Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 19, no. 1, marco, 1997 4 Enfoque Experimental no Ensino de Mec^anica Qu^antica (Experimental Approach on Teaching Quantum Mechanics) Paulo R. S. Gomes, R. Meigikos dos Anjos, Marly S. Santos, Isa Costa, Lucia de Almeida Instituto de Fsica, Universidade Federal Fluminense Av. Gal. Milton Tavares de Souza, s/no., Gragoata, 24210-340, Niteroi, RJ Trabalho recebido em 13 de marco de 1996 Este artigo relata uma proposta de lecionar a disciplina Mec^anica Qu^antica, n~ao como exclusividade de teoricos, mas atraves de um enfoque que torna evidente ao estudante a estreita ligac~ao deste assunto com a Fsica Experimental. Este enfoque e exemplicado utilizando-se soluc~oes de problemas de espalhamento e teoria de perturbac~ao. Abstract This paper presents a proposal of teaching Quantum Mechanics within an approach where it is stressed that this subject is not just a theory, but it is directly related to Experimental Physics. Examples are given on how to use this approach when solving scattering and perturbation theory problems. I. Introduc~ao Geralmente as disciplinas envolvendo Mec^anica Qu^antica (MQ), tanto a nvel de graduac~ao quanto de pos-graduac~ao, s~ao lecionadas com ^enfase puramente teorica. Esta vis~ao esta presente mesmo nas raras ocasi~oes em que o professor que as leciona e um fsico experimental. Alem disso, MQ e considerada uma disciplina teorica por natureza pelas Comiss~oes de Ensino, que distribuem as disciplinas, pelos professores e, consequentemente, pelos alunos. Nas ementas das disciplinas, em qualquer instituic~ao de ensino, encontram-se basicamente os mesmos topicos, que incluem a apresentac~ao dos formalismos e conceitos da MQ e resoluc~ao de problemas, como: oscilador harm^onico, atomo de Hidrog^enio, espalhamento, aplicac~oes de teoria de perturbac~ao etc. O conteudo da disciplina parece, portanto, bastante distante da Fsica que se faz em laboratorio, principalmente na vis~ao do estudante. Raramente o enfoque experimental e dado pelo professor, mesmo quando o livro texto se presta a explicac~ao de fatos experimentais diretamente relacionados com os problemas de MQ, como e o caso do Quantum Mechanics, de Cohen-Tannoudji[1]. Tambem n~ao se pode desprezar os fatos que deagraram o surgimento da MQ, ou seja, resultados experimentais relacionados a absorc~ao/emiss~ao de radiac~ao termica. Durante dois semestres letivos foi realizada uma graticante experi^encia na disciplina Mec^anica Qu^antica II, do curso de Bacharelado em Fsica da UFF, procurando mostrar o vnculo direto entre o conteudo da mesma e a Fsica Experimental. Cabe ressaltar que a disciplina Mec^anica Qu^antica I, onde s~ao abordados os fundamentos e a formulac~ao basica da MQ, n~ao e t~ao adequada ao enfoque experimental aqui tratado. O programa da disciplina n~ao precisou sofrer nenhuma modicac~ao em relac~ao ao enfoque tradicional, anteriormente aplicado pelo mesmo professor e seguindo o mesmo livro texto. Paulo R. S. Gomes et al. A reac~ao dos alunos a este tipo de abordagem foi amplamente favoravel, tendo sido simples a comparac~ao altamente positiva em relac~ao a apresentac~ao tradicional do conteudo. Isto foi constatado pelo interesse demonstrado pelos alunos no decorrer das atividades. A repercuss~ao da proposta foi tambem muito boa entre professores teoricos, que, posteriormente, passaram a solicitar a presenca de pesquisadores experimentais em suas aulas a nvel de pos-graduac~ao, quando ent~ao foram realizadas discuss~oes com os estudantes sobre o que e mensuravel, como se mede etc. O objetivo deste artigo e, ao contribuir neste Volume Especial, enderecar uma mensagem a Comiss~oes de Ensino, professores (teoricos e experimentais) e estudantes interessados no tema, no sentido de alerta-los para a import^ancia do enfoque experimental em MQ, ampliando sua discuss~ao e aprofundamento nas diferentes instituic~oes de ensino do pas. O artigo n~ao se prop~oe a ser um texto didatico sobre o assunto; no entanto, para melhor relatar o enfoque aplicado, ser~ao apresentados alguns exemplos de analise de problemas concretos. Como a maioria dos autores trabalha, ou ja trabalhou, com pesquisa em Fsica Nuclear, tais exemplos concentram-se em aplicac~oes desta area. Porem, cada professor encontrara facilmente exemplos de aplicac~oes em outras areas de pesquisa, o que tambem contribuira para despertar o interesse e a motivac~ao de alunos de graduac~ao em aprofundar seus conhecimentos em areas especcas da pesquisa experimental. Uma diculdade existente na aplicac~ao da proposta e a aus^encia de livros textos com o aprofundamento deste enfoque, o que a torna muito dependente da formac~ao prossional e do conhecimento de Fsica Experimental do professor da disciplina. Para minimizar este problema, e de fundamental import^ancia a interac~ao entre professores com formac~ao teorica e experimental. II. Desenvolvimento da Proposta A inovac~ao desta experi^encia didatica pode ser resumida em dois aspectos. De incio, procura-se deixar claro que, apesar de todos os problemas a serem resol- 5 vidos comecarem com a denic~ao do sistema a ser estudado e de sua Hamiltoniana, na pesquisa em Fsica, geralmente o maior interesse reside justamente num melhor conhecimento da Hamiltoniana. E este conhecimento e obtido pela confrontac~ao dos resultados dos problemas (predic~oes teoricas) com dados experimentais (medic~oes). O segundo passo e uma ampla analise dos resultados dos problemas, com ^enfase sobre: quais s~ao, na pratica, as grandezas mensuraveis; como medir essas grandezas; o que se determina a partir dos dados experimentais; como planejar experi^encias que possibilitem a determinac~ao desses dados; etc. Os topicos de Espalhamento e Teoria de Perturbac~ao s~ao excelentes para serem amplamente explorados em diversas areas da Fsica. II.1 - Exemplos com Problemas de Espalhamento * Enfoque teorico A soluc~ao de problemas de espalhamento de partculas por um potencial de curto ou longo alcance envolve, em geral, as seguintes etapas: - denic~ao do potencial espalhador, que comumente e do tipo central, V (r); - resoluc~ao da equac~ao de Schrodinger, que pode seguir metodos diferentes, tais como o de ondas parciais, ou o de aproximac~ao de Born; - determinac~ao das grandezas que especicam a soluc~ao da equac~ao de Schrodinger, como deslocamentos de fase, amplitudes de espalhamento, sec~oes de choque. Por exemplo, pelo metodo de ondas parciais obtemse as seguintes express~oes para as sec~oes de choque diferencial, k (), e total, k : 1 p 2 X 4(2l + 1)ei Yl0 k () = k12 l l=0 k = 4 k2 1 X l=0 (2l + 1)sen2 l (1) (2) 6 Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 19, no. 1, marco, 1997 onde: k e o numero de onda; e o ^angulo de espalhamento; l e o momento angular orbital; l e o deslocamento de fase; e Yl0 e a func~ao harm^onico esferica para m = 0. Os valores dos deslocamentos de fase s~ao obtidos ao se resolver a equac~ao de Schrodinger para cada onda parcial, e s~ao eles que cont^em informac~oes sobre o potencial espalhador. * Enfoque experimental Inicialmente deve ser explicado como se realiza uma experi^encia de espalhamento de partculas em laboratorio e quais as grandezas e par^ametros envolvidos. Para tanto, e necessario especicar os par^ametros: - xos e variaveis durante a experi^encia; - determinados a partir da montagem experimental; - mensuraveis e suas formas de medic~ao. Finalmente, deve-se ter bem claro quais as informaco~es que se quer obter a partir das medic~oes feitas. Um exemplo destes procedimentos e feito, baseando-se na montagem experimental simples da Fig. 1, para o problema de espalhamento de partculas. Figura 1. Esquema de um arranjo experimental simples para medidas de seca~o de choque de espalhamento. O feixe e originario de um acelerador; os colimadores servem para uma boa denica~o das direc~oes incidente e espalhada; na gura est~ao representadas duas posic~oes angulares distintas do detetor. Um feixe de partculas carregadas X (eletrons, protons, ou nucleos pesados), proveniente de um acelerador, incide sobre um alvo (l^amina na) de um material A. A maior parte das partculas X atravessa o alvo sem interagir com as partculas A, mas diversas sofrem interac~oes atraves de um potencial V. Se um detetor for colocado a um a^ngulo com a direc~ao incidente, este sera capaz de informar: - o numero de partculas X deetidas entre os ^angulos e ( =2), durante um certo intervalo de tempo, sendo a abertura angular do detetor; - a energia das partculas. O detetor informa, portanto, quantas partculas X foram espalhadas elasticamente pelo centro espalhador, constitudo de partculas A, numa certa direca~o e ^angulo solido, durante certo tempo. Assim, o detetor determina a relac~ao entre o numero de partculas detetadas (Nd ) e a sec~ao de choque diferencial de espalhamento elastico, d=d , dada por Nd = Ni NA (d=d ) ; (3) onde: Ni e NA s~ao, respectivamente, o numero de partculas X incidente no alvo durante o tempo de contagem no detetor e o numero de partculas no alvo; e o ^angulo solido subentendido pelo detetor. Toda a Fsica do problema encontra-se na sec~ao de choque diferencial, que depende do potencial V atraves de sua relac~ao com o deslocamento de fase l , como mostra a equac~ao (1); k () e a integral de d=d em relaca~o ao ^angulo azimutal . Determinam-se Ni , NA , e atraves de medic~oes: Ni - utiliza-se um Copo de Faraday (Fig. 1), colocado ao nal da canalizac~ao do acelerador, apos o alvo; um dispositivo eletr^onico acoplado ao Copo de Faraday permite a leitura da carga eletrica total que o atinge durante o intervalo de tempo de contagem. Conhecida a carga de cada partcula incidente X, pode-se ent~ao calcular quantas partculas X chegam ao Copo. NA - e obtido conhecendo-se a espessura e a densidade do alvo. Em geral, a espessura de alvos muito nos e calculada por uma relac~ao entre seu peso, area e densidade. - mede-se a posic~ao angular do detetor em relaca~o ao alvo e divide-se este valor pela area do detetor exposta ao feixe espalhado (muitas vezes esta area e limitada por colimadores, como mostrado na Fig. 1). Desta forma, conhecendo-se Nd pode-se determinar k (). Para se tirar alguma conclus~ao sobre o potencial, Paulo R. S. Gomes et al. 7 varia-se o ^angulo e obtem-se toda a depend^encia angular para a sec~ao de choque diferencial, que n~ao depende do ^angulo azimutal no caso do potencial ser central; integrando-se em , calcula-se a sec~ao de choque total k . Pela analise das distribuic~oes angulares para diversos valores de l, determinam-se quais os l n~ao nulos para uma dada energia incidente. Depois, variando-se tambem a energia do feixe, e com isto o numero de onda k, obtem-se o valor do l crtico, isto e, o l acima do qual todos os demais s~ao nulos. Deve-se ressaltar que as diferencas de fase n~ao s~ao medidas diretamente. Este conjunto de dados gera informac~oes sobre a forma, intensidade e alcance de potenciais, que em geral possuem par^ametros ajustaveis atraves dos dados experimentais, como sera exemplicado na aplicac~ao a seguir. II.2. Aplicaca~o - O Potencial Nuclear e o Espalhamento Elastico O espalhamento nuclear entre dois ons pesados e uma aplicac~ao interessante do espalhamento elastico na determinac~ao do potencial de interac~ao. Como n~ao existe uma forma analtica para se descrever o forte potencial atrativo nuclear, utiliza-se ent~ao o artifcio de modelos para estuda-lo. Dois nucleos podem interagir atraves de dois tipos de potencial: VN - nuclear, atrativo, de curto alcance e desconhecido; VC - Coulombiano, repulsivo, de longo alcance e conhecido. Assim, o potencial total e dado por V = VN + VC (4) E comum descrever o potencial nuclear por uma express~ao do tipo Woods-Saxon, com uma parte real e outra imaginaria, na forma[2] iW0 (5) V0 ; VN = ; r ; r 1 + exp a 1 + exp r;a r r r i i onde: V0 (W0 ), rr (ri ) e ar (ai ) s~ao, respectivamente, a profundidade, o raio e a difusividade da parte real (imaginaria) do potencial nuclear. Esta forma de descrever [2] o potencial nuclear e chamada de Modelo Optico .A parte imaginaria e responsavel pela absorc~ao do uxo do canal elastico em algum mecanismo de reac~ao, de forma analoga a parte imaginaria do deslocamento de fase, que esta relacionada com esta mesma absorc~ao[1] . Um dos maiores interesses dos fsicos nucleares e determinar os valores dos par^ametros acima mencionados, para diversos nucleos e pares de nucleos, o que pode ser obtido atraves do ajuste de distribuico~es angulares do espalhamento elastico entre ons pesados. A Figura 2 mostra um exemplo destas distribuico~es com os respectivos ajustes, atraves dos quais se determinam os par^ametros do potencial optico[3] . Neste caso, as partculas X e A s~ao, respectivamente, 16O e 64 Zn, e as distribuic~oes est~ao representadas em termos da raz~ao entre a sec~ao de choque de espalhamento elastico e a sec~ao de choque de Rutherford (espalhamento puramente Coulombiano). E interessante lembrar que a seca~o de choque de Rutherford, obtida atraves da aplicac~ao da teoria de perturbac~ao dependente do tempo, e uma ferramenta experimental importantssima, uma vez que possibilita, por exemplo, a determinac~ao da espessura de alvos, calibraco~es e testes de eci^encia de detetores nucleares, bem como o alinhamento de uma c^amara de espalhamento e o monitoramento da experi^encia em execuc~ao. Uma analise cuidadosa da Fig. 2 revela que: i) xando-se em um valor de energia: - enquanto os dados experimentais descrevem uma linha horizontal (del =dR = 1); ocorre apenas espalhamento Coulombiano; os valores de CM para este caso s~ao correspondentes a ^angulos dianteiros, ou seja, colis~oes distantes associadas a ondas parciais com altos valores de l; - a partir de certo valor de CM , surgem desvios entre as sec~oes de choque de espalhamento elastico e Rutherford, indicando o incio da inu^encia da interac~ao nuclear; as colis~oes ocorrem a dist^ancias muito curtas. ii) comparando-se as curvas para diferentes energias: a faixa angular em que ocorre apenas espalhamento Coulombianodiminuia medida que a energia aumenta; para cada valor de energia e possvel determinar um valor de CM a partir do qual observa-se a contribuic~ao do potencial nuclear. Por exemplo: para ECM = 32 MeV, o valor deste a^ngulo e em torno de 130, enquanto que para ECM = 51:2 MeV o ^angulo e aproximadamente 30. Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 19, no. 1, marco, 1997 8 Figura 2. Os ajustes de varias destas distribuic~oes, para diferentes energias do feixe, permitem que valiosas informac~oes sobre o potencial sejam obtidas; dentre elas, o alcance do mesmo, uma vez que existe uma relac~ao direta entre o ^angulo de espalhamento e a dist^ancia de maior aproximac~ao entre os nucleos interagentes. Do ponto de vista do enfoque tradicional, o problema a ser resolvido consiste em se determinar a amplitude de espalhamento dada pela express~ao f() = fC () + fN () 6) onde fC () e fN () s~ao as contribuic~oes do potencial Coulombiano e nuclear, respectivamente. A sec~ao de choque diferencial e ent~ao calculada pela express~ao d 2 2 d = j(fC ()j + jfN ()j + [fC ()fN ()+ fC ()fN ()] (7) Note-se o termo de interfer^encia entre os dois potenciais. As oscilac~oes nas distribuic~oes angulares de espalhamento elastico s~ao incrivelmente bem ajustadas por potenciais nucleares como os mencionados acima.[2] II.3. Aplicaca~o - Problemas usando aproximac~ao de Born Para potenciais fracos e de longo alcance, e comum estudar o espalhamento usando a aproximac~ao de Born, atraves da qual se chega a seguinte relac~ao entre seca~o de choque diferencial e potencial espalhador Z 2 k(B) () = 4~2 j d3r exp(;iK~ ~r)V (r)j2 (8) onde: K~ = ~kd ; ~ki; ~kd e ~ki s~ao, respectivamente, os vetores de onda dos feixes detetado e incidente. A discuss~ao deste problema e similar ao descrito anteriormente por ondas parciais, pois mede-se k () da mesma forma ja descrita. As informac~oes sobre os par^ametros do potencial espalhador V (r) s~ao ent~ao obtidas. Paulo R. S. Gomes et al. II.4. Exemplos com Problemas de Teoria da Perturbaca~o * Enfoque teorico Este e um excelente assunto para se mostrar a relac~ao direta entre a teoria qu^antica e resultados experimentais, sendo grande o numero de exemplos de problemas apresentados em MQ envolvendo perturbac~oes independentes e dependentes do tempo. Livros textos como o de Cohen-Tannoudji[1] exploram explicitamente varios resultados experimentais, de forma proxima a que esta sendo sugerida neste artigo. Os sistemas n~ao perturbados mais usuais s~ao o atomo de Hidrog^enio e o oscilador harm^onico. Em geral s~ao apresentados varios efeitos perturbativos, tais como: interac~ao spinorbita, aplicac~ao de campos externos, interac~ao de radiac~ao com o atomo etc. A soluc~ao do problema tem incio explicitando-se a express~ao da contribuic~ao da perturbac~ao a Hamiltoniana, sendo ent~ao calculados os novos autovalores e autoestados e as probabilidades de transic~ao, alem de serem deduzidas regras de selec~ao. * Enfoque experimental Como mencionado anteriormente, ao contrario do que ocorre com a teoria de espalhamento, n~ao e difcil encontrar livros textos de MQ abordando resultados experimentais em diversos exemplos interessantes envolvendo variaco~es de nveis de energia at^omicos com a aplicac~ao de campos externos, efeitos de estrutura na e hiperna, probabilidades de transic~ao entre nveis at^omicos etc. N~ao se pretende neste trabalho a repetic~ao dos mesmos, no entanto cabe enfatizar a import^ancia de se explicar ao aluno quais as grandezas efetivamente mensuraveis. Por exemplo, os nveis de energia de atomos, nucleos e moleculas, com seus respectivos momentos angulares, podem ser determinados atraves da soluc~ao de complexos \quebra-cabecas" envolvendo as frequ^encias dos fotons (raios X e ) emitidos pelo material, apos os mesmos terem sido excitados por colis~oes ou interac~ao com radiac~ao externa. Os raios X (ou ) caractersticos de cada elemento at^omico (ou nucldeo) s~ao registrados 9 por um detetor de radiac~ao que fornece os seus espectros de energia, ou seja, o numero de fotons detetados com determinados valores de energia ou frequ^encia, dando informac~oes sobre as diferencas entre os nveis de energia inicial e nal correspondentes. Quando mais de um detetor e colocado proximo ao alvo, e possvel realizar experi^encias em \coincid^encia", onde se determinam quais os raios X (ou ) que foram emitidos sob a forma de uma cascata sequencial de desexcitac~ao, facilitando e permitindo a precisa \montagem" dos nveis de energia`. Se o potencial utilizado estiver correto, esses nveis ser~ao previstos pela soluca~o da equac~ao de Schrodinger. Outros testes diretos da teoria podem ser exemplicados para se determinar: - a proporcionalidade entre o numero de fotons detetados num certo intervalo de tempo e a intensidade da transic~ao correspondente; - a relac~ao entre as larguras dos picos correspondentes as transic~oes e as larguras de resson^ancias; - calculo dos momentos angulares dos fotons emitidos, a partir da analise das formas das suas distribuic~oes angulares. Consequentemente, sera possvel vericar as regras de selec~ao e calcular os momentos eletricos e magneticos dos fotons. As diversas caractersticas de certas transic~oes detetadas so podem ser explicadas por efeitos de estrutura na, ou hiperna, ou ainda de \anarmonicidade", permitindo que estas informac~oes experimentais sejam usadas para desenvolvimento da teoria e para a determinac~ao de par^ametros. III. Conclus~oes A avaliac~ao da implementac~ao desta proposta foi realizada junto aos alunos e a diversos professores que dela tiveram conhecimento durante sua aplicac~ao; os resultados t~ao positivos motivaram a iniciativa da sua divulgac~ao para que ela seja aplicada e aperfeicoada em outras instituic~oes de ensino e pesquisa do pas. Assim, fsicos experimentais s~ao incentivados a lecionar MQ, 10 Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 19, no. 1, marco, 1997 bem como ca estimulada uma interac~ao mais forte entre teoricos e experimentais de uma mesma instituic~ao ao prepararem suas aulas desta disciplina. Acredita-se que um dos principais motivos do sucesso da proposta tenha sido esse entrosamento. Outro aspecto tem a ver com o enriquecimento dos conteudos da disciplina. Os exemplos aqui citados, voltados para a Fsica Nuclear, s~ao t~ao interessantes quanto os de outras areas da Fsica, havendo ampla gama de opc~oes para os professores da disciplina. Com este enfoque acredita-se que os estudantes estar~ao vivenciando situac~oes mais proximas de linhas de pesquisa experimental, facilitando uma futura escolha por uma delas. Refer^encias bibliogracas 1. C. Cohen-Tannoudji, B. Diu, F. Laloe, Quantum Mechanics, John Wiley and Sons, New York, 1977. 2. R. Bass, Nuclear Reactions with Heavy Ions, Springer-Verlag, Berlim, 1980. 3. C. Tenreiro, J. C. Acquadro, P. A. B. Freitas, R. Liguori Neto, N. Cuevas, P. R. S. Gomes, R. Cabezas, R. M. Anjos, J. Copnell, \Elastic and Inelastic Scattering of 16O + 64Zn at near Barrier Energies", Physical Review C 53, 2870 (1996).