XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. MELHORIA DE PROCESSOS NO SETOR DE PLANEJAMENTO DE UMA EQUIPE DE CONSTRUÇÃO E MONTAGEM INDUSTRIAL: UM ESTUDO DE CASO MARLENE JESUS SOARES BEZERRA (UEZO) [email protected] NANCY KEIKO FUJITA (UFPE) [email protected] Muitas equipes do segmento de construção e montagem industrial têm surgido nos últimos anos no estado de Pernambuco, devido ao rápido crescimento do polo industrial de Suape. A equipe alvo deste estudo funciona como uma pequena unidade de sua empresa matriz, possuindo setores bem estruturados e subordinados aos respectivos coordenadores. O objetivo geral do estudo é analisar os problemas que afetam o desempenho do setor de Planejamento e sugerir soluções para melhoria do mesmo. Para realização do estudo de caso, foram escolhidos alguns processos de interesse, que fossem de fácil observação e com dados mais acessíveis. Para coleta de dados, foram utilizados os métodos de observação direta, análise de documentos da empresa, entrevista e aplicação de questionários de múltipla escolha, que também permitiu traçar o perfil geral da equipe estudada. Para análise dos dados, foram utilizados os diagramas de Pareto (na priorização dos problemas) e Ishikawa (na identificação de causas), que fazem parte do conjunto de ferramentas da qualidade. O plano de ação proposto ao final do estudo, utilizando a ferramenta 5H2W, contempla sugestões de soluções simples e passíveis de serem implementadas com baixo impacto para equipe para os problemas identificados. As principais dificuldades identificadas no desempenho das atividades do setor de Planejamento são a insuficiência de recursos, a dificuldade de interação do setor com os demais membros da equipe e a falta de estabelecimento de metas claras para execução das atividades. As causas mais relevantes para esses problemas são a comunicação deficiente ou inexistente, a pouca aproximação do setor com a equipe, rotinas e padrões não definidos e equipe com baixa maturidade. Entre as soluções apresentadas, destacam-se a definição de rotinas para as atividades do setor de Planejamento e a divulgação de informações importantes para todos os níveis da equipe. Para o sucesso na implementação dessas ações, é de suma importância que sejam consideradas a realidade e as expectativas de cada envolvido no processo. Palavras-chave: Qualidade. Melhoria de Processos. Planejamento XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 1. Introdução Nos últimos anos, acompanhamos o rápido crescimento do polo industrial de Suape, em Pernambuco. Uma visão geral nos permite visualizar grandes empresas com suas complexas hierarquias, sistemas de gestão bem estruturados e equipes multidisciplinares atuando em diversos segmentos. Porém, ao apurarmos nosso olhar, conseguimos identificar pequenas equipes de diversas empresas a serviço das grandes organizações, realizando até mesmo atividades essenciais para a continuidade dos empreendimentos onde estão alocados. A equipe alvo deste estudo faz parte do universo de empresas menores alocadas no canteiro de obras de construção de uma Petroquímica, e realiza atividades diversificadas em várias frentes de serviço. O foco do presente estudo é analisar o fluxo de trabalho do setor de Planejamento da equipe, sob a ótica dos conceitos de processos e gestão da qualidade, buscando soluções para melhoria do desempenho de suas atividades. Ao setor de Planejamento de uma empresa de construção e montagem industrial cabe a responsabilidade de programar, controlar e apoiar suas atividades, além de interagir com outros setores, clientes, fornecedores e prestadores de serviço. Pode-se dizer que é o “coração” da equipe, responsável pelo gerenciamento de custos, informações e pessoas. Um setor que realiza atividades tão vitais deveria ter uma rotina e procedimentos de trabalho bem definidos e uma constante preocupação com seu desempenho. Mas, quais os principais problemas que afetam o desempenho do setor de Planejamento, e que ações podem ser implantadas para sua melhoria? A resposta para esse questionamento conduz a uma compreensão, ainda que inicial, das atribuições do setor de Planejamento, bem como à aplicação de conceitos e técnicas relacionadas a processos e melhoria de desempenho. O objetivo geral do estudo é analisar os problemas que afetam o desempenho do setor de Planejamento de uma equipe prestadora de serviços do segmento de construção e montagem industrial. E os objetivos específicos são: Mapear processos do setor de Planejamento; Identificar pontos de melhoria nos processos de interesse e elaborar plano de ação para melhoria do desempenho do setor. O cenário descrito para o desenvolvimento deste trabalho é relevante tanto pelos agentes (setor de Planejamento de equipe prestadora de serviços industriais) quanto pela ambiência (equipe alocada no canteiro de implantação da Petroquímica). A equipe de Planejamento analisada possui dimensão reduzida e menor complexidade em relação às de grandes 2 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. organizações, porém é completa o suficiente para executar plenamente suas atribuições básicas, sendo objeto de estudo interessante para os fins dessa pesquisa. A literatura possui diversos trabalhos baseados na teoria de gestão da qualidade e gestão por processos, em sua maioria aplicáveis em indústrias (fábricas com produção contínua e serviços de manutenção) e ambientes administrativos, que se caracterizam por realizarem atividades contínuas e rotineiras. Nestes casos, as ações de padronização e melhoria podem ocorrer em longo prazo, com refinamento das ferramentas utilizadas e análise minuciosa dos resultados obtidos. Os métodos e ferramentas utilizados na coleta, processamento e análise de dados são simples tanto em conceitos como em aplicabilidade. Esse fato possibilitou a obtenção de resultados básicos, porém coerentes e que cumprem os objetivos propostos. A metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho foi o estudo de caso. O objeto de estudo é o fluxo de atividades do setor de Planejamento de uma equipe prestadora de serviços do segmento de construção e montagem industrial. Para realização do estudo, utilizaram-se os seguintes métodos de coleta de dados: observação direta, entrevistas, aplicação de questionário, e consulta a documentos. Para organização e análise dos dados obtidos, foram utilizadas as seguintes ferramentas: mapeamento de processos - a partir das informações obtidas na coleta de dados, foi utilizada a técnica de fluxograma para representar graficamente os processos de interesse e identificar seus pontos de melhoria; Diagrama de Pareto - as respostas dos questionários foram organizadas em forma de diagrama de Pareto, para facilitar a visualização e priorização dos problemas; Diagrama de causa e efeito - utilizado para analisar e identificar as causas dos problemas observados e auxiliar na busca de soluções. E a solução final do estudo foi estruturada como um plano de ação, utilizando-se a ferramenta 5W2H. 2. Referencial Teórico 2.1. Processos Existem, na literatura, diversos conceitos relacionados a processos. Segundo a definição da Fundação Nacional da Qualidade (2010, p. 103): “Os processos são constituídos pelo conjunto de atividades inter-relacionadas ou interativas que transformam insumos (entradas) em produtos (saídas)”. O mesmo documento ainda diz que qualquer processo tem que agregar valor. O processo em si é uma atividade de transformação que agrega, principalmente, a mão de obra envolvida, fazendo com que a saída tenha maior valor do que a entrada. Qualquer 3 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. processo que não agrega valor deve ser considerado desnecessário e eliminado da organização. (FNQ, 2010) Segundo Carpinetti (2010, p. 6), “todas as atividades de uma empresa podem ser agrupadas em processos”. Seguindo este raciocínio, podemos dizer que as atividades executadas por cada setor da empresa ou equipe de trabalho também podem ser consideradas processos. Um processo é caracterizado por suas entradas, saídas, atividades e fluxos de material e/ou informação (Carpinetti, 2010, p. 36). Outra característica dos processos é que existe uma hierarquia entre eles. Um processo pode ser dividido em atividades menores, e o nível de detalhamento depende das necessidades da organização e do nível de compreensão dos interessados. Pode-se dizer que os processos se subdividem em processos menores, atividades e tarefas. (CARPINETTI, 2010, p. 37) 2.1.1. Gerenciamento de processos Quando um processo não produz os resultados esperados, diz-se que existe um problema. “Um problema é o resultado indesejável de um processo.” (CAMPOS, 2004, p. 22). Segundo Campos (2004, p. 63), para que se possam resolver os problemas é primeiro necessário saber identifica-los. Para identificar os problemas e realizar o controle de processos de maneira eficiente, é necessário conhece-los detalhadamente. Esse conhecimento é adquirido através do mapeamento de processos, que permite a organização de informações e visualização gráfica dos processos e a identificação dos pontos de melhoria. De acordo com a Fundação Nacional da Qualidade (2010), o gerenciamento ou controle de um processo significa a adoção de ações que vão assegurar o cumprimento dos requisitos do processo e, consequentemente, o cumprimento dos resultados esperados para o processo. 2.1.2. Mapeamento de processos: fluxograma O mapeamento (ou modelagem) de processos é uma representação lógica e formal dos processos de uma empresa ou de uma equipe, que mostra graficamente o relacionamento entre seus diversos elementos. Com a modelagem dos processos, explicitam-se as variáveis de entrada e saída, as operações, os fluxos e os responsáveis. Os modelos gráficos facilitam a visualização e a compreensão dos processos e reforça a visão sistêmica da organização. (CARPINETTI, 2010, p. 155) Uma das técnicas utilizadas no mapeamento de processos é o fluxograma, segundo Marshall Junior, 2010, p.109 “Fluxograma é uma representação gráfica que permite a fácil avaliação dos passos de um processo”. 4 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Neste estudo, o mapeamento dos processos de interesse será realizado através de fluxogramas. Scartezini (2009, p. 13) recomenda que os gerentes das organizações estabeleçam os fluxogramas dos processos sob sua autoridade. O fluxograma é o início da padronização e possui dois objetivos principais: garantir a qualidade e aumentar a produtividade. O fluxograma é uma ferramenta de baixo custo, intuitiva e, portanto, de fácil utilização. A visualização de cada etapa do processo e os elementos envolvidos de maneira organizada aumenta a compreensão do fluxo de atividades e permite concentrar a atenção nos pontos que necessitam de melhorias ou correções. Campos (2004, p. 52) alerta para que os fluxogramas reflitam a situação real, e não a imaginada ou desejável. Recomenda também que os fluxogramas sejam elaborados de forma participativa, envolvendo todos os interessados, inclusive os de nível operacional. 2.2. Planejamento Segundo Siqueira (2010, p. 20), um sistema de planejamento é tipicamente fracionado nos seguintes processos: - Programação – atividades destinadas à geração de planos para o atendimento dos objetivos do planejamento. A qualidade desse processo será resultante da abrangência dos planos de ações ou insumos disponibilizados com os objetivos do planejamento; - Execução – atividades destinadas à produção de resultados de acordo com os planos de ação. O desempenho será decorrente da aderência das ações executadas ou produtos gerados com o objeto do planejamento; - Avaliação – atividades destinadas à comparação dos resultados obtidos com os objetivos do planejamento, para correção da programação. O desempenho será fruto da coerência das ações executadas ou produtos gerados com as ações e os objetivos planejados, ou insumos consumidos. 2.3. Gestão da qualidade e melhoria contínua A gestão da qualidade passou a ser visto como um fator estratégico para a melhoria da competitividade e produtividade das organizações. Carpinetti (2010,0 p. 3) classifica o conceito de gestão da qualidade em dois níveis: - Nível estratégico: A gestão da qualidade é direcionada pela estratégia do negócio e capacita a empresa a entender e atender aos requisitos do cliente de maneira competitiva. As decisões estratégicas devem guiar ações de melhoria da qualidade e redução de 5 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. desperdício, e deve existir uma constante análise do desempenho da empresa, visando à obtenção de resultados que garantam a competitividade e a sustentabilidade do negócio; - Nível operacional: O objetivo da gestão da qualidade é garantir que os atributos de produtos e outros requisitos dos clientes sejam atendidos da melhor forma possível, buscando ao mesmo tempo a melhoria nos resultados e redução de custos. Portanto, a gestão da qualidade busca a satisfação das expectativas dos clientes e demais interessados, ao mesmo tempo em que busca a melhoria dos processos da organização. Carpinetti (2010, p. 40) conceitua dois tipos de melhoria: a melhoria radical e a melhoria contínua. A melhoria radial, como o próprio nome indica, está relacionada com uma mudança radical no conceito ou projeto do produto ou processo, em geral consequência de um grande investimento e uma mudança radical no modo de operação. A melhoria contínua se caracteriza como um processo de contínuo aperfeiçoamento de produtos e processos, em geral cíclicos e interativos. “Essa interatividade típica da melhoria contínua torna o processo sistemático. Ou seja, seguese um conjunto de etapas padrão.” (Carpinetti, 2010, p. 40). O método mais genérico de processo de melhoria contínua é o ciclo PDCA, cujas quatro etapas são: - (P) Planejamento (Plan): em um ciclo completo, inclui: identificação do problema; investigação e causas raízes; proposição e planejamento de soluções; - (D) Execução (Do): preparação (incluindo treinamento) e execução das tarefas de acordo com o planejado; - (C) Verificação (Check): coleta de dados e comparação do resultado alcançado com a meta planejada; - (A) Ação corretiva (Action): atuação sobre os desvios observados para corrigi-los. Se necessário, replanejamento das ações de melhoria e reinício do PDCA. O presente estudo de caso está limitado à fase “P” (planejamento) das ações de melhoria do desempenho do setor de Planejamento. 2.3.1. Ferramentas da qualidade As ferramentas e práticas utilizadas nos processos de gestão foram sendo estruturadas, principalmente a partir de 1950, com base em conceitos e práticas existentes. (Marshall Junior, 2010, p. 103) Para realizar o processamento e análise de dados do estudo de caso, 6 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. serão utilizados alguns métodos que fazem parte do conjunto conhecido como ferramentas da qualidade. - Diagrama de Pareto: É um gráfico de barras, construído a partir de um processo de coleta de dados, utilizado quando se deseja priorizar problemas. Para a priorização de problemas, é utilizada a regra “80/20”, que consiste no princípio de que 80% dos problemas originam-se de 20% das causas. - Diagrama de Ishikawa: Conhecido como “diagrama de causa e efeito”, é uma ferramenta que representa graficamente as possíveis causas que levam a um determinado efeito. As causas são agrupadas por categorias, e a visualização permite a atuação de maneira mais específica no detalhamento de causas; - 5W2H: Ferramenta de cunho mais gerencial, voltada para a padronização de processos e na elaboração de planos de ação (um dos objetivos deste estudo). Busca o fácil entendimento através da definição de responsabilidades, métodos, prazos, objetivos e recursos associados. A sigla “5W2H” representa as iniciais das palavras de inglês what (“o que”), who (“quem”), when (“quando”), where (“onde”), why (“por que”), how (“como”) e how much (“quanto vai custar”). 3. Estudo de Caso 3.1. Objeto de estudo O objeto do presente estudo de caso é o fluxo de trabalho do setor de Planejamento de uma equipe prestadora de serviços do ramo industrial, alocada no canteiro de construção de uma Petroquímica do nordeste brasileiro. A equipe faz parte do quadro de funcionários de uma empresa do segmento de montagem e manutenção eletromecânica industrial. É composta por funcionários operacionais, que realizam as atividades fim da produção, e por um corpo de funcionários técnicoadministrativos. Existem cinco grandes setores estruturados: Planejamento; SMS – Segurança do Trabalho, Meio Ambiente e Saúde; Controle da Qualidade; Administrativo de Obra; Almoxarifado. Estes, somados à Gestão da Obra, constituem a espinha dorsal que sustenta e apoia as atividades operacionais, executadas em campo. Cada um desses setores é subordinado ao respectivo coordenador, alocado no escritório matriz. Apesar de a equipe adotar as mesmas políticas, normas e procedimentos do escritório matriz, também deve obedecer às normas e procedimentos do cliente, e possui autonomia suficiente 7 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. para interagir com clientes e parceiros locais de acordo com a necessidade, sendo o gerente de obra o representante legal da empresa no local da prestação de serviço. O setor de Planejamento da equipe de obra é composto por um Engenheiro (que responde diretamente à Gestão da obra), Técnicos, Assistentes e eventualmente Estagiários, e dividem suas atividades essencialmente em três grupos: Planejamento Financeiro; Planejamento de Campo e Apoio à Gestão. 3.2. Descrição do problema O setor de Planejamento da equipe de obra é considerado o mais próximo da Gestão e o “coração” da obra, pois suas atividades abrangem todos os outros setores e atingem a todos os colaboradores. O setor de Planejamento atua desde a medição dos serviços, que garantem a manutenção financeira da equipe de obra e o lucro da empresa, até controles minuciosos, como esquema de transporte e alimentação de cada colaborador. Um setor com atividades tão vitais para o funcionamento de toda a equipe de obra deveria ser o mais organizado e estruturado, com suas rotinas bem definidas, processos padronizados e membros capacitados e formalmente treinados. Na prática, no entanto, o que se observa é a ausência de padrões na execução de suas atividades. Não há registro formal de lições aprendidas ou procedimentos para as tarefas do setor, não se observa rotina estabelecida para comunicação com outros setores, e a documentação gerada pela equipe de obra ou recebida através de clientes e fornecedores parece não seguir um padrão de arquivamento, dificultando o rastreio de algumas informações. Após a elaboração dos Fluxogramas para os processos de interesses, foram observadas dificuldades no desempenho das atividades do setor de planejamento ora listadas na figura 1. Figura 1 – Principais dificuldades no desempenho das atividades do setor de Planejamento Processo Planejamento de Campo Execução Dificuldades observadas Desconhecimento da realidade do campo. Pouca participação dos executores no planejamento das atividades. Equipe de Planejamento sem treinamento específico para o exercício de suas funções. Pouco ou nenhum treinamento específico para liderança operacional. Falta de procedimentos formais ou não cumprimento dos procedimentos existentes. Metas não claramente definidas. 8 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Processo Dificuldades observadas Acompanhamento Inexistência de rotina para acompanhamento das atividades no campo. Comunicação deficiente com outros setores e liderança de equipe. Pouca interação da equipe de Planejamento com o campo. e registro de avanço físico Fonte: O autor 4. Resultados e Análise 4.1. Resultados da aplicação do questionário A fim de obter uma visão da equipe de obra em relação ao desempenho do setor de Planejamento, foi aplicado um questionário de pesquisa de opinião de múltipla escolha. Foram elaborados dois questionários, de conteúdos semelhantes, um destinado aos colaboradores indiretos e outro destinado aos encarregados e líderes de equipe. Para elaboração das perguntas e das opções de resposta, levaram-se em consideração o nível de compreensão dos envolvidos e as respostas esperadas baseadas na observação direta. Os questionários foram anônimos e voluntários. No período de aplicação, obteve-se a participação de 84,6% de encarregados e líderes de equipe e 73,7% de colaboradores indiretos (técnicos e administrativos), sendo 83,3% dos membros do setor de Planejamento e 69,2% dos membros de outros setores. A partir das respostas obtidas no questionário, foi possível traçar o perfil básico da equipe de obra demonstradas nas figuras 2 e 3. Figura 2 – Perfil básico da equipe de obra: Escolaridade. 9 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: O autor Figura 3 – Perfil básico da equipe de obra: Tempo de trabalho 10 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: O autor Observa-se que, como esperado, os colaboradores indiretos (corpo técnico e administrativo) possuem nível de escolaridade elevado, indicando maior capacidade de compreensão das funções executadas e facilidade em lidar com novas informações e treinamentos recebidos. Entre os encarregados e líderes de equipe, constatou-se que pelo menos um terço deles possuem escolaridade elevada, revelando o interesse no desenvolvimento profissional e tornando-os tecnicamente mais aptos às funções de liderança. Quanto ao tempo de serviço na atual equipe, observa-se que a maior parte da equipe de obra é composta por membros relativamente novos. Isso ocorre principalmente porque os serviços prestados ao cliente são de natureza temporária (possuem datas de início e término bem definidos, através de contratos e cronogramas) e novos membros são adicionados à equipe de obra de acordo com a demanda dos serviços. A formação das equipes de serviços de construção e montagem é temporária e, em geral, os integrantes já possuem vasta experiência de trabalho em outros serviços semelhantes. 11 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 4.2. Priorização de problemas: Análise de Pareto Através das respostas obtidas nos questionários, realizou-se a análise de Pareto, a fim de identificar os problemas que devem ser priorizados. Em uma primeira análise, consideraramse as respostas negativas (alternativa “d” do questionário), que representam a insatisfação total dos membros da equipe de obra em relação ao aspecto abordado apresentado o resultado da figura 4 no Diagrama de Pareto: respostas “não”. Figura 4 – Diagrama de Pareto: respostas “não” Fonte: O autor Para fins de comparação e confirmação, realizou-se a mesma análise combinando as respostas “às vezes” e “não” (alternativas “c” e “d”), incluindo também o nível de insatisfação parcial, obtendo a seguinte distribuição na análise de Pareto na figura 5. 12 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Figura 5 – Análise de Pareto: respostas “às vezes” e “não” Fonte: O autor Nota-se que os problemas a serem priorizados, baseado na análise “80/20”, são basicamente os mesmos que os identificados na análise anterior. A exceção é o item “confiança nas decisões do Planejamento” que, em última instância, está vinculado ao desempenho do setor de Planejamento como um todo. Assim, analisando as distribuições obtidas com base no princípio “80/20” da análise de Pareto, observa-se que os principais problemas referentes ao desempenho do setor de Planejamento, apontados pela equipe de obra, são: 1. Insuficiência de recursos disponibilizados para o trabalho; 2. Dificuldade de abertura com o Planejamento; 3. Falta de estabelecimento de metas claras; 4. Pouca iniciativa de colaboração com o Planejamento. 4.3. Análise de causa e efeito: Diagrama de Ishikawa 13 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Após a priorização dos problemas, é necessário identificar as causas que os provocam, através de uma análise de causa e efeito. Neste caso, utilizou-se o diagrama de Ishikawa para este fim. As causas foram identificadas através de observação direta e entrevista com os membros da equipe de obra. Através da análise de causa e efeito, podem-se destacar algumas causas mais relevantes para os problemas identificados: Comunicação interna e externa deficiente; Não divulgação de informações importantes; Pouca interação do setor de Planejamento com os demais setores e equipes; Rotinas e padrões não definidas para atividades básicas do setor; Equipe pouco treinada e com baixa maturidade. 4.4. Soluções: plano de ação (5W2H) Baseado no resultado da análise de causa e efeito pode-se elaborar um plano de ação, utilizando-se a ferramenta 5W2H demonstrado na figura 6. 14 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Figura 6– Plano de ação para melhoria dos processos. Setor: Planejamento da equipe de obra XXX [identificação da equipe] Objetivo: Melhoria de processos do setor (aumento de eficiência das atividades e da satisfação dos colaboradores com o setor) Responsável: Engenheiro de Planejamento XXX [nome do Eng. Planejamento da equipe] O QUE QUEM QUANDO ONDE POR QUE COMO QUANTO (Who) (When) (Where) (Why) (How) (How (What) Much) Semanal ou Setor de Estabelecer Analisar A definir Elaboração de Engenheiro de Planejamento mensal, Planejamento rotina definida fluxograma dos cronograma conforme de execução processos do de atividades necessidade. das tarefas do setor, organizar do setor de setor de as atividades Planejamento Planejamento. em forma de por escrito e quadros para divulgado facilitar para os visualização e colaboradores compreensão, e do setor. treinar os colaboradores para seguir o cronograma. Técnico de Semanal Canteiro Ter um canal Adquirir ou Valor do Criação de administrativo de confeccionar quadro de um quadro de planejamento da equipe de comunicação um quadro de madeira “gestão à obra acessível a madeira para vista”. todos os fixação de colaboradores comunicados, da equipe de gráficos e obra, quadro de divulgando metas e informações resultados. importantes do setor de Planejamento. Semanal Sala de Alinhar as Realizar A definir Realização de Engenheiro de Planejamento, treinamentos do necessidades e reunião no reuniões com com o apoio canteiro programações início de cada a liderança dos técnicos de administrativo de atividades, semana, com operacional e para que o setor duração dos setores da Planejamento de máxima de 30 equipe. Planejamento minutos, a fim possa apoiar e de alinhar as monitorar todas atividades a as atividades da serem equipe de obra. realizadas na semana corrente. Engenheiro de Conforme Sala de Capacitar os Verificar as A definir Realização de Planejamento, necessidade treinamentos do colaboradores necessidades e treinamentos em conjunto do setor canteiro do setor de elaborar um específicos administrativo Planejamento cronograma de para execução com o RH da empresa ou do escritório na execução treinamento das funções central plena de suas para aprovação do setor de 15 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. funções. Planejamento. do RH; execução dos treinamentos. Fonte: O autor. 16 5. Conclusão O presente estudo traçou um panorama geral das atividades do setor de Planejamento de uma equipe atuante no segmento de construção e montagem industrial, oferecendo uma visão sistêmica dos processos de interesse e analisando o desempenho do setor com base na visão dos próprios envolvidos. Ao longo do estudo, observou-se que, apesar do aparente “caos”, a equipe consegue executar suas atividades e cumprir prazos e metas. Assim, infere-se que os padrões existem de fato, faltando-lhes sua formalização e análise criteriosa para identificação de pontos de melhoria e soluções para melhoria de desempenho. Registros formais (padronização, documentação) são importantes em todos os tipos de processos, pois auxiliam na compreensão do fluxo de atividades, na condução das tarefas e, principalmente, no registro de boas práticas e lições aprendidas. Quando não há registro, perde-se o conhecimento e a experiência adquiridos na prática, que poderiam ser aproveitados em situações semelhantes, em outras equipes do mesmo segmento de atuação, evitando a repetição de erros e auxiliando na melhoria dos processos e amadurecimento da equipe. Outra questão decisiva para o sucesso das ações de melhoria de processos é o envolvimento e a motivação de todos os interessados, desde o gerente até os trabalhadores operacionais. Uma equipe de serviços de construção e montagem industrial é composta por pessoas de variadas classes sociais, níveis escolares e experiências profissionais. Portanto, é necessário que a implementação das ações seja pensada e adaptada a fim de atingir seu público alvo de forma eficiente. Assim, é de suma importância interagir com todos os colaboradores, a fim de criar confiança e conhecer suas reais necessidades e expectativas. O plano de ação apresentado no presente estudo contempla soluções simples e passíveis de serem implementadas com baixo impacto na rotina da equipe. 6. Referências CAMPOS, Vicente Falconi. TQC – Controle da Qualidade Total (no estilo japonês). 9ª ed. Minas Gerais: INDG Tecnologia e Serviços Ltda., 2004. 256 p. CAMPOS, Vicente Falconi. Gerenciamento da Rotina de Trabalho do Dia-a-dia. 9ª ed. Minas Gerais: INDG Tecnologia e Serviços Ltda., 2004. 266 p. CARPINETTI, Luiz Cesar Ribeiro. Gestão da Qualidade: Conceitos e Técnicas. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. 241 p. FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE. Critérios de Excelência. São Paulo: Fundação Nacional da Qualidade, 2010. MARSHALL JUNIOR, Isnard. Gestão da qualidade. 10ª ed. Rio de Janeiro: FGV, 2010. 204 p. SCARTEZINI, Luís Maurício Bessa. Análise e Melhoria de Processos. Goiânia, 2009. 54 p. SIQUEIRA, Iony Patriota de. Indicadores de desempenho de processos de planejamento. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2010. 192 p.