002302_C&T22.book Page 67 Tuesday, July 27, 2004 8:16 AM Resenha O MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR ALÉM DA EMPRESA SEEING THE WHOLE MAPPING THE EXTEND VALUE STREAM de Daniel Jones & James Womack, Massachusetts: Brookline, 2002, 97p., ISBN 0-9667843-5-9 WILSON ANTONIO PIZZOL Aluno do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – UNIMEP/SBO. Engenheiro industrial graduado pela UNIMEP, 2001. [email protected] Neste livro, Daniel Jones e James Womack, também autores de The Machine that Changed the World e Lean Thinking, não realizam apenas o complemento a Learning to See (Apreendendo a Enxergar), de John Shook e Mike Rother (1998), mas sim a extensão da técnica Value Stream Mapping (Mapeamento do Fluxo de Valor) por eles proposta, criando novos ícones para representar as atividades desempenhadas entre fornecedores e clientes, principalmente aquelas relacionadas ao fluxo de materiais e informações. Essas informações, uma vez transmitidas ou interpretadas de forma inadequada, são justamente as responsáveis pela geração de desperdícios. O Mapeamento do Fluxo de Valor (MFV) é o processo prático de documentar o fluxo da cadeia de valor, considerando todos os passos do processo de fabricação, tanto os que adicionam valor (transformam ou modificam) como os que não adicionam valor (espera, movimentação, armazenagem etc.), desde a recepção da matéria-prima até a entrega ao cliente. O MFV permite uma forma simples de visualização da cadeia de valor, composto pelo fluxo de processo, materiais e informações, ajudando a identificar desperdícios, bem como suas fontes. Uma vez pronto, o MFV ajudará a tomar decisões sobre o fluxo representado, tornando-o mais lógico e simples, abordando os conceitos e técnicas enxutas. Após realizado o MFV no Estado Atual, que tem por objetivo representar o “mapa da situação atual” (a foto do hoje), deve-se partir para o mapeamento do Estado Futuro, o qual representará o mapeamento que pode tornar-se realidade em um curto espaço de tempo, demonstrando as melhorias de possível implementação, baseadas nas observações realizadas no decorrer do mapeamento do Estado Atual. A técnica apresentada por Shook e Rother em Learning to See tem por objetivo realizar o mapeamento “porta a porta” (do recebimento de matéria-prima até a expedição para o cliente final). Porém, vários pessoas que empregaram a técnica passaram a questionar como se poderia expandir o escopo do MFV além da planta, ou seja, desde a matéria-prima até o cliente final. O conceito aplicado para se realizar o Mapeamento Estendido do Fluxo de Valor (MEFV) é o mesmo, porém observando, dessa vez, desde o fornecedor de matéria-prima até o cliente final. Em qualquer nível de mapeamento, estaremos simplesmente observando e anotando cada passo do processo, assim como a inforREVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • V. 11, Nº 22 – pp. 67-68 67 002302_C&T22.book Page 68 Tuesday, July 27, 2004 8:16 AM mação e o material para cada família de produto. O MEFV exige a cooperação de vários departamentos e divisões na empresa e mesmo entre empresas diferentes, e estas raramente pensam sobre o fluxo total de um produto. Geralmente escondem informações, o que gera uma missão árdua para o gerente incumbido de sua implementação. O MEFV tem início na seleção da família de produtos, caracterizada pela similaridade do fluxo de processo ou equipamentos utilizados. Em um primeiro momento, os autores sugerem a seleção de uma família simples, com o objetivo de manter um trabalho focado e despertar a consciência em seus participantes. A aplicação do MEFV pressupõe a escolha de um líder para sua realização, nomeado por Jones e Womack como “product line manager” (gerente da linha de produto). Tal membro deve possuir senso de responsabilidade para aumentar o lucro ou participação da empresa no mercado. Cada unidade de negócio ou empresa envolvida no MEFV deverá eleger seu próprio líder, responsável por ajudar no levantamento de dados para a construção do Estado Atual e pelo Plano de Ação a ser implementado. Com a definição dos líderes, cabe iniciar o Mapeamento do Estado Atual em cada unidade ou empresa, relatando o Fluxo de Processo, Material e Informação e, mais tarde, concentrando todas elas em um único mapa do Estado Atual. Pronto o MEFV, Jones e Womack sugerem o endereçamento das melhorias por meio de três níveis: • Estado Futuro 1 – visa à eliminação dos desperdícios em cada unidade ou empresa, estabilizando o processo e simplificando o fluxo de informação; • Estado Futuro 2 – introduz o Nivelamento da Produção e reabastecimento mais freqüentes entre unidades ou empresas, promovendo, desse modo, a redução do inventário em processo e de produto acabado; • Estado Ideal – deve-se avaliar a viabilidade de centralização das atividades em um único local, desde a matéria-prima até o produto acabado, reduzindo, assim, o transporte e o fluxo de informação. O método apresentado por Jones e Womack torna clara a lógica dos desperdícios que ocorrem na manufatura serem decorrentes de outros departamentos. Vejamos um exemplo: o Cliente Final dirige seus pedidos ao departamento de Controle de Produção do Fornecedor A, este departamento adiciona um “fator de segurança” à demanda solicitada e envia aos departamentos de Manufatura e Controle de Materiais; o departamento de Controle de Materiais adiciona seu fator de segurança antes de mandar os pedidos ao fornecedor de matéria-prima, causando, assim, a amplificação da demanda originada pelo Cliente Final. Realizado o MEFV, ele estabelecerá uma linguagem única entre a cadeia de clientes e fornecedores, simplificando a forma de comunicação e o entendimento das oportunidades interdependentes relacionadas a custo, qualidade, confiança e comunicação de problemas. Se a prática do MEFV for compartilhada com um segundo nível de fornecedores, as vantagens competitivas podem se tornar ainda maiores, estendendo-se aos diversos níveis da cadeia produtiva. Sem dúvida, a dimensão adicional do Mapeamento Estendido da Cadeia de Valor é um grande desafio. Porém, traz consigo o objetivo de inovar e compartilhar o conhecimento e a consciência, assim como a forma de identificar sistematicamente oportunidades de eliminação de desperdícios em todo a cadeia de valor (de fornecedores a cliente final). A aplicação do método de Jones e Womack, exposto em Seeing the Whole, ajudará a obter um estado futuro, a ser implementado com sucesso. 68 jul./dez. • 2003