O FÓRUM ON-LINE SOB UMA PERSPECTIVA ENUNCIATIVA CRISTINA RÖRIG, BOLSISTA CNPq, PUCRS ([email protected]) RESUMO: Considerando-se o papel da tecnologia digital na sociedade contemporânea, e, no caso, a aprendizagem mediada pelo computador, objetiva-se lançar um olhar linguístico enunciativo sobre o forum on-line a fim de refletir sobre a construção de sentido de discursos nessa situação de ensino-aprendizagem. Para tanto, propõe-se uma análise semânticolinguística, buscando-se, a partir de uma enunciação representada pelo locutor em seu enunciado, verificar as atitudes do locutor frente aos enunciadores e o modo como o locutor assimila os enunciadores a determinadas personagens. O corpus para estudos será composto de discursos retirados de um fórum de discussões de um curso realizado à distância. Pretendese contribuir, por meio desse estudo enunciativo, com reflexões sobre o entendimento da construção de sentido no discurso para professores que trabalham em cursos à distância. PALAVRAS-CHAVE: gênero fórum on-line; semântica linguística; enunciação. ABSTRACT: Taking into perspective the role of digital technology in society nowadays and, in this case, in learning through computer use, we aim to take an enunciative linguistic view at an on-line forum to reflect upon discourse meaning. So we propose a semantic-linguistic analysis in the enunciation represented by the speaker in his speech to verify the attitudes of the speaker concerning points of view from discourses and the manner the speaker assimilates points of view to determined characters. The corpus is composed of discourses from a discussion forum from a distance course. We want to contribute trough this enunciative study with considerations upon understanding construction of meaning in discourse to teachers that work in distance courses. KEY-WORDS: on-line forum gender; semantic linguistic; enunciation. 1 Introdução A evolução das tecnologias digitais, principalmente com o uso da Internet, traz novos meios de comunicação e de troca de informações entre as pessoas. Há inúmeros aspectos relacionados a esse evento, que envolvem, dentre eles, o desenvolvimento de softwares e ambientes virtuais educacionais, tanto na aprendizagem presencial quanto à distância. O presente trabalho propõe-se a estudar discursos produzidos num ambiente digital de aprendizagem à distância 1 , e, especificamente, os discursos que compõem um fórum on-line a fim de mostrar uma forma de compreender a construção de sentidos. Para este estudo, toma-se como base a Semântica Linguística, especificamente a Teoria da Polifonia da Enunciação, de Oswald Ducrot, que se vincula à Teoria da Argumentação na Língua (ANL) 2 . A hipótese elaborada por Ducrot e que norteia sua teoria é a de que o sentido se constrói a partir do linguístico, e produzir sentido equivale a argumentar, a expressar um ponto de vista num discurso. A ANL pode ser entendida como uma teoria enunciativa, pois contribui para o estabelecimento de um pensamento sobre a enunciação na linguagem, uma vez que considera o eu-locutor/tu-alocutário no discurso ao estudar o sentido. A enunciação, para Ducrot, é um acontecimento constituído pelo aparecimento de um enunciado, produzido por um locutor, designado por eu, ser discursivo responsável pelo enunciado, distinto do autor empírico de seu enunciado, para um alocutário, determinado por uma segunda pessoa, também um ser discursivo. Segundo Ducrot (1987), o enunciado é o observável, a manifestação, a ocorrência histórica de uma frase e traz consigo uma qualificação de sua enunciação, o que constitui seu sentido. Dessa forma, o sentido refere-se à descrição da enunciação. Assim, tomando-se a perspectiva da análise polifônica da enunciação, levantam-se questões norteadoras para este texto: quais características de linguagem são geralmente utilizadas pelos participantes do gênero discursivo fórum on-line? Como os participantes de um fórum on-line constroem sentido em seus discursos? Como se identificam os pontos de vista apresentados no discurso e de que forma ocorre um encadeamento semântico entre os discursos? 1 A autora agradece a colaboração da equipe do Eduline da FACCAT, que gentilmente disponibilizou um corpus para a realização deste estudo enunciativo. 2 A Teoria da Argumentação na Língua é apresentada oficialmente com a publicação do livro L’argumentation dans la langue, de Jean Claude Anscombre e Oswald Ducrot em 1983. Nessa obra, constam textos publicados entre 1975 e 1981 sobre o assunto. Nos dois últimos capítulos, os autores colocam sua hipótese base de que a argumentação é o fator essencial para a apreensão do sentido do enunciado, que o sentido do enunciado é argumentativo e a argumentação está inscrita na língua. Seguindo-se esses estudos, verifica-se que a ANL conta com três fases no seu desenvolvimento: a primeira fase: forma standard (1983); a segunda fase: a teoria dos topoi e a teoria da polifonia (DUCROT, 1990); a fase atual: a Teoria dos Blocos Semânticos (TBS - 1992). Organiza-se o presente artigo, assim, inicialmente, com a apresentação de alguns conceitos da Teoria da Argumentação na Língua e da Teoria Polifônica da Enunciação, necessários para as análises; em sequência, apresentam-se questões discursivas sobre o gênero fórum on-line; por último, realizam-se análises discursivas sobre os discursos produzidos no fórum a fim de verificar como o sentido se constrói nesse meio virtual de aprendizagem. 2 A perspectiva enunciativa norteadora deste trabalho: Teoria da Argumentação na Língua (ANL) 2.1 As raízes e a concepção de linguagem pela ANL Ao focalizar o linguístico e ao tomar como objeto de estudo o uso da língua, a ANL filia-se a duas vertentes teóricas: o estruturalismo saussureano e a enunciação, tomadas com vistas à criação de uma semântica linguística. Do estruturalismo saussureano, escolhe principalmente a noção de relação, mas também os conceitos de língua e fala. Do ponto de vista enunciativo, embora aceite as noções de pessoa, tempo e espaço (eu/tu-aqui-agora), tais como podem ser encontradas nos trabalhos de Émile Benveniste, a semântica linguística de Ducrot serve-se de uma concepção própria de enunciação. O estruturalismo constitui o modo de entender a linguagem pela ANL, uma vez que esta se relaciona com as ideias de Fernand de Saussure. Saussure estabeleceu a oposição língua/fala ao definir a língua como o objeto de estudos da Linguística, atribuindo um caráter científico para os estudos realizados sobre a linguagem. Ducrot vai além da proposta de estudos de Saussure, mostrando a importância do uso da linguagem pela relação entre língua/fala. Assim, na ANL, o sentido se constrói na articulação desses elementos e se verifica nas relações estabelecidas entre o uso das palavras e das frases no enunciado. A frase é um objeto teórico, definida como uma estrutura lexical e sintática. Do ponto de vista semântico, a frase contém em si a significação, que é um conjunto de instruções que, numa dada situação de enunciação, conduz à construção de sentido do enunciado. Segundo Ducrot, é preciso atribuir uma significação a cada uma das frases para descrever semanticamente a língua. Assim, para Ducrot, a língua é constituída em relação à fala, mantendo o princípio estruturalista de que o significado de uma expressão reside nas relações dessa expressão com outras expressões da língua. A significação é um conjunto de instruções dadas para construir um conteúdo a partir da situação de enunciação; as instruções especificam quais manobras realizar para associar um sentido ao enunciado. O sentido é uma construção realizada através de relações a partir das instruções especificadas na significação. Dessa forma, a significação e a frase são de naturezas distintas. O enunciado é o observável, a manifestação, a ocorrência histórica de uma frase. Segundo Ducrot (1987), o enunciado traz consigo uma qualificação de sua enunciação, o que constitui seu sentido. O sentido, segundo Ducrot (1987), refere-se à descrição da enunciação. A enunciação não é o ato de alguém que produz um enunciado, mas o fato de que um enunciado aparece. A enunciação é um acontecimento constituído pelo aparecimento de um enunciado, produzido por um locutor, designado por eu, ser discursivo responsável pelo enunciado, distinto do autor empírico de seu enunciado, para um alocutário, determinado por uma segunda pessoa, também um ser discursivo. O locutor pode coincidir com o sujeito empírico no discurso oral. Verifica-se que Ducrot desenvolve sua teoria rejeitando o caráter objetivo relacionado à concepção tradicional de sentido, mantendo os conceitos de subjetividade e intersubjetividade ao apresentar sua concepção de linguagem. Para ele, a linguagem apresenta uma subjetividade do eu no discurso e permite que se compreendam as atitudes do locutor em relação à realidade. Dessa forma, a linguagem serve para falar do mundo e as coisas do mundo são, para o locutor, um suporte para expressar sua subjetividade, suas argumentações. Das relações subjetivas e intersubjetivas deriva o valor argumentativo das palavras, o qual permite a compreensão das relações presentes no discurso, pois uma palavra impõe uma determinada continuação semântica. Ao identificar um locutor produtor de discurso para um interlocutor, a ANL caracteriza-se como enunciativa, sendo que, na relação locutor/alocutário, o locutor argumenta em relação ao que está sendo dito. A construção da argumentação se realiza pela enunciação do locutor, com a observação de um ponto de vista do locutor em seu discurso. As relações entre o locutor com o alocutário e entre o locutor e outros discursos traz a ideia de polifonia, que explica como essas se apresentam no discurso, e como ocorre a vinculação do locutor com os enunciadores, como se reconhecem os pontos de vista apresentados pelo locutor. 2.2 Os pontos de vista do discurso: a Teoria Polifônica da Enunciação “Hablar es construir y tratar de imponer a los otros una especie de aprehensión argumentativa de la realidad.” (Oswald Ducrot, 1990) Ao propor a teoria polifônica, Ducrot procura mostrar que o autor de um enunciado não se expressa diretamente, mas põe em cena, num mesmo enunciado, um certo número de vozes, de pontos de vista. O sentido do enunciado, assim, resulta do confronto entre esses diferentes pontos de vista (DUCROT, 1990). Dessa forma, Ducrot contesta a unicidade do sujeito falante do discurso, em que para cada enunciado há somente um sujeito que fala. Nessa nova perspectiva, um mesmo enunciado apresenta vários sujeitos com estatutos linguísticos diferentes: o do sujeito empírico (λ), o do locutor (L), e o do enunciador (E). O sujeito empírico (λ) é o autor real, o produtor do enunciado. Ducrot (1988) determina, por uma necessária delimitação do observável, que o sujeito empírico não é objeto de estudos da linguística, não é um problema linguístico, e sim de outras áreas como a Sociolinguística ou a Psicolinguística. O lingüista semanticista deve se preocupar com o sentido do enunciado, e não se preocupar com as condições externas de sua produção 3 . O responsável pelo enunciado é o locutor (L), que é o autor inscrito no sentido do enunciado. O locutor pode ser totalmente diferente do sujeito empírico, por exemplo, sendo um personagem fictício a quem o enunciado atribui a responsabilidade da sua enunciação. Essa diferença entre locutor e sujeito empírico permite, por exemplo, dar voz a seres que seriam incapazes de falar, como no caso dos dizeres colocados em lixeiras do tipo “Não duvide em utilizar-me” (DUCROT, 1990, p.18). O me refere-se à lixeira, que, no entanto, não é o sujeito empírico. Um outro fato em relação ao locutor é a possibilidade de haver enunciados que não possuem um locutor, como, por exemplo, os provérbios. Ao utilizar um provérbio, utiliza-se uma sabedoria universal para argumentar. Como exemplo, Ducrot menciona que ao ver uma pessoa que incita as outras a fazerem desordem, é possível que se diga a ela “Quem semeia vento, colhe tempestade”. A utilização do provérbio faz com que se utilize uma sabedoria que está acima da subjetividade individual, fazendo com que não seja atribuído diretamente ao indivíduo particular esse dizer. Por último, Ducrot (1990) apresenta a definição de enunciador (E), que é a origem do ponto de vista de um enunciado. Para isso, Ducrot admite que “todo enunciado apresenta um certo número de pontos de vista relativos às situações de que se fala” (DUCROT, 1990, p. 19). Os 3 Ducrot (2005) afirma que a compreensão linguística já é ela mesma reveladora e satisfatória, ao menos, num primeiro nível de interpretação (DUCROT, 2005). A estrutura linguística indica o que se deve procurar no contexto e como procurar para se interpretar um enunciado. O contexto tem um papel na construção do sentido; no entanto, essa construção “pragmática” (aspas do autor) de sentido é orientada pelo valor inerentemente linguístico das palavras que se quer entender. enunciadores se expressam pela enunciação, se eles falam, é somente no sentido em que a enunciação é vista como expressando seu ponto de vista, sua atitude, mas não no sentido material do termo, suas palavras (DUCROT, 1987, p. 192). Os enunciadores são os pontos de vista identificáveis a partir do enunciado. Os enunciadores referem-se a falas virtuais, de um discurso considerado sem que ninguém o tenha pronunciado, nem mesmo sob uma outra forma (DUCROT, 2000). Os enunciadores constituem uma representação linguística da realidade, “eles apenas “vêem”as coisas, mas não as vêem através das palavras” (Op. cit., 2000). Os locutores agem sobre os alocutários pelos discursos que lhes endereçam. Os locutores assumem essa função comunicativa quando tomam partido frente a diferentes representações que formam os discursos dos enunciadores. Dessa forma, a relação entre o locutor e o enunciador configura o sentido do enunciado. O locutor, como responsável por um enunciado, dá existência, por meio desse, aos enunciadores; a partir deles, o locutor irá organizar os pontos de vista e as atitudes. A posição própria do locutor pode se manifestar quando ele se assimila a um dos enunciadores, se representando por meio desse; ou, simplesmente, porque optou por fazê-los aparecer. Há dois tipos de relação entre o locutor e os enunciadores, segundo Ducrot e Carel (2008): ou o L assimila os E a seres determinados ou caracterizados de modo geral, ou o L toma certas atitudes em relação aos E. Ao assimilar os E a um ser determinado, pode-se identificar uma origem do ponto de vista. Quando se enuncia eu me sinto doente, o ponto de vista sentir-se doente é atribuído a si mesmo, porém ao dizer meu médico me disse que estou doente, o julgamento de doente é atribuído a alguém preciso, um médico, sendo mais, nesse caso, importante a função de ser médico do que a identidade do médico. Sobre as atitudes de L frente ao E, Ducrot e Carel (2008) apresenta três: o assumir, a concordância e a oposição. Assumir um enunciador “é dar como fim à enunciação impor o ponto de vista desse enunciador” (DUCROT; CAREL, 2008, p. 8), mostrar ao interlocutor o ponto de vista que se quer impor enquanto ponto de vista da personagem à qual o locutor é assimilado. Ao concordar com um enunciador, o locutor se proibi de contestar esse ponto de vista no seu discurso. Ao opor-se ao enunciador de um ponto de vista, o locutor descreve a enunciação como “proibindo, no discurso ulterior, assumir ou dar sua concordância a esse enunciador” (DUCROT; CAREL, 2008, p. 8). Verifica-se, no entanto, que a assimilação ao locutor não é condição necessária para o assumir, como no exemplo em que o locutor fala comentaram que p, o enunciador não é assimilado a L, mas é assumido por ele em seu discurso. A partir da distinção de que o L pode tomar posição frente aos enunciadores e assimilá-los a determinadas personagens, é possível precisar qual é a relação entre L e E, sendo essa relação decorrente da própria natureza do ponto de vista considerado nas atitudes (cf. DUCROT; CAREL, 2008, p.8). Para Ducrot e Carel (2008), a diferença entre a atitude e a assimilação trata-se de: (...) construir uma noção de atitude que a distinga de uma tomada de posição frente a um conteúdo ou a uma proposição caracterizáveis em si mesmos. Os pontos de vista de que se trata quando se define a atitude são construídos em relação ao enunciador que é objeto da atitude (op. cit., p.9) Para estudar como os pontos de vista podem ser identificados semanticamente, adota-se a Teoria dos Blocos Semânticos, que estuda os enunciados, o que permite, pela relação entre os aspectos argumentativos desses enunciados, resgatar o sentido e verificar com qual ponto de vista o locutor se assimila ou não e qual a atitude do locutor sobre os pontos de vista. 2.3 O sentido argumentativo do enunciado: a Teoria dos Blocos Semânticos Pela TBS, o sentido do enunciado decorre da interdependência de dois segmentos: o argumento e a conclusão; ligados por um conector, ou donc (portanto) ou pourtant (no entanto). Esses segmentos formam os encadeamentos argumentativos, definidos pela ANL como sendo os conjuntos de discursos doadores de sentido. Os encadeamentos podem ser qualificados como: normativos, quando forem do tipo geral de donc; ou transgressivos, do tipo de pourtant. Por exemplo, o enunciado “Ele é inteligente por isso foi aprovado” constitui um encadeamento argumentativo do tipo normativo: inteligente DC aprovado, e o enunciado “Ele é inteligente, mas não foi aprovado” forma um encadeamento transgressivo: inteligente PT neg-aprovado. Ao explicar a interdependência semântica entre os segmentos unidos em X CON 4 Y, Ducrot, por convenção, chamará A, ao segmento X, e B ao segmento Y. Esses segmentos podem estar ou não seguidos de uma negação e devem ser possíveis de se conectarem por DC ou PT para que se estabeleça um encadeamento semântico. A partir de A e B, é possível construir oito 4 Usa-se CON tanto para designar as palavras da língua responsáveis pelo caráter normativo ou transgressivo de um encadeamento do discurso (como porque, mas, ainda que), quanto para designar os termos abstratos DC e PT, que nomeiam os aspectos argumentativos. Esses aspectos fazem parte de um mesmo bloco semântico. Outra observação, se CON designa um conector de certo tipo, seja normativo ou transgressivo, o CON’ designará um conector de outro tipo, por exemplo, se CON refere-se a um DC, CON’ será em PT. conjuntos de encadeamentos, os aspectos argumentativos, e esses aspectos, teoricamente possíveis, podem ser agrupados em dois blocos de quatro aspectos cada. A interdependência semântica entre A e B é a mesma entre os quatro aspectos presentes num bloco (DUCROT, 2005, Conferência 2). Os dois blocos semânticos definidos por Ducrot são representados por um esquema chamado de quadrado argumentativo, conforme mostram as figuras abaixo: (1) A PT NEG B rico no entanto neg-feliz transpostos recíprocos (2) NEG A PT B neg-rico no entanto feliz transpostos conversos (3) NEG A DC NEG B neg-rico portanto neg-feliz recíprocos (4) A DC B rico portanto feliz Figura 1. Quadrado argumentativo A. (5) A PT B rico no entanto feliz transpostos conversos (7) NEG A DC B neg-rico portanto feliz recíprocos (6) NEG A PT NEG B neg-rico no entanto neg-feliz transpostos recíprocos Figura 2. Quadrado argumentativo B. (8) A DC NEG B rico portanto neg-feliz Os aspectos argumentativos podem apresentar uma relação de reciprocidade, conversão ou transposição. Define-se uma relação de reciprocidade quando o termo positivo de um lado aparece negado do outro, e o conector se conserva: A CON B passa a neg-A CON neg-B; por exemplo, rico DC feliz, seu aspecto recíproco é neg-rico DC neg-feliz. A relação de conversão ocorre no momento em que se mantém o primeiro termo, A, permuta-se de CON para CON’ e nega-se o segundo termo: A CON B para A CON’ Neg-B; como em rico DC feliz, seu aspecto converso é rico PT neg-feliz. A transposição se marca com a passagem de um aspecto a outro, negando-se o primeiro termo, trocando-se o conector e mantendo-se o segundo termo: A CON B para Neg-A CON’ B, o aspecto transposto de rico DC feliz é neg-rico PT feliz. 3 O gênero discursivo em estudos: o fórum on-line A definição de gêneros leva a uma discussão “acirrada”, que não é tema deste artigo. Assim, de uma forma um tanto genérica, adota-se o entendimento de gênero como sendo as unidades estáveis, disponíveis num inventário de textos, criado historicamente pela prática social, com ocorrência nos mais variados ambientes discursivos, que os usuários de uma língua natural atualizam quando participam de uma atividade de linguagem, ou de acordo com o efeito de sentido que querem provocar nos seus interlocutores. Seguindo a posição tomada por Marcuschi (2008), neste estudo não se fará uma diferenciação entre gênero textual e gênero discursivo. Adota-se o termo discurso para falar das expressões escritas realizadas pelos participantes do fórum por se tratar de um estudo enunciativo, em que um locutor se utiliza da linguagem para se posicionar para um alocutário. O fórum on-line faz parte de um contexto denominado mídia eletrônica associada à tecnologia computacional desenvolvida desde os anos 70 do século XX (MARCUSCHI, 2005). Essa comunicação é identificada por Comunicação Mediada por Computador (CMC) ou comunicação eletrônica, e cria um discurso eletrônico (termo ainda em definição), e novas formas de comportamento devido ao uso indiscriminado do computador. Esse ambiente virtual é formado por um grupo de pessoas que debatem sobre um assunto de seu interesse, ou pré-determinado por um moderador. O objetivo do fórum é avançar os conhecimentos, as informações e experiências, sobre um determinado assunto. Trata-se de uma reflexão contínua, de um debate fundamentado de ideias. Não se fecha o assunto, e como funciona não necessariamente on-line simultaneamente, exige tempo para ser realizada a interação e os textos podem ser bem elaborados. O fórum é um evento textual fundamentalmente baseado na escrita. O fórum pode ser uma prática de produção individual dentro de uma comunidade, no caso deste texto, educacional, com um discurso acadêmico dominante, tendo como suporte técnico o computador e um ambiente virtual de aprendizagem. Esse gênero possui uma organização particular do sistema de representação – da linguagem – determinada pela utilização social e pelos usuários, e caracterizada por temáticas, estruturas formais e dispositivos relacionais particulares. Para a caracterização do fórum on-line como um gênero discursivo digital, tomamos por base os parâmetros sugeridos por Marcuschi (2005). Em seu enquadramento de gênero, Marcuschi (2005) destaca dois aspectos principais, o tempo e os participantes. No caso do fórum, os participantes atuam de forma multilateral e o tempo é assíncrono, ou seja, não há uma troca de textos num mesmo momento cronológico. Outros parâmetros considerados pelo autor, e que definem o fórum ou lista de discussão on-line como gênero, são: a duração limitada; a extensão de texto curta; o formato textual com uma estrutura fixa; os participantes constituem um grupo fechado; a relação entre os participantes é uma relação entre pessoas conhecidas, não há uma troca de falantes; o predomínio é da função educacional; o tema da discussão pode ser livre ou previamente determinado; o estilo é monitorado, ou seja, há um moderador das discussões; o canal comunicativo é realizado por meio de textos escritos, e a recuperação das mensagens se dá por gravação, registros on-line. Nos fóruns, verifica-se também que há uma estrutura retórica e linguística híbrida dos gêneros artigo acadêmico, ensaio, e-mail e chat, pois apresentam formas discursivas rebuscadas, com um tipo de texto encontrado em cartas e telegramas, e um início e fechamento comuns em no gênero digital chat (PAIVA E RODRIGUES-JÚNIOR, 2007). 4 Metodologia Para realizar este trabalho, faz-se um recorte de discursos produzidos em uma aula de nível superior, num ambiente virtual de aprendizagem, especificamente, no espaço do fórum de discussões. Propõem-se duas etapas de análise. Uma primeira análise mais descritiva da forma global como os participantes interagem, verificando o tipo de linguagem utilizada e traços comuns entre os discursos condicionados pelo gênero discursivo fórum. Uma segunda etapa, em que se busca um olhar semântico linguístico dos pontos de vista apresentados pelos locutores dos discursos e como esses locutores se relacionam com esses pontos de vista, tomando por perspectiva teórica a ANL e a Teoria da Polifonia. 5 O fórum sob um olhar enunciativo O fórum constitui-se num ambiente interativo, em que os participantes se enunciam com um propósito de construir sentidos. A situação enunciativa é previamente estabelecida pelo gênero; os participantes são aqueles inscritos na disciplina, que se enunciam para os colegas e para a professora. O locutor que se enuncia tem em mente o seu alocutário, o qual está representado em sua enunciação, diretamente (por uma nomeação de um colega ou professora) ou não (considera a turma no geral como alocutário). O tempo é marcado pelo momento da enunciação, não é cronológico. E o espaço é formado pelo ambiente virtual, pela escrita construída em conjunto pelos participantes. No fórum, ficam registrados os enunciados que representam as enunciações, os quais serão analisados em busca do sentido pretendido pelos locutores. Segue abaixo o quadro de discursos recortado do fórum on-line para análises: P - P2 mencionou alguns aspectos psicológicos que podem se tornar barreiras muito importantes no ambiente da equipe de trabalho, no ambiente organizacional: o medo, a insegurança, a vergonha. Creio que os colegas irão concordar com ela, como eu concordei, que esses aspectos tão humanos nos igualam, todos sentimos essas emoções, mas por outro lado, podemos nos questionar se eles não se manifestam em contextos ou em formas diferentes conforme os papéis que ocupamos na organização. O que vocês acham turma? Na nossa Aula 2 vamos justamente falar mais sobre essas características e diferenças individuais e como elas influenciam nossa interação em grupo. M - Esta matéria se torna muito importante no nosso dia a dia, pois precisamos conhecer e saber como lidar com as pessoas que trabalhamos, tanto para colaboradores quanto para administradores ou gerentes de empresas. Um bom relacionamento no ambiente de trabalho é muito importante para o crescimento pessoal e desempenho nas atividades... Com esta matéria acredito que possamos enfrentar melhor os atritos e problemas do dia a dia..... J - Cada vez mais as empresas estão buscando colaboradores que saibam ter harmonia em um ambiente de trabalho, que saibam conviver com pessoas que tenham varios tipos de comportamento e atitudes,pois somente assim as empresas poderão ser produtivas e assim sendo competitivas no mercado,pois o mercado de hoje busca somente pessoas que sejam competitivas e que saibam trabalhar em um ambiente de comun acordo p/ todos ,pois as empresas tambem estão tentando participar mais com seus colaboradores assim os mesmos tambem tem um certo incentivo assim quenbrando aquela coisa de patrão c/colaborador. F - Hoje, mais do que nunca, vejo uma grande confrontação entre a rapidez evolutiva com que a tecnologia se faz presente no nosso dia-dia. E, ao mesmo tempo um desregramento, para não dizer um retrocesso social do homem. Em suma, me deixa perplexo o paradóxo existente: Homem x Tecnologia, onde a tecnologia é muito rápida no seu crescimento e o homem com distúrbios e não evoluindo como esta tecnologia. Então, precisamos tratar de resolver atravéz da psicologia o homem e seus comportamentos muitas vezes doentios. Me deixa com um pouco de medo essas mudanças comportamentais doentias que assolam a sociedade e talvez possam se tornar normais. M - Concordo com o J., as empresas buscam harmonia dentro do seu trabalho por isso é importante cada empresa conhecer e saber lidar com o comportamento de cada colaborador R - Hoje em dia trabalhar em cima do comportamento das pessoas é muito importante para as empresas.Elas tem que saber com que tipo de gente estão trabalhando,qual o comportamento dela,como poderá colaborar para o bom funcionamento da empresa. Todos nós temos problemas,sejam elas pessoais,de saúde,financeiros,então é muito importante agirmos com psicologia,filosofia e antropologia para nos ajudar e auxiliar pessoas que passam por esses problemas. LC - Bom, como tenho contato direto aqui na empresa com esse tipo de relação, espero aprender "massetes", teorias e caminhos existentes para a boa relação e coesão grupal. Sempre é importante manter a boa relação entre os membros da empresa, e conhecendo mais a fundo o Comortamento Organizacional acredito que ficará mais fácil fixar essa boa relação, e aumentar a funcionalidade empresarial sem deixar decair o fator humano R2 - Creio que as relações humanas dentro do ambiente de trabalho é algo bastante delicado e importante. A organização geral dentro de uma empresa está mudando a cada dia. Hoje não se fala mais em empregados, mas em colaboradores. Hoje em dia ser chamado de chefe, é algo pejorativo. A imagem de chefe é daquele sujeito que não produz e só fica mandando, faz isto, faz aquilo etc. Hoje é muito solicitado a liderança: - que é de um elemento produtivo, que trabalha junto com o grupo, com a capacidade de motivar o grupo para um melhor desempenho e produção. Ele tem empatia com os colaboradores e se envolve, inclusive, para resolver problemas pessoais dos mesmos. Aquela mentalidade: - entra na empresa e os problemas ficam lá fora, deixou de existir. O funcionário é estimulado a ter metas pessoais e um bom relacionamento familiar. Pois o mesmo estando em evolução e aprimoramento pessoal, fará o mesmo para a empresa em que trabalha. D - R2, concordo com você, pois mais do que nunca precisamos mudar aquela ideia de chefe, que fica só mandando e cobrando e que nunca está satisfeito, devemos trabalhar unido, pensando no grupo, e não cada um por sí, assim nós vamos crescer junto com a empresa. GM - Concordo com você, em todos os pontos, mas principalmente na sua ideia que as organizações também ajudem aos seus colaborados a resolver seus problemas familiares, pois muitas vezes os colaboradores passam mais tempo nos seus locais de trabalho do que com sua família, o relacionamento entre os colaboradores está cada vez mais estreito. M2 - R2, acho muito interessante suas colocações porém, acho muito perigoso para um líder entrar de mais no problema do colaborador...Pois conheços casos que conforme os lideres se envolviam nos problemas pessoais dos colaboradores e que geralmente possuem os problemas relacionados à dinheiro, acabavam emprestando dinheiro e estragando a relação com o colaborador. P - Como nosso colega Al. disse, uma empresa constitui-se por certas determinações políticas (no sentido de como o poder está organizado na sua estrutura) e também um contexto cultural, que transcende a visão de cada indivíduo que dela faz parte. Mas é claro que a qualidade dos relacionamentos interpessoais, dentro desse contextos diversos e limitações que cada empresa pode apresentar, pode ser trabalhado, melhorado. Acredito, S., que os enfoques dos estudos sobre o comportamento organizacional (psicológico, sociológico e antropológico, por exemplo) podem ser complementares para ajudar a analisar as relações humanas na empresa, não é mesmo? A M3, por exemplo, falou de alguns aspectos que podem ser melhorados nas relações humanas na empresa: oportunizar o crescimento pessoal do colaborador, motivar equipes. Pelo que li, a N. e o R2 chamaram nossa atenção para novos perfis de liderança que estão se delineando e se tornando desejáveis nas organizações, concordam com isto? Aguardo a continuação de nosso debate, pessoal! Boa semana, vamos nos falando por aqui!!! Quadro 1. Recorte de discursos de um fórum on-line Ao ler o fragmento de discurso escolhido 5 , numa primeira análise mais geral, percebe-se que a discussão é monitorada pela professora, a qual propõe um tema para debate e, após a manifestação dos participantes do fórum, ela retoma o que foi dito, fazendo um fechamento da discussão e propondo um novo rumo para continuar o curso. Como em: P. P2 mencionou alguns aspectos psicológicos que podem se tornar barreiras muito importantes (...): o medo, a insegurança, a vergonha. (retomada de um tema 6 ) (...) esses aspectos tão humanos nos igualam, todos sentimos essas emoções, mas por outro lado, podemos nos questionar se eles não se manifestam em contextos ou em formas diferentes conforme os papéis que ocupamos na organização. O que vocês acham turma? Na nossa Aula 2 vamos justamente falar mais sobre essas características e diferenças individuais e como elas influenciam nossa interação em grupo. Como se trata de um fórum de um ambiente virtual de aprendizagem à distância, a maioria das interações mantém-se sobre o tema proposto para estudo. Em alguns momentos há participações de felicitação por alguma data, como a Páscoa, mas esses momentos são raros. Verifica-se que a contribuição textual dos alunos é curta, realizada de forma individual dentro de uma mesma comunidade (deste curso), sendo que a maioria dos participantes inicia seu texto com uma retomada ou da proposta da professora, ou de um comentário de um colega e utiliza tipos predominantemente argumentativos e descritivos dentro desse gênero híbrido. A escrita é completamente informal, aproximando-se de uma língua falada. Por ex.: M - Concordo com o J. (parte da ideia do colega), as empresas buscam harmonia dentro do seu trabalho por isso é importante cada empresa conhecer e saber lidar com o comportamento de cada colaborador (tipo argumentativo) 5 Para manter o sigilo dos participantes, optou-se pelo uso da identificação dos participantes por letras no lugar do nome. O discurso marcado em negrito refere-se ao da professora. Para manter os discursos na íntegra, não se realizaram correções ortográficas ou normativas, pois considera-se que o sentido se dá obstante esses problemas. Os participantes poderiam reler seus textos e corrigi-los caso quisessem, no entanto, sentiram-se livres para interagirem preocupando-se em escrever o que pensavam sem se deterem às normas gramaticais, e não houve comentários a esse respeito nem de colegas, nem da professora. 6 Sempre que se fizer uma observação sobre o que foi dito, essa será em itálico para diferenciar do discurso original do locutor participante do fórum. Sob a perspectiva semântico-linguística, retomando o discurso inicial do locutor P, verifica-se que P assimila um ponto de vista (E1): ter medo, insegurança, vergonha PORTANTO construir barreiras nas relações no ambiente de trabalho a um locutor definido como sendo P2 e, após, reafirma que esse ponto de vista é o seu ao dizer como eu concordei. O ponto de vista (E1) assimilado a P2 parece resumir a discussão do fórum até o presente momento (parte que não está mostrada aqui). A continuação do discurso de P utiliza um segmento do encadeamento de E1 e o relaciona com outro segmento, assumindo (E2): estar em diferentes posições na equipe de trabalho PORTANTO ter diferentes sentimentos, o que mostra o novo ponto de vista de P, um novo bloco semântico. Sobre essa última ideia, P constrói o tópico para a continuação do debate do grupo ao concordar e assumir (E3): ter características pessoais diversificadas PORTANTO influenciar na interação em grupo. A essa argumentação os participantes devem se posicionar no fórum seja concordando, negando ou assumindo esse último ponto de vista, a fim de construir sentidos sobre o tema proposto. O locutor M assume a ideia representada por (E4) – aprender a conhecer e lidar com as pessoas no trabalho PORTANTO melhorar o ambiente de trabalho e diminuir atritos. Esse ponto de vista relaciona-se com o de P, uma vez que pode se verificar que há uma relação entre os segmentos ter características pessoais diversificadas e aprender a conhecer e lidar com as pessoas no trabalho. O aprendizado do conhecimento e de como lidar com as pessoas é uma necessidade da diversidade de características pessoais. Da mesma forma, o segundo segmento do E4 relaciona-se com o segundo segmento de E3, influenciar na interação em grupo e melhorar o ambiente de trabalho e diminuir atritos, sendo que a melhora do ambiente de trabalho e a diminuição do atrito são decorrentes de influências nas interações dos grupos. Pode-se compreender que o locutor M, de certa forma, concorda com o ponto de vista E3 do locutor P e o amplia. Da mesma maneira que M, J apresenta um ponto de vista que demonstra estar na mesma direção do ponto de vista de P e M. Ao apresentar como seu argumento o (E5) - ser um bom trabalhador atualmente PORTANTO saber lidar com as diferenças de atitudes e de hierarquias de grupos de trabalho, J reagrupa segmentos de E2 e E3, porém, não chega a criar uma nova argumentação. Somente, percebe-se uma nova relação entre ideias já apresentadas. Seguindo o encadeamento discursivo do fórum on-line, nota-se a contribuição de F, que argumenta sobre um novo bloco com os (E6) – constatar avanços da tecnologia NO ENTANTO observar um retrocesso social do homem e (E7) – ter conhecimentos de psicologia PORTANTO poder auxiliar o homem a evoluir e melhorar o comportamento. Nesses discursos, verifica-se uma retomada do tema da aula, dos tópicos apresentados num arquivo de PowerPoint disponibilizado pela professora. Pode-se dizer que F entrou no fórum, nesse momento, sem continuar diretamente a discussão proposta pela professora, mas encadeando seu ponto de vista ao do tópico da aula 01. O próximo discurso do fórum, apresentado pelo locutor M, retoma a discussão anterior, com o (E8) – saber lidar com diferenças de comportamento PORTANTO alcançar harmonia. Verifica-se, neste encadeamento, uma relação com a questão das diferenças, sendo que M encadeia um novo segmento ao primeiro segmento de E3. Há uma nova ideia, mas que amplia as conclusões possíveis da necessidade de lidar com diferenças de comportamento. De certa forma, a ideia harmonia exemplifica como pode ocorrer a interação em grupo. Ao se enunciar, o locutor R retoma o tópico da aula e o relaciona à discussão desenvolvida no momento. R assume E9 – melhorar o entendimento humano pelo conhecimento oferecido por áreas específicas PORTANTO melhorar o funcionamento da empresa. A partir dos enunciados de F e dos colegas, percebe-se que R faz uma leitura maior da discussão, e de certa forma amplia, oferece uma forma de melhorar o funcionamento da empresa pelo entendimento humano com auxílio de áreas específicas, o que até então não tinha sido mencionado. A discussão é ampliada com as colocações de R2, que apresenta os pontos de vista representados por (E10) – ser chamado de empregado no passado NO ENTANTO ser chamado de colaborador atualmente; (E11) – ser chefe, dar ordens PORTANTO ter imagem ruim; (E12) – ser líder, trabalhar em equipe e motivar o grupo PORTANTO ter uma imagem boa; (E13) – ter equilíbrio emocional em casa PORTANTO ter equilíbrio emocional no trabalho. Percebe-se, no discurso de R2, que esse locutor assume E12 e E13, sendo esses, novas argumentações até o momento. Na sequência do fórum, o locutor D assimila seu ponto de vista ao de R2, acrescentado o (E14) - trabalhar em grupo PORTANTO crescer junto com a empresa, o qual assume e em que expressa o pensamento de crescimento conjunto entre colaborador e empresa. O locutor GM concorda com os pontos de vista apresentados anteriormente e acrescenta uma maneira de auxiliar no crescimento pessoal com o (E15) – auxiliar os colaboradores com respeito a problemas familiares PORTANTO aproximar os colaboradores. Com esse ponto de vista M2 discorda parcialmente, apresentando uma restrição com (E16) – auxiliar os colaboradores com questões pessoais NO ENTANTO não se envolver demais. Ao final desse bloco de discussões, a professora participa novamente e faz uma retomada dos assuntos abordados, construindo quatro pontos de vista que poderiam sumarizar o debate: (E17) – ser uma empresa PORTANTO ter limitações NO ENTANTO buscar melhoras dentro dos limites PORTANTO aumentar a qualidade das relações humanas; (E18) – analisar as relações humanas PORTANTO buscar recursos em áreas como psicologia, sociologia e antropologia; (E19) – melhorar as relações humanas PORTANTO oportunizar crescimento pessoal e motivar equipes; (E20) – haver mudanças organizacionais PORTANTO necessitar de novos perfis de liderança. Percebe-se que a atitude de P frente aos enunciadores E17, E18 e E19 é de concordância, e em relação ao E20, de assumi-lo, pois propõe a continuação das interações no fórum a partir desse encadeamento, incitando um debate sobre o perfil do líder atualmente. 6 Considerações sobre as análises Após as análises realizadas sobre os discursos do fórum on-line, pode-se chegar a algumas considerações que envolvem as questões linguísticas desse gênero. Primeiramente, verifica-se que há um uso de uma linguagem coloquial e que os usuários seguem os padrões estabelecidos pelo gênero, de se aterem a um tema, no caso, de questões organizacionais de uma empresa, de serem objetivos, de trocarem ideias entre si, tendo em vista que o alocutário do discurso é formado pelos colegas e pela professora. O discurso dos participantes enquadrase dentro das delimitações do gênero, mantendo as tipologias argumentativa e descritiva como predominantes. Especificamente sobre a construção de sentido por meio do linguístico, pode-se verificar que esse olhar revela algumas particularidades deste fórum. Entre elas, verifica-se que os locutores assimilam, várias vezes, seus pontos de vista a outros locutores participantes do fórum. Em relação à tomada de atitude frente a um ponto de vista, a maioria dos locutores se posiciona em concordância com um enunciador (o qual se pode reconhecer em outro locutor do fórum) e parte dele para acrescentar uma ideia nova. A construção de sentido se dá no tecer de uma rede a partir de pontos comuns, de concordância, numa forma colaborativa entre os participantes. Quando a discussão chega a um determinado ponto, a professora faz uma leitura particular, e amarra as ideias principais, assumindo um novo ponto de vista que coloca em questão para iniciar um novo debate, proporcionar a construção de novos sentidos. Esse encadeamento permite, também, identificar aquele locutor que não interage com os outros, pois o seu discurso fica de certa forma “deslocado”, como no caso de F, que aborda um tema que não estava especificamente em discussão naquele espaço construído dialogicamente. 7 Reflexões finais A Teoria da Argumentação na Língua estuda o sentido que está inscrito no linguístico e que decorre da relação língua/fala. A argumentação está contida na língua, e argumentar é expressar um ponto de vista num discurso. Verifica-se no discurso e na sua organização linguística o sentido expresso pelo locutor. O sentido decorre das relações entre argumentações, e somente o locutor pode expressar argumentações, o que permite entender que o sentido é decorrente do uso e não é o mesmo que está no sistema. Pela polifonia, é possível mostrar “como a descrição do sentido do enunciado apresenta a superposição de discursos dos diferentes sujeitos presentes na enunciação” (SILVA et. al., 2006, p. 104). Relacionando a polifonia com a TBS (DUCROT; CAREL, 2008), percebe-se que as diferentes atitudes do locutor em relação aos pontos de vista do discurso são definidas pelos aspectos relacionados aos pontos de vista dos enunciadores presentes no discurso (SILVA et.al., 2006). O estudo polifônico do discurso permite compreender o ponto de vista assumido pelo locutor por meio da observação de marcas linguísticas. O locutor dialoga com enunciadores e o sentido se constrói por meio dessa relação do locutor com outros discursos. Sabe-se que este estudo apresenta limitações. Uma dessas limitações refere-se ao fato de que a análise do discurso é subjetiva e a definição de gêneros suscita uma série de leituras, informações e alternativas de análise. A subjetividade pode levar a mais de uma compreensão do discurso, mesmo sendo essa, no caso, delimitada pelo lingüístico. Outra restrição apresentada se deve ao recorte discursivo realizado, que não permitiu contemplar a comunidade deste fórum on-line no seu todo. No entanto, devido à limitação de espaço deste texto, essa análise mais abrangente não seria possível. Mesmo assim, considera-se que o fragmento observado indica um caminho argumentativo utilizado pelo grupo. As reflexões aqui propostas foram realizadas para contribuir para os estudos que se ocupam das questões discursivas dos gêneros, por meio de um olhar semântico-linguístico; contudo, não foram explorados todos os recursos possíveis dessa proposta de análise, reconhecendo-se que há outras compreensões complementares e necessárias, além de outras propostas teóricas, para um maior entendimento do gênero fórum on-line. Referências ANSCOMBRE, Jean-Claude; DUCROT, Oswald. La argumentación en la lengua. In. ANSCOMBRE, JEAN-CLAUDE; DUCROT, Oswald. La argumentación en la lengua. Versão española de Julia Sevilla y Martha Tordesillas. 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