UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE PEDIATRIA DISCIPLINA DE GASTROENTEROLOGIA, HEPATOLOGIA E ENDOSCOPIA PEDIÁTRICA Pancreatite Crônica Ana Catarina Gadelha de Andrade Residente de 3º Ano Pancreatite crônica: diagnóstico e tratamento INTRODUÇÃO • Pancreatite é definida como a presença histológica de inflamação no parênquima do pâncreas. • Pancreatite aguda é um processo reversível, caracterizado pela presença de edema intersticial, infiltração de células inflamatórias agudas e vários graus de necrose, apoptose e hemorragia. • Por outro lado, a pancreatite crônica (PC) provoca alterações irreversíveis na anatomia e função do pâncreas. Fibrose e infiltrado de células inflamatórias crônicas podem levar à insuficiência exócrina, endócrina ou ambas. Bai et al. What Have We Learned About Acute Pancreatitis in Children? J Pediatr Gastroenterol Nutr, Vol 52, Num 3, 2011. INTRODUÇÃO • O consumo de álcool é a principal causa de PC nos países ocidentais (70-90%). • A prevalência de pancreatite crônica é 10 a 30 por 100.000 habitantes e afeta cerca de 8 novos pacientes por 100.000 habitantes por ano nos Estados Unidos. • Nas crianças, a maioria dos quadros é decorrente de causas genéticas: fibrose cística e pancreatite hereditária. 1.BACHMANN K. et al. Surgical treatment in chronic pancreatitis timing and type of procedure. BestPractice&ResearchClinicalGastroenterology, 24:299-310, 2010. 2. Jolley C. D. Pancreatic disease in children and adolescents. Curr Gastroenterol Rep. 12 (2):106-13, 2010. PATOGÊNESE • Tradicionalmente, a pancreatite crônica foi definida como independente da pancreatite aguda. • No entanto, pancreatite aguda, aguda recorrente e crônica são consideradas uma doença contínua. • Há várias razões para esta mudança: pancreatite aguda recorrente pode levar à pancreatite crônica; há uma sobreposição de fatores causais genéticos e ambientais; protocolos experimentais podem induzir qualquer condição; quadros de pancreatites são estereotipados. • Evidências clínicas e experimentais apóiam a hipótese da necrose-fibrose, como determinante da injúria pancreática progressiva. Braganza J. et al. Chronic pancreatitis. Lancet 377: 1184–97, 2011 Witt H. et al. Chronic Pancreatitis: Challenges and Advances in Pathogenesis, Genetics, Diagnosis, and Therapy. Gastroenterology vol. 132, No. 4, 2007. PATOGÊNESE • Pesquisas para elucidação do mecanismo molecular da pancreatite crônica, particularmente a fibrose pancreática, ganharam impulso significativo com a identificação, isolamento, e caracterização das células estreladas no pâncreas. • As células estreladas ativadas desempenham um papel fundamental no processo de fibrogênese pela sua capacidade de regulação da síntese e degradação das proteínas da matriz extracelular que compõem o tecido fibroso. Shimizu K. Mechanisms of pancreatic fi brosis and applications to the treatment of chronic pancreatitis . J Gastroenterol, 43:823–832, 2008. Shimizu K. Mechanisms of pancreatic fi brosis and applications to the treatment of chronic pancreatitis . J Gastroenterol, 43:823–832, 2008. J. Jupp et al. The epidemiology and socioeconomic impact of chronic pancreatitis. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology 24:219-231, 2010. Nydegger A et al. Childhood pancreatitis. Journal of Gastroenterology and Hepatology 21: 499–509, 2006. ETIOLOGIA • FIBROSE CÍSTICA • A fibrose cística (FC) é causada por mutação autossômica recessiva do gene regulador da condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR) localizado no cromossomo 7. • A pancreatite é uma complicação rara (2%) na evolução de pacientes com FC. Pode ocorrer de forma aguda, isolada ou recorrente, ou evoluir para a cronicidade com destruição progressiva da glândula. • Os dois mecanismos pelos quais a disfunção do CFTR leva a episódios de pancreatite são a produção de secreção viscosa com déficit de água e bicarbonato, tamponando os ductos Aguirre A. et al. Pancreatitis en la fibrosis quística: correlación con pancreáticos, e o processo inflamatório associado. el genotipo y estado pancreático. An Pediatr (Barc). 2011. Aguirre A. et al. Pancreatitis en la fibrosis quística: correlación con el genotipo y estado pancreático. An Pediatr (Barc). 2011. ETIOLOGIA • PANCREATITE HEREDITÁRIA • Para o diagnóstico da pancreatite crônica hereditária, não deve existir outra causa detectável de pancreatite crônica, e o paciente deve ter um parente de primeiro ou segundo grau com pancreatite crônica comprovada. • É definida como uma doença autossômica dominante com uma penetrância de 80%. • Manifesta-se tipicamente em uma idade mais avançada; calcificação pancreática e diabetes mellitus são complicações menos freqüentes, em relação a pancreatite crônica alcoólica. Teich N. & Mossner J. Hereditary chronic pancreatitis. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology Vol. 22, No. 1, pp. 115–130, 2008. ETIOLOGIA • A descoberta de pancreatite associada a mutações do gene tripsinogênio catiônico (PRSS1), em 1996, demonstrou que o tripsinogênio desempenha um papel central na patogênese da pancreatite humana. • Estas mutações afetam o equilíbrio das proteases e seus inibidores no interior do pâncreas, levando à autodigestão do órgão. • O risco de câncer de pâncreas com uma mutação PRSS1 parece ser elevada. Teich N. & Mossner J. Hereditary chronic pancreatitis. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology Vol. 22, No. 1, pp. 115–130, 2008. Teich N. & Mossner J. Hereditary chronic pancreatitis. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology Vol. 22, No. 1, pp. 115–130, 2008. Teich N. & Mossner J. Hereditary chronic pancreatitis. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology Vol. 22, No. 1, pp. 115–130, 2008. ETIOLOGIA • PANCREATITE TROPICAL • Pancreatite tropical é uma forma especial de pancreatite crônica, que ocorre em países em desenvolvimento na Ásia, África e América Central. • Ocorre em crianças e adolescentes e é caracterizada por dor abdominal, calcificação pancreática e diabetes. • O mecanismo patogenético é semelhante às outras formas de pancreatite crônica, onde uma lesão aguda causa necrose seguida por fibrose (hipótese necrose-fibrose). • No entanto, as causas de lesão pancreática inicial consideradas eram: desnutrição grave, consumo de glicosídeos cianogênicos da mandioca, estase pancreática, infecções e mecanismos auto-imunes. Tander R. K. Tropical pancreatitis. J Gastroenterology 42[Suppl XVII]:141–147, 2007. ETIOLOGIA • Atualmente, apenas dois fatores etiológicos são considerados: estresse oxidativo e mutações genéticas. Tander R. K. Tropical pancreatitis. J Gastroenterology 42[Suppl XVII]:141–147, 2007. ETIOLOGIA • ERROS INATOS DO METABOLISMO • Pancreatites crônica e aguda recorrente têm sido relatadas em pacientes com uma variedade de erros inatos do metabolismo (hiperlipidemias, distúrbios da degradação da cadeia ramificada de aminoácidos, homocistinúria, doenças hemolíticas, porfiria aguda intermitente e vários defeitos do transportador de aminoácidos). • Algumas destas entidades são doenças extremamente raras. • A maioria dessas síndromes são herdadas e, muitas vezes, famílias inteiras são portadoras de mutações que podem estar associadas a pancreatites de diferentes graus. Simon P. et al. Acute and Chronic Pancreatitis in Patients with Inborn Errors of Metabolism. Pancreatology 2001;1:448–456 Pancreatite causada por Hiperlipidemia Deficiência hereditária de lipoproteína Lipase Deficiência apolipoproteína C-II Transtornos do armazenamento de glicogênio Hipertrigliceridemia familiar e quilomicronaemia Cetoacidúria de cadeia ramificada Deficiência de 3-Hidroxi-3-metilglutaril-CoA liase Porfiria aguda intermitente Deficiência de piruvato quinase Cistinúria Intolerância proteína lisinúrica Simon P. et al. Acute and Chronic Pancreatitis in Patients with Inborn Errors of Metabolism. Pancreatology 2001;1:448–456 ETIOLOGIA • PANCREATITE IDIOPÁTICA • É a segunda forma de pancreatite crônica mais frequente, após a pancreatite alcoólica, na civilização ocidental. • Pancreatite crônica idiopática é diagnosticada através da exclusão de outras potenciais causas de pancretite (10-25%). • Associada a mutações de genes que regulam a ativação do tripsinogênio (PRSS1) / inativação (SPINK-1) e CFTR. • Início precoce- nas primeiras duas ou três décadas de vida; prejuízos na função e morfologia pancreáticas ocorrem lentamente. • Início tardio- após a quinta década de vida; insuficiência pancreática pode ser a primeira manifestação. Keller J. Idiopathic chronic pancreatitis. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology Vol. 22, No. 1, pp. 105–113, 2008. ETIOLOGIA • PANCREATITE AUTOIMUNE • Pancreatite crônica caracterizada pela presença de autoanticorpos, níveis elevados de imunoglobulinas e histopatológico com presença de infiltrado inflamatório linfoplasmocitário e destruição ductal com atrofia acinar. • Na literatura, a incidência varia entre l.86% e 6,6% dos casos de pancretite crônica. • A maioria dos casos envolve pacientes em idade adulta avançada, porém a doença afeta uma ampla faixa etária. • Anticorpos contra antígenos anidrase carbônica II são positivos em 30-59% e anticorpos lactoferrina em 50-76%. Dite P. et al. Autoimmune pancreatitis. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology. vol. 22, No. 1, pp. 131–143, 2008 ETIOLOGIA • Em 60% dos casos, existe a associação com outras doenças auto-imunes, como colangite esclerosante primária, cirrose biliar primária, hepatite auto-imune, síndrome de Sjogren e outras doenças inflamatórias. • Ocorre boa resposta aos glicocorticoesteróides. Dite P. et al. Autoimmune pancreatitis. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology. vol. 22, No. 1, pp. 131–143, 2008 QUADRO CLÍNICO *Dor abdominal *Má absorção *Diabetes Witt H. et al. Chronic Pancreatitis: Challenges and Advances in Pathogenesis, Genetics, Diagnosis, and Therapy. Gastroenterology vol. 132, No. 4, 2007. QUADRO CLÍNICO • DOR ABDOMINAL • Dor abdominal é o sintoma clínico dominante, e a indicação mais comum para intervenção cirúrgica em pacientes com pancreatite crônica. • A dor leva à diminuição do apetite, contribuindo para a desnutrição e perda de peso. Geralmente, é de localização epigástrica e pode irradiar para as costas. Pode ser atenuada com a posição sentada, com o tronco para frente ou com a posição de cócoras, e pode ser agravada no período pósprandial. • A dor pode ser recorrente ou contínua. A maioria dos pacientes pode ter alívio ou resolução da dor abdominal com o passar do tempo. • O alívio da dor pode coincidir com o início da insuficiência pancreática exócrina. Witt H. et al. Chronic Pancreatitis: Challenges and Advances in Pathogenesis, Genetics, Diagnosis, and Therapy. Gastroenterology vol. 132, No. 4, 2007. QUADRO CLÍNICO • MÁ ABSORÇÃO INTESTINAL • É resultado da insuficiência pancreática exócrina (IPE). • Esteatorréia e perda de peso são as características mais importantes da pancreatite crônica. • Esteatorréia é um sintoma de doença avançada e não ocorre até que a secreção de lipase pancreática esteja reduzida para menos de 10% do normal. • Má absorção de lipídios ocorre mais cedo do que a de outros nutrientes (proteínas e carboidratos), já que a secreção de lipase diminui mais rapidamente do que a secreção de protease e amilase. Witt H. et al. Chronic Pancreatitis: Challenges and Advances in Pathogenesis, Genetics, Diagnosis, and Therapy. Gastroenterology vol. 132, No. 4, 2007. QUADRO CLÍNICO • DIABETES • O diabetes mellitus pode se desenvolver no curso de longa duração da doença. • O diabetes é classificado como tipo IIIc, de acordo com a American Diabetes Association, e é caracterizada pela destruição de células produtoras de insulina e glucagon. • A deficiência co-existente da síntese de glucagon agrava os episódios de hipoglicemia. Witt H. et al. Chronic Pancreatitis: Challenges and Advances in Pathogenesis, Genetics, Diagnosis, and Therapy. Gastroenterology vol. 132, No. 4, 2007. C. Diseases of the exocrine pancreas 1. Pancreatitis 2. Trauma/pancreatectomy 3. Neoplasia 4. Cystic fibrosis 5. Hemochromatosis 6. Fibrocalculous pancreatopathy 7. Others American Diabetes Association. Diagnosis and Classification of Diabetes Mellitus. Diabetes Care vol 29, sup 1, 2006. Nydegger A et al. Childhood pancreatitis. Journal of Gastroenterology and Hepatology 21: 499–509, 2006. DIAGNÓSTICO • • • • Quadro clínico Anátomo-patológico Enzimas séricas Testes de função – Direto – Indireto • Exames de imagem DIAGNÓSTICO • ANÁTOMO-PATOLÓGICO • O padrão-ouro diagnóstico da doença em estágio inicial seria uma adequada biópsia cirúrgica, que é raramente disponível. • Lesões iniciais são focais, levando a resultados falsonegativos. • Na histologia, a tríade de doença estável (independentemente da causa ou local) é a perda acinar, infiltração de células mononucleares e fibrose. • Cada processo inflamatório causa necrose focal de gordura, que podem levar a formação de pseudocistos ou fibrose. • Nervos mostram perda do perineuro adjacente ao foco inflamatório, enquanto a expressão de nociceptores nas terminações nervosas está aumentada. Braganza J. et al. Chronic pancreatitis. Lancet 377: 1184–97, 2011 DIAGNÓSTICO • ENZIMAS SÉRICAS • Em pacientes com dor típica, os níveis de enzimas pancreática, principalmente lipase, são determinados a fim de identificar um episódio agudo da doença. • Na ausência de quadro agudo, podem ser encontrados níveis de lipase ou amilase reduzidos. Porém, a sensibilidade destes testes é baixa, e nenhum deles, isoladamente, são úteis no diagnóstico. Witt H. et al. Chronic Pancreatitis: Challenges and Advances in Pathogenesis, Genetics, Diagnosis, and Therapy. Gastroenterology vol. 132, No. 4, 2007. DIAGNÓSTICO • TESTES DE FUNÇÃO • As principais indicações para testes de função pancreática são: diarréia crônica, esteatorréia, dor abdominal, ganho de peso insuficiente ou perda de peso. • A função pancreática exócrina pode ser avaliada por testes diretos ou indiretos. • Testes diretos, como o teste de secretina-colecistocinina, tem maior sensibilidade e especificidade. Devido à sua confiabilidade, o teste de secretina-colecistocinina é o procedimento padrão para a avaliação da função pancreática Walkowiak et al. Indirect Pancreatic Function Tests in Children. exócrina. J Pediatr Gastroenterol Nutr, Vol. 40, No. 2, 2005. DIAGNÓSTICO • No entanto, são testes demorados, caros, desconfortáveis e não são padronizados em crianças, o que os tornam inadequados para o uso rotineiro em pacientes pediátricos.¹ • Os testes diretos são baseados na medida direta do bicarbonato e enzimas pancreáticas da secreção duodenal, obtida através da estimulação da glândula por administração intravenosa de secretina/colecistoquinina ou refeição teste por via oral.² 1.Walkowiak et al. Indirect Pancreatic Function Tests in Children. J Pediatr Gastroenterol Nutr, Vol. 40, No. 2, 2005. 2.Muñoz J. E. Diagnosis of chronic pancreatitis: Functional testing. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology24:233–241, 2010. Muñoz J. E. Diagnosis of chronic pancreatitis: Functional testing. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology24:233–241, 2010 DIAGNÓSTICO • TESTE DA SECRETINA-COLECISTOQUININA • Consiste na administração de sonda nasoduodenal, seguida da infusão endovenosa de secretina ou colecistoquinina e aspiração do suco duodenal para quantificação de enzimas e bicarbonato. • Permite a classificação de insuficiência pancreática exócrina em disfunção leve, moderada ou grave; • Sensibilidade e especificidade > 90%. Muñoz J. E. Diagnosis of chronic pancreatitis: Functional testing. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology24:233–241, 2010 DIAGNÓSTICO • TESTE ENDOSCÓPICO • Inicialmente é necessária sedação do paciente para realização de endoscopia digestiva alta (EDA). • Após administração intravenosa de secretina ou colecistoquinina, faz-se aspiração da secreção duodenal guiada por EDA (0, 15, 30, 45 60 min) para a análise da concentração de bicarbonato ou da atividade das enzimas pancréaticas. Muñoz J. E. Diagnosis of chronic pancreatitis: Functional testing. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology24:233–241, 2010 DIAGNÓSTICO • PANCREATOGRAFIA COM RESSONÂNCIA MAGNÉTICA • É necessária a infusão intravenosa de secretina. • Permite uma medição quantitativa do volume da secreção pancreática. • Fornece informações sobre alterações do ducto pancreático e da função da glândula. Muñoz J. E. Diagnosis of chronic pancreatitis: Functional testing. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology24:233–241, 2010 DIAGNÓSTICO • Os testes indiretos são usados rotineiramente na prática clínica, pois são simples, não invasivos, mais rápidos e menos dispendiosos do que os testes diretos. • O desenvolvimento de novos testes indiretos facilitou a abordagem diagnóstica. • Porém, os testes indiretos têm sensibilidade e especificidade limitadas, especialmente em pacientes com insuficiência pancreática leve a moderada. • Os testes indiretos avaliam a função pancreática exócrina através da quantificação da capacidade digestiva da glândula e dos níveis de enzimas pancreáticas nas fezes. Muñoz J. E. Diagnosis of chronic pancreatitis: Functional testing. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology24:233–241, 2010 DIAGNÓSTICO • Do ponto de vista metodológico, podem ser classificados como testes orais e fecais. • Nos testes orais, um substrato é ingerido com uma refeição teste. Enzimas pancreáticas hidrolisam o substrato no duodeno e os metabólitos liberados são absorvidos no intestino e podem ser medidos na urina, soro ou respiração. Muñoz J. E. Diagnosis of chronic pancreatitis: Functional testing. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology24:233–241, 2010 Muñoz J. E. Diagnosis of chronic pancreatitis: Functional testing. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology24:233–241, 2010 DIAGNÓSTICO • QUANTIFICAÇÃO DE GORDURA FECAL • Calcula-se o coeficiente de absorção de gordura após uma dieta com sobrecarga de gordura por 5 dias. • É considerada o padrão- ouro para insuficiência pancreática exócrina com má absorção de gordura; Muñoz J. E. Diagnosis of chronic pancreatitis: Functional testing. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology24:233–241, 2010 DIAGNÓSTICO • QUIMOTRIPSINA FECAL • Quantifica a atividade da quimotripsina isolada de pequena amostra de fezes. • A quimotripsina é variavelmente inativada durante a passagem intestinal, de tal forma que a atividade da quimiotripsina fecal não reflete com precisão a secreção pancreática. • Além disso, a diluição em pacientes com diarréia de qualquer etiologia também irá diminuir a atividade fecal da enzima. • O teste é consistentemente normal em casos de pancreatite crônica leve e em cerca de metade dos pacientes com doença moderada ou grave. • O resultado sofre interferências de enzimas pancreáticas exógenas, sendo utilizado para avaliação terapia. Muñoz J. E. Diagnosisda of chronic pancreatitis: Functional testing. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology24:233–241, 2010 DIAGNÓSTICO • ELASTASE FECAL • A elastase é altamente estável ao longo do trânsito GI, e sua concentração fecal se correlaciona, significativamente, com a quantidade de enzima secretada pelo pâncreas exócrino. • A metodologia utilizada para quantificar a enzima é baseada em anticorpos humanos monoclonais específicos, e não sofre interferência da terapia de substituição enzimática oral. • A quantificação de elastase fecal não é sensível o suficiente para detectar pacientes com pancreatite crônica leve, porém sua sensibilidade nas doenças moderadas a graves atinge valores próximos a 100%. A especificidade também é alta, limitada apenas pela diluição em casos de diarréia aguda. Muñoz J. E. Diagnosis of chronic pancreatitis: Functional testing. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology24:233–241, 2010 DIAGNÓSTICO • A determinação da elastase fecal é um teste de fácil aplicabilidade clínica e pode ser usado como primeiro teste para o estudo de pacientes com suspeita clínica de doença pancreática crônica e para o acompanhamento de pacientes suficeintes pancreáticos. Muñoz J. E. Diagnosis of chronic pancreatitis: Functional testing. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology24:233–241, 2010 DIAGNÓSTICO • TESTE RESPIRATÓRIO • Considerado um teste alternativo ao da quantificação de gordura fecal. • O substrato (triglicerídeos) marcado é administrado por via oral com uma refeição teste. Ocorre hidrólise intra-duodenal do substrato por enzimas pancreáticas específicas e metabólitos marcados com C ¹³ são liberados, absorvidos pelo intestino e metabolizados no fígado. • Como conseqüência do metabolismo hepático, ¹³CO₂ é liberado e eliminado com o ar expirado. • Usado para avaliação da terapia de substituição enzimática. Muñoz J. E. Diagnosis of chronic pancreatitis: Functional testing. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology24:233–241, 2010 Walkowiak et al. Indirect Pancreatic Function Tests in Children. J Pediatr Gastroenterol Nutr, Vol. 40, No. 2, 2005 DIAGNÓSTICO • USG DE ABDOME E ENDOSCÓPICO • USG de abdome geralmente é o exame de imagem inicial. • Achados compatíveis com pancreatite crônica incluem: dilatação do ducto pancreático (2.84±0.67 mm), calcificações intraductais, irregularidades na glândula, mudanças na ecotextura e pseudocistos. ¹ • Tem sensibilidade entre 50-80% e especificidade 90%. ¹ • Ultra-sonografia endoscópica permite mostrar anormalidades sutis da estrutura pancreática antes de surgirem anormalidades em imagens tradicionais ou testes funcionais, através de estudo mais detalhado do ducto pancreático e do parênquima. ² 1.Nydegger A et al. Childhood pancreatitis. Journal of Gastroenterology and Hepatology 21: 499– 509, 2006. 2. A.J. Siddiqi and F. Miller. Chronic Pancreatitis:Ultrasound, Computed Tomography, and Magnetic Resonance Imaging Features. Semin Ultrasound CT MRI 28:384-394, 2007. A.J. Siddiqi and F. Miller. Chronic Pancreatitis:Ultrasound, Computed Tomography, and Magnetic Resonance Imaging Features. Semin Ultrasound CT MRI 28:384-394, 2007. DIAGNÓSTICO • TC DE ABDOME • Tc de abdome tem baixa sensibilidade para identificar anormalidades ductais e alterações sutis do parênquima, e submete o paciente a alta dose de radiação.¹ • É útil no diagnóstico tardio da pancreatite crônica e suas complicações.¹ • Os achados relacionados à pancreatite crônica são dilatação do ducto pancreático, calcificações pancreáticas e atrofia parenquimatosa.² 1. Darge K & Anupindi S. Pancreatitis and the role of US, MRCP and ERCP. Pediatr Radiol 39 suppl 2:S153–S157, 2009. 2. A.J. Siddiqi and F. Miller. Chronic Pancreatitis:Ultrasound, Computed Tomography, and Magnetic Resonance Imaging Features. Semin Ultrasound CT MRI 28:384-394, 2007. A.J. Siddiqi and F. Miller. Chronic Pancreatitis:Ultrasound, Computed Tomography, and Magnetic Resonance Imaging Features. Semin Ultrasound CT MRI 28:384-394, 2007. DIAGNÓSTICO • COLANGIOPANCREATOGRAFIA COM RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (CPRM) • CPRM tem as vantagens de ser não-invasivo e não usar radiação. • Ao contrário da CPRE, pode ser realizada na fase aguda da pancreatite. • Na CPRM, os ductos são visualizados em seu estado fisiológico normal, enquanto que na CPRE são visualizados sob pressão. • CPRM pode fornecer uma morfologia abrangente dos ductos biliares e pancreáticos. É possível visualizar ductos de até 1mm. • No entanto, CPRM é limitada em crianças devido ao pequeno calibre de ductos não dilatados, sinal fraco e movimentação do paciente. Darge K & Anupindi S. Pancreatitis and the role of US, MRCP and ERCP. Pediatr Radiol 39 suppl 2:S153–S157, 2009. DIAGNÓSTICO • Secretina é administrada por via intraovenosa ao longo de 1 minuto e induz a um aumento de líquido no ducto pancreático, com aumento subsequente da excreção de líquidos para o duodeno. • Imagens em T2 ao longo do ducto pancreático são repetidas a cada 30 s por 10 min. A resposta normal é o aumento do sinal e do diâmetro do ducto pancreático em 3 mm, com progressiva redução até a linha de base em 10 min. • A secretina é provavelmente mais importante em crianças do que em adultos, uma vez que aumenta a detectabilidade dos ductos pancreáticos, normalmente menores. Darge K & Anupindi S. Pancreatitis and the role of US, MRCP and ERCP. Pediatr Radiol 39 suppl 2:S153–S157, 2009. Darge K & Anupindi S. Pancreatitis and the role of US, MRCP and ERCP. Pediatr Radiol 39 suppl 2:S153–S157, 2009. DIAGNÓSTICO • CPRE • A CPRE é difícil de ser realizada em crianças pequenas, e não é facilmente disponível. • A taxa de complicações da CPRE relatada varia entre 0-11%. • As indicações mais comuns para CPRE em crianças são obstrução biliar e pancreatite. • Fornece imagens de alterações dos ductos pancreáticos. • A sensibilidade e especificidade se aproximam de 90 -100%. Darge K & Anupindi S. Pancreatitis and the role of US, MRCP and ERCP. Pediatr Radiol 39 suppl 2:S153–S157, 2009. TRATAMENTO • • • • • • • Suporte nutricional Tratamento da insuficiência pancreática exócrina Tratamento do diabetes Controle da dor Uso de anti-oxidantes Suplementação vitamínica Tratamento cirúrgico TRATAMENTO • SUPORTE NUTRICIONAL • Apesar de existirem dados pediátricos escassos, a nutrição enteral tem sido amplamente adotada. Uma sonda de alimentação naso-jejunal é colocada radiologicamente ou por via endoscópica. • A criança é alimentada com fórmula contendo alto teor de proteína e baixo teor de gordura, até o início da ingestão oral. • Estudos relatam que a nutrição parenteral total prejudica a imunidade humoral e mediada por células, aumenta a resposta pró-inflamatória, induz à translocação bacteriana e aumenta as taxas de infecção. Nydegger A et al. Childhood pancreatitis. Journal of Gastroenterology and Hepatology 21: 499–509, 2006. TRATAMENTO • TRATAMENTO DA IPE • Consiste na terapia de reposição de enzimas pancreáticas, assim que diagnosticada. • Os objetivos são: ter uma dieta normal ou com maior quantidade de gordura, evitar a perda de peso e sintomas relacionados a IPE, reduzir deficiências vitamínicas e melhorar o estado nutricional. • O parâmetro clínico mais importante para monitorar a eficácia do tratamento é o peso corporal. • As enzimas pancreáticas exógenas são basicamente extraídas de fonte suína, e as preparações contêm uma mistura variável de protease, lipase e amilase, dependendo da marca. Sikkens E. C. et al. Pancreatic enzyme replacement therapy in chronic pancreatitis. Best Practice&ResearchClinicalGastroenterology 24:337-347, 2010. TRATAMENTO • Para lactentes, sugere-se que minimicroesferas ou microesferas sejam utilizadas. • Para cada 120 ml de fórmula infantil ou leite materno, uma dose inicial de 2500-4000 UI lipase devem ser usadas (400800 UI de lipase por grama de gordura na dieta). • As micro/minimicroseferas são misturadas a uma pequena quantidade de fórmula, leite materno ou papa de frutas, e dadas com colher. Idealmente, a dose deve ser dividida entre o início, meio e fim da alimentação. A dose é aumentada gradualmente de acordo com sinais e sintomas, por exemplo, a aparência e a frequência das fezes, ganho de peso, crescimento e absorção de gordura. Littlewood et al. Diagnosis and Treatment of Intestinal Malabsorption in Cystic Fibrosis. Pediatric Pulmonology 41:35–49,2006. TRATAMENTO • Uma vez que o alimento sólido é introduzido, a dose da enzima é titulada, individualmente, de acordo com a ingestão de gordura. O objetivo é manter a ingestão de lipase abaixo de 10.000 UI/kg/dia. • Para crianças mais velhas e adultos, a dose inicial sugerida 10000-20000 UI lipase por refeição. • As enzimas devem ser administradas a todos os alimentos contendo gordura. • As cápsulas devem ser ingeridas inteiras, quando possível (3 ou 4 anos). Não devem ser esmagadas ou mastigadas na boca. Littlewood et al. Diagnosis and Treatment of Intestinal Malabsorption in Cystic Fibrosis. Pediatric Pulmonology 41:35–49,2006. TRATAMENTO • Se as microesferas forem removidas das cápsulas, não devem ser misturadas com toda a refeição, mas sim com um pouco de líquido ou alimento e engolidas de uma vez. • Evidência de que a absorção de gordura foi controlada, é feita tanto por esteatócrito ou através da quantificação da gordura fecal de 3 dias. Littlewood et al. Diagnosis and Treatment of Intestinal Malabsorption in Cystic Fibrosis. Pediatric Pulmonology 41:35–49,2006. TRATAMENTO • TRATAMENTO DA DM • O tratamento é semelhante ao DM 1. • Os pacientes com pancreatite crônica têm um risco aumentado de hipoglicemia devido à deficiência coexistente de glucagon, principalmente os que mantém ingestão de álcool ou com neuropatia autonômica. • Nesses pacientes, deve-se evitar a hipoglicemia através do uso de insulina de ação simples. • Aproximadamente 50% dos pacientes não vivem mais do que 10 anos após o diagnóstico inicial e, portanto, não irão se beneficiar de insulinoterapia agressiva. Witt H. et al. Chronic Pancreatitis: Challenges and Advances in Pathogenesis, Genetics, Diagnosis, and Therapy. Gastroenterology vol. 132, No. 4, 2007. TRATAMENTO • CONTROLE DA DOR • Tratamento da dor deve ser iniciado com analgésicos convencionais. • Se o alívio da dor não for alcançado, prescrição de tramadol, morfina ou opiáceos podem ser necessários. • Outras estratégias de alívio da dor, ainda não comprovadas, incluem a inibição da secreção de enzimas pancreáticas usando terapia de enzimas pancreáticas e uso de antioxidantes. • Abordagens invasivas, como o bloqueio do plexo celíaco, procedimentos endoscópicos e drenagem cirúrgica também têm sido usados como terapia para a dor. Witt H. et al. Chronic Pancreatitis: Challenges and Advances in Pathogenesis, Genetics, Diagnosis, and Therapy. Gastroenterology vol. 132, No. 4, 2007. TRATAMENTO • TRATAMENTO CIRÚRGICO • A principal indicação para a terapia endoscópica e cirúrgica é a dor intratável. O objetivo principal é restabelecer uma drenagem adequada dos ductos pancreáticos. • Os dados pediátricos são escassos e limitados a pequenas séries de casos, e a decisão de cirurgia em crianças é, muitas vezes, baseada na experiência com adultos. • Terapia endoscópica refere-se a colocação de stent, e só é útil se houver uma estenose dominante com evidências de obstrução do ducto pancreático. Nydegger A et al. Childhood pancreatitis. Journal of Gastroenterology and Hepatology 21: 499–509, 2006. TRATAMENTO • Opções cirúrgicas incluem procedimentos de drenagem como a Pancreaticojejunostomia laterais, e são úteis para grandes estenoses do ducto na metade distal do pâncreas. Este procedimento tem uma baixa morbidade e mortalidade. O alívio imediato da dor é observada em 80% dos pacientes. Nydegger A et al. Childhood pancreatitis. Journal of Gastroenterology and Hepatology 21: 499–509, 2006.