LÍVIA MARIA LEITE COSTA MICROBIOTA MAIS FREQÜENTE NOS SALAMES BELO HORIZONTE 2009 LÍVIA MARIA LEITE COSTA MICROBIOTA MAIS FREQÜENTE NOS SALAMES Trabalho apresentado para o cumprimento de atividades referentes ao curso de Especialização Lato sensu em Higiene e Inspeção em Produtos de Origem Animal – Instituto Qualittas de Pós Graduação BELO HORIZONTE 2009 SUMÁRIO LISTA DE TABELAS ....................................................................................................... Iii 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 02 2. REVISÃO ............................................................................................................................. 02 2.1 DEFINIÇÃO........................................................................................................................... 02 2.2. HISTÓRIA ............................................................................................................................. 03 2.3. TIPOS DE SALAME PRODUZIDOS NO MUNDO................................................................. 04 2.4. PROCESSAMENTO DOS PRODUTOS CÁRNEOS FERMENTADOS................................ 05 2.4.1. Fluxograma........................................................................................................................... 07 2.4.2. Defeitos de salame tipo Italiano......................................................................................... 07 2.5. 08 MICROBIOTA DE PRODUTOS CÁRNEOS.......................................................................... 2.5.1. Bactérias ácido lácticas....................................................................................................... 08 2.5.2 Leveduras.............................................................................................................................. 10 2.5.3 Microbiota mais frequente nos salames............................................................................ 2.6. A FERMENTAÇÃO DO SALAME COMO FATOR DE SEGURANÇA E QUALIDADE 10 PARA O CONSUMIDOR ....................................................................................................... 14 3. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 14 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 15 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Características Físico-Químicas do salame ......................................... 06 Tabela 2 - Principais Bactérias láticas e cocos coagulase negativos isoladas de embutidos fermentados por métodos moleculares dependentes de cultura ....................... 13 1. INTRODUÇÃO A carne, devido seu elevado valor nutricional, torna-se altamente sensível ao desenvolvimento de microorganismos que conduzem à sua deteriorização. Além disso, a sua elevada quantidade de água livre (alta atividade de água) e o favorável pH facilitam um ótimo crescimento para aqueles microorganismos. Reduzir ou eliminar essa atividade microbiana se traduzirá por um aumento da vida útil da carne. Os procedimentos tradicionais para a preservação da carne são a secagem, a salga e a fermentação. O salame é um dos produtos cárneos mais interessantes e de alto valor agregado. Sua origem remete o ínicio da conservação dos produtos cárneos aliados à ação das bactérias láticas. Esse produto é fabricado em diversos países e sua composição, assim como seu modo de fabricação varia conforme a procedência. No Brasil o maior consumo ocorre principalmente na região Sul do país e isso se deve às tradições inerentes a essa região. Atualmente utilizamse culturas iniciadoras para a obtenção do produto. O salame é um produto cru e sua fabricação depende de condições controladas de temperatura e umidade, pois qualquer erro pode comprometer todo o processamento. É auto-estável devido à fermentação e desidratação que permitem a conservação em temperatura ambiente sem necessidade de frio. De uma forma simples, a fabricação do salame ocorre em duas etapas distintas. Em uma etapa inicial, ocorre a fermentação como desenvolvimento das características sensoriais do salame e em uma etapa final a desidratação que, além de reforçar algumas propriedades sápidas, reduz a atividade de água a níveis insuportáveis aos microorganismos responsáveis pela deterioração do produto. O processo fermentativo participa diretamente na cor, sabor, aroma, textura e vida útil do salame. A qualidade do produto está relacionada à sua matéria prima, ao processamento adequado e à microbiota presente. O processamento é muito importante visto que para um desenvolvimento da microbiota e uma dessecação ideal do produto é necessário controlar condições de temperatura e umidade. Essa microbiota é composta predominantemente pelas bactérias lácticas, leveduras e bactérias da família Micrococcacea. Os microorganismos da família Micrococcacea contribuem para o aperfeiçoamento do sabor e para a redução do nitrato. Essa revisão teve como objetivo conhecer a microbiota mais freqüente nos salames e, sua atividade perante as outras bactérias. 2. REVISÃO 2.1. DEFINIÇÃO DE SALAME Os produtos cárneos fermentados, como o salame, são elaborados a partir de carnes adicionadas ou não de culturas de bactérias específicas, incubadas ou curadas durante seu processamento, permitindo a produção de ácidos orgânicos como o ácido lático e compostos aromáticos, os quais conferem ao produto características sensoriais que os diferenciam dos produtos cárneos frescos. A fermentação aliada à dessecação estende a vida de prateleira da carne, proporciona características sensoriais diferenciadas e inibe o crescimento de microorganismos patogênicos (Echerichia coli, Salmonella, Stapylococcus aureus, dentre outros). Os produtos cárneos fermentados podem ser fabricados com carne bovina, suína, de aves ou misturas destas. Os dois principais ingredientes adicionados são: o cloreto de sódio e carboidratos como a glicose e/ou a sacarose. O salame pode ser caracterizado como semi-seco (45-50% de umidade) ou seco ( 35%) (Santos e Silva, 1988). Os produtos semi-secos possuem uma textura mais elástica e são mais tenros do que os embutidos fermentados secos (Prince e Schweigert, 1976). Em alguns países como na África do Sul, na Grécia e em nações mulçumanas a carne de carneiro também é utilizada para fabricação de salame (Samellis et al., 1993). Entende-se por salame, o produto cárneo industrializado obtido de carne suína ou suína e bovina, adicionado de toucinho e outros ingredientes, embutido em envoltórios naturais e/ou artificiais. Trata-se de um produto cru, curado, fermentado, maturado e dessecado. Deve ser produzido com carne inspecionada e é caracterizado segundo sua origem como Tipos Calabrês, Milano, Hamburguês, Italiano, Friolano, Alemão e Salaminho. O Salaminho deve ter granulometria entre 6 e 9 mm, e ser embutido em tripas com calibre até 50 mm. O Salame Tipo Calabrês, possui granulometria entre 10 e 15 mm, e è caracterizado pelo sabor picante e diâmetro de 80 mm. O Salame Tipo Napolitano, possui granulometria de 8 a 12 mm, adicionado de pimenta do reino quebrada ou em grãos e alho. O Salame Tipo Hamburguês possui granulometrica entre 3 e 6 mm. O Salame Tipo Italiano possui granulometria entre 6 e 9 mm. Os Salames Tipos Friolano e Alemão são elaborados exclusivamente de carnes suínas e toucinho. O primeiro possui granulometria entre 6 e 9 mm e o segundo possui granulometria de 3 a 6 mm (Brasil, 2000). 2.2. HISTÓRIA Na Itália, os produtos salgados possuem uma origem muito antiga. Na Era Romana, com as sucessivas invasões bárbaras, os javalis tornaram-se um dos recursos mais importantes para as aldeias e após o abate eram mantidos em conservas ou transformados em produtos de salsicharia. Na Idade Média, o javali tornou-se tão importante que os bosques eram medidos de acordo com sua capacidade para alimentá-los (Italian Salumi, 2008), tanto que Ansano Fabbi delineou um perfil das atividades dos Norcinos, pessoas que criavam suínos soltos na floresta. Os Norcinos realizavam a sangria, a dessosa e a salga e eram especializados na anatomia, no abate, castração e na venda de carne salgada para as aldeias próximas. Os cortes como lombo, pernil e paleta eram salgados e utilizados para fabricaçao de produtos de salsicharia, como salame. Essa produção passou a ser uma especialização do norcino, tornando-se uma qualificação profissional em Roma e Florença. No ínicio do inverno, a região de Umbria ficava despovoada e os norcinos migravam para as cidades de Lácio e Toscana (La Cucina Italiana, 2008). Durante a Era Renascentista os produtos de carne suína estavam presentes nos banquetes mais refinados e, no início do século XIX, foi aberta a primeira feira de produtos de salsicharia. Entre os séculos XII e o XVII ocorreu um forte desenvolvimento dos trabalhos tecnológicos ligados à transformação da carne de suíno na Itália. Neste período os Norcinos começaram a organizar-se em guildas e assumiram importantes papéis no seio da sociedade. Bologna assistiu ao estabelecimento do Corporazione dei Salaroli (a Liga dos salgadores), e em Florença, viu a ascensão da Confraternita dei facchini di San Giovanni (a Confraria dos servos de São João). Esse comportamento migratório dos norcinos durou até o fim da Segunda Guerra Mundial. Depois disso, eles se estabeleceram em Lácio e Toscana, onde abriram lojas e estabelecimentos para o processamento da carne suína (Italian Salumi, 2008). O nome do salame é derivado do verbo italiano salare, que significa salgar. Historicamente, está associado aos plebeus italianos, como um produto de carne que podia ser armazenado a temperatura ambiente, por períodos de até um ano, constituindo um suplemento ao fornecimento escasso ou inconstante de alimentos, em épocas mais remotas (Salame, 2008 ). 2.3. TIPOS DE SALAMES PRODUZIDOS NO MUNDO Na Tailândia existe um embutido fermentado, conhecido como Nam. Este salame é pobre em gordura, é fermentado por um curto período de tempo e não sofre dessecação. O Nam é envolvido em filme plástico e em folhas de bananeira e é consumido sem refrigeração. Devido a isto, freqüentemente, estar relacionado a toxinfecções alimentares, os pesquisadores têm irradiado o produto com objetivo de reduzir esse problema (Adams e Moss, 1997). O salame Ciausculo é um produto típico italiano produzido nas regiões de Úmbria e Marche localizadas no centro do país e foi incluído como um produto protegido por denominação geográfica. É produzido com carne suína e toucinho adicionado de sal, vinho branco, pimenta do reino e alho picado, seu comprimento é de 15–45 cm com 4.5–10 cm de diâmetro. Este salame tem muita aceitação devido a sua facilidade de espalhar e sabor ligeiramente salgado e temperado (Silvestri et al, 2007; Aquilanti, 2007). Outro salame proveniente da região de Úmbria é o Nostrano. O salame Nostrano tem em sua composição carne magra de suíno, toucinho, sal, pimenta alho, leite em pó desnatado, alho e vinho branco. É considerado um produto de baixa acidez (pH, 5,2-6,2), sendo maturado por 21 dias (Cenci-Goga et al, 2008). O salame da região de Córdoba na Argentina é composto por carne suína, bovina, toucinho, sal, nitrito ou nitrato e sacarose e é fermentado por 10 dias. Outro salame argentino é o Tucumán feito com carne suína, amido, gordura, sacarose e sais de cura (Fontana et al, 2005). O salame Napolitano é feito com carne suína, toucinho, pimenta, sal e leite em pó desnatado, defumado e maturado a baixa temperatura por 30 dias (Coppola et al, 2000). O Salame Húngaro é composto por toucinho, pernil e dianteiro de suíno e pedaços de carne bovina. As carnes congeladas são misturadas ao sal, temperos, dextrose, sólidos do leite, vinho, nitrato e nitrito, além da cultura lática (Pidcock et al, 2002). 2.4. PROCESSAMENTO DOS PRODUTOS CÁRNEOS FERMENTADOS Inicialmente, a fermentação era o resultado da ação dos microorganismos resultantes das contaminações sobre os açúcares existentes na formulação com produção de ácido láctico. A qualidade dos salames não era uniforme, pois dependia da “House Flora”. A partir de 1961, culturas puras de microorganismos úteis passaram a ser disponíveis, possibilitando, dessa forma, a obtenção de salames com alta qualidade reproduzível nas diferentes partidas de fabricação (Terra, 2005) Os métodos de fermentação dos produtos cárneos fermentados podem ser de três tipos: 1) fermentação natural - a carne é adicionada dos ingredientes e incubada de 24-72h para a cura, 2) inoculação com produtos do dia anterior (iscas)- consiste de uma variedade de microrganismos ácido lácticos que competem pela dominância, produção de acido láctico e aroma, e 3) inoculação com culturas puras- liofilizadas ou congeladas, as quais desenvolvem as características desejáveis de acidez, aroma e sabor. As culturas mais recomendadas para a carne são Lactobacillus plantarum, Lactobacillus brevis, Pediococcus acidilactici, Leuconostoc mesenteroides, Streptococus diacetillactis atualmente conhecido como Lactococcus lactis subsp. lactis var diacetilactis (Santos e Silva, 1988). Para o processamento a matéria prima mais indicada é a carne de animais mais velhos, devido ao menor teor de umidade e coloração mais intensa, sãos e bem nutridos. Essa carne deve ser maturada até o pH situar-se entre 5,4-5,8. Neste pH as fibras se retraem e adquirem a chamada estrutura aberta. Os espaços interfibrilares aumentam de volume, o que favorece a penetração do sal e sais de cura (Pardi et al, 1996). Durante o preparo e condimentação da massa, o sal deve ser o último ingrediente a ser adicionado o que garantirá a eliminação de água no interior do embutido. Os autores citam a seguinte seqüência: as carnes magras são colocadas no misturador por um minuto, durante o qual se adiciona a porção gordurosa, e, assim que a carne adquire a textura desejada, são adicionados o sal e as especiarias. Também ressaltam que durante o corte e o embutimento as carnes magras devem estar entre -1°C- - 2°C, enquanto as carnes gordas devem situar-se entre -2°C- -3°C para que o corte das partículas seja nítido e a gordura não seja liberada ( Prince e Schweigert, 1976). A legislação brasileira estabelece como ingredientes obrigatórios a carne suína para o processamento de salame, toucinho, sal, nitrito e/ou nitrato de sódio e/ou potássio e, como ingredientes opcionais, carne bovina, leite em pó, açúcares, maltodextrinas, proteínas lácteas, aditivos intencionais, vinho, condimentos, aromas, especiarias e substâncias glaceantes (revestimento externo) e para coadjuvantes de tecnologia e os cultivos iniciadores (Brasil, 2000). Durante a cura adicionam-se nitrato, nitrito, vinho, açúcares ou combinação desses. Depois a massa é embutida e ela é curada sob refrigeração com atmosfera controlada por 1248h. Neste momento, as bactérias fermentadoras se desenvolvem e convertem a glicose e outros açucares em ácido láctico. Pardi, ao citar o processamento proposto por Degenhart, 1988 enquadra a duração desse processo em dois a sete dias, com umidade relativa de 80-90% e velocidade do ar de 0.2-0.8m/s, e ele divide o processo de cura em rápido e lento. No processo rápido a cura ocorre por reações químicas com uso do nitrito e acidulantes como a glucona-deltalactona e o ácido ascórbico, enquanto no lento a redução de nitrato a nitrito, ocorre por atuação de culturas iniciadoras (Pardi, 1996). Após o processo de cura, inicia-se a maturação. A massa é embutida em esôfago bovino ou matéria plástica. Segundo Coretti, a temperatura indicada situa-se entre 18°C-20°C, embora se possa utilizar 15°C ou 25°C. Degenhart exalta que a temperatura de cura e maturação deve se situar entre 16°C-18°C e que temperaturas superiores podem afetar a integridade das gorduras (Pardi, 1996). Degenhart também relata que a umidade deve ser de 95% para evitar a dessecação excessiva da superfície e que se deve reduzi-la gradativamente até atingir a cor e acidez desejada. A dessecação ocorre à temperatura de 15°C-22°C, umidade relativa de 75-80% e com velocidade do ar de 0,1m/s a 0.5m/s. O tempo de fabricação fica em torno de 50-60 dias e a perda de água é de 32-40%. Após a dessecação o salame é parafinado e embalado a vácuo ou fatiado (Pardi, 1996). O tratamento com parafina é permitido pelo Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), conforme o artigo Art. 420: É permitido dar um banho de parafina purificada e isenta de odores, na membrana que envolve os embutidos; permite-se, com a mesma finalidade, o emprego de cera ou de misturas, desde que não prejudiquem o produto, a juízo da Inspeção Federal (Brasil, 1952). Durante a fase de dessecação os embutidos perdem 30 a 40 % do seu peso inicial e, é muito importante que a dessecação seja gradual e uniforme, para evitar a formação de cavidades no interior da massa causadas por putrefações ácidas. Nesta fase, é comum a formação de bolores, então a superfície deve ser escovada e esfregada. No salame Tipo Italiano a presença de bolores é desejável, pois confere ao embutido um aroma característico (Prince e Schweigert, 1976). Na fabricação do tradicional salame grego esse desenvolvimento é indesejável, já que os consumidores gregos não adquirem salames com a superfície mofada (Samelis, et al 1993). Em alguns países europeus, a defumação do salame é comum, feita a frio durante alguns dias, à temperatura abaixo de 20°C e umidade de 75-80%, no Brasil esse procedimento não é comum (Pardi, 1996). Tabela 1: Características Físico-Químicas de acordo a IN n. 22 de 31/07/2000 VALORES MÁXIMOS E MÍNIMOS ACEITÁVEIS Atividade de água-Aw (máx.) 0,92 Umidade (max.) 40 % Gordura (máx.) 35 % Proteína (mín.) 20 % Carboidratos totais (máx.) 4,0% 2.4.1. Fluxograma PROCESSAMENTO INDUSTRIAL DE SALAMES SELEÇÃO DAS MATÉRIAS PRIMAS PREPARO DA MASSA EMBUTIMENTO FERMENTAÇÃO CURA MATURAÇÃO. SECAGEM 2.4.2. Defeitos do salame tipo Italiano a) Sabor excessivamente ácido: o sabor ácido é típico dos produtos fermentados. A acidificação excessiva pode ser o resultado tanto de um processamento em altas temperaturas (superiores a 25ºC) ou da adição exagerada de açúcares como também do desenvolvimento de lactobacilos heterofermentativos que produzem ácidos mais fortes do que o ácido lático, como ácido acético e fórmico. b) Falta de nitidez dos pedaços de carne e de toucinho: a utilização de moedor ou cutter com facas mal afiadas provoca uma prensagem (mastigação) da carne, liberando proteínas solúveis que, ao misturar-se com a gordura, forma uma emulsão que é detectada ao se fatiar o salame. Esse defeito interfere na ação da cultura starter, pois os microrganismos para o seu desenvolvimento necessitam de água livre. c) Liberação da gordura fluida entre a tripa e a massa: a utilização de altas temperaturas na moagem das carnes e do toucinho provoca a liquefação de parte da gordura. Recomenda-se não picar a carne quando esta estiver com a temperatura superior a 4ºC e o toucinho com temperatura superior a 0ºC. Interessante chamar a atenção para o fato de que o funil da embutideira deve ser curto e largo, pois, caso contrário, o atrito poderá liquefazer parte da gordura presente na formulação. A alimentação dos suínos tem muita importância na composição da gordura do toucinho. Certos alimentos, como restos de comida, determinam uma composição tal de ácidos graxos que predispõem a liberação de gordura fluida. d) Anel de desidratação: a velocidade do ar da sala climatizada quando acima dos valores recomendados (0,2 a 0,5m/s) provoca uma excessiva desidratação da face exterior da peça de salame, formando uma casca enrijecida (anel de desidratação). Essa casca impede a saída de água mantendo no centro da peça um elevado conteúdo aquoso (alta atividade de água) que possibilitará a ocorrência de processos fermentativos indesejáveis, caracterizados por produzirem salames ácidos, pútridos ou descorados. Em certas ocasiões, a excessiva desidratação pode levar à ocorrência de sulcos na superfície das peças de salame, desqualificando-o. Caso a secagem seja muito lenta, a superfícies se mantém úmida e promove o crescimento de fungos. e) Rancificação: A utilização de toucinho armazenado por longo tempo, geralmente com um maior ou menor grau de rancificação, produz no produto o típico sabor de ranço. Mesmo conservado sob congelamento, o toucinho rancifica-se, pois o frio retarda, mas não evita essa degradação. O ranço pode ter sua origem na fermentação por bactérias lácticas heterofermentativas que produzem peróxido de hidrogênio ou no oxigênio existente no ar dissolvido na massa, devido ao mal funcionamento da embutideira tradicional. A utilização de outras gorduras que não o toucinho, por serem mais ricas em ligações insaturadas, é mais suscetível a rancificação. A rancificação, além de alterar o sabor e o aroma, poderá determinar escurecimento do salame. Deve-se mencionar que a rancificação é acelerada pela luz direta como também por certos minerais. f) Coloração: o escurecimento do salame deve-se a predominância da metamioglobina sobre os demais pigmentos. Tal fato deve-se a processos oxidativos (rancificação) ou ao não funcionamento do fixador de cor. O desenvolvimento de bactérias lácticas heterofermentativas pode provocar tanto o descoramento como o escurecimento do produto, neste caso. Manchas amarelas, verdes e pretas podem ser originadas por bactérias e mofos. Manchas negras podem ser ocasionadas pelo uso de equipamentos de ferro em contato com ácido ascórbico. O excessivo tempo de defumação poderá ocasionar a formação de um anel externo de coloração pardacenta. (Fonte: www.md.utfpr.edu.br) 2.5. MICROBIOTA DE PRODUTOS CÁRNEOS 2.5.1. Bactérias ácido láticas Os produtos cárneos fermentados possuem aroma e sabor característicos, resultantes direta ou indiretamente da ação de organismos fermentadores. Esses microorganismos realizam a fermentação que é definida como: O processo metabólico no qual os carboidratos e seus compostos relacionados são parcialmente oxidados, com liberação de energia, na ausência de aceptores de elétrons. Os aceptores finais são componentes produzidos pela quebra de carboidratos, e assim acontece uma oxidação incompleta com pequenas quantidades de energia liberada (Jay et al , 2005). Os microrganismos relacionados ao processo de fermentação são as bactérias ácido láticas, que podem ser divididas em heterofermentadoras e homofermentadoras. As homofermentadoras produzem ácido lático e o dobro de energia a partir de uma molécula de glicose, e esse processo é observado quando o carboidrato utilizado é uma glicose. Essas bactérias possuem as enzimas aldolase e a hexose isomerase (Jay et al ,2005). Essa via é conhecida como Embden-Meyerhof-Parnas (EMB) (Adams e Moss, 1997). As heterolácticas produzem quantidades iguais de lactato, dióxido de carbono e etanol e são importantes na produção de aroma assim como de acetaldeido e diacetil. As heterofermentadoras possuem a enzima fosforocetolase (Jay et al , 2005).Elas transformam a glicose (hexose) em ribose (pentose) por meio de reações de oxidação e descarbolixaçao (Adams e Moss, 1997). Jessen, 1995 citou que as bactérias acido láticas possuem baixa capacidade proteolítica e lipolítica e sua capacidade de acidificação prejudica o desenvolvimento de outros microorganismos, assim como a produção de aminas biogênicas e peróxido de hidrogênio (Kerry et al, 2002). As bactérias ácido láticas (BAL) são cocos gram positivo, não formadores de esporos, coagulase negativos, desprovidos de citocromos, anaeróbios tolerantes e incapazes de sintetizar os grupos porfirinas (heme). As BAL podem ser divididas em bastonetes e em cocos, Aerococcus, Pediococcus e Tetragenococcus podem formar tétrades (Salminen et al, 1993). Os gêneros como Microbacterium, Aerococcus e Propionobacterium estão relacionadas às bactérias láticas, embora não pertençam a esse gênero. O grupo das BAL é composto por 13 gêneros: Carnobacterium, Enterococcus, Pediococcus, Lactococcus, Lactobacillus, Lactosphaera, Leuconostoc, Oenococcus, Paralactobacillus, Streptococcus, Tetragenococcus, Vagococcus, Weisella. Os Pediococcus, Streptococcus, Lactococcus e Vagococcus e alguns Lactobacillus são homofermentadores, Leuconostoc, Oenococcus, Weisella, Lactosphaera e outros Lactobacillus são heterofermentadores. O gênero Lactobacillus pode ser divido em três grupos homofermentadores obrigatórios (não utilizam pentoses), heterofermentadores facultativos e heterofermentadores obrigatórios, geralmente relacionados à produção de CO2 e problemas de deteriorarão (Jay et al, 2005). Atualmente, na fabricação industrial dos salames utilizam-se culturas iniciadoras. Essas culturas iniciadoras são divididas em bactérias ácido láticas responsáveis pelo processo de acidificação e microrganismos responsáveis pelo sabor capazes de reduzir o nitrato. O primeiro grupo é composto pelos Lactobacillus e Pediococcus e o segundo pela família Micrococcaceae (Staphylococcus, Kocuria). A escolha das iniciadoras depende do produto a ser produzido (Kerry et al, 2002). Tradicionalmente, utilizam-se culturas iniciadoras de produtos cárneos para a fabricação de salame. Mas, em um experimento realizado com a produção do salame Nostrano, foram avaliadas amostras inoculadas com cultura starter proveniente do queijo e amostras sem adição de culturas. As culturas selecionadas foram o L. lactis ssp lactis 340, L. lactis ssp lactis 16 e o L. casei 208. O produto elaborado com as culturas iniciadoras apresentou maior capacidade de inibição de patogénos, melhores qualidades sensoriais como suculência e sabor levemente salgado. Os autores concluíram que culturas da indústria leiteira podem ser utilizadas como starter de salames (Cenci-Goga et al, 2008). A capacidade das bactérias láticas em decompor nitrito foi observada. Foram inoculadas quantidades variadas de Lactobacillus plantarum e Pediococcus pentasaceus, juntas ou isoladamente em 160 amostras de salame. As amostras compostas pelo L.plantarum apresentaram os melhores resultados reduzindo o pH a 5.45 e o nitrito residual a 2,81 ppm. Essa quantidade foi inferior ao permitido pelo RIISPOA, que é de 200 ppm (Toni et al, 1994) 2.5.2. Leveduras A levedura mais utilizada como iniciadora é a Debaryomyces hanseni, ela é observada na superfície dos produtos devido a sua demanda por oxigênio e é responsável pela degradação dos ácidos: lático e acético, e também é produtora de amônia e de poucos componentes voláteis, o Debaryomyces hanseni tem atividade lipolítica, mas é inibido a baixas temperaturas e pH. Estudos demonstraram que a adição de alho a formulação dos embutidos previne o crescimento de leveduras (Kerry et al, 2002). 2.5.3. Microbiota mais freqüente nos salames Os métodos utilizados para pesquisar a microbiota presente nos salames se dividem em métodos dependentes de culturas de microorganismos, baseados nas características relacionadas ao crescimento e identificação bioquímica (tradicional) e métodos moleculares. O método molecular mais utilizado é a eletroforese do gradiente de desnaturação associada à reação em cadeia da polimerase (PCR-DGGE). A PCR amplifica a região 16S do DNA ribossômico da bactéria a ser pesquisada e quando a amostra é passada pelo gel DGGE, a molécula de DNA encontra um gradiente de desnaturação que causa uma mudança molecular. Essa mudança reduz a velocidade de migração da molécula, que adquire uma posição no gel, que permitirá sua identificação conforme o padrão de microorganismos já conhecido. Em um estudo comparativo entre a eficácia de métodos tradicionais e métodos moleculares, foram encontradas poucas diferenças com exceção da não identificação da Weisella sp em salames gregos (Rantisiou e Cocolin, 2006). Em um estudo realizado para avaliar o protocolo de PCR-DGGE, na avaliação da microbiota de dois salames artesanais produzidos na Argentina, foram obtidos os seguintes resultados: Nos dois salames foram encontradas Lactobacillus sake, nos salames de Tucumán foram observados Stapylococcus saproplyticus e no e salame de Córdoba, foram encontradas amostras de Brochothrix thermophacta (Fontana et al, 2005). A microbiota do salame Ciaucolo (produto típico italiano) foi investigada, pela utilização de métodos moleculares. Utilizaram-se vinte e duas amostras de salame, quatorze provenientes de produtores artesanais e as oito restantes de indústrias. Após a análise microbiológica constatouse que as bactérias ácido láticas prevaleceram em relação aos cocos Gram negativo. As bactérias mais freqüentes foram Lactobacillus sake e Lactobacillus curvatus, também foram encontradas menores quantidades de Lactobacillus plantarum e Pedicoccus acidilacitici. As concentrações de leveduras também foram baixas, isso foi atribuído à adição de alho a receita e o mais prevalente foi o Debaryomyces hanseni. Conclui-se que não houve diferenças entre as populações microbianas presentes na amostra, devido à padronização existente entre a indústria e os produtores (Silvestri et al , 2007). Resultados semelhantes foram encontrados em outro estudo relacionado com a microbiota do salame Ciausculo. Nesta pesquisa foram prevalentes o Lactobacillus curvatus, Lactobacillus plantarum, Debaryomyces hanseni, Staphylococcus xylosus (coco coagulase negativo, CNC), mas não foram encontradas amostras de Lactobacillus sakei, o que contraria a literatura (Aquilanti et al , 2007). O salame artesanal Napolitano, produzido sem a adição de culturas iniciadoras, teve seu perfil bacteriano pesquisado. Os resultados foram similares aos encontrados para o salame Ciausculo com predominância de Lactobacillus sake e Debaryomyces hanseni. Também foram encontradas menores quantidades de Lactobacillus curvatus, Leuconostoc mesenteroides, Staphylococcus xylosus, Staphylococcus ssp. , entre outros (Coppola et al, 2000). Também pela metodologia tradicional, foi investigada a microbiota de cinco amostras de salame grego. Neste estudo foi observado que no estágio inicial da fermentação, Micrococcus e Staphylococcus atingiram um nível equivalente a 10 7 UFC/g. Mas, a partir do quarto dia as bactérias ácido láticas ultrapassaram os Micrococcus em todas as amostras com exceção da amostra três. Durante o experimento, o pH do produto final foi elevado (> 5.0), e isso foi devido à presença de Micrococcus ácido resistentes. Nas amostras um, dois e cinco, as nomeadas pelo autor como Streptobacterias, foram predominantes. Nas amostras três e quatro a predominância foi de Leuconostoc. A amostra três apresentou características sensoriais desagradáveis, provavelmente devido à alta incidência do que o autor nomeou como Beta-bacteria, que produziram gás, olhaduras e acúmulo de acetato. A caracterização de 348 bactérias ácido láticas indicaram que a maioria foi Lactobacillus homofermentador (61,4%) e Leuconostoc (24,9%), com menores quantidades de Lactobacillus heterofermentadores. Quanto à presença de leveduras, detectou-se a presença de Debaryomyces hanseni (Samelis et al, 1993). O mesmo autor obteve resultados semelhantes quanto ao perfil microbiano, quando pesquisou as mudanças lipolíticas durante a fermentação e maturação do salame grego. Neste estudo foi observada uma mudança no perfil da gordura hidrolisada. No final da maturação constatou-se que ocorreu um aumento na concentração de ácidos graxos insaturados como o linóleico e palmitóleico e uma redução nos saturados como palmítico e esteárico, segundo ao autor essa mudança deve a ação da família Micrococcaceae (Samelis et al, 1993). Em outro experimento conduzido por esses autores, a ecologia microbiana e a biosegurança de quatro amostras de salame, sem a adição de culturas iniciadoras foram avaliadas. Os resultados encontrados não tiveram total conformidade com os anteriores, sendo que no experimento foram obtidas maiores quantidades de L. sake/ curvatus (heterofermentador), Carnobacterium piscicola e altas concentrações de S. saprophyticus, proveniente da contaminação pela pele do suíno e menores quantidades de S. xylosus (Samelis et al , 1998). Segundo a literatura a microbiota mais freqüente do salame grego é composta por L. curvatus e L. sake, mas recentemente foram observadas pequenas quantidades desses microorganismos, e maiores de L. plantarum. Também se encontrou predominância de S. saprophyticus, S. xylosus, S. simulans, e segundo o autor o primeiro não deve ser utilizado como iniciadora, devido a sua incapacidade em reduzir o nitrato (Drosinos et al, 2004). Devido a sua importância no processo de fermentação dos produtos cárneos a freqüência do gênero Staphylococcus foi pesquisada no Salame vendido na região de Atenas. Ao contrário de outras pesquisas, observou-se predominância de cepas S. carnosus, S. hominis e S. xylosus. Também se encontrou S. aureus, e sua presença foi atribuída a contaminação pelos manipuladores, equipamentos e matéria prima, que também apresentaram contagens desse microorganismo (Arkoudelos et al, 1998). O perfil microbiano de amostras de salame grego foi avaliado. Em concordância com estudos anteriores as BAL dominaram a microbiota a partir do quarto dia. Na amostra I, observouse a predominância de L. sake e L. curvatus, enquanto na II uma mistura das duas bactérias anteriores com L. paracasei ssp paracasei foram prevalentes. Na amostra II também foi encontrada cepa de Enterococcus faecium que segundo alguns autores, pode ser um patógeno oportunista e naquele estudo resistiu a maturação do produto constituindo um risco a segurança do produto (Papamanoli et al, 2003). Em outro estudo foi observado o desenvolvimento microbiano nos salames alemão e italiano. Foram pesquisados produtos com a adição de culturas starter e sem a inoculação delas. A cultura iniciadora do salame alemão era composta por Staphylococcus carnosus e Lactobacillus plantarum, enquanto o italiano só possuía o Staphylococcus carnosus. Após o final do período de maturação, apenas o Staphylococcus carnosus foi identificado nas duas amostras, enquanto o Lactobacillus plantarum não cresceu nem foi identificado após 24h no salame alemão. No produto alemão sem a adição de starter foram isoladas colônias como Staphylococcus que foram identificadas como Stapylococcus carnosus e menores quantidades de S. auricularis, S. saproplyticus, S. epidermidis, S. hominis e sete colônias de S. aureus. No salame italiano foram isoladas duas amostras de Lactobacillus plantarum e esse salame teve um pH final superior ao alemão o que foi atribuído a presença do Penicillium sp. em sua superfície, o que, segundo os autores, causou desaminação da proteína e liberação de amônia, o que aumentou o pH (Marchesini et al, 1992). O salame produzido na Espanha apresentou algumas semelhanças quanto ao perfil microbiano dos outros salames, mas a microbiota predominante foi pertencente ao gênero Pediococcus. Para essa pesquisa a microbiota de 84 amostras da salsicha curada seca espanhola foi avaliada, foram coletados dois tipos diferentes do produto (A e B), provenientes de uma câmara piloto de maturação. As análises foram realizadas no produto fresco (0 dias), durante a maturação (7 dias para A e 15 dias para B) e no final do processo (15 dias para A e 30 dias para B) A microbiota predominantes no dois salames foram o Pediococcus pentosaceus seguido pelo Lactobacillus plantarum e o CNC mais prevalente foi S. xylosus, seguido pelo S. saprophyticus, e Kocuria varians (tipo A) e Staphylococcus simulans (Tipo B) (López; et al 2006). Tabela 2: Principais Bactérias láticas e cocos coagulase negativos isolados de embutidos fermentados por métodos moleculares dependentes de cultura País/ Produto Bactéria Grécia L.curvatus Sem caracterização L. sake L. plantarum L .casei/ paracasei L. parapalntarum Hungria L.curvatus Sem caracterização L. sake W. viridescens W. paramesenteroides/ hellenica L. mesenteroides Itália L .sake Salame Friolano L .sake / L. paraplantaruam/ L. casei/ L .plantarum/ L.alimentarius/ L. curvatus/ S. xylosus/ S.carnosus/ S. simulans/ k. varians/ W. paramesenteroides/hellenica Salame Soppressata L.curvatus L .sake Salsicha Sotto Sugna S. xylosus S. condimeni Sem caracterização S. xylosus S. pulveri/ vitulus S. equorum S .saprophyticus Fonte: RANTISIOU, K; COCLIN,L, 2006 2.6. A FERMENTAÇÃO DO SALAME COMO FATOR DE SEGURANÇA E QUALIDADE PARA O CONSUMIDOR As bactérias ácido-lácticas, ao utilizarem os carboidratos existentes na formulação cárnea, determinam a formação de ácido láctico. Esse ácido láctico é o mais importante produto metabólico gerado no processo fermentativo e responsável pela segurança e qualidade dos produtos cárneos curados fermentados. A conseqüente queda de pH irá refletir-se no efeito protetor contra os microorganismos indesejáveis, bem como na textura, desidratação e coloração do embutido fermentado. Entre esses microorganismos indesejáveis, salientamos o Staphylococcus aureus, S. typhimurium, Clostridium botulinum e Listeria monocytogenes. (Terra, 2005) Além do ácido láctico, as bactérias ácido-lácticas produzem outros produtos metabólicos dotados de ação antibacteriana, como água oxigenada, ácido acético, diacetil, gás carbônico, reuterina, bacteriocinas e antibióticos. (Terra, 2005) A produção de pequena quantidade de ácido acético é interessante sob o ponto de vista bacteriológico, visto ser dotado de propriedades antibacterianas superiores as do ácido láctico, fato esse devido ao diferente grau de dissociação dos dois ácidos. O diacetil possui efeito inibidor sobre leveduras e bactérias gram-negativas ou positivas, porém não atua sobre as bactérias lácticas. A presença do gás carbônico é desejável sob o ponto de vista bacteriológico, pois impede o desenvolvimento de bactérias aeróbias gram-negativas, particularmente das pseudomonas. A reuterina possui um amplo espectro antimicrobiano sendo ativa contra bactérias gram-positivas e gram-negativas, leveduras e mofos. As bacteriocinas são catalogadas como conservantes naturais dos alimentos, são letais ou inibidoras de bactérias. (Terra, 2005) 3. CONCLUSÃO A microbiota mais prevalente nos embutidos cárneos fermentados como o salame é composta predominantemente pelas bactérias acido láticas, e em menor quantidade por cocos coagulase negativos como o Staphylococcus xylosus, em alguns salames a presença de leveduras também é desejável. O salame pode ser fonte de toxinfecção alimentar por ser um produto cru (não sofre tratamento térmico). A Listeria monocytogenes, devido a sua capacidade de sobreviver a baixas temperaturas e pH, além da sua capacidade de crescer em vários ambientes pode ser um patógeno implicado nesses surtos. A revisão demonstrou que tanto os compostos produzidos pelas bactérias láticas quanto suas bacteriocinas possuem capacidade para inibir esse microorganismo de maneira eficaz, dentre outros. Conclui-se que o Salame produzido com matéria prima de boa qualidade e em condições higiênicas de processamento adequadas, aliados a ação de bactérias acido láticas selecionadas, é um produto seguro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 01. AQUILANT, L; SANTARELLI, S; SILVESTRI, G et al. The microbial ecology of a typical Italian salami during its natural fermentation. Journal of Food Microbiology, v.120, p. 136-145, 2007. 02. ARKOUDELOS; et al. The occurrence of Staphylococci on Greek Fermented Sausages. Fleichwirtschaft International, v.4, p.25-28, 1998. 03. BRASIL. Ministério da agricultura, pecuária e abastecimento. 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