Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial Fundação Instituto de Administração Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Universidade de São Paulo Projeto: “DIAGNÓSTICO SOBRE O SISTEMA AGROINDUSTRIAL DE CAFÉS ESPECIAIS E QUALIDADE SUPERIOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS” RELATÓRIO FINAL PENSA - FIA - FEA – USP Contratante: Serviço Brasileiro de Apoio à s Micro e Pequenas Empresas do Estado de Minas Gerais SEBRAE - MG SÃO PAULO – SP JUNHO/2001 Equipe Pensa/USP Decio Zylbersztajn e Elizabeth M. M.Q. Farina (coordenadores) Maria Sylvia M. Saes (supervisão)1 Maria Célia M. de Souza (consultora)2 Eduardo E. Spers Roberto Fava Scare Rodrigo L. F. da Silveira Assistentes Marco Antonio Conejero Nathalia de F. Lazzarotto Marcelo Rodrigues Torres Sílvia Faga de Almeida Pesquisadores de Campo - MG3 Antônio Augusto Dias de Moura Eduardo Martins Lima Gustavo Borges Silva Ferreira Micheline Cristina S. Oliveira Raul Amaro de Oliveira Lanari Ricardo Braga Woods Carvalho Pesquisadores de Campo - SP4 Amanda Barreto José Fernando Anadão Lucimara B. Rodrigues Sílvia Tereza de Moura Pesquisadora do Pensa e Coordenadora do Curso de Ciências Econômicas da FACESP/FECAP. Instituto de Economia Agrícola – Secretaria de Agrícultura e Abastecimento de São Paulo. 3 Estagiários do SEBRAE-MG. 4 Alunos da FACESP/FECAP. 1 2 2 AGRADECIMENTOS Várias pessoas e instituições tiveram um papel relevante na concepção e realização desse trabalho e a todas gostaríamos de externar os nossos agradecimentos. • Nathan Herszkowicz (Sindicafé-SP), Simbrair de Deus Duarte (Sindicafé- MG); • Ana Lúcia Arakaki, Ensei Uejo Neto e Reinaldo Caetano (Caccer), Ivan Franco Caixeta (ACOB); Marcelo Vieira, Washington Rodrigues e Guy Carvalho (BSCA); Miram Monteiro e Rogério Daros (Santo Antonio Estate Coffee); • Supermercados Carrefour e Mart Plus em Belo Horizonte e Pão-de-Açúcar em São Paulo; Agradecimento especial para os produtores, torrefadores e consumidores, que por uma questão de sigilo não são nominalmente citados. Todos forneceram importantes informações, sem as quais esse trabalho não poderia ter sido realizado. 3 SUMÁRIO AGRADECIMENTOS .............................................................................................3 SUMÁRIO EXECUTIVO ............................................................................. 9 1. INTRODUÇÃO .................................................................................... 28 1.1 EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS ...........................................................................28 1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ..........................................................................30 2. NOTAS METODOLÓGICAS .................................................................. 32 3. TENDÊNCIAS MUNDIAIS DO MERCADO CONSUMIDOR DE CAFÉ E O AGRONEGÓCIO EM MINAS GERAIS ....................................................... 34 3.1. CONSUMO DE CAFÉS ESPECIAIS NO MERCADO MUNDIAL ......................34 3.2. CONSUMO DE CAFÉS ESPECIAIS NO MERCADO INTERNO .......................40 3.3. AGRONEGÓCIO CAFÉ NO ESTADO DE MINAS GERAIS..............................44 3.3.1. INVESTIMENTO EM QUALIDADE ............................................................... 46 3.3.2. INDÚSTRIA DE TORREFAÇÃO E MOAGEM .................................................. 53 4. EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO DE CAFÉS ESPECIAIS ....................... 57 4.1. PARÂMETROS DE DIFERENCIAÇÃO DOS CAFÉS ESPECIAIS ....................57 4.2. DIFERENCIAÇÃO POR QUALIDADE DA BEBIDA........................................60 4.3. DIFERENCIAÇÃO POR QUALIDADE AMBIENTAL E SOCIAL ......................64 4.4. DIFERENCIAÇÃO NO PROCESSO INDUSTRIAL E PELOS SERVIÇOS OFERECIDOS .....................................................................................................68 5. LEVANTAMENTO PRIMÁRIO .............................................................. 71 5.1 VISÃO DOS AGENTES SOBRE O CONCEITO DE QUALIDADE......................71 4 5.2. PRODUTORES DE CAFÉS ESPECIAIS E SUAS ASSOCIAÇÕES ....................72 5.2.1.PRODUTORES RURAIS .............................................................................. 73 5.2.2. ASSOCIAÇÕES DE PRODUTORES RURAIS .................................................. 81 5.3 TORREFADORES ..........................................................................................86 5.4. VAREJISTAS .............................................................................................105 5.5. CONSUMIDORES ......................................................................................108 5.5.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ............................................................ 109 5.5.2. COMPORTAMENTO GERAL DE COMPRA ................................................... 110 5.5.3. PERCEPÇÃO EM RELAÇÃO ÀS DEGUSTAÇÕES........................................... 112 5.6. ANÁLISE DE PREFERÊNCIA......................................................................116 5.6.1. DIFERENÇAS ENTRE SÃO PAULO E BELO HORIZONTE .............................. 121 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................126 6.1 QUESTÕES PARA APROFUNDAMENTO E SUGESTÕES PARA NOVOS ESTUDOS 134 7. REFERÊNCIAS .................................................................................. 136 ANEXO 1...........................................................................................................139 ANEXO 2...........................................................................................................151 ANEXO 3...........................................................................................................152 5 ÍNDICE DE TABELAS E QUADROS Tabela 3.1. - Consumo anual per capita de bebidas no mercado norte-americano (galões = 3,8 litros)........................................................................................ 35 Quadro 3.2. - Principais regiões produtoras de café arábica segundo classificação de bebida predominante ................................................................................. 38 Tabela 3.3. - Comparativo do parque cafeeiro nas principais regiões produtoras em Minas Gerais (1995/96 e 2001/02) ............................................................. 46 Quadro 4.1-Principais parâmetros de diferenciação do café............................. 70 Tabela 5.1 - Conceito de Cafés Especiais no Agronegócio Café de Minas.......... 71 Quadro 5.2. - Associativismo entre produtores de cafés especiais.................... 74 Tabela 5.3. - Vantagens de se produzir cafés especiais ................................... 75 Tabela 5.4. - Desvantagens de se produzir cafés especiais.............................. 76 Tabela 5.5. - Fatores de aumento nos custos de produção depois que passou a produzir cafés de qualidade superior................................................................ 77 Tabela 5.6. - Tipos de certificados ................................................................. 79 Quadro 5.7 – Principais conclusões das entrevistas com os produtores de cafés especiais e suas associações ........................................................................... 85 Tabela 5.8. – Distribuição das empresas segundo os tipos de café oferecidos e suas respectivas participações no total das entrevistas realizadas...................... 87 Tabela 5.9. - Distribuição das empresas segundo a quantidade de tipos de café oferecidos e suas respectivas participações no total das entrevistas realizadas ... 88 Tabela 5.10 – Composição usual dos blends processados pelas empresas que produzem café sem classificação gourmet, superior, tradicional e popular e suas respectivas participações ................................................................................ 89 Tabela 5.11 - Distribuição das empresas quanto às vantagens de se processar cafés especiais ............................................................................................... 90 Tabela 5.12 - Distribuição das empresas quanto às desvantagens de se processar cafés especiais ............................................................................................... 91 Tabela 5.13. Média de café produzida, em kg, das empresas entrevistadas, segundo o tipo de café produzido.................................................................... 91 6 Tabela 5.14 - Distribuição das empresas nas diferentes faixas de café produzido (em quantidade) ............................................................................................ 92 Tabela 5.15 – Participação de cada tipo de café no total produzido ................. 93 Tabela 5.16 – Participação média de cada tipo de café no total produzido ....... 93 Tabela 5.17 - Participação média de cada tipo de café no total na renda gerada ..................................................................................................................... 94 Tabela 5.18 – Distribuição das empresas segundo as faixas de preço que atua e o preço médio obtido em cada tipo de café...................................................... 95 Tabela 5.19 - Diferença média de preço de venda entre os diferentes tipos de café processados pela mesma empresa ........................................................... 95 Tabela 5.20 - Participação média de cada tratamento nos diferentes tipos de café ..................................................................................................................... 96 Tabela 5.21 – Distribuição das empresas segundo a forma pela qual ocorre o fornecimento do café em grãos ....................................................................... 96 Tabela 5.22 - Distribuição das empresas segundo os motivos que levam não à existência de contratos formais com os fornecedores........................................ 97 Tabela 5.23 - Distribuição das empresas de acordo com as iniciativas realizadas no processo de integração com os produtores de café especial ......................... 97 Tabela 5.24 - Distribuição das empresas segundo a exigência ou não de certificados de origem e qualidade................................................................... 98 Tabela 5.25 - Distribuição das empresas quanto a forma da interferência nos resultados da empresa devido às variações na safra e/ou preço do grão............ 99 Tabela 5.26 – Distribuição das empresas quanto às formas de garantia do blend ..................................................................................................................... 99 Tabela 5.27. - Distribuição das empresas quanto aos motivos pelos quais não existe provador contratado ........................................................................... 100 Tabela 5.28 - Distribuição das empresas segundo o destino do café produzido ................................................................................................................... 100 Tabela 5.29 - Distribuição das empresas segundo o estabelecimento pelo qual o café é negociado .......................................................................................... 101 7 Tabela 5.30 - Distribuição das empresas conforme o tipo de relação com os supermercadistas ......................................................................................... 101 Tabela 5.31 - Distribuição das empresas conforme a expectativa da evolução do mercado de cafés especiais no País ............................................................... 102 Tabela 5.32 - Distribuição das empresas conforme a expectativa quanto à sua evolução no mercado de cafés especiais ........................................................ 103 Tabela 5.33 - Distribuição das empresas conforme a expectativa quanto à sua evolução no mercado exportador................................................................... 103 Quadro 5.34 – Principais conclusões das entrevistas com os torrefadores...... 104 Quadro 5.35 – Principais conclusões das entrevistas com os varejistas .......... 108 Tabela 5.36 - Caracterização da Amostra dos Consumidores ......................... 109 Tabela 5.37 - Hábito e Comportamento de Compra do Consumidor de Café .. 110 Tabela 5.38 - Grau de importância das características .................................. 111 Tabela 5.39 - Percepção em Relação aos Cafés Degustados.......................... 113 Tabela 5.40 - Quantidade de Consumo de Café Diário e Hábito Fumar .......... 114 Tabela 5.41. Características Psicográficas e Preferência em Relação á Degustação ................................................................................................................... 115 Tabela 5.42 – Importância dos Atributos e as Respectivas Preferências pelos seus Níveis .......................................................................................................... 117 Tabela 5.43 – Importância dos Atributos e as Respectivas Preferências pelos seus Níveis*......................................................................................................... 119 Tabela 5.44 - Diferenças Comportamentais entre São Paulo e Belo Horizonte 121 Tabela 5.45 - Diferenças Comportamentais entre São Paulo e Belo Horizonte: Café Gourmet............................................................................................... 122 Tabela 5.46 - Diferenças Comportamentais entre São Paulo e Belo Horizonte: Café Superior ............................................................................................... 123 Tabela 5.47 - Diferenças Comportamentais entre São Paulo e Belo Horizonte: Café Tradicional ........................................................................................... 124 Quadro 5.48 – Principais conclusões das entrevistas com os consumidores.... 125 8 SUMÁRIO EXECUTIVO Este documento apresenta o sumário do “Diagnóstico do agronegócio de cafés especiais e de qualidade superior no Estado de Minas Gerais”, realizado pelo Sebrae – MG, em parceria com o Sindicafé – MG e SP. O diagnóstico foi elaborado pelo PENSA – Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial, da Universidade de São Paulo, a partir de dados secundários, trabalhos realizados anteriormente pelo PENSA e dados primários coletados em pesquisa de campo realizada em 2001, mediante entrevistas com 25 produtores de cafés especiais, 4 associações de produtores, 50 torrefadoras, 3 varejistas e 300 consumidores. A motivação para este estudo deve-se a mudanças no ambiente institucional e competitivo ocorridas na década de 90, que passaram a definir uma nova dinâmica para o tradicional sistema agroindustrial do café no Brasil. Tais mudanças criaram a possibilidade de parcela do agronegócio café se engajar em novas estratégias competitivas, seguindo as tendências de valorização de produtos com atributos diferenciados, seja por aspectos tangíveis ou intangíveis. As dificuldades para o crescimento desse mercado no Brasil foram relatadas por estudo anterior do PENSA sobre a competitividade do sistema agroindustrial café do Brasil.5 Nessa ocasião observou-se que problemas de coordenação entre os agentes do agronegócio estariam inibindo uma maior inserção do País no segmento de cafés especiais, tanto no mercado interno como no externo, fazendose necessário a adoção e/ou fortalecimento de política públicas e privadas. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo geral definir e subsidiar estratégias de crescimento, diversificação, comunicação, venda e investimento para o agronegócio café de Minas Gerais, com enfoque nos cafés especiais e de qualidade superior. Como objetivos específicos, buscou-se: a) caracterizar e definir o consumidor de café, reconhecendo os principais atributos 5 SAES, M.S.M. & FARINA, E. M. M. Q. O Agribusiness do Café no Brasil, IPEA/PENSA, São Paulo: Editora Milkbizz, 1999. 9 que levam ao consumo desse produto; b) identificar e avaliar os condicionantes da competitividade, enfatizando em cada elo do agronegócio as formas de cooperação e interação entre os agentes da cadeia; c) selecionar os principais fatores direcionadores de competitividade; d) identificar estratégias empresariais e de políticas públicas para a melhoria da eficiência e competitividade do agronegócio do café em Minas, com ênfase em ações para implementação na esfera do SEBRAE-MG; e e) apontar uma agenda de ações públicas e/ou privadas de âmbito estadual, a partir dos resultados da pesquisa. • TENDÊNCIAS MUNDIAIS DO MERCADO CONSUMIDOR DE CAFÉ E O AGRONEGÓCIO EM MINAS GERAIS Nos últimos 10 anos o consumo mundial total de café tem crescido a taxa de apenas 1,1% ao ano. Este comportamento está relacionado à instabilidade de sua oferta no mercado mundial e, principalmente, à s mudanças observadas nos hábitos de consumo. Nos EUA, o maior consumidor mundial da bebida, entre 1980 e 2000, o consumo caiu de 2,0 para 1,7 xícaras per capita dia. Apesar da queda ou estagnação do consumo global de café nos países desenvolvidos, observa-se nesta última década, uma tendência de crescimento do consumo de cafés diferenciados, determinada seja pela qualidade da bebida (cafés gourmet e premium) ou pelo processo de produção (aromatizados, cappuccino, descafeinados e espresso, entre outros). No mercado interno, há uma série de fatores que têm inibido o crescimento do consumo de cafés especiais. Entre eles pode-se citar a imagem de que “café é tudo igual”, decorrente do tabelamento de preços que vigorou até o início dos anos 1990. Mas a desregulamentação do mercado e o fim do tabelamento de preços permitiram que, a partir de meados dos anos 90, os consumidores passassem a descobrir que “café não é tudo igual”, abrindo assim caminho para um segmento que vem crescendo 15% ao ano. 10 A expansão desse mercado deve, entretanto, enfrentar alguns importantes desafios: a) maioria dos consumidores brasileiros ainda não conhece os cafés diferenciados, apesar de uma década de mercado desregulamentado. Para esses consumidores, o preço tem mais importância que a qualidade, refletindo a percepção de que o café é um produto homogêneo; b) concorrência acirrada entre as empresas de torrefação, que está gerando um forte processo de concentração da indústria e têm dificultado a compra de matéria-prima de melhor qualidade; c) o padrão de concorrência nos supermercados que tendem a valorizar os preços baixos. • O AGRONEGÓCIO CAFÉ EM MINAS GERAIS Minas Gerais é o mais importante estado produtor de café do Brasil, com mais de 50% da produção total. A produção mineira de 14 milhões de sacas em média dos últimos cinco anos é superior à da média para o mesmo período do segundo maior produtor mundial, a Colômbia, cuja produção se situa ao redor de 11 milhões de sacas6. A produção mineira está divida em quatro regiões: Sul e Oeste, Zona da Mata, Jequitinhonha, e Triângulo e Alto Paranaíba. Nos últimos seis anos houve um grande crescimento do plantio de café em todas as regiões produtoras. O cerrado mineiro é tido como a primeira região a empreender esforços coletivos visando a valorização da imagem de seu café. Foi por meio das ações do Conselho da Associações de Cafeicultores do Cerrado (Caccer), criado em 1992, que foi implementado o primeiro certificado de origem no Brasil, que delimitou as quatro regiões produtoras do estado. A estratégia do Caccer acabou sendo 6 Na safra 2000/01 o Vietnã superou a produção da Colômbia em 1 milhão de sacas. 11 adotada por produtores das outras regiões, que também passaram empreender ações para valorizar a qualidade dos cafés de sua região. Desde 1991, Alfenas sedia a Brazil Specialty Coffee Association (BSCA), cujo objetivo é mostrar que além de maior produtor mundial, o Brasil oferece cafés de altíssima qualidade. No sul de Minas foi criada a Associação Sulminas-Café em 1997. Além do estímulo à produção de cafés de qualidade, a associação tem como principal meta trabalhar na linha do café socialmente sustentável definido como um sistema de produção rentável e reprodutível, que não polui o meio ambiente e que gera empregos. Foi também nesta região que começaram a surgir os primeiros produtores de café orgânico do país, que formaram a ACOB – Associação de Cafeicutura Orgânica do Brasil, com sede em Machado. As regiões das Montanhas de Minas (Zona da Mata) e Jequitinhonha também estão adotando medidas que pretendem revitalizar a produção que se caracteriza por um grande número de pequenos cafeicultores familiares. O café descascado tem se apresentado como uma opção para valorizar o café dessas regiões. No setor de processamento, a indústria de torrefação de Minas Gerais é composta por 280 empresas, o que corresponde a cerca de 16% do número total de torrefadoras brasileiras. As empresas mineiras industrializam cerca de 11% do total de café torrado e/ou moído produzido no Brasil. O estado é exportador de café e consome cerca de 9% do total no país. Ofertar qualidade ao consumidor brasileiro tem sido um desafio para as empresas devido ao histórico do agronegócio café. Ao mercado interno sempre coube a função de absorver os cafés de qualidade inferior que não alcançavam os padrões de qualidade que os classificassem para exportação. Para sustentar as iniciativas que estão sendo criadas é necessário um novo enfoque de relacionamento entre os agentes do agronegócio. A formação da imagem de qualidade junto ao consumidor não depende apenas do produto mas 12 “depende também da consistência de uma política de formação de imagem e divulgação, assim como da constância e persistência desse relacionamento com o mercado” (Washington Luiz Rodrigues, superintendente da Ipamena Agrícola). • EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO DE CAFÉS ESPECIAIS Não há uma definição precisa sobre o conceito de cafés especiais. Essa definição costuma envolver tanto parâmetros de qualidade da bebida, quase sempre relacionados a variedades, origens, tratos culturais e pós-colheita, quanto outros valores mais difíceis de serem identificados, como as condições em que os grãos foram produzidos. Isso significa que a qualidade do café está associada a características tangíveis, como propriedades físicas, sensoriais e locacionais, e intangíveis representadas por qualquer atributo que diferencie o produto diante do consumidor, como as condições tecnológicas, ambientais e sociais da produção dos grãos de café. Em suma, esse conceito engloba tanto um padrão de produto quanto de processo. No que se refere à qualidade da bebida, o café gourmet é reconhecido no mercado de especiais como indicador de qualidade superior, relacionado a características intrínsecas do grão verde como aroma, sabor, corpo, acidez e sabor residual. Refere-se a cafés preparados tipo 3 para melhor, de aspecto uniforme muito bom, com bebida mole/estritamente mole. É possível melhorar a qualidade do café por meio de mudanças tecnológicas, tanto na colheita, preferencialmente seletiva, como no pós-colheita, com cuidados no beneficiamento, na secagem e na separação para formar lotes segregados. Os cafeicultores orientados para o segmento de cafés gourmet, além das alterações de ordem tecnológica também enfrentam mudanças nas formas de comercialização. Cada lote necessita ser negociado quase que individualmente e muitos produtores, algumas cooperativas e/ou exportadores acostumados com grandes volumes resistem a essas transformações. 13 A qualidade superior da bebida também se relaciona com a origem dos plantios, com a valorização de atributos territoriais, como os solos, clima, altitude e temperatura de um determinado local, conferindo à bebida, características únicas, raras e especiais. A origem dos plantios pode ser identificada de modo informal, mostrando a origem específica de uma determinada fazenda ou região, ou ainda formal, por meio de legislação que delimite determinadas regiões geográficas. O estado de Minas foi pioneiro na formalização da denominação de origem, por meio do decreto que delimitou em 1996 as quatro regiões produtoras. A implantação do sistema, contudo, tem encontrado muitas dificuldades para implementar vários aspectos, entre eles os relacionados à exclusão dos produtos de qualidade inferior. A estratégia de diferenciação por denominação de origem tem que ser combinada com a adoção de um padrão de produto dentro de cada região. A diferenciação baseada em padrões de processo abrange sistemas produtivos com menor impacto no meio ambiente, como os sistemas orgânicos de cultivo, assim como responsabilidade social na produção cafeeira, que diz respeito à possibilidade de comercialização dos grãos no mercado solidário. Estes atributos de qualidade ambiental e social começam a fazer parte da pauta de diferenciação do café, podendo vir a se constituir em elementos importantes de concorrência do produto final. Desta forma, pode-se concluir que: O conceito de cafés especiais está intimamente ligado ao prazer proporcionado pela bebida. Destacam-se por algum atributo específico associado ao produto, ao processo de produção ou ao serviço a ele associado. Diferenciam-se por características como qualidade superior da bebida, aspecto dos grãos, forma de colheita, tipo de preparo, história, origem dos plantios, variedades raras e quantidades limitadas, entre outras. Podem também incluir parâmetros de diferenciação que se relacionam à sustentabilidade econômica, ambiental e social da produção, de modo a promover maior eqüidade entre os elos da cadeia 14 produtiva. Mudanças no processo industrial também levam à diferenciação, com adição de substâncias, como os aromatizados, ou com sua subtração, como os descafeinados. A rastreabilidade e a incorporação de serviços também são fatores de diferenciação e, portanto, de agregação de valor. • LEVANTAMENTO PRIMÁRIO: PRINCIPAIS RESULTADOS O levantamento primário constou de entrevistas com os diferentes elos do sistema agroindustrial do café em Minas Gerais, considerando os produtores rurais e suas associações, torrefadores, varejistas e distribuidores. A visão dos diferentes agentes do segmento de cafés especiais sobre o conceito de qualidade privilegia as características físicas e sensoriais da bebida. A opinião de produtores, torrefadores e varejistas converge para aspectos como ausência de defeitos nos grãos e excelência da bebida em termos de sabor, corpo e aroma. Apesar da ênfase na qualidade superior da bebida, já há indícios de valorização de outros atributos, desde que devidamente reconhecidos e valorizados pelos consumidores. • PRODUTORES RURAIS E SUAS ASSOCIAÇÕES Os resultados preliminares das entrevistas realizadas com produtores indicam que no segmento de especiais coexistem desde pequenos produtores, com área cultivada de 12 ha, até grandes, com 3300 ha. As variedades predominantes nos parques cafeeiros de Minas são Catuaí e Mundo Novo, seguidas de Bourbon, Acaiá, Catucaí e Icatu. A principal forma observada de beneficiamento do café é a natural, seguida do descascamento. A quase totalidade dos cafeicultores rebeneficia o café na própria fazenda ou em outro local, vendendo apenas o produto de qualidade inferior em bica corrida. Todos os produtores entrevistados estão organizados, pertencendo a pelo menos uma Associação e/ou Cooperativa de âmbito local ou regional. 15 Na visão dos cafeicultores, entre as principais vantagens de se produzir cafés especiais destacam-se o diferencial maior de preço obtido pelo produto, o relacionamento diferenciado com os compradores, maior facilidade de acesso ao mercado internacional e menor dependência dos canais tradicionais de comercialização. Quanto à s desvantagens da produção desses cafés, destaca-se o aumento nos custos de produção como o fator negativo mais importante. Estes custos estão diretamente associados a mudanças nos métodos de beneficiamento e aquisição de equipamentos para o despolpamento, mudanças relevantes para elevar o padrão de qualidade dos grãos. Os produtores de café orgânico representam cerca de 30% dos cafeicultores entrevistados, sendo que quase 70% deles tem 100% de suas áreas de cultivo certificadas como orgânica. A expectativa dos cafeicultores é de crescimento do segmento de especiais, tanto no mercado externo como no interno, na medida em que haja maior reconhecimento de sua qualidade superior. A maior parte dos cafeicultores espera ampliar sua participação tanto no mercado internacional como no doméstico, buscando melhorar a qualidade do produto e atendendo à s demandas sociais e ambientais. A participação média da produção de cafés especiais no mercado mundial é estimada pelas associações de cafeicultores em 10%, enquanto as estimativas de participação do Brasil nesse mercado alcança 1%, que efetivamente recebem adicional de preço, mas com potencial para atingir 5%. Com relação aos cafés orgânicos, a participação no país chega 0,2% da produção total. Estima-se que 60 a 70% da produção dos associados da BSCA é vendida como café especial. Para o Caccer, cerca de 20 a 25% da produção é comercializada como produto especial. Os associados da ACOB produziram 32 mil sacas de café orgânico em 1999 e 60 mil sacas em 2000. 16 Cerca de 0,5% da produção do cerrado é de café orgânico. Já a ACOB prevê que 60% do café orgânico produzido no país provêm de seus associados, localizados, em sua maioria, no Sul de Minas. A produção dos associados da BSCA comercializada internamente é praticamente irrisória. No mercado internacional a BSCA vende mais de 50% para países europeus, vindo a seguir Estados Unidos com cerca de 30% e Japão com quase 10%. Quanto aos cafés orgânicos, a ACOB estima que 80% é exportado e 20% destina-se ao mercado interno. • TORREFADORES A maior parte das torrefadoras pesquisadas (88%) processam café tradicional.7 Para estas empresas o principal fator que define o café gourmet é ser fabricado com 100% de café arábica. A torrefação de cafés especiais ocorre em 12 empresas (24% dos entrevistados). A grande maioria das torrefadoras (76%) não torra cafés especiais. As principais desvantagens do processamento destes cafés é o mercado ainda muito restrito, além da concorrência desleal das grandes torrefadoras, da dificuldade do consumidor em identificar a qualidade do café e da dificuldade para encontrar a matéria-prima adequada. Entre as principais vantagens apontadas pelas empresas que produzem cafés gourmet estão o relacionamento diferenciado com os compradores, o diferencial maior de preços e a maior possibilidade de planejar as vendas. Os cafés de origem e orgânicos também apresentam essas características. 7 Na pesquisa, os produtos foram, previamente, classificados em: a). Gourmet (bebida estritamente mole/ mole, 100% arábica, 0% de defeito – pretos, verdes e ardidos); b). Superior (bebida mole/dura, até 15% de robusta, com até 10% de pretos, verdes e ardidos); c) Tradicional (bebida dura/riada /rio, até 30% de robusta, 25% de pretos, verdes e ardidos); e d) Popular/Combate (sem atributo de qualidade), segundo o PROGRAMA CAFÉS DO BRASIL. “Programa de Educação do Mercado para o Café – PEM”. (2000). 17 A maior quantidade média produzida por ano é de café tradicional (511 ton). Seguem-se os cafés popular, superior e gourmet (340 ton, 235 ton e 138 ton, respectivamente). A menor média constatada foi de café orgânico (10,8 ton). A maior parcela da renda dessas empresas é gerada pelo café tradicional. A parcela mais significativa das torrefadoras, em todos os tipos de café, submetem o produto exclusivamente ao tratamento torrado e moído. A torra do café para espresso é pequena, mesmo no caso de empresas que produzem gourmet. Para as torrefadoras, o ganho médio do café gourmet é de aproximadamente 150%, 99% e 96% sobre o café popular, tradicional e superior, respectivamente. Além disso, nota-se que o diferencial de preço entre o café orgânico e o superior é de 139%. A maior parte das empresas obtém sua matéria-prima diretamente do produtor, especialmente nas empresas de café superior (74%). Os corretores são responsáveis pelo fornecimento de cerca de 40% dos grãos à s empresas, principalmente no caso das que torram café popular. Somente cerca de 25% das empresas possuem contratos formais de fornecimento de cafés especiais com produtores. Os principais motivos para a ausência desse tipo de contrato foi a oferta suficiente de matéria-prima e a aposta na flutuação dos preços de mercado como forma de obtenção de margens, sendo arriscado fixar um preço no contrato. A metade das torrefadoras declarou ter parcerias importantes com produtores de cafés especiais. Na maioria delas, observou-se que as iniciativas relacionadas a esse processo de integração ocorreram principalmente com as visitas ao local de produção e com a troca de experiências sobre aspectos técnicos da produção. Entre as empresas que processam cafés especiais, 50% preferem adquirir matéria-prima de alguma região específica, sendo as mais citadas o Cerrado 18 Mineiro, pela qualidade superior dos grãos, e o Sul de Minas, pela forte tradição regional. A outra metade declarou que não tem preferência por regiões específicas porque a qualidade depende de vários outros fatores. Certificados de origem ou de qualidade não são exigidos pela grande maioria das torrefadoras. A certificação só é exigida no caso de café orgânico. Para a maior parte das empresas variações na safra e/ou preço do grão teriam interferência nos resultados da empresa, sobretudo em sua rentabilidade e políticas de comercialização. Para evitar essas variações as torrefadoras procuram manter estoques com negociações informais. Apenas 34% das empresas tem um provador contratado para avaliar a qualidade do café. As demais têm o serviço terceirizado. Quanto à distribuição do café processado pelas torrefadoras, a maior parte do café gourmet (57%), superior (47%), tradicional (49%) e popular (40%) tem destino municipal. Entre as empresas com produção de orgânico e de origem, as negociações são realizadas principalmente no âmbito nacional, seguido pelas vendas internacionais. Cerca da metade das vendas ocorre para supermercados de bairro, o que não se aplica aos cafés superior, orgânico e de origem. As negociações das torrefadoras de superior ocorrem principalmente com vendas institucionais. Quanto aos orgânicos e os de origem, a maior parte dos negócios é feita com grandes redes de supermercados. Cerca de 36% das empresas mantêm relacionamento profissional com os supermercados enquanto 14% alegam ter uma relação conflituosa. Os contratos com os supermercadistas são geralmente realizados sem degustação e sem consignação. As negociações ocorrem com um prazo de entrega de até 5 dias, com período de fornecimento semanal e prazo de pagamento de 30 dias. As empresas acreditam em crescimento da participação dos cafés especiais no mercado interno. Porém, apenas 24% delas acreditam no crescimento da empresa no mercado. Uma possível razão para um crescimento mais lento do 19 mercado seria a falta de interesse do consumidor e a forte concorrência. Parte delas não pretende investir e parcela menor pretende entrar no mercado de especiais ou lançar novas marcas. A maioria das empresas não tem expectativas quanto ao mercado externo. Parcela reduzida pretende iniciar exportações ou vem realizando esforços para entrada no mercado ou aumento de sua participação. • VAREJISTAS Nos supermercados a participação dos cafés especiais comercializada é insignificante. Entretanto, na percepção dos supermercadistas as vendas dos cafés especiais devem crescer bastante, principalmente, nos grandes centros do Sul do País e na região Sudeste, em especial em Minas, Rio de Janeiro e São Paulo. No Nordeste a expectativa é de crescimento lento não só pela questão da renda, mas particularmente pelo hábitos alimentares. Apesar de o consumidor estar atento à s inovações, os supermercadistas sugerem que as empresas invistam em divulgação dos cafés especiais. O consumidor brasileiro ainda tem conceitos equivocados, como o de identificar qualidade com café extra-forte. Muitos consumidores também não entendem o que significa café orgânico. Com poucas exceções, não há um trabalho efetivo das empresas em orientar o cliente sobre o produto. Um dos fatores limitantes para um melhor relacionamento entre supermercados e torrefadoras deve-se ao fato de a maior parte dos fornecedores não utilizar ECR (Efficient Consumer Response)8. • CONSUMIDORES Na análise dos consumidores foram utilizados três questionários. O primeiro buscou caracterizar o consumidor de café. O segundo tinha o objetivo de captar a opinião do consumidor sobre três diferentes qualidades de cafés por meio de desgustação. O terceiro buscou determinar os padrões de preferências dos 8 ECR é uma tecnologia que permite uma relação direta com os fornecedores de forma a 20 consumidores. Para isso, o consumidor de acordo com a sua preferência ordenava cartões que continham conjuntos de atributos distintos 9. A maioria dos consumidores da amostra estudada10 conhece o Selo de Pureza da ABIC (79%) e o leva em consideração no momento da compra (61%). Este resultado também foi confirmado na análise de preferência. Apesar do reconhecimento do Selo de Pureza, os critérios mais utilizados na escolha de um café na hora da compra foram o sabor (25%) e a marca (23%), seguido da qualidade (17%) e do preço (16%). Na análise de preferência os resultados são semelhantes, embora o preço tenha tido uma importância maior. Vale observar que a grande maioria se mostrou sensibilizada em pagar mais por um café de melhor qualidade (92%). As duas situações que melhor caracterizam o consumo de café são os horários destinados à s refeições (37%) e o consumo sempre que tem vontade (48%). Quanto à quantidade, houve muita semelhança entre as proporções consideradas como consumidores eventuais (até 3 xícaras, 34%), médios (de 3 a 5 xícaras, 28%) e freqüentes (mais de 5 xícaras, 37%). Entre as características sensoriais, o sabor foi considerado a mais importante (86%). O segundo fator mais importante foi o aroma (71%), seguido do corpo (51%) e da cor da bebida (41%). Na degustação, o café tipo gourmet foi o considerado mais gostoso que os demais tipos, com 43% de preferência, seguido pelo tradicional (32%) e superior (23%). As médias foram consideradas estatisticamente diferentes entre si, a um intervalo de confiança de 95%. Ou seja, pode-se dizer com 95% de confiança que possibilitar o acompanhamento de estoques e reposição automática de mercadorias. 9 A análise de preferência do consumidor foi feita por meio de cartões com diferentes atributos do café vendido no supermercado, como preço, tipo (gourmet, tradicional e orgânico), identificação (pureza, origem e marca), preparo (coado e espresso) e embalagem (almofada e vácuo). 10 Pesquisa de campo com degustação realizada com 300 consumidores em 4 supermercados, sendo 2 em Belo Horizonte e 2 em São Paulo. 21 os consumidores percebem na média que o gourmet é mais gostoso que o tradicional, que por sua vez, é mais gostoso que o superior. Duas hipóteses podem ser formuladas com relação ao resultado geral da degustação: a existência de percepção de diferenciais gostos das três amostras de cafés e a existência de padrões distintos de preferência. Em ambos os casos, estratégias de segmentação e diferenciação por outras variáveis tangíveis deveriam ser adotadas. Em relação ao aroma, o gourmet foi considerado o melhor, sendo que o tipo superior também apresentou um nível bom e regular significativo, além do maior consenso (menor variância) por parte dos consumidores. Quanto ao sabor (adocicado versus amargo), o tipo tradicional foi considerado mais adocicado e o gourmet mais amargo, sendo o superior, na média, considerado como intermediário. Também em relação ao sabor (forte versus fraco), o tipo tradicional se mostrou mais forte e o gourmet mais fraco, sendo o superior considerado intermediário. Apesar de os consumidores, de uma forma geral, terem preferido o café gourmet como o mais gostoso, com relação aos atributos aroma e sabor houve uma diversidade dos resultados que pode demonstrar uma dificuldade de percepção por parte do consumidor em relação a estes atributos. A análise das preferências por atributos foi feita com base na metodologia denominada Conjoint Analysis, crescentemente utilizada em pesquisas de mercado. Foi utilizado para a análise o café acondicionado em embalagens de 500g. Para os cinco atributos escolhidos, o fator de maior importância na escolha do consumidor foi o preço (30%), seguido pela identificação e pelo tipo de café, ambos com 22%. A menor importância na escolha recaiu sobre a forma de preparo (14%) e a embalagem do produto (10%). 22 Quanto aos preços, a preferência é decrescente à medida que aumenta o valor, demonstrando uma clara sensibilidade do consumidor a esse atributo. No que se refere ao tipo de café, entre orgânico, gourmet e tradicional, o mais preferido foi o tradicional, seguido dos dois últimos. Na análise da escolha conjunta, com relação à identificação (origem, pureza e marca), o Selo de Pureza teve maior importância que a marca e a origem. A principal diferença apresentada entre o comportamento dos consumidores de Belo Horizonte e São Paulo em relação aos atributos diz respeito ao fato de que o consumidor da capital mineira tem preferência pela marca enquanto o consumidor paulista prefere o Selo de Pureza. De modo geral, os resultados parecem indicar a hipótese de dificuldade de percepção de atributos sensoriais por parte dos consumidores. Eles ainda são bastante sensíveis a preços, embora se mostrem dispostos a pagar mais por uma bebida de melhor qualidade. • PRINCIPAIS CONCLUSÕES Ao longo da caracterização e análise dos segmentos do agronegócio dos cafés especiais foram identificados diversos fatores que poderão subsidiar futuras ações no sentido de fomentar o consumo do produto e melhorar a sua eficiência e competitividade. A seguir estão colocadas as principais conclusões da pesquisa e as ações que delas decorrem: • A grande maioria dos consumidores se mostrou sensibilizada a pagar mais por um café de melhor qualidade, entretanto o preço baixo é o fator de maior importância na escolha do consumidor Ações: Aumentar a capacidade de distinção da percepção destes atributos tanto em seus aspectos tangíveis como nos intangíveis. • Na degustação, o café tipo gourmet foi considerado o mais gostoso, seguido pelo tradicional e superior 23 Ações: Campanhas institucionais de esclarecimento. O fortalecimento das regras de rotulagem e/ou certificação deveria ser adotada, visando esclarecer o consumidor, além de estratégias individuais para disponibilizar e mostrar os cafés especiais para o mercado. Ou seja, há uma necessidade de maior informação para o consumidor quanto às características e padrões de qualidade de modo a melhorar sua percepção e com isso melhorar o posicionamento das marcas em cada segmento. • Principais critérios na escolha do café são sabor e marca Ações: Estratégia individual (firma) no sentido de manutenção do padrão de qualidade. A clara identificação do padrão e sua estabilidade, combinados com investimentos em outros elementos de diferenciação mais tangíveis e de mais fácil compreensão e percepção por parte do consumidor, pode melhorar a diferenciação percebida e valorizada. • A decisão de consumo é na sua maioria definida pela vontade Ações: Ações de merchandising em locais específicos para incentivar a compra por impulso e investimentos em pesquisas que identifiquem e segmentem os sabores mais preferidos pelos consumidores. Estratégias de indução ao consumo de cafés em determinados momentos podem ser adotadas. • A maior parte dos consumidores conhece e leva em consideração o Selo Pureza no momento da compra Ações: Estratégias coletivas visando o aumento do consumo geral de café deveriam aproveitar a imagem positiva do Selo de Pureza. Na verdade esse selo é mais importante para os cafés médios e inferiores, já que identifica apenas pureza. Os cafés especiais podem prescindir do selo, mas teriam que manter padrões bem definidos e estáveis. 24 • Na análise de preferência foram identificados grupos distintos de consumidores: os mais sensíveis a preços, à s marcas ou ao Selo Pureza Ações: As firmas deveriam adotar estratégias de segmentação do mercado buscando discriminar preços de acordo com as preferências dos consumidores. • Não há um consenso entre as torrefadoras do que seja cafés especiais no que diz respeito a cafés de qualidade superior Ações: Estudo e criação de regras muito bem definidas com relação à certificação e à sua operacionalização para sinalizar aos consumidores de forma clara os atributos desejados em cada segmento de mercado. • Boa parte das torrefadoras processa café tradicional de forma exclusiva e não tem expectativa de ingressar no mercado de cafés especiais no mercado interno e externo. A concorrência desleal foi citada como um dos fatores que impedem o investimento em especialidades. Ações: Fontes de financiamento para capacitação das empresas torrefadoras e ações conjuntas entre produtores rurais, torrefadores e pequeno varejo, com o objetivo de reduzir custos de transação para a criação de mercados alternativos de consumo de cafés especiais e para o ingresso no mercado internacional de café torrado deveriam ser adotas. Estudo sobre os canais alternativos de comercialização no mercado internacional devem ser realizados, aproveitando a tendência do consumidor valorizar a procedência (rastreabilidade) do produto. A inserção no mercado internacional poderia ocorrer por meio de um pool de empresas pequenas e produtores rurais de grupos estratégicos bem definidos, a exemplo do que tem sido realizado, embora ainda de forma incipiente, pela Brazil Specialty Coffee Association (BSCA) e Santo Antonio Estate Coffee (SAEC). No mercado nacional deve-se adotar ações no sentido de fortalecer o varejo de qualidade 25 • Mercado consumidor ainda restrito Ações: Estratégias privadas, públicas e coletivas que incentivem a produção e transmitam informação para o consumidor. • O consumidor brasileiro tem conceitos equivocados, como o de identificar qualidade com café extra forte e não sabe o que é café orgânico Ações: Campanhas de esclarecimentos para mudar tais “crenças” consolidadas junto ao consumidor. A preferência menor pelo tipo de café orgânico e gourmet deve-se ao fato de serem produtos novos, que demandam estratégias de longo prazo para permitir a experiência e mudança de hábito. • A maior parte das torrefadoras não utiliza tecnologia de informação, o que os deixa muito atrasados em comparação com o varejo Ações: Investimentos em tecnologia de informação. Pode-se também citar o exemplo do programa Sincovaga que organiza um pool de empresas de pequeno porte para negociar com os supermercados e viabilizar a adoção de transmissão eletrônica de dados. • A produção de cafés especiais implica em aumento dos custos de produção e tratos culturais mais complexos Ações: Financiamento de custeio e investimento, pesquisa, capacitação da mãode-obra, campanhas de qualidade da produção, com ênfase na colheita e póscolheita. • A certificação, além de valorizar do produto e garantir a existência de algum atributo, é uma exigência do mercado exterior. É crescente a necessidade de certificação para atributos sociais e ambientais 26 Ações: Marketing institucional, além do fortalecimento e difusão de padrões de produção que protejam o meio ambiente e promovam a responsabilidade social. O uso de certificados é necessário nos casos de padrões associados a processos. Ações coletivas no sentido de estabelecer regras de acreditação e certificação, compatíveis com as internacionais serão imprescindíveis. 27 1. INTRODUÇÃO Este documento apresenta o diagnóstico do agronegócio de cafés especiais e de qualidade superior no Estado de Minas Gerais, realizado pelo Sebrae – MG, em parceria com o Sindicafé – MG e SP. O diagnóstico foi elaborado pelo PENSA – Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial, da Universidade de São Paulo, a partir das seguintes fontes: dados secundários; trabalhos realizados anteriormente pelo PENSA; documentos disponíveis e dados primários coletados em pesquisa de campo realizada em 2001, mediante entrevistas com produtores de cafés especiais, associações de produtores, torrefadores, varejistas e consumidores. 1.1 EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS Nos anos 90, importantes mudanças no ambiente institucional e competitivo passaram a definir uma nova dinâmica para o tradicional sistema agroindustrial do café do Brasil. Tais mudanças foram desencadeadas pela desregulamentação do mercado cafeeiro, marcada por três acontecimentos: a) a quebra dos Acordos Internacionais do Café (AICs); b) a extinção do Instituto Brasileiro do Café (IBC), órgão nacional que definia a política para o setor, orientando e coordenando as estratégias do sistema desde a produção agrícola até a comercialização do produto; e c) o fim do tabelamento de preços no mercado brasileiro. As “regras do jogo” definidas pelos AICs e implementadas pelo IBC tinham como objetivo sustentar os preços do café, o que no plano nacional, podia ser traduzido pela captação da maior quantidade possível de dólares por saca de café exportado, de forma a gerar receitas para subsidiar o processo de industrialização brasileiro. Isto implicava que, dada a importância do café para a economia nacional, principalmente como fonte de receita cambial, as políticas adotadas pelo IBC estavam atreladas à s decisões macroeconômicas e de política comercial. O foco da regulamentação era maximizar o volume de café exportado em um único padrão comercial, conhecido mundialmente como “Santos 4”. O café de 28 melhor qualidade era misturado com o de pior para aumentar a quantidade embarcada, de forma que o Brasil ficou conhecido como um produtor de um padrão de café de qualidade média (commodity), importante na formação da base dos blends11 das torrefadoras internacionais. Ao mercado interno, o segundo maior consumidor de café do mundo, restava o papel secundário de absorver o café não exportável por questões de qualidade ou os excedentes gerados quando havia oferta abundante do produto no mercado interno. O tabelamento de preços do café no varejo, também ligado à s determinações macroeconômicas de combate à inflação, restringia qualquer tentativa de segmentação do mercado. O café era considerado um produto homogêneo pelos responsáveis pela regulamentação, e, como tal, o tabelamento de preços não incentivava o uso de matérias-primas de qualidade superior. Com o novo ambiente institucional surgiu a possibilidade de parcela do agronegócio café se engajar em novas estratégias competitivas, seguindo as tendências do mercado consumidor de valorizar produtos com atributos diferenciados, seja por aspectos tangíveis ou intangíveis. Os atributos de diferenciação no café apresentam uma ampla gama de conceitos, que vão desde características físicas, como origens, variedades, cor e tamanho, até preocupações de ordem ambiental e social, como os sistemas de produção e as condições da mão-de-obra sob os quais o café é produzido. Os cafés especiais englobam padrões de produto e de processo. Os primeiros demandam sistemas observáveis e verificáveis de monitoramento. Os de processo, como não podem ser observáveis e verificáveis a baixos custos, exigem a certificação de terceiros. Estima-se que o segmento denominado de cafés especiais, incluindo-se aí os aromatizados, cappuccinos e outras bebidas que têm como base o café, representa atualmente cerca de 12% do mercado internacional (PASCOAL, 1999). 11 Blend é a mistura de grãos de diferentes variedades e/ou procedências com a finalidade de 29 Na produção rural, o mercado de cafés especiais tem a vantagem de possibilitar, ou em alguns casos, priorizar a pequena produção como principal agente produtivo. No processamento industrial os nichos de mercado também podem ser explorados com vantagens por empresas de médio e pequeno porte. A escala de produção, que implica em custos decrescentes, não é a variável principal de competição. A competição ocorre nesses casos pela raridade, o que deve levar à obtenção de rendas monopolísticas. Essa característica singular do mercado de cafés especiais o torna particularmente interessante como objeto de estudo, já que o seu desenvolvimento pode configurar-se em uma importante alternativa de renda para pequenos e médios empresários do agronegócio café. Contudo, em estudo realizado pelo PENSA sobre competitividade do sistema agroindustrial café do Brasil, observou-se que problemas de coordenação entre os agentes inibem uma maior inserção do País no segmento de cafés especiais, tanto no mercado interno como no externo. Nos Estados Unidos, o primeiro consumidor de café mundial, do total dos cafés em grão considerados de qualidade superior, apenas 5% é procedente do Brasil. No mercado interno o consumo de cafés com atributos diferenciados ainda é considerado inexpressivo (SAES & FARINA, 1999). 1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA Esse diagnóstico tem como objetivo geral definir e subsidiar estratégias de crescimento, diversificação, comunicação, venda e investimento para o sistema agroindustrial do café de Minas Gerais, com enfoque nos cafés especiais e de qualidade superior. Os objetivos específicos são: a) Caracterizar, definir e diferenciar o consumidor de café, reconhecendo os principais atributos que levam ao consumo desse produto; dar à bebida as características desejadas por um determinado grupo de consumidores. 30 b) identificar e avaliar os condicionantes da competitividade, enfatizando a interação e formas de cooperação entre os elos da cadeia; c) selecionar os principais fatores direcionadores de competitividade; d) identificar estratégicas empresariais e de políticas públicas para a melhoria da eficiência e competitividade do agronegócio do café em Minas, com ênfase em ações para implementação na esfera do SEBRAE-MG. e) Apontar uma agenda de ações de âmbito estadual, a partir dos resultados da pesquisa. O trabalho está organizado em cinco partes, além desta introdução. A segunda parte apresenta a metodologia de trabalho. A terceira traz um panorama geral do sistema agroindustrial do café para a partir daí inserir a produção cafeeira de Minas Gerais. Esse diagnóstico será analisado tendo como base trabalhos já realizados. A quarta parte discute os parâmetros de qualidade de cafés especiais, a fim de verificar as condições para a sua produção no Brasil e a possibilidade de inserção dos segmentos rural e torrefador no processo de produção diferenciada. A quinta parte apresenta o diagnóstico da produção de cafés especiais em Minas, resultado das entrevistas e questionários realizados com produtores de cafés especiais, torrefadores, varejistas e consumidores ligados a esse segmento. Buscou-se com isso identificar os possíveis gargalos existentes entre os elos do sistema orientados para produtos diferenciados. Por fim, nas considerações finais são sugeridas, com base nas informações anteriores, propostas de políticas públicas que permitam o desenvolvimento e consolidação desse segmento no Estado ampliando e fortalecendo o consumo de cafés de qualidade superior no mercado interno. 31 2. NOTAS METODOLÓGICAS Para atingir os objetivos propostos a pesquisa foi realizada por meio de dados secundários e primários. Os dados secundários12 foram utilizados na terceira parte do trabalho, em que foi realizada uma breve caracterização do agronegócio do café, com enfoque especial no consumo de cafés especiais e na caracterização do sistema produtivo mineiro. A definição de parâmetros de qualidade de cafés especiais, apresentada na quarta parte do trabalho teve como base além das informações secundárias, o levantamento de dados primários com pesquisa de campo. Foram entrevistados representantes de quatro associações de produtores de cafés especiais sediadas em Minas Gerais: Conselho das Associações dos Produtores de Café do Cerrado (CACCER), Santo Antonio Estate Coffee (SAEC), Associação de Cafeicultores Orgânicos do Brasil (ACOB) e Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA)13. As quatros associações representam diferentes aspectos de diferenciação: café de origem genérica, de origem específica, orgânico e gourmet, respectivamente. Foram também aplicados 25 questionários com produtores mineiros de cafés especiais e com 50 torrefadores do Estado. Nos questionários procurou-se saber qual a percepção dos agentes sobre o conceito de cafés especiais e caracterizar cada um dos elos da cadeia café. Estes questionários foram utilizados para a elaboração da quarta parte, em que se buscou identificar as dificuldades e as vantagens de se produzir cafés especiais e de qualidade superior. Por fim, foram realizadas duas entrevistas com 3 varejistas e com 300 consumidores de café. Na pesquisa de campo foi feita degustação com 150 consumidores na cidade de São Paulo e 150 em Belo Horizonte, em quatro supermercados, dois em cada cidade. São Paulo fez parte da amostra pelo fato de 12 A análise teve como base os estudos realizados pelo PENSA/USP e documentos do Sindicato de Café e da Associação Brasileira da Indústria de Café, conforme citado na bibliografia. 13 O Caccer possui cerca de 4.000 associados, a ACOB possui 14 sócios, sendo que um deles é uma associação de pequenos produtores que conta com cerca de 120 membros, a SAEC tem 20 32 ser a maior consumidora de café do Brasil e importar café em grão verde e torrado e moído de Minas Gerais. Na pesquisa de campo com consumidores de café procurou-se obter informações sobre a percepção de características organolépticas da bebida. A degustação foi realizada com tipos diferenciados de qualidade de café. Além de questões sobre percepções gerais em relação à bebida, os consumidores também foram inquiridos quanto ao seu comportamento com relação aos atributos de qualidade de café. Foi utilizada a Conjoint Analysis para identificar a partir de produtos hipotéticos construídos com base em diferentes níveis de atributos prédeterminados, a importância relativa dos atributos determinantes da decisão de consumo (preços, embalagem, marca, origem etc.) associados e a BSCA 14 membros. 33 3. TENDÊNCIAS MUNDIAIS DO MERCADO CONSUMIDOR DE CAFÉ E O AGRONEGÓCIO EM MINAS GERAIS O objetivo deste item é apresentar um quadro geral da evolução do mercado mundial de café, enfocando o consumo de cafés especiais. A análise das tendências e da inserção do Brasil nesse mercado visam servir de base para identificar e avaliar os condicionantes da competitividade do SAG do café de Minas Gerais. 3.1. CONSUMO DE CAFÉS ESPECIAIS NO MERCADO MUNDIAL Nos últimos 10 anos o consumo mundial de café tem crescido a uma taxa de apenas 1,1% ao ano. Este comportamento está relacionado à instabilidade da oferta de café no mercado mundial e, principalmente, à s mudanças nos hábitos de consumo. Embora o café seja um produto de demanda inelástica14 no curto prazo e para pequenas variações de preço, observa-se que um aumento significativo dos preços relativos afeta o consumo no longo prazo de forma praticamente irreversível. Em meados dos anos 70, a alta dos preços decorrente da geada de 1975, que dizimou parcela importante da produção brasileira, resultou em queda contínua do consumo per capita de café nos EUA, o maior consumidor mundial. De 1970 para 1980, o consumo passou de 2,6 para 2,0 xícaras per capita dia. A redução na oferta em 1986 e 199515 também refletiu no comportamento do consumo, de forma que em 2000 o mercado americano consumiu 1,7 xícaras per capita dia (FAS/USDA, 2000). Aliado à questão da instabilidade dos preços, um outro componente importante para explicar o comportamento mundial do consumo de café é a A demanda de um produto é considerada inelástica quando uma variação positiva (ou negativa) no preço de um bem resulta em uma variação inversa proporcionalmente menor (ou maior) no consumo. 15 Em 1986 a redução da oferta deveu-se à estiagem e em 1995 às geadas nas regiões 14 34 mudança nos hábitos dos consumidores. Tanto no mercado americano como no europeu, as estatísticas indicam estagnação ou declínio do consumo de bebidas quentes. Para o café, tal tendência tem sido atribuída principalmente a dois fatores: a dificuldade de transmitir aos jovens uma imagem favorável do café e a associação do café a malefícios à saúde. É entre os jovens que o consumo de café apresenta maior retração. Em 1962, 81% da população de 20 a 29 anos nos EUA consumia café, enquanto em 1990 essa participação caiu para apenas 31,2%. Na faixa de 30 a 59 anos, o consumo de café caiu de 90,8% para 65,7% para o mesmo período (The Economist Intelligence, 1996:96). Embora os dados das Tabela 3.1 devam ser vistos com cautela, uma vez que se está comparando quantidades de produtos que são consumidos em doses diferentes, não há como negar a relativa perda de participação do café no total de bebidas consumidas nos EUA. Com relação ao aumento do consumo de água, os dados confirmam a tendência atual de aumento da ingestão de alimentos saudáveis. Quanto aos refrigerantes, não se pode deixar de mencionar os enormes gastos de investimentos em marketing das empresas dessas bebidas como um fator preponderante no avanço do consumo mundial. Tabela 3.1. - Consumo anual per capita de bebidas no mercado norte-americano (galões = 3,8 litros) Bebidas 1970 1975 1980 1985 1990 1995 1997 1999 2000 Café Refrigerante Cerveja Chá Água mineral 35,7 22,7 18,5 5,2 ---- 33,0 26,3 21,6 7,3 1,2 27,2 34,2 24,3 7,3 2,4 26,8 40,3 23,9 7,3 4,5 26,2 46,8 24,0 7,0 8,1 21,5 51,4 22,2 6,9 10,2 19,7 53,7 22,3 7,0 11,5 17,5 54,6 22,5 7,1 12,1 17,2 55,1 22,6 7,1 13,5 Fonte: FAS/USDA, 2000. A análise dos grandes números do consumo de café, entretanto, não deixa transparecer uma outra importante transformação que está ocorrendo nos mercados consumidores nesta última década. Nos países desenvolvidos observa-se produtoras do Brasil. 35 uma tendência de crescimento do consumo de cafés especiais, determinado seja pela qualidade da bebida ou pelo processo de produção. A qualidade da bebida depende de alguns atributos, como variedade cultivada, clima e solo da região, tratos culturais, colheita e pós-colheita. Já no processo de produção, os cafés denominados especiais não dependem exclusivamente das características intrínsecas da matéria-prima, e aí incluem-se os aromatizados, descafeinados, cappuccino e espresso, entre outros. Por vezes, estratégias de marketing fazem com que certos pontos de venda sejam identificados com lugares em que se adquire cafés especiais. É o crescimento de lojas de conveniência ou coffee shops que tem impulsionado estas vendas e atraído o consumidor jovem para este mercado. Estima-se que existam cerca de 8.500 “coffee houses” em atividade nos EUA, com vendas de quase US$ 5 bilhões em 2000 (ZAPAROLLI, 2001). Um exemplo desse novo segmento é o fenômeno da rede de cafeterias Starbucks Coffee Co. Em pouco mais de 10 anos de existência a empresa está em 4.135 pontos de venda, em mais de 20 países e emprega mais de 47 mil trabalhadores. As vendas em 2000 foram de US$ 2,1 bilhões, 30% maiores do que as de 1999. O maior sucesso de vendas é o frappuccino, bebida láctea gelada à base de café e de baixa caloria. A rede Starbucks procura transmitir uma imagem de vanguarda atraindo o público jovem. Por trás do sucesso, está um investimento anual em propaganda que chega a US$ 15 milhões. O sucesso da Starbucks induziu a entrada de outras redes como a do MacDonald’s, que está investindo no McCafé em vários países. De acordo com o National Coffee Drinking Trends (apud Specialty Coffee, 2000: 5), 51% dos americanos tomaram cafés gourmet em 1999 contra 35% em 1997. Na pesquisa foram considerados gourmet os cafés espresso, bebidas geladas de café e cafés premium em grão ou torrado e moído. Observou-se também que o consumo de cafés gourmet aumentou de 3% em 1998 para 9% em 1999. 36 Em outra publicação, o Datamonitor (1998 apud Specialty Coffee, 2000: 5), estima-se que as vendas de café torrado single origin nos EUA devem crescer de US$ 338 milhões em 1998 para US$ 493 milhões em 2002. Nos restaurantes é esperado que as vendas de cafés tradicionais declinem de US$ 999 milhões em 1998 para US$ 981 milhões em 2002, enquanto as vendas de cappuccinos, cafés preparados com leite e espresso devem apresentar incremento de US$ 281 milhões para US$ 371 milhões no mesmo período. O fenômeno das vendas de cafés especiais nas cafeterias refletiu no mercado de torrado e moído das grandes multinacionais. A Procter & Gamble lançou uma linha de cafés gourmet com 60 variedades, tais como o café orgânico, cultivado no México, e o raro Sumatra, entre outros. A estratégia da Procter & Gamble mostra que grandes empresas também estão atentas à s tendências de mercado e passam a explorar esses nichos. Além disso, cerca de 85 torrefadoras oferecem cafés com selo fair trade expedido pela ONG TransFair USA (ROTTA, 2001). Quando se analisa o incremento das vendas de cafés especiais, não se pode deixar de citar o programa da Specialty Coffee Association of America (SCAA). Esse programa pretende elevar o consumo de café nos EUA de 18 milhões para 31,5 milhões de sacas até 2022, sendo que, deste total, os cafés especiais responderiam por 30% (9,5 milhões de sacas). Para o mercado mundial, as projeções indicam que no ano 2010 o consumo poderá chegar a 120 milhões de sacas (20 milhões a mais do que o consumo atual), sendo que destas 15% serão de cafés especiais, isto é, cerca de 10 milhões de sacas a mais do que se consome atualmente (SAES & FARINA, 1999). Essa perspectiva de incremento de consumo da bebida é uma vantagem para o Brasil, principalmente com relação ao crescimento dos especiais, em que o principal atributo é o da qualidade superior. Além do Brasil ser o primeiro produtor de café, tendo cerca de 25% do mercado mundial, o parque cafeeiro nacional está distribuído em diversas regiões 37 que permitem a produção cafés de diferentes qualidades (Tabela 3.2). Ainda mais importante é o fato de que o Brasil é um dos poucos países que ainda dispõem de terras com os requisitos necessários para o incremento da produção, como condições edafo-climáticas adequadas. Quadro 3.2. - Principais regiões produtoras de café arábica segundo classificação de bebida predominante16 Regiões produtora de café arábica • • • • • • • • • Cerrado Mineiro (MG) Sul de Minas (MG) Zona da Mata (MG) Araraquarense (SP) Mogiana e Pinhal (SP) Norte do Paraná – Maringá e Londrina (PR) Sul do Espírito Santo Sul e Oeste da Bahia (BA) Outros Estados Classificação segundo bebida predominante • • • • • • • • • Mole e Dura Dura e Mole Rio Zona* Dura e Rio Dura e Mole Dura, Rio e Riada Rio Zona Dura e Mole (despolpado)** Rio Zona *Se despolpado Dura e Mole **Se não despolpado bebida Riada e Rio. Fonte: Informações de especialistas consultados. Apesar da tendência de crescimento do consumo de cafés especiais, o Brasil ainda participa muito pouco desse mercado. Em 2000, do total de 16,11 milhões de sacas embarcadas, apenas 300 mil foram destinadas aos mercados de cafés de qualidade, sendo que o Brasil poderia estar exportando cerca de 20% do total nesse mercado (PEREIRA FILHO, 2001: 6). No mercado internacional, o Brasil é tido como um fornecedor de quantidade, ao passo que os cafés da Colômbia, Guatemala, Costa Rica e Quênia, entre outros, são mais valorizados e recebem um prêmio pela qualidade. 16 A classificação oficial do café segundo a bebida, em ordem decrescente de qualidade, é a seguinte: Estritamente Mole, Mole, Apenas Mole, Dura, Riada, Rio e Rio Zona. A classificação por tipo admite sete categorias (tipo 2 a 8, com qualidade decrescente), segundo o número de defeitos constatados em uma amostra de 300 gramas. Vale observar que para alguns países do Mediterrâneo, o café bebida Rio é muito apreciado. 38 Nos EUA do total de cafés especiais importados em 1998, isto é de 3,4 milhões de sacas, o Brasil foi responsável por apenas 5%, enquanto a Colômbia teve participação de 32% e a Guatemala 14%. De acordo com VIEIRA & CARVALHO (2000:76), o Brasil tem uma participação pequena no mercado de cafés especiais porque com a regulamentação, o país deixou cristalizar uma imagem de grande produtor de um único tipo de café, o “Tipo Santos”, enquanto outros países investiram pesadamente nesse novo mercado17. É importante lembrar que no começo do século o café do Brasil tinha uma imagem de produto de qualidade. A Colômbia investe cerca de US$ 25 milhões por ano em marketing e participa com aproximadamente 300 mil sacas no mercado gourmet. O diferencial médio de preços alcançado em todo café colombiano negociado situa-se ao redor de US$ 25 a mais do que o brasileiro. Conclui-se, portanto, que o Brasil tem vantagens com relação aos outros produtores por possuir um parque cafeeiro complexo e diverso, que produz uma grande variedade de tipos de bebidas. Entretanto, tais vantagens teriam que ser exploradas, pois o Brasil tem atuado basicamente com cafés de consumo de massa, de qualidade inferior, com forte demanda por quantidade e com pouca inserção no mercado que mais tem crescido, o de qualidade superior. Pode-se, dessa forma, alegar que ao longo de quase um século de regulamentação no sistema agroindustrial do café foi se solidificando uma estrutura de governança que não proporciona incentivos e dificulta controles que permitam “receber, processar, difundir e utilizar informações de modo a definir e viabilizar estratégias competitivas, reagir à s mudanças no ambiente competitivo ou aproveitar oportunidades de lucros” (SAES & FARINA, 1999: 21). Segundo os autores, a segmentação do mercado internacional ocorreu “em relação ao padrão comercial, baseado num café brasileiro do ‘Tipo Santos’. Por isso, é que a marca mais conhecida no mundo – Santos – acabou excluindo o Brasil naturalmente desse mercado nascente”. 17 39 Nos cafés com atributos sem diferenciação, as formas tradicionais de comercialização se mostram, de uma forma geral, eficientes. Entretanto, quando se opta por uma estratégia de diferenciação baseada em qualidade do produto, surge a necessidade de se buscar matérias-primas com especificações mais rígidas. Assim, a estrutura de coordenação utilizada no mercado de commodities não consegue transmitir adequadamente a informação requerida para produção de especialidades. É por isso que se verifica que a pequena inserção do Brasil no mercado de cafés especiais ocorre a partir de novas estruturas de governança, mais coordenadas, em que há uma identificação de todos os segmentos da cadeia, como se verá no item 5. 3.2. CONSUMO DE CAFÉS ESPECIAIS NO MERCADO INTERNO No mercado interno, uma série de fatores inibem o crescimento do consumo de cafés especiais. Entre eles pode-se citar a imagem de que “café é tudo igual”, decorrente do tabelamento de preços que vigorou até o início dos anos 1990. Não é para menos, pois apesar de o Brasil ser o segundo maior consumidor de café do mundo, à indústria de torrefação restava um papel secundário de absorver o café não exportável, por causa de sua qualidade inferior. Em termos de estratégia do mercado interno isso significou competição via preços e pouca diferenciação. Cabe observar que com o tabelamento de preços as empresas passaram a adotar, criativamente, uma competição por diferenciação à s avessas. Dada a impossibilidade de vender o café torrado e moído por preço superior ao da regulamentação, a maioria das empresas dispunha de dois tipos de café no mercado: o tabelado e o de “combate”. Este último era conhecido por sofrer, no processo de fabricação, uma torra mais intensa de forma a disfarçar o uso de café verde de má qualidade e a adição de outros produtos como milho, cevada, palha, etc., que embora proibidos eram constantemente encontrados nas análises desses cafés. 40 A deterioração da qualidade do café somente foi revertida depois de uma ação coletiva implementada em 1989 pela Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) por meio de uma auto-regulamentação conhecida como “Selo de Pureza ABIC” (SAES, 1997:152). O Selo teve um importante papel de excluir as empresas fraudadoras, produtoras do café “milhorado”, e é percebido de modo significativo, conforme foi verificado na pesquisa com o consumidor final. Mesmo depois de quase uma década de desregulamentação ainda se observa uma grande homogeneização do café vendido no mercado, conforme coloca o Programa Cafés do Brasil (2000: 8): “a comoditização do mercado de café torrado e/ou moído que caracteriza o setor nos tempos atuais, tem sido marcada por uma substancial falta de diferenciação entre a maioria das marcas de café, implicando em baixos valores agregados, concorrência predatória e resultados negativos para a grande maioria das empresas, de qualquer porte e tamanho”. A concorrência entre as firmas decorre também da ociosidade da indústria, estimada em 65%, de acordo com a ABIC. A concorrência tem resultado no processo de consolidação da indústria, com o ingresso de empresas multinacionais (SAES & FARINA: 1999). Dispondo de vantagens de capital e gerencial, a entrada das empresas estrangeiras é facilitada pela aquisição de empresas nacionais com reputação entre os consumidores, fornecedores e compradores. São ilustrativas as recentes aquisições das empresas Café do Ponto, Seleto e União pela Sara Lee (norteamericana), da empresa 3 Corações pela Strass-Elite (israelense) e da torrefadora Nova Suíça, da exportadora Piumhi, pela Segafredo (italiana). A próxima grande marca a produzir no Brasil é a Lavazza, que comercializa oito milhões de sachês18 para café espresso por dia em mais de 80 países. O processo de abertura da 18 O sachê de café é fabricado com a medida certa de pó, sete gramas, para uma xícara de 41 economia brasileira também tem permitido a importação do café industrializado pela empresa italiana Illycafè. Um outro fator que acelera a concentração e ao mesmo tempo inibe a diferenciação do café é o padrão de concorrência estabelecido na indústria varejista. Mais de 82% do café é comercializado em supermercados. Esse segmento também está passando por um processo de consolidação e como decorrência procura manter ou aumentar sua participação, comprimindo as margens dos seus fornecedores (ABIC, 1998). Em pesquisa realizada pelo Programa Cafés do Brasil (2000) as 136 empresas entrevistadas atribuíram média 3,15, numa escala de 1 a 5, sobre a concordância da afirmação de que “o café é um produto de combate para o varejista.” A competição entre as empresas na busca de um espaço nas gôndolas dos supermercados resultam, por vezes, em atuação desleal como sonegação de impostos ou ainda adulteração do café, com a inclusão de outros produtos mais baratos. Tal estratégia, além de permitir uma sobrevida para estas empresas, chega a constituir uma ameaça mesmo para empresas de maior porte e vêm sendo coibida pelo Selo de Pureza da ABIC. De um lado, essa conjuntura facilita o avanço das multinacionais no mercado, que devido ao se porte podem se valer de economias de escala e escopo. De outro, propicia uma maior difusão de inovações (novos produtos, novas embalagens, novos processos de fabricação) e aumento de eficiência na indústria. Neste sentido, a desregulamentação do mercado e o fim do tabelamento de preços permitiram que, a partir de meados dos anos 1990, o mercado consumidor passasse a descobrir que “café não é tudo igual”, abrindo assim um caminho para um segmento que vem crescendo 15% ao ano, enquanto o tradicional só avança 1,5% ao ano. café espresso. (OITICICA, 2001). 42 A expansão desse mercado, segundo o presidente do Sindicado da Indústria de Café do Estado de São Paulo, Nathan Herszkowicz, teve três fases. A primeira ocorreu a partir do início dos anos 1990 com a expansão de lojas de café, como a Café do Ponto e o Fran’s Café, que iniciaram a disseminação do consumo de café espresso. De um volume de 10 mil sacas/ano em 1994 as vendas de café espresso passaram para 180 mil em 2000. A segunda fase teve início com a entrada da torrefadora italiana Illycafè, no final dos anos 90, que impôs um alto padrão de qualidade e um novo padrão de concorrência no mercado brasileiro. A estratégia individual da Illycafè de atender a um mercado de qualidade acabou sendo imitada por outras empresas que aos poucos estão difundido os cafés diferenciados. A última fase é muito recente, mas tem crescido rapidamente. Dos restaurantes de alto padrão e das cafeterias, os cafés diferenciados passaram também a entrar nas gôndolas de supermercados de classe A e B, das grandes capitais. As embalagens a vácuo e os cafés gourmet, orgânico e aromatizados, desconhecidos do consumidor brasileiro até há pouco tempo, já podem ser adquiridos sem maiores dificuldades. Observa-se novas marcas no mercado como Greenpeace Ituano, Native Orgânico, Bravo Café e Olivier Anquier que, ao lado das principais torrefadoras, como Sara Lee, Café Bom Dia, Melitta, Café 3 Corações e Cia. Cacique, também lançaram cafés especiais. Para a Melitta, as marcas especiais estão representando 30% do faturamento da empresa com café (CARDOSO, 2001). A meta, segundo o presidente do Sindicafé, é que em 2005 o brasileiro esteja consumindo 600 mil sacas de café gourmet, o dobro da marca atual (LUZ, 2001). A indústria de torrefação está percebendo que uma das forma para se fugir da guerra de preços é o investimento em qualidade, conforme verifica-se pela pesquisa realizada pelo Programa Cafés do Brasil (2000) com 136 torrefadoras, em que a concordância atribuída à s seguintes afirmações: “se houvesse qualidade diferenciada, seria possível praticar preços melhores” e “o consumidor paga um 43 preço maior, se a qualidade do produto justificar o valor”, foram 4,14 e 3,90 respectivamente, de uma escala de 1 a 5. Se no mercado internacional há uma grande dificuldade de romper com os tradicionais canais de exportação, no mercado interno os desafios são ainda maiores e dizem respeito, de uma forma geral, a três aspectos: a) a maioria dos consumidores brasileiros ainda desconhece os cafés diferenciados, depois de dez anos do fim da política de tabelamento de preços, que ao colocar um preço único para o café, refletia uma imagem de produto homogêneo. Para esses consumidores, o preço continua a ter mais importância que a qualidade; b) o acirramento da concorrência na indústria dificulta a compra de matériaprima de melhor qualidade e acelera a consolidação da indústria de torrefação; c) o padrão de concorrência dos supermercados que tendem a valorizar o preço baixo. 3.3. AGRONEGÓCIO CAFÉ NO ESTADO DE MINAS GERAIS Minas Gerais é o mais importante produtor de café do Brasil, com mais de 50% da produção total. A produção mineira de 14 milhões de sacas em média dos últimos cinco anos é superior à da média para o mesmo período do segundo maior produtor mundial, a Colômbia, cuja produção se situa ao redor de 11 milhões de sacas19. O crescimento da importância relativa da cafeicultura nesse Estado data de meados dos anos 1970, quando o café passa a ter uma elevação absoluta da rentabilidade em relação à sua principal alternativa: a pecuária. O decréscimo da produção nos Estados do Paraná e São Paulo também contribuíram para o aumento relativo da participação da produção mineira no 19 Na safra 2000/01 o Vietnã superou a produção da Colômbia em 1 milhão de sacas. 44 Brasil. No Paraná a produção decaiu a partir de 1975, depois da maior geada que a cafeicultura conheceu e do incentivo dos preços da soja neste período. Em São Paulo, depois de 1982, a cafeicultura entrou rapidamente em decadência com o surgimento de alternativas mais rentáveis como a laranja e a cana-de-açúcar. A importância da cafeicultura para o desenvolvimento do Estado de Minas pode ser medida pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD. Por ter grande capacidade de gerar empregos a montante e a jusante do segmento rural, a cafeicultura contribuiu para a melhora das condições de vida dos municípios cafeeiros. Uma amostra com os principais municípios produtores de café revela que todos estão nos grupos de médio e alto desenvolvimento humano. Em Minas Gerais, os municípios cafeicultores estão entre os 20% melhor colocados no "ranking" do desenvolvimento humano. A produção mineira está divida em quatro regiões: Sul e Oeste, Zona da Mata, Jequitinhonha, e Triângulo e Alto Paranaíba. Como se pode observar pela Tabela 3.3, houve um grande crescimento do plantio de café em todas as regiões produtoras nos últimos seis anos. O crescimento deveu-se aos incentivos de preços devido à escassez da oferta resultante da diminuição do parque cafeeiro no mundo, em decorrência dos baixos preços que vigoraram no início da década de 90 e de geadas no Brasil em 1994. A intempérie derrubou a produção brasileira para 16 milhões de sacas em 1995, cerca de 10 milhões a menos da obtida no ano anterior. Os preços do café brasileiro (Santos 4) em Nova Iorque que estavam em média US$ 66,58 por libra peso em 1993 se situaram em US$ 131,07, em média, entre 1994 e 1999 incentivando o plantio (Anuário Coffee Business, 2000/01). A retomada da cafeicultura mineira pode ser evidenciada pela produção de mais de 1,2 bilhões de mudas de cafés de 1997 a 2000 (Certificação é o Caminho, 2000:29). 45 Tabela 3.3. - Comparativo do parque cafeeiro nas principais regiões produtoras em Minas Gerais (1995/96 e 2001/02) Regiões Sul e Oeste Jequitinhonha Zona da Mata Triângulo e Alto Paranaíba Total MG 1995/96 cafeeiros (milhões de pés) Área (mil ha) 2001/02 Safra (mil sacas)** cafeeiros (milhões de pés) Área (mil ha) Safra (mil sacas)** 789,6 479,0 32,3 314,9 360,9 12,7 244,6 115,5 4.850 195 2.600 2.150 1.535 * 818 1.252 593,4 * 338,5 157,1 7.350 * 3.430 2.700 1.615,8 733,7 9.795 3.605 1.089*** 13.480 * Os dados de Jequitinhonha foram incluídos na região Zona da Mata em 2000/01. ** média dos dois anos. *** mais de ¼ do parque está em formação. Fonte: Diagnóstico da Cafeicultura em Minas Gerais (1996) e Embrapa. O Triângulo e Alto Paranaíba, região conhecida como cerrado mineiro, é a área produtora de café mais recente. Até a década de 1970 as terras da região eram destinadas à criação de gado de corte. Mesmo nos anos 1980, quando as bases da produção cafeeira já estavam presentes, dificilmente se poderia imaginar que a atividade chegaria a ser o que é hoje na região. 3.3.1. INVESTIMENTO EM QUALIDADE O cerrado mineiro é tido como uma das regiões cafeeiras mais dinâmicas principalmente por ter sido a primeira região a empreender esforços conjuntos em qualidade, visando a valorização da imagem do café ali produzido. A estratégia se pautou na percepção de que, dados os atributos naturais da região20 propícios à produção de cafés de qualidade, havia a possibilidade de explorar as características de excelência da bebida associadas à origem dos plantios. 20 Planalto elevado, com altitudes entre 820 e 1.100 metros, clima com temperaturas médias entre 18 e 21 graus, com estações de chuvas bem definidas. O verão, época da florada, é quente e úmido. No inverno, sem chuvas, o ar é seco, criando condições para um processo de maturação longo, ideal para retenção de aromas e sabor do café. A insolação abundante diminui o risco de fermentação por fungos. 46 Tal qual ocorreu no varejo brasileiro, não se pode deixar de citar o importante papel desempenhado pela empresa italiana Illycafè ao alavancar a estratégia de se investir em qualidade. Neste caso, a contribuição da Illycafè deuse em função da necessidade de suprir a sua produção de matéria-prima com cafés brasileiros de qualidade. Com enormes dificuldades para encontrar sem custos muito elevados o café desejado, a empresa instituiu em 1991 um concurso anual: o “Prêmio Brasil de Qualidade do Café para Espresso”21. Com essa estratégia, a Illycafè identificava os seus fornecedores do ano, que recebiam como prêmio um percentual entre 25% e 30% acima dos preços internacionais de café de boa qualidade. Desde a primeira edição do concurso, a maioria dos produtores premiados pertenciam à região do cerrado. O sucesso do café da região veio comprovar para o produtores e suas lideranças a qualidade do café produzido no cerrado. No sistema tradicional de comercialização, a informação sobre a qualidade da bebida era completamente perdida e não remunerada ao longo do sistema. Em geral, o produtor vende o café no estágio denominado bica corrida, em que passa apenas pelo primeiro benefício. O comprador ao adquirir o café de diversos produtores e regiões, e depois de um processo de seleção e padronização, faz a comercialização do produto conforme os blends requeridos no mercado (interno e externo)22. Por isso, para os agentes tradicionais de comercialização do grão não há interesse em identificar o café de uma determinada região ou de produtores específicos. Ganha-se ao misturar os cafés de várias origens, ao agregar valor no A Illycafè utiliza em seu blend 65% café brasileiro. O café brasileiro por ser seco em terreiro permite a migração dos açúcares presentes na goma que envolve o grão, proporcionando aroma e corpo ao produto, que são imprescindíveis para a elaboração do espresso (ZYLBERSZTAJN & NEVES, 1997). 22 Em geral o café ao chegar da zona de produção tem, em média 12 defeitos por 300 gramas. Após o processo de seleção e manipulação, o café que se dirige à exportação apresenta, em média 45 defeitos, e os que se destina ao mercado interno costuma ter 360 defeitos por 300 gramas. 21 47 processo de separação e classificação e ao comprar a um preço inferior ao que poderia ser pago se a qualidade fosse reconhecida. Sem conhecer a qualidade do seu café e sem receber uma remuneração que a valorize, o produtor acaba tendo poucos incentivos para produzir cafés de qualidade superior. Dentro da lógica de valorizar o café do cerrado é que foi criado em 1992 o Conselho da Associações de Cafeicultores do Cerrado (Caccer). É neste contexto que se coloca a importância da criação do Caccer. Ao atuar no posicionamento de mercado do café da região, o Conselho passou a disseminar um novo conceito de organização de interesse privado: o de prover bens coletivos para aumentar a competitividade e renda de seus associados. O Caccer reúne 48 municípios e 3.500 produtores. O objetivo principal do Conselho é manter uma gestão estratégica unificada, coordenada e consistente para o café do cerrado, de forma a servir como voz única de representação. O maior empenho do Caccer tem sido de arquitetar o primeiro certificado de origem no Brasil, tentando contornar as dificuldades da falta de tradição e legislação na proteção e controle desse tipo de certificado. A finalidade dessa estratégia é garantir institucionalmente a renda derivada do monopólio da marca e barrar ações oportunistas de terceiros que poderiam vir a se apropriar dessa renda. Em 1996, pelo Decreto n.º 38.559 do governo mineiro, foi instituído regulamento de certificado de origem para os cafés do Estado de Minas Gerais, o Certicafé, delimitando quatro regiões produtoras do Estado, cada qual com uma característica particular: Sul de Minas, Cerrado, Jequitinhonha e Montanhas de Minas23. Em 1999, o IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária, órgão ligado à Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, constituiu o Conselho Executivo do Certicafé. O Conselho credencia Sindicatos de Produtores e Associações, que ficariam encarregadas de emitir a certificação de origem do 23 Para maiores informações ver SAES & JAYO, 1997. 48 produto, com a fiscalização do IMA. O Certicafé identificará a região produtora, as características e a qualidade do café. Os cafeicultores deverão seguir as orientações do IMA para atingir o padrão exigido para a produção de um café de qualidade. De acordo com o estudo “Certificação é o caminho” do IMA, os produtores devem seguir as seguintes estratégias para que a qualidade do seu produto seja reconhecida: a) “Certificação de origem e de qualidade do café, com a criação de marcas com vários atributos, visando atender à s diferentes exigências dos mercados consumidores; b) ‘Marketing’ do agronegócio café brasileiro, enfocando as diferentes qualidades e regiões produtoras destacando-se que o Brasil produz café ecologicamente correto; c) negociar e implementar ações que visem à harmonização das regras de sustentabilidade e preservação do meio ambiente, para que o Brasil não venha a ser prejudicado por adotar práticas que agridam o ecossistema, traduzidas em maiores custos em relação aos concorrente que não as adotarem (Certificação é o Caminho, 2000:29).” Vale observar que de acordo com as proposições do IMA, a certificação é apenas o primeiro passo. A conquista de mercados que valorizam a qualidade deve contemplar questões de marketing, sociais e ambientais. Os produtores da região do cerrado foram precursores do programa e os primeiros a implementar as regras do Certicafé. A certificação fica a cargo do Caccer, que definiu uma escala de padrões de qualidade, classificando o café em três categorias: ouro, prata e bronze. A padronização, além da classificação por defeitos, inclui outros atributos como bebida, tipo, peneira, preparo e coloração do grão. Em 1999 foram certificadas 200 mil sacas, que foram destinadas para países da Europa, Japão e Argentina. 49 A estratégia do Caccer acabou sendo adotada por produtores das outras regiões, que também passaram a empreender ações para valorização da qualidade do café de sua região. No sul do Estado, a Associação das Cooperativas do Sul de Minas foi credenciada pelo IMA em dezembro de 1999. A região congrega cerca de 67 mil produtores e produz uma média mais de 7 milhões de sacas. É a maior região produtora do Brasil. Em 1997 foi criada a Associação Sulminas-Café agregando 32 municípios. Além do estímulo para a produção de cafés de qualidade, a associação tem como principal bandeira encontrar soluções para os produtores da região que se defrontam com custos crescentes de produção. Dois fatores atuam conjuntamente para o incremento dos custos: a característica montanhosa da região, que inviabiliza o uso de máquinas, e sua localização próxima dos grandes centros urbanos, que resulta em um encarecimento natural da mão-de-obra, principalmente na época da colheita. Uma das propostas da associação é trabalhar na linha do café socialmente sustentável, definido como um sistema de produção rentável e reprodutível, que não polui o meio ambiente e que gera empregos. Isso significa proporcionar uma remuneração que permita o reinvestimento na produção e preservação do meio ambiente (água, solo, paisagem, e biodiversidade), mantendo-o saudável e apto a atender à s gerações futuras. Foi nesta região que começaram a surgir os primeiros produtores de café orgânico do País. Parte destes produtores estão reunidos na Associação de Cafeicultura Orgânica do Brasil (ACOB), com sede em Machado. Em 2000 foram vendidas 60 mil sacas de café orgânico, sendo que deste total apenas 1% foi destinado ao mercado interno. De acordo com a associação, a qualidade da bebida do café orgânico já começa a ser exigida pelos compradores. O mercado de orgânicos já passou da 50 fase em que o que determinava o preço era a certificação, independentemente da qualidade da bebida. Hoje, para o mercado internacional, a presença do selo não é suficiente para garantir o adicional de preço sobre o valor comercial de um café convencional. Isso acaba por refletir também no padrão do café oferecido ao mercado interno. Para os produtores, as maiores dificuldades de vender no mercado nacional devem-se a um número restrito de torrefadoras que trabalham nesse segmento, apenas 8 empresas do total de cerca de 1500, e o processo complicado e custoso de certificação orgânica. As regiões de Montanhas de Minas (municípios da Zona da Mata)24 e Jequitinhonha serão as próximas regiões a serem credenciadas. Esta iniciativa pretende revitalizar estas duas regiões, que possuem um grande número de pequenos cafeicultores familiares “com baixo nível tecnológico no manejo dos cafezais, no associativismo e a comercialização ainda é precária” (Certificação é o Caminho, 2000: 30). Em Jequitinhonha os produtores criaram o Conselho Regional dos Cafeicultores das Chapadas de Minas (Corcacham), em junho de 2000. A entidade será responsável pelo processo de implantação da certificação nos 176 municípios da região. Um outro movimento a favor da qualidade que merece destaque é a criação em 1991, em Alfenas, no sul de Minas, da Brazilian Specialty Coffee Association (BSCA), cujo objetivo é mostrar que além de maior produtor mundial, o Brasil também oferece cafés de altíssima qualidade. A associação surgiu quando um grupo de produtores que participava de uma feira de cafés especiais em Orlando, em 1991, constatou que o país não tinha 24 O Café das Montanhas de Minas passou a ser chamando Café das Matas de Minas, pois ao requerer o registro da marca o Conselho das Associações, Fundações, Sindicatos e Cooperativas de Cafeicultores das Montanhas (COASC) descobriu que Café das Montanhas já era marca registrada. 51 nenhuma ação ativa em mostrar a qualidade dos cafés brasileiros, enquanto os nossos concorrentes se empenhavam em mostrar os seus cafés. De volta ao Brasil formou-se a BSCA com 15 membros aos moldes da ASCA (American Specialty Coffee Association). Os sócios da BSCA são pessoas físicas e jurídicas interessadas na produção, no desenvolvimento e na comercialização de cafés especiais (produtores, torrefadores e consumidores, entre outros). Os sócios certificados são apenas pessoas jurídicas e físicas produtoras de café, que tenham passado pelo processo de certificação da propriedade. A BSCA não comercializa o café, mas mantém acordos comerciais com diversas empresas em vários países que trabalham com o seu certificado. Dessa forma a BSCA incentiva que seus associados comercializem sem intermediários, ou no caso de associados de pequeno porte, que utilizem a estrutura de outro sócio. A idéia é permitir ao comprador a garantia de qualidade do produto por meio de uma avaliação qualitativa de cada lote comercializado (bebida e tipo) e de rastreabilidade (fazenda e produtor). Os objetivos da associação são os seguintes: a) “Congregar todas as pessoas e entidades atuantes no mercado de cafés especiais; b) Difundir a utilização dos cafés especiais brasileiros no Brasil e no exterior; c) Estimular o aprimoramento técnico e eficiência.” Quando se formou, a BSCA agregava um número pequeno de produtores devido aos altos custos da certificação. Nos últimos dois anos a associação passou a adotar uma nova estratégia que pretende ampliar seu quadro de associados. Desde 2000 a BSCA realiza o concurso anual “Café Gourmet”, que premia os melhores grãos de café do ano25. Os primeiros lotes vencedores foram ofertados O concurso surgiu em decorrência do projeto Café Gourmet da OIC, que prevê o aumento da produção de cafés de alta qualidade e sustentável em cinco países (Brasil, Papua-Nova Guiné, Uganda, Burundi e Etiópia). O objetivo é identificar regiões produtoras, disseminar técnicas 25 52 em leilão on line e nos dois anos os ágios obtidos sobre os cafés tradicionalmente negociados chegaram, em alguns casos, a mais de 500%. Cabe ressaltar que o concurso não favoreceu diretamente seus associados, apesar de dois deles terem sido finalistas. Os concursos de qualidade se proliferaram em todo o Brasil e tiveram um importante papel de estimular práticas indutoras de qualidade, além de sinalizar para o mercado comprador a qualidade do café brasileiro. 3.3.2. INDÚSTRIA DE TORREFAÇÃO E MOAGEM A indústria de torrefação em Minas Gerais é composta por 280 empresas, das quais 90 são associadas ao Sindicafé26. Isso corresponde a cerca de 16% do total das empresas brasileiras. As torrefadoras mineiras industrializam cerca de 11% do total de café torrado e/ou moído produzido no Brasil. O Estado mineiro é exportador de café, absorvendo cerca de 9% do total consumido no País (ABIC). A maior torrefadora mineira em termos de volume de vendas é a 3 Corações, que foi recentemente adquirida pela Strass-Elite, de capital israelense. Essa empresa foi pioneira na introdução comercial do café de origem, com o selo Café do Cerrado. Essa iniciativa surgiu em 1998, quando o Caccer e oito torrefadoras27 acertaram as bases para um acordo de comercialização. O acordo teve como para garantir a qualidade, estabelecer padrões de qualidade e desenvolver estratégias para comercialização. Foram selecionadas dez fazendas para servir de modelo. Sete delas estão em Minas, cinco no Sul e duas no Cerrado. Duas se encontram em São Paulo e uma na Bahia, com áreas de 3 a 175 hectares. 26 Entrevista com Simbrair de Deus Duarte, presidente do Sindicafé-MG. 27 Além da 3 Corações, as empresas que estão licenciadas pelo CACCER para utilização da marca Café do Cerrado utilizando-se de cafés certificados são: Torrefadora Noivacolinense (Café Morro Grande), de Piraciaba, SP; Ind. Prod. Alimentícios Cassiano (Café Cassiano), de Americana, SP; Café Canecão Ltda.(Café Canecão), de Campinas, SP; Ind. Com. Café Vascafé Ltda. (Vascafé Premium), de Quirinópolis,GO; Ind. Café Bom Jesus (Café Bom Jesus), Bom Jesus, RS; Ind. Alim. Gazzola Chierighini (Café Ituano), Itu, SP; Santa Clara Ind. Alimentos (Café Santa Clara), Eusébio, CE. Segundo Ensei Uejo Neto, diretor de marketing e qualidade do Caccer, entre os produtos voltados exclusivamente para o mercado externo, está o Vascafé 53 objetivo levar ao consumidor de maior poder aquisitivo cafés de qualidade superior28. O grande problema que o Caccer tem enfrentado é a dificuldade de monitoramento, ou seja, controlar se não estaria havendo comportamento oportunista das empresas parceiras. O comportamento oportunista poderia ocorrer caso o preço do Café do Cerrado se situe em patamar muito superior aos de outras regiões para um mesmo tipo de café29. Exemplo disso foi o que ocorreu com a 3 Corações, a única empresa mineira, que vinha apresentando problemas de qualidade, que foram rapidamente identificados pelos consumidores mais exigentes, o que acabou levando à quebra do contrato. Na linha de cafés especiais de Minas, além do Café do Cerrado como origem regional existe um trabalho de promoção de origem específica, como os “estate coffees” e os “cafés de autor”, quando são identificados os produtores ou suas fazendas. Exemplos dessas ações são: • Fazenda Ipanema: tendo como foco o mercado externo, tem entre seus compradores a rede Starbucks. Ingressou no mercado nacional, com a marca Cafeera. As vendas tiveram início em 50 bares e restaurantes de alto padrão em São Paulo e interior. Há todo o cuidado de adequar o blend ao tipo de cardápio do restaurante. Nas churrascarias o blend é mais forte, enquanto num restaurante francês ele é mais suave. A Premium Café do Cerrado, com desenvolvimento de produto específico para o mercado norteamericano. O Café Santa Clara tem feito trabalhos na Europa, através de uma empresa sediada no Rio de Janeiro. Além disso, o Caccer está procurando introduzir alguns dos produtos relacionados, a partir de parceiras existentes no mercado japonês. 28 Para garantir que o consumidor tenha certeza que esta comprando café do cerrado foi adotada uma estrutura de governança contratual. As empresas que firmavam o contrato de utilização da marca Café do Cerrado deveriam adquirir o café do cerrado lacrado e certificado pelo Caccer. Na confecção do blend a empresa deve utilizar no mínimo 70% do café do cerrado. O restante da matéria-prima fica a critério da empresa, que deve obedecer um padrão de qualidade autorizado pelo Caccer. 29 Sobre as relações entre o Caccer e as torrefadoras ver SAES, NASSAR e NUNES (1999). 54 preocupação de acompanhar os estabelecimentos verificando se o preparo e o modo de servir está de acordo é fator de vantagem para empresa. • A Cooxupé, maior cooperativa de café brasileira, sediada em Guaxupé no Sul de Minas, lançou em maio de 2000 em parceria com Olivier Anquier, uma linha de cafés especiais com a grife que leva o nome do empresário. • A Café Bom Dia lançou em meados de 2000 a linha Gourmet - Espresso, Suave, Forte e Orgânico (certificado pela AAO – Associação de Agricultura Orgânica) - em embalagens a vácuo. • Outros exemplos: Fazenda Lambari, com o Café Astro; Família Carvalho Dias, com a marca Spress; Fazendas de Paracatu, com a marca Paracatu Specialty Coffee. Outra iniciativa de promoção da qualidade para o consumidor mais exigente do mercado interno inclui o Projeto Gastronômico do Café, com a introdução de Cartas de Cafés, a exemplo dos vinhos. A idéia consiste em dar ao cliente de restaurantes de alto padrão opções de bebida que melhor agrade ao seu paladar, como complemento certo aos pratos degustados. Pode-se observar que nas iniciativas ligadas à introdução de cafés no mercado de especiais há uma tendência de mudanças nas relações entre os agentes da cadeia produtiva. Tais mudanças dizem respeito a uma nova forma contratual, seja formal ou informal, na qual a presença de um atributo específico determina como fator primordial a identificação dos agentes envolvidos. Isto é evidenciado pela afirmação de Washington Rodrigues, superintendente da Ipanema Agrícola que defende que a formação da imagem de qualidade junto ao consumidor não está ligada apenas à especificidade do produto mas “depende também da consistência de uma política de formação de imagem e 55 divulgação, assim como da constância e persistência desse relacionamento com o mercado” (ABIC, 2000: 9). 56 4. EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO DE CAFÉS ESPECIAIS A diferenciação de produtos30 pode ser entendida como uma busca de liderança por qualidade, aqui definida como a presença de determinados atributos desejáveis pelos consumidores (DOUGLAS, 1992:561). As diferenças entre os produtos podem ser reais ou imaginadas, tangíveis ou intangíveis31. No caso de diferenciação de commodities pode haver de fato uma pequena diferença real no produto. Mas as bases para a diferenciação também podem estar relacionadas a uma imagem a ele associada, ao seu lugar de origem, ou ainda ao uso exclusivo de um nome (KOTLER, 1999:128). Tanto as diferenças como as similaridades entre produtos com determinadas características de qualidade estão relacionadas com a percepção do conteúdo dos atributos desejados do produto, diante do conteúdo de atributos dos outros produtos. A informação sobre a presença de tais atributos pode ser um dos princípios para a diferenciação que o consumidor faz entre estes e os produtos dos concorrentes. Na visão de Levitt, citado por Kotler (1999:128) “commodities não existem. Todos os bens e serviços são passíveis de diferenciação”. O desafio é criar uma diferenciação relevante e singular, que pode se basear em diferenças físicas, de disponibilidade, de serviços, de preço, ou ainda de imagem. 4.1. PARÂMETROS DE DIFERENCIAÇÃO DOS CAFÉS ESPECIAIS São muitas as possibilidades de diferenciação e segmentação do café que podem ir além da qualidade final da bebida. Os atributos relacionam-se a uma ampla gama de conceitos, que vão desde os tradicionais, como a bebida de qualidade superior até valores introduzidos mais recentemente como as 30 A diferenciação de produtos é uma das três estratégias competitivas propostas por Porter (1991), além da estratégia de nicho e da liderança de custos. 31 Para KOTLER (1999:128), essas diferenças podem ocorrer em termos reais ou psicológicos. 57 características que promovam a preservação ambiental e a responsabilidade social da produção. Aspectos físicos como variedades, cor e tamanho dos grãos, relacionados a fatores associados ao local dos plantios e a fatores tecnológicos interferem na qualidade final da bebida, traduzida por atributos sensoriais, como sabor, corpo e aroma. Preocupações de ordem ambiental e social, como os impactos das formas de beneficiamento, sistemas orgânicos de produção e as condições da mão-deobra sob as quais o café é produzido também estão sendo incluídas no conceito de especialidade. O caráter intangível desses últimos parâmetros reforça a necessidade de certificação da produção, como forma de garantir aos consumidores a presença do atributo desejado. Se a diferenciação de cafés especiais tiver como base atributos físicos e sensoriais, como qualidade da bebida superior ao padrão, é possível que o consumidor com certo conhecimento sobre esse mercado consiga distinguir, pelas características da bebida, o café padrão do café de qualidade superior. São os chamados bens de experiência32. Nestes casos, a informação a respeito de sua qualidade superior só é obtida depois de se experimentar o produto, ou seja, depois de efetivada a compra e o consumo. Para resolver esse problema é necessário que se sinalize adequadamente as informações relevantes, como a qualidade atribuída a uma marca, por exemplo. Quando além destas características tangíveis, nas quais o consumidor pode auferir a qualidade provando o produto, também se incorporam características intangíveis, como as preocupações de ordem ambiental e social, o problema de mensuração das informações torna-se muito mais complexo. O segmento conhecido como cafés conscientes (DICUM & LUTTINGER, 1999), está ampliando 32 DOUGLAS (1992) classifica bens e serviços em bens de pesquisa, de experiência e crença, com base na dificuldade e custo que o consumidor enfrenta para avaliar a qualidade um produto na hora da compra. Os custos da informação para o consumidor aumentam sentido dos bens de pesquisa, para os de experiência, para os de crença, pela dificuldade avaliação dos atributos. 58 de de no de sua parcela no mercado de especiais, em função do aumento da preocupação dos consumidores com as dimensões ambientais e sociais de seus padrões de consumo, o que tem estimulado suas preferências por bens produzidos de forma mais sustentável. Mas nesses casos o consumidor não consegue distinguir, mesmo após o consumo, se o produto possui os atributos desejados. São os chamados bens de crença, para os quais a certificação exerce um papel fundamental reduzindo os custos de obtenção de informações pelos consumidores. É preciso que o organismo certificador tenha credibilidade, exprimindo confiança através do selo impresso na embalagem. Para isso é necessário que se construa uma excelente reputação e que todo o caminho do produto ao longo do sistema produtivo seja rastreado para que não haja perda de informação. KOTLER (1999) cita o café colombiano como um exemplo de commodity diferenciada por um grande esforço de marketing que associa a qualidade da bebida à sua origem. Para o autor, apesar do Brasil e outros países também produzirem cafés de qualidade equivalente, ou até mesmo superior, a imagem que prevalece no mercado norte-americano é a de que o café bom foi produzido com grãos provenientes da Colômbia. Outras formas de diferenciação podem derivar de modificações no processo produtivo. No caso do café, pode-se adicionar substâncias que trazem um novo aroma à bebida, os chamados cafés aromatizados, ou pode-se subtrair algum elemento não desejável como a cafeína33. Nas cafeterias é possível diferenciar o produto com misturas tais como leite, chocolate e canela, entre outros, que podem trazer novas e sofisticadas formas de apresentação da bebida. Segundo o Sindicafé-SP (2001:6), os cafés que se diferenciam pelo processo produtivo podem ser funcionais, quando atentem à demanda específica de produtos relacionados ao conceito de saúde, como os descafeínados e os vitaminados ou podem ser inovadores, quando dizem respeito a novas formas de preparo do café, como os frappuccinos, cappuccinos, 33 59 Verifica-se, portanto, que não há uma definição clara sobre o conceito de cafés especiais. Ela é ampla o suficiente para envolver tanto parâmetros de qualidade da bebida, quase sempre relacionados a variedades, origens, tratos culturais e pós-colheita, quanto outros valores mais difíceis de serem identificados, como as condições em que os grãos foram produzidos. Isso significa que a qualidade do café está associada a características tangíveis, como propriedades físicas, sensoriais e locacionais, e intangíveis representadas por qualquer atributo que diferencie o produto diante do consumidor, como as condições tecnológicas, ambientais e sociais da produção e/ou processamento dos grãos. Alguns parâmetros de qualidade do café serão brevemente descritos a seguir. Compreendem os atributos de qualidade da bebida, origens e de qualidade ambiental e social. 4.2. DIFERENCIAÇÃO POR QUALIDADE DA BEBIDA O termo café gourmet é recente e já bastante utilizado no mercado de especiais como indicador de cafés de qualidade superior. Relaciona-se à s características intrínsecas do grão verde que interferem na qualidade final da bebida como aroma, sabor, corpo, acidez e sabor residual. De maneira geral refere-se a cafés preparados tipo 3 para melhor, de aspecto uniforme muito bom, com bebida mole/estritamente mole. Nos Estados Unidos, segundo Mané Alves (1999), consultor da Coffee Lab Intenational, os conceitos relacionados aos cafés gourmet confundem-se com os dos cafés specialty. A presença de características sensoriais como as acima descritas deve ser estabelecida entre comprador e vendedor antes da venda do lote34. Além destas, a definição para cafés verdes inclui parâmetros físicos como, por exemplo, umidade entre 9 e 13%, um padrão de 0 a 5 defeitos em amostra de aromatizados, etc. 34 Os compradores norte-americanos estão habituados a certos sabores característicos de cafés de diferentes países, como a alta acidez e aspectos que lembram ligeiramente o vinho dos cafés do Quênia e o sabor que lembra terra dos cafés de Sumatra, entre outros. 60 300 gramas35 e presença de até 5% acima ou abaixo da especificação, quando o tamanho do grão for definido em contrato. Em princípio, todo o fruto maduro (cereja) de café arábica que está no pé possui uma qualidade excelente, com potencial para produzir bebida mole para melhor. A depreciação do grão ocorre quando o fruto é colhido, pois seu conteúdo de açúcares favorece a sua fermentação. Para melhorar a qualidade do café é necessário observar variáveis de ordem tecnológica tanto na colheita como no pós-colheita. A preocupação mais importante está na separação dos frutos cereja dos verdes e secos e formação de lotes segregados. Esse processo tem início com a colheita seletiva e passa pelas formas de beneficiamento e secagem. Segundo VIEIRA & CARVALHO (2000:75), são três as formas de preparo dos grãos, que mostram estreita relação com a qualidade final da bebida: natural (terreiro), descascado e desmucilado. A qualidade da bebida do café natural é mais dependente do clima do que as demais formas de benefício. Por outro lado, a secagem ao sol é menos agressiva ao meio ambiente. A primeira forma é conhecida como via seca e as outras duas como via úmida: a) Café natural – processo pelo qual o café recém-colhido, após passar por um processo de lavagem, é levado para o terreiro para secar ao sol antes de ir para o secador. A mucilagem seca sob a casca, aderida ao grão; b) Cereja descascado – processo em que são lavados e separados os grãos verdes e secos dos grãos maduros (cerejas), que passam então por um despolpador. Após o despolpamento os grãos vão para o terreiro. Na secagem a mucilagem fica aderida aos grãos proporcionando características únicas tais como corpo, acidez, e doçura; 35 Os defeitos admissíveis são aqueles que não afetam drasticamente o sabor da bebida como grãos quebrados, brocados mas não infectados, e outros incluídos na categoria 2 da escala da SCAA – Specialty Coffee Association of America. 61 c) Despolpado – também conhecido como desmucilado, é um processo similar ao do cereja descascado, mas que inclui a passagem dos grãos por um tanque de fermentação, onde permanecem entre 24 e 36 horas para retirada da mucilagem. Permite a obtenção de um café uniforme, suave e com maior acidez. É recomendável para regiões com excesso de chuvas. Admite-se que mesmo nas propriedades especializadas em produção de cafés gourmet apenas 40 a 50% da safra podem ser vendidas como tal. O restante, seja por serem verdes ou secos, serão negociados como café commodity. Os cafeicultores orientados para o segmento de cafés gourmet, além das alterações de ordem tecnológica também enfrentam mudanças nas formas de comercialização. Cada lote necessita ser negociado quase que individualmente e muitos produtores, algumas cooperativas e/ou exportadores acostumados com grandes volumes ainda resistem a essas transformações. O fim da regulamentação aliado à s tendências de incremento do consumo per capita de cafés especiais vis-à -vis à estagnação do tradicional, abriu a oportunidade de se explorar esse nicho no mercado interno. Várias iniciativas têm sido implementadas, sejam individuais, por meio de grandes produtores, ou coletivas, por meio de associações de cafeicultores, mas ainda há uma grande dificuldade em se romper a barreira da comercialização. A qualidade superior da bebida também se relaciona com a origem dos plantios. Atributos territoriais, como as condições agroecológicas de um determinado local como solo, clima, altitude e temperatura, também interferem na qualidade superior da bebida, conferindo-lhe características únicas, raras e especiais. A origem dos plantios pode ser identificada de modo informal, por meio da divulgação de características específicas de uma determinada fazenda (Estate Coffee) ou região, seu histórico e tradição no cultivo do café, o que demonstra um 62 forte comprometimento com a produção orientada para a qualidade. Pode também ser formal, por meio de legislação que delimite determinadas regiões geográficas. Como visto no item que descreveu o agronegócio do café em Minas, o estado foi pioneiro na formalização da denominação de origem, por meio do decreto que delimitou em 1996 as quatro regiões produtoras. O Certicafé, contudo, tem encontrado muitas dificuldades para sua implementação, como a falta de legislação de origem nacionais e internacionais para café e a falta de regras de padronização e exclusão, o que pode facilitar comportamentos oportunistas. O monitoramento necessário para garantir a qualidade dentro das áreas delimitadas requer estruturas de governança muito complexas, que nem sempre estão ao alcance das ações das certificadoras. Muitos desafios ainda terão que ser vencidos para o reconhecimento e utilização do certificado de origem do café. Dois deles estão relacionados a questões institucionais, isto é, à necessidade de mudanças nas regras do jogo. A maior dificuldade, nestes casos, é romper com estruturas de comercialização e padronização já consolidadas, que tendem a frear iniciativas que modifiquem o status quo. Os outros dois desafios dizem respeito ao modus operandi do processo de certificação. A nova estrutura de governança deve incentivar e monitorar os agentes envolvidos de forma a criar uma reputação para o produto e evitar ações oportunistas. A incorporação de pequenos produtores nesta estratégia vai depender das regras que definem a certificação. Se estas regras colocarem condições de tratos pós-colheita, como a exigência de terreiro de cimento vis-à -vis o de terra, os investimentos necessários podem dificultar sua inclusão. Entretanto, nas condições atuais, todo produtor que estiver na região demarcada tem o direito à certificação, mediante o pagamento do selo, que pode se tornar um problema frente ao estímulo a ações oportunistas. 63 4.3. DIFERENCIAÇÃO POR QUALIDADE AMBIENTAL E SOCIAL A sustentabilidade da produção no segmento de cafés especiais refere-se tanto a sistemas produtivos com menor impacto ambiental, como à responsabilidade social na produção cafeeira, que também diz respeito à possibilidade de comercialização dos grãos no mercado solidário. Quanto ao preparo do café, o impacto sobre o meio ambiente das três formas de beneficiamento aumenta no sentido da via seca, como o café natural, para a via úmida, sendo menor nos despolpados do que nos desmucilados. Entre as práticas agrícolas de baixo impacto ambiental está o café orgânico, cultivado sob as regras da agricultura orgânica, que tem como objetivo o fortalecimento dos processos biológicos, por meio de diversificação de culturas, fertilização com adubos orgânicos e controle biológico de pragas. Esse conceito também considera aspectos econômicos e sociais da produção agrícola, porém com ênfase menor que nos produtos do mercado solidário. Também conhecido como café ecológico, é geralmente cultivado em sistema de produção sombreado, nos países da América Central. Estudo realizado por HARKALY et al. (1997) com produtores orgânicos de café de Minas Gerais mostra sistemas de produção de café consorciados com milho e feijão, com uso intensivo de mão-de-obra. Os autores demonstram a viabilidade técnica e econômica dos cultivos orgânicos em relação aos convencionais, mas a colocação do produto num mercado diferenciado é apontada como o principal componente de sua viabilidade econômica. O café é um dos produtos orgânicos mais importantes exportados pelos países em desenvolvimento36. A transição para práticas orgânicas é relativamente simples para pequenos agricultores, pois muitos deles já não usam produtos 36 O maior produtor de café orgânico é o México, além de Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Estados Unidos (Havaí), Etiópia, Filipinas, Guatemala, Haiti, Honduras, Índia, Indonésia, Madagascar, Malawi, Nicarágua, Papua Nova Guiné, Peru, República Dominicana, Sri Lanka, Togo, Trinidad e Tobago, Uganda e Venezuela (UNCTAD, 1999). 64 químicos e os benefícios, como o prêmio médio de US$ 15 cents/libra acima do preço de mercado obtido pelo produto orgânico certificado, são de reconhecimento imediato (DICUM & LUTTINGER, 1999). Em 1997 foram autorizadas pela União Européia a importação de 69 ton de café verde orgânico do México e 35 ton da Costa Rica. O café orgânico pode ser encontrado em lojas especializadas e supermercados da Alemanha, Dinamarca, França, Holanda, Inglaterra, Suécia e Suíça (UNCTAD, 1999). A produção brasileira de café orgânico está estimada em 60 mil sacas, o que representa um crescimento de 172% com relação à safra 1998/99. O volume produzido no Brasil é cerca de 0,2% do total de café produzido no país e 7,5% do total de café orgânico exportado no mundo, segundo a ACOB - Associação da Cafeicultura Orgânica do Brasil (ABIC, 2000:3). Para ser rotulado como orgânico, tanto a produção como o processamento precisam ser monitorados por certificadores credenciados. Nos países exportadores de produtos orgânicos, a certificação pode se feita por organizações locais, por parcerias entre agências locais e internacionais, por organizações internacionais, ou por uma de suas filiais. Em alguns casos, os serviços de certificação podem ser sub-contratados ou ainda podem ser realizados por grupos de pequenos produtores, desde que sejam desenvolvidos mecanismos de inspeção e de controle interno para garantir a conformidade com os padrões da agricultura orgânica (UNCTAD, 1999). Há pelo menos duas agências no Brasil que certificam produtos orgânicos, entre eles o café. O IBD - Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural conta com 8 projetos de certificação em Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco. A AAO – Associação de Agricultura Orgânica certifica cerca 4.200 ha de café orgânico em Minas Gerais e São Paulo, incluindo uma marca licenciada pela ONG ambientalista Greenpeace. O IBD é reconhecido por organismos internacionais que facilitam a colocação do café no mercado externo. Considerando que a maior parte da produção de café orgânico é consumida nos países desenvolvidos o não 65 reconhecimento pode levar a situação vivenciada por muitos produtores atualmente: não tendo o selo do IBD não conseguem negociar no mercado externo tendo que comercializar o produto no mercado nacional, sem receber o ágio do café orgânico exportado37. O café comercializado sob princípios do comércio solidário (Fair Trade) é aquele consumido em países desenvolvidos, por pessoas preocupadas com as condições sociais e ambientais sob as quais o café é cultivado. Eles estão dispostos a pagar mais pelo café produzido por pequenos produtores, desde que a bebida atenda a padrões mínimos de qualidade. As organizações de comercio solidário estão se tornando um importante canal de distribuição de produtos orgânicos na Europa, englobando produtos como bananas, cacau, mel, chá e café (UNCTAD, 1999). A principal preocupação desse movimento38 é a situação social e econômica dos produtores de países em desenvolvimento. Mesmo não focalizando a agricultura orgânica, há uma forte convergência de interesses entre os movimentos orgânico e de comercio solidário, na medida em que contribuem para a sustentabilidade da produção. Esse aspecto tem sido muito associado ao uso de métodos orgânicos de cultivo, processamento e produção. Produtores de comunidades tradicionais, por já não utilizarem inseticidas e fertilizantes solúveis, geralmente apresentam uma base sólida para conversão para métodos orgânicos, o que leva à geração de empregos, além de ampliar o mercado potencial dos produtos caso a produção seja certificada. O objetivo é melhorar o padrão de vida das famílias dos produtores de café em países em desenvolvimento, mediante um sistema que permite aos produtores vender o café diretamente aos torrefadores e varejistas, eliminando intermediários. 37 Informação obtida na Câmara Setorial do Estado de São Paulo, 1999. Segundo a Fair Trade Federation, os princípios do movimento incluem: pagamento de salários justos aos trabalhadores, trabalho cooperativo, educação do consumidor, sustentabilidade ambiental, suporte técnico e financeiro, e respeito à identidade cultural (DICUM & LUTTINGER, 1999). 38 66 O arranjo permite que os produtores coloquem seu café em lojas de produtos sofisticados nos países desenvolvidos e ganhem até US$ 2,77 por quilo de café ao invés dos US$ 0,88 que receberiam dos intermediários (ESTADO DE MINAS, 1999). O movimento surgiu há cerca de 10 anos na Europa e já chegou aos Estados Unidos. Exemplo recente dessa demanda foram as manifestações ocorridas em Seattle nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), que acusavam várias empresas de crescer à s custas do empobrecimento dos países subdesenvolvidos. Entre elas estava a Starbucks, uma das maiores redes norte-americanas de distribuição de café, que segundo os manifestantes se enriqueceu explorando os produtores de café do terceiro mundo. Em resposta a isso, a rede assinou um contrato para lançar uma linha de grãos com o certificado de comercio solidário. Esse café, considerado politicamente correto, será fornecido por cooperativas de pequenos produtores que negociarão diretamente com a empresa (HORNBLOWER, 2000). Até 2005, estima-se que o consumo dos cafés conscientes seja de 5% dos US$ 18 bilhões movimentados anualmente pelo mercado norte-americano da bebida. Na Europa, esse café é vendido em 35.000 lojas, com vendas anuais de US$ 250 milhões (ESTADO DE MINAS, 1999). Além da produção, o processamento também é monitorado, para garantir a presença dos atributos desejados. A Alemanha tem um importante nicho de mercado para produtos fair trade, entre eles o café. A TransFair, por exemplo, uma organização independente, sem fins lucrativos, que licencia o uso do seu selo, introduziu o café TransFair no mercado alemão em 1993. Hoje é vendido em 25.000 supermercados e sua crescente parcela de mercado alcança 4%. Os consumidores podem encontrar mais de 50 variedades de café oferecidas por mais de 30 fornecedores licenciados. Na Inglaterra pode-se encontrar blends de café orgânico torrado na Holanda e comercializados com o selo fair trade em alguns atacadistas, lojas de departamento e de produtos naturais. Uma das marcas que comercializa café fair trade, a Café Direct, alcançou 4% do café consumido no Reino Unido em 1996. A 67 Suécia, que apresenta o maior consumo mundial per capita de café, tem o Brasil entre seus fornecedores (UNCTAD, 1999). Estas questões de ordem ambiental e social representam novos valores relacionados à qualidade, que estão cada vez mais sendo incorporados na diferenciação do café como um produto especial. 4.4. DIFERENCIAÇÃO NO PROCESSO INDUSTRIAL E PELOS SERVIÇOS OFERECIDOS Uma outra forma de diferenciação e adição de valor à bebida surge por meio do processamento industrial, como a eliminação e/ou adição de componentes. Assim, os cafés descafeinados, aromatizados, cappuccinos e frapuccinos também são exemplos de cafés especiais. Quando tomados nos coffee shops eles trazem um novo conceito da imagem do café associada à atmosfera de sofisticação, prazer e conveniência. Os serviços ou produtos adicionais oferecidos, tais como venda por internet, disponibilidade de informação técnica ao consumidor ou no caso de produtos máquinas próprias, xícaras próprias também levam à diferenciação. No Brasil, esses constituem nichos ainda poucos explorados. Desta forma, pode-se concluir que: O conceito de cafés especiais está intimamente ligado ao prazer proporcionado pela bebida. Destacam-se por algum atributo específico associado ao produto, ao processo de produção ou ao serviço a ele associado. Diferenciam-se por características como qualidade superior da bebida, aspecto dos grãos, forma de colheita, tipo de preparo, história, origem dos plantios, variedades raras e quantidades limitadas, entre outras. Podem também incluir parâmetros de diferenciação que se relacionam à sustentabilidade econômica, ambiental e social da produção, de modo a promover maior eqüidade entre os elos da cadeia produtiva. Mudanças no processo 68 industrial também levam à diferenciação, com adição de substâncias, como os aromatizados, ou com sua subtração, como os descafeinados. A rastreabilidade e a incorporação de serviços também são fatores de diferenciação e, portanto, de agregação de valor. Para ser especial é necessário que o café tenha pelo menos um desses atributos citados na Tabela 4.1. Além disso, para que a estratégia seja bem sucedida deve envolver estratégias de marketing para posicionamento diferenciado do produto no mercado. 69 Quadro 4.1-Principais parâmetros de diferenciação do café Parâmetros de diferenciação Variáveis-chave de diferenciação Tipo de Bem Principal forma de Sinalização Tipo 3, sem defeito, bebida mole, estritamente mole. Experiência (tangível) Marca* Origem restrita (específica) ou regional associada com a qualidade da bebida. Crença (intangível) Certificado de Origem • Qualidade excepcional da bebida • Qualidade locacional da produção • Qualidade ambiental • Qualidade social Mercado solidário; Responsabilidade social Crença (intangível) Certificado Fair Trade • Processo de produção Adição ou subtração de elementos Experiência (aromatizados, café com leite, chocolate, etc.); Crença (descafeinados) Marca • Qualidade dos serviços oferecidos Serviços adicionais (venda por internet, disponibilidade de informação técnica ao consumidor) Pesquisa (tangível); Experiência (tangível) Marca • Qualidade do ponto de venda Sofisticação do local de venda do produto • Produtos complementares Produtos adicionais (xícara, máquina de café, etc.) Menor impacto ambiental, Crença (intangível) como os sistemas orgânicos de cultivo * relacionada a ações privadas. 70 Certificado Orgânico Pesquisa; Atmosfera do ponto Experiência de venda; (cafeterias, cartas qualidade superior de café) da bebida Pesquisa (tangível); Experiência (tangível) Marca 5. LEVANTAMENTO PRIMÁRIO O levantamento primário constou de entrevistas com os diferentes elos do sistema agroindustrial do café em Minas Gerais, considerando os produtores rurais e suas associações, torrefadores, varejistas e consumidores. Os questionários e roteiros de entrevistas encontram-se no Anexo 1. 5.1 VISÃO DOS AGENTES SOBRE O CONCEITO DE QUALIDADE Os diferentes aspectos que caracterizam os cafés especiais podem ser observados na Tabela 5.1 e traduzem as diferentes visões dos agentes produtivos sobre o conceito de qualidade. Prevalecem os conceitos de qualidade superior da bebida, além de fatores mercadológicos. Aspectos ambientais e sociais já começam também a ser percebidos. Os fatores tecnológicos podem estar associados tanto à produção (tratos culturais, colheita), quanto ao benefício (secagem e processo de segregação dos grãos) e processamento industrial (aromatizados, descafeinados, etc.). Entre as respostas obtidas, a mais ampla refere-se aos cafés especiais como qualquer café que tenha um atributo que o diferencie dos demais, seja ele físico, sensorial, tecnológico, ambiental ou social. Tabela 5.1 - Conceito de Cafés Especiais no Agronegócio Café de Minas Atributos/Agentes Físicos / Sensoriais Territoriais Tecnológicos Ambientais / Sociais Outros Cafeicultores (n=25) Associações (n= 4) Torrefadores (n=50) Varejistas (n=3) 27 4 9 7 18 3 2 3 2 3 52 3 11 7 4 2 3 1 2 2 * admite múltipla escolha Para o presidente da BSCA – Brazil Specialty Coffee Association, Marcelo Viera, o conceito de cafés especiais não se refere a um tipo de café em particular, mas sim a uma estratégia de marketing que confere um posicionamento diferente do produto no mercado. Essa segmentação implica numa restrição do mercado a 71 um número reduzido de agentes. Se a estratégia puder ser imitada por outros agentes e um número grande deles se posicionar na mesma estratégia não haverá mais diferenciação. Além da estratégia de marketing, atributos como rastreabilidade, raridade, comercialização direta e remuneração diferenciada são algumas de suas características, segundo o produtor Washington Rodrigues da Ipanema Agrícola. Nuances, origens, história e o posicionamento social e ambiental do produtor tornam a bebida única e imprimem um caráter de especialidade aos cafés. Variedades raras, como o bourbon, ou cafés em redor dos quais é construída alguma mística também são cafés especiais, segundo Mirian Monteiro de Aguiar, diretora da associação Santo Antônio Estate Coffee. Como era de se esperar, o conceito de cafés especiais entre cafeicultores e torrefadores enfatiza os atributos físicos e sensoriais, o que revela uma predominância de características tradicionais como cor e tamanho dos grãos, além do aroma e sabor da bebida. As preocupações de ordem ambiental e social para esses agentes são mais importantes do que os atributos territoriais, como a origem dos plantios, porém mostram menor participação no que se refere aos atributos de ordem tecnológica, seja na produção rural ou no processamento industrial. Vale ressaltar que foram, ainda, mencionados atributos mercadológicos, rastreabilidade, quantidades limitadas, cafés que possuem uma certa mística e história que o diferencia. Os varejistas, por sua vez, mostram uma distribuição mais homogênea dos atributos para definição do conceito de cafés especiais, com ênfase um pouco maior para a origem dos plantios. 5.2. PRODUTORES DE CAFÉS ESPECIAIS E SUAS ASSOCIAÇÕES Foram entrevistados 25 produtores de cafés especiais, 100% arábica. A qualidade superior dos cafés destes produtores é reconhecida por meio de agências certificadoras e/ou por obtenção de prêmios de qualidade. Estão 72 localizados em três diferentes regiões do estado: 8 no Cerrado, 15 no Sul de Minas e 2 na Zona da Mata (Questionário vide Anexo 1). O questionário dos produtores buscou caracterizar o produtor e a propriedade quanto à s iniciativas para obtenção de cafés de qualidade superior. Para isso foram elaboradas perguntas abertas e semi-estruturadas de modo a registrar a percepção do produtor quanto ao conceito de qualidade, mudanças necessárias para obtê-la, e principais vantagens e desvantagens de se dedicar ao segmento de cafés especiais. Foram também feitas algumas questões relativas à renda gerada pelo café, principais canais de comercialização e qualidade da bebida. Finalmente, procurou-se investigar a visão dos cafeicultores sobre a certificação e seu posicionamento frente à evolução do mercado de cafés especiais. As Associações de Cafeicultores entrevistadas foram: BSCA – Brazil Specialty Coffee Association, CACCER – Conselho das Associações de Cafeicultores do Cerrado, ACOB – Associação de Cafeicultura Orgânica do Brasil e Santo Antonio Estate Coffee. Essas associações foram escolhidas pelo fato de representarem importantes grupos estratégicos de diferenciação no mercado de cafés especiais. São responsáveis por ações coletivas que promovem a diferenciação dos produtos seja pelo enfoque em qualidade superior da bebida, em origem regional dos plantios, em métodos orgânicos de cultivo ou em origens específicas. O roteiro de entrevistas com as associações (Anexo 1) teve como finalidade identificar elementos que definem cafés especiais, as principais tendências desse segmento, os principais fatores que motivam o ingresso dos cafeicultores nesse mercado e a perspectiva de participação dos associados no mercado diferenciado. 5.2.1.PRODUTORES RURAIS O segmento de cafés especiais permite que tanto pequenas como grandes áreas obtenham produtos de qualidade reconhecida. A área ocupada com café nas 73 propriedades entrevistadas soma 8.930 ha, variando entre 12 ha e 3.300 ha. A produção variou de 200 a 76.000 sacas no ano safra 2000/2001, e de 370 a 87.000 sacas no ano safra anterior, totalizando um número médio de 212.150 sacas no período. A produção média desses produtores variou de 285 a 81.500 sacas. As variedades predominantes nos parques cafeeiros são Catuaí e Mundo Novo, seguidas de Acaiá, Catucaí, Bourbon, Icatu e outras. Quadro 5.2. - Associativismo entre produtores de cafés especiais Associativismo % Associações • • • • • • • • • • BSCA – Brazil Specialty Coffee Association Sulminas Café ACA ACOB – Associação de Cafeicultura Orgânica do Brasil ACARPA – Associação dos Cafeicultores do Carmo de Paranaíba Santo Antonio Estate Coffee AAO – Associação de Agricultura Orgânica ARACREDI CACCER – Conselho das Associações de Cafeicultores do Cerrado Associação dos Produtores de Cafés Especiais das Serras de Minas 7 6 3 4 4 2 1 28 24 12 16 16 8 4 1 1 4 4 7 3 3 2 1 2 3 3 1 1 28 12 12 8 4 8 12 12 4 4 1 4 Cooperativas • • • • • • • • • • Cooxupé Coopama Café – Poços Cooparaíso Campestre ExpoCaccer Coocacer Catrim Coomam Coopassa Não participa de Associação ou Cooperativa * admite múltipla escolha A principal forma observada de beneficiamento do café é a natural, sendo a única realizada por 28% dos produtores. Além desses, 52% dos cafeicultores conciliam o método natural com o descascamento e 12% também desmucilam o café. Cerca de 4% dos produtores só descascam e outros 4% só desmucilam os 74 grãos. A quase totalidade – 88% - rebeneficia o café na própria fazenda ou em outro local, vendendo apenas o produto de qualidade inferior em bica corrida. Todos os produtores entrevistados, com exceção de um, estão organizados, pertencendo a pelo menos uma Associação e/ou Cooperativa de âmbito local ou regional, que estão listadas na Tabela 5.2. Na visão dos cafeicultores, entre as principais vantagens de se produzir cafés especiais destacam-se o diferencial maior de preço obtido pelo produto e o relacionamento diferenciado com os compradores. Também são importantes a maior facilidade de acesso ao mercado internacional, menor dependência dos canais tradicionais de comercialização e o planejamento das vendas e possibilidade de negociar preços. Esta é a vantagem mais importante para Guy Carvalho, produtor e consultor da BSCA, pois isso “provoca uma mudança na mentalidade”. Abandona-se a visão de curto prazo, com vendas imediatistas, para se promover uma visão de longo prazo, mantendo a participação no mercado nos 730 dias do ciclo. Tabela 5.3. - Vantagens de se produzir cafés especiais % Motivos • • • • • • Diferencial maior de preço com relação ao café tradicional Relacionamento diferenciado com os compradores Maior facilidade de acesso ao mercado internacional Menor dependência dos canais tradicionais de comercialização Planejamento das vendas e da fixação de preços Outras: • Linhas especiais de financiamento para comercialização • Inserção no mercado internacional • Sustentabilidade ambiental e social • Contratos de médio e longo prazo • Menor concorrência • Influência positiva na comercialização de cafés inferiores 24 20 17 16 11 96 80 68 64 44 3 2 2 1 1 1 12 8 8 4 4 4 * admite múltipla escolha Outras vantagens mencionadas incluem a linha especial de financiamento para comercialização do Banco do Brasil, o ACC – Adiantamento de Crédito de Câmbio, além da inserção no mercado internacional e a sustentabilidade ambiental 75 e social. Em menor proporção aparecem os contratos de médio e longo prazo, a menor concorrência e a influência positiva na comercialização dos cafés de qualidade inferior (Tabela 5.3). Dezesseis por cento dos cafeicultores não vêem desvantagens na produção de cafés especiais. Mas 68% apontam o aumento dos custos de produção como o fator negativo mais importante. Segue-se o ainda restrito mercado consumidor e os tratos culturais mais complexos. Além destas, foram mencionadas as mudanças no preparo, comercialização e colheita, a necessidade de investimento em infraestrutura e a menor liquidez. Para os produtores orgânicos a falta de pesquisas e a necessidade de certificação são pontos negativos, mas os benefícios são maiores. Outras desvantagens podem ser observadas na Tabela 5.4. Tabela 5.4. - Desvantagens de se produzir cafés especiais % Motivos • • • • • Custo maior de produção Restrito mercado consumidor Tratos culturais mais complexos Nenhuma Outras: • Preparo mais complexo • Comercialização mais complicada • Colheita mais complexa • Investimento em infra-estrutura • Menor liquidez • Falta de pesquisas • Necessidade de certificação • Mercado exige quantidade mínima • Legislação trabalhista • Maior dependência do clima • Necessidade de diferenciar preços p/compensar custos • Nem sempre o mercado comprador paga pela qualidade 17 7 3 4 68 28 12 16 4 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 16 8 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 * admite múltipla escolha A elevação dos custos de produção está diretamente associada à s mudanças nos métodos de beneficiamento, à aquisição de equipamentos para o despolpamento, como forma de elevar o padrão de qualidade, à reforma ou 76 construção de terreiro e/ou armazém e a mudanças nos tratos culturais. Entre as outros fontes de custos citadas pelos cafeicultores estão as relativas à contratação da mão-de-obra necessária para colheita seletiva, treinamento de mão-de-obra, despesas para adequar o produto ao pedido, como o manuseio, rebenefício e armazenamento seletivo, cuidados na secagem, planejamento da colheita e certificação. Para 12% dos cafeicultores entrevistados não houve aumento relevante nos custos (Tabela 5.5.). Tabela 5.5. - Fatores de aumento nos custos de produção depois que passou a produzir cafés de qualidade superior % Motivos • • • • • • • Mudanças no método de beneficiamento Compra de equipamentos para beneficiamento Reforma / construção de terreiro Reforma / construção de armazém Tratos culturais Não houve aumento relevante de custos Outras: • Mão-de-obra p/ colheita seletiva / colheita manual no pano • Treinamento de mão-de-obra • Manuseio, rebenefício, armazenamento seletivo • Cuidados na secagem • Planejamento da colheita • Certificação • Sem resposta 15 13 9 5 5 3 60 52 36 20 20 12 5 2 2 1 1 1 1 20 8 8 4 4 4 4 * admite múltipla escolha As principais mudanças nos métodos de beneficiamento necessárias para melhorar a qualidade do café estão na Tabela 5.6. Referem-se à separação dos bóias dos grãos verdes e cerejas, seguida do despolpamento e da desmucilagem. Além destas, os cafeicultores passaram a separar e dedicar cuidados maiores no beneficiamento e melhor controle de qualidade na colheita e secagem. Outras mudanças ocorridas foram a seleção eletrônica, o rebenefício, a classificação dos bóias por peneira e a sustentabilidade ambiental e social. Para 20% dos entrevistados não houve mudanças no beneficiamento. 77 Os produtores de café orgânico representam 28% dos cafeicultores entrevistados, sendo que 4 deles têm 100% de suas áreas de cultivo certificada como orgânica, 2 têm 10% da área certificada e 1 que se considera orgânico produz somente sem agrotóxicos. O diferencial médio de preços em relação ao café convencional gira em torno de 35%, enquanto o diferencial médio de custos oscila muito. Há produtores que chegam a gastar 80% do custo do convencional e outros que chegam a gastar mais de 35%. Para o Sr. Carlos Franco, produtor de orgânico que também comercializa sua produção no Japão em condições de comércio solidário, a elevação nos custos do café orgânico especial deve-se ao fato desse sistema de produção não deteriorar os recursos naturais. A produtividade é menor e aumenta o emprego de mão-de-obra na colheita seletiva e no terreiro para a secagem natural. O mais grave é que o mercado de especiais enfrenta a concorrência de países que agridem muito o meio ambiente, sem que isso seja, na maioria das vezes, levado em consideração. Com relação à renda média gerada de acordo com número de sacas vendidas por defeitos não pode ser tabulada. A maioria dos entrevistados não tem por hábito contabilizar a venda dessa maneira e/ou não quiseram informar. Considerando que os dados de renda, ainda mais por categoria, são estratégicos para as empresas, compreende-se a resistência dos entrevistados em fornecer esse tipo de informação. A distribuição média da composição da qualidade da bebida dos cafés das propriedades entrevistadas resultou em 27% estritamente mole, 28% mole, 35% dura e 10% rio/riada. Quanto aos clientes potenciais, 20% dos cafeicultores respondeu que está satisfeito com a forma como vem comercializando seu produto e 36% gostariam de ampliar seus mercados junto a importadores de cafés diferenciados, seja na Europa ou nos Estados Unidos. Seguem-se as lojas de cafés especiais, os supermercados de alto padrão, os torradores de cafés finos de médio porte 78 dispostos a denominar origem e realizar contratos fixos de médio prazo, ou ainda a possibilidade de vender o café torrado e moído diretamente para o consumidor. A colocação dos especiais exclusivamente no mercado interno também representa uma opção. Com relação à s dificuldades de acesso aos novos mercados os motivos alegados passam por ainda não terem encontrado o cliente com o perfil adequado, pela falta de divulgação e desconhecimento do café brasileiro, e problemas para conquistar a confiança do comprador. Outros fatores referem-se à estrutura precária de comercialização e à forte concorrência dos países da América Central. Tabela 5.6. - Tipos de certificados % Certificados Specialty • BSCA – Brazil Specialty Coffee Association 9 36 4 4 16 16 2 1 8 4 1 4 4 4 1 16 16 4 Orgânico • • • • • AAO – Associação de Agricultura Orgânica IBD – Instituto Bio-Dinâmico de Desenvolvimento Rural BCS ÖKO – Garantie Gmbh APAN – Associação dos Produtores de Agricultura Natural Mokiti Okada Origem • • • Informal Café do Cerrado Santo Antônio Estate Coffee Outros • • • • Compradores estrangeiros ABRINQ ISO 14001 CPA 1 1 1 1 4 4 4 4 • Sem resposta / Sem certificado 7 28 * admite múltipla escolha Trinta e dois por cento dos cafeicultores entrevistados são certificados pela BSCA – Brazil Specialty Coffee Association. Os produtores orgânicos são 79 certificados pela AAO – Associação de Agricultura Orgânica, pelo IBD – Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural, pela alemã BCS Öko – garantie, pela APAN – Associação dos Produtores de Agricultura Natural e pela Fundação Mokiti Okada. A certificação de origem pode ser formal ou informal, como o Café do Cerrado e a Santo Antonio Estate Coffee. Outros cafeicultores entrevistados são certificados por compradores estrangeiros, pela série ISO 14000, ou pelo selo ABRINQ, de empresa amiga da criança, como pode ser observado na Tabela 5.6. Os motivos mais importantes para a certificação estão relacionados à valorização do produto e à agregação de valor, ao fato de o selo garantir a presença de algum atributo e de ser uma exigência do mercado externo. Outras razões referem-se à maior facilidade de acesso aos mercados quando o produto é certificado, à garantia de origem e de que o produto é orgânico, à credibilidade e rastreabilidade. A grande maioria dos produtores confia no crescimento da participação dos cafés especiais tanto no mercado interno como no externo. Para Washington Rodrigues, o que pode comprometer seu crescimento é a falta de certificação de qualidade especial, o que pode dar margem à utilização do nome sem fazer jus ao conteúdo. No mercado interno a expectativa é de crescimento, uma vez que o mercado é pequeno e ainda tem muito o que crescer sobretudo com o reconhecimento da qualidade e expansão do consumo de café espresso, apesar da falta de informações para os consumidores. Na visão de parcela menor dos cafeicultores o crescimento será lento pela falta maior articulação entre os segmentos, pois esse mercado ainda depende muito de esforços individuais. É esperado também que o café orgânico vá alcançar 2% do mercado até 2005 e que os especiais consigam promover maior eqüidade. No mercado externo há uma forte expectativa de crescimento, apesar da falta de reconhecimento da qualidade. Espera-se um aumento da necessidade de rastreabilidade e exigência de certificação, seja ela ambiental (orgânica, de boas 80 práticas agrícolas) ou social. Os cafeicultores esperam maior eqüidade, sobretudo com alianças de longo prazo dos produtores com pequenos torrefadores. Finalmente, foi perguntado aos cafeicultores sobre a expectativa da evolução de sua participação como produtor de cafés especiais tanto no mercado interno como no externo. As respostas mais apontadas para o mercado interno relacionam-se à melhoria da qualidade e ao aumento da preocupação ambiental e social. Alguns produtores esperam crescer com a venda direta e com uso de marca própria, buscando-se alianças e parcerias. Entre os obstáculos apontados para o crescimento interno estão o desconhecimento do consumidor sobre o mercado de cafés especiais, o fato de o cliente nem sempre estar disposto a pagar pela qualidade do produto e à necessidade de maior comprometimento da indústria. Quanto ao mercado externo, os cafeicultores acreditam que sua participação irá se ampliar com a melhoria da qualidade do produto e do aumento da preocupação com o meio ambiente e com questões sociais. Cresce com isso a necessidade de certificação, desde que a agência certificadora tenha credibilidade internacional. Parte menor dos produtores, que estão satisfeitos com as formas de comercialização, pretendem manter os mercados já conquistados, com o fortalecimento das relações com os clientes. Mas a grande maioria gostaria de buscar novos mercados, ampliando substancialmente o volume de vendas atual. A expectativa do Sr. Carlos Franco é de agregar valor ao seu produto no componente ambiental, por produzir de modo orgânico, e social, por comercializar parte de sua produção em condições de mercado solidário. Busca a sustentabilidade nas esferas ambiental, social e econômica. 5.2.2. ASSOCIAÇÕES DE PRODUTORES RURAIS A participação média da produção de cafés especiais no mercado mundial é estimada em 10%, enquanto as estimativas de participação do Brasil nesse mercado alcança 1%, que efetivamente recebem adicional de preço, mas com 81 potencial de atingir 5%. Especificamente com relação aos cafés orgânicos, a participação no país chega a 0,2% da produção total. Estima-se que 60 a 70% da produção dos associados da BSCA é vendida como café especial. Para o Caccer, cerca de 20 a 25% da produção é comercializada como produto especial. Dentro do Programa Café do Cerrado para Torrefadores, o consumo anual das torrefadoras situa-se na faixa de 3.000 sacas de café em grãos. Os associados da ACOB produziram 32 mil sacas de café orgânico em 1999 e 60 mil sacas em 2000. A associação estima que 60% do café orgânico produzido no país provêm de seus associados. Cerca de 0,5% da produção do cerrado é de café orgânico. A proporção da produção dos associados da BSCA comercializada no país é praticamente irrisória. No mercado internacional a BSCA vende mais de 50% para países europeus, vindo a seguir Estados Unidos com cerca de 30% e Japão com quase 10%. Quanto aos cafés orgânicos, Ivan Caixeta da ACOB estima que 80% é exportado e 20% destina-se ao mercado interno. A produção dos associados da Santo Antônio Estate Coffee (SAEC) gira em torno de 35 mil sacas, sendo que duas mil poderiam ser consideradas como cafés especiais. A associação estima em 700 a 1.000 sacas a produção de cafés orgânicos dos seus membros. A maior parte da produção de cafés especiais estão direcionados para o mercado externo, isto é menos de 5% seria comercializada internamente. Os fatores que motivam a produção de orgânicos são a qualidade de vida do trabalhador, do consumidor e a preservação do meio ambiente. O ágio sobre o preço do café convencional e o crédito dado pelo Banco do Brasil também são fatores que estimulam a produção de café orgânico. Os fatores que desmotivam referem-se à produtividade, à falta de informação técnica, à falta de apoio dos órgãos governamentais e ao processo complexo de certificação. 82 Para Ana Arakaki do Caccer, os principais fatores motivadores para produzir cafés diferenciados são o preço superior, a satisfação de produzir um produto diferenciado e, no caso dos cafés certificados por entidades reconhecidas, é a adoção de uma postura pró-ativa, no sentido de antecipar possíveis ataques à imagem do produto. Um bom exemplo é a certificação com o selo ABRINQ, que garante que o produtor não utiliza mão-de-obra infantil. Os fatores que desmotivam a produção de especiais são a remuneração, que nem sempre é a esperada, a dificuldade de certificação e a dificuldade de reconhecer qual o certificado que é aceito nos diversos países compradores. Além do ágio sobre o preço do café convencional, Marcelo Vieira da BSCA coloca como fatores motivadores o desenvolvimento de relacionamento de longo prazo com os clientes, a possibilidade de planejar a formação do preço e o acesso a linhas de crédito como ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio). Os fatores que desmotivam são a necessidade de uma estrutura de qualidade, melhor capacidade de negociação do produtor e a necessidade de dedicar mais atenção à comercialização do produto. Para Mirian Monteiro da SAEC, os motivos que levam a produzir cafés especiais são o preço e o reconhecimento do mercado. A falta de informação e o pequeno acesso ao mercado desmotivam sua produção por parte de alguns produtores, assim como os investimentos em infra-estrutura desmotivam ou impossibilitam a adesão de produtores menos capitalizados. No caso de orgânicos há também fatores ideológicos e religiosos que motivam a sua produção, embora os preços mais elevados sejam o maior fator de motivação. Em relação aos fatores que desmotivam, em primeiro lugar estão as dificuldades relativas a uma cultura e crença em práticas agrícolas convencionais, advindas da revolução tecnológica em que para produzir basta aplicar uma determinada receita. Há também uma idéia de que a produção seja difícil e só possível em pequenas áreas e pequenos agricultores. O rigor das regras de certificação também seria uma das barreiras à entrada de novos produtores. 83 Houve um consenso entre as associações sobre o grande potencial de crescimento do mercado brasileiro de cafés especiais, que poderia alcançar cerca de 10 a 15% do mercado. No que diz respeito à certificação, de uma forma geral, todas os representantes das associações consideram um dos fatores mais importantes para sinalizar ao consumidor e regular o mercado, criando uma “linguagem comum” acerca do atributo que é relevante para cada segmento. Já com relação à iniciativa do IMA com o Certicafé, embora houvesse uma concordância com relação à sua importância na agregação de valor ao produto, foram feitas algumas críticas, a saber: a) foco muito amplo do certificado, com o objetivo de certificar 60% do café de Minas Gerais; e b) permissão de que as cooperativas certifiquem o café, ou seja, uma entidade que tem interesse na comercialização do produto não deveria certificar. Foi também citado que não há regras muito bem definidas com respeito à sua operacionalização e nem mesmo uma sinalização clara de que a certificação proporcionará melhor retorno para os produtores. A certificação da propriedade é apontada como uma estratégia que engloba de forma mais efetiva o processo de produção de cafés especiais em sua complexidade e define um modo de operar. As associações entendem que a certificação da propriedade implica que os cafés especiais não serão os produzidos ocasionalmente mas dentro de um processo abrangente e planejado. Na visão do CACCER, o processo de certificação para diferenciar o produto têm um ciclo de vida curto. A partir do momento que ele passa a ser um requisito para negociar, aquele que não tiver o certificado estará marginalizado. Isso impulsiona a disseminação da certificação, de uma forma geral, assim como a sua banalização, pois torna-a menos rara. Novos certificados serão criados e um novo ciclo se inicia. A concorrência entre certificados que requerem padrões cada vez mais sofisticados tem a vantagem de elevar o nível médio da qualidade geral dos produtos. 84 No que tange ao marketing houve um consenso sobre sua importância, principalmente no sentido de comunicar ao consumidor o que é um café especial. Nesta abordagem, foi ressaltada a necessidade de levar para o consumidor o conceito amplo de qualidade que envolve cada vez mais compromisso social e ecológico. Para conquistar novos mercados, o café gourmet tem que ter bebida excepcional, mas precisa também garantir para o consumidor que não carrega em seu processo injustiças sociais e prejuízos ao meio ambiente. Quadro 5.7 – Principais conclusões das entrevistas com os produtores de cafés especiais e suas associações Principais conclusões • Os produtores de cafés especiais representam grupos estratégicos que agem coletivamente para diferenciar o produto. As estratégias individuais também são importantes; • • • • • • • • Todos os produtores, com exceção de um, estão organizados em associações e/ou cooperativas; Há pequenos, médios e grandes produtores de cafés especiais, com áreas de cultivo entre 12 ha e 3,3 mil ha; Mais da metade utiliza o método de secagem ao sol com o descascamento; As vantagens de produzir cafés especiais são: a) diferencial de preço maior; b) relacionamento diferenciado com os compradores; c) possibilidade de planejar o negócio; d) maior facilidade de acesso a crédito e ao mercado internacional; As desvantagens de produzir cafés especiais são: a) aumento dos custos de produção; b) tratos culturais mais complexos; c) mercado ainda restrito; Os motivos mais importantes para a certificação são: a) valorização do produto; b) agregação de valor; c) garante para o consumidor a existência de algum atributo; d) exigência do mercado exterior; A certificação é vista como uma estratégia pró-ativa, no sentido de antecipar possíveis ataques à imagem do produto; A grande maioria dos produtores acredita no crescimento do mercado de cafés especiais tanto no mercado interno como e externo e têm uma expectativa positiva de sua inserção nestes mercados. 85 5.3 TORREFADORES A análise do segmento torrefador baseou-se em entrevistas com 50 empresas de Minas Gerais. O questionário (Anexo 1) teve o objetivo de caracterizar o café produzido pelas empresas, de acordo com o tipo e composição de seus blends. Em seguida, buscou-se avaliar diferentes aspectos relacionados aos cafés especiais, dentre os quais podem-se destacar: a existência ou não de torra de café especial na empresa, a forma pela qual a torra é realizada e as vantagens e desvantagens do processamento destes produtos. Procurou-se, também, verificar a importância de cada tipo de café em termos de sua participação no total produzido e na renda gerada, caracterizar os principais fornecedores, o posicionamento da empresa em relação à certificação dos cafés que adquire, a influência das variações na safra e/ou no preço do grão nos resultados da empresa e a existência ou não de um provador contratado pela torrefadora. A parte final da entrevista enfatizou o processo de distribuição do café produzido pela empresa. Avaliou-se o destino do café comercializado, segundo cada tipo, os estabelecimentos em que ocorrem as vendas, a relação da empresa com os supermercados e as condições em que são estabelecidos os contratos. Buscou-se ainda identificar as expectativas dos torrefadores quanto à evolução do mercado de especiais no país e da participação da empresa tanto no mercado interno como no externo. A seguir, apresentam-se os resultados obtidos. Com relação à composição dos blends, os cafés estavam previamente classificados em: • Gourmet (bebida estritamente mole/mole, 100% arábica, 0% de defeito – pretos, verdes e ardidos); • Superior (bebida mole/dura, até 15% de robusta, com até 10% de pretos, verdes e ardidos); 86 • Tradicional (bebida dura/riada/rio, até 30% de robusta, 25% de pretos, verdes e ardidos); • Popular/Combate (sem atributos de qualidade) Esta definição baseou-se no estudo do Programa de Educação do Mercado para o Café – PEM, realizado pelo Programa Cafés do Brasil (2000)39 . A maior parte das empresas pesquisadas, 88%, processa café tradicional com grãos que não apresentam qualquer forma de certificação (Tabela 5.8). As participações de cafés sem certificação gourmet, superior e popular foram de 18%, 18% e 26% respectivamente. Dentre as 9 torrefadoras que produzem gourmet, 4 utilizam cafés de bebida dura, mostrando que não há um conceito bem definido do que seja café gourmet. O principal fator que conceituaria o café gourmet é ser fabricado com café 100% arábica. Apenas 2 empresas produzem gourmet utilizando café orgânico, ocorrendo o mesmo com os cafés de origem. Tabela 5.8. – Distribuição das empresas segundo os tipos de café oferecidos e suas respectivas participações no total das entrevistas realizadas Tipos de café o N de empresas Sem certificação Café Gourmet Café Superior Café Tradicional Café Popular 9 9 44 13 % Orgânic o 18 18 88 26 2 - % Origem % 4 - 2 - 4 - É importante observar que um número significativo de torrefadoras (36%) produz mais de um único tipo de café (Tabela 5.9). Pode-se constatar que O programa tem enfrentado forte oposição entre os agentes do segmento torrefador. Isso se explica porque a maioria das empresas torrefadoras não ofertam cafés gourmet, trabalhando com matéria-prima de classificação inferior para compor o blend. Uma das idéias discutidas para contemplar grande parte dos agentes é de classificar o café apenas por tipo, considerando só os defeitos, sem levar em conta a qualidade da bebida, o que viabilizaria a utilização de bebida rio/riada. Essa estratégia pode levar à banalização do conceito de gourmet e como conseqüência, à deterioração da imagem desse café. 39 87 nenhuma empresa produz somente café popular e apenas uma delas produz somente café superior. Enquanto mais da metade dos torrefadores produzem somente café tradicional, o número de empresas que só produzem gourmet corresponde a 10% dos entrevistados. Tabela 5.9. - Distribuição das empresas segundo a quantidade de tipos de café oferecidos e suas respectivas participações no total das entrevistas realizadas No de empresas Gourmet (exclusivamente) Superior (exclusivamente) Tradicional (exclusivamente) Popular (exclusivamente) Gourmet e Superior Gourmet e Tradicional Gourmet e Popular Superior e Tradicional Superior e Popular Tradicional e Popular Gourmet, Superior e Tradicional Gourmet, Superior e Popular Gourmet, Tradicional e Popular Superior, Tradicional e Popular Gourmet, Superior, Tradicional e Popular TOTAL Tipos de café Sem certificação % Orgânico % Origem % 5 1 26 4 9 1 1 1 2 10 2 52 8 18 2 2 2 4 2 - 100 - 2 - 100 - 50 100 2 100 2 100 Ao perguntar para o torrador se ele produz café especial 12 deles afirmaram que sim, sendo 9 produtores de café gourmet (100% arábica, embora com bebida dura) e 3 de café superior (de 80% a 94% de utilização de arábica), conforme a Tabela 5.10. Vale observar, mais uma vez que o conceito do que seja café gourmet entre os torrefadores é ainda muito subjetivo. Em relação ao café tradicional, a maior parte das torrefadoras, cerca de 31%, utiliza 100% de café arábica em seus blends. Porém, é possível constatar um bom número de empresas com blend de 80% a 89% de arábica e de 11% a 20% 88 de robusta. Quanto à produção de café popular, observa-se um menor uso de arábica. Verifica-se que quase 54% destas empresas compõem os blends com 50 a 69% de arábica e 50 a 31% de robusta. Com relação à s composições do café, todas as empresas que processam grãos orgânicos e de origem utilizam 100% de arábica em seus blends. Tabela 5.10 – Composição usual dos blends processados pelas empresas que produzem café sem classificação gourmet, superior, tradicional e popular e suas respectivas participações Composição dos blends Café Gourmet Café Superior Café Tradicional Café Popular Arábica Robusta Nº de Empresas % Nº de Empresas % Nº de Empresas % Nº de Empresas % 100% 95 a 99% 0% 1 a 5% 9 - 100 - 5 - 55,6 - 14 1 31,8 2,8 1 - 7,7 - 90 a 94% 85 a 89% 80 a 84% 75 a 79% 70 a 74% 60 a 69% 50 a 59% 1 a 49% 0% 6 a 10% 11 a 15% 16 a 20% 21 a 25% 26 a 30% 31 a 40% 41 a 50% 51 a 99% 100% - - 1 2 1 - 11,1 22,2 11,1 - 3 6 12 2 4 1 1 - 6,8 13,6 27,3 4,6 9,1 2,3 2,3 - 3 4 3 2 - 23,1 30,8 23,1 15,4 - 9 100 9 100 44 100 13 100 Total de empresas As justificativas mais comuns para as empresas não torrarem cafés especiais foram: a) mercado consumidor ainda pequeno (42,8%); b) consumidor não tem poder aquisitivo para comprar (34,3%); e c) padrão de concorrência muito forte entre as empresas, o que inibe este tipo de estratégia (11, 4%). Outros motivos alegados referem-se à falta de reconhecimento do consumidor da qualidade do café, baixa capacidade de investimento da empresa e o fato de a região não comportar esse tipo de consumo. A torra destes cafés é feita de forma regular por 75% das empresas, enquanto somente 25% delas, ou seja, 3 torrefadoras, possuem certa irregularidade. Todas as empresas, que usam café orgânico e de origem, como matéria-prima afirmaram que a torra é regular. Dentre as 3 torrefadoras com torra 89 irregular, as principais razões apontadas foram a falta de uma política definida dos varejistas quanto à revenda do produto, a oferta irregular do grão e a instabilidade dos preços. Quanto à s vantagens de se processar cafés especiais, 91,7%, das empresas questionadas que produzem café gourmet apontam que as principais referem-se ao relacionamento diferenciado com os compradores. Para 75% dessas empresas o diferencial maior de preços é o principal motivo, enquanto 25% indicam o planejamento das vendas e a fixação de preços como fatores preponderantes. Outros motivos alegados incluem a qualidade do produto, o mercado mundial em expansão e a imagem corporativa advinda de se produzir café especial. Metade das empresas que torram café orgânico indicaram como fatores mais importantes o relacionamento diferenciado com compradores e o diferencial maior de preços sobre o café tradicional. Quanto ao café de origem, prevaleceu o relacionamento diferenciado com os compradores, conforme a Tabela 5.11. Tabela 5.11 - Distribuição das empresas quanto às vantagens de se processar cafés especiais Café Gourmet Vantagens de se processar cafés especiais Relacionamento Diferenciado com Compradores Diferencial maior de preço sobre café tradicional Planejamento das Vendas e Fixação de Preços Outros Café Orgânico Café Origem Nº de Empresas % Nº de Empresas % Nº de Empresas % 11 9 3 3 91,7 75,0 25,0 25,0 1 1 1 50,0 50,0 50,0 1 - 100,0 - * Admite múltipla escolha Com relação à s desvantagens do processamento destes cafés, as empresas de café gourmet e de café orgânico indicaram, principalmente, o mercado consumidor ainda restrito (Tabela 5.12). As torrefadoras de gourmet também indicam o custo maior de processamento e mercado restrito. Com relação à opção outros, as questões mais mencionadas foram a concorrência desleal com as 90 grandes torrefadoras, o fato do consumidor não saber identificar o café e a oferta irregular da matéria-prima adequada. Tabela 5.12 - Distribuição das empresas quanto às desvantagens de se processar cafés especiais Café Gourmet Desvantagens de se processar cafés especiais Café Orgânico Café Origem Nº de Empresas % o Nº de Empresas % Nº de Empresas % 5 2 41,7 16,7 1 - 50 - - - 1 8,3 - - - - 4 33,3 1 50 1 100 12 100 2 100 1 100 Mercado restrito (exclusivamente) Custo Maior Processamento (exclusivamente) Custo maior de processamento e mercado restrito Outros (exclusivamente) Total Buscou-se também investigar aspectos relacionados à importância de cada tipo de café torrado pela empresa em seu último ano de produção40. Um dos pontos relaciona-se com a quantidade de café produzida nesse período. A quantidade média mais elevada é do café tradicional, com aproximadamente 511 mil kg. A produção média de café popular e superior foi de cerca de 340 mil kg e 235 mil kg, respectivamente, seguindo-se o café tipo gourmet, com 138,6 mil kg. A menor média constatada foi de café orgânico, com 10,8 mil kg (Tabela 5.13). Tabela 5.13. Média de café produzida, em kg, das empresas entrevistadas, segundo o tipo de café produzido Quantidade (em Kg) 40 Nº de empresas Média Tradicional Popular Superior Gourmet Orgânico 20.440.232 2.719.500 1.646.000 970.440 10.800 40 8 7 7 1 511.005,8 339.937,5 235.142,9 138.634,3 10.800,0 Total 25.786.972 46 560.586,4 Algumas empresas não responderam a essas questões, por considerarem essas informações 91 Pode-se observar na Tabela 5.14 como ocorre a distribuição das empresas nas diferentes faixas de café produzido. Verifica-se que no grupo das torrefadoras com produção de gourmet e de superior, a maior parte delas chega até a 150 mil kg de produção. Já com relação à s empresas que processam café tradicional, grande parte produz até 100 mil kg, com ênfase na faixa entre 20 a 50 mil kg. Cabe ressaltar que 7 empresas deste grupo apresentaram mais de 500 mil kg. Tabela 5.14 - Distribuição das empresas nas diferentes faixas de café produzido (em quantidade) Quantidade em Kg Café Gourmet Café Superior Café Tradicional Café Popular Café Orgânico Nº de Empresa s % Nº de Empresas % Nº de Empresas % Nº de Empresas % Nº de Empresa s % Sem produção 1 a 10.000 10.001 a 20.000 20.001 a 50.000 50.001 a 75.000 75.001 a 100.000 100.001 a 150.000 150.001 a 200.000 200.001 a 300.000 300.001 a 400.000 400.001 a 500.000 500.001 a 1.000.000 Mais de 1.000.000 39 1 1 1 2 1 1 - 84,8 2,7 2,7 2,7 4,5 2,7 2,7 - 39 2 2 2 1 84,8 4,4 4,4 4,4 2,17 6 2 2 7 4 6 6 1 2 1 2 3 4 13,1 4,4 4,4 15,2 8,7 13,1 13,1 2,2 4,4 2,2 4,4 6,5 8,7 38 1 1 1 1 1 1 1 1 82,6 2,2 2,2 2,2 2,2 2,2 2,2 2,2 2,17 45 1 - 97,8 2,2 - Total 46 100 46 100 46 100 46 100 46 100 Quanto à importância relativa de cada tipo de café sobre a quantidade total produzida, verifica-se que nas 3 empresas que produzem café superior e tradicional, a maior parte dos cafés produzidos são tradicionais, sendo que 2 empresas possuem mais de 90% deste tipo. O mesmo ocorre no grupo de torrefadoras com produção de café tradicional e popular – em 7 das 9 empresas deste grupo, a produção de tradicional é superior a 60%. Além disso, é possível observar que nas torrefadoras com produção de 3 tipos de café, a participação do gourmet é bastante baixa, sendo inferior a 3% em todos os casos (Tabela 5.15). sigilosas. 92 Tabela 5.15 – Participação de cada tipo de café no total produzido Gourmet % Superior % Tradicional % Popular % Nº de empresas 100% _ _ _ _ _ _ _ 2% 1% _ 100 1 a 10 50 90 a 99 _ _ 89 87 _ _ 100 90 a 99 50 1 a 10 60 a 99 1 a 40 9 _ _ _ _ _ _ _ 1 a 40 60 a 99 _ 12 5 1 26 2 1 1 7 2 1 1 10,64 2,13 55,32 4,26 2,13 2,13 14,89 4,26 2,13 2,13 47 100 Total de empresas % Com os resultados da distribuição de cada tipo de café no total torrado, foi possível calcular as participações médias da quantidade produzida em cada tipo de empresa, conforme pode ser observado na Tabela 5.16. Tabela 5.16 – Participação média de cada tipo de café no total produzido Nº de empresas 5 1 26 4 9 1 1 Tipos de Café Gourmet % Goumet exclusivo Superior exclusivo Tradicional (exclusivamente) Superior e Tradicional Tradicional e Popular Gourmet, Superior e Tradicional Gourmet, Tradicional e Popular 100 2 1 Superior Tradicional % % 100 37 71 89 - 100 63 29 9 87 Popular % 12 Pela Tabela 5.17 é possível analisar a importância da produção de cada tipo de café no total de renda gerada na empresa. Nas empresas que produzem café tradicional e outro tipo de café, a renda gerada, geralmente, provém deste primeiro produto, já que, como colocado anteriormente, a produção de tradicionais é, na maior parte dos casos, bastante superior aos outros tipos. 93 Tabela 5.17 - Participação média de cada tipo de café no total na renda gerada Nº de empresas Tipos de Café 5 1 26 4 9 1 Goumet exclusivo Superior exclusivo Tradicional (exclusivamente) Superior e Tradicional Tradicional e Popular Gourmet, Superior e Tradicional Gourmet, Tradicional e Popular 1 Gourmet Superior Tradicional Popular % % % % 100 1,61 100 31,5 72 89,45 100 61,5 28 8,94 - 1 - 90 9 Além disso, foram consultados os preços dos cafés comercializados pelas empresas41, como pode ser visto pela Tabela 5.18. Como esperado, o preço médio do gourmet foi bastante superior aos demais, chegando a ter uma diferença média de aproximadamente 44% sobre o café popular. Os preços do café superior também se mostraram em níveis significativos – concentrado na faixa entre R$5,00 a R$7,00. Já para os cafés tradicionais, a pesquisa indicou um preço médio de R$4,87 – cerca de 17% superior ao café popular. Cabe mencionar que apenas 1 empresa indicou a preço do café orgânico produzido e nenhuma delas citou o preço do café de origem42. Dentre as torrefadoras de café gourmet, tradicional, superior e popular, 2 delas alegaram dados confidenciais e 6 empresas de café tradicional e 4 de café popular não quiseram responder. 41 Pesquisa realizada pelo Sindicafé-SP em supermercados paulistas mostra que enquanto o café gourmet estava sendo ofertado por R$ 12,45 o quilo, o tradicional era vendido por R$ 5,36 (HERSZKOWICZ ,2001). 42 94 Tabela 5.18 – Distribuição das empresas segundo as faixas de preço que atua e o preço médio obtido em cada tipo de café Café Gourmet Café Superior Café Tradicional Café Popular Café Orgânico Preço Médio (Kg) Nº de Empresas % Nº de Empresas % Nº de Empresas % Nº de Empresas % Nº de Empresas % R$3,00 a R$4,00 R$4,01 a R$5,00 R$5,01 a R$6,00 R$6,01 a R$7,00 R$7,01 a R$8,00 R$8,01 a R$9,00 R$9,01 a R$10,0 R$10,01 a R$11,00 1 1 2 1 1 - 16,67 16,67 33,33 16,67 16,67 - 1 1 2 3 - 14,29 14,29 28,57 42,86 - 4 22 9 1 - 11,11 61,11 25,00 2,78 - 2 5 - 28,57 71,43 - 1 100 Total 6 100 7 100 36 100 7 100 1 100 6,00 - 5,68 - 4,87 - 4,16 - 11,00 - Preço Médio (R$) A Tabela 5.19 mostra o diferencial de preços dos diferentes tipos de café produzidos por uma mesma empresa. Como uma parte significativa das empresas se especializam em dos tipos de café, poucas torrefadoras responderam tal questão. É interessante analisar que o ganho médio do café gourmet é de aproximadamente 150%, 99% e 96% sobre o café popular, tradicional e superior, respectivamente. Além disso, nota-se que o diferencial de preços entre o café orgânico e o superior é de 139% (fato indicado por uma única empresa que produz estes dois tipos de café). Tabela 5.19 - Diferença média de preço de venda entre os diferentes tipos de café processados pela mesma empresa Ganho Médio do Gourmet sobre: Ganho Médio do Superior sobre: Ganho Médio do Tradicional sobre: Ganho do Café de Origem sobre: Ganho do Orgânico sobre: Café Gourmet Café Superior Café Tradicional Café Popular 22,00% 95,60% 139,00% 98,67% 31,13% - 15-% 13,33% - No que diz respeito à forma de processamento, a maior parte das empresas vende o produto torrado e moído. A torra e moagem do café para espresso 95 representa 15% no caso do café gourmet. Apenas 5% dos cafés popular e tradicional são comercializados na forma de grãos torrados (Tabela 5.20). Tabela 5.20 - Participação média de cada tratamento nos diferentes tipos de café Participação Média Empresas Café torrado e moído Gourmet Superior Tradicional Popular Orgânico Café torrado Café torrado e em grãos moído para espresso 64,63% 69,50% 92,41% 95,56% 95,00% 21,25% 30,13% 7,59% 4,44% 5,00% 14,13% 0,38% - Com relação aos fornecedores de grãos para as empresas torrefadoras, conforme a Tabela 5.21, a maior parte das empresas obtém a matéria-prima direto do produtor. Tal fato é realizado com maior intensidade nas empresas de café superior: aproximadamente 74% destas torrefadoras compram direto do produtor. Os corretores também são bastante responsáveis pelo fornecimento dos grãos à s torrefadoras, principalmente no caso das empresas que apresentam produção de café popular (40%).43 Tabela 5.21 – Distribuição das empresas segundo a forma pela qual ocorre o fornecimento do café em grãos Fornecedor Corretor Cooperativa Direto do Produtor Exportadores Leilão do Governo Produção Própria Outros Total Empresas Gourmet Superior Tradicional Popular Orgânico Origem 11,44% 2-% 55,89% 3,78% 8,89% -% -% 20,63% 3,75% 73,75% -% 1,88% -% -% 20,81% 5,47% 45,33% 5,47% 10,14% 9,53% 3,26% 40,42% 6,92% 32,00% 2,92% 1,75% 14,17% 1,83% 1-% 1-% 8-% -% -% -% -% 2-% 2-% 6-% -% -% -% -% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 43 Uma empresa, produtora de café superior, não respondeu. O mesmo ocorreu com uma empresa de café tradicional e popular. 96 Outro ponto avaliado foi a existência ou não de contratos formais de fornecimento entre os produtores e as empresas torradoras de cafés especiais. Apenas 25% das empresas possuem contratos formais, o que corresponde a três torrefadoras. Os principais motivos apontados para a não existência de contratos formais de fornecimento foram: a) a nãoescassez do produto; b) a grande flutuação de preços da matéria-prima, o que torna muito arriscado fixar um preço no contrato impedindo os ganhos de quedas que possam vir a ocorrer no mercado (Tabela 5.22). Tabela 5.22 - Distribuição das empresas segundo os motivos que levam não à existência de contratos formais com os fornecedores Motivo para não haver contratos Nº de empresas % Valor oferecido por outros fornecedores Não falta matéria-prima Aposta na flutuações dos preços no mercado Cooperativa Não assume contrato de 1 ano por receio de perder dinheiro Oscilação de oferta e procura Contrato informal 1 2 2 1 1 1 1 11,11 22,22 22,22 11,11 11,11 11,11 11,11 Total 9 100 Das 12 empresas que afirmaram produzir cafés especiais, 6 delas possuem parcerias com seus fornecedores, que se restringem a visitas ao local de produção e troca de experiências sobre aspectos técnicos da produção, conforme Tabela 5.23. Tabela 5.23 - Distribuição das empresas de acordo com as iniciativas realizadas no processo de integração com os produtores de café especial Iniciativas Nº de empresas % Visitas ao Local de Produção Troca de Experiências sobre Aspectos Técnicos da Produção Cooperativa Visitas e Troca de Experiência Visitas, Trocas de Experiência e Outros 1 0 0 4 1 16,67 33,33 16,67 Total 6 100 97 Metade das empresas que produzem cafés especiais preferem adquirir matéria-prima de uma região específica: 50% apontou o Cerrado Mineiro e 50% o Sul de Minas (50%). Nos dois casos a justificativa das escolhas foram a qualidade da bebida. Vale observar que todas as empresas entrevistadas estão no estado mineiro. Quanto aos outros torrefadores de cafés especiais que indicaram não adquirir a matéria-prima de uma região específica, o principal motivo alegado foi que a qualidade depende de muitos outros fatores e não da região produtora (49%), vindo a seguir os seguintes motivos: estratégia da empresa (17%); não possui nenhum motivo especial (17%) e não gosta de comprar de uma só região (17%). Foi analisado, também, o posicionamento da empresa quanto à certificação dos cafés que adquire. Pela Tabela 5.24, é possível verificar que 94% e 96% das torrefadoras não exigem certificado de qualidade e certificado de origem, respectivamente. Dentre aquelas que exigem a certificação, duas empresas somente o fazem no caso de cafés orgânicos. Tabela 5.24 - Distribuição das empresas segundo a exigência ou não de certificados de origem e qualidade Certificado Exigência De Qualidade % De Origem % Sim Não 3 47 6 94 2 48 4 96 Total 50 100 50 100 Outro aspecto questionado consistiu na interferência que poderia ocorrer com variações na safra e/ou preço do grão nos resultados da empresa. Como esperado, observou-se que a maior parte das empresas (90%) admite a influência destes aspectos nos resultados do negócio. De acordo com a Tabela 5.25, esta 98 influência recai, principalmente, sobre a rentabilidade da empresa (84%). Outro ponto bastante mencionado foi a influência sobre as políticas de comercialização, motivo escolhido por 56% delas. Observa-se, portanto, que em boa parte das entrevistas, as empresas selecionaram estes dois itens em conjunto. Tabela 5.25 - Distribuição das empresas quanto a forma da interferência nos resultados da empresa devido às variações na safra e/ou preço do grão Forma da interferência Nº de empresa Na composição do Blend Na Rentabilidade do Negócio Na Política de Comercialização Outros % 9 38 25 2 20 84,44 55,56 4,44 No caso de variações bruscas na safra e/ou no preço, um dos aspectos que pode ser afetado é a composição do blend. Neste sentido, foi elaborada uma questão que procura entender a maneira pela qual as torrefadoras se protegem destas circunstâncias a fim de garantir a manutenção da qualidade de seu blend. A maior parte das empresas realizam tal proteção praticando negociação informal (34,%), outras mantém estoques (30%), e algumas adotam as duas medidas conjuntamente (11%). Nenhuma torrefadora garante seu blend com suprimento via contrato formal (Tabela 5.26)44. Tabela 5.26 – Distribuição das empresas quanto às formas de garantia do blend 44 Garantia da qualidade Nº de empresa Estoques de Segurança Garantindo Suprimento via Contrato Formal Garantindo Suprimento via Negociação Informal Outros Estoques e Negociação informal Estoque e Outros 14 0 29,79 - 16 34,04 9 5 3 19,15 10,64 6,38 Total 47 100 Três empresas não responderam esta questão. 99 % Apenas 17 torrefadoras possuem provador contratado, o que corresponde a 34% do total entrevistado. Dentre aquelas que não possuem provador (33 empresas), as soluções mais utilizadas foram a terceirização da tarefa (24%) ou o proprietários fez curso de provador (33%) (Tabela 5.27). Tabela 5.27. - Distribuição das empresas quanto aos motivos pelos quais não existe provador contratado Solução Nº de empresas % Terceiriza a tarefa Proprietários fizeram o curso Outros Confia no vendedor e Outros Proprietários fizeram o curso e Outros 8 11 11 2 1 24,24 33,33 33,33 6,06 3,03 Total 33 100 No que se refere ao destino da produção a maior parte do café gourmet (57%), superior (48%), tradicional (49%) e popular (41%) são comercializados no município. Já no grupo de empresas que produzem café orgânico e de origem, as vendas são realizadas principalmente no âmbito nacional, seguido pelas vendas internacionais (Tabela 5.28). Tabela 5.28 - Distribuição das empresas segundo o destino do café produzido Destino Municipal Estadual Nacional Internacional Café Gourmet 57,00% 21,89% 17,78% 3,33% Café Superior Café Tradicional 47,50% 38,75% 10% 3,75% 49,23% 38,07% 10,89% 1,82% Café Popular 40,83% 26,67% 32,50% -% Café Orgânico -% 5,00% 80% 15,00% Café Origem -% -% 70% 30% De acordo com a Tabela 5.29 aproximadamente metade das vendas dos cafés gourmet, tradicional e popular são destinadas aos supermercados de bairro. Os cafés orgânico e de origem estão mais presentes nas grandes redes de supermercados. Já os cafés superiores são vendidos em maior proporção no 100 mercado institucional, em serviços de alimentação como restaurantes, escritórios, catering, etc. Tabela 5.29 - Distribuição das empresas segundo o estabelecimento pelo qual o café é negociado Tipo de estabelecimento Gourmet Grandes Redes de Supermercado Supermercados de Bairro Cafeterias Padarias Vendas Institucionais Varejista Outros Total Superior Tradicional Popular Orgânico Origem 21,88% 15,00% 13,70% 19,09% 42,50% 55,00% 42,25% 11,88% 5,88% 8,13% 8,75% 1,25% 18,57% 2,86% 5,71% 39,86% 16,57% 1,43% 53,16% 1,65% 5,63% 4,70% 20,23% 0,93% 53,00% 0,09% 4,82% 3,45% 19,55% -% 15,00% 5,00% 2,50% 3-% -% 5,00% 25,00% 5,00% 5,00% -% -% 1-% 100% 100% 100% 100% 100% 100% A maior parte das 50 empresas entrevistadas (36%) afirmaram manter um relacionamento exclusivamente profissional (sem conflitos e parcerias) com os varejistas. Já 28% das torrefadoras consideram a relação entre os supermercadistas conflituosa e 26% de parceria (Tabela 5.30) Tabela 5.30 - Distribuição das empresas conforme o tipo de relação com os supermercadistas Relação com supermercadistas Nº de empresas % Conflituosa Profissional Parceria Outra Conflituosa e Parceria Profissional e Parceria 14 18 13 1 2 2 28 36 26 2 4 4 Total 50 100 Os contratos com os supermercadistas são, em geral, realizados sem consignação (98%) e mais da metade das empresas (56%) colocam seu produto no supermercado mediante degustação. 101 Quase a totalidade das empresas negocia com os supermercados com prazo de entrega de até 5 dias (96%). O período de fornecimento mais freqüente é o semanal (54%) seguido pelo diário (12%). O prazo de pagamento dos contratos com os supermercado se concentram entre 15 e 30 dias (para 70% das empresas), sendo que para 44% das empresas o prazo é de 28 ou 30 dias. As condições que, geralmente, ocorrem nos negócios com os supermercados, que foram mencionadas acima, são diferentes para os cafés especiais para aproximadamente 94% dos entrevistados, em função do menor giro do produto. De acordo com a Tabela 5.31, 54% das empresas acreditam em crescimento da participação dos cafés especiais no mercado interno. Ressalta-se que 3 empresas acreditam que o crescimento ocorrerá nas capitais. Um fraco crescimento foi apontado por 10 empresas. Os motivos principais consistiram na falta de interesse do consumidor e na alta concorrência do mercado. Tabela 5.31 - Distribuição das empresas conforme a expectativa da evolução do mercado de cafés especiais no País Expectativa Nº de empresas % Crescimento Crescimento somente nas capitais Crescimento Lento Crescimento Ruim (consumidor se interessa por preço) Crescimento Ruim (alta e desleal concorrência) Crescimento Ruim (oferta maior que a demanda) Queda Outros 27 3 3 5 3 2 1 6 54,00 6,00 6,00 10,00 6,00 4,00 2,00 12,00 Total 50 100 Quanto à evolução da participação da empresa no mercado interno de cafés especiais, observa-se que 24% das empresas acreditam que irá crescer neste segmento e 18% têm expectativa de ingressar no mercado ou lançar novas marcas, 24% não tem pretensão de investir e 18% não possuem nenhuma expectativa de crescimento (Tabela 5.32). 102 Tabela 5.32 - Distribuição das empresas conforme a expectativa quanto à sua evolução no mercado de cafés especiais Expectativas (mercado interno) Nº de empresas % Boas expectativas de crescimento Expectativa de entrar no mercado/ lançamento de novas marcas Sem expectativas / Expectativa Ruim Não pretende investir no segmento (causas diversas) Estagnado Outros 12 9 24,00 18,00 14 12 28,00 24,00 2 1 4,00 2,00 Total 50 100 A maioria das empresas, cerca de 54%, não possui nenhuma expectativa de evolução no mercado externo ou nem pensou em ingressar neste mercado. Apenas 4 empresas pretendem iniciar suas exportações e 5 delas vêm realizando esforços para entrada ou aumento de sua participação no mercado externo (Tabela 5.33) Tabela 5.33 - Distribuição das empresas conforme a expectativa quanto à sua evolução no mercado exportador Expectativas (mercado externo) Nº de empresas % Não realiza exportação Não realiza exportação, mas pretende iniciar Nenhuma expectativa / Não pensou ainda Realizando esforços para a entrada ou aumento da participação Espera participação crescente Não sabe Difícil a entrada no setor externo Outros 2 4 27 5 4,00 8,00 54,00 10,00 3 2 4 3 6,00 4,00 8,00 6,00 Total 50 100 103 Quadro 5.34 – Principais conclusões das entrevistas com os torrefadores • Principais conclusões Não há um consenso entre as torrefadoras do que seja café especiais no que diz respeito a cafés de qualidade superior; • a maior parte das torrefadoras processa café tradicional. Neste grupo, boa parte delas produz este tipo de forma exclusiva; • apenas 24% das empresas realizam a torra de cafés especiais. Na maior parte destas empresas, esta torra é regular. • As principais vantagens de produzir cafés especiais são> a) relacionamento diferenciado com os compradores e b) diferencial maior de preço do produto. Já as desvantagens, basicamente, relacionam-se ao mercado consumidor ainda restrito; • o preço médio do café tipo gourmet foi bastante superior aos demais. O diferencial médio sobre o café popular foi de aproximadamente 44%; • a maior parte das torrefadoras submetem o produto exclusivamente ao tratamento torrado e moído; • o fornecimento de café para as torrefadoras ocorre, com mais intensidade, mediante contato direto com o produtor. Outro importante agente fornecedor são os corretores, principalmente em empresas com produção de café popular; • dentre as torrefadoras, que processam cafés especiais, metade delas preferem adquirir os grãos de uma região específica (todas elas citaram o Cerrado Mineiro ou o Sul de Minas). • Poucas empresas, possuem contratos formais junto ao produtor; • o destino principal do café produzido por estas torrefadoras é para o município. Cerca de metade das vendas é realizada para supermercados de bairro. • os contratos com os supermercadistas são de uma forma geral realizados com um prazo de entrega de até 5 dias, período de fornecimento semanal e prazo de pagamento de 30 dias; 104 • uma participação crescente dos cafés especiais no mercado interno é apontada por mais da metade das empresas. Cerca de 24% das torrefadoras acreditam no crescimento da participação da empresa neste mercado e 18% têm expectativa de ingressar no mercado de cafés especiais ou lançar novas marcas. Quanto à participação no mercado externo, as empresas, em geral, não possuem expectativas positivas. 5.4. VAREJISTAS No supermercado Carrefour, localizado em Belvedere em Belo Horizonte, foi entrevistada a gerente de vendas (Roteiro de entrevista no Anexo 1). O supermercado comercializa os seguinte cafés especiais: 3 Corações (certificado de origem), Segafredo (gourmet), Melitta (gourmet e origem controlada) e Bom Dia (gourmet e orgânico). Com exceção dos cafés da Melitta, a participação dos outros cafés no total vendido é irrisória. Para a gerente há um grande potencial de expansão dos cafés especiais. O consumidor está começando a valorizar esse segmento. No caso dos cafés orgânicos, por exemplo, o que falta é uma maior divulgação do produto. Citando os iogurtes e queijos, quando o Carrefour passou a fazer um trabalho de sua divulgação na loja, o consumo superou as expectativas. A única empresa que tem tido um ação mais efetiva é a Segafredo, que se preocupa em explicar para o fornecedor a qualidade do produto. Na sua visão, o consumidor não sabe o que é café de qualidade. Para a grande maioria dos clientes o café extra-forte significa qualidade. Isso é um conceito equivocado, pois este café tem sua qualidade depreciada, por ser torrado demais. A loja fez uma experiência tirando o produto da gôndola durante um ano e passou a conscientizar o consumidor. Depois que o café voltou para a prateleira do supermercado sua aceitação foi bem menor. Na percepção da gerente do Carrefour os cafés especiais devem crescer bastante nos grandes centros do Sul e da região Sudeste, em especial em Minas, 105 Rio de Janeiro, São Paulo. No Nordeste ela acredita que não deve crescer muito não pela questão da renda, mas principalmente pelo hábitos alimentares. No supermercado Mart-plus, em Santo Agostinho, também em Belo Horizonte, os café especiais disponíveis são os da Melitta (descafeinado) e o da 3 Corações (café de origem). O gerente acredita que o segmento de cafés especiais tem uma grande potencialidade de crescimento, principalmente na região em que trabalha, devido à alta renda da população. Para ele o crescimento vai depender de marketing, pois acredita que os mineiros são muito tradicionais. Como exemplo desse tradicionalismo ele cita o café Pilão a vácuo que teve que ser tirado de linha e o 3 Corações Medida Certa em sachê, que teve uma redução significativa de espaço. Ambos não tiveram boa aceitação pelos consumidores. No primeiro caso porque a marca é pouco conhecida em Belo Horizonte. Quanto ao produto vendido em sachê, a baixa aceitação deve-se ao fato de que os consumidores não têm o hábito de fazer café espresso em casa, principalmente devido ao alto custo da máquina. Outro exemplo do tradicionalismo dos mineiros o que está ocorrendo com o Café Brasil, que era uma marca muito importante no mercado, mas faliu. A marca foi comprada pelos antigos donos da 3 Corações e voltou com toda força inclusive ameaçando a líder, a atual 3 Corações. O gerente também acredita que, além de tradicional, o mineiro é nacionalista, o que pode explicar a rejeição que está ocorrendo com a marca 3 Corações, recém-adquirida por uma empresa estrangeira. Desta forma, a participação dos cafés especiais no mercado é insignificante. O supermercado não tem café orgânico. Houve uma tentativa de implantar uma seção de frutas e verduras orgânicas que não decolou. Ele aposta no crescimento do mercado só depois que houver maior divulgação do produto para o consumidor. Na loja em que trabalha não tem recebido visitas de torrefadores oferecendo cafés especiais. Em geral, os novos produtos surgem por indicação dos clientes, que as fazem numa caixa de sugestão e num formulário próprio que se 106 encontram na loja. O departamento de compras não conhece os produtos disponíveis, por isso acha que os torrefadores deveriam visitar as lojas. Acredita que o crescimento do segmento de cafés especiais não deverá ser generalizado, concentrando-se nas regiões Sul e Sudeste e em mercados de nicho. Para o primeiro secretário da Associação Paulista de Supermercados, Omar Adbul Assaf, a indústria de café deveria investir em propaganda institucional para divulgar os cafés especiais. Entre as especialidades, ele sugere alternativas adaptadas ao clima brasileiro, ou seja, que contemplem produtos gelados à base de café. Assaf cita o crescimento do consumo de cafés especiais no mercado americano, onde os jovens passaram a consumir café depois que as cafeterias começaram a oferecer bebidas geladas. Daí para o consumo de espresso é apenas questão de tempo. Um dos problemas que aponta como limitante é a que a maior parte dos fornecedores não utilizam ECR (Efficient Consumer Response)45 de forma que não se criam contratos confiáveis e de longo prazo, que são condições importantes para a estabilidade das relações comerciais. O diretor de comercialização e o gerente de compras do Pão de Açúcar, em São Paulo, também acreditam que deveria haver propaganda institucional, a exemplo do que foi feito por ocasião do lançamento do selo da ABIC, para estimular o consumo de cafés diferenciados. Já os representantes do Carrefour (diretor comercial e diretor executivo da divisão hipermercados) apontam que a segmentação do mercado já vem crescendo devido à s iniciativas isoladas dos torrefadores tal como a Melitta. Citam como exemplo os produtos água e leite, nos quais não houve a coordenação necessária por parte das associações de fabricantes. Do mesmo modo, o WalMart dá como exemplo o mercado de massas de sêmolas com ovos. As marcas importadas Barilla, Divela, etc, representavam apenas 3% do total vendido e, agora, chegam a 17%, em função da oferta de produtos melhores e mais requintados (PROGRAMA, 2000). ECR é uma tecnologia que permite uma dependência direta com os fornecedores de forma a possibilitar o acompanhamento de estoques e reposição automática de mercadorias. 45 107 Quadro 5.35 – Principais conclusões das entrevistas com os varejistas • Principais conclusões Apesar de ainda insignificante a participação dos cafés especiais na receita total dos supermercados com o produto café, os supermercadistas estão apostando no crescimento desse segmento, destinando cada vez mais espaço na gôndola para estes produtos; • os varejistas, de uma maneira geral, acreditam que as torrefadoras deveriam investir em informações para o consumidor sobre o que é qualidade, pois o brasileiro tem conceitos equivocados, como o de identificar qualidade com café extra forte e o desconhecimento sobre o que é café orgânico; • novos produtos mais adaptados ao clima brasileiro deveriam ser criadas, como bebidas geladas à base de café; • a indústria precisa investir em tecnologia de informação, pois a maior parte dos fornecedores não utilizam ECR; • não houve consenso se deveria haver propaganda institucional para promover o consumo. Alguns supermercadistas acreditam que as estratégias devem ser individuais. 5.5. CONSUMIDORES A análise do segmento consumidor baseou-se em entrevistas com 301 consumidores realizadas em quatro supermercados, dois no Estado de Minas Gerais, município de Belo Horizonte (Carrefour e Mart-Plus) e dois no Estado de São Paulo, município de São Paulo (ambos no Pão-de-Açúcar localizados na Avenida Oscar Freire e Praça Panamericana). Estes locais foram selecionados com base na sua localização em bairros de classe média-alta e em função do público que atinge: consumidores das classes A (49%) e B (33%). A amostra foi selecionada por conveniência e aleatoriamente nos supermercados. As entrevistas foram divididas em três partes (Anexo 1). Na primeira procurouse caracterizar os entrevistados e seus hábitos de consumo de café. Na segunda 108 parte os consumidores foram convidados a degustar três tipos de cafés (gourmet, superior e tradicional) e dar sua opinião quanto aos aspectos aroma, sabor e corpo. A escolha desses níveis baseou-se no estudo do Programa de Educação do Mercado para o Café (PEM), conforme colocado no item 5.3. Os cafés foram selecionados pelos Sindicafé de Minas Gerais e São Paulo. Na terceira parte foi realizada uma análise de preferência, quando o consumidor tinha que ordenar suas preferência segundo atributos previamente escolhidos. 5.5.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA As características dos componentes da amostra são sumarizados na Tabela 5.36 e os principais resultados da pesquisa de campo realizada com os consumidores são comentados a seguir. Tabela 5.36 - Caracterização da Amostra dos Consumidores Característica Classificação Porcentage m Sexo Masculino Feminino Não Respondido 43,5% 55,8% 0,7% Idade Até 25 anos 26 a 35 anos 36 a 45 anos Mais de 45 anos 6,3% 13,0% 24,9% 55,8% Fumante Não Fumante 20,6% 79,4% E D C B2 B1 A2 A1 0,3% 2,0% 14,0% 13,3% 19,6% 26,2% 22,6% Hábito de Fumar Classe Social * • Baseado na Tabela ABA (Vide Anexo 1). 109 5.5.2. COMPORTAMENTO GERAL DE COMPRA A maioria dos consumidores da amostra estudada (79%) conhece o Selo de Pureza da ABIC e o leva em consideração no momento da compra (61%), conforme a Tabela 5.37. Tabela 5.37 - Hábito e Comportamento de Compra do Consumidor de Café Hábito e Comportamento de Compra Característica % Conhece o Selo de Pureza ABIC? Sim Não 79,4 20,6 Leva em consideração o selo ABIC no momento da decisão de compra? Sim Não 61,1 38,5 Quais os critérios mais utilizados para a escolha do café? Preço Marca Selo Qualidade Sabor Aroma Embalagem 16,7 23,5 7,6 17,0 25,1 8,3 1,9 Situação que melhor caracteriza o consumo de café Horários de lanches e refeições Reuniões de trabalho e/ou encontros sociais Sempre que tem vontade Sempre que fuma 37,1 10,1 Número de xícaras de café consumidas por dia Até 3 xícaras De 3 a 5 xícaras Mais de 5 xícaras 34,2 27,9 37,2 Pagaria mais por um café de qualidade Sim Não 92,0 6,6 Importância em relação à s especificações do processo de produção de café Produzido com responsabilidade social Produzido com responsabilidade ecológica Com tradição regional, histórica ou cultural Com certificação de origem Livre de agrotóxicos Não considera importante 22,9 20,7 48,0 4,4 11,1 16,6 25,7 3,0 Quanto aos critérios mais utilizados na escolha de um café, o sabor (25%) e a marca (24%) são os mais importantes, seguido da qualidade (17%) e do preço (17%). Na análise de preferência, os resultados foram semelhantes, embora o 110 preço tenha tido uma importância maior. Vale observar que, ao se perguntar se o consumidor estaria disposto a pagar mais por um café de qualidade, a grande maioria (92%) afirmou que sim. As duas situações que melhor caracterizam o consumo de café são os horários destinados à s refeições (37%), embora a maioria (48%) consome o café sempre que tem vontade. Em relação à quantidade diária consumida, houve muita semelhança entre as proporções consideradas como consumidores eventuais (até 3 xícaras, 34%), médios (de 3 a 5 xícaras, 28%) e heavy users (mais de 5 xícaras, 37%). Tabela 5.38 - Grau de importância das características Fator Grau de Importância (%) Estatística Descritiva Sabor Muito Importante (1) Importante (2) Pouco Importante (3) 86,0 13,0 0,3 Média (1o.) Desvio Padrão Variância 1,137 0,354 0,125 Aroma Muito Importante (1) Importante (2) Pouco Importante (3) 71,1 24,6 3,3 Média (2o.) Desvio Padrão Variância 1,315 0,533 0,284 Cor da Bebida Muito Importante (1) Importante (2) Pouco Importante (3) 32,6 40,9 25,6 Média (4o.) Desvio Padrão Variância 1,929 0,764 0,584 Corpo Muito Importante (1) Importante (2) Pouco Importante (3) 51,2 35,5 12,3 Média (5o.) Desvio Padrão Variância 1,607 0,699 0,488 Das especificações listadas - cafés produzido com responsabilidade social, com responsabilidade ecológica, com tradição regional, histórica ou cultural, com certificação de origem e livre de agrotóxico - os consumidores consideravam mais importante a produção orgânica (25,7%) e as produções preocupadas com a responsabilidade social (22,9%) e ecológica (20,7%), sendo este último muito relacionado ao primeiro considerado mais importante, o cultivo orgânico. Itens como a tradição (11,1%) e a origem (16,6%) foram considerados de menor importância. 111 Entre as características de sensibilidade, o sabor foi considerado como mais importante, sendo que 86% (média 1,13746) dos consumidores atribuíram a máxima importância (Tabela 5.38). Também é nesta característica que existe o maior consenso na opinião dos consumidores em relação à s demais devido ao menor desvio padrão e variância. O segundo fator mais importante foi o aroma (média 1,315), seguido do corpo (1,607) e da cor da bebida (1,929). 5.5.3. PERCEPÇÃO EM RELAÇÃO ÀS DEGUSTAÇÕES A degustação foi realizada utilizando-se três diferentes níveis, decrescentes, de qualidade de café: gourmet, superior e tradicional. Os consumidores degustavam uma dose de cada café e davam sua opinião sobre aroma, sabor e corpo. Quando adoçado, tomava-se o cuidado de colocar uma quantidade muito pequena de açúcar ou adoçante para cada dose, para não alterar as características de cada bebida. Entre um café e outro o consumidor era convidado a tomar um gole de água. O café tipo gourmet foi considerado mais gostoso que os demais tipos na degustação, com 43% de preferência, seguido pelo tradicional (32%) e pelo superior (23%). As médias foram consideradas estatisticamente diferentes si, a um intervalo de confiança de 95%. Ou seja, pode-se dizer com 95% de confiança que os consumidores percebem na média que o gourmet é mais gostoso que o tradicional, que por sua vez é mais gostoso que o superior (Tabela 5.39). Duas hipóteses podem ser formuladas com relação ao resultado geral da degustação: a existência de percepção de diferentes gostos das três amostras de café e a existência de padrões distintos de preferência. Em ambos os casos, estratégias de segmentação e diferenciação por outras variáveis tangíveis deveriam ser adotadas. Quanto menor a média, mais importante é o fator, já que 1 significa muito importante, 2 importante e 3 pouco importante. 46 112 Tabela 5.39 - Percepção em Relação aos Cafés Degustados Características Nível (%) Aroma Bom (1) Regular (2) Ruim (3) Média Desvio Padrão Variância 52,2 35,2 12,6 1,599 0,712 0,507 45,5 42,2 11,6 1,643 0,679 0,461 42,5 29,9 26,2 1,832 0,815 0,665 Sabor: Adocicado x Amargo Adocicado Pouco Adocicado Nem Adocicado Nem Amargo Pouco Amargo Amargo Não Sabe 12,6 16,3 17,9 14,0 22,6 17,3 14,3 19,3 21,3 23,3 26,9 2,3 24,3 19,3 2,3 17,3 22,6 4,0 Sabor: Forte x Fraco Forte Pouco Forte Nem Forte Nem Fraco Pouco Fraco Fraco Não Sabe 13,6 15,9 17,6 17,3 33,9 1,3 15,9 17,9 13,3 24,6 26,2 1,3 21,9 19,3 16,3 15,0 26,6 0,3 Aroma e Sabor Gostou (1) Achou Razoável (2) Não Gostou (3) Média Desvio Padrão (DP) Variância 38,2 32,2 28,9 1,929 0,828 0,461 39,5 36,5 22,6 1,809 0,787 0,620 41,5 25,6 30,9 1,850 0,859 0,739 42,9 (1) 23,3 (2) 32,2 (3) Mais Gostou Total Média 1,920 DP 0,876 Variância 0,767 Gourme Superior Tradiciona t l Médias estatisticamente diferentes, a um intervalo de confiança de 95%. Quanto ao aroma, o café do tipo gourmet foi considerado o melhor (média 1,599), sendo que o superior apresentou um nível bom e regular significativo, além do maior consenso por parte dos consumidores (menor desvio padrão e média). Em relação ao sabor (adocicado versus amargo), o tipo tradicional foi considerado mais adocicado e o gourmet mais amargo, sendo o superior, na média, foi considerado como intermediário. Também quanto ao sabor (forte versus fraco), o tradicional se mostrou mais forte e o gourmet mais fraco, sendo que o 113 tipo superior foi considerado intermediário. Analisando conjuntamente o aroma e o sabor, na média, houve pouca diferença entre as amostras, sendo em ordem decrescente de gosto o tipo superior, o tradicional e o gourmet. Apesar de os consumidores, de uma forma geral, terem preferido o café gourmet como o mais gostoso, com relação aos atributos aroma e sabor houve uma diversidade dos resultados que pode demonstrar uma dificuldade de percepção por parte do consumidor em relação a estes atributos. No que tange à s características demográficas e psicográficas do consumidor da amostra pesquisada, alguns aspectos merecem ser destacados conforme a Tabela 5.40. O consumidor que possui o hábito de fumar tem comparativamente maior preferência pelos cafés tipo gourmet (47%) e superior (27%) do que o não fumante, que demonstra maior preferência pelo tipo tradicional (34%). Em relação à quantidade consumida, os heavy users (mais de 5 xícaras) preferiram o superior (27%), enquanto o consumidor leve, de até 3 xícaras diárias, prefere o gourmet (47%), sendo o tradicional comparativamente mais preferido pelo consumidor médio, de 3 a 5 xícaras diárias (36%). A concepção de que o fumante é um consumidor mais freqüente de café (54%) pôde ser constatada na amostra estudada (Tabela 5.40). Tabela 5.40 - Quantidade de Consumo de Café Diário e Hábito Fumar Consumo de xícaras de café por dia Habito de Fumar Total Até 3 xícaras De 3 a 5 xícaras Mais de 5 xícaras Fumante 21,0% 24,2% 54,8% Nao Fumante 38,0% 29,1% 32,9% 34,4% 28,1% 37,5% 114 Total 100,0 % 100,0 % 100,0 % Um resultado importante foi o constatado em relação à idade. Na faixa etária de até 25 anos, o consumidor da amostra considerou significativamente mais preferido o café gourmet (53%), enquanto as demais faixas etárias tiveram um comportamento muito semelhante ao total da amostra. Isto pode significar a possibilidade de segmentação do café gourmet por idade, de modo a atingir um público-alvo mais jovem (Tabela 5.41). Tabela 5.41. Características Psicográficas e Preferência em Relação á Degustação Característica Gourmet Superior Tradicional Fumante Não Fumante 46,7% 42,8% 26,7% 22,9% 26,7% 34,3% Idade Até 25 anos 26 a 35 anos 36 a 45 anos Mais de 45 anos 52,6% 41,0% 41,1% 44,2% 26,3% 23.1% 24,7% 23,0% 21,1% 35,9% 34.2% 32,7% Sexo Feminino Masculino 41,2% 46,5% 24,8% 22,55% 33,9% 31,0% Local São Paulo Belo Horizonte 41,1% 46,0% 22,6% 24,7% 33,9% 29,3% Até 3 Xícaras De 3 Xícaras Mais de 3 Xícaras 47,1% 42,2% 41,3% 20,6% 21,7% 27,5% 32,4% 36,1% 31,2% E D C B2 B1 A2 A1 50,0% 51,2% 37,5% 35,1% 53,2% 38,2% 16,7% 19,5% 17,5% 31,6% 22,1% 25,0% 33,3% 29,3% 45,0% 33,3% 24,7% 36,8% 43,5% 23,5% 33,0% Hábito de Fumar Quantidade Consumida Diariamente Classe Social Tipo Total Quanto ao sexo do entrevistado e ao local da entrevista, ambos mostram um segmento no qual o tipo gourmet, embora de modo não expressivo, é comparativamente o mais preferido (47% para o público masculino e 46% para Belo Horizonte), enquanto que o tradicional é preferido por 34% do público feminino e por 36% dos entrevistados em São Paulo. 115 Por fim, com relação à classe social, todas as faixas etárias têm preferência maior pelo gourmet, com exceção da B2, que possui maior preferência pelo tradicional (45%), o que demonstra pouca variação ou possibilidade de segmentação por atributos degustativos. 5.6. ANÁLISE DE PREFERÊNCIA A análise de preferência (Conjoint Analysis) foi realizada com 200 consumidores nos supermercados, sendo 100 em São Paulo e 100 em Belo Horizonte (Tabelas 5.42 e 5.43). Essa análise é usada para determinar como projetar um produto de interesse para o mercado-alvo (Anexo 2). O objetivo foi verificar a importância dos atributos e a preferência dos seus respectivos níveis. Os atributos e níveis escolhidos e considerados na pesquisa foram: preço do café (R$ 2,00, R$ 3,50 e R$ 5,00); Tipo do café (Especial Gourmet, Especial Orgânico, Tradicional47); Identificação (Marca, Origem Controlada, Pureza); Forma de preparo (Espresso, Coado); e Embalagem (Vácuo e Almofadada). Foram apresentados cartões para os consumidores, com fotos e informações de produtos hipotéticos acondicionados em embalagem de 500g (Anexo 3). Com a ordenação dos cartões de acordo com suas preferências, pode-se determinar a importância de cada atributo, assim como a combinação mais efetiva. Para os cinco atributos escolhidos para a análise, o fator de maior importância na escolha do consumidor foi o preço baixo, com 30%, seguido pela identificação (Pureza) e pelo tipo (Tradicional), ambos com 22%. A menor importância atribuída à escolha do produto recai sobre a forma de preparo (15%) e a embalagem (10%). 47 Vale observar que o tradicional neste caso se opõe ao café orgânico e gourmet. 116 Tabela 5.42 – Importância dos Atributos e as Respectivas Preferências pelos seus Níveis Atributos Preço Tipo Identificação Preparo Embalagem Níveis Preferência Preferência Preferência Toda Amostra Belo Horizonte São Paulo % P* % P % P R$ 2,00 R$ 3,50 R $5,00 30,07 + +- 28,30 + +- 31,67 + +- Orgânico Gourmet Tradicional 22,24 ++ 22,28 ++ 22,19 + +- Origem Pureza Marca 22,41 + +- 23,99 ++ 20,99 ++ - Coado Expresso 14,77 + - 14,32 + - 15,17 + - Almofadada Vácuo 10,52 + 11,10 + 9,98 + Entre os níveis analisados para o atributo preço, a preferência é decrescente à medida que aumenta o valor, o que demonstra uma clara sensibilidade do consumidor aos preços. Para o atributo tipo de café, o preferido foi o tradicional, seguido do orgânico e, por último, o gourmet. A identificação mais preferida é o Selo de Pureza, seguida da Marca e da Origem Controlada. Não houve diferenças no comportamento dos consumidores de Belo Horizonte e São Paulo em relação aos atributos de uma forma geral. Quanto aos níveis, o consumidor da cidade mineira tem preferência pelo café tradicional enquanto o paulista, entre o tradicional e o orgânico, escolheu o último. Isso não significa que ele consuma mais café orgânico, mas caso os preços dos dois cafés (tradicional e orgânico) fossem similares, o consumidor preferiria o orgânico. Com relação à identificação, o consumidor paulista prefere o Selo de Pureza e o mineiro a Marca do café. 117 Por intermédio de uma análise de conglomerados foram identificados três grupos distintos de consumidores (segmentos 1, 2 e 3) em função de sua semelhança quanto à estrutura de comportamento de consumo. Em cada segmento temos consumidores que têm preferências similares com relação aos atributos apresentados nos cartões utilizados na pesquisa de campo, ou seja, os consumidores ordenaram os cartões de modo semelhante. O segmento 3 pode ser considerado menos sensível a preço seguido pelos segmentos 1 e 2. O segmento 1 prefere o tipo tradicional, enquanto o 2 e o 3 preferem o orgânico. O segmento 1 e 3 preferem a identificação de Selo de Pureza enquanto o 2 tem preferência pela Marca. Quanto à forma de preparo, o segmento 2 se diferencia dos demais, preferindo o espresso e no que se refere à embalagem, o segmento 3 também se diferencia, preferindo a almofadada. Essa análise deixa claro que existem diferenças entre as preferências dos consumidores de café e que grupos ou segmentos deveriam ser atendidos por meio de estratégias variadas de diferenciação para elevar a satisfação do consumidor e, ao mesmo tempo, explorar maiores rendas. 118 Tabela 5.43 – Importância dos Atributos e as Respectivas Preferências pelos seus Níveis* Atributos Níveis Preferência Preferência Preferência Preferência Preferência Belo Horizonte São Paulo Segmento 1 Segmento 2 Toda ** ** Amostra %*** U*** * Preço Tipo Identificação Preparo Embalagem R$ 2,00 R$ 3,50 R $5,00 67,6 30,07 22,2 -94,8 Orgânico Gourmet Tradicional Origem Pureza Marca % U % U % U % U Preferência Segmento 3 ** % U 28,30 66,1 68,9 -27,5 184,5 25,6 31,67 28,7 23,78 54,8 32,49 33,9 31,47 -91,7 -97,6 -27,3 -218,4 -142,4 -42,0 184,4 -5,5 22,24 -14,1 19,6 22,28 -48,2 33,2 -161,6 22,01 2,72 22,19 -29,4 25,92 59,1 19,45 -20,07 27,60 45,4 -3,8 102,5 -1,94 134,8 -109,9 -24,9 -31,0 27,0 4,0 23,99 -57,61 -6,9 -28,9 -38,68 25,75 20,99 28,1 19,63 24,4 26,21 9,22 17,90 31,86 -21,2 4,5 29,45 -4,3 55,4 -51,1 22,41 Coado Expresso 14,77 16,9 -16,9 14,32 28,9 15,17 -28,9 6,1 22,56 164,3 -59,06 -6,1 -164,3 12,96 59,06 Almofadada Vácuo 10,52 -9,8 9,8 11,10 -10,8 10,8 -8,8 8,8 9,98 8,11 -20,41 20,41 8,90 8,40 8,21 -8,21 -9,64 14,62 9,64 39,3 -39,3 * Resultados obtidos por meio da técnica multivariada denominada análise conjunta (conjoint analysis). ** Resultados obtidos por meio da técnica multivariada denominada análise de conglomerados (cluster analysis) *** Importância média dos atributos na decisão de compra do consumidor. Calculado em função das amplitudes dos níveis. **** Grau de preferência médio pelos respectivos níveis dos atributos. Calculado em função das amplitudes dos níveis em relação aos demais. O número e o sinal representam o grau de preferência dentro dos atributos (a soma das preferências parciais é igual a zero) 119 5.6.1. DIFERENÇAS ENTRE SÃO PAULO E BELO HORIZONTE Dadas as características diferenciais entre os mercados do Estado de Minas Gerais e de São Paulo, aqui representados pelas capitais Belo Horizonte e São Paulo, respectivamente, houve um maior aprofundamento nos resultados que os diferenciam. São Paulo pode ser considerado um mercado potencial de consumo importante para se enfatizar estratégias de crescimento, enquanto Belo Horizonte é um mercado tradicional, onde, por exemplo, as marcas e as origens do café são bem mais importantes (Tabela 5.43). Tabela 5.44 - Diferenças Comportamentais entre São Paulo e Belo Horizonte Pergunta Resposta São Paulo Belo Horizonte Total Conhece o Selo de Pureza ABIC? Sim 75,0% 83,7% 79,4% Não 25,0% 16,3% 20,6% Sim 54,7% 67,8% 61,3% Não 45,3% 32,2% 38,7% Muito Importante Importante Pouco Importante 86,3% 13,7% - 86,9% 12,4% 0,7% 86,6% 13,0% 0,3% Leva em Consideração o Selo ABIC? Grau de Importância do Sabor Embora o consumidor mineiro dê maior importância à Marca que ao Selo de Pureza que o paulista, na análise de preferência conjunta, quando perguntado diretamente sobre a importância e se leva em consideração o Selo o consumidor mineiro conhece e deu mais importância na decisão de compra (84% e 68%, respectivamente) do que o paulista (75% e 55%, respectivamente). Na consideração das características do café no momento da compra, com exceção da cor, que foi comparativamente considerada em maior magnitude “muito importante” em Minas Gerais (35%) e “importante” em São Paulo (46%) e do corpo da bebida, que foi considerada “muito importante” em Minas Gerais (58%), as demais características se mostraram com comportamentos muito semelhantes. A hipótese que pode ser formulada é a de que essas características (cor e corpo) 121 só são reconhecidas por consumidores com grau de conhecimento maior sobre o café 48 (Tabela 5.44). Tabela 5.45 - Diferenças Comportamentais entre São Paulo e Belo Horizonte: Café Gourmet Pergunta Resposta São Paulo Belo Horizonte Total Aroma do Café Gourmet Bom Regular Ruim 48,6% 35,8% 15,5% 55,6% 34,6% 9,8% 52,2% 35,9% 12,4% Adocicado X Amargo Adocicado Pouco Adocidado Nem Adocidado Nem Amargo Pouco Amargo Amargo Não Sabe % 15,1% 19,9% % 17,6% 16,3% % 16,4% 18,1% 17,8% 28,1% 4,1% 28,8% 26,1% 0,7% 23,4% 27,1% 2,3% Forte X Suave Forte Pouco Forte Nem Forte Nem Suave Pouco Suave Suave Não Sabe 17,0% 10,9% 15,6% 10,2% 44,2% 2,0% 10,5% 20,9% 19,6% 24,2% 24,2% 0,7% 13,7% 16,0% 17,7% 17,3% 34,0% 1,3% Opinião Sobre Aroma e Sabor Gostou Achou Razoável Não Gostou 37,7% 34,2% 28,1% 39,2% 30,7% 30,1% 38,5% 32,4% 29,1% Quanto às amostras degustadas, na opinião do consumidor mineiro o café gourmet tem melhor aroma (56% considerado bom), é mais forte (31%49) e mais amargo (55%50), em relação à opinião dos paulistas. Não houve diferença significativa na opinião conjunta sobre aroma e sabor. Este fato pôde ser constatado na pesquisa de campo onde afirmações como “café não tem a mesma cor?” enfatizaram a dificuldade de percepção desta característica. 49 Somatório das porcentagens consideradas como forte e pouco forte, procedimento que será adotado nos próximos resultados. No caso paulista 44,2% consideraram fraco contra apenas 24,2% dos mineiros. 50 Somatório das porcentagens consideradas como amargo e pouco amargo. 48 122 Tabela 5.46 - Diferenças Comportamentais entre São Paulo e Belo Horizonte: Café Superior Pergunta Resposta São Paulo Belo Horizonte Total Aroma do Café Gourmet Bom Regular Ruim 44,5% 42,5% 13,0% 47,1% 42,5% 10,5% 45,8% 42,5% 11,7% Adocicado X Amargo Adocicado Pouco Adocidado Nem Adocidado Nem Amargo Pouco Amargo Amargo Não Sabe 12,9% 17,7% 16,3% 15,0% 27,5% 18,3% 14,0% 22,7% 17,3% 21,8% 26,5% 4,8% 26,8% 12,4% - 24,3% 19,3% 2,3% Forte X Suave Forte Pouco Forte Nem Forte Nem Suave Pouco Suave Suave Não Sabe 20,5% 16,4% 13,7% 21,2% 25,3% 2,7% 11,8% 19,6% 13,1% 28,1% 27,5% - 16,1% 18,1% 13,4% 13,4% 24,7% 1,3% Opinião Sobre Aroma e Sabor Gostou Achou Razoável Não Gostou 33,3% 43,1% 23,6% 46,4% 31,4% 22,2% 40,1% 37,0% 22,9% O café superior (Tabela 5.46) mostrou praticamente a mesma percepção sobre o aroma nas duas capitais e foi, comparativamente, considerado mais adocicado (44%) e mais forte (56%) pelo consumidor mineiro51. Na opinião conjunta sobre aroma e sabor, o resultado de Belo Horizonte teve maior proporção de “gostou”, com 46%, contra 33% dos consumidores de São Paulo. Por fim, o café tradicional (Tabela 5.47) foi considerado pelo consumidor de Minas Gerais ligeiramente melhor (45% contra 41% de São Paulo), mais adocicado (42%) e mais fraco (46%). A relação antagônica mais evidente foi o contraste entre forte e fraco no café tradicional. Parece haver uma associação pelo consumidor paulista entre o café tradicional e a característica de ser forte. Embora 51 21% dos consumidores de São Paulo consideraram o café superior forte contra apenas 12% dos de Belo Horizonte. 123 com uma porcentagem elevada de “gostou” (42%, em São Paulo e 43%, em Belo Horizonte) em relação ao aroma e sabor, o café tradicional foi considerado pior pelos mineiros (35%, contra 28% para os paulistas). Tabela 5.47 - Diferenças Comportamentais entre São Paulo e Belo Horizonte: Café Tradicional Pergunta Resposta São Paulo Belo Horizonte Total Aroma do Café Gourmet Bom Regular Ruim 40,7% 31,0% 28,3% 45,4% 29,6% 25,0% 43,1% 30,3% 26,6% Adocicado X Amargo Adocicado Pouco Adocidado Nem Adocidado Nem Amargo Pouco Amargo Amargo Não Sabe 12,5% 12,5% 18,1% 16,3% 26,1% 24,8% 14,5% 19,5% 21,5% 22,9% 27,8% 6,3% 12,4% 18,3% 2,0% 17,5% 22,9% 4,0% Forte X Suave Forte Pouco Forte Nem Forte Nem Suave Pouco Suave Suave Não Sabe 28,8% 22,6% 11,6% 9,6% 27,4% - 15,7% 16,3% 20,9% 20,3% 26,1% 0,7% 22,1% 19,4% 16,4% 15,1% 26,8% 0,3% Opinião Sobre Aroma e Sabor Gostou Achou Razoável Não Gostou 42,3% 29,6% 28,2% 42,5% 22,9% 34,6% 42,4% 26,1% 26,1% Conforme apresentado anteriormente, embora na mesma ordem crescente de preferência (gourmet > tradicional > superior), os cafés gourmet (41%) e superior (25%) são comparativamente os mais preferidos pelo consumidor mineiro, enquanto a preferência dos paulistas pelo tradicional é mais elevada (36%). O Quadro 5.47 resume as principais conclusões relativas à pesquisa de campo com os consumidores. 124 Quadro 5.48 – Principais conclusões das entrevistas com os consumidores • Principais conclusões A maior parte dos consumidores conhece e leva em conta o Selo Pureza no momento da compra; • Os principais critérios na escolha do café são sabor (25%) e marca (23%); • A grande maioria dos consumidores se mostrou sensibilizada a pagar mais por um café de melhor qualidade; • Na degustação, o café tipo gourmet foi considerado mais gostoso que os demais tipos, com 43% de preferência, seguido pelo tradicional (32%) e pelo superior (23%); • Com relação aos atributos aroma e sabor, houve na degustação uma diversidade dos resultados que pode demonstrar uma dificuldade de percepção por parte dos consumidores quanto a estes atributos; • Na análise de preferência, o fator de maior importância na escolha do consumidor foi o preço baixo com 30%, seguido pela identificação (Pureza em relação à Marca e Origem Controlada) e pelo tipo (tradicional, no que se refere ao café gourmet e orgânico), ambos com 22%. Com a menor importância na escolha do produto estão a forma de preparo (15%) e a embalagem (10%); • A análise dos consumidores, tanto na degustação como nas preferências, indica que eles estão preparados para o consumo de cafés especiais, mas têm pouca percepção sobre suas diferentes características. 125 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O potencial de crescimento do consumo de cafés especiais e suas conseqüências positivas sobre o agronegócio café no Brasil motivaram a presente pesquisa. Ao longo da caracterização e análise dos segmentos do agronegócio dos cafés especiais foram identificados diversos fatores que poderão subsidiar futuras ações no sentido de fomentar o consumo do produto e melhorar a sua eficiência e competitividade. A seguir estão colocadas as principais conclusões da pesquisa e as ações que delas decorrem: • A grande maioria dos consumidores se mostrou sensibilizada a pagar mais por um café de melhor qualidade, entretanto o preço baixo é o fator de maior importância na escolha do consumidor Os resultados indicam que, embora o consumidor esteja disposto a pagar mais por um café de melhor qualidade, existe uma clara dificuldade de perceber os diferentes níveis de qualidade dos cafés vendidos atualmente no varejo. Seja porque não há realmente uma distinção significativa no padrão médio dos cafés vendidos nos supermercados, ou porque o consumidor não tem informação suficiente para entender tais diferenças. Na pesquisa, muitos consumidores chegaram a perguntar o que significava café orgânico. São, também, evidências importantes os resultados da degustação que mostraram a dificuldade de percepção das diferenças dos atributos sensoriais (aroma e sabor) entre os três tipos pesquisados: gourmet, superior e tradicional. Ou seja, o consumidor pagaria mais desde que esteja muito claro para ele que existe diferença perceptível entre os produtos. Ações: Aumentar a capacidade de distinção da percepção destes atributos tanto em seus aspectos tangíveis como nos intangíveis. 126 • Na degustação, o café tipo gourmet foi considerado o mais gostoso, seguido pelo tradicional e superior Embora tenha havido diversidade dos resultados com relação aos atributos aroma e sabor, que indicaram a dificuldade de percepção dos consumidores dos diferentes cafés degustados, o café gourmet foi escolhido como o mais gostoso, com um elevado índice de confiabilidade estatística. Esse resultado rompe com um mito de que o consumidor brasileiro não estaria preparado para apreciar cafés de qualidade. O argumento utilizado é de que como o café é um hábito e como o consumidor brasileiro está, de uma forma geral, ”acostumado” com cafés de baixa qualidade, ele não apreciaria um café de qualidade superior52. A degustação, entretanto, indica que o consumidor está preparado para o consumo de cafés especiais, mas tem pouca percepção sobre as diferentes características deles. Ações: Campanhas institucionais de esclarecimento. O fortalecimento das regras de rotulagem e/ou certificação deveria ser adotada, visando esclarecer o consumidor, além de estratégias individuais para disponibilizar e mostrar os cafés especiais para o mercado. Ou seja, há uma necessidade de maior informação para o consumidor quanto às características e padrões de qualidade de modo a melhorar sua percepção e com isso melhorar o posicionamento das marcas em cada segmento. • Principais critérios na escolha do café são sabor e marca Os dois atributos estão relacionados à experiência passada na determinação da compra. A reputação e a constância de padrões leva à associação entre sabor preferido e fidelidade à marca. Em uma das reuniões da Câmara Setorial do Café foi levantado o argumento de que o governo não poderia acabar com os leilões oficiais, pois o consumidor brasileiro já estava acostumado com blends elaborados com estes cafés e se fossem retirados o consumo iria cair. Embora se saiba que a razão para a manutenção dos leilões é política (linha de crédito embutida no processo) o argumento utilizado reforça esse mito. 52 127 Ações: Estratégia individual (firma) no sentido de manutenção do padrão de qualidade. A clara identificação do padrão e sua estabilidade, combinados cominvestimentos em outros elementos de diferenciação mais tangíveis e de mais fácil compreensão e percepção por parte do consumidor, pode melhorar a diferenciação percebida e valorizada. • A decisão de consumo é na sua maioria definida pela vontade Isso demonstra a ausência de estratégias de estímulo ao aumento do consumo induzido ou pró-ativo, defendidas por muitos estrategistas de marketing como sendo as mais eficazes, principalmente nos pontos de venda. Ações: Ações de merchandising em locais específicos para incentivar a compra por impulso e investimentos em pesquisas que identifiquem e segmentem os sabores mais preferidos pelos consumidores. Estratégias de indução ao consumo de cafés em determinados momentos podem ser adotadas. • A maior parte dos consumidores conhece e leva em consideração o Selo Pureza no momento da compra Os investimentos da Associação Brasileira da Indústria de Café ao longo dos anos 90 sedimentou uma imagem positiva do Selo de Pureza para os consumidores, de forma que a maioria deles o leva em consideração no momento da compra. Ações: Estratégias coletivas visando o aumento do consumo geral de café deveriam aproveitar a imagem positiva do Selo de Pureza. Na verdade esse selo é mais importante para os cafés médios e inferiores, já que identifica apenas pureza. Os cafés especiais podem prescindir do selo, mas teriam que manter padrões bem definidos e estáveis. 128 • Na análise de preferência foram identificados grupos distintos de consumidores: os mais sensíveis a preços, às marcas ou ao Selo Pureza Como era de se esperar, a análise deixa claro que existem diferenças entre as preferências dos consumidores de café. Grupos ou segmentos deveriam ser atendidos por meio de estratégias variadas de diferenciação para elevar a satisfação do consumidor e, ao mesmo tempo, explorar rendas. Vale observar que a pesquisa foi realizada em supermercados de classe média – alta, no qual o preço tem uma importância relativa. Ações: As firmas deveriam adotar estratégias de segmentação do mercado buscando discriminar preços de acordo com as preferências dos consumidores. • Não há um consenso entre as torrefadoras do que seja cafés especiais no que diz respeito a cafés de qualidade superior A falta de uma ”linguagem comum” acerca do que é relevante para cada segmento pode dar margem à utilização do nome (cafés gourmet, orgânico, de origem, etc.) sem fazer jus ao conteúdo. A inexistência de regras que coíbam ações oportunistas também pode comprometer o crescimento do mercado de cafés especiais. Está faltando a definição de padrões e instrumentos de monitoramento e controle do seu uso. O orgânico tem uma legislação própria, com regras de certificação e acreditação. No entanto, outros cafés como o que se chama de gourmet ainda precisa de definição. Ações: Estudo e criação de regras muito bem definidas com relação à certificação e à sua operacionalização para sinalizar aos consumidores de forma clara os atributos desejados em cada segmento de mercado. 129 • Boa parte das torrefadoras processa café tradicional de forma exclusiva e não tem expectativa de ingressar no mercado de cafés especiais no mercado interno e externo. A concorrência desleal foi citada como um dos fatores que impedem o investimento em especialidades. São enormes as possibilidades de diferenciação e segmentação do café. Os atributos relacionam-se a uma gama variada de conceitos que vão desde a qualidade intrínseca da bebida até características que promovam a preservação ambiental e a responsabilidade social. Esses aspectos podem se mostrar de modo isolado ou em diferentes combinações, como por exemplo, no café gourmet orgânico. A presença destes e de outros atributos revertem em agregação de valor e conferem características de especialidade ao produto. Apesar da maioria das empresas acreditarem no crescimento do mercado de cafés especiais, boa parte delas são céticas quanto ao seu próprio crescimento neste mercado. Isso pode ser atribuído à sua incapacidade financeira de arcar com investimentos necessários para diferenciar o seu produto. Além disso, algumas torrefadoras argumentaram que nas regiões em que atuam não há mercado para cafés especiais e/ou a concorrência desleal inibe tais estratégias. Com relação ao mercado externo, os investimentos são ainda maiores, particularmente os que referem às transações. Ações: Fontes de financiamento para capacitação das empresas torrefadoras e ações conjuntas entre produtores rurais, torrefadores e pequeno varejo, com o objetivo de reduzir custos de transação para a criação de mercados alternativos de consumo de cafés especiais, como as cafeterias, e para o ingresso no mercado internacional de café torrado deveriam ser adotas. Estudo sobre os canais alternativos de comercialização no mercado internacional devem ser realizados, aproveitando a tendência do consumidor valorizar a procedência (rastreabilidade) do produto. A inserção no mercado internacional poderia ocorrer por meio de um pool de empresas pequenas e produtores rurais de grupos estratégicos bem definidos, a exemplo do que tem sido realizado, embora ainda de forma incipiente, 130 pela Brazil Specialty Coffee Association (BSCA) e Santo Antonio Estate Coffee (SAEC). No mercado nacional deve-se adotar ações no sentido de fortalecer o varejo de qualidade • Mercado consumidor ainda restrito O consumo de cafés especiais no mercado interno é incipiente, embora tenha apresentado um crescimento acelerado nos últimos dois anos. Como se sabe, vários anos de regulamentação determinaram que os brasileiros consumissem apenas o refugo da produção nacional de café, ou seja, a parcela da produção que não alcançou condições mínimas para ser exportada. Fica evidenciado o seguinte dilema: “o mercado de cafés especiais não se desenvolve e se torna atrativo por que não se investe nele, ou ele não se investe porque ele ainda não é atrativo.” Convém, entretanto, lembrar que cafés diferenciados só terão maior valor enquanto forem voltados a segmentos e nichos. Portanto, não é mesmo um produto de consumo de massa Ações: Estratégias privadas, públicas e coletivas que incentivem a produção e transmitam informação para o consumidor. • O consumidor brasileiro tem conceitos equivocados, como o de identificar qualidade com café extra forte e não sabe o que é café orgânico O histórico de consumo de cafés de baixa qualidade, como os torrados de forma excessiva, levou uma grande parte dos consumidores a associar café forte com café de qualidade, pois rende mais. Ações: Campanhas de esclarecimentos para mudar tais “crenças” consolidadas junto ao consumidor. A preferência menor pelo tipo de café orgânico e gourmet deve-se ao fato de serem produtos novos, que demandam estratégias de longo prazo para permitir a experiência e mudança de hábito. 131 • A maior parte das torrefadoras não utiliza tecnologia de informação, o que os deixa muito atrasados em comparação com o varejo O grande varejo argumenta que as torrefadoras, de uma forma geral, estão muito defasadas tecnologicamente, o que dificulta as negociações. No caso das empresas utilizam que ECR (Efficient Consumer Response), as relações entre o varejo e as torrefadoras são muito mais eficientes para ambos, com redução de estoques e melhor programação das compras. Ações: Investimentos em tecnologia de informação. Pode-se também citar o exemplo do programa Sincovaga que organiza um pool de empresas de pequeno porte para negociar com os supermercados e viabilizar a adoção de transmissão eletrônica de dados. • A produção de cafés especiais implica em aumento dos custos de produção e tratos culturais mais complexos Apesar de compensar os investimentos, a produção de cafés especiais demanda maior aporte de recursos e apresenta custos mais elevados. Ações: Financiamento de custeio e investimento, pesquisa, capacitação da mãode-obra, campanhas de qualidade da produção, com ênfase na colheita e póscolheita. • A certificação, além de valorizar do produto e garantir a existência de algum atributo, é uma exigência do mercado exterior. É crescente a necessidade de certificação para atributos sociais e ambientais Isso decorre, basicamente, da dificuldade que o consumidor enfrenta, na hora da compra, para identificar o atributo desejado. A garantia de que o produto foi rastreado ao longo do processo produtivo representa um fator de diferenciação do produto e de sua competitividade. 132 Ações: Marketing institucional, além do fortalecimento e difusão de padrões de produção que protejam o meio ambiente e promovam a responsabilidade social. O uso de certificados é necessário nos casos de padrões associados a processos. Ações coletivas no sentido de estabelecer regras de acreditação e certificação, compatíveis com as internacionais serão imprescindíveis. Dentro das propostas de ações apresentadas o Sebrae-MG teria papel importante no sentindo de promover o ainda incipiente segmento de cafés especiais em Minas Gerais. Esse segmento tem uma importante característica que se ajusta à missão do Sebrae, ao abrir possibilidades reais de sobrevivência para pequenos e médios empresários, seja na produção rural, na torrefação, ou no varejo. Os nichos de mercado representam uma das poucas alternativas que podem fazer frente à escala das grandes empresas. Na pesquisa foi possível identificar áreas de cultivo de cafés especiais de 12 ha a mais de 3 mil ha, além de pequenas torrefadoras atuando nesse mercado. Além disso, o mercado de cafés especiais no Brasil também está levando a mudanças nas regras de negociação entre fornecedores e produtores, proporcionando receitas mais estáveis e menos voláteis, o que demostra uma melhor coordenação entre os elos do agronegócio. A identidade dos agentes tornase relevante nas negociações, criando incentivos para relações de longo prazo. Nas vendas nas cafeterias ao contrário dos canais tradicionais de venda, por exemplo, há um relacionamento direto com o consumidor. Assim, a fixação de preços dos cafés especiais adquire uma lógica própria, menos vinculada às variações especulativas das bolsas de mercadorias. É por esse motivo que o investimento em cafés especiais não se reduz à oferta de um produto de maior valor agregado para uma pequena parcela da população brasileira. Mais do que isso, representa a possibilidade de traçar estratégias que contêm um importante apelo: a possibilidade de geração de emprego e renda para 133 o agronegócio café do Brasil. Nesse cenário, os investimentos em capacitação dos agentes em todas as etapas de produção são muito importantes. 6.1 QUESTÕES PARA APROFUNDAMENTO E SUGESTÕES PARA NOVOS ESTUDOS Dado seu caráter exploratório, o estudo levantou algumas questões que poderão ser aprofundadas em outras pesquisas enfocando o hábito de outros segmentos de consumidores, como os de outros estados e os de café espresso, por exemplo, ou ainda em outros locais de consumo da bebida, como restaurantes e cafeterias. É preciso elaborar ações que visem definir padrões consensuais de qualidade sob o aspecto do produtor, do torrefador, do varejo e do consumidor. Dada a grande variedade dos interesses e as dificuldades enfrentadas pelos agentes envolvidos, é imprescindível articular estratégias coletivas de longo prazo, de maior abrangência, escala e escopo. Além da qualidade, é possível identificar outros elementos de diferenciação que podem ser explorados, seja com relação ao produto, a serviços, a pessoal, a canal de distribuição e imagem. Alguns exemplos passam: a) pela identificação e caracterização das vantagens e desvantagens dos diversos canais de distribuição, como os supermercados, cafeterias, internet, restaurantes, entre outros; b) pela compreensão do comportamento do consumidor nos diferentes canais de comercialização; c) pela identificação e caracterização do público apreciador dos cafés de qualidade e definição de uma estratégia de mercado a ele direcionada; d) pelo estudo do mercado internacional na distribuição e nos canais alternativos; e) pelo estudo do mercado de café verde e torrado e moído, que defina estratégias de segmentação: diferentes cafés especiais para diferentes públicos, requer a definição de estratégias específicas de comunicação e marketing; f) pela identificação de posicionamentos distintos; e g) pela caracterização da atratividade dos diversos mercados segmentados, ente outros. 134 Finalmente, sugere-se que seja realizado um Workshop com os agentes envolvidos no agronegócio cafés especiais, tendo por base esse documento, como forma de submeter as propostas ao setor e recolher mais sugestões de ações. Espera-se assim contribuir para sua maior divulgação e discussão. 135 7. REFERÊNCIAS ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café. “Características da Indústria de Café Torrado e/ou Moído”. Abril de 1998. ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café. “Desafios e Otimismos”. Jornal do Café, ano 9, nº 102, junho de 2000: 6-12. ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CAFÉ 2000/01, Coffee Business, 2001: 47 CARDOSO, D. “Ascensão dos Cafés Tipo Gourmet”. Gazeta Mercantil. Finanças & Mercado, 4 de junho de 2001. CERTIFICAÇÃO É O CAMINHO. Café & Cultura: Revista dos Cafés do Brasil, ano I, número 2, março de 2000. DIAGNÓSTICO DA CAFEICULTURA EM MINAS GERAIS/FAEMG. Belo Horizonte: FAEMG, 1996, 52 P. DICUM, G.; LUTTINGER, N. (1999) The Coffee Book: anatomy of na industry from crop to the last drop. New York: The New York Press, 196p. DOUGLAS, Evan J. Managerial Economics: Analysis and Strategy. 4th ed., New Jersey: Prentice-Hall International Editions, 1992. 655p. ESTADO DE MINAS. 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F. “Illycafè: Coordenação em Busca da Estudos de Caso em Pioneira/Pensa, 1997. 138 Agribusiness (E. FARINA, coord.) ANEXO 1 1. QUESTIONÁRIO - PRODUTORES DE CAFÉS ESPECIAIS Nome Endereço Tel/Fax E-mail Nome da propriedade Município Área da propriedade ha Participação da área com café % Quantidade de café produzida: Ano Atual (00/01) Ano Anterior (99/00) Espécie: Robusta % Arábica % Variedades Plantadas na fazenda: Catuaí _______% Mundo Novo ______% Bourbon ________% Acaiá____% Obatã _____% Catucaí ____% Icatu ___% Catimor ___% Iapar 59__ __% Outras ___% 1) O que o Sr.(a) entende por cafés especiais? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 2) Já participou de algum concurso? ( ) sim ( ) não 2.1 Se sim, qual? ________________ Em que ano?_______ Foi classificado?_______ 3) Como o Sr.(a) vende o seu café produzido na sua propriedade? ( ) café em ( ) bica corrida ( ) rebeneficiado na fazenda / ou em outro local coco 4 ) Quais as vantagens de produzir cafés especiais? ( ) Diferencial maior de preço com relação ao café tradicional ( ) Maior facilidade de acesso ao mercado internacional ( ) Menor dependência dos canais tradicionais de comercialização ( ) Relacionamento diferenciado com os compradores ( ) Planejamento das vendas e da fixação de preços Outras. Especificar: _________________________________________________________ 5) ( ( ( ( Quais são as desvantagens de produzir cafés especiais? ) Custo maior de produção ) Preço elevado, restringindo o mercado consumidor ) Tratos culturais mais complexos ) Outras. Especificar: _________________________________________ 6) O Sr. conhece a qualidade da bebida de seu café? ( ) sim ( ) não 6.1 Se sim, indique a porcentagem de cada tipo de bebida no total: Estritamente mole ______% Mole ______% Dura ______% Rio/ Riada _______% 7) Sr.(a) produz café orgânico? ( ) Sim ( ) Não 8) Caso o Sr.(a) seja produtor de café orgânico, qual o diferencial médio de preços em relação aos demais cafés produzidos em sua propriedade _____% 139 9) Caso o Sr.(a) seja produtor de café orgânico, qual o diferencial médio de custos em relação aos demais cafés produzidos em sua propriedade ______% 10) Se sim, qual é a importância relativa do café orgânico no total de café produzido pela propriedade? Orgânico _____% 11) Indique o preço médio e o número de sacas vendidas (no último ano) Tipo (defeitos) 2/3 4/6 7/8 Abaixo Total Em sacas Preço Médio % Renda Gerada 12 ) Para cada tipo de café produzido na propriedade, indique a % vendida para cada tipo de comprador. COMPRADOR Corretor Cooperativa Indústria Nacional Indústria Internacional Exportadores/traders Outros Total 2/3 % % % % % % 100% 4/6 % % % % % % 100% 7/8 % % % % % % 100% Abaixo % % % % % % 100% Total % % % % % % 100% 13) Para que novos clientes gostaria de vender o seu café? Por que ainda não teve acesso a esses compradores? _________________________________________________________________________ 14) Qual é a forma de beneficiamento: Natural ___% Descascado _____% Desmucilado ______% 15) Se há aumento relevante de custos para produzir cafés de qualidade superior, a que fatores se deve esse aumento? ( ) Reforma/construção do terreiro ( ) Compra de equipamentos para beneficiamento ( ) Reforma/construção do armazém ( ) Mudanças no método de beneficiamento ( ) Tratos culturais ( ) Outros. Especificar:__________________________________________________________ 16) Se houve mudanças nos métodos de beneficiamento para produzir cafés de qualidade superior, aponte as principais alterações introduzidas: ( ) Passou a descascar (despolpar) ( ) Passou a separar os boia dos verdes e cerejas ( ) Passou desmucilar ( ) Outros. Especificar: __________________________________________________________ 17) Os seus cafés possuem algum tipo de certificação? ( ) sim ( ) não 18) Se sim, qual o tipo de certificação que possui? Orgânico: _________ Origem: ____________ Specialty: ___________ Outro:________ 140 19) Qual a importância da certificação na venda de seus cafés? _______________________________________________________________________________ 20) Quais as expectativas do Sr.(a) quanto a evolução do mercado de cafés especiais no país e no mercado externo? Interno:________________________________________________________________________ Externo:________________________________________________________________________ 20) Quais as expectativas do Sr.(a) quanto a evolução da sua participação no mercado de cafés especiais (mercado interno e externo)? Interno: ________________________________________________________________________ Externo:________________________________________________________________________ 3 - Roteiro de entrevista- Associações de produtores de cafés especiais Associação: ______________________________________ Telefone: ___________ Nome do entrevistado: ______________________________ Cargo: ____________ Localização: ______________________________________ e-mail: _____________ 1. Como o Sr. define cafés especiais (exceto Orgânicos)? 2. Que estimativas o Sr. tem sobre a participação média da produção de cafés especiais no total de cafés produzidos no país (com base nos últimos dois anos)? 3. Que estimativas o Sr. tem sobre a participação média da produção de cafés orgânicos no total de cafés produzidos no país (com base nos últimos dois anos)? 4. E quanto a participação média da produção de cafés especiais da sua associação, em relação ao total de cafés especiais produzidos no país (com base nos últimos dois anos)? 5. E quanto a participação média da produção de cafés orgânicos da sua associação, em relação ao total de cafés especiais produzidos no país (com base nos últimos dois anos)? 6. Que estimativas o Sr. tem sobre o destino dos cafés especiais para os mercados interno e externo? 7. Que estimativas o Sr. tem sobre o destino dos cafés orgânicos para os mercados interno e externo? 8. Na opinião do Sr., quais os fatores que motivam a produção de cafés especiais? E quais os fatores que desmotivam? 9. Na opinião do Sr., quais os fatores que motivam a produção de cafés orgânicos? E quais os fatores que desmotivam? 10. Na opinião do Sr., quais os fatores que motivam a comercialização de cafés especiais? E quais os fatores que desmotivam? 11. Na opinião do Sr., quais os fatores que motivam a comercialização de cafés orgânicos? E quais os fatores que desmotivam? 12. Em se tratando do mercado interno, quais são os principais compradores dos cafés especiais? E quanto aos orgânicos? Como o Sr. caracterizaria as relações com esses compradores? 13. Quais as expectativas do Sr.(a) em relação à evolução do mercado de cafés especiais no país? E quanto aos cafés orgânicos? 14. Qual a importância da certificação para o mercado de cafés especiais? Qual a parcela de seus associados que possuem certificação? O que o Sr. acha da iniciativa do IMA, quanto ao CERTICAFÉ? E quanto a idéia de certificação da propriedade e do produtor, o Sr. aprova? Por que? 141 15. Como o Sr. avalia a importância e o papel da publicidade/marketing para o desenvolvimento do mercado de cafés especiais no Brasil? No seu entendimento, qual deveria ser a abordagem mais adequada a ser utilizada para sensibilização do consumidor? 4 - Questionário - Torrefadoras de Minas Gerais Empresa: ________________________________________ Telefone: ___________ Nome do entrevistado: ______________________________ Cargo: ____________ Localização: _____________________________________ e-mail: _____________ 1. ( ( ( Quais são os tipos de café oferecidos pela empresa? ) Gourmet ( bebida mole ) ) Superior ( adstringente de bebida dura ) ) Tradicional ( sabores medicinais de bebida riada ou rio ) 2. Qual é a composição usual dos blends processados pela empresa? (Indicar o percentual para cada tipo de café processado) Tipos de Cafés Gourmet Superior Tradicional Robusta Arábica 3. O Sr.(a) processa café orgânico? ( ) Sim ( ) Não Se sim, aponte, dentre os tipos de café que processa, quais são orgânicos? (marque com um x) TIPOS DE CAFÉ Gourmet (bebida mole) ORGÂNICO Superior (adstringente de bebida dura Tradicional (sabores medicinais de bebida riada ou rio) 3. O que o Sr (a) entende por café especial? ________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 4. O Sr. torra café especial? ( ) sim ( ) não 4.1 Se não, por que? ___________________________________________________________ 5. A torra de cafés especiais na empresa ocorre de forma: ( ) Regular ( ) Irregular ( ) Não torra cafés especiais 5.1 Se a torra não é regular, aponte as duas principais razões para isso: ( ) a oferta do grão é irregular ( ) a qualidade do grão é irregular ( ) o preço do grão é instável ( ) os distribuidores / varejistas não têm uma política definida quanto à revenda do produto ( ) Acredita que os consumidores não tem interesse em comprar este tipo de café ( ) outro. Especificar: ____________________________________________________ 142 6. Quais as vantagens de processar cafés especiais? ( ) Diferencial maior de preço com relação ao café tradicional ( ) Relacionamento diferenciado com os compradores ( ) Planejamento das vendas e da fixação de preços Outras. Especificar: ______________________________________________________ 7. ( ( ( Quais são as desvantagens de processar cafés especiais? ) Custo maior de processamento ) Preço elevado, restringindo o mercado consumidor ) Outras. Especificar: _________________________________________________ 8. Qual a importância relativa de cada tipo de café (gourmet, superior, tradicional) torrado pela empresa? (indicar a participação percentual no total processado e na renda gerada, com base no último ano) TIPO Participação no último ano Segundo o total Segundo produzido a renda total gerada (Em %) (Em Kg) (Em %) Gourmet (bebida mole) Superior (adstringente de bebida dura) Tradicional (sabores medicinais de bebida riada ou rio) Total 100% 100% 9. Qual o percentual dos diversos tipos de café (gourmet, superior, tradicional) submetidos a cada tratamento (torrado e moído, torrado em grãos, para espresso)? Tipo Café torrado e Café torrado em grãos Café torrado e moído moído para espresso Gourmet (bebida mole) % % % Superior (adstringente de bebida dura) % % % Tradicional (sabores medicinais de % % % bebida riada ou rio) Total 100% 100% 100% 10. Qual o diferencial de preço de venda entre os cafés Gourmet / Superior e os cafés tradicionais processados pela empresa? (Indicar o percentual para + ou para - de cada tipo de café em relação ao tradicional) Gourmet ⇒ Tradicional: _____% Superior ⇒ Tradicional: _____% 11. Qual é o diferencial de preços entre a saca de café comprada para processar os cafés Gourmet / Superior e os da saca destinada ao processamento do café tradicional? (Indicar o percentual para + ou para - de cada tipo de café em relação ao tradicional) Gourmet ⇒ Tradicional: _____% Superior ⇒ Tradicional: _____% 12. Caso o Sr.(a) processe café orgânico, qual o diferencial médio de preços em relação aos demais cafés processados pela empresa (gourmet, superior ou tradicional) ? (Indicar o percentual para + ou para -) Orgânico ⇒ Gourmet: ____% Orgânico ⇒ Superior: ____% Orgânico ⇒ Tradicional: ____% 143 13. Para cada tipo de café adquirido (gourmet, superior, tradicional) pela empresa, indique o percentual obtido junto a cada natureza de fornecedor. Fornecedor Gourmet Superior Tradicional Corretor % % % Cooperativa % % % Direto do produtor % % % Exportadores % % % Leilão do governo % % % Outros % % % Total 100% 100% 100% 14. Se a empresa processa os cafés orgânicos processados pela empresa, aponte a natureza do fornecedor. ( ) Não processa Fornecedor Orgânico Corretor % Cooperativa % Direto do produtor % Exportadores % Leilão do governo % Outros % Total 100% 15. A empresa mantém contratos formais de fornecimento de cafés especiais junto ao produtor? ( ) sim ( ) não Se não, por que? ______________________________________________________________________ 16. Quanto às relações mantidas com os produtores de café, existe integração relevante da empresa com esses fornecedores? ( ) Sim ( ) Não 17. Se sim, quais as iniciativas relacionadas com esse processo de integração? Visitas ao local de produção ( ) sim ( ) não Troca de experiências sobre aspectos técnicos da produção ( ) sim Outras. Especificar: __________________________ ( ) não 18. Como a empresa se posiciona quanto à certificação dos cafés que adquire? Exige certificação de qualidade do grão ( ) sim ( ) não Exige certificação de origem do grão ( ) sim ( ) não 19. No caso de a empresa processar o café gourmet e/ou superior, há preferência em adquirir a matéria prima de alguma região produtora específica? ( ) sim. Qual? _____________________________ Por que?_______________________________________ ( ) não. Por que? __________________________________________________________________________ 20. Variações na safra e/ou no preço do grão interferem nos resultados da empresa? ( ) sim ( ) não 20.1. Se sim, de que forma? ( ) na composição do blend ( ) na rentabilidade do negócio 144 ( ) na política de comercialização ( ) outros. Especificar: ___________________________________________________ 20.2. Se não, como a empresa garante a qualidade do blend? ( ) mantendo estoques de segurança ( ) garantindo suprimento pelos fornecedores mediante contrato formal ( ) garantindo suprimento pelos fornecedores mediante negociação informal ( ) Outros. Especificar:___________________________________________________ 21. A empresa tem provador contratado, com curso de prova ? ( ) sim ( ) não 21.1. Se não, qual a solução utilizada? ( ) terceiriza a tarefa ( ) os próprios proprietários fizeram o curso ( ) confia no vendedor ( ) outros. Especificar: ___________________________________________________ 22. Qual é o destino do café comercializado pela sua empresa, segundo cada tipo de café (gourmet, superior, tradicional)? (indicar a participação percentual de cada destino para cada categoria processada ) Destino Municipal (próprio município) Estadual Nacional Internacional Total Gourmet Superior % % % % 100% Tradicional % % % % 100% % % % % 100% 23. Qual é o destino do café orgânico comercializado pela sua empresa? (indicar a participação percentual de cada destino indicado) ( ) Não comercializa café orgânico Destino Municipal (próprio município) Estadual Nacional Internacional Total Orgânico % % % % 100% 24. Para que tipo de estabelecimento a empresa vende os cafés, segundo a categoria processada? (informar em porcentagem) Varejista Total do café processado Gourmet Superior Tradicional Grandes redes de supermercados % % % % Supermercados de bairro % % % % Cafeterias % % % % Padarias % % % % 145 Vendas institucionais % % % % Outros % % % % Total 100% 100% 100% 25. Para que tipo de estabelecimento a empresa vende o café, orgânico? (informar em porcentagem) Varejista Orgânico Grandes redes de supermercados % Supermercados de bairro % Cafeterias % Padarias % Vendas institucionais % Outros % Total 100% 100% 26. Como o Sr. considera a relação da empresa com os supermercadistas? ( ) conflituosa ( ) profissional ( ) parceria ( ) outro: ______________ 27. Em que condições são firmados os contratos com os supermercadistas? Degustação ( )Sim ( ) Não Consignação ( ) Sim ( ) Não Prazo de entrega _______ dias Período de fornecimento _______ meses Prazo de pagamento _______dias 28. Estas condições são diferentes para os cafés especiais? ( ) Sim ( ) Não Em que circunstâncias? _______________________________________________________________________ 29.Quais as expectativas do Sr.(a) em relação à evolução do mercado de cafés especiais no país? ______________________________________________________________________________ 30. Quais as expectativas do Sr.(a) quanto a evolução da sua participação no mercado interno de cafés especiais? E quanto ao mercado externo? Interno: ________________________________________________________________________ Externo:________________________________________________________________________ 5- Roteiro de entrevista: varejista 146 Empresa: ________________________________________ Telefone: ___________ Nome do entrevistado: ______________________________ Cargo: ____________ Localização: _____________________________________ e-mail: _____________ 1) Se o seu supermercado ainda não comercializa cafés especiais/orgânicos, o Sr. acha que há potencial para introduzi-los na gôndolas? Por que? Já houve, no passado, alguma tentativa mal sucedida de comercialização de cafés especiais/orgânicos no seu supermercado? Se sim, a que o Sr. atribui esse fracasso? 2) O seu supermercado tem cafés especiais na gôndola? Se sim, quais marcas? Qual a participação dessas marcas no percentual da venda de cafés? O Senhor acha que há potencial para expansão da venda de cafés especiais? Por que? Há receptividade do consumidor quanto ao consumo de cafés especiais? 3) O seu supermercado tem cafés orgânicos na gôndola? Se sim, quais marcas? Qual a participação dessas marcas no percentual da venda de cafés? O Senhor acha que há potencial para expansão da venda de cafés orgânicos? Por que? Há receptividade do consumidor quanto ao consumo de cafés orgânicos? 4) O Sr. conhece as marcas de cafés especiais/orgânicos disponíveis no mercado? O Sr. acha que a divulgação dessas marcas tem sido adequada e/ou suficiente? Por que? 5) O seu supermercado tem sido visitado por torrefadoras oferecendo marcas de cafés especiais/orgânicos? Com que frequência? 6) O Sr. acredita num potencial expressivo de crescimento especiais/orgânicos no Brasil? E em Minas Gerais? Por que? do consumo de 6. Questionário Consumidores de Café de Prateleira 1- O Sr. (a) é consumidor de café? (Se não, agradecer a atenção e dirigir-se a outra pessoa) ( ) Sim ( ) Não 2- O Sr. (.ª) está fazendo compras para si mesmo (a) ou sua família? ( ) Sim ( ) Não Se sim, vá para 3. Se não, vá para 4.1 2.1- Qual sua marca preferida de café? ________________________________________.Agradeça a atenção e despeça-se. 3- Categoria do usuário: ( ) Fumante ( ) Não Fumante 4- Por favor, responda as seguintes questões: IDADE ( ) até 25 anos ( ) 26 a 35 anos ( ) 36 a 45 anos SEXO: ( ) Feminino ( ) Masculino 147 cafés ( ) + de 46 anos 5- O Sr. (a) conhece o Selo de Pureza ABIC? ( ) Sim ( ) Não 6- O Sr(a) leva em consideração o Selo de Pureza ABIC na hora da compra? ( ) Sim ( ) Não Por que?____________________________________________________________________ 7- Quais os dois principais critérios que o Sr. (a) utiliza para escolha do seu café? ( ) Preço ( ) Sabor ( ) Marca ( ) Aroma ( ) Selo ( ) Embalagem ( ) Qualidade ( ) Outro: ________________________________________________ 8- Qual situação caracteriza melhor seu hábito consumo de café: ( ) Nos horários de lanches e refeições ( ) Em reuniões de trabalho e/ou encontros sociais ( ) Sempre que tem vontade ( ) Sempre que fuma ( ) Outros. Especificar:_________________________________________________________ 9- Classifique o grau de importância de cada uma das seguintes características: Sabor ( ) Muito importante ( ) Importante ( ) Pouco importante Aroma ( ) Muito importante ( ) Importante ( ) Pouco importante Cor da bebida ( ) Muito importante ( ) Importante ( ) Pouco importante Corpo * ( ) Muito importante ( ) Importante ( ) Pouco importante * (persistência do gosto na boca) 10- Quantas xícaras de café o Sr(a) geralmente toma, por dia? ( ) até 3 xícaras ( ) de 3 a 5 xícaras ( ) mais de 5 xícaras 11- Agora eu vou pedir que o Sr(a) experimente algumas qualidades de café e me forneça as suas primeiras impressões: • Amostra I - Gourmet ( Bebida Mole) 11.1. Para o Sr(a) o aroma desse café é : ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 11.2. De acordo com sabor predominantemente deste café pontue conforme a intensidade: Adocicado Forte Não sabe 2 2 1 1 0 0 1 1 2 2 Amargo Suave ( ) Outro. Especificar: ____________________________________ 11.3. Qual a sua opinião com relação ao aroma e sabor deste café? ( ) Gostou ( ) Achou razoável ( ) Não gostou. Por que?_______________________ • Amostra II - Superior (Adstringente de Bebida Dura) 11.4 Para o Sr(a) o aroma desse café é: 148 ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 11.5 O Sr(a) diria que o sabor deste café é predominantemente: Adocicado 2 1 0 1 2 Amargo Forte 2 1 0 1 2 Suave ( ) Não sabe ( ) Outro. Especificar: ____________________________________ 11.6 Qual a sua opinião com relação ao aroma e sabor deste café? ( ) Gostou ( ) Achou razoável ( ) Não gostou. Por que?________________________ • Amostra III - Tradicional ( Sabores medicinais de bebida riada ou rio) 11.7 Para o Sr(a) o aroma desse café é: ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 11.8 O Sr(a) diria que o sabor deste café é predominantemente: Adocicado Forte ( ) Não sabe 2 2 1 1 0 0 1 1 2 2 Amargo Suave ( ) Outro. Especificar: ___________________________________ 11.9 Qual a sua opinião com relação ao aroma e sabor deste café? ( ) Gostou ( ) Achou razoável ( ) Não gostou. Por que?______________________ Ao final do teste de degustação dos 3 padrões de qualidade perguntar ao consumidor: 12- Qual dos três tipos de café o Sr(a) gostou mais, considerando o aroma e sabor? ( ) amostra I ( ) amostra II ( ) amostra III 13- O Sr(a) pagaria mais por um café de melhor qualidade? ( ) Sim ( ) Não Por que? _____________________________________________________________________ 14- No que se refere às especificações do processo de produção de café ,aponte os 02 que o Sr.(a) considera mais importantes: ( ) Café produzido com responsabilidade social (por exemplo, sem uso de Trabalho Infantil) ( ) Café produzido com responsabilidade ecológica ( ) Café com tradição regional, histórica ou cultural ( ) Café com certificação de origem ( ) Café livre de agrotóxicos (orgânico) ( ) Não considera importante 149 ABA - Classificação Sócio-econômica |__| 1 |__| 2 |__| Tem 3 |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| Geladeira |__| |__| |__| |__| |__| Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex) |__| |__| |__| |__| |__| Não tem Televisão em cores Rádio Banheiro Automóvel Empregada mensalista Aspirador de pó Maquina de lavar Videocassete 4 ou + |__| Grau de Instrução (escolaridade do chefe da família) : Analfabeto / Primário incompleto Primário completo / Ginásio incompleto Ginásio completo / Colegial incompleto Colegial completo / Superior incompleto Superior completo Entrevistado |__| Chefe da família |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| Grau de Instrução: Primário = 1ª a 4ª série do 1º grau Ginásio = 5ª a 8ª série do 1º grau Colegial = 1ª a 3ª série do 2ª grau Classificação de pontos da tabela ABA segue o seguinte critério: 0 a 5 Classe E 11 a 16 Classe C 21 a 24 Classe B1 6 a 10 Classe D 17 a 20 Classe B2 25 a 29 Classe A2 150 30 a 34 Classe A1 ANEXO 2 Técnica Multivariada Conjoint Analysis – Consumidores de Café de Prateleira "A Análise Conjunta (Conjoint Analysis) é usada pelos profissionais de marketing para determinar como projetar um produto de interesse para o mercado-alvo. O objetivo é decidir quais atributos considerar no produto e em que níveis. Aos consumidores são mostrados um conjunto de produtos hipotéticos (diferentes em seus atributos) e pede-se a eles que os ordenem (vide cartões utilizados a seguir). A partir dessa ordenação, o pesquisador pode determinar a importância de cada atributo e a combinação mais efetiva. A análise conjunta provou ser um instrumento de pesquisa de marketing bastante útil, com mais de uma centena de aplicações até esta data.” (Kotler) A Conjoint Analysis define funções individuais de preferência, que podem ser agrupadas em grupos homogêneos de segmentos de consumidores. Além disso, podemos medir as indecisões do consumidor e as ponderações que realiza quanto aos riscos e aos benefícios de determinados atributos. O método também permite, através dos resultados da amostra estudada, avaliar cenários mais complexos, com diferentes níveis de preços, por exemplo. O que deve ficar claro é que se está medindo e avaliando a preferência do consumidor e, não, a aceitabilidade ou o desejo de consumo de um determinado produto. Aceitabilidade significa rejeição ou aceitação de um produto, preferência significa a escolha de um sobre o outro, enquanto o consumo já se configura na escolha feita. A seguir são mostrados os cartões utilizados como estímulo para a escolha do consumidor. 151 ANEXO 3 Cartões Utilizados na Análise de Preferências 152