dos sujeitos envolvidos. Ambos, proposta e projeto se resumem, no meu entendimento, em intencionalidades (motivo pelo qual muitas vezes são usados como sinônimos), não em determinações. Consubstanciam-se na prática, na ação, na interlocução de todos os intituintes consigo mesmos, como os outros, com os conhecimentos, com os diversos saberes, com o instituído, com a realidade e vão sendo redefinidos na ação. Quando falo em explicitação do projeto político-pedagógico da escola por todos os segmentos, compreendo que todos devem estar envolvidos nessa ação, nesse movimento que irá redimensionar-se. Assim o projeto político-pedagógico da escola se efetiva no interfaceamento entre a proposta, o projeto e a ação. Efetiva-se o projeto político-pedagógico da escola com a participação da comunidade, através da argumentação e articulação de consensos, muito embora sempre provisórios, a respeito de que educação se quer implementar na instituição. Esse processo é dinâmico e contínuo porque redefinem-se constantemente os sujeitos envolvidos, as dinâmicas sociais, políticas. Argumento que a ação dos sujeitos na escola e que se manifesta no projeto político-pedagógico precisa justificar-se em uma ética universal, que tem em vista os 12 direitos anteriormente citados, aspecto não muito fácil de reconstruir na sociedade na qual vivemos. Na escola, diante da proposta da pesquisa, foram organizadas reuniões com todos os segmentos, com exceção da comunidade externa à escola. O que se pretendeu foi, explicitar o que estava dado, instituído na escola, quais eram os objetivos que pretendiam ser atingidos, reafirmando os compromissos indivíduais/coletivos assumidos, para a partir daí confrontá-los em uma ampla discussão. Pode-se dizer que apenas o segmento professores concluiu o trabalho, através de uma síntese provisória, com discussões a respeito do currículo após o término do curso de formação realizado em parceria com as universidades da região, principalmente a UFSM. Mesmo assim, diante do que entendo ser projeto político-pedagógico afirmo que na escola pesquisada nem todos e nem sempre as ações foram voltadas para o entendimento, já que não houve uma preocupação sistemática no sentido de envolver os vários segmentos. Um exemplo disso são os pais que serviram, em grande parte, apenas para legitimar ações da direção da escola. É visível a implementação de uma racionalidade utilitarista e não comunicativa a qual eu me referi anteriormente. Diante da pergunta inicial referente a possibilidade da equipe pedagógica da escola articular o seu projeto político-pedagógico com os cinco segmentos envolvidos, explicitando e reconstruindo os seus valores, assegurando assim que a proposta fundamente-se em uma racionalidade comunicativa, entendo que é possível implementá-la, a fim de que os diversos segmentos envolvidos cheguem a um entendimento, mas não há garantias de que esse objetivo será concretizado. O que é imprescindível, porém, na organização escolar que temos até o presente, principalmente em relação a equipe pedagógica, que haja um envolvimento comprometido com a articulação da reconstrução do seu projeto político-pedagógico. Até o presente entendo que a presença e o trabalho de um profissional especializado em projeto político-pedagógico, assim como vinculado as duas instituições de ensino, escola e universidade, auxilia na elaboração de um projeto autônomo e participativo, mas há indicativos de que tenhamos que avançar no sentido de que todos os professores reconstruam a sua prática na perspectiva de tornarem-se pedagogos, assim como justificarem a sua ação em perspectivas éticas universais. Nesse processo, é imprescindível a participação do pedagogo licenciado em Pedagogia, que irá redefinir sua função nessa reorganização. 13 O projeto político-pedagógico da escola se consubstanciará a medida que articular a aprendizagem e a formação continuada dos envolvidos, ou seja, uma ação que vise o bem estar dos cidadãos que estão sendo servidos por ela. Resgata-se a dimensão do social, do público. É importante acrescentar que a superação começa a partir do momento em que os professores articularem a sua formação continuada com sua prática e que ela ocorrer a partir da não fragmentação da prática educativa, do trabalho pedagógico onde todos compreendam o seu lugar na escola, transcendam os princípios individuais, a racionalidade instrumental. Assegurar a todos a formação continuada que está diretamente vinculada com a cidadania, a emancipação, mesmo que saibamos que não haja garantias de que tais propostas se efetivem, é importante porém que ela seja vista como possibilidade, apesar dos limites que estão impregnados ao projeto moderno. Desconfia-se de que a continuidade da pesquisa apontará para a necessidade de todas as licenciaturas - formação inicial -, e continuada em serviço, compreenderem que as preocupações relacionadas a articulação do projeto político-pedagógico da escola são inerentes à formação do educador/pedagogo. Referências bibliográficas BERNSTEIN, Richard. Introdução. In: GUIDDENS, Antony et alli. Habermas y la modernidad. Madrid : Catedra, 1994. (Colección teorema) BOUFLEUER, José Pedro. Pedagogia da ação comunicativa: uma leitura de Habermas. Ijuí : UNIJUÍ, 1997. 108p. CASTORIADIS, Cornelius. A Instituição imaginária sociedade. Tradução de Guy Reynaud; Revisão técnica de Luiz Roberto Salinas Fortes. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. (Coleção Rumos da cultura moderna; v. 52). CHAUÍ, Marilena. Comunicação Pessoal. Porto Alegre, 02 de dezembro de 1999. HABERMAS, Jürgen. Teoría de la acción comunicativa. Madrid: Taurus, 1987, c1981. Tomos I e II. ___. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, 1989. ___. Um perfil filosófico-político: entrevista com Jürgen Habermas. Novos estudos, São Paulo, n.18, 1987. p.77-102. ___. Pensamento pós-metafísico: estudos filosóficos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 14 1990. HERMANN, Nadja. Validade em educação: implicações e problemas na recepção de Habermas. Porto Alegre : EDIPUCRS, 1999. HELLER, Agnes. Comunicação Pessoal. Salvador, 16 de junho de 2000. MARQUES, Mario Osorio. Os Paradigmas da educação. In: Brasil, MEC/INEP. Revista brasileira de estudos pedagógicos, Brasília, n. 175, 1994. p. 547-65. ___. Aprendizagem na mediação social do aprendido e da docência. Ijuí: UNIJUÍ, 1995. ___. Educação/interlocução, aprendizagem/reconstrução de saberes. Ijuí : UNIJUÍ, 1996. p.127 (Coleção Educação). ___. Pedagogia: a ciência do educador. Ijuí : UNIJUÍ, 1990. 181p. ___. A Reconstrução da educação com qualidade. Ijuí : UNIJUÍ, 1992. 14p. ___. Conhecimento e modernidade em reconstrução. Ijuí : UNIJUÍ, 1993. 126p. ___. Os Paradigmas da educação. In: Brasil, MEC/INEP. Revista brasileira de estudos pedagógicos, Brasília, n. 175, 1994. p. 547-65. ___. Aprendizagem na mediação social do aprendido e da docência. Ijuí: UNIJUÍ, 1995. MEURER, Ane Carine. O neoliberalismo e suas repercussões na economia, na política e na educação. In: UNIJUÍ, Cadernos do mestrado em educação nas ciências. Ijuí : UNIJUÍ, v.1, n.1, 1996. ___. O pedagogo, articulador da reconstrução do projeto político-pedagógico da escola. In: Congresso Latino-Americano de administração da educação, 3, 1997, Campinas. Anais. Campinas, a1997. p. 88. ___. O Pedagogo, Articulador da Reconstrução do Projeto Político-Pedagógico da Escola. In: ANPEd, 20ª, 1997, Caxambú. Anais. Caxambú, b1997. p.189. ___. (coord.) Projeto Político-Pedagógico de Escola: uma leitura a partir dos paradigmas de racionalidade. Universidade Federal de Santa Maria, 1999. (Projeto de Pesquisa) OGIBA, Sônia M. A produção do conhecimento didático e o pós-estruturalismo: potencialidades analíticas. In. NETO, Alfredo Veiga. Crítica Pós-Estruturalista e Educação. Porto Alegre : Sulina, 1995. p. 231-244. PRESTES, Nadja Hermann. Educação e racionalidade: conexões e possibilidades de uma razão comunicativa na escola. Porto Alegre : EDIPUCRS, 1996. 138p. (Coleção Filosofia: 36). 15 ___. Educação E Ética: Relações E Perspectivas. In. Identidade social e a construção do conhecimento. Porto Alegre : Parlenda,1997. PROPOSTA. In. SARAIVA, dos Santos F.R. Novíssimo Dicionário Latino-Português. 10. ed. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1993. p.916 PROJETO. In. SARAIVA, dos Santos F.R. Novíssimo Dicionário Latino-Português. 10. ed. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1993. p.960 16