1 A INQUISIÇÃO E A INFLUÊNCIA DA IGREJA NA SOCIEDADE DO SÉCULO XVIII: UMA LEITURA DE MEMORIAL DO CONVENTO, DE JOSÉ SARAMAGO SBARDELOTTO, Raquel Kloeckner (UNIOESTE) Resumo: O presente artigo verificará, em Memorial do Convento, de José Saramago, a forte influência e o domínio da Igreja Católica, em Portugal, no século XVIII. Abordará, em conseqüência, o papel do Santo Ofício e da Inquisição na vida cotidiana do Reino, no que toca à vida do povo e dos governantes. PALAVRAS-CHAVE: Igreja, Inquisição, Sociedade. Memorial do Convento, de José Saramago, representa uma grande investida no campo da narrativa histórica. O volume percorre um período de aproximadamente trinta anos da história de Portugal, no século XVIII, época em que a Inquisição reinou absoluta. O cenário é rico, registrando a vivência popular numa viagem a diferentes povoados ao redor de Lisboa. Podemos observar em Memorial do Convento, o cruzamento entre dois fatos históricos incontestáveis: a construção de um Convento em Mafra e a construção da Passarola do Padre Bartolomeu – ambas no século XVIII, durante o reinado de D. João V. D. João V necessitava de herdeiros e o ventre de D. Maria Ana não os concebia. Fez ele então uma promessa, por influência de Frei António: de levantar um convento em Mafra para que a concepção acontecesse: “...porquanto é sabido que filhos quer vossa majestade ter, e ele respondeu-me, palavras enfim muito claras, que se vossa majestade prometesse levantar um convento na vila de Mafra, Deus lhe daria sucessão...” (p. 14) Pode-se entender aqui, um verdadeiro jogo dos frades para induzir o Rei a fazer uma promessa de construir um convento na cidade de Mafra. Essa construção do Convento o faria obter benefícios, e acham que se construírem algo grandioso, monumental para Deus na Terra, Deus também irá construir algo maravilhoso no céu para eles, em retribuição, mostrando uma relação de troca de favores entre o homem e Deus. “ Perguntou el-rei, É verdade o que acaba de dizer-me sua eminência, que se eu prometer levantar um convento em Mafra terei-filhos, e o frade respondeu, Verdade é, senhor, porém só se o convento for franciscano, e tornou el-rei, Como sabeis, e frei António disse, Sei, não sei como vim a saber, eu sou apenas a boca de que a verdade serve para falar, a fé não tem mais que responder, construa vossa majestade o convento e terá brevemente sucessão, não o construa e Deus decidirá.” (p. 14) O que se percebe na obra, é que D. Maria Ana teria dito em confissão que estava grávida e isso teria sido usado pelos freis, que sabiam da dificuldade que o Rei tinha para engravidar a Rainha. Sendo assim, procuram El-Rei para lhe dizer que Deus lhes teria anunciado que, para obter um herdeiro da Rainha, teria que mandar construir um convento em Mafra, e franciscano, caso contrário deveria esperar pela vontade de Deus. El-Rei, acreditando na virtuosidade do frei que lhe falava, promete que, se em um ano a Rainha lhe der um herdeiro, mandará construir um grande convento em Mafra. Os frades saem certos de que esse herdeiro nascerá, e que terão o seu convento. Usam Deus para obterem benefícios políticos do Rei, que tinha muito temor a Deus e à Igreja, e acreditava que os freis eram infalíveis e verdadeiros representantes de Deus no mundo. A Rainha parece saber que já está realmente grávida: “D. Maria Ana(...) mostrando ou dando a entender que a criança que em seu ventre está formada é tão filha do Rei de Portugal como de Deus, a troco de um convento.” (p. 31) E em uma sociedade em que a mulher, mesmo Rainha – pois tinha sido educada somente para ser Rainha – não tinha valor, nem voz que se fizesse ouvir, não poderia revelar ao Rei que já estava grávida e que os Freis teriam usado isso para aproveitar-se da situação, pois não seria ouvida. Além do mais, sendo também muito religiosa, poderia achar também que era Deus que assim quisera e ela nada tinha que julgar. Quanto à Passarola, Padre Bartolomeu de Gusmão tinha um grande sonho, que era a construção de uma máquina que pudesse voar, cuja invenção chamaria de Passarola: “Então é isto, e o padre Bartolomeu Lourenço respondeu, Há-de ser isto, e, abrindo uma arca, tirou um papel que desenrolou, onde se via o desenho de uma ave, a passarola seria, isso era Baltasar capaz de reconhecer, e porque à vista era o desenho um passado, acreditou que todos aqueles materiais, juntos e desordenados nos lugares competentes, seriam capazes de voar.” (p. 67) Do ponto de vista histórico, esses fatos podem ser conferidos: o Convento continua em pé e o Padre Bartolomeu existiu, porém se o seu balão não resistiu à lei da gravidade e ele não se notabilizou como o primeiro homem a se aventurar no espaço, é uma dívida da nossa história para com ele. Esses dados bastariam para a História, mas não para a literatura, já que ela não precisa passar pelo crivo da verificação. Então Saramago inventa a sua história usando personagens fictícias, do povo, como: Baltasar Mateus (o Sete-Sóis, por que vê às claras), que fora soldado e, na guerra, perdera a mão esquerda tendo agora uma de metal, tem 26 anos, é forte e destemido e Blimunda de Jesus (a Sete-Luas, por que vê às escuras) que possui uma característica particular, a de ver as pessoas “por dentro” - esta designação refere-se a visões interiores físicas e psicológicas que ela tem das pessoas - tem 19 anos, é forte e determinada, ama Baltazar e, quando o vê, sabe que será seu amor para sempre. Eles ajudam o Padre Bartolomeu a construir o balão, ele com o braço de metal, e ela com a capacidade de vidente, capacidade esta que também a faz vítima das perseguições inquisitoriais, das quais trataremos agora. Leonardo Boff em prefácio à obra de Eymerich, Manual dos Inquisidores, 1993, nos fala que: “Para entender a Igreja através da Inquisição, faz-se necessário considerar a autoconsciência que a própria Igreja fez e, em setores de direção, ainda faz de si mesma. Como ela constrói religiosamente a sua realidade? Como representa a história humana?” (p. 09) Segundo os catecismos clássicos, conforme Baigent e Leigh na obra A inquisição, 2001, a humanidade foi criada pela graça de Deus. A criação era um livro aberto que falava do Criador. Porém, com Adão e Eva, ela decaiu. Perdeu os dons sobrenaturais (a graça) e mutilou os dons naturais (obscureceu a inteligência e enfraqueceu a vontade). As frases da criação se decompuseram em palavras soltas e sem nexo. Os seres humanos não conseguiam mais ler a vontade de Deus no alfabeto natural (revelação natural). Então, Deus se compadeceu e nos entregou outro livro, escrito por Judeus e Cristãos, as Escrituras Sagradas, que contêm o alfabeto sobrenatural (revelação sobrenatural). Nessas Escrituras, como num depósito (depositum fidei), estão todas as verdades necessárias para a salvação. Mas qual a leitura correta do Livro Sagrado? Deus novamente se apiedou da humanidade e criou o Magistério: o Papa e os Bispos. Eles são os representantes de Deus e os vigários de Cristo. A missão do Magistério é guardar fielmente, defender ciosamente e interpretar autenticamente o depósito das verdades salvíficas. Tendo Deus se apiedado também da passividade de erros e da fragilidade do ser humano, concedeu ao Papa e aos Bispos um privilégio único: passavam a gozar da infalibilidade; não podem errar e, por isso, na história demoraram a admitir seus erros. As pessoas podiam gozar, então, de plena segurança. Bastaria ouvir o que o Magistério ensina, vivê-lo coerentemente e já estariam em conformidade com a vontade de Deus. Com a promessa de vida eterna. A Igreja passa, portanto, a deter o monopólio dos meios que abrem caminho para a eternidade. O magistério passa a usar essa infalibilidade para aplicar pronunciamentos, admoestações, encíclicas, declarações dos sínodos e dos concílios, proclamação de dogmas de fé. Uma das pregações dos dogmas é o sacrifício e a penitência como purificação, segundo exemplo de Saramago em Memorial do Convento: “comendo pouco purificam-se os humores, sofrendo alguma coisa escovam-se as costuras da alma”. (p. 28) Um exemplo desse sacrifício seria o período da Quaresma (que antecede a Páscoa; são quarenta dias de sacrifício em decorrência da permanência de Jesus no deserto por quarenta dias e quarenta noites, antes de ser julgado e morto), onde a penitência sugere que o ser humano pague sofrendo e liberte-se de seus pecados. Descrevendo os Autos de Fé da Quaresma, Saramago revela também o caráter erótico desses eventos, os fiéis utilizando-se dos atos religiosos para deles extrair um prazer sexual nada ortodoxo. Revelador desse procedimento aparecem as mulheres às janelas que, durante a procissão de auto-flagelamento dos homens, dessas cenas extraem motivo de júbilo, o sofrimento daqueles corpos masculinos funcionando como objeto de prazer carnal para os corpos femininos debruçados às janelas. Mas há mais: também para os homens, o próprio flagelo é razão de prazer. “Nas janelas só há mulheres, é esse o costume. Os penitentes vão de grilhões enrolados às pernas, ou suportam sobre os ombros grossas barras de ferro...frenéticas as mulheres reclamam força no braço, querem ouvir o estalar dos rabos do chicote, que o sangue corra como correu o do Divino Salvador, enquanto latejam por baixo das redondas saias...” (p. 28-29) Mas a principal questão da Igreja desse século relacionada à inquisição, é o termo heresia. Segundo Nicolau Eymerich em Manual dos Inquisidores, para a Igreja do século XVIII, só existia um perigo fundamental: a heterodoxia, a heresia, o herege. Em outras palavras, a grande oposição se dá entre o dogma e a heresia. Portanto, erro gravíssimo não é tanto a injustiça, o assassinato, a espoliação de povos, a opressão de classe, o genocídio e o ecocídio. Esses são atos e atitudes morais perversas, mas corrigíveis; o caminho da eternidade continua aberto para o arrependimento e o perdão, a fé não é negada nem as verdades absolutas questionadas. Erro radical é a heresia ou a suspeita de heresia. Aqui se negam as verdades necessárias e se fecha o caminho para a eternidade. A perda é total. O mal, absoluto. O herege é o arquiinimigo da fé. O ser perigosíssimo. Se o perigo é máximo, máximas devem ser as vigilâncias, as repressões e as punições. Por isso o portador da verdade é intolerante. Deve ser intolerante, caso contrário irá contestar sua verdade absoluta. Só os que não possuem a verdade absoluta podem ser tolerantes. Portanto, os hereges, inimigos da verdade e da reta doutrina (ortodoxia – o mal absoluto), devem ser perseguidos e exterminados. Em Memorial do Convento, podemos verificar como a Igreja tratava os hereges, os não seguidores dessas leis: “Ah, gente pecadora, homens e mulheres que em danação teimais viver essas vossas transitórias vidas, fornicando, comendo, bebendo mais que a conta, faltando aos sacramentos.” (p. 157) Porém, se tomarmos como exemplo a questão da fornicação na citação acima, podemos relacioná-la com a contradição entre a vida que os frades da época viviam e pregavam, pois condenam o povo por fornicação, no entanto, alguns também o faziam, um exemplo é o de no final do romance, um padre tenta violentar Blimunda sexualmente, e ela o mata, para se defender e também pelo ódio que sentia da Igreja por tudo o que já presenciara na vida: “O frade tacteou os pés de Blimunda, afastou-lhe devagarinho as pernas...jubiloso o frade empurra o membro para a invisível fenda, jubiloso sente que os braços da mulher se fecham nas suas costas...Empurrado pelas duas mãos, o espigão enterra-se entre as costelas, aflora por um instante o coração...” (p. 345) Blimunda, teve sua mãe degredada pela Inquisição como bruxa, pois tinha visões: “tenho visões e revelações, mas disseram-me no tribunal que era fingimento, que ouço vozes do céu, mas explicaram-me que era efeito demoníaco...”(p. 52) Passa a também sofrer perseguições, pois também tem visões de enxergar as pessoas “por dentro”, mas só quando está em jejum, vê bebês na barrida de mulheres grávidas, vê o que há no estômago e nas vísceras das pessoas, e vê as camadas da terra quando olha para o chão. Blimunda jura, ao se casar com Baltasar, que nunca o olhará “por dentro” e, para não vê-lo, todos os dias, ao acordar, come pão antes de abrir os olhos. Ela, porém, não teme a Inquisição, pois sabe que se chegar a hora, quando eles a notarem não poderá fazer nada nem que quisesse, pois pouco controla seus poderes: “conheço bem os sinais, é como uma aura que envolve aqueles que se tornaram suspeitos aos olhos dos inquisidores.” (192) O Santo Ofício parecia ser também algo já encarado naturalmente na sociedade. Quando a mãe de Blimunda é deportada, ela está a assistir, e o faz com aparente frieza, pois sabe que também será seu destino e que não poderá fugir. Mas isso só é possível também pelo fato de as punições inquisitoriais, segundo a obra, serem consideradas acontecimentos importantes, verdadeiros eventos para o povo: “Porém, hoje é dia de alegria geral, porventura a palavra será imprópria, porque o gosto vem de mais fundo, talvez a alma, olhar esta cidade saindo de suas casas, despejando-se pelas ruas e praças, descendo dos altos, juntando-se no Rossio para ver justiçar a judeus e cristãos-novos, a hereges e feiticeitros...passíveis de degredo ou fogueira.” (p. 50) Padre Bartolomeu, que estava construindo a passarola, sentia medo do Santo Ofício, por saber que a Igreja considerava a sua invenção como algo que faria o homem voar e tentar chegar perto de Deus, e ele não seria digno disso. Era, portanto, uma heresia. “Padre Bartolomeu de que é que tens medo, e o Padre, assim interpelido directamente estremece, levanta-se agitado, vai até a porta, olha para fora, e, tendo voltado, responde em voz baixa, do Santo Ofício”. (p.191) Pelas perseguições do Santo Ofício que Padre Bartolomeu sofreu e por sua invenção não ter se realizado, é que ele foge pelo mundo. Tendo depois, Baltasar e Blimunda recebendo a notícia de sua triste morte: “Vim-te dizer, e a Baltasar, que o Padre Bartolomeu de Gusmão morreu em Toledo, que é em Espanha, para onde tinha fugido, dizem que louco”. (p.224) No entanto, Blimunda e Padre Bartolomeu escaparam da Inquisição, que para Blimunda, a punição seria pior, pois suas visões a faziam ser considerada bruxa, e bruxas sofriam a pior das penas, a fogueira, pois a bruxaria era a pior das heresias. Segundo o historiador Keith Thomas, implicava na “... renúncia a Deus e deliberada adesão ao seu maior inimigo”. Também, toda manifestação de loucura, explosões de raiva, histeria, as tradicionais sábias das aldeias com suas ervas milagrosas etc., passaram a ser consideradas manifestações de bruxarias. A bruxaria era todo ato que não pudesse ser explicado pela Igreja, pelos bispos e pelo Papa, sendo portanto, manifestações do mal. Segundo Baigent e Leigh, em A Inquisição, 2001, as fogueiras eram realizadas normalmente em feriados públicos para assegurar um grande número de espectadores. O acusado era amarrado a um poste acima da pira de lenha seca, alta o bastante para ser vista por todos; algumas vítimas eram estranguladas para serem misericordiosamente poupadas da agonia das chamas. Outras morriam antes de serem totalmente queimadas, sufocadas pela fumaça. Depois, quando mortas, seus ossos eram quebrados e suas vísceras eram novamente queimadas, para assegurar que ninguém viesse resgatá-las, talvez familiares para as enterrar. Não escapavam nem velhos nem crianças, torturados com certa moderação: apanhavam com pauladas ou chicotadas.E o mais revoltante é que, depois de o herege ser morto, seus filhos são declarados infames e inaptos a qualquer cargo público ou privilégio. Em uma margem histórica, Roma foi a maior punidora de bruxas, no mínimo trinta mil, durante um período de 150 anos. Em Portugal, até 1732, o número de sentenciados subiu a mais de 23.000, dos quais cerca de 1.500 condenados à morte. Na Torre do Tombo, foram registrados mais de 36.000 processos. Podemos comparar a política da Inquisição do século XVIII com certos aspectos da Igreja Católica dos dias de hoje, e perceber que muitas coisas mudaram de nome e de estratégias, mas não de essência. Segundo Sonia A. Siqueira em A Inquisição, 1999, em 1967, o termo Inquisição foi mudado para Congregação para a Doutrina da Fé, e o termo Inquisidor para Prefeito da Congregação. Porém, a Inquisição de hoje persegue não mais pequenos fiéis, mas investiga os próprios teólogos, professores e eclesiásticos, cujos pronunciamentos escritos ou orais possam ser vistos como ortodoxia oficial, ou seja, algo que possa ir contra os dogmas. Exemplo próximo e recente foi o caso do frei brasileiro Leonardo Boff, que em 1984 foi intimado a Roma – onde, tendo-se apresentado perante a Congregação, foi condenado a um ano de silêncio por proferir “heresias”. Em 1988 ordenou-se a um jesuíta americano, Padre Terence Sweeney, que cessasse sua pesquisa sobre atitudes eclesiásticas em relação ao casamento clerical e queimasse todos os seus papéis, relembrando as antigas fogueiras. Um importante Padre do Sri Lanka, Tissa Balasuriya, foi excomungado da Igreja por ter escrito um ensaio sobre a Virgem Maria e os direitos da mulher na Igreja, pois sugeria que as mulheres pudessem gozar de um status igual ao dos homens dentro da Igreja. Todos esses feitos, segundo Sonia A. Siqueira, foram promulgados pelo Cardeal Joseph Ratzinger, o grande “Inquisidor” da atualidade, o atual Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e o “braço direito” do Papa João Paulo II. O princípio da Infalibilidade que se iniciou na época da Inquisição e persiste até os dias atuais fica claro nas palavras de Ratzinger: “não se pode estabelecer a verdade por resolução, mas só reconhecê-la e aceitá-la [...] Nós pecamos, mas a Igreja... a portadora da fé, não peca”. Portanto, podemos entender nessas palavras, que a Igreja não vê o passado como um pecado grave, e sim, um simples erro, um deslize, ou seja, parece pensar que nada causou, não deixou marcas e nem destruiu para sempre famílias inteiras. E, continuam mantendo praticamente os mesmos princípios da Inquisição, um exemplo é o da infalibilidade. Entram em contradição a todo momento, mas não o admitem. E assim, Memorial do Convento nos leva a uma viagem a esse triste período da histórica, em especial de Portugal, resgatado em sua narrativa, nos exemplos de uma época em que a verdade era uma só, a da Igreja e do Reino. Com suas ricas e intrigantes personagens, o amor entre Blimunda e Baltasar, em que há a cumplicidade pela aproximação através do sofrimento, ela por ter a sina de ter suas visões e assim, ser perseguida pela Inquisição, e ele por ter perdido sua mão na guerra. Ambos têm de conviver com suas limitações. Aproximam-se também pela ajuda ao Padre Bartolomeu na construção de seu sonho e, apoiando-o posteriormente em sua ruína. Enfim, Saramago consegue através de sua obra de ficção nos trazer a tona um pouco da história de seu país e as questões sociais que o envolviam naquele momento. REFERÊNICAS BILBIOGRÁFICAS: BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. São Paulo: Imago, 2001. EYMERICH, Nicolau. Manual dos inquisidores. 2.ed. Brasília: Rosa dos Tempos, 1993. SARAMAGO, José. Memorial do Convento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. SIQUEIRA, Sonia A. A inquisição. São Paulo: FTD, 1999.