NÍVEL DE ESTRESSE EM ALUNOS DE PSICOLOGIA DO PERÍODO NOTURNO MILSTED, Jader Gabriel – PUCPR [email protected] AMORIM, Cloves – PUCPR [email protected] SANTOS, Mauro – PUCPR [email protected] Eixo Temático: Formação de professores Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo Estudar também pode causar estresse. O objetivo desta pesquisa foi avaliar a incidência de estresse em alunos do curso de Psicologia do turno noturno em duas instituições de ensino particular de Curitiba. Participaram 117 acadêmicos, sendo 82 (70,08%) do sexo feminino, 32 (27,35%) do sexo masculino e 03 (2,56%) não informaram, com a faixa etária entre 18 a 48 anos, sendo a média de 25,35. Dos participantes 57 estudavam e trabalhavam e 60 só estudavam. Utilizou-se o ISS (Inventario de Sintomas de Stress de Lipp para adultos), com aplicação coletiva, realizada pelos autores e o instrumento recolhido ao término do preenchimento do inventário. Os resultados encontrados evidenciaram que dos 117 participantes avaliados, 84 (71,79%) se encontravam estressados. Desses 55 (65,47%) se encontravam na fase de resistência e 29 (34,52%) na fase de exaustão, não havendo nenhum na fase de alerta. Dentre os estressados houve maior incidência de manifestação de sintomas físicos (64,28%), seguindo-se dos psicológicos (26,19%) e dos dois concomitantemente (9,52%). Conclui-se que existe elevada incidência de estresse entre os acadêmicos, e que estudar e trabalhar pode aumentar a vulnerabilidade, mesmo que a predominância de sintomas seja de natureza física. Este foi um estudo exploratório para diagnosticar a presença ou não de estresse em acadêmicos. Assim, futuros estudos poderão analisar o impacto de diferentes variáveis para o surgimento do estresse. Conclui-se que a atividade acadêmica, pode ser fonte de estresse. Sendo assim, as universidades poderiam proporcionar atividades de prevenção para que os acadêmicos desenvolvessem repertório de manejo e prevenção do estresse. Palavras-Chave: Estresse. Estudantes universitários. Estresse em universitários. Estresse 10648 De modo geral, o stress significa uma reação interna do organismo vivo quando experimenta situações as quais são percebidas pelo seu aparelho sensorial, como ameaçadoras ao seu bem estar, físico ou psicológico. Essa reação nada mais é do que uma preparação do organismo para a ação, ou de enfrentamento, ou de fuga. Conforme Alves (1992) o stress sempre esteve com os seres humanos, pois é uma resposta do organismo às situações do meio. Nos primórdios, o homem lutava pela sua sobrevivência, era uma luta constante pela vida, e seu organismo sempre estava solicitando ação, movimento, adaptação constante e também criatividade para enfrentamento das adversidades. Hoje, os enfrentamentos não são mais de sobrevivência, mas o organismo ainda entende como tal e gera esta reação frente a situações das mais diversas do nosso cotidiano. A primeira vez que foi usado termo stress no sentido que ela tem hoje foi em 1925 por Hans Selye quando trabalhava nos laboratórios de bioquímica da Universidade de McGill, no Canadá, mas só em 1935 ele definiu o stress como a resposta não específica do organismo a toda solicitação que lhe é feita (ALVES, 1992). Para Lipp (1996, p. 20) “stress é definido como uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz”. Segundo Selye (apud SAMULSKI, CHAGAS e NITSCH, 1996), em seus estudos sobre o stress, observou reações do organismo que desencadeiam uma série de reações específicas por ele denominada de síndrome de adaptação geral, a qual explica o que acontece num aspecto global de stress. A síndrome de adaptação geral consiste em três fases: “Na primeira fase, alarme, o corpo se mobiliza para confrontar a ameaça desencadeando a atividade do sistema nervoso simpático. Na segunda fase, resistência, o organismo tenta lidar com a ameaça pela fuga ou pela luta. A terceira fase, exaustão, ocorre se o organismo é incapaz de fugir ou lutar contra a ameaça e esgota seus recursos fisiológicos neste esforço” (SELYE apud ATKINSON, 2002, p.519). Segundo Lipp (1999), por natureza temos o impulso de sempre buscar o equilíbrio. Quando conseguimos estratégias de enfrentamento para restabelecer este equilíbrio, o stress é eliminado e voltamos ao normal. Se estas estratégias falham, e o stress não é eliminado, essa 10649 energia gerada vai se acumulando e começa então a não haver resposta para a ameaça, o qual começa a desgastar o organismo. Cada pessoa tem um limite para atingir seu equilíbrio novamente. Quanto mais resistente for e mais estratégias utilizar, mais tempo ele conseguirá resistir aos fatores causadores do stress. Quando o organismo não encontra solução para eliminar o stress ele sofre e se enfraquece, baixando sua imunidade e dando lugar a diversas doenças oportunistas, como a gripe, gastrite, problemas dermatológicos, etc. bem como reações psicológicas como a ansiedade, cólera, depressão, apatia, angústia e etc (LIPP, 1999). Estresse e a vida profissional Estudos de Camelo e Angerami (2004), Martins (2007), Malagris e Fiorito (2006), Carvalho e Malagris (2007) correlacionam a atividade profissional com o stress ocupacional que nos dias atuais é um problema grave, pois está diretamente ligado com a saúde do trabalhador. McGrath (apud Martins, 2007) circunscreveu o stress ocupacional ao desequilíbrio significativo que a pessoa percebe entre determinadas exigências do trabalho e as suas capacidades de resposta, em condições em que o insucesso nas satisfações dessas exigências é percebido como podendo acarretar conseqüências negativas. Conforme Towner (1998), o stress vem causando muito afastamento de funcionários das empresas por motivo de doenças que aparecem pelo organismo estar fraco, e nem sempre o empregador se dá conta de que o fator principal é a pressão constante que os funcionários sofrem causando o stress, com isso, causando perdas monetárias à empresa, e acúmulo de atividade para outro funcionário que terá de cobrir com seu trabalho, as funções de quem faltou, gerando ainda mais stress neste outro. Segundo o autor, um chefe mal humorado pode ocasionar uma reação em seus empregados, os quais sob pressão de perder o emprego ou algo do gênero, não podem ou não querem enfrentar essa situação, recolhendo a energia gerada para dentro de si mesmo e com o passar do tempo, adoecendo o organismo que se mantém sob pressão, mas não consegue resolver o problema. Estresse e o mundo acadêmico 10650 Mondardo e Pedon (2005) sumarizam bem o cenário que se apresenta, não apenas no período das disciplinas básicas, mas ao longo da vida universitária: Direção “Na Universidade, o estudante assumirá atividades de alto desempenho, exigindo dele a concentração de esforços. A rotina de estudos constantes e crescente. A rotina de estudos constante e crescente pode se tornar um fator potencialmente estressor, pois a vida acadêmica representa, sem sombra de dúvidas, um aumento de responsabilidade, ansiedade e competividade”. Alunos ESTRESSE NO Corpo Docente Corpo Administrativo Corpo discente Figura 1. Variáveis que podem estabelecer contingências estressoras no âmbito da escola (retirado de WITTER, 1997, p.6). A figura 1 representa as principais variáveis que podem instituir contingências estressoras no ambiente da escola. Fatores como a direção, administração, professores, grêmios e grupos, ambiente físico e mesmo os alunos podem estabelecer condições de serem agentes estressores tanto de docentes como do corpo administrativo, como de alunos. O currículo mal organizado, inadequado aos alunos e às necessidades sociais, também é fator que pode gerar estresse (WITTER, 1997). 10651 Variáveis causadoras do estresse no aluno VARIÁVEIS EXTERNAS VARIÁVEIS RELATIVAS ÀS DISCIPLINAS VARIÁVEIS DO ALUNO •IMAGEM SOCIAL •PRESTÍGIO NA ESCOLA •PROFESSOR •METODOLOGIA DE ENSINO (PROCEDIMENTOS /ESTRATÉGIAS) •AVALIAÇÃO ESTRESSE NO ALUNO •PERCEPÇÃO DO ALUNO QUANTO AO SEU POTENCIAL DE DESENVOLVIMENTO NA DISCIPLINA. •DESEMPENHO REAL NA DISCIPLINA •MOTIVAÇÃO •DOMÍNIO DE ESTRATÉGIAS PARA ENFRENTAR SITUAÇÕES ESTRESSANTES •DIFICULDADES/LIMITAÇÕES ESPECIFICAS DA DISCILIPNA Figura 2. Estresse no aluno: variáveis das disciplinas e do aluno (retirado de WITTER, 1997, p.7). A figura 2 demonstra as variáveis relativas às disciplinas e as variáveis do aluno que podem ocasionar estresse. Segundo Witter (1997) as variáveis geradoras de stress que estão mais associadas às disciplinas básicas estão: imagem social da disciplina na escola; prestígio da disciplina na escola, professor da matéria; metodologia de ensino utilizada, sistema de avaliação e as diferenças/limitações específicas da disciplina. As variáveis do aluno incluem a motivação para a aprendizagem da disciplina, a autopercepção de seu potencial para aprendêla e seu desempenho real na mesma. Na literatura brasileira são poucos os estudos que objetivaram avaliar níveis de estresse em universitários. Entre eles podemos citar: Figueiredo e Oliveira (1995); Campos, Rocha e Campos (1996); Witter (1997); Monardo e Pedon (2005); e Martins, Trevisani e Amorim (2005). 10652 O objetivo desta pesquisa foi avaliar o nível de estresse de Universitários que estudam no período noturno em duas instituições de ensino particular. Método Participantes Participaram desta pesquisa 117 acadêmicos do curso de Psicologia de duas instituições particulares da cidade de Curitiba - Paraná. Todos cursavam o turno da noite. 82 participantes eram do sexo feminino e 32 do sexo masculino e 03 participantes não informaram. A faixa etária variou de 18 a 48 anos, sendo a média de 25,35. Dos participantes 57 estudavam e trabalhavam e 60 só estudavam. Instrumento Na avaliação do stress foi utilizado o Inventário de Sintomas de Stress de Lipp (ISS) já validado para sujeitos a partir de 15 anos. O ISS se constitui de uma lista de sintomas físicos (Ex.: boca seca, tensão muscular, formigamento das extremidades) e psicológicos (Ex.: dúvida quanto a si mesmo, aumento súbito de motivação, perda do senso de humor) divididos em três quadros. Baseia-se no modelo trifásico de Selye (1956) sendo que cada quadro corresponde a uma das fases do modelo. O respondente deve indicar primeiro quais os sintomas do primeiro quadro que experienciou nas últimas 24 horas. A seguir deve assinalar que sintomas sentiu na última semana dentre os apresentados no quadro 2 e finalmente deve assinalar, dentre os sintomas físicos e psicológicos do quadro 3, quais experienciou no último mês. O ISS permite diagnosticar se a pessoa tem stress, em que fase do processo se encontra (alerta, resistência e exaustão) e se sua sintomatologia é mais típica da área somática ou cognitiva (CALAIS, 2003 p. 260). Procedimento O instrumento foi aplicado em sala de aula após autorização do docente. A aplicação foi coletiva, realizada pelos autores e o instrumento recolhido ao término do preenchimento do inventário. 10653 Após a apresentação dos pesquisadores, foi explicado o objetivo do estudo, sendo realizado o convite e a informação de que aqueles participantes que desejassem receber o resultado colocassem o seu endereço eletrônico no instrumento. Resultados Os resultados obtidos revelaram que a amostra estudada era constituída de 32 (27,35%) do sexo masculino, 82 (70,08%) do sexo feminino e 3 (2,56%) não responderam. Figura 3- Distribuição de amostra de 117 acadêmicos, segundo o sexo. O Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp revelou que dos 117 participantes avaliados, 84 (71,79%) se encontravam estressados. Desses 55 (65,47%) se encontravam na fase de resistência e 29 (34,52%) na fase de exaustão, não havendo nenhum na fase de alerta. 10654 Figura 4- Fase do stress entre os estressados. Os resultados indicaram que dentre os estressados houve maior incidência de manifestação de sintomas físicos (64,28%), seguindo-se dos psicológicos (26,19%) e dos dois concomitantemente (9,52%). Figura 5- Incidência de sintomas entre os estressados. 10655 Para melhor visualização dos resultados, foi elaborada a figura 6 contendo a freqüência com as fases do stress relacionadas ao sexo. Figura 6- Correlação comparativa das freqüências entre sexo e fase de stress. Discussão Segundo a figura 6 é possível notar que a fase de resistência tem a maior freqüência entre os pesquisados. Em estudo similar, numa população de 100 acadêmicos de Psicologia, Martins, Trevisani e Amorim (2005), foi diagnosticado que 60% dos sujeitos apresentavam estresse.Nesta pesquisa os resultados ficaram próximos uma vez que foram encontrados 71,79% que apresentam estresse. Provavelmente esta pequena diferença se de ao fato da população presente neste estudo ser de estudantes do período noturno. Está inferência é confirmada por Martins, Trevisani e Amorim (2005, p.316) quando afirmam: “Houve uma freqüência maior (3 vezes) de estresse em alunos do curso noturno quando comparados com o turno diurno, o que provavelmente seja devido a dupla jornada, menos horas de sono e menos tempo de lazer, uma vez que o tempo livre é freqüentemente utilizado para estudos”. 10656 No que diz respeito à prevalência de sintomas, foi possível observar que entre os participantes com estresse apresentaram predominância de sintomas físicos em relação aos sintomas psicológicos. Inferimos que muitos dos sujeitos que trabalham, fazem estágios na área e que provavelmente a atividade seja fonte de prazer, mesmo que a dupla jornada possa produzir desgaste físico. Este foi um estudo exploratório para diagnosticar a presença ou não de estresse em acadêmicos do curso noturno de Curitiba de duas instituições particulares. Futuros estudos poderão analisar o impacto de diferentes variáveis para o surgimento do estresse. Witter (1997) propõe algumas dessas possíveis variáveis: variáveis relativas à disciplina e variáveis do aluno. Conclui-se que a atividade acadêmica, conforme citado anteriormente, pode ser fonte de estresse. Sendo assim, as universidades poderiam proporcionar atividades de prevenção para que os acadêmicos desenvolvessem repertório de manejo e prevenção do estresse. Também se faz necessário a realização de mais estudos para que possa generalizar os resultados encontrados. 10657 REFERÊNCIAS ALVES, Glaúcio Luiz Bachmann. Stress: diagnóstico e tratamento. Curitiba: Relisul, 1992. ATKINSON, Rita L. Introdução à psicologia de Hilgard. 13. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002. CALAIS, Sandra Leal; ANDRADE, Lívia Márcia Batista de; LIPP, Marilda Emmanuel Novaes. Diferenças de sexo e escolaridade na manifestação de Stress em adultos jovens. Psicol. Reflex. 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