EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAUDE DA MULHER Profª. Quésia Alencar Décadas de 50 e 60 Enfoque de bem-estar (welfare state), introduzido na Europa nos anos 50 e 60 para os “grupos vulneráveis”; Objetivo: fazer das mulheres melhores mães; Baseou-se em três pressupostos: As mulheres são beneficiárias passivas do desenvolvimento ao invés de participantes; A maternidade é o papel mais importante da mulher na sociedade; A criação dos filhos é o aspecto mais relevante para a mulher em relação ao desenvolvimento econômico; medidas de combate à desnutrição e de planejamento familiar; Década de 70 Enfoque da equidade; Tema da Conferência do Ano Internacional da Mulher (1975) e do Plano da década da mulher (1976-85); Objetivo de integrar as mulheres no processo de desenvolvimento; Preocupa-se com a autonomia política e econômica da mulher e a redução da desigualdade com os homens; Identifica a subordinação da mulher no espaço privado e no mercado; Muitos governos do “terceiro mundo” não incorporaram este enfoque às suas políticas pela descrença no feminismo e por identificar ainda fortemente a importância do papel biológico da mulher. Década de 70 Enfoque anti-pobreza: Pobreza das mulheres vista como problema do subdesenvolvimento e não da subordinação; Pobreza e desigualdade entre homens e mulheres é atribuída à falta de acesso à propriedade privada, à terra, ao capital e à discriminação sexual no mercado de trabalho. Programa materno-infantil Criado em 1975; Continha delineamentos gerais sobre proteção e assistência materno-infantil; Buscava englobar cuidados ao período pré-concepcional, pré-natal, parto e puerpério; Considerava-se que a mulher era a principal responsável pela limitação do tamanho da família; O Programa assume que a pobreza poderia ser reduzida mediante a limitação da fecundidade; Programa materno-infantil Ação forte e intervencionista de organismos internacionais controlistas como a Sociedade Civil de Bem Estar Familiar no Brasil (BEMFAM); Programas vertical, sem integração com outros programas e ações propostas pelo governo federal; Fragmentação da assistência; Perspectiva reducionista; Baixo impacto nos indicadores de saúde da mulher; Década de 80 Movimento feminista; Principais lutas deflagradas: Apropriação e controle do próprio corpo; Reconhecimento da mulher como ser social e requerente de mais atenção nas políticas de saúde; Ações que extrapolassem o ciclo gravídico-puerperal; Ações que contemplassem as particularidades dos diferentes grupos populacionais. Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher - PAISM No processo de abertura política, feministas e profissionais de saúde iniciaram uma parceria com o MS para elaboração de propostas de atendimento à mulher que garantissem o respeito a seus direitos de cidadã; Elaboração do PAISM em 1983; A partir de 1984 começaram a distribuir junto às Secretarias Estaduais de Saúde documentos técnicos que iriam nortear as “Ações Básicas de Assistência Integral à Saúde da Mulher”. Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher - PAISM O PAISM incorporou como princípios e diretrizes as propostas de descentralização, hierarquização, regionalização dos serviços, integralidade e a eqüidade da atenção; Incluía ações educativas, tratamento e recuperação; Engloba a assistência à mulher em planejamento familiar, prénatal de baixo risco, prevenção do câncer de colo de útero e de mama, DST, parto e puerpério. Posteriormente, ações voltadas para a sexualidade, adolescência e terceira idade. preventivas, de diagnóstico, Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher - PAISM Balanço institucional das ações realizadas no período de 1998 a 2002, indica que: Nesse período, trabalhou-se na perspectiva de resolução de problemas, priorizando-se a saúde reprodutiva e, em particular, as ações para redução da mortalidade materna (pré-natal, assistência ao parto e anticoncepção); Essa perspectiva de atuação comprometeu a transversalidade de gênero e raça; Lacunas: climatério/menopausa; queixas ginecológicas; infertilidade e reprodução assistida; doenças crônicodegenerativas; saúde ocupacional; saúde mental e doenças infecto-contagiosas; Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher Em 2003, a Área Técnica de Saúde da Mulher identifica a necessidade de articulação com outras áreas técnicas e de propor novas ações para a atenção das mulheres rurais, com deficiência, negras, indígenas, presidiárias, lésbicas e a participação nas discussões e atividades sobre saúde da mulher e meio ambiente; 28 de maio de 2004 – Ministério da Saúde propõe diretrizes para a humanização e a qualidade do atendimento; Toma como base os dados epidemiológicos e as reivindicações de diversos segmentos sociais para apresentar os princípios e diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher para o período de 2004 a 2007. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres Criada em 1º de janeiro de 2003; Formulação, coordenação e articulação de políticas que promovam a igualdade entre mulheres e homens; Art. 62, seção II descreve as competências e obrigações: Assessorar direta e imediatamente o Presidente da República na formulação, coordenação e articulação de políticas para as mulheres; Elaborar e implementar campanhas educativas e não discriminatórias de caráter nacional; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres elaborar o planejamento de gênero que contribua na ação do governo federal e das demais esferas de governo; promover a igualdade de gênero; promover o acompanhamento da implementação de legislação de ação afirmativa e definição de ações públicas que visem ao cumprimento dos acordos, convenções e planos de ação assinados pelo Brasil, nos aspectos relativos à igualdade entre mulheres e homens e de combate à discriminação. Plano Nacional de Políticas para as mulheres Realização da I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres em julho de 2004 (120 mil mulheres); A Política Nacional para as Mulheres orienta-se pelos seguintes pontos fundamentais: Igualdade e respeito à diversidade; Eqüidade; Autonomia das mulheres; Laicidade do Estado; Universalidade das políticas; Justiça social; Transparência dos atos públicos; Participação e controle social Plano Nacional de Políticas para as mulheres As ações do Plano foram traçadas a partir de 4 linhas de atuação: Autonomia, igualdade no mundo do trabalho e cidadania; Educação inclusiva e não sexista; Saúde das mulheres, direitos sexuais e direitos reprodutivos; Enfrentamento à violência contra as mulheres. II Plano Nacional de Políticas para as mulheres Ações para os anos de 2008 – 2011; Temas prioritários: I- Autonomia econômica e igualdade no mundo do trabalho, com inclusão social (trabalhadoras domésticas); II- Educação inclusiva, não – sexista, não racista, não homofóbica e não lesbiofóbica; III- Saúde das mulheres, direitos sexuais e direitos reprodutivos; II Plano Nacional de Políticas para as mulheres IV- Enfrentamento de todas as formas de violência contra as mulheres; V- Participação das mulheres nos espaços de poder e decisão; VI- Desenvolvimento sustentável no meio rural, na cidade e na floresta, com garantia de justiça ambiental, sobreania e segurança alimentar; VII- Direito à terra, moradia digna e infra-estrutura social nos meios rural e urbano, considerando as comunidades tradicionais; II Plano Nacional de Políticas para as mulheres VIII- Cultura, comunicação e mídia igualitárias, democráticas e não discriminatórias; IX - Enfrentamento do racismo, sexismos e lesbofobia; X - Enfrentamento das desigualdades geracionais que atingem as mulheres, com especial atenção às jovens e idosas; XI- Gestão e monitoramento do plano. Referências BRASIL. Plano Nacional de Políticas para as mulheres. Brasilia: Secretaria de políticas para as mulheres, 2004. ______. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. ______. II Plano Nacional de Políticas para as mulheres. Brasilia: Secretaria de políticas para as mulheres, 2008. FERREIRA, S. L. As políticas públicas e a saúde da mulher no Brasil. In: FERREIRA, M.; ÁLVARES, M. L.; SANTOS, E. F. Os poderes e os saberes das mulheres: a construção do gênero. São Luís: EDUFMA; Salvador: REDOS, 2001, p. 167-177. OSIS, M. J. M. D. PAISM: um marco na abordagem da saúde reprodutiva no Brasil. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, n. 14, 1998.