115
ARS VETERINARIA, 15(2):115-121, 1999.
PERFIL DAS PROPRIEDADES RURAIS LEITEIRAS DA
REGIÃO DE PITANGUEIRAS - SP: I. ASPECTOS DE PRODUÇÃO1
( PROFILE OF RURAL DAIRY FARMS IN THE
REGION OF PITANGUEIRAS – SP: I. PRODUCTION ASPECTS )
M. I. FONSECA2 , S. I. SAMARA3 , J. C. CIOFFI4
RESUMO
O presente trabalho propõe estabelecer o perfil de produção das propriedades leiteiras da região de Pitangueiras
- SP, comparando produtores que recebiam assistência técnica periodicamente (grupo A) e os que não a recebiam ou a
recebiam de forma esporádica (grupo B), visando diagnosticar a situação da região. De acordo com os resultados obtidos
pode-se perceber diferença de perfil de produção entre os dois grupos. O grupo A além de possuir maior nível tecnológico,
adota um maior número de práticas que viabilizam a atividade leiteira de forma eficiente e lhe confere uma média de
produção de leite mais expressiva. Dentre as práticas mais utilizadas por este grupo, destacam-se a maior utilização de
volumosos e concentrados na alimentação e de tanque de expansão, a prática de duas ordenhas diárias, controle leiteiro e
inseminação artificial. Entretanto, ao considerar outras práticas como a escolha adequada do tipo racial das fêmeas, da
seleção para melhoramento genético do rebanho e intervalo entre partos, percebe-se que não existe diferença significativa
entre eles. Conclui-se que mesmo havendo diferença entre os dois grupos, o que reforça a importância da assistência
técnica, há necessidade de buscas de soluções que possibilite a melhoria da atividade, utilizando estratégias condizente
com a realidade de cada grupo de produtores.
PALAVRAS-CHAVE: Pecuária leiteira, produção, assistência técnica
SUMMARY
The objective of the present study was to determine the production profile of the dairy farms in the region of
Pitangueiras-SP, comparing producers who receive periodical technical assistance (group A) and producers that do not
receive it or receive it only sporadically (group B), aiming at a diagnosis of the situation of the region. The results showed
a difference in profile between groups. Group A, in addition to being of higher technological level, adopts a larger number
of practices that lead to an efficient dairy activity, with a greater mean milk yield. Among the practices most extensively
used by group A are the use of bulk feed and concentrates and of an expansion tank, two daily milkings, milk control, and
artificial insemination. However, no significant difference was observed between groups in terms of practices such as an
adequate choice of cow breed, selection for genetic herd breeding and for calving interval. We conclude that, even though
there are differences between the two groups, indicating the importance of technical assistance, it is necessary to look for
solutions that will permit an improved activity using strategies adapted to the reality of each group of producers.
KEY-WORDS: Dairy Milk, Production, technical assistance
1 Projeto financiado pela CNPq/PIBIC e apoio do Convênio UNESP/NESTLÉ
2 Professora do Departamento de Economia Rural – FCAV/UNESP – Jaboticabal – SP.
3 Professor do Departamento de Medicina Veterinária/UNESP - Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellani, s/n, 14870-000 Jaboticabal - SP
4 Estudante de Graduação do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP – Via
de Acesso Prof. Paulo Donato Castellani, s/n, 14870-000 - Jaboticabal - SP
ARS VETERINARIA, 15(2):115-121, 1999.
INTRODUÇÃO
Apesar do Brasil possuir o segundo maior
rebanho bovino do mundo, com a atividade leiteira
ocupando papel de destaque na economia, sua
produtividade é muito baixa (1245 kg/vaca/ano),
especialmente quando comparada com a dos Estados
Unidos (7636 kg/vaca/ano)(JPL, 1998).
Para MATOS (1995), a baixa produtividade se
deve a fatores de ordem social, técnicos, econômicos e
políticos. Por um lado temos um rebanho de baixo
potencial genético, submetido a um manejo inadequado,
recebendo alimentação deficiente quantitativa e
qualitativamente, com controle sanitário inadequado; por
outro, dispomos de uma estrutura de produção pulverizada,
com custos elevados de coleta e transporte do leite. A
política para o setor, ao longo dos anos, não tem servido
de estímulo aos produtores e tem se mostrado incapaz de
promover maior estabilidade econômica para o setor
leiteiro.
Segundo MARTINS (1988), possíveis
deficiências na disponibilidade de tecnologia compatíveis
com as condições vigentes nos sistemas de produção de
leite poderiam estar atuando como mecanismos inibidores
do aumento da produtividade, inviabilizando o uso
intensivo dos fatores de produção mais apropriados e
estimulando a perpetuação da exploração leiteira na forma
tradicional.
Outro entrave é a falta de alimentação adequada
para a atividade leiteira. Para GOMES (1976), apesar de
ser importante, o pasto não fornece os elementos
necessários para uma alimentação equilibrada, sendo
portanto necessário a suplementação, principalmente
através de recursos forrageiros para a época de seca, tais
como silagem e capineira de boa qualidade. Assim a
alimentação não deve basear-se simplesmente nos custos
de produção, mas também garantir o potencial produtivo
das vacas, contribuir para impedir distúrbios metabólicos
e transtornos reprodutivos diversos.
Tendo em vista o exposto, o presente estudo teve
por objetivo identificar o perfil de produção das
propriedades leiteiras da região de Pitangueiras-SP, através
da análise e comparação das possíveis diferenças existentes
entre dois grupos distintos de produtores de leite, com o
intuito de servir de subsídios para a adequação das
tecnologias disponíveis às reais necessidades destes
produtores.
MATERIAL E MÉTODOS
A população selecionada para o estudo é
composta por 268 produtores de leite da região de
116
Pitangueiras cadastrados na CATI (Coordenadoria de
Assistência Técnica Integral) no ano de 1997, cuja regional
encontra-se na cidade de Jaboticabal. A amostra foi
definida utilizando o critério de participação do projeto
Integração Rural (convênio firmado entre a FCAVUNESP-Jaboticabal e a ANPL-Assistência Nestlé aos
Produtores de Leite), sendo dividida em dois grupos, onde
o grupo A foi composto pelos produtores que participavam
do projeto e portanto recebiam assistência técnica regular,
no total de 11 produtores e o grupo B formado dentre os
257 produtores que não participavam do projeto dos quais
foram selecionados 26. A escolha destes últimos foi
realizada após um estudo exploratório para avaliação
preliminar, por serem aparentemente representativos dos
diferentes níveis tecnológicos empregados pelos
produtores da região e por estarem localizados próximos
ás propriedades atendidas pelo projeto.
Os dados analisados foram obtidos por meio de
questionários e entrevistas com os produtores
selecionados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados estão apresentados e discutidos, de
acordo com as análises estatísticas realizadas através do
teste Qui-quadrado e Teste de Fischer, considerando p
(nível mínimo de significância) para 1% e 5%. Sendo
p<0,05, significativo a 5 %; p<0,01, significativo a 5% e
1%; e p>0,05, não significativo (NS).
• Tipo de Assistência Técnica Recebida nos Últimos Seis
Meses
Conforme pode ser observado na Tabela 01, todas
as propriedades do grupo A recebem assistência técnica
de professores e alunos da FCAV-UNESP-Jaboticabal-SP,
incluídos no convênio com a Nestlé Ltda. Alguns
produtores ainda recorrem à Cooperativas, e em menor
quantidade, recorrem à entidades particulares. Uma
significativa diferença se percebe ao verificar que apenas
11.5% das propriedades do grupo B recebem assistência
de entidades governamentais, e 26.9% não recebem sequer
nenhum tipo de assistência técnica, aplicável à atividade
pecuária. Ao considerar que todos os produtores,
independente do grupo, têm disponível assistência técnica
de Cooperativas, entidades particulares e mesmo a FCAVUNESP-Jaboticabal-SP, que ficam próximos ao seu
convívio social, fica evidente que, se aproveitada
convenientemente haveria uma melhoria geral na atividade
pecuária, principalmente para os integrantes do grupo B.
117
ARS VETERINARIA, 15(2):115-121, 1999.
Tabela 01 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo com o tipo de assistência técnica
recebida. Região de Pitangueiras, SP. 1998.
Governo #
Cooperativas
Particulares
Nenhuma
Grupo A (%)
100.0
45.4
27.3
0.0
Grupo B (%)
11.5
38.5
23.1
26.9
p
0.0000
0.035869
0.785704
0.0639
**
*
NS
NS
* p<0.05-Significativoa5%/ ** p<0.01-Significativoa1%e5%
NS p>0.05-Nãosignificativoaosníveisconsiderados
#-UNESP,CATI,etc.
a criação de bezerros é prejudicada e vacas pouco
produtivas são mantidas no rebanho.
Tabela 03 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo com o tipo de atividade pecuária
desenvolvida na propriedade. Região de
Pitangueiras, SP. 1998.
Exclusivamente leiteira
Mista
Grupo A (%)
81.8
18.2
Grupo B (%)
76.9
23.1
p
0.740947
0.740947
NS
NS
NS p>0.05-Nãosignificativoaosníveisconsiderados
• Atividade Principal
• Tipo de Alimentação Utilizada
Quanto à atividade principal (Tabela 2), não
houve diferença significativa entre os dois grupos, ficando
evidente que a cana-de-açúcar é a principal atividade e
está centralizada no abastecimento das dezenas de usinas
de álcool instaladas na região. Entretanto, há um número
expressivo nos dois grupos se dedicando secundariamente
a pecuária, indicando uma possível busca de alternativa
para a crise canavieira.
Tabela 02 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo com o tipo de atividade principal
desenvolvida na propriedade. Região de
Pitangueiras, SP. 1998.
Cana-de-açúcar
Laranja
Pecuária
Café
Soja
Grupo A (%)
54.5
0.0
36.4
9.1
0.0
Grupo B (%)
59.2
7.7
23.1
2.3
7.7
p
0.392416
0.4880
0.405521
0.2973
0.4880
NS
NS
NS
NS
NS
NS p>0.05-Nãosignificativoaosníveisconsiderados
• Tipo de Atividade Pecuária
Quando se refere ao tipo de atividade pecuária
(Tabela 03), percebe-se que a maioria das propriedades,
trabalham visando exclusivamente o leite pois não houve
diferença estatística aos níveis observados entre os dois
grupos. Porém, foi possível perceber uma certa
preocupação dos produtores em produzir bezerros machos
para a venda, mesmo que em detrimento das características
do rebanho leiteiro. Grande parte dos proprietários tem
como verdade, que o lucro da atividade leiteira restringese apenas à venda de tais bezerros. Segundo RUFINO
(1994), no Brasil, existe uma ligação entre o gado leiteiro
e o de corte, sendo que, quando o mercado do boi gordo
se encontra aquecido, os produtores desviam o leite para
uso dos bezerros, e no extremo, envia as matrizes para o
abate; se a relação é favorável ao leite, acontece o inverso,
Quanto ao tipo de alimentação utilizada (Tabela 04),
estatisticamente, não se verificou diferença significativa
entre os dois grupos, porém, percebe-se, principalmente
entre os entrevistados do grupo B, que estes tipos de
alimentação apesar de serem fornecidos, geralmente são
em quantidade insuficiente e de má qualidade. O
concentrado, por exemplo, é fornecido para 100% das
propriedades do grupo A, contra 61.53% dos do grupo B.
Estes resultados levam a concluir que as fazendas do grupo
A, têm uma preocupação maior quanto a alimentação do
rebanho, que os produtores do grupo B .
Tabela 04 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo com o tipo de alimentação oferecida
ao rebanho. Região de Pitangueiras, SP. 1998.
Mistura Mineral
Volumosos
Concentrado
Capim picado
Silagem
Grupo A (%)
100.00
54.54
100.00
63.63
90.90
Grupo B (%)
92.30
11.53
69.23
61.53
76.92
p
0.4880
NS
0.005321 **
0.0405
*
0.904273 NS
0.6328
NS
p<0.05-Significativoa5%/** p<0.01-Significativoa1%e5% N S
p>0.05-Nãosignificativoaosníveisconsiderados
• Melhoramento e Conservação de Pastagens
Quanto ao melhoramento e conservação das
pastagens (Tabela 05), estatisticamente, não houve
diferença significativa quanto a limpeza de pastagens e
adubação do solo, sendo práticas rotineiras para a maioria
dos entrevistados. Ressalta-se que tais técnicas são de
importância vital para a qualidade das forragens e que o
manejo inadequado como o super-pastejo, conciliado a
períodos secos do ano e a perda da fertilidade do solo,
pode levar a degradação das pastagens. Entretanto, há
diferença significativa quanto ao descanso de pastagens,
demonstrando o desconhecimento da maioria dos
produtores do grupo B, da importância desta prática para
a melhoria da qualidade da alimentação.
ARS VETERINARIA, 15(2):115-121, 1999.
118
Tabela 05 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo com as formas de melhoramento e
conservação de pastagens. Região de
Pitangueiras, SP. 1998.
Limpeza de Pastagens
Descanso de Pastagens
Adubação do solo
Grupo A (%)
72.72
63.63
81.81
Grupo B (%)
42.3
11.53
69.23
p
0.090628
0.001108
0.430684
NS
**
NS
** p<0.01-Significativoa1%e5%/NS p>0.05-Nãosignificativoaos
níveisconsiderados
Conforme apresentado na Tabela 06, a média da
produção leiteira na maioria das propriedades do grupo
A, é um pouco maior que nas do grupo B, o que pode ser
explicado pela maior preocupação com alimentação de
melhor qualidade, algumas medidas sanitárias gerais e
presença de um rebanho relativamente superior
geneticamente.
Tabela 06 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo com média da produção leiteira
(Litros/dia). Região de Pitangueiras, SP. 1998.
Grupo A (%)
0.0
0.0
54.5
0.0
9.1
9.1
9.1
0.0
18.2
Grupo B (%)
19.2
53.9
11.6
7.7
3.8
3.8
0.0
0.0
0.0
Tabela 07 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo com o destino dado à produção.
Região de Pitangueiras, SP. 1998.
Exclusivamente Indústrias #
Venda “in natura” e Indústrias
Exclusivamente “in natura”
Grupo A(%)
72.7
27.3
0.0
Grupo B (%)
50.0
15.4
34.6
P
0.202152
0.398729
0.0251
NS
NS
*
*p<0.05-Significativoa5%/NS p>0.05-Nãosignificativoaosníveis
considerados
# -NestléeCaçu
• Média Diária da Produção Leiteira
De 3 à 5 litros
De 5 à 8 litros
De 8 à 11 litros
De 11 à 13 litros
De 13 à 15 litros
De 15 à 17 litros
De 17 à 19 litros
De 19 à 21 litros
De 21 à 23 litros
ainda, são transformados artesanalmente em derivados
lácteos, sem nenhuma fiscalização sanitária ou controle
de qualidade.
P
0.1509
0.0016
0.005321
0.4880
0.519023
0.519023
0.2973
0.0826
NS
**
**
NS
NS
NS
NS
NS
• Seleção para Melhoramento Genético do Rebanho
Os dados da Tabela 08, mostram que um número
expressivo nos dois grupos se preocupam com seleção
através do desenvolvimento e produção animal, entretanto
esta prática é bastante falha. pois muitos ainda utilizam
touro nelore visando a qualidade dos bezerros machos, o
que entraria em contradição com o tema proposto. Vale
ressaltar a importância para a melhoria do rebanho, a
medida de seleção de animais, através do descarte de
novilhas que demoram para chegar ao primeiro parto, ou
de vacas “repeat-breaders” (vacas repetidoras de cio),
assim como aquelas que produzem pouco leite ou possuem
defeitos congênitos, visto que todas estas características
podem ser transmitidas aos descendentes e estão sendo
negligenciadas pelos produtores.
** p<0.01-Significativoa1%e5%/NS p>0.05-Nãosignificativo
aosníveisconsiderados
• Destino Dado à Produção
De acordo com a Tabela 07, apesar da maioria
do leite ser entregue à indústrias laticinistas, uma
quantidade significativa dos produtores dos dois grupos,
principalmente do grupo B (34.6%), fornecem o leite cru
“in natura” nas cidades. Este tipo de venda pode ser
explicada como uma opção adotada por muitos produtores,
por conseguirem preço melhor pelo produto, quando
comparado aos preços pagos pelas indústrias laticinistas,
além de ficarem isentos dos riscos e punições, pelos exames
laboratoriais de qualidade realizados nas plataformas de
tais indústrias. Porém existe nesta alternativa econômica,
o risco da transmissão de zoonoses, já que este tipo de
leite não sofre nenhuma inspeção sanitária ou fiscalização.
Este resultado reflete a situação brasileira. Pois segundo
BRASIL (1992), cerca de 40 % do total de litros de leite
produzidos no Brasil, são consumidos na propriedade rural
ou são vendidos ao consumidor na forma de leite cru, ou
Tabela 08 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo com a utilização de seleção para
melhoramento genético do rebanho. Região
de Pitangueiras, SP. 1998.
Grupo A (%)
81.8
Grupo B (%)
53.8
P
0.108815
NS
NS p>0.05-Nãosignificativoaosníveisconsiderados
• Tipo de Monta Utilizada na Propriedade
Pela Tabela 09 observa-se que a monta natural não
controlada é bastante difundida no grupo B, sendo usada
em 46.1% das propriedades, o que dificulta o controle e
planejamento da melhor data de parição. A inseminação
artificial e a monta natural controlada, são bastante
difundidas no grupo A (63.6% das propriedades). Já no
grupo B está presente apenas em 15.4 % das propriedades,
o que pode estar relacionado aos poucos recursos
econômicos dos produtores, à falta de mão-de-obra
119
ARS VETERINARIA, 15(2):115-121, 1999.
especializada e de assistência técnica e o descontentamento
com o preço do leite, já que vários produtores a consideram
uma técnica dispendiosa.
Tabela 09 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo com os tipos de monta utilizadas na
propriedade. Região de Pitangueiras, SP.
1998.
Natural não controlada
Natural controlada
Inseminação Artificial
Grupo A (%)
9.1
63.6
63.6
Grupo B (%)
46.1
38.5
15.4
p
0.030891
0.160181
0.003335
*
NS
**
*p<0.05-Significativoa5%/NS p>0.05-Nãosignificativoaosníveis
considerados
•
Tipo Racial Predominante nos Rebanhos
Segundo a Tabela 10, poucos proprietários em
ambos os grupos preocupam-se com o tipo racial de aptidão
leiteira dos rebanhos, havendo predominância, sem
diferença estatística, da girolanda e a holandesa cruzada,
provavelmente devido a tendência de dupla aptidão do
gado gir e a qualidade produtiva das vacas holandesas. Já
quanto aos reprodutores, 63.6% das propriedades do grupo
A, possuem reprodutores holandeses, provavelmente por
uma maior preocupação em produzir novilhas com uma
melhor tendência genética para o leite, enquanto que
apenas 11.5% dos proprietários do grupo B possuem
reprodutores desta raça, tendo preferência pela raça nelore,
provavelmente por estarem preocupados em produzir
bezerros machos mais fortes que os holandeses, para serem
vendidos para o corte. Este quadro confirma o encontrado
por FARIA (1991). Segundo ele, a estrutura de produção
vigente no País, não apresenta uma distinção nítida entre
gado de leite e de corte, tendo um rebanho
predominantemente de dupla aptidão e com crescente
participação do de corte na produção de leite, uma vez,
que praticamente metade do leite coletado é produzido
por vacas que podem ser classificadas como de corte.
Tabela 10 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo com o tipo racial predominante nos
rebanhos. Região de Pitangueiras, SP. 1998.
Grupo A (%)
FÊM EAS
Holandesa PO
Gir
Girolanda
Pardo-Suíço
Nelore x Raças leiteiras
Holandês cruzado
Caracu
Guzerá
REPRO DUTO RES
Holandês
Nelore
Gir
Pardo Suíço
Sim ental
Gersey
Guzerá
Não tem (Insem ina)
Não tem (Em presta)
Grupo B (%)
• Número de Ordenhas Diária
De acordo com os resultados da Tabela 11, nas
propriedades do grupo B, 46,2% ainda realizam apenas
uma ordenha diária, provavelmente por possuírem um
rebanho de menor aptidão leiteira e de baixa produção. Já
100% das propriedades do grupo A realizam duas
ordenhas, provavelmente por possuírem vacas mais
produtivas e procuram explorar ao máximo tal potencial,
já que, segundo vários estudos, há um aumento de 20 a
30% na produção de leite com a introdução da segunda
ordenha.
Tabela 11 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo com o número de ordenhas diária.
Região de Pitangueiras, SP. 1998.
1
2
Grupo A (%)
0.0
100.0
Grupo B (%)
46.2
53.8
P
0.0052
0.0052
**
**
** p<0.01-Significativoa1%e5%
• Intervalo entre Partos
O intervalo entre partos de um (1) ano, segundo
FARIA & CORSI (1991), aumenta a capacidade produtiva
da fazenda devido ao aumento no percentual de vacas em
lactação por ano. Apesar da maioria nos dois grupos
conseguirem este índice (Tabela 12), ainda encontram-se
resultados que não podem ser aceitos numa exploração
leiteira de caráter econômico, como intervalo entre partos
acima de um ano e meio.
Tabela 12 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo o intervalo entre partos. Região de
Pitangueiras, SP. 1998.
1 ano
De 1 a 1,5 anos
De 1,5 a 2 anos
Acima de 2 anos
Grupo A (%)
54.5
27.3
9.1
9.1
Grupo B (%)
65.4
34.6
0.0
0.0
p
0.534355
0.662777
0.2973
0.2973
NS
NS
NS
NS
NS p>0.05-Nãosignificativoaosníveisconsiderados
p
9.1
18.2
36.4
0.0
18.2
81.8
0.0
0.0
15.4
7.7
46.1
7.7
0.0
73.1
3.8
7.7
0.608766
0.347635
0.58716
0.4880
0.0826
0.571091
0.7027
0.4880
NS
NS
NS
NS
NS
NS
NS
NS
63.6
0.0
9.1
9.1
0.0
0.0
0.0
18.2
0.0
11.5
46.1
23.1
3.8
3.8
7.9
3.8
3.8
3.8
0.001108
0.0052
0.3208
0.519023
0.7027
0.4880
0.7027
0.144245
0.7027
**
**
NS
NS
NS
NS
NS
NS
NS
** p<0.01-Significativoa1%e5%/NS p>0.05-Nãosignificativoaos
níveisconsiderados
•
Idade das Fêmeas ao Primeiro Parto
Grande parte das propriedades do grupo A
conseguem trabalhar com idade ao primeiro parto até dois
anos e meio (Tabela 13). Já no grupo B, apenas 15.4% dos
entrevistados, confirmaram parto até 30 meses,
provavelmente isto se deva a possíveis deficiências
nutricionais. Convém ressaltar que 18.2% do grupo A e
46.1% do grupo B dos proprietários não tinham dados
ARS VETERINARIA, 15(2):115-121, 1999.
120
seguros, mostrando que a escrituração zootécnica ainda é
algo desconhecido para eles.
Tabela 13 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo com a idade das fêmeas ao primeiro
parto. Região de Pitangueiras, São Paulo.
1998.
Até 30 meses
De 30 a 36 meses
Acima de 36 meses
Não têm dados
Grupo A (%)
72.7
9.1
0
18.2
Grupo B (%)
15.4
30.8
7.7
46.1
p
0.00066
0.160086
0.4880
0.108815
**
NS
NS
NS
** p<0.01-Significativoa1%e5%/NS p>0.05-Nãosignificativoaos
níveisconsiderados
não houve diferença estatística entre os resultados,
mostrando que apesar de ambos realizarem o descarte por
idade e por baixa produção, provavelmente pela influência
na produção diária de leite. Já quanto ao desmame, não
houve uma uniformidade entre os entrevistados, onde
alguns desmamam os bezerros em até 10 dias após o
nascimento, e outros dois meses antes do próximo parto,
sendo que, caso a vaca demore a ficar prenhe, o bezerro
mama durante até um ano.
Tabela 15 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo a utilização de práticas importantes
tecnologicamente. Região de Pitangueiras,
SP. 1998.
• Instalações e Equipamentos Utilizados na Atividade
Pela análise estatística dos dados sobre instalações e
equipamentos utilizados na atividade (Tabela 14),
verificou-se, que houve diferença estatística entre os grupos
somente quanto à utilização de latões e presença de tanque
de expansão. No grupo A, a utilização dos tanques pode
ser explicada pois houve a eliminação dos latões por
exigência das indústrias laticinistas, além da atuação da
assistência técnica. A ordenha mecânica, para ambos os
grupos, ainda não está bastante difundida, provavelmente
devido a fatores de ordem econômica na relação custobenefício, já que o tempo de retorno do capital investido
em uma ordenhadeira mecânica e demais alterações de
manejo relacionadas à sua utilização, podem ser a médio
ou longo prazo.
Tabela 14 - Distribuição percentual dos produtores, de
acordo os tipos de instalações e equipamentos
utilizados na atividade. Região de
Pitangueiras, SP. 1998
Curral com cocho
Baia Maternidade
Baia para Touros
Baia para Bezerros
Sala de ordenha
Silos
Esterqueira
Latões
Balança
Pulverizador
Picadeira
Resfriador de leite
Tanque de expansão
Ordenhadeira mecânica
Grupo A (%)
90.9
81.8
27.3
100.0
100.0
90.9
36.4
0.0
27.3
81.8
90.9
9.1
90.9
45.5
Grupo B (%)
100.0
84.6
11.5
100.0
84.6
76.9
26.9
65.4
26.5
88.5
88.5
19.2
50.0
34.6
p
0.2973
0.832899
0.235311
0.2264
0.3208
0.565801
0.0002
0.982536
0.58901
0.826538
0.44379
0.019018
0.534355
NS
NS
NS
NS
NS
NS
**
NS
NS
NS
NS
*
NS
p<0.05 - Significativo a 5% /** p<0.01- Significativoa 1% e 5% /NS
p>0.05-Nãosignificativoaosníveisconsiderados
• Práticas Importantes Tecnologicamente
Dentre as práticas de importância tecnológica
(Tabela 15), percebe-se uma maior preocupação dos
proprietários do grupo A, em se fazer o controle leiteiro e
o aleitamento artificial, porém para as demais técnicas,
Controle leiteiro
Aleitamento artificial
Descarte por idade
Descarte por baixa produção
Desmame em até 10 dias
Desmame aos 7 meses
Grupo A (%)
81.8
54.5
81.8
81.8
9.1
0.0
Grupo B (%)
11.5
15.4
61.5
65.4
7.7
15.4
p
2.9905
0.014221
0.22842
0.317497
0.886721
0.2264
**
*
NS
NS
NS
NS
p<0.05-Significativoa5%/** p<0.01-Significativoa1%e5%/NS
p>0.05-Nãosignificativoaosníveisconsiderados
CONCLUSÕES
• O grupo A possui maior nível tecnológico, adota
um maior número de práticas que viabilizam a atividade
leiteira de forma eficiente e lhe confere uma média de
produção de leite mais expressiva. Dentre as práticas mais
utilizadas pelo grupo A, destacam-se a maior utilização
de volumosos e concentrados na alimentação e de tanque
de expansão, a prática de duas ordenhas diárias, controle
leiteiro e inseminação artificial. Entretanto, percebe-se
que não existe diferença significativa entre eles ao
considerar outros aspectos como a escolha adequada do
tipo racial das fêmeas, da seleção para melhoramento
genético do rebanho e intervalo entre partos
• As diferenças entre os dois grupos reforça a
importância da assistência técnica realizada de forma
sistemática.
• Nos dois grupos, com maior intensidade no
grupo B, foi possível perceber a existência de um círculo
vicioso associado à exploração leiteira, onde o produtor
trabalha com um baixo nível tecnológico, encontra índices
pequenos de produção, resultando em um baixo retorno
econômico, indicando a necessidade de buscas de soluções
que possibilite a melhoria da atividade, utilizando
estratégias condizente com a realidade de cada grupo de
produtores.
• Existem vários erros que precisam ser
corrigidos, buscando mudar o perfil do produtor leiteiro,
que muitas vezes está preso à costumes e tradições que
ultrapassam gerações, e que se não forem corrigidos, vão
121
ARS VETERINARIA, 15(2):115-121, 1999.
levar os remanescentes produtores de leite desta região,
tidos até mesmo como “teimosos” e “apaixonados” pela
atividade leiteira a desistirem do ramo definitivamente,
buscando outras fontes de renda.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Fazenda. Produção de leite no
Brasil. Brasília: COESA, CTIC, DCE, 1992. 8p.
(mimeogr.)
FARIA, V.P. Situação Atual da Pecuária Leiteira e Sistemas
de Produção de Leite. In: 4º CURSO DE PECUÁRIA
LEITEIRA. Piracicaba: ANPL/ESALQ, 1991, p.1116.
FARIA, V.P., CORSI. M. Intensificação do Processo
Produtivo. In: 4º CURSO DE PECUÁRIA
LEITEIRA. Piracicaba: ANPL/ESALQ, 1991, p.2534.
GOMES, S. T. Sistemas de Produção de leite em três
microregiões de Estado de Minas Gerais. Viçosa:
Imprensa Universitária, 1976. 128p.
MARTINS, P.C. Análise Comparativa entre o sistema
de produção de leite da EMBRAPA e sistemas de
produção em fazendas do estado de Minas Gerais.
Viçosa, Tese M.S. - Universidade Federal de Viçosa
- Imprensa Universitária, 1988. 108p.
MATOS, L.L. Perspectivas em Alimentação e manejo
de vacas em lactação. In: REUNIÃO DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 32,
1995, Brasília. Anais, p. 147-55.
Baixa Competitividade do leite cru brasileiro. Jornal da
Produção de Leite. v. 10, n. 111, 1998.
RUFINO, J.L.S. Dinâmica e fatores determinantes na
pecuária leiteira do sudeste brasileiro. Viçosa,
1996. 182p . Tese (D.S.) - Universidade Federal de
Viçosa.
Download

(Profile of rural dairy farms in the region of Pitangueiras