Regata Global Alliance texto e fotos / text and photos Artur Ferreira N as primeiras horas da manhã de um sábado de Novembro foram-se alinhando, na Costa do Sol, os barcos de madeira à vela concorrentes à regata que, pelo segundo ano consecutivo, a Global Alliance patrocinou e organizou com o apoio técnico de um clube local. Bem na frente do Coconuts, catedral da movida de Maputo, com que aos fins-de-semana Luís Moreira e Faquirá animam a nossa juventude, uma centena exacta de embarcações ora enfunavam ora recolhiam as suas velas. Escolhiam-se bordos à feição dos ventos, desenhavam-se estratégias. Em jogo estavam 10 mil dólares para o barco que em primeiro lugar cruzasse a linha da meta. Substancial este prémio instituído pela Global Alliance, que ainda contemplava com dois mil dólares os marinheiros-pescadores a classificarem-se em segundo lugar, e com mil dólares os terceiros. E para todos os participantes, três por barco, uma cesta com quilos de açúcar, latas de conservas, garrafas de óleo, refrigerantes, cerveja e whisky. Que grande farra!.. Pelo início da tarde foi dada a partida. Brilharam as velas, agora enfunadas de vez. A imagem transmitida por um texto de Jorge Ferrão, nosso colaborador, numa Índico de há uns meses atrás, baralhava-se no meu cérebro com as imagens que as objectivas das minhas máquinas fotográficas aproximavam de mim. Velas de Ouro, assim as denominara o Magnífico Reitor da recém criada Universidade do Lúrio. Cem velas de ouro animaram a baía da cidade de Maputo na semana dos seus 120 anos... Cumprido o percurso, rondando a Árvore de Natal (estrutura de alto mar que outrora serviu para sinalização) e mais duas bóias, foram chegando à meta as tradicionais e vistosas embarcações. Muitos convidados ocupavam as instalações do Dock´s, aonde tinha sido servido um excelente almoço para 300 pessoas, comandado por Pedro Medeira. A marginal encheu-se de entusiastas. No Holiday Inn os hóspedes davam uso aos seus binóculos. Na baía de Maputo aconteceu espectáculo, com cariz social e desportivo. 48 The Global Alliance Regatta I n the early hours of a Saturday morning in November, the wooden sailing boats began lining up on the Costa do Sol for the regatta sponsored and organised by Global Alliance for a second consecutive year, and with the technical support of a local club. Right in front of Coconuts, the nightspot of Maputo’s la movida, where the young gather at weekends for the lively scene provided by Luís Moreira and Faquirá, exactly one hundred vessels were variously unfurling and hauling in their sails. Tacking was being chosen to suit the winds, strategies were being devised. Ten thousand dollars were awaiting the first crew to cross the finishing line. This was a substantial prize offered by Global Alliance, with another two thousand dollars for the sailor-fishermen in second place, and another thousand for the third crew. And for all entrants, three crew members per boat, a basket with kilos of sugar, tinned goods, bottles of oil, soft drinks, beer and whisky. What a spree!... The regatta was started in the early afternoon. The sails shone, now fully unfurled. The image conveyed by our contributor Jorge Ferrão, in an article in a past Índico issue some months ago, mingled in my mind with the images I was capturing through my camera lenses. Sails of Gold, thus the Dean of the recently created University of Lúrio had dubbed them. One hundred golden sails animated the Bay of Maputo on that week when the City was celebrating its 120th anniversary... Having completed the route and rounded the Christmas-Tree (a highseas structure that once served as a marker) and another two buoys, the picturesque traditional boats drew ever closer to the finishing line. Many guests filled Dock´s, where an excellent lunch for 300 people had been served under the supervision of Pedro Medeira. The marginal was filled with enthusiastic spectators. At the Holiday Inn, guests made good use of their binoculars. A truly social and sports event was unfolding in and around the Bay of Maputo. Índico 49 A primeira tripulação a entrar na marina reservada aos vencedores foi a capitaneada por Alberto Simango. Pescador de muitos anos e marés, soube elevar com energia os braços musculados pela faina quase diária, manifestando a sua alegria pela concretização do sonho de levantar a taça de vencedor e recolher o cheque dos 10 mil dólares. O segundo lugar coube ao capitão Bamuji Sochaka, que arrecadou os dois mil dólares, e Armando Nhaca colocou-se no terceiro lugar do pódio e levou os mil dólares. Se o espírito social esteve em evidência nesta corrida (assim anunciada pelos organizadores), cumprindo-se os objectivos, já a característica desportiva acabou por ser descuidada. Na largada foi difícil controlar o alinhamento dos barcos. Na chegada não havia registo satisfatório da passagem pelas bóias delimitadoras do percurso. Mas, como os premiados eram só três, não houve dificuldades de controlo. A verdade desportiva não teve contestação, mas talvez valha a pena maior empenho este ano. Uma outra sugestão que deixo à apreciação dos organizadores é a opção por uma largada com as tripulações fora dos barcos e com eles já na água se a rebentação o permitir. Caso assim não seja, os barcos ficariam na areia e a tripulação encarregar-se-ia de os lançar à água após o sinal de largada. Antes desse sinal os tripulantes aguardariam frente à sua embarcação, cuja posição teria sido definida por sorteio, e atrás de uma linha previamente definida. Quanto à cesta atribuída aos participantes, a minha sugestão vai para que só a recebam as tripulações que cumpram o itinerário. Não faz sentido que o esforço competitivo de tantos seja defraudado por quem alinhe, à partida, já com o intuito de chegar sem se importar com o “por onde chegar”... A iniciativa da Global Alliance merece os maiores encómios. Bem-haja. Certamente que esta mega corrida de barcos de madeira à vela já conquistou um espaço nas competições anuais da cidade de Maputo. The first crew to enter the marina reserved for winners was captained by Alberto Simango. A fisherman of many years’ and many tides’ standing, he knew how to raise those arms made muscular by the almost daily toil, showing his happiness at fulfilling his dream of lifting the winner’s cup and collecting the 10 thousand dollar cheque. Second place was awarded to Captain Bamuji Sochaka, who collected the two thousand dollars, and Armando Nhaca took third place on the podium, taking away another thousand dollars. If the social spirit of this race was in evidence (as claimed by the organizers), with all objectives being met, the sporting element was not so carefully fostered, however. At the start it was difficult to control the line-up of the boats. At the finish, there was no satisfactory record that the buoys marking the route had been successfully passed. But since there were only three prize-winners, there were no control difficulties. There was no questioning the fair-play, but it might be worthwhile making a greater effort this year. Another suggestion for the organisers to consider is that the crews, surf permitting, stand next to the boats, already on the water, at the start. Or else, the boats could be on the sand and the crews would have to launch them after the starting signal. The crews would wait for the signal in front of their boats, whose positions would have been pre-defined in a draw, and behind a previously defined line. As for the basket given to participants, I suggest that only crews completing the course receive it. It makes no sense to see the competing efforts of so many being defrauded by those who join in carelessly, unconcerned about “how to get there”... Global Alliance deserves the warmest praise for its initiative, and so be it. There is no doubt that this mega contest for wooden sailing boats has already won a place among the annual competitions of the city of Maputo. 50