Matematicamente pensando: Ordenação das escolas 2013 Carlos Morais Uma das notícias de grande impacto nacional é o designado “ranking das escolas”. O país está confrontado com a comparação entre as escolas públicas e as privadas relativamente às médias das classificações obtidas nos exames nacionais. Esta disputa entre escola pública e escola privada não é digna de grande entusiasmo, porque o mais importante é que ambas funcionem bem. Não tem grande sentido atribuir o sucesso ou o insucesso escolar a este ou aquele aspeto, porque cada escola é um todo complexo em que é fácil atribuir-lhe um número resultante de uma média, mas é impossível isolar as variáveis que influenciam essa média. Entre as variáveis que merecem alguma atenção estão a validade e a fiabilidade dos testes utilizados na avaliação, a qualidade dos professores, o ambiente familiar dos alunos, o nível económico, académico e cultural do agregado familiar, a localização geográfica e social da escola e a preparação dos alunos para construírem novas aprendizagens. O facto de existirem diversos fatores a influenciarem as classificações dos alunos nas provas realizadas não invalida a importância dessa avaliação, desde que a mesma tenha objetivos claros, seja justa e coerente com as regras do sistema de ensino que os alunos frequentam. Também me parece aceitável que existam procedimentos a nível nacional que permitam avaliar o desempenho dos alunos, no sentido das escolas, dos professores, das famílias e da comunidade poderem apreciar a adequação da ação educativa aos objetivos educacionais propostos no currículo para cada disciplina ou nível de escolaridade. Após a realização dos exames nacionais e o apuramento dos resultados, surgiu na comunicação social a divulgação dos resultados, com diversos títulos, dos quais destaco o do jornal Expresso do dia 9/11/2013, “Ranking das escolas”, sob o qual se descreve a metodologia utilizada na ordenação das escolas, começando por afirmar-se que “O ranking Expresso/SIC é feito com base nas notas dos exames nacionais do ensino básico (4º, 6º e 9º anos) e secundário (11º e 12º), a partir dos dados em bruto fornecidos pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC)”. No referido jornal apresentam-se ordenadas 495 escolas, adotando como critério de ordenação a média das classificações obtidas por cada escola nos exames nacionais. Assim, a escola que obteve a média mais alta (13,9 valores) nos exames nacionais ficou em primeiro lugar e a que obteve a média mais baixa (6,91) ficou em último lugar. Paralelamente surge outra ordenação utilizando como critério a média das classificações obtidas na instituição, ou seja a média que resultou dos procedimentos internos de avaliação desenvolvidos por cada uma das escolas. É na diferença entre os resultados que permitem estas ordenações que me parece existir o maior problema. Basta observar que a escola que nos exames obteve a média mais alta, tem uma diferença de 0,84 valores (14,74 -13,9), a que ficou em segundo lugar apresenta uma diferença de 3,03 valores (16,92-13,89) e a que ficou em último apresenta uma diferença de 5,61 valores (12,52-6,91). Por outro lado não existe qualquer escola em que a média interna das classificações seja inferior à média obtida nos exames. Pelo exposto, podemos admitir que alguma coisa está muito mal, em termos de ensino, aprendizagem, avaliação e classificação. Não acredito que os professores ou as escolas tenham qualquer interesse em falsificar as classificações dos seus alunos, aumentando-as e inflacionando-as. Por outro lado, a avaliação de proximidade e de acompanhamento dos processos tem condições para ser mais fiável e válida do que uma avaliação realizada num só momento pré determinado. Sou de opinião que estas diferenças de classificações se devem principalmente aos instrumentos de avaliação utilizados. Quer aos instrumentos utilizados pelos professores durante o ano letivo, quer aos utilizados pelo Ministério nos exames nacionais. Talvez o grande desafio, para diminuir as diferenças evidenciadas e as avaliações serem mais justas e consistentes, esteja na construção de bons instrumentos de avaliação, que permitam a verificação científica da sua validade e fiabilidade. Morais, C. (2013). Matematicamente pensando: de dezembro de 2013, p. 8. Ordenação das escolas 2013. Mensageiro de Bragança, 5