UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATU-SENSU” RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO TRABALHO Autor: ANDERSON DE SOUZA FARIA Orientador: MARIO LUIZ Rio de Janeiro 2010 1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATU-SENSU” RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO TRABALHO OBJETIVOS: Este trabalho tem por objetivo analisar a relação do desenvolvimento das relações interpessoais com a obtenção de melhores resultados pelas empresas. CURSO: Gestão Empresarial AUTOR: Anderson de Souza Faria 2 RESUMO A proposta que se apresenta é a busca da reflexão para o entendimento das características e fatores que regem os relacionamentos entre os indivíduos, seja em ambientes sociais, seja nos ambientes de trabalho. No campo do desenvolvimento individual, o texto foca os efeitos mútuos proporcionados pelas relações interpessoais, considerando o ambiente, formação e experiências do indivíduo. Para o coletivo, são apresentados, não somente técnicas para criação de verdadeiras equipes de trabalho, bem como argumentos e reflexões que buscam conscientizar o leitor para a importância dessas equipes para o sucesso das corporações. 3 METODOLOGIA A proposta desse trabalho é esclarecer, através da apresentação e esclarecimento de estudos e técnicas práticas e teóricas, a importância do desenvolvimento pessoal e coletivo do indivíduo para o sucesso das corporações. Com a utilização de livros associados às questões emocionais, individual e coletivo no dia-a-dia de corporações, busca-se a reflexão do leitor para a importância do equilíbrio emocional e do relacionamento interpessoal dos indivíduos para se obter um ambiente de trabalha mais favorável ao desenvolvimento profissional individualizado, ao desenvolvimento de equipes de trabalho produtivas e à formação de lideranças competentes. O texto desenvolve o assunto desde a apresentação das aptidões características dos indivíduos, passando pelos conceitos de interpessoalidade, até promover a devida associação com o ambiente de trabalho, nunca deixando de lado o que vem a ser o fator central, e desta forma o mais importante da pesquisa: a individualidade emocional. Questões como motivação e liderança também receberam considerável destaque, já que estão intimamente associadas às questões interpessoais, quer seja no meio social, quer seja no ambiente de trabalho, objeto central dessa pesquisa. 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 5 CAPÍTULO I RELAÇÕES INTERPESSOAIS 7 CAPÍTULO II RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO TRABALHO 15 CAPÍTULO III RELACIONAMENTO INTERPESSOAL E LIDERANÇA 32 CONCLUSÃO 37 BIBLIOGRAFIA 40 ÍNDICE 41 5 INTRODUÇÃO O homem tem modificado o ambiente em que vive e recebe o refluxo de sua ação como um problema de adaptação contínua às mudanças ambientais e de ajustamento às outras pessoas, grupos e sociedades em geral. O problema se agrava com o ritmo exponencial de descobertas e inovações tecnológicas sem respostas educacionais e sociais imediatas e adequadas. A defasagem entre progresso tecnológico e progresso humano é amplamente reconhecida nos sentimentos de perplexidade, inadequação, alienação e despersonalização do homem contemporâneo. Qualquer empresa, independentemente do seu porte ou ramo de atuação, deseja contar com profissionais que formem uma verdadeira equipe e não apenas um grupo desordenado de colaboradores que convivem em um mesmo espaço físico. Hoje, concebe-se no mundo corporativo que quando os funcionários são capazes de realizar suas atividades baseados em um comportamento de sinergia, melhor será o clima organizacional e, conseqüentemente, os resultados para o negócio. Por esse motivo muitas empresas voltam suas atenções para as relações interpessoais no ambiente corporativo, envolvendo muitos profissionais de RH no desenvolvimento de ações que estimulem a cooperação entre os profissionais e atenda às necessidades empresa. 6 Considerando o cenário corporativo atual, em que predomina um subdesenvolvimento dos programas de formação de equipes de trabalho, de programas motivacionais e de seleção adequada de profissionais, com ocupação de cargos compatíveis com suas habilidades, o trabalho foi desenvolvido com o propósito de levar o leitor a refletir sobre a importância das questões emocionais e de relacionamento do indivíduo no processo produtivo das corporações. Assim, são apresentadas técnicas para o desenvolvimento individual e coletivo, técnicas motivacionais, de desenvolvimento para liderança, etc, sempre considerando as particularidades e individualidades, afastando ao máximo a associação equivocada e muito comum nas corporações ainda nos dias de hoje, de tratar os funcionários como máquinas. 7 CAPÍTULO I RELAÇÕES INTERPESSOAIS A forma como as pessoas se relacionam varia consideravelmente de indivíduo para indivíduo, mesmo quando em condições similares de educação, formação, participação em círculos sociais e profissionais. Isso se deve à prédisposição genética característica do indivíduo para o relacionamento interpessoal. Para um melhor entendimento dessa característica, originalmente menos ou mais desenvolvida em cada ser, utilizaremos o conceito das Inteligências Múltiplas de Gardner. 1.1 – Teoria das Inteligências Múltiplas. Howard Gardner, nascido em 11 de Junho de 1943, é psicólogo e professor na Universidade de Harvard. A Teoria das Inteligências Múltiplas foi apresentada em 1983, no livro Estrutura da Mente, que descrevia sete dimensões da inteligência, o que seria uma inovação, já que tradicionalmente os testes de inteligência só levam em consideração duas: a lingüística e a lógico-matemática. Gardner identificou, além das tradicionais inteligências lingüística e lógicomatemática, a espacial, musical, cinestésica, interpessoal e intrapessoal. Postula que essas competências intelectuais são relativamente independentes, com sua 8 origem e limites genéticos próprios, substratos neuroanatômicos específicos e dispõem de processos cognitivos próprios. Segundo ele, os seres humanos dispõem de graus variados de cada uma das inteligências e maneiras diferentes com que elas se combinam e organizam e se utilizam dessas capacidades intelectuais para resolver problemas e criar produtos. Gardner ressalta que, embora estas inteligências sejam, até certo ponto, independentes uma das outras, elas raramente funcionam isoladamente. Embora algumas ocupações exemplifiquem uma inteligência, na maioria dos casos as ocupações ilustram bem a necessidade de uma combinação de inteligências. Por exemplo, um cirurgião necessita da acuidade da inteligência espacial combinada com a destreza da cinestésica. 1.1.1 - Inteligência lingüística Os componentes centrais da inteligência lingüistica são uma sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade para usar a linguagem para convencer, agradar, estimular ou transmitir idéias. Gardner indica que é a habilidade exibida na sua maior intensidade pelos poetas. Em crianças, esta habilidade se manifesta através da capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com precisão, experiências vividas. 1.1.2 - Inteligência musical Esta inteligência se manifesta através de uma habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e habilidade para produzir e/ou reproduzir música. A criança pequena com 9 habilidade musical especial percebe desde cedo diferentes sons no seu ambiente e, freqüentemente, canta para si mesma. 1.1.3 - Inteligência lógico-matemática Os componentes centrais desta inteligência são descritos por Gardner como uma sensibilidade para padrões, ordem e sistematização. É a habilidade para explorar relações, categorias e padrões, através da manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de forma controlada; é a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los. É a inteligência característica de matemáticos e cientistas Gardner, porém, explica que, embora o talento científico e o talento matemático possam estar presentes num mesmo indivíduo, os motivos que movem as ações dos cientistas e dos matemáticos não são os mesmos. Enquanto os matemáticos desejam criar um mundo abstrato consistente, os cientistas pretendem explicar a natureza. A criança com especial aptidão nesta inteligência demonstra facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para criar notações práticas de seu raciocínio. 1.1.4 - Inteligência espacial Gardner descreve a inteligência espacial como a capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a habilidade para manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou espacial. É a inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos. Em crianças pequenas, o potencial especial nessa inteligência é percebido através da habilidade para quebracabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais. 10 1.1.5 - Inteligência cinestésica Esta inteligência se refere à habilidade para resolver problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de todo o corpo. É a habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza. A criança especialmente dotada na inteligência cinestésica se move com graça e expressão a partir de estímulos musicais ou verbais demonstra uma grande habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada. 1.1.6 - Inteligência interpessoal Esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade pare entender e responder adequadamente a humores, temperamentos motivações e desejos de outras pessoas. Ela é melhor apreciada na observação de psicoterapeutas, professores, políticos e vendedores bem sucedidos. Na sua forma mais primitiva, a inteligência interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a habilidade para distinguir pessoas, e na sua forma mais avançada, como a habilidade para perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente a partir dessa percepção. Crianças especialmente dotadas demonstram muito cedo uma habilidade para liderar outras crianças, uma vez que são extremamente sensíveis às necessidades e sentimentos de outros. 1.1.7 - Inteligência intrapessoal 11 Esta inteligência é o correlativo interno da inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos, sonhos e idéias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de problemas pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades, inteligências e desejos próprios, a capacidade para formular uma imagem precisa de si próprio e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de forma efetiva. Como esta inteligência é a mais pessoal de todas, ela só é observável através dos sistemas simbólicos das outras inteligências, ou seja, através de manifestações lingüisticas, musicais ou cinestésicas. Apresentadas as sete Inteligências sugeridas por Gardner, façamos uma reflexão sobre como os funcionários de uma empresa, por exemplo, podem ser melhor ou pior aproveitados, se consideradas forem suas habilidades específicas. A este respeito David Rybacy, em sua obra “Emoção no local de trabalho”, menciona: As decisões mais importantes que os executivos tem a tomar são aquelas que promovem o crescimento pessoal dos funcionários de tal maneira que eles possam contribuir para um empreendimento de sucesso. As características mais fortes de cada pessoa serão aplicadas nas áreas onde elas podem ser mais bem utilizadas. Dessa maneira, cada pessoa pode se sentir valorizada pelo que está oferecendo à empresa. ( Rybacy, 1998, pag. 30 ) 12 Podemos perceber ainda que as inteligências lingüística, lógico- matemática, espacial, musical e cinestésica, embora de alta importância, se aplicam em condições específicas. As mesmas, porém, para uma excelência de aplicação e desenvolvimento dependem na grande maioria das vezes de serem combinadas às inteligências intrapessoal e intrapessoal. Assim, podemos considerar que essas duas tem uma importância diferenciada na composição das inteligências aplicadas, uma vez que quase sempre servirão de plataforma para o desenvolvimento, aprimoramento e utilização das demais inteligências. 1.2 - Desenvolvimento Interpessoal e Intrapessoal Diante do quadro crescente de carência afetiva e necessidades sociais não satisfeitas, além das dificuldades de comunicação e de relacionamento entre as pessoas, fatores esses intensificados pela educação sistemática, que enfatiza a tecnologia em detrimento do crescimento pessoal e interpessoal, os Desenvolvimentos Interpessoal e Intrapessoal passam a ser necessidades para o desenvolvimento social e organizacional. A falta desse desenvolvimento acarretará cada vez mais na crescente defasagem entre o progresso tecnológico e o progresso social. Não está sendo aqui posto em dúvida a competência técnica do profissional. Claramente todos reconhecem que o profissional precisa ser competente em sua área específica de atividade. A competência interpessoal, porém, só é reconhecida para algumas categorias profissionais notórias, tais como assistência social, psicoterapia, magistério, vendas, serviços de atendimento ao público, em geral. 13 Em cada profissão os dois tipos de competência são necessários, embora em proporções diferentes. O problema consiste em discernir e aprender qual a proporção adequada para prover serviços de alta qualidade, ou seja, para um desempenho superior. Cada tipo ou dimensão de competência é interdependente de outra. Assim, a maneira pela qual um gerente, advogado, médico faz as perguntas pode influenciar as informações que recebe. Assim, a competência interpessoal é tão importante quanto a competência técnica de formular perguntas adequadas. No tratamento do referido desenvolvimento trabalham-se as motivações, os objetivos pessoais, a problemática de inter-relação , de afetividade e intimidade. Procura-se obter autoconhecimento e conscientização, habilidades de percepção, diagnose e comunicação para expressão verbal e emocional, para dar e receber feedback. O indivíduo que se conhece e aceita pode fazer opções mais realísticas de mudanças pessoais e preservar sua autenticidade. A importância do autoconhecimento associado ao desenvolvimento pessoal é assim colocada por David R. Caruso: “Se compreendermos as causas das emoções, teremos aprendido algo muito importante sobre as situações: poderemos enxergar melhor as causas dos problemas. Se compreendermos os fluxos e refluxos das emoções, saberemos algo sobre o futuro: poderemos prever, talvez com certa precisão como a pessoa se sentirá em seguida caso certos acontecimentos se 14 desdobrem de certas maneiras. Nosso vocabulário emocional nos proporciona um meio de comunicar tais informações a outras pessoas e serve como uma linguagem e uma realidade emocional” ( Caruso, 2006, pag. 58 ) 15 CAPÍTULO II RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO TRABALHO As empresas modernas, independentemente do seu porte ou ramo de atuação, desejam contar com profissionais que formem uma verdadeira equipe e não apenas um grupo desordenado de colaboradores que convivem em um mesmo espaço físico. Hoje, concebe-se no mundo corporativo que quando os funcionários são capazes de realizar suas atividades baseados em um comportamento de sinergia, melhor será o clima organizacional e, conseqüentemente, os resultados para o negócio. Provavelmente a maior dificuldade para a formação de verdadeiras equipes de trabalho seja superar os obstáculos apresentados pela desafiante convivência humana. Pessoas convivem e trabalham com pessoas e portam-se como pessoas, isto é, reagem às outras pessoas com as quais entram em contato: comunicam-se, simpatizam e sentem atrações, antipatizam e sentem aversões, aproximam-se, afastam-se entram em conflito, competem, colaboram, desenvolvem afeto. Rybacy, ainda em “Emoção no local de trabalho”, considera normal a existência de conflitos em ambientes de trabalho, e frisa a necessidade do tratamento desses conflitos para o sucesso da corporação: 16 Quando as pessoas trabalham juntas de tal forma que os papéis se misturam, se sobrepõem, e de vez em quando até mesmo se fundem, pode ter certeza de que os conflitos serão freqüentes. O segredo, entretanto, é fazer com que o conflito se torne produtivo e não destrutivo. ( Rybacy, 1998, pág. 172 ) 2.1 - OS PROCESSOS DE INTERAÇÃO As interferências ou reações, voluntárias ou não, intencionais ou não, constituem o processo de interação humana, em que cada pessoa na presença de outra não fica indiferente a essa situação de presença estimuladora. O processo de interação humana é complexo e ocorre permanentemente entre pessoas sob a forma de comportamentos manifestos e não-manifestos, verbais e não-verbais, pensamentos, sentimentos, reações mentais ou físicos. Assim, as relações interpessoais, seja no ambiente de trabalho, seja no ambiente social, desenvolvem-se em decorrência do processo de interação. Considerando situações de trabalho, compartilhadas por duas ou mais pessoas, há atividades predeterminadas a serem executadas, bem como interações e sentimentos recomendados, tais como comunicação cooperação, respeito e amizade. À medida que as atividades e interações prosseguem, os sentimentos despertados podem ser diferentes dos indicados inicialmente e então, inevitavelmente, os sentimentos influenciarão as interações e as próprias atividades. Sentimentos positivos de simpatia e atração provocarão aumento de interação e cooperação, repercutindo favoravelmente nas atividades e ensejando maior produtividade. Por outro lado, sentimentos negativos de antipatia e rejeição tenderão à diminuição das interações, ao afastamento, à menor comunicação, 17 repercutindo desfavoravelmente nas atividades, com provável queda de produtividade. Assim, temos que profissionais competentes individualmente podem render muito abaixo de sua capacidade por influência do grupo e da situação de trabalho, uma vez que o ciclo atividades-interções-sentimentos não se relaciona diretamente com a capacidade técnica do indivíduo. Quando uma pessoa começa a participar de um grupo, há uma base interna de diferenças que englobam conhecimentos, informações, opiniões, preconceitos, atitudes, experiência anterior, gostos, crenças valores e estilo comportamental, o que traz inevitáveis diferenças de percepções, opiniões, sentimentos em relação a cada situação compartilhada. Essas diferenças passam a constituir um repertório novo: o daquela pessoa naquele grupo. Como essas diferenças são encaradas e tratadas, determina a modalidade de relacionamento entre membros do grupo, colegas de trabalho, superiores e subordinados. A maneira de lidar com diferenças individuais cria um certo clima entre as pessoas e tem forte influência sobre toda a vida do grupo, principalmente nos processos de comunicação, no relacionamento interpessoal, no comportamento organizacional e na produtividade. Daniel Goleman, em sua obra “O Poder da Inteligênica Emocional”, considera assim a influência do individuo no grupo: “Como as emoções são contagiosas, os membros da equipe fornecem deixas emocionais uns aos outros, para o bem ou para o mal. Se o grupo deixa de reconhecer os sentimentos de raiva de um dos membros, esta emoção pode desencadear uma reação em cadeia de negatividade. Por outro lado, quando se sabe reconhecer e confrontar tais situações de maneira eficaz, o estresse de um único indivíduo não arrasta consigo o grupo inteiro.” ( Goleman, 2002, pag. 178 ) 18 Quando as diferenças são aceitas e tratadas em aberto, a comunicação flui fácil, em dupla direção, as pessoas ouvem as outras, falam o que pensam e sentem, e tem possibilidades de dar e receber feedback. Quando as diferenças são negadas e suprimidas, a comunicação torna-se falha, incompleta, insuficiente, com bloqueios, barreiras e distorções. As pessoas não falam o que pensam e nem ouvem as outras. O relacionamento interpessoal pode tornar-se e manter-se harmonioso e prazeroso, permitindo trabalho cooperativo, em equipe, com integração de esforços, conjugando as energias, conhecimentos e experiências para um produto maior que a soma das partes, ou seja, a tão buscada sinergia. Ou então tender a tornar-se muito tenso, conflitivo, levando à desintegração de esforços, à divisão de energias e crescente deterioração do desempenho grupal para um estado de entropia do sistema e final dissolução do grupo, como coloca David R. Caruso em seu livro : As emoções, no nível das equipes, também tem um poderoso impacto em outros sentidos. Chama-se a isto de espírito de equipe ou moral, todos nós já vimos como o humor de um grupo pode mudar. E o modo como nos sentimos influencia nosso desempenho. Por vezes isso ocorre lenta e sutilmente, mas por vezes pode-se quase sentir um arrepio percorrendo o grupo; Em outros casos uma sensação de entusiasmo permeia o ar. A disseminação de emoções de pessoa para pessoa é um fenômeno conhecido como contágio emociona. ( Caruso, 2006, pag.7 ) 19 Relações interpessoais e clima de grupo influenciam-se recíproca e circularmente, caracterizando um ambiente agradável e estimulante, ou desagradável e averso, ou neutro e monótono. Cada modalidade traz satisfações pessoais e grupais. 2.2 – Competência Interpessoal Se a competência técnica pode ser adquirida através de cursos, seminários, leituras e experiências ou prática, a competênica interpessoal, que vem a ser a habilidade de lidar eficazmente com relações interpessoais, de lidar com pessoas de forma adequada às necessidades de cada uma e às exigências da situação, necessita treinamento especial de laboratório. Dois componentes de competência interpessoal assumem importância capital: a percepção e a habilidade propriamente dita. O processo da percepção precisa ser treinado para uma visão acurada do situação interpessoal. Isto significa um longo processo de crescimento pessoal, abrangendo autopercepção, autoconcientização e auto-aceitação como pré-requisitos de possibilidades de percepção mais realísticas dos outros e da situação interpessoal. Esse treinamento perceptivo não se realiza espontaneamente nem facilmente, mas requer treinamento especial, demorado, e muitas vezes sofrido, exigindo coragem e disponibilidade psicológica do treinando no exercício de receber feedback. 2.2.1 – Conceituando Percepção 20 Uma boa forma de conceituar o processo de percepção de um indivíduo em relação a si mesmo e aos outros é a chamada Janela de Johari, idealizada por Joseph Luft e Harry Ingham ( 1961 ): Conhecido pelos outros Não conhecido pelos outros Conhecido pelo EU Não conhecido pelo EU I II ' EU ABERTO ' ' EU CEGO ' III IV ' EU SECRETO ' ' EU DESCONHECIDO ' Fonte:.MOSCOVICI, Felá - “Desenvolvimento interpessoal “ – Rio de Janeiro: José Olympio, 2007 A área I ( o eu aberto ) constitui o nosso comportamento em muitas atividades,conhecido por nós e por qualquer um que nos observe. Este comportamento varia grandemente conforme nossa estimativa do que é correto em um ambiente específico e com diferentes grupos de pessoas. Está área limitase àquilo de que nossos parentes e amigos estão cônscios e ao que nós consideramos óbvio, tais como nossas características, nossa maneira de falar, nossa atitude geral, algumas de nossas habilidades, etc. A área II ( o eu cego ) representa nossas características de comportamento que são facilmente percebidas pelos outros, mas das quais, geralmente, não estamos cientes, como alguma manifestação nervosa, nosso comportamento sob tensão, nossas reações agressivas em relação a subordinados, nosso desprezo 21 por aqueles que discordam de nós, etc. Podemos especular por que estes padrões de comportamento permanecem desconhecidos por nós e, no entanto, são óbvios aos outros. Há evidências de que é nessa área que, frequentemente, somos mais críticos com o comportamento dos outros sem percebermos que nos estamos comportando da mesma forma. A área III ( o eu secreto ) representa as coisas sobre nós mesmos que conhecemos mas que escondemos dos outros. Estas podem variar desde assuntos inconsequentes até os de grande importância. Numa situação fechada, ou relativamente autoritária, é provável que haja muito mais deste aspecto do que numa situação aberta. A pessoa que conta tudo sobre si mesma a alguém estranho, ou a um vizinho, pode estar agindo assim por incapacidade de comunicação satisfatória com pessoas que significam, efetivamente, muito para ela. A área IV ( o eu desconhecido ) inclui coisas das quais não estamos cônscios e das quais nem os outros o estão. Constitui-se de memória de infância, potencialidades latentes e aspectos desconhecidos da dinâmica intrapessoal. Algumas coisas estão muito escondidas e talvez nunca se tornem conscientes; outras mais superficiais e com o aumento de abertura e feedback poderão tornarse conscientes. Assim, os processos aplicados para o desenvolvimento interpessoal buscam a mudança nos quadrantes da Janela de Jorahi, ou seja, a redução da área II, e o aumento da área I, aumento este que representa a diminuição proporcional da área III. 22 Importante ressaltar que as mudanças dos quadrantes devem ser monitoradas com habilidade profissional. Principalmente no que se refere à área II, a tendência é de resistência e recusa em ver o que se faz ou sente, de forma que o processo de transformação geralmente leva tempo e requer destreza e conhecimento técnico por parte do coordenador do treinamento. 2.2.2 - Conceituando Habilidade A habilidade de lidar com situações interpessoais engloba várias habilidades, entre as quais procurar ver vários ângulos ou aspectos da mesma situação e atuar de forma diferenciada, não-rotineira, experimentando novas condutas percebidas como alternativas de ação. Outras habilidades consistem em dar e receber feedback, sem o que não se constrói um relacionamento humano autêntico. Assim, o feedback é comunicação a uma pessoa, ou grupo, no sentido de fornecer-lhe informações sobre como sua atuação está afetando outras pessoas. Feedback eficaz ajuda o indivíduo ou o grupo a melhorar seu desempenho e assim alcançar seus objetivos. Para tornar-se realmente um processo útil, o feedback precisa ser, tanto quanto possível: Descritivo ao invés de avaliativo Quando não há julgamento, apenas o relato de um evento, reduz-se a necessidade de reagir defensivamente e assim o indivíduo pode ouvir e sentir-se à vontade para utilizar aquele dado como julgar conveniente. 23 Específico ao invés de geral: Torna-se mais significativo indicar o comportamento de alguém em determinada ocasião do que utilizar um adjetivo para classificar esse mesmo indivíduo acerca de seu comportamento, de forma generalizada. Compatível com as necessidades de ambos ( comunicador e receptor ): As necessidades e motivações do receptor devem ser levadas em consideração e não apenas do comunicador. Dirigido: O comunicador deve apenas sinalizar falhas de ações ao alcance do receptor. Caso contrário, o reconhecimento da falha pelo receptor causará apenas um sentimento de frustração, sem que nenhum progresso seja possível. Oportuno: O momento mais apropriado ao feedback é logo após a ocorrência do comportamento a ser sinalizado, avaliando, é claro, se as condições são favoráveis, como prontidão do receptor para ouvir, apoio de pessoas em comum e clima emocional, por exemplo. Esclarecido para assegurar comunicação precisa: É preciso que se faça a confirmação de que a falha comunicada foi a mesma entendida pelo receptor. Assim, é valido solicitar ao receptor que repita o feedback recebido para assegurar a precisão da comunicação. Outra importante verificação, que, porém, só se pode obter em grupo, é verificar a extensão do 24 feedback, ou seja, confirmar se é uma impressão individual ou compartilhado por outros. 2.3 - Motivação e Relacionamento O primeiro entendimento que devemos ter a respeito de motivação é de que a mesma não pode ser tratada ou aplicada de forma generalizada, quando direcionada a um grupo, ainda que aparentemente de necessidades semelhantes. Moscovici, em sua obra “A organização por trás do espelho”, assim considera: Quando acreditamos que a motivação de várias pessoas seja a mesma em relação a certas situações, e adotamos práticas decorrentes dessa crença, estamos incorrendo em equívoco. As pessoas não são máquinas de desempenho programado e previsível dentro de suas especificações técnicas. A motivação é variada, individual, e direcionada a energia de forma personalizada, tornando diferente o desempenho de empregados com paralisação e experiência bastante semelhantes. ( Moscovici, 2001, pág 160 ) A motivação, para qualquer tipo de ser, está diretamente associada às suas necessidades. Quando tratamos da motivação do ser humano, a análise torna-se bastante complexa, uma vez que o homem raramente alcança um estado de completa satisfação, a não ser por curtos períodos de tempo. Assim, logo que satisfaz um desejo, surge outro, sucessivamente. 25 Uma boa estrutura conceitual para o estudo da motivação humana é a teoria das hierarquias das necessidades básicas, de A. Maslow. A mesma se apresenta da seguinte forma: Fonte:.MOSCOVICI, Felá - “Desenvolvimento interpessoal “ – Rio de Janeiro: José Olympio, 2007 Maslow concebe as necessidades básicas organizadas por categorias em uma hierarquia de predomínio relativo, das quais as necessidades fisiológicas são as primordiais. Quando o organismo humano está dominado por uma determinada necessidade fisiológica, tende a mudar até sua filosofia do futuro. A fome, por exemplo, pode causar no homem uma atitude de renegação a qualquer outra coisa. Assim, a satisfação se torna tão importante quanto a privação, pois libera o organismo do domínio das necessidades fisiológicas, permitindo o aparecimento de outros impulsos ou motivos.Quando as necessidades fisiológicas são 26 razoavelmente satisfeitas, aparece uma nova categoria, a necessidade de segurança. Estas necessidades podem ser bem observadas em crianças, pois o adulto normal e sadio satisfaz suas necessidades de segurança com relativa facilidade em nossa cultura e, por isso, não as apresenta tão claramente como motivadoras de seu comportamento. Entre outros indicadores de necessidades de segurança no adulto normal podem ser citados os seguintes: preferência por um trabalho estável; preferência por coisas familiares; seguros ( de vida, saúde, etc ); desejo de poupança e reservas para o futuro; procura de religião ou filosofia explicativa do mundo e da vida humana, em termos coerentes e significativos. Só em momentos de urgência, ou carência aguda, as necessidades de segurança mostram-se como mobilizadoras ativas e predominantes dos recursos do indivíduo. Quando as necessidades fisiológicas e as de segurança são razoavelmente satisfeitas, aparecem as necessidades de afeto e amor. A pessoa sentirá imperiosa necessidade de amigos, parentes e integração nos grupos a que pertence. Em nossa sociedade, a frustração ou insatisfação das necessidades de afeto constitui uma das causas mais comuns de desajustamento e psicopatologias graves. Uma vez satisfeitas, pelo menos parcialmente, as necessidades de afeto, a pessoa sente também necessidade de avaliação estável e elevada de sua personalidade, ou seja, de auto-estima e estima dos outros. Estas necessidades podem ser concebidas em dois grupos. No primeiro estão envolvidos desejo de força, realização, suficiência, domínio, competência, confiança, independência e liberdade. No segundo grupo temos desejo de reputação, desejo de prestígio, dominação, reconhecimento, atenção, importância e apreço de terceiros. 27 A satisfação das necessidades de estima leva ao desenvolvimento de sentimentos de autoconfiança, capacidade de ser útil e necessário para os outros. Sua frustração produz sentimentos de inferioridade e impotência, levando frequentemente a reações de desalento, de compensação defensiva ou outras manifestações neuróticas. Finalmente, quando o homem satisfaz ás suas necessidades fisiológicas, de segurança, de afeto e de estima regularmente, surge uma necessidade mais elevada, a tendência de atualizar suas potencialidades, com um sentido de plenitude do ser. Um indivíduo tem que ser o que pode ser. Este é o significado da necessidade superior de auto-atualização. O surgimento de uma nova necessidade não se dá de repente, de modo espontâneo. Trata-se de um processo gradativo, à medida que outras necessidades vão sendo satisfeitas. A satisfação e a insatisfação de necessidades passam a ser elementos importantes na teoria da motivação. Uma necessidade satisfeita não é mais um motivador e um homem frustrado em algumas de suas necessidades básicas não pode ser considerado inteiramente desajustado, ao contrário, poderá estar mais motivado, a depender do grau de sua insatisfação. Satisfação e privação possuem conseqüências desejáveis e indesejáveis. Os efeitos de privação prolongada e de satisfação contínua apresentam aspectos semelhantes de arrefecimento da mobilização motivacional. Um homem totalmente satisfeito em suas necessidades tenderia, teoricamente, à inércia. Portanto, uma certa dose de insatisfação de necessidades é que caracteriza a saúde física e mental, pois mobiliza energias a serem utilizadas dinamicamente para o crescimento pessoal. 28 A satisfação de necessidades básicas não deve ser confundida com a satisfação de necessidades neuróticas, desmensuradas e compulsivas, determinando comportamentos rígidos e uniorientados. A satisfação equilibrada das necessidades básicas na infância parece desenvolver um poder excepcional de resistência à frustração presente e futura das necessidades, em decorrência de estruturação sadia e desenvolvimento da personalidade, que apresenta confiança básica e sentimentos de segurança psicológica. A teoria das necessidades básicas foi revista por Roger Harrison ( 1972 ). A maior contribuição dessa revisão foi o estudo e interpretação de Harrison com relação à peculiaridades de aparecimento e satisfação das necessidades, uma vez que não se apresentam da mesma maneira do nascimento à morte. Embora, no início da vida, sejam comuns a todos os indivíduos, à medida que a pessoa vai amadurecendo, suas necessidades básicas também se desenvolvem e adquirem novas formas de expressão e complexidade crescente. Assim, o desenvolvimento pessoal está relacionado com os níveis de desenvolvimento das necessidades básicas. Nesta perspectiva, há cinco níveis de desenvolvimento motivacional humano na sociedade moderna: Privação crônica e frustração. Este estágio, se prolongado, resulta em preguiça, apatia e indiferença à recompensa ou punição com relação ao núcleo físico-econômico. Aparecem, também, a frieza e o distanciamento emocional, ou cinismo com relação a afeição e calor humano, levando, gradativamente, à fuga de relacionamento. Quanto à competência do ego, a motivação vai-se tornando fraca, caracterizada por subrealização, rejeição de metas e de oportunidades de realização. Dependência ou nível básico 29 O núcleo físico-econômico de necessidades caracteriza-se por medo de punição, acomodação, acomodação para obter recompensas, concordância e lealdade superficiais. Exploração encoberta do patrão pelo empregado. Há carência efetiva e busca de aceitação, além do temor de rejeição. Com relação à competência do ego, evidenciam-se estudantes competitivos, orientados para notas procurando elogios e evitando censuras e riscos d fracassos. Contradependência ou segurança Exploração competitiva. O núcleo físico-econômico passa a apresentar esforços agressivos, lutas, coalizões e traições. O núcleo sócio-emocional mostra comportamentos de amor explorador e competitivo, com conduta orientada para busca de popularidade ou rivalidade para conquistas de afeto. No núcleo de competência do ego, o indivíduo necessita provar que é melhor ou mais esperto que os outros, tentando criar formas especiais de exibicionismo e afirmação pessoal exagerada. Desenvolvimento de identidade e valor Surgem as associações com o poder, a riqueza, o status social, pela adoção de códigos de conduta em sociedade, negócios, política, etc. para a satisfação das necessidades físico-econômicas. O grupo passa a constituir uma fonte de afeto e ajuda. O indivíduo sente-se afetuoso em razão de relações afetuosas. Estabelecem-se normas de aceitação intra e intergrupais, não avaliadas criticamente. A competência do ego traduz-se em atração por pessoas e grupos competentes e instruídos, levando, muitas vezes, a ligações parasitárias com pessoas influentes. Normas de grupo relacionadas à verdade e à realização. Autonomia criativa O núcleo físico-econômico tende a buscar satisfação na justiça, honra e outros valores sociais mais elevados, este os quais a filantropia e o senso de obrigação dos ricos e poderosos. As necessidades sócio-emocionais são 30 satisfeitas através do amor com dádiva, pelo prazer de dar, assemelhando-se ao ideal cristão do amor. A competência do ego orienta-se para a verdade como meta, procurando o prazer de saber, criar, realizar, superar obstáculos e estabelecer padrões individuais de competência e auto-realização. Este último nível de desenvolvimento motivacional mostra algumas características de pessoas altamente motivadas para a categoria mais elevada da hierarquia de Maslow, conducente à auto-avaliação ou realização plena de suas potencialidades. Sob este prisma podem ser também vistas diferenças individuais de realização pessoal num processo mais amplo e abrangente que é o próprio desenvolvimento humano. Os indivíduos sadios que satisfizeram suficientemente as suas necessidades básicas de segurança, amor e estima mostram-se, então, motivados para a individualização, o crescimento pessoal, numa tendência constante para a unidade, a integração ou sinergia dentro de si mesmo. Alderfer, revendo também a teoria de Maslow, propôs reduzir o número de categorias para três níveis: o de manutenção ou existência material, o de relações interpessoais e o de oportunidades para o crescimento e desenvolvimento pessoal. Assim, os níveis de necessidades básicas passam a ser o de Existência, em que são potencializadas as necessidades fisiológicas e de segurança, para a sobrevivência; o de Relacionamento, onde sobressaem as necessidades de mutualidade e compartilha, englobando as necessidades sócias e de estima, cuja satisfação está na interação com outras pessoas; e a do Crescimento, com destaque para as necessidades do ego, de auto-estima, autoconfiança, criatividade e de auto-realização, enfrentando desafios que exijam utilização plena de capacidades e habilidades. Apesar dos diversos estudos no campo motivacional, não devemos entender que essa questão está resolvida, decifrada, ou mesmo avançada no que 31 se refere à eficácia na aplicabilidade. Moscovici, ainda em “A organização por trás do espelho” assim se refere ao tema aqui abordado: “A questão da motivação em geral, e no trabalho em especial, é complexa e enganosa. As pesquisas sobre o assunto são inúmeras, porém as conclusões ainda sucintam dúvidas e controvérsias. Teorias e mais teorias motivacionais abordam ângulos diversos e chegam a resultados divergentes, aumentando a perplexidade e o desamparo de gerentes, executivos e empresários quanto a possibilidade de aplicação acertada para obter resulta dos concretos.” ( Moscovici, 2001, pag. 157 ) 32 CAPÍTILO III RELACIONAMENTO INTERPESSOAL E LIDERANÇA A liderança e a participação eficaz em grupo dependem essencialmente da competência interpessoal do líder e dos membros. O trabalho em equipe só terá expressão real e verdadeira se e quando os membros do grupo desenvolverem sua competência interpessoal, o que lhes permitirá alcançar a tão desejada e prolongada sinergia, em seus esforços colaborativos, para obter muito mais que a simples soma das competências técnicas individuais como resultado conjunto do grupo. A este respeito, Felá Moscovici, também em seu livro “A organização por trás do espelho”, de 2001, faz a seguinte colocação: “A liderança é, acima de tudo, um processo interpessoal extremamente complexo que não se limita aos aspectos visíveis e objetivos de técnicas e prescrições. Toda a gama de componentes psicológicos, especialmente os emocionais, evidencia a imensa dificuldade de aplicação da tecnologia gerencial como ferramenta estandartizada.” ( Moscovici, 2001, pág 105 ) Dependendo tipo de grupo ( formal, informal, de trabalho, social, de treinamento, etc. ) e da fase em que se encontra, haverá certas funções a serem executadas por seus componentes. Algumas funções são mais genéricas que 33 outras, existindo em todos os grupos, e são desempenhadas pelos membros para que o grupo possa mover-se ou progredir em direção às suas metas. O complexo processo de interação humana exige de cada participante um determinado desempenho, o qual variará em função da dinâmica de sua personalidade e da dinâmica grupal na situação-momento, ou contexto-tempo. Assim, no plano intrapessoal, o indivíduo reagirá em função de suas necessidades motivacionais, sentimentos, crenças e valores, atitudes e habilidades específicas; no plano interpessoal, influirão as emoções grupais, o sistema de interação, o sistema normativo e a cultura do grupo. A competência interpessoal dos membros do grupo é desenvolvida à medida que eles se conscientizam da variedade de papéis exigidos para o desempenho global do grupo e se sensibilizam para o que é mais apropriado às necessidades existenciais do grupo e de seus membros num determinado momento da vida do grupo. Existem alguma características pessoais que facilitam o desempenho do líder em determinadas circunstâncias, e não em outras, o que podem ser desenvolvidas para maior eficácia no seu desempenho. 3.1 – Estilos de liderança Inicialmente, façamos uma distinção entre “líder” e “estilo de liderança”. Um líder é a pessoa no grupo a qual foi atribuída, formal ou informalmente, uma posição de responsabilidade para dirigir e coordenar as atividades relacionadas à tarefa. Sua maior preocupação prende-se à consecução de algum objetivo específico do grupo. A maneira pela qual uma pessoa numa posição de líder influencia as demais pessoas no grupo é chamada “estilo de liderança”. 34 As concepções de comportamento interpessoal são exploradas pelos psicólogos sociais e especialistas de dinâmica de grupo, indicando os dois níveis de atividades de interação de grupo: o nível da tarefa e o nível socioemocional. A liderança exerce nos dois níveis, com predominância de um deles para definição do estilo manifesto de liderança. Este admite duas dimensões distintas de necessidades do líder: de controle e de participação, que corresponderiam aos dois níveis de atividade do funcionamento grupal. Sob esse ângulo é possível relacionar o estilo de liderança à estrutura de grupo e avaliar a diferença entre as necessidades expressas pelo líder e as oportunidades que ele tem de satisfazêlas na posição que lhe é atribuída nessa estrutura. Pode-se ainda, estudar a relação entre os valores de líderes e membros e a satisfação com a tarefa e a produtividade do grupo. Os dois estilo de segurança são: orientado para controle/tarefa e orientado para participação/manutenção e fortalecimento do próprio grupo. Esses estilos recebem várias denominações e são classificados de acordo com observações comportamentais ou diferenças motivacionais inferidas. Tanto os estilos voltados para o controle/tarefa, quanto os estilos voltados para a participação/manutenção, podem ser eficazes ou ineficazes, a depender da interrelação de fatores situacionais, tais como a natureza da tarefa, a conjuntura, o clima organizacional, a estrutura de recompensas, os valores, motivações e expectativa do líder e dos aliados, a maturidade dos membros do grupo. A conceptualização mais atualizada das teorias situacionais vem a ser a chamada teoria “trilha-meta” de liderança, que utiliza o modelo de expectativa da teoria motivacional de processo, no reconhecimento explícito da relação existente entre liderança, motivação e poder. A teoria “trilha-meta” procura explicar o impacto do comportamento do líder sobre a motivação, a satisfação e o desempenho dos membros do grupo. O comportamento do líder será aceitável para os liderados se for percebido como uma fonte de satisfação imediata ou 35 instrumental à satisfação futura, de acordo com a teoria motivacional de expectativa. Por outro lado, sempre haverá pressões e exigências ambientais sobre os liderados e sobre o líder em qualquer situação do grupo. No modelo “trilha-meta”, os esforços do líder são no sentido de tornar o caminho para os objetivos o melhor possível para os liderados, e para isso é preciso usar o estilo contingencial mais apropriado às variáveis situacionais. Nesta modelo são detectados quatro estilos principais de comportamento: a Liderança diretiva, em que os liderados recebem ordens minuciosas e sabem exatamente o que espera que façam, sem opinar; Liderança de apoio, onde o líder mostra interesse e amizade, preocupando-se verdadeiramente com os liderados e procurando aproximar-se de todos; Liderança participativa, quando o líder dialoga com os liderados, solicitando e usando suas sugestões, mas é ele quem toma as decisões finais; e Liderança orientada para realizações, em que o líder estabelece objetivos desafiantes para os liderados e mostra confiança em suas capacidades para atingi-los com bom desempenho. O modelo sugere que vários estilos podem ser usados pelo mesmo líder em diferentes situações. A eficácia de um estilo de liderança, diretivo ou participativo, depende de vários fatores situacionais, incluindo a natureza da tarefa, a estrutura de recompensas da organização, o clima na organização, as habilidades, personalidade e expectativas do líder e dos membros do grupo. A situação e o grupo influenciam o estilo de liderança, encorajando mais um estilo que outro. O líder precisa ter certa flexibilidade para usar estilos diferentes, sem chegar a extremos de incongruência, da mesma forma coma atende às expectativas de diferentes papéis sociais, desempenhando-os com comportamentos mais ou menos adequados resultantes de sua flexibilidade, motivação e experiência. 36 As concepções de “liderança situacional” e de “estilo ideal” de liderança exigem um exame bem mais detido e reflexões profundas de cada profissional, quanto às características peculiares de sua organização, para chegar a suas próprias conclusões fundamentadas, comparando teorias e experiências de trabalho dia-a-dia. 37 CONCLUSÃO A educação sistemática enfatiza a tecnologia em detrimento do crescimento pessoal e interpessoal, considerado menos importante na sociedade mecanicamente sofisticada. Assim, as dificuldades de comunicação e de relacionamento entre as pessoas são pouco ou nada considerados, resultando cada vez mais em uma crescente entre defasagem entre progresso tecnológico e progresso social. O desenvolvimento Interpessoal passa a ser uma necessidade de desenvolvimento organizacional e social, e pode ser orientado para três níveis de conseqüências: o individual, o grupal e o organizacional. A nível individual, o foco predominante é intrapessoal e interpessoal. Trabalham-se as motivações, os objetivos pessoais, a problemática de interrelação, de afetividade e intimidade. Procura-se obter autoconhecimento e conscientização, habilidades de percepção, comunicação para expressão verbal e emocional, para dar receber feedback. O indivíduo que se conhece e aceita pode fazer opções mais realísticas de mudanças pessoais e preservar sua autenticidade. A nível grupal, o foco é interpessoal e grupal, examinando-se os eventos de subgrupos e grupo total. Trabalham-se as motivações e objetos comuns ao conjunto e a vários subconjuntos, bem como a problemática do poder, da autoridade, controle e influência social. Procura-se aperfeiçoar habilidades de comunicação afetiva, de dar e receber feedback, de diagnosticar e administrar conflitos, de liderança e participação em grupo. Se a competência interpessoal é 38 alcançada nesse nível, os membros do grupo podem dispor-se a trabalhar em equipe de forma real e não apenas no rótulo. A nível organizacional, o foco predominante é o sistema. Trabalham-se as motivações e objetivos individuais, grupais e organizacionais, e a problemática de diferenciação e integração de subsistemas. Procura-se ampliar e aperfeiçoar a capacidade de trabalho em equipe, de diagnóstico e administração de conflitos intergrupais, a competência interpessoal de comunicação, interdependência e integração. Nesse nível, o desenvolvimento interpessoal é orientado para a interdependência de subsistemas e trabalho em equipe e para o desempenho organizacional como um todo. Desenvolvimento Interpessoal, portanto, não se esgota no plano individual de crescimento da pessoa que se relaciona com as demais pessoas de forma eficaz. A competência interpessoal é um processo de qualificação profissional primordial para funções de liderança e outras funções de predominância de intercambio social. Quando se pensa em educação permanente, como uma necessidade e uma solução par os problemas de modernização acelerada em todos os setores, na corrida tecnológica que traduz concretamente desenvolvimento econômico e sociopolítico, a imagem destacada é a do homem produtivo, da mão-de-obra qualificada tecnicamente. Os programas de capacitação e aperfeiçoamento de recursos humanos , em geral, tem negligenciado a qualificação interpessoal, como se as pessoas pudessem trabalhar juntas justapostas apenas, à semelhança de máquinas de funcionamento isolado, sem o complexo sistema de interação humana. 39 Desenvolvimento interpessoal e gerencial devem ser considerados como investimento, com retorno certo e inestimável a médio e longos prazos, como processos educativos que são. Os acertos e desacertos em educação aparecem sempre, inevitavelmente, só que muito tempo depois, o que pode iludir e perturbar planejadores, agentes e delineadores do processo. O grande desafio é não se precipitar quando muitos tem pressa, não desanimar quando muitos não acreditam, e não parar de pensar e agir quando muitos se confrontam e se tronam passivos. 40 BIBLIOGRAFIA CARUSO, David R. e SALOVEY, Peter. Liderança com inteligência emocional. São Paulo: Makron Brooks, 2007. COOPER, Robert K. e SAWAF, Ayman. Inteligência emocional na empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1998. FRITZEN, Silvino Jose. Relações humanas interpessoais - 12ª edição. Petrópolis: Vozes, 2001 GOLEMAN, Daniel. Trabalhando com Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. GOLEMAN, Daniel. O poder da Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Campus, 2002. GARDNER, Howard. Estrutura da Mente. Artes Médicas Sul, 1983. MINICUCCI, Agostino. Relações humanas – Psicologia das relações interpessoais. 6ª edição, 2001. MOSCOVICI, Fela. A Organização por trás do espelho. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 2001. MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal – Treinamento em grupo. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 2007 RYBACK, David. Emoção no local de trabalho. São Paulo: Cultrix, 2000. 41 INDÍCE INTRODUÇÃO 5 CAPÍTULO I 7 RELAÇÕES INTERPESSOAIS 7 1.1 – Teoria das Inteligências Múltiplas 7 1.1.1 – Inteligência lingüística 8 1.1.2 – Inteligência musical 8 1.1.3 – Inteligência lógico-matemática 9 1.1.4 – Inteligência espacial 9 1.1.5 – Inteligência cinestésica 10 1.1.6 – Inteligência interpessoal 10 1.1.7 – Inteligência intrapessoal 10 1.2 – Desenvolvimento Interpessoal e Intrapessoal 12 CAPÍTULO II 15 RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO TRABALHO 15 2.1 – Os processos de interação 16 2.2 – Competência interpessoal 19 2,2,1 – Conceituando percepção 20 2.2.1 – Conceituando habilidade 22 42 2.3 – Motivação e relacionamento 24 CAPÍTULO III 32 RELACIONAMENTO INTERPESSOAL E LIDERANÇA 32 3.1 – Estilos de liderança 33 CONCLUSÃO 37 BIBLIOGRAFIA 40 ÍNDICE 41