ÁREA TEMÁTICA: 5- Políticas Públicas em Educação Especial para alunos superdotados. PROGRAMAS DE ATENDIMENTO A SUPERDOTADOS: ANÁLISE SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA NA ÁREA CAMPOS, Carolina Rosa 1 SILVA, Talita Fernanda da 2 RIBEIRO, Walquiria de Jesus 3 NAKANO, Tatiana de Cássia 4 RESUMO: A temática altas habilidades/superdotação envolve a abordagem de uma diversidade de questões, dentre as quais se destaca o funcionamento dos programas de atendimento ao aluno superdotado. Este estudo teve como objetivo analisar a produção científica sobre estes programas nas bases de dados nacionais Scielo, Pepsic e CAPES, utilizando-se para as buscas as palavras-chaves “superdotação”, “superdotados” e “altas habilidades”, de forma isolada e sem delimitação de período consultado. Dessa maneira, um total de 389 trabalhos foram encontrados, sendo que, desses, foram selecionados apenas os que faziam menção a programas de identificação e desenvolvimento de superdotados, em um total de 47 estudos (Scielo n=4; Pepsic n=1; CAPES n=42). Foram excluídos os trabalhos repetidos (constantes em mais de uma base de dados) e todos aqueles que não tivessem relação com a temática. Assim, os mesmos foram analisados quanto às categorias: ano de publicação, região brasileira a que pertenciam os pesquisadores, tipo de programa envolvido, amostra e instrumentos utilizados. Os resultados demonstram que o número de trabalhos publicados na temática vem se ampliando nos últimos anos, tendo-se observado que, os anos de 2005, 2009 e 2010 concentraram o maior volume de estudos (7 por ano). Observou-se que os trabalhos publicados estão vinculados a instituições localizadas, em sua maioria, na região Sudeste (40,43%), seguido das regiões Centro Oeste e Sul (25,53% cada). Quanto ao tipo de programa, 24 possuíam foco na identificação de superdotados, seis em enriquecimento, 15 em desenvolvimento e nove em salas de recursos, tendo-se encontrado, em alguns trabalhos, foco em mais de um tipo de programa. As amostras mais frequentemente investigadas nos programas foram alunos (48%) e professores (32%). Em relação aos instrumentos utilizados, verificou-se que poucos são os instrumentos de avaliação que vêm sendo utilizados na temática, sendo as entrevistas semi-estruturadas (19,61%), os questionários (5,65%), Raven e Técnicas de Observação (3,77% cada), os mais encontrados. Conclui-se que a utilização de programas de identificação e de desenvolvimento vem sendo, cada vez mais utilizados com o decorrer dos anos, o que demonstra a importância dos mesmos no campo científico, assim como das pesquisas que abordem a temática. Estudos maiores podem contribuir para a expansão e utilização dos mesmos dentro da temática. Palavras-Chave: Altas Habilidades; Superdotação; Talentos; Identificação. 1 Mestranda PUC-Campinas, bolsista CNPQ. E-mail: [email protected] Mestranda PUC-Campinas, bolsista CNPQ. E-mail: [email protected] 3 Mestranda PUC-Campinas, bolsista CAPES. E-mail: [email protected] 4 Doutorado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Brasil. Professor Titular da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Brasil. E-mail: [email protected] 2 ABSTRACT: The theme of high ability / gifted approach involves a range of issues, among which stands out the operation of service programs gifted student. This study aimed to analyze the scientific literature on these programs in national databases SciELO, and CAPES Pepsic, using the search for the keywords "giftedness", "gifted" and "high skills" in isolation and without delimiting period consulted. Thus, a total of 389 papers were found, and these, we selected only those who made mention of programs for the identification and development of gifted students in a total of 47 studies (n = 4 Scielo; Pepsic n = 1; CAPES n = 42). We excluded repeated work (listed in more than one database) and all those who were unrelated to the topic. Thus, they were analyzed according to categories: year of publication, the region belonged to the Brazilian researchers, program type involved, the sample and instruments used. The results show that the number of published papers on the topic has been expanding in recent years and it was observed that in the years 2005, 2009 and 2010 focused the bulk of the studies (7 per year). It was observed that the papers published are linked to institutions located mostly in the Southeast (40.43%), followed by the Midwest and South regions (25.53% each). Regarding the type of program, 24 had focused on the identification of gifted students, six in enrichment, development and nine in 15 in resource rooms, having been found in some studies focus on more than one type of program. The samples investigated more often in the programs were students (48%) and teachers (32%). Among the tools used, it was found that there are few assessment tools that have been used in the theme, and the semi-structured interviews (19.61%), questionnaires (5.65%), Raven and Observation Techniques (3.77% each), the most frequent. It is concluded that the use of software for the identification and development has been increasingly used with the passage of time, which indicates their importance in the field scientific research as well as on the theme. Larger studies may contribute to the expansion and use of them within the theme. Keywords: High Skills, Giftedness, Talent, Identification. INTRODUÇÃO Observa-se, no cenário internacional, um crescente interesse no atendimento diferenciado aos alunos que se destacam por um desempenho acadêmico ou potencial intelectual superior, segundo Alencar e Fleith (2005), embora, segundo as autoras, no Brasil, os superdotados constituam um grupo que é pouco compreendido e bastante negligenciado. Isso porque há poucos programas direcionados para atender suas necessidades e favorecer o seu desenvolvimento, indiferentes à criação de políticas voltadas à educação do superdotado e talentoso, de forma que constata-se uma grande distância entre as propostas do Ministério da Educação (notadamente a Lei de Diretrizes e Bases e o Plano Nacional da Educação) e as práticas que vêm sendo desenvolvidas no país. Tal quadro também foi apontado por Pérez (2003) ao afirmar que, principalmente o Plano Nacional de Educação, publicado em 2001, determinava, na época da sua criação, prazos curtos e médios para o levantamento estatístico, formação de professores, oferta de cursos de nível médio e superior e de habilitação específica, estruturação da infraestrutura física, político-administrativa e pedagógica e implantação de serviços para o atendimento multidisciplinar desta população, cuja implementação deveria ser garantida até, no máximo, o ano 2011, o que, no entanto, não ocorreu. Indiferente à importância já reconhecida de se estabelecer ações pedagógicas adequadas que venham ao encontro com as necessidades educacionais especiais, sociais e emocionais que carecem, como por exemplo, por meio dos programas de atendimento, (Fortes & Freitas, 2007) o que se nota é que, até hoje, pesquisadores apontam que esses alunos não têm sido estimulados nas escolas brasileiras. Dessa maneira, desrespeita-se o direito de todas as crianças terem oportunidades de desenvolverem ao máximo suas potencialidades, embasado no principio do direito dos alunos com altas habilidades receberem um atendimento especial adequado. Nesse sentido, Germani, Costa e Vieira (2006) salientam que são poucas as ações desenvolvidas para o segmento da população superdotada, confirmando o mito de que esse individuo não precisa de um atendimento especializado porque é superdotado ou ainda devido à dificuldade de se enquadrar esses sujeitos como integrantes da educação especial. Os prejuízos da ausência de identificação e estimulação poderiam ser notados, segundo Negrini e Freitas (2008), sob a forma de fracasso escolar e até evasão desse ambiente. Assim, diversos autores têm reforçado a importância, tanto da identificação, quanto do atendimento a essa população. Como apontam Oliveira e Anache (2005), é essencial que o aluno com altas habilidades seja atendido, tendo-se como objetivo principal oportunizar um bom desenvolvimento de suas capacidades ou habilidades, com o interesse de oferecer a esses alunos satisfação e realização pessoal. Mesmo naqueles casos em que a avaliação aprofundada não possa ser adequadamente realizada, Pérez (2009) salienta que não há nenhum prejuízo se a pessoa ingressa num programa de atendimento mesmo que, no seu decorrer, não se confirmarem os indicadores, visto que apenas teremos oferecido a ela as oportunidades de enriquecimento educacional diferenciadas que todos deveriam ter (indiferente ao fato de se ter ou não um diagnóstico de altas habilidades). Isso porque, conforme salientado por Souza e Freitas (2004), os objetivos de um programa para portadores de altas habilidades devem favorecer o crescimento pessoal e a interação social, através de atividades que enriqueçam suas necessidades cognitivas, afetivosociais e especiais, e não apenas a conteúdos programáticos que envolvam somente o desenvolvimento intelectual. Nesse sentido, as autoras ressaltam que uma das alternativas de atendimento são os programas de enriquecimento, que possibilitam aos participantes perceberem suas aptidões e desenvolvê-las. Os programas de enriquecimento estão baseados nas pesquisas de Renzulli (1994), que salienta que a escola pode promover estes programas utilizando-se de recursos humanos disponíveis na comunidade ou mesmo professores especializados. Essas atividades podem ser desenvolvidas tanto individualmente, através de um estudo independente ou por meio de grupos pequenos onde atividades são implementadas seguindo linhas de interesse dos alunos podendo ainda, segundo Alencar e Fleith (2001), acontecerem em salas de aula do ensino regular, como também em salas especiais, tendo-se como um dos principais modelos desse tipo de acompanhamento, o Modelo de Enriquecimento Escolar desenvolvido por Joseph Renzulli. O Modelo Triárdico de Enriquecimento surgiu como uma proposta de seguimento à sua concepção de superdotação baseada no Modelo dos Três Anéis, conforme aponta o próprio Renzulli (2004). Neste modelo, o autor ressalta uma proposta capaz de trazer novas oportunidades de desenvolvimento ao aluno, quando comparado ao acompanhamento baseado tanto na abordagem de aceleração de conteúdo como aquela baseada num conglomerado de atividades de enriquecimento. Segundo o autor, estas atividades têm seus méritos, no entanto, ele está mais voltado para o desenvolvimento das habilidades no campo da superdotação acadêmica. No Brasil, algumas atividades vêm sendo desenvolvidas no intuito de promover espaços de desenvolvimento do potencial de alunos com altas habilidades/superdotação. Antipoff e Campos (2010) comentam que esse interesse surgiu por volta do ano de 1929 quando a educadora Helena Antipoff chama a atenção para a necessidade de alternativas educacionais que pudessem atender o pleno desenvolvimento desses alunos. A partir de então, se tem o registro do primeiro atendimento em educação especializada direcionada aos “bemdotados” como assim os identificava, no ano de 1945, na Sociedade Pestalozzi no Rio de Janeiro. Segue-se assim, a preocupação por parte do Ministério da Educação em atender as necessidades de desenvolvimento educacional dos superdotados, identificando-se, conforme aponta Almeida e Capellini (2005) algumas atividades pontuais tanto em escolas públicas como privadas. Dentre essas experiências, as autoras citam umas das primeiras iniciativas no Estado de São Paulo em 1972, através do Programa Objetivo de Incentivo ao Talento (POINT), com proposta de orientação às famílias, avaliação e oferta de atividades extracurriculares aos alunos superdotados. Além de outros, as autores ainda mencionam, atualmente, o funcionamento do Programa de Atendimento ao Aluno Superdotado da Secretaria de Educação do Distrito Federal que, baseado no Modelo Triádico de Renzulli, desenvolve um trabalho reconhecido de desenvolvimento do potencial de alunos superdotados. Destaque nesse contexto cita-se ainda a experiência desenvolvida em Lavras/MG desde 1993, um modelo bem sucedido, conforme aponta Pereira e Gonçalves (2007), através do CEDET – Centro de Desenvolvimento do Potencial e Talento, com um programa de desenvolvimento de talentos integrado ao sistema escolar, envolvendo uma metodologia direcionada para o trabalho educativo com as crianças, assim como para o espaço físico e social onde as atividades são realizadas. Maia-Pinto e Fleith (2004) destacam que, além dos programas de enriquecimento adotados como práticas educacionais para o acompanhamento de alunos com altas habilidades/superdotação têm-se a compactação, a modificação ou diferenciação curricular e a aceleração do aluno superdotado. As autoras caracterizam a aceleração como um processo que permite a mobilidade do aluno para séries diferentes ou para classes especiais, onde ele possa avançar em matérias de acordo com suas necessidades e a modificação ou diferenciação curricular, entendida como estratégia baseada na oferta de atividades desafiadoras de modo a atender os interesses, desenvolver o potencial e promover maiores realizações acadêmicas do aluno (Alencar & Fleith, 2001). Considerando os programas de atendimento a superdotados como foco desta pesquisa, o objetivo foi acompanhar como esses programas vêm sendo utilizados na literatura científica (através das bases de dados científicas), quais os tipos de programas realizados atualmente e como a temática vem se expandindo no decorrer dos anos. MÉTODO Material Resumos publicados nos bancos de dados da SCIELO, PEPSIC e CAPES, totalizando 47 trabalhos que enfocam os programas de atendimento a superdotados. Procedimentos Para dar início ao trabalho, foi realizada uma busca a partir das palavras-chaves “superdotação”, “superdotados e “altas habilidades”, separadamente, em três bases de dados eletrônicas, sendo elas Scielo, Pepsic e CAPES, sendo encontrados 389 resumos. Posteriormente, uma seleção foi feita com o objetivo de focar em resumos que abordavam o uso de programas de identificação, desenvolvimento e/ou enriquecimento de superdotados. Deve-se salientar ainda que foram excluídos os trabalhos repetidos (constantes em mais de uma base de dados) e todos aqueles que não tivessem relação com a temática. Dessa maneira foram selecionados um total de 47 resumos, sendo 4 provenientes Scielo, 1 do Pepsic e 42 da Capes. Os resumos foram analisados quanto às categorias: ano de publicação, região brasileira a que pertenciam os pesquisadores, tipo de programa envolvido, amostra e instrumentos utilizados. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir das análises feitas através dos resumos, foi possível traçar o estado da arte sobre os programas de atendimento que vem sendo desenvolvidos na área da superdotação. Figura 1. Número de trabalhos encontrados por ano. De acordo com a Figura 1, pode-se observar, de uma forma geral, um aumento no interesse pela temática, pontuando os anos de 2005, 2009 e 2010 como aqueles que concentraram o maior número de publicações. Dessa maneira, pode-se verificar que mostra-se recente o interesse dos pesquisadores no desenvolvimento ou estimulação das altas habilidades, bem como o desenvolvimento de programas voltados ao atendimento dos superdotados. Tal constatação corrobora a percepção de Oliveira e Anache (2005), segundo as quais, o interesse pela questão da superdotação tem aumentado bastante nas últimas décadas. O levantamento ainda mostrou que, no período investigado (15 anos), o número de trabalhos focados nos programas de desenvolvimento de superdotados, publicados nas bases consultadas (n=47), aponta para uma média de 3,1 estudos por ano, valor considerado baixo diante da importância da temática, de modo a apontar alguma das dificuldades que vêm sendo enfrentadas pela área, principalmente aquela relacionada ao fato de que essa população ainda seja pouco considerada nos serviços de educação especial e inclusiva, conforme salientado por Raugni e Costa (2011). Uma segunda análise visou classificar os trabalhos quanto à região do Brasil a que pertencem os pesquisadores, como demonstra a Tabela 1. Tabela 1. Classificação das publicações quanto a região, de acordo com a filiação institucional dos autores. Região Sudeste Centro-Oeste Sul Nordeste Norte Frequência (f) 19 12 12 4 0 Porcentagem (%) 40,43 25,53 25,53 8,51 0 Embora considerando-se que, dentro do apoio teórico das diretrizes do MEC, cada Estado possui autonomia para desenvolver um programa adequado à sua realidade e necessidade (Oliveira & Anache, 2005), a partir da Tabela 1 pode-se observar que mais de 40% do material encontrado foi desenvolvido por pesquisadores vinculados a instituições localizadas na região Sudeste. Chama a atenção, a ausência ou pequena representatividade de trabalhos provenientes da região Nordeste e a ausência de trabalhos desenvolvidos na região Norte. Tal situação reflete, na realidade, os locais onde, tradicionalmente, a prática de programas de atendimento mais se tem feito presentes, tanto a nível público quanto privado. O levantamento dos diversos programas foi realizado por Oliveira e Anache (2005), o qual destacou, na rede pública, esforços concentrados nos Estados do Distrito Federal (DF), que foi o pioneiro e serve como modelo, São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Goiás (GO), Espírito Santo (ES), Bahia (BA), Mato Grosso do Sul (MS), Rio Grande do Sul (RS), Pará (PA) e Minas Gerais (MG) que hoje atende o maior número de alunos na cidade de Lavras, onde foi fundado o CEDET (Centro para o Atendimento do Potencial e Talento). Já na rede particular, destaca-se, segundo as autoras, o RJ e SP, sendo que os colégios militares vêm desenvolvendo trabalhos nas cidades de Juiz de Fora (MG), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS). A visualização dessa lista confirma a informação obtida por meio da análise das publicações, uma vez que somente um Estado da região nordeste encontra-se citado (embora, de acordo com os dados, tal programa não tenha dado origem a nenhuma publicação), não se fazendo presente nenhum Estado da região norte. Saliente-se ainda para o fato de que, autores como Borges-Andrade e Pagotto (2010), Gondim e Bastos (2010) e Marques (2010) também trazem evidências da Região Sudeste como principal região com artigos e trabalhos científicos publicados na área da Psicologia, assim como região com maior foco de Programas de Pós-Graduação, fato que pode implicar na maior quantidade de trabalhos. Focando especificamente para a área da superdotação e a disposição de trabalhos que se utilizam de programas específicos de atendimento a esta população, a Tabela 2 apresenta a análise dos mesmos quanto ao tipo de programa que vem sendo utilizado na identificação dos superdotados, classificados em programas de enriquecimento, de desenvolvimento e os programas envolvendo salas de recursos. Cabe aqui mencionar que, para a realização desta análise alguns critérios foram considerados para englobar as categorias mencionadas. Dentro da categoria “Programas de Identificação” foram englobados todos os tipos de programas que, de alguma forma, tinham como objetivo identificar superdotados em algum contexto, com algum talento, não estimulando-os ou desenvolvendo-os. Na categoria “Programas de desenvolvimento” encontram-se os trabalhos que abordam a questão da aceleração escolar de alunos e dentro de “Programas de enriquecimento” considerou-se os resumos que abordavam programas com atividades de estimulação da criança superdotada ou com altas habilidades, seja através de professores especializados ou de atividades individuais com a criança, estando além do currículo escolar obrigatório. Foi aberta também uma categoria específica para “Programas em Salas de Recursos”, considerando que os estudos que abordavam este contexto traziam programas diferenciados, seja de identificação, enriquecimento e desenvolvimento, mas especificamente direcionados a crianças e adolescentes que frequentavam este contexto. Tabela 2. Programas utilizados nos trabalhos analisados. Tipos de Programas Frequência (f) Porcentagem (%) 24 44,45 Programas de Desenvolvimento 15 27,79 Programas em Salas de Recurso 9 16,62 Programas de Enriquecimento 6 11,14 Programas de Identificação de Superdotados A Tabela 2 evidencia que os programas mais utilizados dentro da temática referem-se aos programas de identificação de superdotados (44%), seguido dos programas de desenvolvimento (27%). São bem menos frequentes os programas em sala de recursos (16%) e programas de enriquecimento (11%). Sobre o primeiro foco, identificação, o interesse nesse processo vem, segundo Alencar (1992), aumentando de acordo com os anos, dado o fato de que “esta atenção reflete a consciência de que o potencial superior é um dos recursos naturais mais preciosos, responsável pelas contribuições mais significativas ao desenvolvimento de uma civilização” (p.22). Ainda sobre a mesma perspectiva, Vieira (2005) enfatiza a importância da identificação da criança superdotada, uma vez que a partir desse processo que se pode olhar de forma diferenciada para ela e garantir seu melhor desenvolvimento e enriquecimento de seu potencial. Alencar e Blumen (1993) também enfatizam a importância de se identificar as crianças superdotadas através de programas, tanto para crianças como para professores, visando atender às necessidades educacionais de cada criança em sua particularidade. Dentro do segundo foco (programas de desenvolvimento), encontram-se, por exemplo, programas de aceleração escolar, a qual caracteriza-se, segundo Freitas e Stobaus (2011), como a oportunidade de cumprir a proposta curricular da escola em menor tempo, avançando com maior rapidez e com a possibilidade de maior aprofundamento, podendo acontecer por meio da admissão precoce do aluno na escola; pelo avanço de determinada série e/ou ano, cumprimento de uma série ou ano em menor tempo ou ainda propostas de combinações de séries em um mesmo período. Tal recurso estaria previsto, segundo as autoras, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394/1996, no seu artigo 59. A questão da suplementação curricular (enriquecimento) pode, de acordo com Pereira e Guimarães (2007), ser organizada sob a forma de enriquecimento extracurricular e intracurricular, constituindo-se em uma possibilidade de estimulação destes alunos com altas habilidades/superdotação, a qual pode ser organizada na forma de programas de enriquecimento que compreendem, de acordo com Pereira e Guimarães (2007), a promoção de estímulos e experiências investigativas compatíveis com os interesses e as necessidades apresentadas pelos alunos, “fundamentados em ações planejadas e preparadas, de modo a propiciar troca de conhecimentos, desenvolvimento de distintas habilidades e envolvimento em trabalhos no contexto real” (p.165). No entanto, ao se analisar os tipos de programas que vêm sendo ofertados e pesquisados em nosso país, não se pode deixar de salientar que a maior parte deles sofrem dificuldades variadas, tais como a falta de recursos governamentais, de materiais adequados às necessidades desta população especial, de um conhecimento mais sólido sobre o tema por parte dos profissionais de educação e da sociedade em geral, conforme pontuado por Virgolim (1997) e reforçado com pesquisas mais atuais desenvolvidas por Vieira (2010). Considerando essa população especial, os dados também foram analisados em relação ao tipo de amostra envolvida nos estudos, de modo a clarificar a população que mais vem sendo pesquisada na temática da superdotação. Nesta perspectiva, a Tabela 3 traz os dados que foram obtidos. Tabela 3. As amostras mais utilizadas nos programas de atendimento ao superdotado. Amostra dos Estudos Frequência (f) Porcentagem (%) Alunos 24 48,00 Professores 16 32,00 Crianças 6 12,00 Adolescentes 2 4,00 Profissionais da Saúde 1 2,00 Atletas 1 2,00 De acordo com a Tabela 3, pode-se observar que a maioria dos trabalhos analisados possui como amostra alunos (48%), seguida de trabalhos que envolvem professores, sendo neste caso, trabalhos que envolvem a capacitação de professores com o objetivo de identificar e atender a alunos superdotados (32%). Enfatizando esses dados, Silva e Paixão (2010) trazem em seu estudo a importância dos trabalhos que envolvem alunos e da forma como devem ser estimulados, seja na escola, na família ou em qualquer outro contexto. As autoras ainda trazem a importância dos programas especializados, assim como de professores capacitados para atender a essa população especial. Pode-se observar também que os dados corroboram com os achados encontrados quando analisado os tipos de programas encontrados. Isso implica em uma relação na qual os programas de identificação são, em sua maioria desenvolvidos no contexto de educação, precisamente na escola (Fleith, 2006), fato que acaba por justificar a maior amostra de alunos na tabela 3. A seguir, outra análise fez-se importante neste estudo, referindo-se aos instrumentos utilizados dentro dos programas de atendimento (Tabela 4). Tabela 4. Instrumentos mais utilizados. Instrumentos de Avaliação Frequência (f) Porcentagem (%) Nenhum 26 50,98 Entrevistas semi-estruturada 10 19,61 Questionários 3 5,89 Raven 2 3,92 Técnica de observação 2 3,92 Avaliação de aprendizagem 1 1,96 Escala de valoracion de las características de comportamento de lós estudiantes superiores 1 1,96 Inventário 1 1,96 Levantamento de representação social e aplicação de três dilemas da teoria de julgamento moral 1 1,96 Modelo de Portas Giratórias (análise) 1 1,96 Teste de Criatividade 1 1,96 Teste de Pensamento Criativo – produção de desenhos 1 1,96 WISC 1 1,96 TOTAL 51 100 Outro aspecto analisado foram os instrumentos de avaliação psicológica utilizados nos trabalhos. Por meio dessa análise pode-se verificar que dos 51 trabalhos analisados, 26 estudos não utilizaram nenhum tipo de instrumento (50,98%) e 19,61% dos estudos utilizaram a entrevista semi-estruturada (n=10) como instrumento para a avaliação, seguido de questionários (n=3), técnicas de aprendizagem (n=2) e do Teste de Raven (n=2), enquanto que outros instrumentos apareceram em pouca frequência, como, Escala de valoracion de las caracteristicas de comportamento de los estudiantes superiores (n=1), Inventario (n=1), Levantamento de representação social e aplicação de três dilemas da teoria de julgamento moral (n=1), Modelo de Portas Giratorias (n=1), Teste de Criatividade (n=1); Teste de pensamento criativo - produção de desenhos (n=1) e WISC (n=1). Dessa maneira, os resultados aqui encontrados a respeito dos instrumentos psicológicos mostram que esses estão sendo pouco utilizados em estudos do tipo empírico, já que mais da metade dos estudos não usaram nenhum tipo de instrumento, e ainda, pode-se destacar que, dos estudos que utilizaram de instrumentos, se teve a preferência por não se utilizar de teste psicológico, já que poucos foram os estudos que utilizaram desse recurso, e isso pode estar relacionado com os achados de Noronha (2002), a qual relata que um dos problemas mais graves no uso dos testes psicológicos segundo os próprios psicólogos esta relacionado ao uso dos testes, ou seja, quanto ao uso (aplicação, correção e interpretação) do próprio instrumento. E ainda Noronha, Primi e Alchiere (2004) destacam que quando se diz a respeito de avaliação psicológica, muitas são as técnicas e isso de certa forma tem despertado questionamentos de diferentes áreas da ciência, e esses estão relacionados a qualidade de instrumentos, o uso de instrumentos, a validade que esses possuem, entre outros, e os autores destacam que de 146 instrumentos analisados apenas 28,8% relataram ter estudos de validade, precisão e padronização. Assim, vale aqui destacar que esse o achado desse estudo e a colação de Noronha (2002) mostram que o uso do teste psicológico ou o uso de qualquer instrumento psicológico tem sido um tema bastante estudado e discutido na área de Avaliação Psicológica, e o achado nesse presente estudo pode ser o reflexo disso. O levantamento realizado no presente trabalho teve por objetivo conhecer os programas que vem sendo utilizados para identificação, desenvolvimento e enriquecimento de superdotados, assim como que vem sendo focados na literatura cientifica. Os resultados demonstraram ainda que foram encontrados mais trabalhos provenientes da região Sudeste do Brasil, sendo mais trabalhos de identificação de superdotados (n= 24), seguido de trabalhos de desenvolvimento (n=15), de enriquecimento (n=6) e envolvendo salas de recursos (n=9). A fim de que um panorama mais completo possa ser traçado, estudos que envolvam outras bases de dados, nacionais e internacionais são recomendados, assim como o levantamento dos trabalhos provenientes de publicações de periódicos e de teses e dissertações, de maneira que esta análise possa fornecer dados significativos e relevantes sobre como segue a evolução da temática no país. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alencar, E. M. L. S. & Fleith, D. S. (2001). 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