0.1 Expansão em Série de Taylor de Uma Função Numa análise de propriedade de uma função, um conceito fundamental é a expansão em série de Taylor de uma função. Seja f = f (x) uma função arbitrária, contínua e suave. Gostaríamos de estudar o comportamento desta função em torno de um certo ponto fixo, digamos x = x0 . Naturalmente o valor da função no ponto x = x0 é f (x0 ). Queremos saber como o valor da função varia quando x = x0 + ε, onde ε = δx ≡ x − x0 é uma quantidade bem pequena. Para estudar este problema, vamos ver a figura abaixo. y=f(x) y=f(x ) + f'(x )(x-x ) 0 0 0 x 0 x Fig.1 A reta indicada é a reta tangente desta função no ponto x = x0 . Aqui, ¯ df ¯¯ 0 f (x0 ) = dx ¯x=x0 é a derivada no ponto x = x0 . Esta figura mostra que, quando x é muito próximo do x0 , a reta tangente praticamente coincide com a função f (x) em si. Isto é, f (x) ' f (x0 ) + f 0 (x0 ) (x − x0 ) , ou seja definindo o novo variável ε por ε = δx = x − x0 , podemos escrever f (x0 + ε) ' f (x0 ) + f 0 (x0 ) ε. Exercício: Calcule o erro da expressão (1) nos seguintes casos: 1. f (x) = exp(x), x0 = 0, δx = 0.2 2. f (x) = cos(x), x0 = 0, δx = 0.2 3. f (x) = sin(x), x0 = 0, δx = 0.2 1 (1) 4. f (x) = sin(x), x0 = 0, δx = 0.5 Vejamos que, de fato, a aproximação (1) é bastante boa enquanto δx é pequeno. Mas, naturalmente a aproximação vai piorando na medida que δx se torna maior. Para melhorar a aproximação, podemos incluir a dependência quadrática em δx como f (x0 + ε) ' f0 + f 0 (x0 )ε + C ε2 , (2) onde C é uma constante a ser determindada. Naturalmente esta expressão ainda é uma aproximação e não é possível que os dois lados se tornem idênticos como função de ε. Por outro lado, a aproximação linear (Eq.(1, ou os primeiros dois termos da Eq.(??) acima) já ajustava a curva no ponto x = x0 até a derivada. Assim, para melhorar aproximação em torno de x = x0 , é interessante que o último termo na Eq.(??) ajustasse a segunda derivada da curva no ponto x = x0 . Temos ¯ d2 f (x0 + ε) ¯¯ = f 00 (x0 ), ¯ dε2 ε=0 e ¢ d2 ¡ f0 + f 0 (x0 )ε + C ε2 = 2C. dε2 Escolhendo 1 C = f 00 (x0 ), 2 teremos 1 f (x0 + δx) ' f0 + f 0 (x0 )δx + f 00 (x0 ) (δx)2 , (3) 2 como uma aproximação melhor que a Eq.(1). Exercício: Calcule o erro da expressão (3) nos casos do Exercício anterior. Note que o termo quadrático em ε decresce rapidamente comparado com o termo linear. Por exemplo, se ε = 0.1, ε2 = 0, 01, mas se ε = 0.001, então ε2 = 0.000001, etc. O procedimento acima sugere que podemos ir melhorando a aproximação até obtermos uma expressão polinomial em ε que seja idêntica à função original. Vamos então pôr 1 f (x0 + ε) = f0 + f 0 (x0 )ε + f 00 (x0 )ε2 + c3 ε3 + c4 ε4 + · · · + cn εn + · · · 2 (4) Os coeficientes c0i s podem ser determinados requerendo que todas as derivadas em relação a ε dos dois lados no ponto ε = 0 devem coincidir. Por exemplo, para a terceira derivada no ponto ε = 0 do lado esquerdo fica ¯ ¯ d3 ¯ f (x + ε) = f 000 (x0 ), 0 ¯ 3 dε ε=0 2 no entanto, o lado direito fica e portanto, temos 3 · 2 · c3 , 1 (3) f (x0 ), 3! onde f (n) (x0 ) representa a n−esima derivada no ponto x0 . Em geral, c3 = cn = 1 (n) f (x0 ) . n! (5) (6) Assim, temos 1 0 1 1 f (x0 )ε + f 00 (x0 )ε2 + · · · + f (n) (x0 ) εn + · · · 1! 2! n! ∞ X 1 (n) f (x0 ) εn . = n! n=0 f (x0 + ε) = f0 + (7) Podemos escrever tambem como 1 1 1 f (x) = f (x0 )+ f 0 (x0 ) (x − x0 )+ f 00 (x0 ) (x − x0 )2 +· · ·+ f (n) (x0 ) (x − x0 )n +· · · 1! 2! n! A expressão acima é conhecida como a expansão em série de Taylor da função f (x) em torno de x = x0 . Exercício: Obtenha as séries de Taylor nos seguintes casos: 1. sin(x), cos(x), ex em torno de x = 0. 2. As mesmas funções em torno de x = π/2. 3. ln(1 − x) em torno de x = 0. 4. 1 1−x em torno de x = 0. Exercício: Verifique se as relações, d sin x = cos x, dx d cos x = − sin x, dx Z x dx = − ln(1 − x), 1 −x 0 são válidas nas séries de Taylor correspondentes. 3 Exercício: Prove que Z x 0 1 dx = tan−1 x, 1 + x2 (8) e usando a fórmula acima, obtenha a expansão de Taylor da função tan−1 x (9) em torno de x = 0. Quando a variação de x, ε for pequena, como vimos, podemos truncar a série de Taylor dentro de uma precisão desejada. O truncamento de série de Taylor em certa ordem de ε, digamos n = 2, é f (x0 + ε) = f0 + 1 0 1 f (x0 )ε + f 00 (x0 ) ε2 + O(ε3 ), 1! 2! ¡ ¢ onde O δx3 significa “da ordem de ε3 ”, mostrando que os termos desprezados não passam de uma quantidade pequena da ordem superior de ε3 . Ou seja, se ε = 0.01, o termo de correção seria da ordem de 10−6 . 0.1.1 Raio de Convergência A série de Taylor pode não convergir. Por exemplo, a série de Taylor, 1 = 1 + x + x2 + x3 + · · · 1−x (10) não é válida para |x| ≥ 1. Ou seja, o lado esquerdo é bem definida mesmo |x| > 1,(exceto x = 1) mas o lado direto não é definida se |x| ≥ 1. Exercício: Calcule os dois lados da Eq.(10) para os valores de x = 0.1, x = −2, e x = 2. Para uma dada série, o domínio de variável para o qual a série converge é chamado de raio de convergência. No exemplo do exercício acima, o raio da convergência da série da Eq.(10) é |x| = 1. Os raios de convergência das séries de Taylor para sin (x), cos(x) e exp(x) são infinitas, ou seja, a série converge para qualquer valor de x. 0.1.2 Variável complexa Vamos ver um exemplo interessante da aplicação de série de Taylor. Já sabemos que 1 3 1 1 x + x5 − x7 + · · · 3! 5! 7! 1 1 1 cos (x) = 1 − x2 + x4 − x6 + · · · 2! 4! 6! sin (x) = x − 4 e 1 1 1 1 z + z2 + z3 + z4 · · · . 1! 2! 3! 4! ez = 1 + Em particular, se z = ix na última expressão, temos eix = 1 + ix − 1 2 1 1 1 x − i x3 + x4 + i x5 + · · · 2! 3! 4! 5! (11) A inspeção das expressões acima mostra que vale a segunte relação: eix = cos (x) + i sin (x) . (12) Esta é conhecida como a relação de Euler, e é extremamente útil para tratar as funções trigonométricas. Por exemplo, eix · eiy = ei(x+y) = cos (x + y) + i sin (x + y) . (13) mas eix · eiy = (cos x + i sin x) (cos y + i sin y) = cos x cos y − sin x sin y + i (sin x cos y + cos x sin y) (14) Igualando as partes reais e imaginárias das equações (12) e (13), temos as fórmulas de adição, cos (x + y) = cos x cos y − sin x sin y, sin (x + y) = sin x cos y + cos x sin y. Podemos obter a inversa da Eq.(12) como eix + e−ix , 2 eix − e−ix . sin (x) = 2i cos (x) = Exercício: Prove as relaçoes acima. Exercício: Obtenha a fórmula que expressa sin 3x em termos de polinômio de sin (x) e cos (x). 0.1.3 5