0 SOCIEDADE DE EDUCAÇÃO DO VALE DO IPOJUCA FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA – FAVIP COORDENAÇÃO DE RAFFAELA MEDEIROS CURSO DE PSICOLOGIA A EXPERIÊNCIA DA MULHER EM RETORNAR AO TRABALHO APÓS A LICENÇA MATERNIDADE GREYCE PRISCILA DA SILVA PINTO QUEILA SOARES SANTOS GARCIA CARUARU 2011 1 Prof.Vicente Jorge Espindola Rodrigues Diretor-Presidente da FAVIP Profª MsC. Mauricélia Bezerra Vidal Diretora Executiva da FAVIP Profª MsC. Raffaela Medeiros e Moraes Coordenadora do Curso de Psicologia 2 GREYCE PRISCILA DA SILVA PINTO QUEILA SOARES SANTOS GARCIA A EXPERIÊNCIA DA MULHER EM RETORNAR AO TRABALHO APÓS A LICENÇA MATERNIDADE Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à coordenação do curso de Psicologia da Faculdade do Vale do Ipojuca como requisito para obtenção do título de Formação em Psicologia. Orientadora: Professora Mestre Claudine Alcoforado CARUARU 2011 3 Catalogação na fonte Biblioteca da Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru/PE P659e Pinto, Greyce Priscila da Silva. A experiência da mulher em retornar ao trabalho após a licença maternidade / Greyce Priscila da Silva Pinto e Queila Soares Santos Garcia. -- Caruaru : FAVIP, 2011. 75 f. : Orientador(a) : Claudine Alcoforado Quirino Trabalho de Conclusão de Curso (Psicologia) -- Faculdade do Vale do Ipojuca. 1. Mulher. 2. Mãe. 3. Trabalho. 4. Licença maternidade. I. Garcia, Queila Soares Santos. II. Título. CDU 159.9[12.1] Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/1367 4 GREYCE PRISCILA DA SILVA PINTO QUEILA SOARES SANTOS GARCIA A EXPERIÊNCIA DA MULHER EM RETORNAR AO TRABALHO APÓS A LICENÇA MATERNIDADE Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à coordenação do curso de Psicologia da Faculdade do Vale do Ipojuca como requisito para obtenção do título de Formação em Psicologia. Aprovado em: / / _________________________________________________________ Profª. Ms. Claudine Alcoforado Orientadora _________________________________________________________ Profª. Ms. Sheyla Siebra (1ª Avaliadora) __________________________________________________________ Profº. Ms. Etiane de Oliveira (2ª Avaliadora) CARUARU 2011 5 EPÍGRAFE Mulher “Onde encontraste tanta força para, na dor, sorrir para, na alegria, voos tão altos alçar? Onde encontraste tanta coragem para mares abrir? Onde encontraste esperança, ao cair, para reerguer-te e prosseguir? Mulher, Foste gerada assim... Chuva no deserto, sol em plena tempestade, Dia e noite; sol e luar Para gerar, amar, lutar, sofrer, viver e, sempre, recomeçar. Mulher... Sempre o mundo em ti E sempre a voltar, no destino de não ir E sempre a ficar, no desejo de partir. Feridas, por entre lágrimas e saudades jamais vencidas, Guerreira, Te fizeste-te assim... na emoção, a pura razão, No chorar, a mais pura canção, nas decisões, oceanos de emoções E, no olhar, uma imensidão de sonhos não atingidos, desejos partidos, atos incompreendidos Mas, em puro e profundo Amor, no recôndito do coração. Mulher... eu, tu, nós... Mulheres Tudo ou nada, Sempre renascendo, em cada estação. E, por entre sensibilidades”. de Otelice Soares de Oliveira Feira de Santana - BA - por correio eletrônico ao site do mundo jovem http://www.pucrs.br/mj/poema-mulher-119.php 6 Dedicamos essa produção acadêmica em primeiro lugar a Deus que nos proporcionou boas condições físicas, psíquicas e emocionais, além de nos conduzir, nos motivar e nos orientar desde o princípio até o presente momento. Dedicamos também a nossa família, parte fundamental para a conclusão deste projeto, aos quais nos possibilitaram incentivo, atenção, força e compreensão. À nossa orientadora Claudine Alcoforado, que se dispôs a nos acompanhar durante essa construção, nos encorajando e dividindo conosco seu tempo e seu saber. Greyce Priscila da Silva Pinto Queila Soares Santos Garcia 7 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por me dar força e inspiração para prosseguir nessa caminhada, sempre me protegendo onde quer que eu esteja. Agradeço a toda minha família em especial, aos meus pais Roberto Silva e Josefa Eneci, meu irmão Leandro Silva, e aos meus segundos pais Maria Eneci e Severino França que são pessoas fundamentais para que eu chegasse até aqui, compartilhando emoções, me motivando, disponibilizando atenção, sendo pacientes e sempre confiando em mim. Agradeço também aos meus avós que são reflexo da família maravilhosa que tenho. Agradeço ao meu noivo Celso Rodrigo, que sempre me compreendeu, incentivou e apoiou minhas escolhas, preocupando-se comigo e acreditando na minha capacidade de ir em busca dos meus objetivos, o qual amo imensamente, e sua família, em especial Lucy e César. Também sou grata a minhas tias e tios, que me acolhem com muito carinho, as minhas primas e primos que em todos esses momentos vividos pude contar com sua disponibilidade, em especial Elenice, Solange, Rubens, Geraldo, Welisson, Alysson. A todos os meus afilhados e afilhadas que moram em meu coração, e que me transmitem muito amor, em especial Amanda, Juciely, Juliana, Beatriz, Danilo, Laura, Gabriel, Ananda, Leticia, Cecilia, amo muito cada um de vocês. Agradeço a minha prima irmã, amiga, Edvane França por todos os momentos compreendidos, sendo uma pessoa muito especial em toda minha graduação sempre disposta a me ajudar. A ela dedico minha sincera gratidão. Agradeço a irmã que Deus me enviou sendo um verdadeiro presente em minha vida; juntas parecemos uma só pessoa, com os mesmos pensamentos e atitudes, sem ela tudo seria mais difícil, minha amiga, minha irmã Queila e toda sua família que colaborou para a conclusão desse trabalho. Agradeço também as minhas amigas, que compartilho meus sentimentos, em especial, Daniela, Deise, Erica, Viviane, Maíza, Ana Paula, Alcione, Fabiana, e aos meus amigos que sempre me ajudaram em especial Kennethy, Junior, e Vando. A todos, meus sinceros agradecimentos. Greyce Priscila da Silva Pinto 8 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por estar sempre ao meu lado, me guiando e me abençoando aonde quer que eu vá. Por me presentear com uma linda família, compreensiva, carinhosa, presente e acima de tudo unida. Agradeço a minha mãe Eliana Soares, pela dedicação, incentivo e esforço realizados por mim. Ao meu marido Fernandito Filho, agradeço a compreensão, o carinho e a motivação. A confiança em acreditar tanto em mim, me dando força para continuar lutando em busca dos meus ideais. Agradeço a Ananda Beatriz, minha filha, por me dar inspiração em tudo na minha vida; por ser um grande motivo de alegria e orgulho para mim e por ser uma bênção, uma dádiva divina. E também agradeço a minha irmã Karine Priscila pela força e carinho dedicados a mim. Agradeço também a Greyce, à nossa amizade e companheirismo, por estarmos juntas desde o início da nossa graduação, pela nossa reciprocidade, por nossa identificação e compreensão e por todos os momentos que passamos juntas; somos muito mais que amigas, somos irmãs escolhidas por Deus, sou muito grata ao Senhor por tê-la conhecido. Também agradeço a toda sua família. As minhas amigas da faculdade, em especial Erica Tanaka, Viviane e Maíza, amigas que me apoiaram, acreditaram, confiaram e demonstraram suas sinceras considerações e apreço por mim, recebam minha gratidão e meu muito obrigado. Levarei vocês no meu coração. Agradeço também a todos os professores que fizeram parte da minha história acadêmica, contribuindo fundamentalmente para a construção do meu saber. Em especial a minha orientadora Claudine Alcoforado, pelas brilhantes aprendizagens que obtive ao seu lado. As professoras Etiane Oliveira e Sheyla Siebra, que ao aceitarem nosso convite para compor a banca examinadora para a apresentação final deste trabalho, nos auxiliaram grandemente com seus conhecimentos, contribuindo com seus respectivos saberes. A todos vocês que fazem parte da minha vida, recebam meus sinceros agradecimentos. Sem vocês eu jamais teria conseguido. Queila Soares Santos Garcia 9 RESUMO O presente trabalho objetiva compreender a experiência da mulher em retornar ao trabalho após a licença maternidade. Para tanto, contextualizamos a história da mulher, suas lutas reivindicatórias a favor da isonomia entre os sexos, as conquistas advindas da inserção feminina no mercado de trabalho e a licença maternidade brasileira. Com a finalidade de obter relatos de experiências reais e atuais, realizamos entrevistas com mulheres-mãestrabalhadoras, que estavam retornando ao trabalho no período em que as entrevistamos. Para realizar essas entrevistas, utilizamos apenas de uma pergunta disparadora: Como é para você, retornar ao trabalho após o período da licença maternidade? E as entrevistadas iniciavam suas narrativas livremente. As entrevistas foram gravadas e lateralizadas para garantirmos a fidedignidade dos relatos. Correlacionamos às informações obtidas com autores citados nesse trabalho, e incluímos questionamentos e considerações que entendemos ser pertinentes para concluir a análise das entrevistas. Palavras-chave: Mulher; Mãe; Trabalho e Licença Maternidade. 10 ABSTRACT The present study aims to understand the experience of women in returning to work after maternity leave. To this end, contextualize the history of women, their struggles of demand in favor of equality between the sexes, the gains arising from the inclusion of women in the labor market and maternity leave Brazil. In order to obtain reports from real experiences and current, we conducted interviews with women, working mothers, who were returning to work in the period in which the interview. To accomplish these interviews, we used only one starter question: How is it for you, return to work after a period of maternity leave? And the respondents started their stories freely. The interviews were recorded and literalized to ensure the reliability of the reports. Correlate the information obtained from authors cited in this work, and include questions and considerations that we believe is relevant to complete the analysis of interviews. Keywords: Woman, Mother, Work and Maternity Leave. 11 LISTA DE QUADROS Quadro 1 As três eras da administração no século XX............................................... Quadro 2 Referencial das principais teorias da administração................................. 28 29 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 13 Objetivos........................................................................................................... 16 2 Capítulo I – A MULHER................................................................................ 17 2.1 O poder da igreja, na vida da mulher....................................................... 2.2 A experiência de ser mulher em Minas Gerais e durante o Brasil 17 Colônia........................................................................................................ 18 2.3 Iniciam-se os incentivos à educação e ao trabalho feminino remunerado 20 2.4 A evolução e as conquistas femininas........................................................... 21 2.5 O Movimento Feminista................................................................................. 22 3 Capítulo II - O MERCADO DE TRABALHO............................................. 25 3.1 A inserção feminina no mundo dos negócios ............................................ 30 3.2 Licença maternidade: Mais um direito conquistado!................................ 33 4 Capítulo III MULHER-MÃE E TRABALHADORA: APROXIMAÇÃO DA EXPERIÊNCIA..................................................... 37 Algumas Considerações ........................................................................... 60 5 REFERÊNCIAS............................................................................................... 64 ANEXOS........................................................................................................... 69 ANEXO A......................................................................................................... 70 ANEXO B......................................................................................................... 71 ANEXO C................................................................................................... 72 13 1 INTRODUÇÃO A ideia para realizar esse trabalho surgiu a partir do convívio com mulheres trabalhadoras que engravidaram e passaram pela experiência de ser mãe e vivenciar o período da licença maternidade, tendo que retornar ao trabalho, confiando os cuidados de seus filhos a terceiros. Em particular, eu, Queila Soares Santos Garcia, através da minha experiência como mulher- mãe - trabalhadora, emergiu o desejo de conhecer a experiência de outras mulheresmães, a fim de saber como foi para elas retornar ao trabalho após o término da licença maternidade. Para mim, esse retorno não foi possível. Solicitei meu desligamento da empresa a qual eu prestava serviço, para dedicar-me aos cuidados da minha filha, pois eu não tive com quem deixá-la. Depois de um tempo, quando ela completou 11 meses, eu consegui um estágio na área de psicologia, uma grande oportunidade a qual eu não podia deixar escapar! Nessa época eu estava mais tranquila, pois ela já estava um pouco maior. Então, novamente me inseri no mercado de trabalho onde continuo até o presente momento. Minha filha atualmente está sendo cuidada pela minha mãe e por uma amiga da família. Para mim, Greyce Priscila da Silva Pinto, o desejo em realizar esse trabalho, surgiu devido minha experiência com mulheres que após a maternidade continuaram a desempenhar suas atividades profissionais, enfatizando o período de retorno ao seu trabalho. Com o término da licença maternidade, várias dessas mulheres, amigas e parentes que tenho contato, evidenciaram uma série de dificuldades que ocorreram para a realização de tais papéis como o de ser mãe-trabalhadora. Outro ponto que me afetou bastante está inteiramente ligado ao meu desejo de ser mãe, no entanto, estar próxima dessa realidade me motivou a pesquisar tal experiência, que atualmente encontra-se em evidência, devido ao grande quantitativo de mulheres inseridas no mercado de trabalho. Após as inquietações apresentadas acima, nos colocamos diante de uma questão: Como é para as mulheres, voltar ao trabalho após o período de licença maternidade? 14 Então fizemos um breve recorte no contexto histórico da mulher, no que abrange suas práticas profissionais e suas vivências diante da maternidade, como também o sinônimo da mulher contemporânea. Segundo Pinto (2005) as práticas do convívio social entre homens e mulheres, no início do século, ditavam que o marido era o provedor do lar, tornando a mulher impossibilitada de exercer outros papéis sociais, assim como não demandando desta mulher a necessidade de trabalhar para ganhar dinheiro, restando a esta, então, o cuidado com os filhos e com os afazeres domésticos. O que caracterizava o modelo de família nuclear tradicional burguês eram que as atividades pessoais e profissionais de cada sujeito eram definidos a partir do sexo, logo o homem e a mulher tinham seus espaços demarcados e suas atribuições bem definidas, ou seja, o que compete ao sexo feminino e por sua vez o que é função do sexo masculino. Neste sentido, Pinto (2005) traz a ideia de que o espaço privado é entendido como domínio feminino, competindo à mulher, deste modo, a reprodução e não a produção; a responsabilidade de organizar o lar, os filhos, enfim manter ordem e limpeza no ambiente familiar e por essa razão, a mulher, desde os primórdios, é associado à função de cuidadora. Então, conclui-se que as mulheres eram predeterminadas ao casamento e a maternidade, logo, a cuidar da casa, do marido e dos filhos. E ao homem, era designada a responsabilidade em prover o sustento familiar. As mulheres sempre se destacaram na luta por um lugar reconhecido na sociedade em que seu papel não estivesse apenas ligado à questão de cuidadora do lar, buscando deste modo igualdade de gênero e equidade entre os sujeitos. Diante deste contexto elas criaram um movimento para reivindicar algumas mudanças. Surgindo assim, nos Estados Unidos, a partir do século XVII o movimento feminista. Este começou a adquirir características de ação política, através de lutas reivindicatórias que garantissem os direitos das mulheres, que propunha a libertação e não apenas a emancipação da mulher. Emancipar-se é equiparar-se ao homem em direitos jurídicos, políticos e econômicos. Corresponde à busca de igualdade. Libertar-se é querer ir mais adiante, marcar a diferença, realçar as condições que regem a alteridade nas relações de gênero, de modo a afirmar a mulher como indivíduo autônomo, independente, dotado de plenitude humana e tão sujeito frente ao homem quanto o homem frente à mulher. (FREI BETTO, disponível em Googlepensocris.vilabol.uol.com.br/feminismo.htm) No entanto, o trabalho como categoria social fundamental emerge a partir do século XVIII, adquirindo um espaço importante na subjetividade do ser humano. A Revolução 15 Industrial foi o ápice dessa transformação. Nesse período muitas mulheres foram convocadas para trabalharem nas indústrias, garantindo à população uma integração e reorganização social na vida dos indivíduos. O capitalismo criou uma ruptura entre produção e ganho; se produz cada vez mais com menos trabalho humano. E o intenso e veloz crescimento da tecnologia, da globalização, do aumento da competitividade e da reestruturação organizacional compõe tal cenário. O trabalho faz parte da vida dos seres humanos desde muitas décadas atrás. Segundo Bilac (1998 / 2001) a inserção feminina no mundo de trabalho está sendo cada dia mais crescente. Contudo, não se pode parar de lutar, pois elas ainda enfrentam uma desigualdade considerável em relação à remuneração dos homens. É comum vermos mulheres ocupando cargos de liderança, estratégicos e de altíssimas responsabilidades, que exigem capacidades intelectuais elevadas. Elas estão presentes nos tribunais superiores, nos ministérios, no topo de grandes empresas, assumindo cargos executivos, em organizações de pesquisa e tecnologia e até mesmo, como Presidente da República. Não há dúvidas de que nos últimos anos a mulher está cada vez mais presente no mercado de trabalho. A atual presidente do Brasil é um exemplo de conquistas, lutas, preconceitos, enfim, de superação. Chegar ao comando de um país, liderando governadores, deputados, ministros e acima de tudo pessoas que vivem em um país emergente, com sede de adquirir melhores condições de vida e que esperam no amanhã a solução para os problemas atuais, não é uma tarefa simplória, é necessário competência. Administrar um país foi algo inédito, conquistado pela mulher brasileira, reafirmando suas competências e qualificações profissionais. Entendemos que a inserção da mulher no mercado de trabalho está aumentando gradativamente com o passar dos tempos. Cada vez mais as mulheres percebem a necessidade de conquistar sua independência financeira e dedicam-se em qualificar-se profissionalmente, buscando manter-se atualizada. Contudo, apesar desse aumento feminino no mundo dos negócios, nos deparamos com o cenário em que as mulheres continuam com a proposta de ser mãe e cada vez mais inseridas no mercado de trabalho; começamos a pensar então como a mulher consegue administrar seus desejos de trabalhar e ser mãe? Entretanto, com a permanência desta mulher no mercado de trabalho começou-se a pensar num direito para que as mesmas pudessem viver os momentos iniciais da vida dos filhos e ao mesmo tempo manter-se empregada. Conforme Mourão (2010) em 1932 surgiram as primeiras leis que garantiam direitos para o trabalho da mulher, inclusive a que diz respeito à licença maternidade. Neste sentido, podemos dizer que a mulher brasileira encontra-se em uma situação vantajosa com relação à 16 realidade de muitos países; pois, no Brasil após a constituição de 1988 o direito a licença foi ampliado para 120 dias de afastamento das atividades profissionais, dispondo durante esse período de sua remuneração integral. Segundo Aguiar (2010) as mulheres passaram a ter segurança para voltar ao trabalho após o nascimento dos filhos. Através deste trabalho relatamos a experiência de mulheres-mães que vivem o retorno ao trabalho após a licença maternidade, visando contribuir com relatos de experiências reais dessas mães que estão vivendo esse momento, no ato da pesquisa. Discutimos também a realidade da licença maternidade brasileira, assim como, recapitulamos em um breve recorte a história da mulher durante seu processo de inserção no mundo do trabalho. Acreditamos que através desse trabalho, conseguimos repassar a experiência de como essas mulheres, que nós entrevistamos, lidam com a maternidade e sua vida profissional. Contudo, trazendo questionamentos pertinentes às questões ligadas a maternidade, ao trabalho feminino e, principalmente, ao papel da mulher na sociedade contemporânea, com o intuito de instigar pesquisas, estudos ou chamar atenção aos cuidados desses filhos, perante a ausência de suas mães. Assim, buscamos transmitir informações acerca de como acontece esse movimento de ser mãe e ser profissional e esperamos que este trabalho dê subsídios e/ou contribua para psicólogos ou outros profissionais interessados acerca dessa temática. Esse trabalho justifica-se ainda, para propagar a importância de políticas públicas voltadas para o cuidado e a educação dos filhos dessas mães que por necessidade ou realização profissional optam pelo trabalho remunerado. Com estas finalidades, objetivamos compreender a experiência das mulheres no período em que as mesmas retornam ao trabalho após o término da licença maternidade. E buscamos especificamente: 1. Discutir o papel da mulher contemporânea e sua inserção no mundo do trabalho; 2. Contextualizar a licença maternidade no Brasil; 3. Colher depoimento de mulheres trabalhadoras quanto a sua experiência de retornar ao trabalho após o período do término da licença maternidade. 17 2 CAPÍTULO I - A MULHER No decorrer desse capítulo iremos contextualizar as vivências de trabalho e a experiência de ser mãe em diferentes “épocas” brasileiras, traremos recortes históricos das comunidades indígenas; do Brasil Colônia; apresentaremos, brevemente, as vivências das mulheres do século XVIII, em Minas Gerais; falaremos também da mulher do século XIX e suas lutas reivindicatórias em busca de reconhecimento, e por fim, falaremos da mulher contemporânea e suas implicações perante a vida social. Iniciaremos nosso capítulo trazendo recortes da representação do trabalho atrelado a maternidade, segundo as mulheres nativas. De acordo com Raminelli (2007) o cotidiano vivenciado pelas mulheres das tribos indígenas demonstrava a maneira que as mesmas encontravam para desempenhar suas atividades ligadas ao trabalho, e este é entendido como o trabalho na roça. A experiência de ser mãe mudava de acordo com os costumes de cada tribo. O autor exemplifica algumas práticas desse momento histórico em que na tribo Tupi as mães costumavam transportar seus filhos em uma espécie de tipoia até o local do seu trabalho, e lá os amamentavam. Já na tribo Caetés as mulheres eram considerados cruéis por não respeitarem seus parentes, a relação entre eles não tinha um mínimo de pudor. No entanto, algumas mães desta realidade eram tidas como seres isentos de qualquer sentimento de afeto, não apresentavam nenhum tipo de cuidado com seus filhos, algumas atiravam as crianças nos rios para se livrar de seu choro. Outra situação descrita por Ramineli (2007) observada entre os Tupinaés nos revelam que as mulheres dessa tribo eram ainda mais cruéis, pois quando seus maridos encontravam-se enfermos era hábito das índias matar seus filhos recém-nascidos com a finalidade de restaurar a saúde do mesmo. O amor maternal segundo Raminelli (2007) pouco representava a experiência de ser mãe nas comunidades nativas, no entanto não há como generalizar tal fato. Em algumas tribos, como por exemplo, a Tupi, era percebido que as mães se dedicavam aos cuidados com as crianças; porém em outras, como é o caso dos Caetés e dos Tupinaés, era nítido o descaso para com os filhos. 18 2.1 O poder da igreja, na vida da mulher Conforme Araújo (2007) a igreja obteve um poder muito enfático com relação à mulher, estando esta submetida a esperar um rapaz que com a aprovação de sua família poderia torna-se seu marido. A família era baseada principalmente pelos valores determinados pela igreja, conforme Figueiredo (2007). “Finalmente, com prazer ou sem prazer, com paixão ou sem paixão, a menina tornava-se mãe, e mãe honrada, criada na casa dos pais, casada na igreja. Na visão da sociedade misógina, a maternidade teria de ser o ápice da vida da mulher.” (ARAÚJO, 2007 p. 52). E neste sentido, a educação das mulheres era dirigida apenas aos afazeres domésticos, a fim de prepará-las para o casamento. Nesta época, havia muitos casamentos precoces e estes se davam, para não desviar as mulheres do propósito de casar, ter filhos, cuidar da casa e do marido, antes que elas despertassem seus desejos sexuais. A concepção cristã do casamento era entendida como um sacramento que objetivava apenas perpetuar a espécie humana, onde o prazer sexual não existia, havia exclusivamente a intenção da procriação. Diante desse contexto, percebe-se que a sexualidade feminina era condicionada e correspondia ao desvio dos sentidos, ou seja, seus desejos eram privados e camuflados por respeito a seu pai e após o casamento, ao marido. “A vida burguesa reorganiza as vivências domésticas. Um sólido ambiente familiar, lar acolhedor, filhos educados e a esposa dedicada ao marido e sua companheira na vida social são considerados um verdadeiro tesouro”. (D’INCAO, 2007 p. 225). Conforme Rocha-Coutinho (2007) a devoção da mulher ao trabalho de casa a tornou depende das pessoas de quem ela cuida, ou seja, ela tornou-se depende do marido – um homem escolhido por amor – e psicologicamente de seus filhos, produtos de sua maternagem. “Tanto o trabalho quanto a família exigem tempo, energia e investimento emocional e muitas pressões internas e externas, levam a mulher a dirigir boa parte de sua energia para a família”. (ROCHA-COUTINHO, 2007, p. 163) 2.2 A experiência de ser mulher em Minas Gerais e durante o Brasil Colônia 19 Ao se tratar da realidade das mulheres mineiras, Figueiredo (2007) aponta que durante o século XVIII, demonstra-se que a presença feminina era destacada pela prática de pequenas atividades ligadas ao comércio, estabelecendo assim as divisões de trabalho correspondente a cada sexo. Para algumas mulheres eram destinados os trabalhos associados à comercialização de doces, bolos, frutos, hortaliças e queijos. Em contrapartida, havia algumas mulheres conhecidas como “negras de tabuleiro” que diante das necessidades que lhes acometiam, desempenhavam atividades ambulantes, tais como a venda de produtos ilegais e a prostituição. Nas vendas, muitas delas dirigidas por mulheres, diferentes grupos sociais se reuniam para beber e se divertir; em seu interior escondiam-se atividades escusas como contrabando de ouro e pedras, abastecimento de quilombos e prostituição. (FIGUEIREDO, 2007 p. 153). Muitas mulheres, durante o período colonial abandonavam seus filhos, por se tratarem de mães solteiras ou porque eram filhos gerados fora do casamento, este fato Venâncio (2007) denominou como “maternidade negada”. Pois, para criar seus filhos, as mães deveriam formálos de acordo com as normas que ditavam as boas famílias. Ao pai, cabia a responsabilidade de dirigi-los. Soibet (2007) sinaliza que as mulheres do período colonial eram associadas às características que representam fragilidade, recato, predomínio das faculdades afetivas sobre as intelectuais, uma vocação maternal; essa mulher era exposta aos critérios que descreviam sua condição de gênero, onde esses aspectos se encontram na maioria das situações que as mesmas vivenciavam. Conforme Soibet (2007) as características atribuídas a elas lhes concebiam, nesta realidade, um lugar de submissão total com relação aos critérios que designavam a maneira de ser do homem. Este, estava ligado a força física, uma natureza autoritária, empreendedora, racional e uma sexualidade sem freios. Esse estereótipo de fragilidade não se adequava as mulheres da classe pobre. Pois, elas exerciam trabalhos desvalorizados como os de doméstica e ainda produziam para o mercado de trabalho atividades como lavandeiras, engomadeiras, doceiras, floristas, cartomantes e em sua realidade trabalhavam muito para a manutenção de suas famílias que em muitos casos dependiam apenas delas como única provedora do lar, conforme Soibet (2007). “As classes menos favorecidas foram as mais prejudicadas no projeto de modernização das cidades já no início do século XX. Em nossos dias as famílias pobres continuam sobrevivendo em meio à miséria, muitas vezes sem a presença do pai”. 385). (SOIBET, 2007 p. 20 2.3 Iniciam-se os incentivos à educação e ao trabalho feminino remunerado Segundo Louro (2007) durante meados do século XIX começa-se apontar a necessidade para a educação feminina, visto que esse fato não era levado em consideração, pois entendia-se que não seria interessante que a mulheres desfrutasse de uma instrução. Posteriormente percebeu-se o quanto era conveniente que elas obtivessem uma educação que servisse para desempenhar seus atributos maternos e que contribuísse para aprimorá-la, tornando-a assim, uma companhia agradável para seu esposo. Lentamente, as mulheres começam a participar das salas de aulas e logo após estariam desenvolvendo o magistério - atividade essa que caberiam a elas formar os novos trabalhadores do país. O magistério era muito indicado para as mulheres pelo motivo de ocupar somente um período do dia, e ter um baixo custo, ou seja, salários bem inferiores aos dos homens. Deste modo, Louro (2007) aponta que a conduta feminina seria peça fundamental para assumir essa posição, se tratava então de um ideal que implicaria recato, pudor, honestidade, ou seja, a busca constante de uma moral perfeita. Conforme Louro (2007) diante dessa realidade, as atividades de trabalho não poderiam afastar as mulheres de seu principal exercício que estariam voltados para as tarefas do lar, da vida familiar, da alegria advinda da maternidade. O trabalho fora de casa sempre deveria ser abandonado quando implicava com a verdadeira missão feminina de ser esposa e mãe. Neste sentido, compreende-se que trabalhar fora de casa seria mais aceitável para as moças solteiras. O magistério era visto como uma extensão da maternidade, o destino primordial da mulher. Cada aluno ou aluna era representado como um filho ou filha espiritual e a docência como uma atividade de amor e doação a qual acorreriam àquelas jovens que tivessem vocação. (LOURO, 2007, p. 451) De acordo com Fonseca (2007) o trabalho feminino fora de casa durante as primeiras décadas do século XX, estava relacionado com a classe pobre e, na maioria das vezes essa atividade era tida apenas como um complemento à renda do marido. As mulheres não eram admitidas como trabalhadoras formais, ao contrário, muitas delas estavam destinadas a serem desmoralizadas pelo fato de trabalharem e se tornarem uma mulher sem princípios éticos, estando sempre preocupadas em defender sua reputação e sua imagem perante a sociedade. Segundo Badinter (1985) a mulher trabalha ao lado do marido, em ofícios ligados a alimentação, cuida também tradicionalmente da padaria ou do açougue, essa atitude revela um dado econômico não desprezível: custava menos caro a esses casais enviar o filho para ser 21 criado por uma ama de leite, do que empregar um trabalhador de pouca qualificação; isso prova que muitas amas recebiam um salário miserável. Mais miseráveis ainda eram as mulheres dos chapeleiros e dos trabalhadores braçais. Não trabalhando com o marido, elas tinham pequenos ofícios que praticavam em casa, ou em horário parcial, como as fiandeiras de seda, as bordadeiras ou vendedoras de frutas e legumes nos mercados. Nesses casais, os ganhos eram tão pequenos que os pais tinham interesse em conservar os filhos consigo, sendo incapazes de pagar uma ama, por mais barata que fosse. No início da abolição da escravidão haviam muitas imigrantes trazidas para o Brasil, vindas da Europa, e nesse período, percebeu-se a necessidade de recompor a mão-de-obra trabalhadora. Algumas mulheres começaram a trabalhar na agricultura e outras se direcionaram ao mercado fabril. Logo, as indústrias de tecelagem e fiação foram as maiores responsáveis por receber um grande quantitativo de mulheres, além disso, aquelas que não estavam inseridas no mercado de trabalho formal, exerciam trabalhos nas suas próprias casas, conforme Rago (2007). Contudo aquelas que desempenhavam atividades ligadas às tarefas do lar estariam menos expostas a sofrer as consequências do desrespeito moral. O autor revela que consecutivamente as mulheres pobres sempre desempenhavam tarefas fora do lar, entretanto esse fato não retrata a realidade das mulheres da elite colonial. “A mulher pobre, diante da moralidade oficial completamente deslocada de sua realidade, vivia um dilema imposto pela necessidade de escapar da miséria com o seu trabalho e o risco de ser chamada de ‘mulher pública’”. (FONSECA, 2007, p. 519) 2.4 A evolução e as conquistas femininas De acordo com Gonçalves (2008), ser homem ou mulher exige as representações delimitadas pela sociedade e pelo contexto histórico no qual estão inseridos. Verifica-se, portanto que, em cada tempo histórico, as experiências se diferenciam; não estão cristalizadas e nem rigidamente constituídas de modo atemporal. As experiências se encontram em movimento e, em sua interrelação com as circunstâncias nas quais estão inseridos os indivíduos. Nesse ritmo, mulheres e homens vão se instituindo, se formando, ao mesmo tempo em que agem sobre essa realidade. 22 Oscilando de um lado a outro, a mulher brasileira das camadas médias vem deste modo, tentando conciliar, da melhor forma que pode, não sem uma “pontinha” de ressentimento ou culpa as duas grandes prioridades da mulher atual: maternidade e a carreira. (CARRETEIRO, 2011, p. 134) Diante do que diz Rago (2007) à realidade da mulher brasileira durante o século XX, remete uma nova versão do mundo do trabalho feminino. As mulheres passaram a ocupar as vagas das primeiras indústrias do país. Entretanto, essa nova atividade foi marcada por muita desvalorização pessoal, pois elas eram vítimas de assédio-sexual, de longas jornadas de trabalho, baixos salários, assumem cargos desqualificados e vivenciam situações precárias, diferente dos homens que eram contemplados com cargos bem mais valorizados. Embora ao longo da história diversas correntes filosóficas e religiosas tenham defendido a dignidade e os direitos da mulher, o movimento feminista remonta mais propriamente a busca pelo direito da isonomia entre os sexos. 2.5 O Movimento Feminista O Movimento Feminista surgiu na cidade de Nova Iorque em 1848. A luta por Igualdade, Liberdade e Fraternidade – reivindicações da Revolução Francesa impulsionaram as feministas a acreditar nos direitos sociais e políticos, advindas dessa revolução, como conquistas para elas, enquanto cidadãs de direito. Esse movimento foi de cunho político, pois lutava para conquistar igualdade de direitos entre homens e mulheres, visando modificar a concepção de que mulher é um sexo frágil. (ARAÚJO, 2007). Deste modo, Giulani (2007) ressalta que no final dos anos 70, os movimentos das trabalhadoras começaram a produzir questionamentos e argumentações, com o propósito de reformular os valores já absorvidos pela sociedade, no que abrange as competências do sexo feminino, surgindo assim, de forma muito lenta, novos direcionamentos para essas mulheres. O feminismo levou à aparição de mudanças conceituais importantes do século XIX (trabalho assalariado, autonomia do indivíduo civil, direito à instrução) e a presença das mulheres na cena política. Durante o século XIX produziram-se constantes reformulações e conquistas femininas que se foram plasmando nas condutas individuais e nas coletivas, na legislação, na arte e no pensamento. (STREY, 2008, p. 182). 23 Segundo Sorj (2005) o Movimento Feminista contribuiu muito para redefinir as identidades de gênero. Pois começou-se a perceber as desigualdades no que diz respeito ao papel da mulher como moralmente injustas, e a partir daí, ocorreram questionamentos acerca deste modelo que até então a mulher seguia. Após essas inquietações algumas mudanças passaram a acontecer, e esse fato consecutivamente causou impacto para a divisão do trabalho feminino, as mulheres assumiram então, um novo lugar, colaborando desta forma para uma nova percepção acerca de valores igualitários nas relações de gênero. “O feminismo teve uma importância fundamental na transformação de valores, crenças, costumes, relações e práticas sociais e familiares, e, também, no processo de redemocratização do país a partir dos anos 1970” (ARAÚJO, 2010). De acordo com Vaistsman (apud ROCHA-COUTINHO, 2010), os acontecimentos ocorridos pelos movimentos feministas das décadas de 1960 e 1970, abriram espaço para a entrada maciça de mulheres brasileiras das camadas médias no mercado de trabalho, e em decorrência, em grande parte, do processo de globalização e modernização pelo qual vem passando o país nas últimas décadas, o modelo de família formado pelo pai provedor sendo este o responsável direto pelo sustento da família, e pela mãe dona de casa apenas destinada aos cuidados ligados ao lar, sofreu um processo de questionamento, pelo menos por certos segmentos das classes médias urbanas brasileiras. Para as trabalhadoras é necessário rever a maneira como seus diversos papéis são exercidos: os papéis de esposa, de mãe, de filha, de organizadora do orçamento doméstico, de provedora, de profissional competente. São questionadas as atribuições domésticas e extradomésticas típicas de homens e de mulheres; o papel da mãe e do pai são confrontados; assim como as responsabilidades da esposa, da chefe de família, da dona de casa, da educadora e da militante sindical. Tais questionamentos mostram que, para renovar o conceito de feminilidade, é indispensável renovar também outro conceito, o de masculinidade. (GIULANE, 2007, p.651). Entretanto, é difícil perceber as mudanças ocorridas na sociedade brasileira, no trabalho e nas famílias, sem levar em consideração os avanços trazidos pelas mulheres através da luta pela igualdade de gênero e pelo direito de ser reconhecida como cidadã, conforme Féres-Carneiro (2010). Hoje, a mulher não mais admite ser apenas mãe e dona de casa. Seus horizontes se ampliaram e, apesar de uma certa nostalgia de um desejo de uma vida mais “tranqüila”, ela é constantemente interpelada a assumir uma posição de sujeito ativo no âmbito público, principalmente na esfera profissional, e atende a essa interpelação. (PINTO, 2005 p. 61). De acordo com Rocha-Coutinho (2007) o avanço da tecnologia e as lutas políticas, abriram novas possibilidades para as mulheres, pois os modos contraceptivos, advindo dessas 24 mudanças/avanços, são mais seguros e efetivos e passaram a separar a sexualidade da maternidade. A pílula anticoncepcional foi, sem dúvida, um grande avanço no papel designado para o sexo feminino, pois possibilitou separar a sexualidade da reprodução e, esse fato proporcionou a mulher à autonomia sobre sua vida sexual, dando a opção de escolher ou não a maternidade. 25 3 CAPÍTULO II - O MERCADO DE TRABALHO Nesse capítulo, iremos recapitular em um breve recorte histórico, as diversas concepções de trabalhos em variadas épocas da nossa história. Explanaremos também, a história do trabalho desde o início da Revolução Industrial, e em seguida, falaremos sobre a inserção feminina no mercado de trabalho. De acordo com Zanelli (2002) uma organização representa um sistema social orientado, que visa atingir seus objetivos específicos; esta pode ser comparada com um organismo e como tal, é vivo, dinâmico, complexo e estão em constante movimento, apresentando-se de formas, tipos e natureza diferentes. O trabalho é um processo em que participam o homem e a natureza. Segundo Marx (1996), é através deste, que o homem atribui utilidade à vida, pois por meio do trabalho e dessa interação com o meio, o ser humano, assim como os animais, conseguem sustento para sua vida. A maior diferença entre o animal racional e o irracional consiste na capacidade que o homem tem, de transformar à realidade a qual está inserido a fim de melhor atender as suas necessidades. De acordo com Aristóteles (1885) na Antiguidade, o trabalho era destinado aos seres considerados inferiores ou aos animais. Esse termo “inferior” era usado para designar as pessoas que, por motivos de sobrevivência, inclinavam-se para o trabalho braçal, com o corpo e não tinham oportunidades de dedicar-se às necessidades da alma – estes eram considerados superiores. Na verdade, a utilidade dos escravos pouco difere da dos animais; serviços corporais para atender às necessidades da vida são prestados por ambos, tanto pelos escravos quando pelos animais domésticos. A intenção da natureza é fazer também os corpos dos homens livres dos escravos diferentes – os últimos fortes para as atividades servis, os primeiros eretos, incapazes para tais trabalhos, mas aptos para a vida de cidadãos... (ARISTÓTELES, 1885, p 19) Contudo, pode-se dizer que nessa época, a sociedade estava dividida entre escravos e homens livres ou ainda indivíduos inferiores e superiores. Na Idade Média, a separação entre os indivíduos era realizada através de classes sociais. Nessa época, a igreja assumia o grande prestígio social, pois era a maior proprietária de terras, durante todo o período feudal, conforme Huberman (1985). 26 Segundo Maximiano (2007) no início do século XX, houve uma expansão das empresas industriais, e como consequência, gerou um grande desenvolvimento nos conceitos e métodos de administração. Foi um momento de muitas transformações tecnológicas, econômicas e sociais. Nessa época não havia padronização nos processos de produção, ou seja, os trabalhadores faziam as tarefas de acordo com a sua intuição e os administradores não sabiam avaliá-los. Buscando aumentar a eficiência da produção através da racionalização do trabalho Taylor criou uma das principais técnicas utilizadas naquele tempo, o estudo do Shop management (Administração fabril). Entretanto, isso somente seria possível se houvesse métodos para desenvolver as atividades do trabalho. Para resolver esse impasse, esse estudo propôs que os trabalhadores tivessem salários altos e os custos de produção fossem baixos; diz também que a administração deveria adotar métodos de pesquisa que propusessem melhorar a execução das tarefas; e que os empregados deveriam ser selecionados e treinados no intuito de tornar as pessoas e as tarefas, compatíveis; além disso, deveria-se proporcionar um ambiente de trabalho cordial entre os administradores e os trabalhadores, garantindo um ambiente psicológico favorável à aplicação desses princípios. Para Taylor, “a produtividade resulta da eficiência do trabalho e não da maximização do esforço” (Maximiano, 2007, p. 36). Segundo Maximiano (2007), Taylor foi o precursor de estudos na área da administração, ele desenvolveu atividades tais como o estudo de tempos e movimentos, a descrição de cargos, organização e métodos, engenharia de eficiência, a racionalização do trabalho, entre outros. Esses estudos foram desenvolvidos nos Estados Unidos no final do século XIX e no início do século XX. Henry Ford foi outro grande administrador dessa época que contribuiu para melhorar as atividades fabris. Ford criou o processo de produção em massa, este visava fabricar produtos não diferenciados em grande quantidade, ou seja, padronizar o processo de fabricação, através de especialização do trabalhador. Isso implica dizer que, diante da fabricação em massa, o produto é dividido em partes e o processo de fabricação em etapas. Para cada etapa de produção havia um trabalhador especializado, logo, em um sistema de produção em massa, cada pessoa tem uma tarefa fixa dentro de uma etapa do processo, conforme Maximiano (2007). Fayol também trouxe grandes contribuições na área da administração, segundo ele “a administração é uma atividade comum a todos os empreendimentos humanos (família, negócios, governo), que sempre exigem algum grau de planejamento, organização, comando, coordenação e controle” (Maximiano, 2007, p. 37). Uma das maiores ideias de Fayol foi dizer 27 que a função do administrador deve ser separada da função operacional, pois os líderes administradores devem planejar, comandar, ser estratégicos, coordenar e ter controle sob a organização. Há uma inversão nas prioridades entre Taylor e Fayol, o primeiro se preocupou em cuidar da administração do trabalho e Fayol se dedicou a cuidar do trabalho da administração, conforme Maximiano (2007). De acordo com Chiavenato (2003), o crescimento industrial gerou um distanciamento considerável entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos. O Brasil passou a fazer parte desse mundo industrial no início de 1940, muito tempo depois dos países desenvolvidos, que deram início ao processo de industrialização no final do século XIX e início do século XX. Na era industrial clássica predominou um ambiente empresarial estável e previsível, apesar das duas Guerras Mundiais. A industrialização clássica foi uma das consequências da Revolução Industrial. A Era Industrial Neoclássica substituiu a Era Industrial Clássica e se caracterizou por grandes transformações no mundo dos negócios. Nessa época, o desenvolvimento tecnológico teve avanços incríveis: o avião a jato, a televisão, o computador, são exemplos dessas inovações. A partir de então, as fábricas começaram a produzir com uma enorme variedade de produtos e serviços, e algumas fábricas chegaram até a exportar seus produtos. Como consequência do rápido crescimento tecnológico, as indústrias, que anteriormente, eram acostumadas com um mercado de trabalho estável e previsível, começaram a sentir dificuldade em acompanhar a tecnologia. O ambiente dos negócios passou a se tornar instável, devido às intensas mudanças sociais, culturais, econômicas e tecnológicas, dessa época. Nessa época surgiram as grandes potências emergentes, como o Japão, por exemplo. Logo, o mundo dos negócios passou a viver outra realidade: a globalização econômica. Como consequência dessa globalização, eram exigidos das indústrias produtos com qualidade total, aumento da produtividade, da competitividade e velocidade de comunicação. Essa era compreende os anos de 1950 a 1990 e, nesse tempo as próprias pessoas ainda tinham dificuldade de acompanhar a tecnologia, pois, estavam acomodadas com a estabilidade do mercado e as mudanças tecnológicas estavam trazendo mudanças na vida de cada cidadão daquele tempo. (CHIAVENATO, 2003) No início da década de 1990, surge a Era da Informação, que trouxe avanços tecnológicos fascinantes. O conhecimento intelectual passa a ser o recurso mais importante dessa época. Conforme Chiavenato (2003), a tecnologia da informação (TI) passou a fazer parte da vida dos indivíduos e das empresas. Essa era trouxe grandes mudanças tais como: 28 *Menor espaço: Os prédios diminuíram seu espaço físico, os arquivos eletrônicos substituíram os papéis e consequentemente os locais para arquivá-los; *Menor tempo: As comunicações tornaram-se móveis, rápidas e instantâneas; *Maior contato: Com o surgimento do microcomputador, da multimídia, surgiu nessa época o teletrabalho, em que as pessoas trabalhavam juntas embora estivessem distantes; realizavam teleconferências, telerreuniões, e as pessoas passaram a estar sempre conectadas, evitando gastos com deslocamentos físicos, diminuindo as viagens. Na era da TI a internet e a intranet são ferramentas valiosíssimas, pois quanto mais informado e atualizado os indivíduos/organizações forem, mais se destacam no mercado de trabalho. Logo, a informação tornou-se o recurso principal das organizações, pois os acontecimentos mudam rápida e intensamente e através da TI pode-se encontrar direcionamentos práticos e eficazes a qual deve-se seguir. Quadro 1. As três eras da administração no século XX. ERA INDUSTRIAL CLÁSSICA ERA INDUSTRIAL NEOCLÁSSICA ERA DA INFORMAÇÃO 1900 – 1950 1950 - 1990 Após 1990 Início da Industrialização Desenvolvimento Industrial Tecnologia da Informação (TI) Pouca mudança Aumento da mudança Serviços Previsibilidade Fim da previsibilidade Aceleração da mudança Estabilidade e certeza Inovação Imprevisibilidade Instabilidade e Incerteza Administração Científica Teoria Neoclássica Ênfase na: Teoria Clássica Teoria Estruturalista Produtividade Relações Humanas Teoria Comportamental Qualidade Teoria da Burocracia Teoria de Sistemas Competitividade Teoria da Contingência Cliente Globalização Fonte: Idalberto Chiavenato. Administração nos novos tempos. Rio de Janeiro, Elsevier, 2003. Conforme Chiavenato (2003) a tendência das organizações nos dias atuais é a valorização das pessoas. Desde a Revolução Industrial até a era da informação o principal 29 setor da empresa era o tecnológico. Porém na atualidade o principal alvo são as pessoas que fazem parte do universo das organizações, pois, têm-se importunado para o valor das pessoas talentosas como parte crucial para o seu êxito, percebendo a importância de valorizar o capital intelectual humano. Existem diversas teorias que fundamentam o trabalho do administrador, em síntese, Chiavenato (1997) apresenta os diferentes enfoques administrativos para se obter uma visão panorâmica do trabalho. Quadro 2. Referencial das principais teorias da administração. Ênfase nas Tarefas *Administração Científica *Divisão do trabalho e exagerada especialização do operário *Estudo de tempos e movimentos*Método de trabalho/incentivos Ênfase na Estrutura *Teoria Clássica *Teoria da Burocracia *Teoria Estruturalista *Teoria Neoclássica *Desenho organizacional*Departamentalização, Hierarquia *Princípios de administração *Organização formal Ênfase nas Pessoas *Teoria das Relações Humanas *Teoria Comportamental *Organização informal *Grupos e dinâmicas de grupo*Liderança. Motivação *Comunicação Ênfase na Tecnologia *Teoria Estruturalista *Teoria Neoestruturalista *Teoria da Contingência *Interação entre organização formal x informal *Administração de conflitos*Tecnologia, mudança e inovação *Teoria Estruturalista *Teoria de Sistemas *Teoria da Contingência *Interação entre organização e ambiente externo *Incerteza, mudança e inovação*Flexibilidade e ajustamento Ênfase no Ambiente Fonte: Adaptado por Idalberto Chiavenato. Introdução à Teoria Geral da Administração, São Paulo, Makron Books, 1997. 30 3.1 A inserção feminina no mundo dos negócios Apesar das atividades domésticas serem um trabalho em tempo integral, RochaCoutinho (2010) afirma que não rendia à mulher nenhum dos benefícios fornecidos pelo trabalho fora de casa. “A emergência do trabalho como categoria social fundamental começa a surgir a partir do século XVIII, passando a adquirir progressivamente um lugar de destaque na produção subjetiva” (CARRETEIRO 2011, p. 120). Elizabete Bilac, pesquisadora do Nepo-Unicamp, em suas pesquisas realizadas em 1988/89 e 2000/01, percebeu que a inserção feminina no mercado de trabalho e por consequência a reorganização das prioridades na vida das mulheres, está aumentando gradativamente. Cada vez mais as mulheres percebem a necessidade de conquistar sua independência financeira e dedicam-se em qualificar-se profissionalmente, buscando manterse atualizada. A maior diferença consiste na remuneração; pois para as mulheres pagam-se um salário inferior aos homens, mesmo que, ambos exerçam a mesma função. De acordo com Telles (2007) um dos momentos marcantes na história sobre a inserção da mulher no mercado de trabalho, está estritamente ligado ao período da Segunda Guerra Mundial, momento em que os homens eram convocados a participar das batalhas, correndo o risco de não voltar para casa/família, sujeito a interromper seu papel de pai/provedor. Nesse contexto de guerra, aos quais muitos homens que morreram ou ficaram impossibilitados de trabalhar, eram líder de família, não tiveram como permanecer desenvolvendo seus exercícios profissionais. Diante disso, muitas mulheres começaram a ingressar de maneira mais significativa nas fábricas, tendo como diferencial, nessa situação, a necessidade da mão-deobra feminina, sendo permitido que elas assumissem responsabilidades que antes só eram impostas ao sexo masculino. A autora destaca que esse acontecimento possibilitou um espaço para que algumas mulheres pudessem apresentar para a sociedade que suas habilidades não estavam apenas relacionadas aos assuntos domésticos, sendo capazes de exercer outros papéis além daqueles que lhes eram destinados. Rápidas no aprendizado e estimuladas pela competição, assumiram os mais sofisticados ofícios. Apesar da desconfiança, apesar do preconceito, o indisfarçável preconceito mais visível nos países de terceiro mundo, embora também no mundo rico continuasse ecoando - e com que ênfase! – a famosa pergunta de Freud com aquela irônica perplexidade, Mas afinal o que querem as mulheres?!”(TELLES, 2007 p. 670). A afirmação trazida por Rocha-Coutinho (2010) retrata que a vida nas sociedades industriais caracteriza-se por pares de oposição como produção-reprodução, trabalho-lazer, adulto-criança, as atividades realizadas fora de casa são remuneradas enquanto que, dentro de 31 casa, as atividades são realizadas supostamente por amor, com esse novo conjunto de valores, as mulheres foi designado o espaço não produtivo da casa, enquanto que para os homens tornou-se destacado o trabalho produtivo remunerado, no mundo público das fábricas e escritórios, com isso a família assumiu um novo significado, centrado em torno da mulhermãe, os cuidados com a casa, marido e filho(s). Conforme Pires (2011) no período entre a I e II Guerras Mundiais, os homens eram convocados a estarem nas batalhas e nesse momento, as mulheres passaram a ser convidadas a assumir os negócios da família e a posição dos homens no mercado de trabalho, fato que a autora comenta ter sido facilmente aceito pelas mulheres; elas sentiam-se na obrigação de deixar suas casas e filhos para levar adiante os projetos que eram realizados por seus maridos, percebendo que o sustento familiar estava dependendo delas. Além disso, Pires (2011) complementa afirmando que, o próprio mercado de trabalho era convidativo a essa nova população de mulheres que buscavam seu espaço na sociedade, pois o mundo sofreu uma perda significante da mão de obra trabalhadora masculina, emergindo a necessidade de inserir a mulher no âmbito profissional. Neste contexto, afirma Pires (2011) foi percebido que a mulher era desqualificada para o trabalho, desprovida de conhecimentos necessários para atuar em áreas afins, porém com muita disposição e força de vontade. A partir de então, a mulher exercia a mesma função masculina, mas com um salário inferior, porque foi entendido que as mesmas não possuíam qualificações semelhantes aos homens. Contudo é importante ressaltar que essa inserção no mundo do trabalho vem sendo acompanhado, ao longo desses anos, por elevado grau de discriminação. Diante desta realidade Araújo (2007), nos revela que novos cenários foram se configurando quanto ao papel de homens e mulheres no que diz respeito ao trabalho, estabelecendo assim, novos modos de configurações familiares. Atualmente, podemos dizer que não existe um modelo padronizado de família, nem funções especificas para cada sexo. E como consequência da inserção feminina no mundo do trabalho, e suas novas conquistas sociais e econômicas, as mulheres passaram a ser co-provedoras do lar, logo, aumentaram seu poder de negociação e começaram a ter uma postura mais decisiva sobre os assuntos que dizem respeito aos cuidados com a casa e a educação dos filhos, exigindo que estes, fossem compartilhados, ou seja, que a divisão de tarefas passasse a ser mais igualitária. [...] O modelo dual igualitário – homem e mulher provedores e cuidadores – continua sendo o ideal buscado, mas distante da realidade. O modelo mais comum é o de homem provedor e a mulher co-provedora e principal cuidadora. No máximo, quando é possível, a mulher reduz sua carga horária de trabalho, no emprego remunerado, o 32 que no geral interfere em sua capacidade produtiva e competitiva no mundo do trabalho (ARAÚJO, 2007 apud FÉRES-CARNEIRO, 2010 p. 19). Conforme Picanço (2005) a inserção feminina e sua estabilidade no mundo do trabalho tornam-se ações que possuem distintas motivações, onde o autor coloca dois tipos em evidência, a primeira dessas motivações, seria o fato desta mulher que está inserida no mercado de trabalho, promover sua realização individual, ou seja, à vontade de sua independência de ter controle sobre os seus desejos, neste caso a mulher trabalharia por prazer em realizar a tarefa, e pelos benefícios adquiridos desta realização, outro ponto estaria ligado ao fator financeiro, em que neste caso a mulher, exercia suas atividades profissionais, para complementar a renda familiar, por precisar realmente daquele emprego, fato este muito comum na sociedade brasileira. Disso deriva dois sentidos, que não se excluem mutuamente, para o ato de a mulher estar inserida no mercado de trabalho, ou desejar estar inserida, no caso das desempregadas: o trabalho vivido como satisfação e busca de realização pessoal e autonomia, e o trabalho como obrigação e necessidade. (PICANÇO, 2005 p. 150) Segundo Rocha-Coutinho (1994), o grande valor que a mulher possui é o de ser capaz de gerar uma vida em seu ventre, de ser mãe. A maternidade era a maior razão para o reconhecimento feminino. A identidade dessa mulher-mãe, da mulher que cuida da casa, que é intelectualmente inferior ao homem, foi a que norteou o comportamento da mulher burguesa durante muitos anos. No entanto percebe-se que a mulher nesta época estava apenas associada à questão da procriação. As mudanças históricas ocorridas nas últimas décadas abriram novas oportunidades de escolha para mulheres. A separação das duas esferas de atuação, a casa e o trabalho, parece ser assim, uma estratégia empregada pelas mulheres para lidar com essas expectativas contraditórias. Atualmente, o sinônimo de mulher pode estar facilmente relacionado a dinamismo, flexibilidade, competência, entre outros adjetivos. E apesar de todas essas conquistas no âmbito profissional que lhes garantem autonomia e independência, suas atividades não foram substituídas, mas, acrescentadas. De acordo com Rocha-Coutinho (2010), os casos em que as mulheres decidem pedir demissão do emprego, ou diminuir sua carga horária de trabalho, ou abrir seu próprio negócio com horário mais flexível, em sua casa ou em lugar bem próximo, para melhor curtir seu(s) filho(s), são denominadas de “volta ao lar” e que diz respeito as mulheres que abandonaram suas carreiras para se tornarem mães em tempo integral. 33 Conforme Rocha-Coutinho (2007, p. 163) “[...] cuidar de crianças exige uma dedicação de 24 horas por dia”. Portanto, as mulheres que já trabalhavam antes de seu filho nascer e que estavam sujeitas a um horário de trabalho fixo, quando estas, associam à maternidade ao ritmo de vida anterior, podem deparar-se com um elevado nível de estresse e envolver intensas dificuldades em seu estilo de vida anterior. É nesse contexto, que percebemos a diversidade de sentimentos expressados por essas mulheres, em que o nascimento do filho pode ser acompanhado por muita tensão, depressão e/ou sofrimento psíquico. A depressão pós-parto pode ser vista como um dos sinais dessa dificuldade. A chegada de um filho sempre implicou em inúmeras mudanças na vida da mulher, tanto no plano pessoal quanto em termos de alterações em suas prioridades e dos ajustes que têm de ser feitos em sua vida profissional, o caso daquelas que investem em uma carreira. [...] acresce-se o fato de que a mulher que trabalha fora de casa acredita estar perdendo inúmeros episódios importantes na vida do(s) filho(s), deixando de acompanhar mais de perto seu processo de desenvolvimento físico e emocional. (ROCHA-COUTINHO, 2010, p. 220) De acordo com Sorj (2005) a entrada das mulheres no mercado de trabalho se apresenta como algo irreversível, a participação do sexo feminino vem aumentando gradativamente com o passar dos tempos, considerando como um grande agravante as transformações culturais relacionadas à questão de gênero, em que se valoriza a autonomia das mulheres. Esse fator fez com que cada vez mais as famílias contassem com ambos os cônjuges provedores, não destinando apenas para o homem esse papel de provedor do lar. O aumento do grau de escolaridade na vida das mulheres promoveu grandes oportunidades no mundo do trabalho, em que elas tornam-se aptas para desempenhar qualquer função. “Sendo assim, as famílias formadas por casais terão que lidar cada vez mais com as responsabilidades familiares, tendo como referência a inserção de ambos os cônjuges no mercado de trabalho”. (SORJ, 2005, p. 80). 3.2 Licença maternidade: Mais um direito conquistado! Conforme Aguiar (2010) o direito a licença maternidade foi uma grande conquista na evolução da história da mulher, visto que através dele, as mulheres passaram a ter proteção/segurança no seu ambiente de trabalho. De acordo com Mourão (2010), as primeiras leis brasileiras que garantiam os direitos da mulher em relação ao trabalho, se referia à maternidade. Em 1932 foi elaborado um decreto, assegurando a toda mulher-trabalhadora, um descanso obrigatório de quatro semanas 34 antes e quatro semanas depois do parto, nesse período a remuneração era equivalente à metade do valor do seu salário mensal. Segundo Manu (2007) o direito da licença maternidade indica à interrupção provisória do contrato de trabalho, proporcionando à mulher, uma aproximação com seu filho nos primeiros meses de vida. Esse benefício é uma forma de garantir não somente os seis meses de aleitamento materno, como são recomendados pela Organização Mundial de Saúde - OMS, como também fornece um tempo maior para as mães se programarem quanto seu retorno ao trabalho. Contudo, a mesma estaria durante esse período, acobertada para retornar ao seu emprego, após o final dessa licença. De acordo com Mourão (2010) a partir do momento em que se confirma a gravidez até cinco meses após o parto, a mulher não pode ser demitida. Essa estabilidade provisória não se aplica em casos de contrato temporário de trabalho, com prazo determinado para acabar. Conforme Aguiar (2010) após a ratificação da Convenção 103 da Organização Internacional do Trabalho de 1965, foi implementado no Brasil, como direito social, a licença maternidade. Nessa época todos os custos relativos à licença eram pagos pelo empregador, mas a partir de 1974 através da Lei nº 6.136/74 essa despesa passou a ter caráter previdenciário. Mourão (2010) se respalda na Constituição Federal de 1988 para afirmar a atualização do período da licença-maternidade. Este direito legal, foi ampliado para 120 dias. E vale ressaltar que, durante todo o período de afastamento relativo à licença maternidade, no Brasil, tem remuneração integral, ou seja, o salário recebido pelas mães é igual ao que a funcionária recebia quando estava trabalhando ativamente, este é pago pela Previdência Social - INSS. De acordo com a Constituição, esse direito também é válido para as mães adotivas. De acordo com Oliveira (2004) o direito da licença maternidade para as mães adotivas tem períodos distintos, pois eles variam conforme a idade da criança. O autor enfatiza que quando o bebê tem até um ano de idade, a mãe poderá se afastar por 120 dias; no caso da criança de um ano até quatro anos de idade a licença será de 60 dias; a partir de quatro anos até oito anos de idade o distanciamento resume-se em 30 dias; e acima dos oito anos de idade, a Lei não prevê para as mães adotivas, o direito a licença maternidade. No entanto, esse direito somente será concedido após a apresentação do termo judicial comprovando a guarda ou adoção. Através dessa lei, objetiva-se que as mães biológicas e adotivas, fiquem o maior tempo possível com seus filhos. Para tanto, elas não poderão, durante o período da licença, exercer nenhuma atividade remunerada, assim como, também não é permitido colocar a 35 criança em creches, hotelzinhos ou similares, em caso de descumprimento a esta Lei, a empregada perderá imediatamente o direito a licença. A mãe adotiva também tem direito à licença-maternidade, mesmo que o adotado não seja recém-nascido. A lei, ao proteger a maternidade e a infância, não distingue entre mãe biológica e mãe adotiva. Aplicação da Constituição Federal de 1988 (SIMM, 1993 p. 57). Segundo Aguiar (2010) em nome do princípio da isonomia, o Tribunal Superior do Trabalho ampliou o direito a licença maternidade para as mães adotantes, este é concedido para que se obtenha o nobre exercício de cuidar, assim como garantir que não haja discriminação entre filhos adotivos e biológicos. O direito a licença maternidade também garante "a mãe adotiva, [...] assegurar ao recém-nascido os cuidados maternos necessários a todo o ser humano nos primeiros meses de vida." (PRADO, 1995) A licença também oportuniza uma aproximação entre mãe e filho consequentemente fortalecendo os laços afetivos entre eles. A licença maternidade para mães adotantes é garantida através da Lei nº 10.421/02 que entrou em vigor no ano de 2002. Inobstante a legislação trabalhista seja omissa acerca do direito à licençamaternidade da mãe adotante, negar tal direito a esta, contudo, importaria discriminação ao próprio filho adotivo, contrariando-se, assim, a Carta Magna que, ao instituir a licença-maternidade, visou resguardar o interesse social em que o novo ser humano alcance desenvolvimento pleno e satisfatório sob os aspectos físico e psicológico. Ao Estado, enquanto comunidade, interessa a formação de um ser humano hígido, saudável. E nisso é insubstituível o papel da mãe, especialmente nos primeiros meses, seja o filho natural, ou não. Recurso de Revista a que se dá provimento." (PRADO, 1995) Conforme Aguiar (2010) em caso de nascimento de criança morta, ou seja, após o sexto mês de gestação a mãe da à luz a uma criança sem vida, ela terá direito a 15 dias de licença maternidade, mas esse fato ainda não está devidamente regularizado. Ao contrário do aborto, que garante as mães 15 dias de licença de acordo com o artigo 395 da CLT. É considerado nascimento de criança morta quando esta nasce após o sexto mês, pois entende-se que a mesma teria condições de sobrevivência; antes disso, é considerado aborto, visto que o feto ainda estava impossibilitado de sobreviver, devido a falta de formação dos órgãos. Vale ressaltar, que o autor se refere aos abortos ocorridos de maneira espontânea, entendendo-se que, no Brasil, o aborto voluntário é crime. Em relação à licença maternidade brasileira, nossa situação atual é considerada razoável se comprada com outros países. 36 Em alguns países da Europa, o período dessa licença pode chegar a um ano, ou seja, o dobro do que a lei brasileira oferece. No entanto, vale ressaltar que, ao ampliar em 60 dias a licença-maternidade, o Brasil passou à frente da maioria dos países de primeiro mundo, dando um grande passo na área dos direitos humanos. (MOURÃO, 2010) Segundo Martins (2010) a partir da Lei 11.770 de 09 de setembro de 2008, a licença maternidade pode ser ampliada de 120 dias para 180 dias para funcionárias de empresas privadas, inclusive mães adotivas, de forma proporcional. Para tanto, é necessário que durante os 30 dias após o parto, as mães solicitem a prorrogação da licença, caso contrário, esta, não poderá mais ser concedida. A empresa que aderir esse projeto chamado de Programa Empresa Cidadã, aprovado pelo ex-presidente da República - Luís Inácio Lula da Silva - terá incentivo fiscal. Em outras palavras, a empresa poderá deduzir dos impostos, o total integral da remuneração da funcionária pago nos sessenta dias de prorrogação de sua licençamaternidade, sendo vedada a dedução com as despesas referentes ao operacional. Apesar dessa Lei ter sido sancionada em 2008, ela somente entrou em vigor em janeiro de 2010. A lei prevê que durante a programação da licença maternidade a empregada terá direito à remuneração integral. Os dois meses adicionais de licença serão pagos imediatamente após o período dos 120 dias previsto na Constituição. Pela lei os quatro primeiros meses de licença maternidade continuarão sendo pagos pelo INSS. (Fonte: www.radio.camara.gov.br) 37 4 CAPÍTULO III - MULHER-MÃE E TRABALHADORA: APROXIMAÇÃO DA EXPERIÊNCIA Utilizamos critérios metodológicos de uma pesquisa qualitativa, numa perspectiva fenomenológica existencial. Utilizamos a narrativa como metodologia, em que os depoimentos dessas mulheres foram colhidos através de entrevista individual que objetivou colher narrativa de mães quanto a sua experiência de retornar ao trabalho após o período de licença maternidade. Para obtermos melhor compreensão da experiência de ser mãe e trabalhar, buscamos ouvir os depoimentos dessas mulheres lançando a seguinte questão: como é para você, a experiência de retornar ao trabalho após a licença maternidade? A psicologia fenomenológica visa a descrever com rigor, e não deduzir ou induzir; mostrar e não demonstrar, explicitar as estruturas em que a experiência se verifica e não expor a lógica da estrutura; por fim deixar transparecer na descrição da experiência suas estruturas e não deduzir o aparente por aquilo que não se mostra (FEIJÓO,1991, p.33). Com a finalidade de obter depoimentos atuais, delimitamos que as pessoas selecionadas deviam estar retornando ao trabalho em períodos próximos ao momento em que as entrevistas foram realizadas. Para tanto fizemos contato com pessoas que quiseram contribuir para nossa pesquisa. O espaço/local que realizamos as entrevistas foi escolhido pelas próprias mulheres, a fim de oportunizar um ambiente em que as mesmas sentiam-se a vontade. Genericamente podemos dizer que investigar é sempre colocar em andamento uma interrogação. É perguntar. Não se sai em busca da compreensão de um fenômeno tentando aplicar sobre ele uma resposta já sabida sobre ele mesmo. Investigar não é, assim, uma aplicação sobre o real do que já se sabe a seu respeito. Ao contrário, é a ele que perguntamos o que queremos saber dele mesmo (CRITELLI, 2007, p. 27). Acreditamos que o próprio ambiente de trabalho é um fator que pode diversificar os sentimentos relatados por essas mães trabalhadoras, além, é claro, das condições financeiras, físicas e psicológicas que as mesmas se encontram no momento da entrevista. Buscamos compreender todo o contexto que envolve essas mulheres-mães, desde as suas escolhas por babás, hotelzinhos, creches ou parentes, sobre seus investimentos financeiros, seus sentimentos em relação a essa transição – de passar mais tempo longe de seus filhos – enfim, tentamos buscar relatos de como acontece essa experiência na vida das mulheres-mães e trabalhadoras. 38 Para tanto, não utilizaremos um roteiro de entrevistas estruturadas ou semiestruturadas, lançaremos então, para todas as entrevistadas a pergunta disparadora: Como é para você, a experiência de retornar ao trabalho após o período da licença maternidade? E nesse momento, estaremos gravando as entrevistas para posteriormente, transcrevê-las e literalizá-las. Iniciamos nossa pesquisa após a aprovação do Comitê de Ética da Faculdade do Vale do Ipojuca no ano de 2011.1. Todos os contextos utilizados nessa pesquisa nos orientaram a compreender as narrativas dessas mulheres trabalhadoras. Nos debruçamos sobre os depoimentos a fim de compreendê-los de acordo com nossas experiências e com as teorias estudas ao longo desse ano. As narrativas foram gravadas, transcritas e literalizadas após a colheita através da entrevista. O método de análise utilizado foi a “Analítica do Sentido” da autora Dulce Critelli. Seguimos os cincos passos de “movimento de realização” da pesquisadora. 1. Desvelamento – Quando é tirado por alguém, desocultado. 2. Revelação – Quando desocultado, esse algo é acolhido e expresso através de uma linguagem. 3. Testemunho – Quando linguageado, algo é visto e ouvido por outros. 4. Veracização – Quando algo é referendado como verdadeiro por sua relevância pública. 5. Autenticação – Quando publicamente veracizado, algo é, por fim, efetivado em sua consistência através da vivência afetiva e singular dos indivíduos. (CRITELLI, 2007, p. 75) Apresentaremos agora, as entrevistas realizadas com as mulheres-mães trabalhadoras. Entrevistamos 05 mães, buscando compreender - diante suas experiências em relação ao seu retorno ao trabalho após o término da licença maternidade – os sentimentos dominantes na vida das mesmas. Essas pessoas foram escolhidas aleatoriamente, porém enfatizamos a questão de que todas estavam voltando as suas atividades profissionais no período que foram entrevistadas. No que diz respeito aos seus verdadeiros nomes, manteremos sigilo. Entretanto, atribuímos as participantes, nomes a partir dos sentidos emergidos em nós entrevistadoras, ao acompanhar as narrativas dessas mulheres. Iniciamos nossas entrevistas com Dedicação, 24 anos, casada, residente no município de Caruaru. Escolhemos apresentar as narrativas em cores distintas e em outra fonte de letra para discernir do restante do texto. Dedicação, no momento não está exercendo suas atividades profissionais, pois quando a mesma retornou ao trabalho, teve que solicitar seu desligamento, visto que não estava conseguindo conciliar trabalho-família (filho). 39 Lançamos então, a pergunta disparadora: Dedicação, como foi para você, voltar ao trabalho após o término da licença maternidade? Antes mesmo de voltar ao trabalho... Eu já estava pensando... Como é que eu ia deixá-lo... Porque a gente vai ficar longe... Uma semana antes de retornar ao trabalho eu o deixei no hotelzinho para ele ir se acostumando... Mas esse não foi o problema... Porque ele vai pra todo mundo... Não estranha de jeito nenhum... Mas... Eu continuava preocupada... Achando que se acontecer alguma coisa... Eu não estaria perto... Então eu iria me culpar por estar longe... E aquela coisa... A gente deixa com os outros... Vai saber se... Ah! será que tá frio... Será que tá com aquela roupinha quentinha do jeito que a gente coloca... Se secaram o cabelo direitinho para não gripar... Para não ficar tossindo... Na fala de Dedicação podemos perceber que o desconforto em estar longe do seu filho existia antes mesmo dela retornar ao trabalho. O fato da criança se adaptar a lugares e pessoas diferentes poderia ter contribuído para seu retorno. Entretanto, a mesma não conseguiu se ausentar do seu ambiente familiar, demonstrando falta de confiança em entregar os cuidados de seu filho a terceiros e trazendo em sua fala, além da dificuldade de separar-se dele, questões relacionadas ao sentimento de culpa. Será que cuidar dos filhos ainda é uma tarefa da mulher e quando esta opta por trabalhar fora de casa procura encontrar um modo de administrar essa dupla jornada de trabalho e ainda precisa conduzir os sentimentos que emergem ao decidirem deixar seus filhos aos cuidados de outros? Eu voltei ao trabalho no dia 29 de agosto... E sai no começo de outubro... Foi um mês e meio de agonia... De agonia mesmo... Nesse período ele ficou um mês no hotelzinho... E esse tempo foi suficiente para ele adoecer... Pois ele ficou gripado... E depois ele ficou umas duas semanas com minha sogra... Mas a gente pode deixar com a avó... Com a mãe da gente... Com quem for... Mas a gente que tem 40 que está perto... Durante esse trecho da entrevista, percebemos que para Dedicação o trabalho estava sendo caracterizado como um martírio, como algo que dói, que faz sofrer, angustiante. Além disso, ela reforça seu sentimento de não conseguir estar longe, atribuindo a si mesma a necessidade de manter-se próxima. Santos (2005) pontua que a modernidade sempre se mostrou contraditória com relação à mulher, pois se de um lado reforçava a sua permanência no lar, de outro a convocava para o contexto industrial. Nesse cenário onde a mulher começa a transitar pelo espaço público, experienciando esse processo de conhecimento/reconhecimento de territórios, entre a esfera pública e privada, a mulher vive a exigência de garantir sua função doméstica, como também se sente conduzida a envolver-se em novos papéis sociais. E no trabalho... Eu ficava muito preocupada... Não conseguia me concentrar... A cabeça estava em casa e o corpo é que ia trabalhar... Eu ligava direto... Para saber se comeu... Comeu quanto? Comeu direitinho? Comeu a papinha todinha? Tomou suco? Tomou água? E isso é complicado... Interessante pensar como esses sentimentos favorecem uma articulação entre manterse trabalhando e ficar com os filhos em casa e essa situação leva o sujeito a um lugar desconhecido em que tenta achar um lugar próprio e não encontra. Para Santos (2005) esse movimento de estar em algum lugar desejando estar em outro, não conseguindo reconhecer o lugar em que se encontra é entendido como estando em trânsito. Esse termo trânsito é citado pela autora, através de seu trabalho que apresenta a experiência de ser ex-esposa. E ele doente... Eu tive que escolher ou o trabalho ou ele... E claro primeiro vem o filho... Porque trabalho depois eu posso arrumar outro emprego... Fome eu não passo... Eu preferi ficar com meu filho... Porque ele é precioso... Desde o momento que eu soube que estava grávida... E comecei sentir minha barriga mexer... Já mudou tanta coisa em mim... Será que ela pode afastar-se do trabalho por estar numa união conjugal em que o companheiro poderia manter financeiramente a casa? É nítido como essa mãe não conseguia separar o ambiente familiar do ambiente profissional, estando sempre com seus pensamentos 41 voltados para seu filho. Esse sentimento tornou-se tão intenso que a mesma não conseguiu permanecer exercendo suas atividades profissionais, resolvendo assim, afastar-se do emprego para dedicar-se apenas ao seu filho. Essa situação nos remete ao conceito “de volta ao lar” trazida por Rocha-Coutinho (2010). A autora denominou esse termo para designar os casos em que as mães decidem abandonar seu emprego ou diminuir sua carga horária para tornarem-se mãe em tempo integral. Diante de tantos avanços no papel feminino, será que o cuidado com os filhos continua sendo destinados apenas a elas? Será que o homem teria este tipo de atitude? Abandonar o trabalho e ficar em casa cuidando dos filhos? E será que se eles realmente assumissem esse papel a sociedade os veriam com “bons olhos”? Esse fato desta mãe abandonar o trabalho para dedicar-se aos cuidados de seu filho, nos chamou muito à atenção para discutirmos a questão de gênero. De acordo com Scott (1995) a questão de gênero se configura enquanto transformação social, ou seja, as mudanças que ocorrem diante dos novos cenários que surgem na sociedade. Diante desse contexto, a sociedade ainda se expressa de maneira hierarquizada - a mulher submissa ao homem -, através do poder nas relações, definidas a partir do sexo – feminino ou masculino. Entendemos que, mesmo diante das mudanças de paradigmas sociais, com relação à questão de gênero, ainda assim, prevalece a função da mulher como cuidadora dos filhos. No caso de Dedicação, ela solicitou desligamento de seu emprego e se inclinou apenas as atividades domésticas, visto que no caso dessa mãe, ela não conseguiu desempenhar outra atividade que não incluísse os cuidados com seu filho. Diante disso questionamos: será que essa mulher se culpa por essa concepção de que mãe deve se dedicar aos cuidados de sua família, não conseguindo deixá-lo com terceiros? Minha maior dificuldade é deixar ele... Não está perto se acontecer alguma coisa... Se isso acontecesse eu iria me sentir culpada por não estar com ele... Se Deus me livre acontecer uma tragédia?... Isso aí a pessoa carrega para o resto da vida... A culpa por não está por perto... Por não ter conseguido socorrer direito... Foi triste mesmo quando eu o deixei... Eu chorei muito... Muito mesmo... Todo dia quando eu o deixava no hotelzinho... Eu saia chorando... Mas ele nem ligava pra mim... Não olhava nem pra trás... A maior dificuldade dessa mãe é não conseguir estar longe do seu filho. Contudo, percebemos também em vários momentos da entrevista que a palavra culpa é recorrente. Isso 42 pode justificar o fato dela não querer se ausentar, pois existe um medo de que algo ruim aconteça com seu filho durante sua ausência. “A culpa surge como se fosse causa e é vivenciada com um grande desconforto. Entretanto, vivenciar a culpa é estar constantemente acompanhado de uma sensação de conflito consigo mesmo (a), com suas vontades, seus desejos, suas ações” (POMPÉIA, apud Santos, 2005). De acordo com Ximenes (2001) podemos entender culpa como algo que está atrelado por uma ação ou omissão, não intencional, que causa prejuízo a outrem. Neste sentido, nos debruçamos para alguns questionamentos. Será que Dedicação estaria vivenciando o sentimento de culpa em função de suas questões emocionais ou por imposições e valores sociais que atrelam a mulher a essa função e quando não pode ser correspondida essa mulher-mãe vive a culpa social imposta por normas da sociedade? O que é ser mãe para a sociedade? O que é ser mãe para essa mãe? Não trabalhar e dedicar-se em tempo integral aos cuidados dos filhos? Será que tentar conciliar trabalho-família diminuiria sua concepção em relação ao estereótipo do ser mãe? Será que Dedicação vive a maternidade de acordo com os critérios sociais, que muitas vezes impõe a maneira de ser do sujeito? Ou será que essa cobrança parte de sua auto definição do que é ser mãe? No entanto, ser mãe a faz abster-se de qualquer outra atividade que não inclua o cuidado com seu filho. “Ser uma boa mãe não necessariamente implica que as mulheres devam estar centradas exclusivamente nas crianças, de maneira que percam parte de sua própria identidade” (ROSAS, 2009, p. 112). Rocha-Coutinho diz que “Tanto o trabalho quanto a família exigem tempo, energia e investimento emocional, e, muitas pressões internas e externas, levam a mulher a dirigir boa parte de sua energia para a família”. (ROCHA-COUTINHO, 2007, p. 163), esse fato se assemelha a experiência dessa mãe. Durante toda a entrevista Dedicação estava em pé, com seu filho no colo, balançandoo. Entramos em contato com essa mãe por telefone e perguntamos se ela aceitava participar da nossa pesquisa, visto que já tínhamos conhecimento de que a mesma já havia encerrado o período de licença maternidade. Após ela ter concordado com a pesquisa, buscamos encontrar um local e horário apropriados para ela, fomos até sua casa, em que se encontrava ela e seu filho. Gostaríamos de compartilhar nosso sentimento em relação a essa entrevista com 43 Dedicação em que todo o momento ela estava com o filho no colo e suas narrativas eram intercaladas com os cuidados com o mesmo. Será que esse movimento já não fala do modo como Dedicação insere o filho em sua vida, em que não permite ter momentos sozinha e coloca na sua relação com o filho toda sua atenção? Como anda o cuidado consigo? Ao chegarmos à casa de Dedicação ela comentou que a criança estava com sono e perguntamos se ela gostaria de colocá-lo para dormir e nós faríamos a entrevista depois. Interessantemente ela optou por fazer a entrevista com ele no colo e com sono, ao passo que ficou o tempo todo durante a entrevista em pé balançando seu filho, e ele demonstrou-se inquieto. Neste sentido a entrevista clínica se apresenta como um modo de intervenção em que entrevistada e entrevistador se encontram em uma situação relacional em que um interfere no modo de compartilhar sua experiência com o outro. Segundo Tavares (2000) em psicologia, a entrevista clínica é um conjunto de técnicas de investigação, com tempo delimitado, guiado por um entrevistador, que utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de descrever e avaliar aspectos relacionais. O autor enfatiza que o entrevistador deve estar atento aos processos que o sujeito apresenta, e a sua intervenção deve orientá-lo a aprofundar o contato com sua própria experiência. Para nós entrevistadoras, o horário em que realizamos a entrevista, já era tarde e não nos permitiu ficar a vontade, pois se tratava de um bairro distante e desconhecido. Ao pararmos para conversar com a orientadora percebemos que as circunstâncias afetaram o processo da entrevista, pois estávamos preocupadas com o horário. Compreendemos então, que em alguns momentos, não estávamos completamente disponíveis para estarmos juntas, no que diz respeito a nos desprender de nós mesmas; acreditamos que esse fato nos impediu de viver uma relação de troca, nos aproximando de uma coleta de dados, mais do que uma troca de relação, troca de experiência. Nossa segunda entrevistada foi Saudade, ela tem 28 anos, é casada, reside na cidade de Altinho, porém trabalha em Caruaru exercendo a função de auxiliar de serviços gerais. Perguntamos a Saudade: Como foi para você a experiência de retornar ao trabalho após o período da licença maternidade? A experiência para mim foi assim... No primeiro dia que voltei ao trabalho... Foi muito triste ter que deixar meu filho... Ter que me 44 separar dele justamente no período em que eu estava amamentando... Apesar de que... Eu ainda o amamento... Uma grande dificuldade foi ter que interromper a amamentação... E a principal foi ter que deixar ele... Mas... Essa experiência para mim foi péssima... Péssimo assim... Está trabalhando... E o peito ficar sempre apojando... Isso aumenta ainda mais a saudade... Isso é o pior... Durante a entrevista de Saudade percebemos o seu sofrimento ao ter que retornar ao trabalho. Compreendemos por meio de seu relato, a sua dificuldade em ter que interromper o período de amamentação e essa separação segundo ela, foi muito dolorosa. Será que a mulher mãe ao retornar ao trabalho não compromete seu estar no emprego, pois durante todo tempo remete-se ao não desejar estar naquele lugar, sendo esse espaço transformado em um ambiente que promove desconforto e sofrimento. Será que a mulher quando vive seu retorno ao trabalho e depara-se como a situação de estar fora de casa, vive o sentimento de estar em lugar não acolhedor? Correlacionamos com Santos (2005) quando se refere à questão de ex-esposa, em que traz a compreensão do fato da ex encontrar-se des(instalada), “fora de casa”, assim apresenta-se como um ser sem lugar, não conseguindo sentir-se em si mesma; sentir-se como si mesma; sentir-se em casa (morada). Percebemos que essa situação descrita pela autora se assemelha com a experiência desta mãe em retornar ao trabalho. Ser-mãe trabalhadora neste contexto de retorno ao trabalho remete a uma situação de trânsito em que não se sente acolhida em um lugar? Meu filho ficou com minha mãe e meu esposo... Meu esposo trabalha por plantão... Quando ele está folga eu estou trabalhando... Então nós revezamos... Ele fica com nosso filho um dia e eu fico o outro... Foi percebido também, como o comprometimento do seu esposo no que diz respeito aos cuidados com os filhos, a tranquiliza. Pois no horário em que a mesma está trabalhando ele assume o lugar de cuidador, não destinando esse papel apenas a ela. Fica extinguido assim, para essa família, o modelo de família nuclear burguesa, em que os papéis de homem e mulher são predeterminados. No entanto essa família atinge o ideal definido por Araújo (2010) que diz “o modelo dual igualitário – homem e mulher provedores e cuidadores – 45 continua sendo o ideal buscado, mas distante da realidade” Nessa família é visível como não há definições de papéis, sendo homem e mulher provedores e cuidadores. Ao articular a experiência de trabalho com a maternidade, a mulher conta com a participação de outras pessoas que possam colaborar e auxiliá-la para que continue sendo possível a permanência no trabalho e o exercício da maternidade. Vale acentuar a importância em compartilhar os cuidados com os filhos quando o companheiro assume essa função como sendo sua também. Apontando para uma mudança de paradigma nas relações de gênero e, que foge da regra, em ter que atrelar a mulher como única cuidadora, ou atribuir a outras mulheres como mães, sogras ou creches, esses cuidados. O fato do marido de Saudade assumir o papel de cuidador tanto quanto ela, nos remete alguns questionamentos que entendemos ser pertinentes: será que o homem não se implica mais nessa relação paterna porque as próprias mulheres os excluem dessa função? E em meio a uma sociedade machista a qual vivemos, como será que o homem, que quisesse se implicar e se impor como pai, cuidador e provedor, seria visto diante das pessoas? Eu tenho um filho de sete anos e no período que ele nasceu eu não voltei ao trabalho... Pelo fato de ser o nosso primeiro filho... A despesa era menor... Mas agora eu preciso do emprego para ajudar meu marido manter a casa... Mas se fosse para eu escolher eu ficava com meus filhos... Eu ligo para casa quase de hora em hora... Para saber se ele tomou banho... Se ele se alimentou... Se ele dormiu bem... E quando ele adoece eu venho trabalhar apulso... Eu fico fazendo as coisas aqui no trabalho pensando na hora de voltar para casa... Para eu poder estar com ele... Cuidar dele... Assim que eu voltei a trabalhar eu chorava o dia todo... Sentindo falta... E muita saudade... Saudade expressa como se sente no momento em que está trabalhando demonstra sua dificuldade e tristeza em ter que estar naquele lugar, pois a mesma sente muita falta, de não estar perto de seu filho, seu sentimento é o tempo todo de saudade. E essa situação nos remete a pensar na questão de trânsito descrita por Santos (2005), em que o sujeito se encontra em um lugar, que não reconhece, como sendo seu, estando então em uma situação de 46 transitoriedade no mundo. Sendo assim, percebemos essa mãe encontra-se em situação semelhante. Quatro meses de licença maternidade é pouco tempo para ter que voltar trabalhar... Com meu filho mais velho eu tive que sair do emprego porque eu não consegui deixá-lo... Quando ele completou três anos foi que eu consegui trabalhar... Mas essa experiência de deixar com quatro meses e voltar a trabalhar eu não tive... Apesar de ter direito de sair uma hora mais cedo... Eu acho que essa hora não recompensava a ausência dele perto de mim e a minha perto dele... Sinto muitas saudades (choro)... Ela refere-se ao tempo da licença maternidade como pouco, mas será que se a licença maternidade fosse prorrogada seria mais fácil para ela retornar ao trabalho? Visto que de seu primeiro filho ela não conseguiu retornar às suas atividades profissionais. Manu (2007) pontua que o direito da licença maternidade esta associado à interrupção provisória do contrato de trabalho, proporcionando à mulher, um contato inicial com seu filho nos primeiros meses de vida, como também contribui para um tempo maior para que as mães pensem a questão de seu retorno ao trabalho. Entretanto, para Saudade esse período de 120 dias de afastamento não foi suficiente. Será que a questão dessa mãe é realmente o tempo ser curto? Será que se ela tivesse mais dois ou três meses para ficar com seu filho ela conseguiria retornar ao trabalho e ficar mais tranquila? Mesmo dispondo do direito de sair uma hora mais cedo do trabalho, para Saudade não é o bastante, pois ela se emociona ao falar do tempo que passa longe do filho, o que percebemos que gera muito sofrimento. Diante do pressuposto de que o pai deveria se impor mais na relação pai e filho, como seria possível esse fato, no início da vida dessas crianças, visto que a licença paternidade compreende apenas 05 dias de afastamento do trabalho, previsto em Lei? Diante do que prevê a Constituição Federal de 1988, em relação aos direitos iguais, ou seja, a isonomia entre os sexos, será que essa discrepância em relação ao tempo da licença maternidade e a licença paternidade não iria contra o que a própria Constituição diz? Será que os deveres e as obrigações que acabam sobrecarregando as mulheres não começam desde o afastamento do pai no que se refere aos cuidados iniciais com os filhos? 47 Quase sempre quando eu venho trabalhar eu vou e olho ele... Me dá muita vontade de ficar em casa... Se eu pudesse eu não trabalhava... Sempre que eu falo nele eu fico assim... Chorando... Mas saber que ele está com meu marido e com minha mãe me tranquiliza bastante... Mas isso não diminui a minha saudade... Se eu pudesse escolher entre minha família e o trabalho... Se eu tivesse boas condições financeiras... Eu escolheria minha família... Meus filhos e meu esposo... Trabalhar não... O trabalho nesse momento da minha vida está tendo um peso muito grande... O fato de morar em outra cidade dificulta ainda mais... Identificamos em seu depoimento como o trabalho para ela está ligado a necessidade financeira, e esse critério, na nossa concepção, é o que permite a continuação em seu emprego, e esse fato, percebemos que suscita nela, certo desprazer em estar naquele ambiente. Seu sentimento de sobrecarga em estar ali é visível por nós, durante todo o momento da entrevista. O fato de trabalhar por necessidade faz com que ela se perceba na obrigação de permanecer nessa tarefa. Como cita Picanço (2005) o trabalho pode ser entendido apenas pela necessidade financeira e obrigação. O sentido de trabalho para ela está resumindo-se em ter que se afastar de sua família, o que gera muita saudade, apontando o trabalho como fonte de sofrimento para o trabalhador. Dejours (2004) traz que o trabalho pode ser visto como fonte de sofrimento ao trabalhador a depender do modo como o sujeito vive sua relação com o trabalho, a medida que este imprime na subjetividade do trabalhador modos operantes de funcionamento. Sinaliza também que o trabalho na sociedade contemporânea se apresenta como um meio pelo qual o sujeito pode dar um novo significado e sentido a sua vida, o sujeito tem chance de alcançar um reconhecimento social e se torna capaz de dominar suas angústias e, consequentemente, controlar seu sofrimento. Em contrapartida, esse reconhecimento social trazido por Dejours (2004) não é levado em consideração ou percebido como algo fundamental, quando se trata de mulheres que estão vivenciando o período de retornar ao trabalho após a licença maternidade e vivenciam esse momento como uma ruptura do seu ambiente familiar. Outro fator citado por ela que também dificultou seu retorno, está ligado a trabalhar em 48 outra cidade, tendo que se deslocar para chegar a seu emprego. Entrevistamos essa mãe no seu ambiente de trabalho, onde a mesma apresentava-se bastante cansada, pois estava encerrando seu plantão. Nossa terceira entrevistada foi Carinho, ela tem 27 anos, casada, reside atualmente na cidade de Bezerros, trabalha como Gerente de uma loja no comércio. Então perguntamos a Carinho: como foi para você a experiência de voltar ao trabalho depois do fim da licença maternidade? É difícil... É muito difícil... Porque você se acostuma a estar perto 24 horas por dia... E a separação é muito difícil... Sinto muita saudade... Penso o dia inteiro... Preocupa-me também porque ela fica com outras pessoas... Mas para quem precisa trabalhar é assim mesmo... Não pode parar... E assim a vida continua... E tem que se acostumar com a realidade... Percebemos nessa mãe, que sua maior dificuldade em voltar a trabalhar foi, em primeiro lugar, a questão da separação. Durante a gravidez e após o nascimento – período da licença maternidade -, a mãe dedica-se aos cuidados do filho a maior parte de seu dia, e não estar tão próxima de seu filho como antes, tornou-se muito sofrido para ela. Porém, mesmo diante dessa separação que muito sofrimento gerou, ela continua a desempenhar suas atividades profissionais, lidando com essa nova situação de algo que necessita ser enfrentado. E no que diz respeito ao seu bem-estar no trabalho, revela que está sendo muito difícil estar ausente por algumas horas do dia, ela compreende também a sua necessidade de continuar trabalhando e tenta se adaptar a esse fato. No meu caso ela não fica na mesma cidade... Porque quem cuida dela é minha mãe... E minha mãe mora em outra cidade... Facilitava se eu já tivesse uma pessoa na minha casa em quem eu confiasse em deixá-la... Mas eu não tenho... O mais difícil foi isso... Porque chega a hora do almoço ela não está em casa... A casa fica um vazio sem ela... Sinto muita falta... Apenas a vejo a noite... Compreendemos que o fato de sua mãe ser a cuidadora de sua filha, a tranquiliza bastante. Entretanto, demonstra-se incomodada por sua filha não está sendo cuidada em sua própria casa. A separação dita por ela está mais ligada à questão de estar longe de sua filha durante todo o dia, pois, mesmo estando em casa, ela continua longe. Acreditamos que esse seria o fator que mais gera sofrimento para essa mãe, pois sua distância não se remete apenas 49 quando ela está trabalhando, visto que mesmo quando vai para casa, sua filha continua distante, tendo que se deslocar no final de seu expediente para vê-la. Ao ter que encontrar alguém que assuma o cuidado com os filhos novos arranjos diários precisam ser feitos, e muitas vezes, essas novas modificações nem sempre são favorecedores de bem-estar para todos os envolvidos. E estar sempre me deslocando de uma cidade para outra... Algumas vezes minha mãe é que vêm para cá... Minha maior dificuldade foi essa... A saudade é ainda maior... Muitas vezes eu durmo na casa da minha mãe... E no outro dia eu venho trabalhar... Tudo muda... Porque agente só sabe o que é o casamento quando tem um filho... Meu esposo tá assim também... Quando eu durmo lá ele dorme... Ele me acompanha para onde eu vou... Através dessa narrativa percebemos como a chegada de um filho na vida de um casal gera muitas mudanças, mudanças das mais diversas tanto na rotina da casa como na vida dos pais. O momento de retorno ao trabalho dessa entrevistada trouxe uma movimentação nova para todos que estão ao seu redor. Pois para que ela consiga continuar a desenvolver seu trabalho, ela conta com a participação ativa de alguns parentes. Sua relação conjugal também sofreu uma nova configuração, pois o casal não permanece frequentemente em casa, precisando sempre viajar para encontrar sua filha, o que percebemos não está confortável e observamos que essas modificações também provocaram muitas alterações no seu âmbito conjugal. De acordo com Rocha-Coutinho (2010) o nascimento de um filho implica em várias mudanças na vida da mulher, no que diz respeito a suas prioridades, em que ela necessita fazer alguns ajustes em sua vida, tanto no plano pessoal como na sua profissão, no caso das mulheres que investem em uma carreira. Ainda facilita para mim porque a loja é do meu irmão... E ele compreende quando eu não venho trabalhar... Porque eu não voltei completamente... Estou voltando aos poucos... Eu até achava que antes dela nascer eu iria retornar mais cedo para trabalhar... Só que é muito difícil... E assim vou levando até acostumar... Tranquiliza-me porque ela fica com minha mãe... Mas minha cabeça não para de pensar nela... Ligo muito para saber como ela está... Cadê tomou banho... Cadê tá dormindo... Cadê acordou... É muito difícil... Só quem é mãe e que têm que voltar a trabalhar sabe... Não pensava que fosse tão difícil... 50 Percebemos também que ela conta com outros apoios que acabam facilitando essa nova fase de sua vida, como por exemplo, a loja em que trabalha, o proprietário é o seu irmão, o que a ajuda na compreensão desse processo, pois ela tem liberdade para organizar sua carga horária e esses fatores não comprometem sua permanência no emprego. Porém, enquanto está trabalhando sempre pensa na filha, mesmo tendo confiança na pessoa que cuida, ainda assim, ela pontua a complexidade que essa experiência tem para ela. Sinto vontade de parar de trabalhar... Mas o custo de vida é muito alto... E também depois que a gente passa a ter a nossa independência financeira... Ficar depende de marido não dá... Quero comprar tudo que ela precisa... Mas a vontade de ficar em casa é muito forte... Percebemos no mundo atual, que o trabalho como sendo necessário para o sustento da família, está sendo igualmente dividido entre ambos os cônjuges e que o homem não dá mais para trabalhar sozinho, tirando-o assim, esse lugar de único provedor do lar. Mas essa narrativa também aponta para uma nova questão em que a mulher também tem encontrado no trabalho um lugar de reconhecimento pessoal e o trabalho passa a ser um lugar desejado por questões pessoais. Esse momento da narrativa faz lembrar o discurso da mulher atual, que valoriza sua independência financeira, mesmo diante das dificuldades descritas por ela, permanecer em seu emprego é uma escolha. De acordo com Moreno (apud Santos, 2005) a complexidade do mundo das relações humanas se inicia com uma escolha. A mulher de hoje tem a oportunidade de escolher, ou tentar uma maneira de conciliar papéis tão diferentes. Como cita Rocha-Coutinho (1994) apesar de todas essas conquistas no âmbito profissional que lhes garantem autonomia e independência, as atividades dessas mulheres que possuem uma vida ativa profissional, não foram substituídas, mas, acrescentadas. Achei bem pior o primeiro dia... Chorei muito... Imaginava que não conseguiria viver sem ela... Mas com o decorrer dos dias eu fui me acostumando... Tudo na vida tem solução... Mas Deus dá conforto... Quando estou trabalhando sinto muita vontade de ir para casa... Cada dia é uma coisa nova... Vai descobrindo as coisas... E vão existir momentos que eu vou perder... Cada dia é uma novidade... É um sorriso diferente... É colocar a mão na boca... Tentar pegar os objetos... Tudo é novo... Mas assim tem que separar um pouquinho... Aprender a conviver com isso... É 51 angustiante... Dói muito... Justamente pelo fato de estar longe dela... Dá uma angustia... Não estar perto... Passar o dia longe... É duro... Percebemos como essa mãe deseja estar em casa cuidando de sua filha, mas escolhe tentar conciliar todas as suas obrigações, compreendendo que existirão momentos no desenvolvimento da filha em que ela não estará presente, e esse fato se torna comum na vida das mulheres que estão inseridas no mercado de trabalho. Rocha-Coutinho (2010) pontua que no caso das mulheres que trabalham, cresce o fato que se acredita estar perdendo inúmeros episódios importantes na vida de seus filhos, deixando de estar mais próximo para acompanhar o processo de desenvolvimento físico e emocional. Percebemos um sentimento angustiante nessa mãe em relação a não estar presente diariamente para poder acompanhar as descobertas diárias realizadas pela sua filha. De acordo com Heidegger (2002 Apud Santos, 2005, p. 292, 293) “no lançamento desse ser-projeto, angústia se faz presença, não apenas pela ambiguidade de ser propriamente e ser desalojamento. Ela é constituinte do humano, enquanto ser lançado implica encontrar-se outra dimensão: sua própria finitude, apontandolhe o limite real de seu ser pro-jecto”. Para mim o mais difícil é à distância... Não é só fato de voltar a trabalhar... É o fato dela não estar em casa... Porque eu não tenho uma pessoa que cuide dela em casa... Eu já procurei... Mas não acho... E não confio deixá-la com uma pessoa que não conheço... Mas se eu conseguisse essa pessoa... Eu entregaria a ela os cuidados de minha filha... Isso se torna mais complicado para mim... O fato dela não estar na mesma cidade... E passar o dia todo distante... Decidi morar aqui justamente por não me sentir bem indo e vindo todos os dias... Só que agora voltou tudo do mesmo jeito... Tenho minha casa aqui... Mas... Aí pronto é assim... Percebemos que a experiência de retornar ao trabalho após a licença maternidade dessa mãe está associada à dificuldade de sua filha não estar na mesma cidade que ela, e desta maneira tiveram que ser feitos novos ajustes na vida dessa mulher. Antes de sua filha nascer, Carinho morava em outra cidade e diariamente tinha que viajar para chegar ao trabalho; após seu casamento ela mudou-se para a mesma cidade que trabalha, trazendo praticidade e conforto a sua vida, não sendo mais necessário viajar diariamente; e agora se depara com essa situação novamente, tendo que viajar para encontrar sua filha. Por isso, ela tenta procurar outras maneiras de se adaptar a esta nova realidade. Entrevistamos essa pessoa, no seu ambiente de trabalho. 52 Nossa quarta entrevistada foi Cuidado, ela tem 31 anos, é casada, mora na cidade de Bezerros, e trabalha como professora de Educação física. Perguntamos então a Cuidado como foi pra você a experiência de retornar ao trabalho, após o período da licença maternidade? É um pouco complicado... Porque a vontade realmente é de ficar em casa... Mas a gente sabe que a vida continua e temos outros afazeres... Então buscamos forças para retornar ao trabalho... O primeiro dia é que é mais difícil depois a gente vai acostumando... É possível perceber que para essa mãe falar sobre seu retorno ao trabalho não foi algo desagradável. Em nenhum instante, foi observado algum desconforto em reviver esse sentimento, mostra-se muito determinada no que diz respeito a retornar suas atividades profissionais. O fato de ser mãe não a impede de dar continuidade à sua vida, tão pouco em ter que estacionar suas realizações. Seu discurso está inteiramente ligado ao modo de ser mulher na contemporaneidade, pois não resume sua a vida apenas a questão da maternidade, mostra outros interesses e prioridades. Como cita Cavalcanti (2005) a mulher hoje não permite apenas ser mãe e cuidar dos afazeres domésticos, seus horizontes se ampliaram, e apesar de certo desejo de uma vida mais tranquila, ela é constantemente convidada a assumir uma posição de sujeito ativo no mundo público e aceita esse convite. Podemos perceber no texto da autora citada acima que, apesar das mulheres sentirem a necessidade de permanecerem no mundo do trabalho, o seu desejo de ficar em casa cuidando dos filhos ainda persiste. Cuidado demonstra ser uma mulher ativa no mercado de trabalho, e preza pela sua independência financeira, entretanto, revela claramente em sua narrativa essa vontade de permanecer em um contexto mais tranquilo. No meu caso eu trabalho na rede privada e na pública... Voltei inicialmente a dar aulas em um expediente... No outro volto nos seis meses de licença... Isso para mim facilita muito por não ser tempo integral... Não trabalhar em tempo integral? Será que isso não aponta para uma maior habilidade em lidar com as situações de trabalho e maternidade? Já que em diversos contextos a atividade de cuidado com os filhos ainda se apresenta como uma função desempenhada pelas mulheres, será que não poderíamos pensar em uma jornada de trabalho diferenciada para a 53 mulher? Pensar numa articulação deste modo aponta para um olhar diferenciado nas relações de gênero a medida que o discurso é no sentido de uma relação igualitária e o que observamos é que se trata de relações diferentes e neste sentido poderíamos pensar sim em modos distintos de articulação entre maternidade e trabalho olhando assim para relações de gênero como distintas. São apenas cinco minutos de carro para o meu trabalho... No horário da manhã dou duas aulas e volto para casa... Amamento e fico com eles até às três da tarde... O que me ajuda também é que conto com o apoio de uma pessoa muito boa comigo em quem eu confio... Por não ser horário integral dá para conciliar... Eu fico muito tranquila... Agora a experiência é horrível se realmente fosse para ficar em casa seria bem melhor... Realmente Cuidado apresenta uma situação de trabalho em que tem a liberdade de fazer seus horários, contar com o apoio de uma pessoa de sua confiança para cuidar de seus filhos, enquanto está trabalhando. Atualmente trabalha na mesma cidade, fatores esses que muito contribuiu para seu retorno, e por não ser horário integral a deixa mais tranquila. No entanto, não nega seu desejo de continuar em casa com seus filhos, mas compreende sua necessidade de continuar desenvolvendo suas tarefas. Conseguindo assim meios de lidar com experiências tão distintas como trabalho e maternidade. Como pontua Rocha-Coutinho (1994) a separação das duas esferas de atuação, a casa e o trabalho, parece ser assim, uma estratégia empregada pelas mulheres para lidar com essas expectativas contraditórias. É assim... A gente não consegue se desligar do que deixou em casa... É uma ligação muito grande quando a gente tem filho... Mesmo você não estando em casa... Você leva seus filhos... Até no momento de dar as aulas... Mesmo quando você conta com uma pessoa de confiança em casa... Essa relação de mãe e filho... A gente não consegue se desligar mais... Mesmo essa mãe dispondo de alguns critérios, que muitas mulheres trabalhadoras não contam, ainda assim, ela expressa um sentimento de preocupação quando não está perto, revelando assim, como é intensa essa relação. Porém, é nítido em todo o seu depoimento, como ela consegue lidar de maneira muito tranquila com essa situação, mostrando-se muito maleável com a realidade que está vivendo. Como pontua Rocha-Coutinho (1994) atualmente, 54 o sinônimo de mulher pode estar facilmente relacionado a dinamismo, flexibilidade, competência, entre outros adjetivos. Até mesmo quando a gente sai para outros lugares... Sem ser trabalho... Mesmo eles maiores... Como eu já tenho a experiência da minha menina... Ainda assim não é fácil... Porque a relação é muito grande... Eu não consigo me desligar... Mesmo quando eu saio com meu esposo... Só nós dois... Eu ainda fico pensando neles... Mas apesar das dificuldades de quem é mãe e trabalha... Eu ainda quero mais um... Eu curto muito essa fase. Um dos fatores que nos fez perceber o motivo que gerou essa facilidade em viver o retorno ao trabalho após a licença maternidade, foi o fato de Cuidado já ter vivido essa experiência com sua primeira filha, nós percebemos que, esse fato facilitou um pouco a compreensão de como se configura esta experiência para essa mãe, mesmo esse momento sendo único para ela, pois a vivência de ser mãe é diferente na relação com cada filho. No entanto, fazemos uma relação com as particularidades que essa mãe dispõe o que é percebido através de sua narrativa em relação a morar próximo do trabalho, fazer seus horários, ter uma pessoa de confiança e ter transporte próprio, esses fatores, no nosso ponto de vista, contribuem significativamente para facilitar esse processo. Essa mãe foi entrevistada, em sua casa, junto aos seus dois filhos. A quinta entrevistada foi Proteção, ela tem 36 anos, é casada, mora na cidade de Bezerros, e trabalha como Professora da rede Estadual e Municipal. Perguntamos então para Proteção: como foi pra você retornar ao trabalho após o período da licença maternidade? Foi muito difícil... E ainda está sendo muito difícil... A sensação é horrível... Sair e deixar minha filha na mão dos outros... Se eu pudesse eu não trabalhava... Mas eu não posso ficar parada... Eu preciso trabalhar... Infelizmente tenho que deixar uma pessoa tomando conta dela... Se meu marido tivesse condições financeiras... Se ele tivesse seu próprio negócio... Eu 55 deixava o emprego para ficar com ela... Sem pensar duas vezes... Eu ficava com ela... Porque é muito bom ser mãe... A mulher aponta para o modelo hegemônico de relações de gênero como uma situação desejável sinalizando para uma manutenção do homem como provedor e deixando para ela o cuidado com os filhos. Será que a mulher tem encontrado um modo de viver suas novas relações de forma desejável? Ou ela tem atribuído mais funções e vivido essas relações de modo impróprio? Será que após todas as conquistas femininas advindas de tantas lutas, as mulheres desejariam regredir ao ponto inicial, delegando ao homem o sustento familiar? Será que o termo “eu era feliz e não sabia” se encaixa com algumas mulheres que desejam viver a maternidade integralmente e não se importam com os estereótipos atuais que envolvem as mulheres contemporâneas, como por exemplo, a independência, a autonomia, a realização profissional, entre outros? A única coisa que eu não gostei muito foi amamentar... Eu só amamentei por dois meses... Mas foi um período que eu não gostei... Pois meus seios ficaram muito doloridos... Ficou duro... Parecia pedra... Sangrou... Eu tive febre e tudo... Essa experiência para mim não foi boa... Nesse período eu sofri muito... Foi a única coisa que eu não gostei... Mas o restante foi ótimo... Às vezes eu até sinto saudades daquele barrigão (risos)... Percebemos que para essa mãe está sendo muito difícil confiar os cuidados da sua filha a terceiros, expressando seu sentimento de angústia em ter que entregar sua filha para outra pessoa cuidar. Em relação à maternidade, compreendemos que Proteção gostaria de viver a maternidade em tempo integral. Quando eu vou trabalhar eu saio escondida... Para ela não ficar chorando... Porque ela já percebe que eu vou sair... Ela já sabe quando eu estou arrumada... Ela é muito curiosa... E é muito difícil ter que deixá-la... Será que ter que sair escondida para ir trabalhar seja uma maneira que Proteção encontrou para reafirmar a si mesma que a sua filha sente sua falta, percebendo quando ela está prestes a se ausentar? Será que esse fato a conforta? 56 Eu tenho dois empregos... Um pelo Estado e outro pelo Munícipio... O do Estado eu ainda estou afastada... Porque eu tirei a licença maternidade e após esse período eu entrei de licença premia... Eu voltei somente a dar aula no período da tarde... Na escola do Município... Ainda assim é difícil... Nos primeiros dias eu saia com o coração na mão... Muito preocupada... Mas Graças a Deus a menina que cuida dela está fazendo tudo certinho... Apesar dela só ter 18 anos... Ser bem novinha... Graças a Deus está dando certo... Ela é muito carinhosa... Mas vocês sabem como é mãe... Quando eu chego em casa... Eu olho ela todinha... Porque a gente vê tanta coisa acontecendo... Compreendemos que para essa mãe mesmo tendo voltado somente para um emprego, ela ainda está se sentindo incomodada. Proteção revela que apesar da menina que cuida de sua filha ser carinhosa, ainda assim demonstra muita preocupação em relação a jovem, apresentando dificuldade em confiar na mesma, isso pode se justificar pelo fato dessa mãe ser muito cuidadosa e se preocupar demais quando está ausente. Será que essa preocupação pode estar atrelada aos problemas sociais atuais trazidos pela mídia enfatizando a questão dos maus tratos ocorridos com crianças quando estas se encontram aos cuidados de terceiros? Ou fala de sua dificuldade de articular as funções de cuidado enquanto mãe impondo-se nesse papel, mesmo quando está trabalhando? E eu ainda tenho a vantagem de ficar em casa o período da manhã... E a tarde quando eu chego do trabalho eu brinco muito com ela... Depois é que eu vou tomar banho... E no próximo ano eu espero que a menina que cuida dela esteja disponível para ficar aqui o dia todo... Porque minha filha já está acostumada com ela... Elas estão tão apegadas... Que eu fico até preocupada... Será que a minha filha vai se apegar mais a ela do que a mim?... Principalmente no ano que vem... Que eu vou passar praticamente o dia todo 57 fora de casa... Mas sempre quando eu chego... Eu dou muita atenção a ela... Depois é que eu vou fazer as outras coisas... É constante sua preocupação em relação ao ano que vem, pois ela terá que assumir suas atividades profissionais em tempo integral. Apesar de que, nesse período sua filha estará com mais de um ano, mas esse fato aparenta não tranquilizá-la. Como já dissemos nos parece que Proteção sente muita aflição em deixar sua filha com outra pessoa, apesar de todos os atributos positivos que ela delega a jovem. Contudo, Proteção nos traz uma sensação que sua angústia não se destina apenas a uma possível falta de confiança na pessoa que está cuidando da criança, está relacionada também ao seu desejo de ficar em casa e dedicar-se à filha. Mas será que essa relação babá-filha e vice-versa, lhe remete um medo em relação aos sentimentos que sua filha lança sobre a jovem, e ela teme perder o seu lugar de mãe cuidadora, pelo fato de se ausentar durante algumas horas do dia? No trabalho eu olho o relógio de hora em hora... Ainda bem que eu tenho uma pessoa da minha confiança para cuidar dela... Muito carinhosa... Mas com tudo isso ainda é muito difícil... Muito mesmo... Eu fico pensando como será que ela está?... Será que está bem com aquela pessoa?... Será que ela está cuidando direitinho?... Será que ela deu a mamadeira?... Assim que eu chego ao trabalho eu ligo para saber como é que ela está... Se está bem... Se está dormindo... No próximo ano vai ser ainda mais difícil... Porque eu vou trabalhar os dois horários... Vou vê-la praticamente somente a noite... A saudade vai ser grande... Porque o meu tempo vai ser bem corrido... Na hora do almoço vou dar um cheiro nela... Almoçar... Tomar banho e ir embora... Depois eu só vou vê-la à noite... Quando eu chegar do trabalho é que vou ter um pouco de tempo para ficar com ela... E nos fins de semana... Vai ser muito corrido... E eu vou continuar com os dois horários porque eu preciso mesmo... 58 Proteção revela como é angustiante ter que está trabalhando, e que na realidade sua vontade de fato é estar casa com sua filha, e trabalhar não nos parece ser uma atividade satisfatória para ela. Pois, permanece em seu trabalho com a expectativa de que o tempo passe rápido para ela voltar para casa, o trabalho então parece ter uma carga que excede seu desejo. De acordo com Picanço (2005) a estabilidade da mulher no mundo do trabalho se dá por motivações bem distintas: a primeira remete a questão da satisfação em ter sua independência financeira, realizar-se profissionalmente, ou seja, por prazer e a segunda, que correlacionamos com essa mãe, tem haver com o fato de ter que trabalhar a fim de realizar outros objetivos e por isso ela precisa (por mais difícil que seja essa relação trabalho-maternidade), conciliar trabalho-família. Segundo o autor citado, isso é um fato muito comum na nossa sociedade. Mas se eu pudesse... Eu só ficava com um emprego... Assim eu daria mais atenção a ela... Nessa fala, será Proteção está apontando para um trabalho de tempo parcial como uma alternativa para viver a maternidade e o trabalho de modo mais tranquilo? E se eu tivesse a minha mãe... Eu ficaria bem mais despreocupada... Porque eu teria certeza que ela estava com uma pessoa da minha total confiança... A gente confia nessas pessoas... Mas... Não é como a mãe... Como um parente... De qualquer forma... Eu tenho parentes que moram próximo da minha casa... Eu peço a eles que sempre que estiverem passando pela frente da minha casa... Que entrem para dar uma olhadinha nela... Mas é assim mesmo... A vida continua... O fato de não poder contar com um parente para entregar os cuidados da sua filha, dificulta bastante esse retorno ao trabalho, no caso dessa mãe. Concluímos nossa entrevista com Proteção com o sentimento de que sua maior dificuldade em retornar ao trabalho foi não ter sua mãe ou um parente próximo por perto, para ficar cuidando da sua filha, pois ela valoriza sobremaneira a questão dos laços familiares. Percebemos o quanto ela insiste em confiar na jovem, porém, é nítido esse sentimento desconfortável de ter que deixar sua filha com uma pessoa estranha, no sentido de não ser parente. Será que para a mulher manter sua 59 relação com o trabalho se faz necessário contar com a participação dos familiares e/ou outros parentes no que se refere aos cuidados com os filhos? 60 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O objetivo deste trabalho foi compreender a experiência das mulheres no período em que elas estão retornando ao trabalho após o término da licença maternidade. Apresentamos um recorte histórico dos paradigmas e estereótipos pertencidos ao ser mulher; à luta feminina pela isonomia entre os sexos; a história do trabalho; discutimos o papel da mulher e sua inserção no mundo dos negócios; contextualizamos o direito da licença maternidade e entrevistamos cinco mães que estavam retornando ao trabalho por ter finalizado o período da licença maternidade. No entanto, enfatizamos nosso interesse em pesquisar sobre esse tema, pois entendemos que é justamente nesse período de voltar às práticas profissionais, que elas se deparam com sentimentos ambíguos, no que diz respeito ao desejo de cuidar de seus filhos, e de voltar a desenvolver suas atividades profissionais. Neste sentido, procuramos compreender qual o sentimento dado a essa experiência? E por meio das narrativas apontamos algumas compreensões que essas mães apontaram quanto a questão: trabalho e maternidade. Considerando os depoimentos ao longo deste trabalho, percebemos por meio das narrativas dessas mulheres-mães-trabalhadoras, como cada uma vive essa situação. Então tentamos nos aproximar do sentido que cada uma delas atribui a essa experiência, baseadas numa perspectiva fenomenológica existencial. Atribuímos nomes a cada uma das mães, de acordo com o sentido percebido por nós durante a literalização das entrevistas, pois cada uma demonstra um sentimento diferente expressado nessa experiência de retorno ao trabalho. As letras e as cores que literalizamos as entrevistas foram escolhidas aleatoriamente. Atribuímos a Dedicação esse nome pelo fato dela ter se desligado do trabalho para dedicar-se apenas com os cuidados de seu filho, não confiando deixá-lo com terceiros, escolhendo afastar-se de seu emprego para viver a maternidade em tempo integral. Saudade diz respeito ao sentimento vivido por essa mãe, pois quando volta ao emprego, e encontra-se distante de seus filhos, vive intensamente esse sentimento, percebido por nós em sua narrativa. Ela se refere ao trabalho de uma maneira muito negativa, pois deseja imensamente apenas cuidar de seus filhos. Em Carinho, percebemos que quando ela fala de sua filha, deseja estar junto para abraçar, beijar, sendo sua narrativa permeada de sentimentos que se apresentam de forma muito carinhosa. Ela trabalha, pois preza por sua independência financeira e se refere, em especial, a intenção de comprar os objetos pessoais da filha sem ter 61 que depender de ninguém. O nome Cuidado foi escolhido para apresentar essa mãe pela maneira que ela cuida de seus filhos, pois, assim como as outras mães, ela vive o desejo de permanecer em casa, mas atribui ao trabalho um lugar fundamental em sua vida, como forma de garantir sua independência e autonomia, não deixando contudo, que esse fato impeça ou substitua a importância que a maternidade tem na sua vida. A escolha do nome de Proteção surgiu a partir do desejo, nitidamente expresso por essa mãe, em destinar seu tempo para cuidar de sua filha, e em seu depoimento menciona que gostaria que seu esposo fosse o único provedor do lar, para estar sempre perto de sua filha. Desta maneira foi possível perceber como cada uma das mães vive essa experiência de maneira diferente; no entanto, nos chama à atenção, o fato de quatro mães apresentarem atitudes e até mesmo relatos verbais semelhantes com relação aos cuidados com filho, assim como sinaliza Dedicação referindo-se desta maneira: Eu ligava direto... Para saber se comeu... Comeu a papinha todinha? Tomou suco? Tomou água? E isso é complicado... Será que esta com aquela roupinha quentinha do jeito que a gente coloca... Saudade diz: Eu ligo para casa quase de hora em hora... Para saber se ele tomou banho... Se ele se alimentou... Se ele dormiu bem... Percebemos esse sentimento na fala de Carinho... Quando diz: Cadê tomou banho... Cadê está dormindo... Cadê acordou... Também observamos na fala de Proteção quando ela coloca: Eu fico pensando como será que ela está?... Será que está bem com aquela pessoa?... Será que ela está cuidando direitinho?... Será que ela deu a mamadeira?... Assim que eu chego ao trabalho eu ligo para saber como é que ela está... Se está bem... Se está dormindo.. A preocupação como o filho é recorrente nas narrativas dessas quatro mães, no entanto cada uma vive essa situação de maneira singular, no que se refere ao sentido atribuído e sentimento vivido. Mas podemos perceber que essa situação gera um desconforto para elas, pois o tempo inteiro o seu pensamento está ligado a questões que envolvem seus filhos. Será que depois que se é mãe a mulher não vive mais sem perceber-se como tal? Que sentimentos são esses que tomam essas mulheres-mães-trabalhadoras? O desejo de estar perto cuidando dos filhos, se faz presente nas narrativas de Saudade e Carinho: Mas se fosse para eu escolher eu ficava com meus filhos... (Saudade). Carinho expressa esse desejo quando fala: Mas a vontade de ficar em casa é muito forte... Nesse sentido Cuidado pontua: Porque a vontade realmente é de ficar em casa... Sendo percebido também na narrativa de Proteção quando se refere desta forma: Se eu pudesse eu não trabalhava... Sem pensar duas vezes... Eu ficava com ela... 62 Entretanto, na narrativa de Dedicação é possível perceber que ela não conseguiu conviver com esse sentimento de manter-se distante de seu filho para trabalhar relatando assim: Antes mesmo de voltar ao trabalho... Eu já estava pensando... Como é que eu ia deixálo... Porque a gente vai ficar longe... Eu preferi ficar com meu filho... No caso desta mãe ela optou por se distanciar de suas atividades profissionais para dedicar-se apenas aos cuidados de seu filho. A questão da experiência em retornar ao trabalho aparece de maneira única em todas as narrativas, pois cada mãe mostra sentidos diferentes para manter-se trabalhando. Porém, percebemos por meio dos depoimentos dessas mulheres, que ao retornar as suas atividades profissionais, encontram-se em momentos semelhantes, pois o desejo de estar em casa com seus filhos durante o período que estão ausentes, continua muito forte em meio aos sentimentos das mesmas. Diante desse contexto elas vivem uma ambiguidade de sentimentos, e que vão tentando, cada uma de sua maneira, conviver com eles. Articulando a experiência dessas mulheres-mães-trabalhadoras, com a experiência de ser ex-esposa apresentado por Santos (2005) encontramos para essas mães o não lugar, para designar seu lugar no espaço. Pois o desejo de estar em casa enquanto está no trabalho, nos fazer refletir sobre esse desejo angustiante, não realizado - pelo menos enquanto elas estiverem trabalhando - e, querendo estar em casa com os filhos. De acordo com a autora nos seus estudos de ex-esposa, ela define essa situação de trânsito, como sendo um lugar não conhecido, não familiar, em que o sujeito se encontra em contexto de des-lugar. Este lugar aponta um sentido de deslocamento: “encontrar-se em diferentes cenários, nutrir outros pertencimentos e re-significar experiência enquanto sujeito” (SANTOS, 2005, p.313). Diante dessa atribuição que a autora relaciona a situação de ex, percebemos que isso acontece também na situação de retorno ao trabalho, experienciado por essas mães, que vivem esse sentimento de estar trabalhando, mas desejando estar em casa. Percebemos o quanto é doloroso esse retorno, independente dos motivos que façam essas mães retornarem ao trabalho, a separação que ocorre com o filho causa sofrimento. Suportável. Mas, sofrimento! E que cada mãe atribui o seu sentido. Deste modo nos deparamos com realidades diferentes e similares entre si, pois independente de classe social, a mulher que acolhe a função materna, se vê no meio de inúmeros sentimentos diferentes que emergem, pois de um lado gostariam de cuidar de seu filho e de outro sentem a necessidade de manter-se no mercado de trabalho. Então, percebemos que cada mulher passa a procurar suas maneiras, para administrar todas as sensações adquiridas desta experiência. 63 Neste sentido, Santos (2005) diz que ser ex-esposa é estar em um momento de mudança pessoal, interna e existencial e nós correlacionamos esse momento como sendo também o sentido atribuído à experiência das mães que trabalham e vivem o período da licença maternidade e em seguida se vêem diante da situação de “ter” que voltar ao trabalho. No entanto, questionamos o papel masculino durante esse momento em que a mulher está retornando ao trabalho, enfatizando que a tarefa de cuidar dos filhos também é função dos pais. Diante das narrativas que apresentamos, apenas na situação de Saudade seu companheiro apresenta-se como cuidador de sua família, e nos faz refletir que mesmo diante de inúmeras mudanças no que diz respeito aos paradigmas sociais, ainda é destinado a mulher o papel de cuidar dos filhos. Essa realidade nos implica a repensar algumas questões, como por exemplo, o tempo da licença paternidade que não disponibiliza para o homem um período prolongado para viver essa experiência, permanecendo assim de maneira muito acentuada essa tarefa como atividade exclusiva do sexo feminino. Podemos refletir também, que o tempo da licença paternidade não é suficiente para realizar a inicialização desse processo de aproximação, dessa relação pai-filho que está surgindo. Compreendemos que essa experiência de ser mãe e trabalhar exige muitos ajustes na vida da mulher que deseja assumir a maternidade, como foi o caso dessas mulheres que entrevistamos. 64 REFERÊNCIAS AGUIAR, R. P. de. Licença maternidade para pais adotivos. Disponível em: <www.slideshare.net/.../licena-maternidade-para-pais-adotivos> acessados em nov 2011; ARAÚJO, M. F. Família democrática: uma nova tendência? In: FÉRES-CARNEIRO Terezinha (org). Casal e Família: Permanências e rupturas. 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