OS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA, UMA NOVA INSTITUCIONALIDADE, E SUA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: UMA NOVA-VELHA PRÁTICA EDUCACIONAL? Graciele Amorim Zimmermann Instituto Federal de Santa Catarina Luiz Alberto de Azevedo Instituto Federal de Santa Catarina Viviam Giacomelli Pedroso Instituto Federal de Santa Catarina RESUMO: Os Institutos Federais instituem-se como autarquias federais com perfil de instituição de educação, superior, básica e profissional, o qual lhes confere, na compreensão de interlocutores do Ministério da Educação (MEC) ao comentarem a Lei no 11.892/2008 do governo Lula a característica de ser pluricurricular e ressaltam que as metodologias devem apontar para um caminho que contribua para evitar a separação entre ciência, tecnologia, cultura e trabalho. Então, se os institutos federais caracterizam-se por instituições pluricurriculares, levando em consideração suas ações educacionais tão diversificadas, quais concepções pedagógicas seriam necessárias para fundamentar o planejamento e o exercício da prática docente, no que se refere aos processos de ensino e de aprendizagem? Avalia-se importante considerar a perspectiva de que a formação profissional do professor e a sua especialização despontam como condição sine qua non para o desenvolvimento do ato educativo, em face de ser necessário, no presente caso, além do seu conhecimento dispor de uma capacidade de projetar certa intencionalidade, em face de que o meio da educação profissional e tecnológica frequentemente está submetido à pressão do mercado, sendo imprescindível, do ponto de vista do conhecimento científico-tecnológico, a presença de um sujeito social focado num determinado nicho de conhecimento, por conseguinte, com uma visão e postura profissional interdisciplinar. Discute-se neste texto a metodologia a ser utilizada para a realização de aprendizagens significativas decorrentes de experiências 1 significativas, tendo o trabalho como princípio educativo, mesmo interpretando-se que metodologia e didática são indissociáveis. Conselheiros do CNE, discutindo a ação de professores no Parecer CNE/CP no 009/2001, abordam a necessidade desses desenvolverem uma “aprendizagem significativa” a partir de “experiências significativas”, todavia, em nenhum momento se referiram a visão de aprendizagem de Ausubel, assim como sobre qualquer proposta de outro pesquisador. Dessa forma, busca-se nesse artigo, fazer uma discussão sobre o espaço, a inclusão e a abordagem de objetos de aprendizagem e aprendizagem significativa na educação, profissional e tecnológica dos Institutos Federais. Com uma noção das normas legais que regem o processo de ensino e de aprendizagem nos Institutos Federais, apresentadas no referencial teórico com recortes das teorias de Ausubel em Moreira e Masini (1982), Novak (2010), Miller (1956), e querendo debater o tema objeto de aprendizagem, expõe-se um breve apanhado de concepções metodológicas que podem gerar uma aprendizagem significativa, formando a fundamentação teórica da discussão aqui proposta. Há de considerar-se, neste texto, que não se tem a premissa de discutir características para objetos de aprendizagem, como: acessibilidade, durabilidade, reusabilidade, como granularidade, bem como outras, assim como uma convicção de um modelo único para que o professor possa projetar e desenvolver processos de ensino e de aprendizagem relativos à educação profissional e tecnológica. O todo apresentado neste texto possibilita refletir sobre a necessidade de uma diretriz que defina esse fazer educacional como um pilar balizar da educação nacional para a educação profissional e tecnológica no Brasil, no intuito de superar uma visão rasteira de um compromisso com vistas à realização de um serviço. PALAVRAS-CHAVE: educação profissional e tecnológica; aprendizagem significativa; objetos de aprendizagem. 1. Introdução Antecede o debate epistemológico a respeito de processos de ensino e de aprendizagem na educação profissional em uma instituição vocacionada e voltados à obtenção de uma “Aprendizagem Significativa”, situar o local a partir do qual profissionais da educação 2 estão imersos e tem influenciada a sua visão sobre processo educacional e, consequentemente, o exercício de sua prática docente dirigida a alunos, em face dos contextos históricos que o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC) incorpora, em sua condição de autarquia de educação profissional. Nesse sentido, considera-se oportuno, inicialmente, destacar que o IFSC, também conhecido como Instituto Federal de Santa Catarina, caracteriza-se, de acordo com o artigo 2o da Lei no 11.892/2008 do governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) que instituiu a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e os Institutos Federais, como “instituições de educação superior, básica e profissional, pluricurriculares e multicampi” (BRASIL, 2008). Compreende-se, ainda para o propósito do texto, com vistas a situar o debate, apresentar a seguinte ressalva posta por interlocutores do MEC sobre a questão pluricurricular dos Institutos Federais: Se a peculiaridade dos institutos federais se resumisse a pluralidade de cursos e de currículos (instituição pluricurricular) isto poderia ser, com alguma razão, compreendido com uma decisão pautada na racionalidade, ou seja, na unificação de espaços e corpo funcional em torno de atribuições diversas. Na realidade, o que deve distinguir essas instituições, é um projeto pedagógico que na expressão de sua proposta curricular configure uma arquitetura que, embora destinada a diferentes formações (cursos e níveis), contemple os nexos possíveis entre diferentes campos do saber. A este processo deve estar integrada a inovação na abordagem das metodologias e práticas pedagógicas com o objetivo de contribuir para a superação da cisão entre ciência/tecnologia/cultura/trabalho e teoria/prática ou mesmo com o tratamento fragmentado do conhecimento. (BRASIL, 2009, p. 24, destaques do autor). Os Institutos Federais constituem-se, portanto, como uma instituição pública mantida pelo Estado brasileiro e vista pelo Instituto Federal de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) como integrante da categoria administrativa pública: não cobra mensalidade. No que se refere a sua esfera de atuação, verifica-se que a Lei no 11.892/2008 define que o IFSC é uma instituição educacional de nível superior, básica e profissional, podendo atuar na educação superior, em cursos de graduação e pós-graduação, todavia, para desenvolver a educação profissional, científica e tecnológica, conceituada por interlocutores do MEC nos seguintes termos: 3 A palavra educação está adjetivada por profissional, científica e tecnológica pela assunção de seu foco em uma profissionalização que se dá ao mesmo tempo pelas dimensões da ciência e da tecnologia, pela indissociabilidade da prática com a teoria. O conjunto de finalidades e características que a lei atribui aos Institutos orienta a interatividade e o relacionamento intra e extra rede. (BRASIL, 2009, p. 16). Considera-se que os elementos utilizados nessa pequena introdução caracterizando o IFSC são importantes para compreenderem-se as condições de contorno que definem os limites sobre um determinado fazer educacional, principalmente aqueles relacionados aos ambientes em que, em sua essência, ocorrem os processos de ensino e de aprendizagem. 2. Referencial teórico Esses processos de ensino e de aprendizagem devem, por conseguinte, nas palavras de Pacheco e Rezende (2009), estar alinhados com o foco dos Institutos Federais definido pelo governo Lula, em face da existência de um novo contexto social-político-produtivo que a nação brasileira ingressara, nos seguintes termos: O foco dos institutos federais é a promoção da justiça social, da equidade, do desenvolvimento sustentável com vistas a inclusão social, bem como a busca de soluções técnicas e geração de novas tecnologias. Estas instituições devem responder, de forma ágil e eficaz, às demandas crescentes por formação profissional, por difusão de conhecimentos científicos e de suporte aos arranjos produtivos locais. (PACHECO; REZENDE, 2009, p.8). A realização da visão de educação para os Institutos Federais, apregoada por interlocutores do governo Lula, ao comentarem a Lei no 11.892/2008, deve ocorrer, ao mesmo tempo, “pelas dimensões da ciência e da tecnologia, pela indissociabilidade da prática com a teoria”, destacando que o objetivo primeiro dessa nova institucionalidade é a profissionalização e, por conseguinte, “sua proposta pedagógica tem sua organização fundada na compreensão do trabalho como atividade criativa fundamental da vida humana e em sua forma histórica, como forma de produção” (BRASIL, 2009, p. 16; 23). Ainda, na mesma temática, de acordo com os interlocutores do governo Lula ao comentarem a Lei no 11.892/2008, está posta a necessidade de seu corpo de profissionais 4 elaborarem um “Projeto Pedagógico”, em que conste “a inovação na abordagem das metodologias e práticas pedagógicas com o objetivo de contribuir para a superação da cisão entre ciência/tecnologia/cultura/trabalho e teoria/prática ou mesmo com o tratamento fragmentado do conhecimento” (BRASIL, 2009, p. 24). A concepção e implementação desse “Projeto Pedagógico” deve estar voltado, contudo, para currículos que se “caracterizem pela flexibilidade, itinerários de formação que permitam um diálogo rico e diverso em seu interior e integração dos diferentes níveis da educação básica e do ensino superior, da educação profissional e tecnológica, na formação inicial e na formação continuada” (BRASIL, 2009, p. 25, grifos dos autores). Do ponto de vista da retórica, considerando as normas citadas nos parágrafos anteriores deste texto e a manifestação de interlocutores do governo Lula, cada Instituto Federal, deve construir o seu “Projeto Pedagógico”. Está perceptível que esses deverão ter o trabalho como seu princípio educativo; que não superará a “Pedagogia das Competências” instituída pelo governo Cardoso; e que terá como cliente dessas autarquias o diversificado mercado produtivo, uma facção da sociedade brasileira. Há de considerar-se ainda que a necessidade da instituição educacional de nível superior ter o seu “Projeto Pedagógico” já estava posto no Decreto no 5.773/2006, do governo Lula, em cuja época esses Institutos Federais ainda não existiam. Um dos agentes dessa educação profissional e tecnológica, que provavelmente deva estar conceituada no “Projeto Pedagógico” do Instituto Federal, será o professor que buscará nesse a concepção metodológica apropriada e delineada pela instituição educacional, para projetar o exercício da profissão docência no interior da autarquia e em frentes de atuação profissional diversificadas, como no caso de: a) cursos técnicos de nível médio, integrado, concomitante ou subsequente; b) cursos superiores de tecnologia; c) cursos de engenharia; d) cursos de pós-graduação, especialização e mestrado; e) cursos vinculados ao Programa Nacional de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade de Jovens e Adultos (PROEJA); f) cursos vinculados ao Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC); g) cursos da Educação a Distância (EaD); dentre outras vinculações a programas governamentais. Conforme advogam interlocutores do governo Lula, nessa projeção feita pelo professor deve-se superar a “cisão entre ciência/tecnologia/cultura/trabalho e teoria/prática ou mesmo com o tratamento fragmentado do conhecimento” (BRASIL, 2009, p. 24). 5 Há uma relação de integração entre o “Projeto Pedagógico” do Instituto Federal e o professor, este último visto como um sujeito social e plural, no que se refere a sua visão de mundo, em face de caracterizar-se como um sujeito histórico. Sobre esse projeto, conselheiros da Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE), na Resolução no 2/2012, argumentam que esse deve traduzir a proposta educativa da instituição educacional, com “fundamento no princípio do pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, no exercício de sua autonomia e na gestão democrática” (BRASIL, 2012, p. 6). Ademais, conforme Machado (2011): A formação de professores para a Educação Profissional e Tecnológica (EPT) é decisiva para que a atual política de expansão, interiorização e democratização dessa modalidade educacional se efetive com qualidade social, produção de conhecimentos, valorização docente e desenvolvimento local, integrado e sustentável. (MACHADO, 2011, p.690) Então, se o Instituto Federal de Santa Catarina caracteriza-se por uma instituição pluricurricular, com uma ação educacional tão diversificada no que se refere a estágios formativos profissionalizantes e clientela, conforme relatado neste texto, quantas concepções pedagógicas seriam necessárias para fundamentar o planejamento e o exercício da prática docente, no que se refere aos processos de ensino e de aprendizagem relacionados a toda essa coletânea de atividades já relatadas neste texto? 3. Objetivos Sobre esse sujeito social e histórico: o professor, faz-se referência ao Parecer CNE/CP no 009/2001 que define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena, elaborado por conselheiros do CNE, reunidos em nome do Conselho Pleno (CP), a partir do qual é possível verificar algumas atribuições ao exercício da profissão docência, como: a realização de “aprendizagens significativas”; “construir junto com os seus futuros alunos experiências significativas”, dentre outras questões postas pelos mesmos, ao definirem uma visão sobre a imersão desses em processos educativos. Esses conselheiros ainda informam que entendem por formação profissional, no caso dos professores, uma “preparação voltada para o atendimento das demandas de um exercício profissional específico que não seja uma 6 formação genérica e nem apenas acadêmica” (BRASIL, 2001, p. 14; 29): isto, então, seria a educação ou ensino profissional e tecnológico? Percebe-se, na manifestação de conselheiros do CNE no CNE/CP no 009/2001 que essas institucionalidades, entendam-se os Institutos Federais, os Centros Federais de Educação Tecnológica, a Universidade Tecnológica do Paraná, e as Escolas Técnicas vinculadas a Universidades Federais, cujas instituições dão forma à Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, apresentam um compromisso balizar com o segmento produtivo, chancelado por esferas do governo federal. O que se configura, a partir dessa leitura, é um fazer educacional atrelado ao mercado e, portanto, aquém das demais questões sociais que repercutem no desenvolvimento do ser humano, como se lhe fosse suficiente apenas adquirir uma condição de empregabilidade para prover a manutenção da sua organicidade e interesses de outros que estão colocados num primeiro plano. Avalia-se importante considerar a perspectiva de que a formação profissional do professor e a sua especialização despontam como condição sine qua non para o desenvolvimento do ato educativo, em face de ser necessário, no presente caso, além do seu conhecimento dispor de uma capacidade de projetar certa intencionalidade, em face de que o meio da educação profissional e tecnológica frequentemente está submetido à pressão do mercado, sendo imprescindível, do ponto de vista do conhecimento científico-tecnológico, a presença de um sujeito social focado num determinado nicho de conhecimento, por conseguinte, com uma visão e postura profissional interdisciplinar. O que se efetiva no dia-a-dia dos profissionais do IFSC, ao projetarem a preparação de suas atividades acadêmicas, no que se refere a processos de ensino e de aprendizagem, incialmente é uma apropriação de um determinado plano de ensino vinculado a um Projeto Pedagógico de um determinado Curso (PPC), sustentado por um perfil profissional previamente definido, como ponto de chegada, para precisar os recortes de conhecimentos que serão abordados e discutidos com seus alunos, no transcorrer de vinte semanas. A partir dessa visão de processo que se desdobra como um projeto, em fase da necessidade de realizar um planejamento, desponta à importância do “Projeto Pedagógico” da instituição educacional, em face de que essa ação não deveria ocorrer descompromissada e isenta dos princípios educacionais e pedagógicos que balizam a ação dessa junto aos demais segmentos da sociedade, como no caso do conceito de trabalho que está posto como princípio educativo e 7 seria perpassante a toda ação do coletivo de professores da autarquia. Qual seria o conceito de trabalho para a educação, profissional, científica e tecnológica? Todo esse processo ao qual o professor está imerso e o desenvolve pode ser compreendido no contexto da “Transposição Didática”, a partir do qual esse age no sentido de planejar e construir uma trama com vistas a possibilitar a realização de processos de ensino e de aprendizagem, sob a sua responsabilidade. Chevallard (2005) aponta que um saber a ser ensinado sofre um conjunto de transformações adaptativas que vão torná-lo apto a ocupar um lugar entre os objetos de ensino. Esse trabalho que transforma um objeto do saber sábio em saber ensinado é denominado de transposição didática. Astolfi e Develay (2011) discutem exemplos em que “a designação de um saber sábio como objeto do ensino modifica-lhe muito fortemente a natureza”. Pinho Alves (2000) explica que: É utilizado o termo saber (savoir) para designar o objeto sujeito a transformações. Como elemento de análise do processo de transformação do saber, a transposição didática, estabelece a existência de três estatutos, patamares ou níveis para o saber: (a) o saber sábio (savoir savant); (b) saber a ensinar (savoir à enseigner) e (c) saber ensinado (savoir enseigné). A existência destes patamares ou níveis sugere a existência de grupos sociais diferentes que respondem pela existência de cada um deles. Estes grupos diferentes, mas com elementos comuns ligados ao “saber”, fazem parte de um ambiente mais amplo, que se interligam, coexistem e se influenciam, denominado de noosfera. (PINHO ALVES, 2000, p.176) O professor, portanto e por sua vez, não é o único agente envolvido no processo da transposição didática, em face de que “a transposição didática que transforma o saber a ensinar em saber ensinado ocorre no próprio ambiente escolar, e pode ser entendida como uma transposição interna” (PINHO ALVES, 2000, p. 177), repercutindo, por conseguinte, a ação de outros sujeitos. Uma das etapas desse processo que se pretende abordar neste texto é sobre a estratégia pedagógica, ou seja, a metodologia a ser utilizada para a realização, conforme advogam conselheiros do CNE (BRASIL, 2001), de “aprendizagens significativas” decorrentes de “experiências significativas”, tendo o trabalho como princípio educativo, mesmo interpretando-se que metodologia e didática são indissociáveis. Dessa forma, busca-se nesse artigo, fazer uma discussão sobre o espaço, a inclusão e a abordagem de objetos de 8 aprendizagem e aprendizagem significativa na educação, profissional e tecnológica dos Institutos Federais. 4. Metodologia Com uma noção das normas legais que regem o processo de ensino e de aprendizagem nos Institutos Federais, apresentadas no referencial teórico, e querendo debater o tema objeto de aprendizagem, expõem-se, no desenvolvimento do artigo, recortes de concepções metodológicas que podem gerar uma aprendizagem significativa, formando a fundamentação teórica da discussão aqui proposta. 5. Desenvolvimento Interpreta-se que uma determinada metodologia tem origem a partir de estudos desenvolvidos por pesquisadores, com o objetivo de tentar sistematizar um determinado recorte de conhecimento de uma determinada área, a partir de uma interpretação de um sujeito social, a qual possibilitará elaborar um planejamento direcionado à realização de projetos de ensino e de aprendizagem. Trata-se, portanto, de uma construção humana tendo como elementos norteadores a visão de sociedade que esse sujeito social detém, sua compreensão de profissional da educação, bem como de processo de ensino e de aprendizagem, inclusive sobre esse fazer educacional. Gama (2007), em sua tese: “Método de construção de objetos de aprendizagem com aplicação em métodos numéricos”, capítulo 3, desenvolve uma discussão sobre as teorias de aprendizagem, classificando-as em: Teoria construtivista; Teoria cognitivista; e Teoria behaviorista. Sobre a Teoria construtivista, a autora apresenta as seguintes considerações: é baseada em três conceitos fundamentais: interação, assimilação e acomodação. A interação do sujeito com o seu meio é a sua relação com o objeto, o conhecimento e a manipulação gerando um processo de adaptação. A assimilação é o momento onde o indivíduo internaliza o objeto e o interpreta. E, por último, a acomodação é a fase onde ele compreende o objeto. Esta estrutura é permanente e sempre está em desenvolvimento, por isso este processo foi denominado de “Construtivismo” dando a ideia de que a aprendizagem se dá através das interações entre o homem e o seu meio. (GAMA, 2007, p. 21). 9 Quanto a Teoria behaviorista, Matos (2006, p. 28-31) destaca que para os behavioristas a “aprendizagem é nada mais nada menos do que a aquisição de um novo comportamento, sendo o aprendiz um ser que responde a estímulos do meio exterior”. No caso da Teoria Cognitivista, o autor esclarece que, ao contrário à perspectiva de aprendizagem behaviorista que foca nos resultados estímulo-resposta, essa perspectiva “afirma que a mente constrói a sua própria realidade e que a aquisição de conhecimento só é relevante se a informação for aprendida e entendida significativamente”. O autor ainda afirma que as “teorias de aprendizagem, de uma maneira geral, procuram essencialmente reconhecer a dinâmica envolvida nos atos de ensinar e aprender partindo do reconhecimento da evolução cognitiva do homem, e, ao mesmo tempo, tentam explicar a relação entre o conhecimento pré-existente e o novo conhecimento” (MATOS, 2006, p. 31). A respeito de uma concepção metodológica que possibilite o professor desenvolver uma “aprendizagem significativa”, faz-se referência à obra de Moreira e Masini (1982) na qual os autores abordam os fundamentos teóricos que dão sustentação a teoria de David Ausubel, com vistas à realização desse tipo de aprendizagem. Na compreensão desses autores, para o professor desenvolver uma “aprendizagem significativa” ele teria que estar preparado para tomar decisões de forma a romper com um determinismo tecnicista, contudo, mediante ampliação e aprofundamento de sua compreensão em relação a um mundo de significados, isto é, “atribui significados à realidade em que se encontra”, “de forma consciente e participante”, em face da necessidade de uma intencionalidade a ser posta em ação, mesmo porque é “a consciência que atribui significado aos objetos e situações” (MOREIRA; MASINI, 1982, p. 2). Essa visão de aprendizagem posta por Ausubel, de acordo com Moreira e Masini (1982, p. 3-4), institui-se “segundo o constructo cognitivista” porque decorre de “um processo de armazenamento de informações, condensação em classes mais genéricas de conhecimentos, que são incorporados a uma estrutura no cérebro do indivíduo, de modo que esta possa ser manipulada e utilizada no futuro”. Nessa visão de “aprendizagem significativa” apresentada por Ausubel há, para sua efetivação, contudo, a necessidade de que “o material novo, ideias e informações que apresentam uma estrutura lógica, interaja com conceitos relevantes e inclusivos, claros e disponíveis na estrutura cognitiva, sendo por eles assimilados, contribuindo para a diferenciação, elaboração e estabilidade” (MOREIRA; MASINI, 1982, p. 4). 10 Ausubel compreende a “aprendizagem significativa”, relatada por Moreira e Masini (1982, p. 7; 5) na sua obra, como um processo de ancoragem, em que a nova informação ancora-se, de forma substancial e não aleatória, em “conceitos relevantes preexistentes na estrutura cognitiva de quem aprende”, decorrente da organização e desenvolvimento de uma intencionalidade docente, a partir da qual, em movimento, “o significado potencial, inerente aos símbolos, converte-se em conteúdo cognitivo, diferenciado para um determinado indivíduo”. Observa-se que é a partir dessa intencionalidade docente pensada e posta em ação, que possibilitará o aluno fazer uma transposição de uma aprendizagem mecânica para uma aprendizagem significativa, em cujo contexto “a posse de habilidades que tornam possível a aquisição, retenção e aparecimento de conceitos na estrutura cognitiva”, capacitará esse a adquirir significados. Resgata-se que conselheiros do CNE discutindo a ação de professores no Parecer CNE/CP no 009/2001, abordam a necessidade desses desenvolverem uma “aprendizagem significativa” a partir de “experiências significativas”, todavia, em nenhum momento se referiram a visão de aprendizagem de Ausubel, assim como sobre qualquer proposta de outro pesquisador, limitando-se a proferirem seu entendimento de que “aprendizagens significativas, que remetem continuamente o conhecimento à realidade prática do aluno e às suas experiências, constituem fundamentos da educação básica, [...]” (BRASL, 2001, p. 14). A educação básica não seria o que sustentaria o sistema educacional brasileiro? No caso da compreensão da “aprendizagem significativa” de Ausubel, Moreira e Masini (1982) argumentam que para haver essa aprendizagem é preciso haver uma conexão com conceitos subsunçores já existentes, ou seja, faz-se necessário inserir o aluno num contexto a partir do qual seja possível esse associar novos conceitos com os seus conceitos gerais preexistentes, de forma a realimentar os conceitos subsunçores iniciais, tornando-os mais elaborados e capazes de servir de subsunçores para novas aprendizagens, em face de poderem ancorar novas informações. Trata-se, por conseguinte, de um processo que se realimenta e para tanto exige a construção de uma interatividade pedagógica pensada e crescente, na premissa de facilitar a aprendizagem subsequente. Nesse sentido, a essa estratégia pensada, percebe-se que está definida por Ausubel como “organizadores prévios”, com vistas à, deliberadamente, “manipular a estrutura cognitiva a fim de facilitar a aprendizagem significativa” (MOREIRA; MASINI, 1982, p. 11). 11 Moreira e Masini (1982, p. 11-12) esclarecem que, de acordo com Ausubel, “a principal função do organizador prévio é a de servir de ponte entre o que o aprendiz já sabe e o que ele deve saber, a fim de que o material possa ser aprendido, de forma significativa”; dito de outra forma, esses organizadores prévios funcionariam, portanto, como “’pontes cognitivas’”, de forma a possibilitar que o aluno construa conexões-interativas entre aquilo que ele já sabe, entendido pelos autores como subsunçores, com aquilo que ele precisa saber. A partir dessa visão de “organizadores prévios” exposta no parágrafo anterior, Moreira e Masini (1982) informam que esses têm sido a parte da teoria de Ausubel sobre a “aprendizagem significativa” que mais tem tido a atenção de pesquisadores, em face de poderem ter valor de ordem pedagógica de forma a constituírem-se como instrumentos didáticos estratégicos. Nesse sentido os autores apresentam as seguintes recomendações: a) “identificar o conteúdo relevante na estrutura cognitiva e explicar a relevância desse conteúdo para a aprendizagem do novo material”; b) “dar uma visão geral do material em nível mais alto de abstração, salientando as relações importantes”; e c) “prover elementos organizacionais inclusivos, que levem em consideração mais eficiente e ponham em melhor destaque o conteúdo específico do novo material”. (MOREIRA; MASINI, 1982, p. 13). Ao discutir a questão de aprendizado significativo, vale ressaltar um ponto abordado por Novak (2010), que “a distinção entre os aprendizados mecânico e significativo não é uma simples dicotomia, mas antes um continuum, pelo fato de os indivíduos variarem no que se refere à quantidade e qualidade de sua bagagem de conhecimento relevante e à intensidade de sua motivação em procurar modos de incorporar conhecimento novo ao conhecimento que já possuem”. Como se entende que as metodologias não são excludentes, o autor ainda expõe a confusão que há na interpretação do conceito de aprendizagem significativa, em que muitas pessoas entendem a descoberta autônoma como obrigatoriamente significativa: “A realidade, no entanto, é que, a não ser que os estudantes possuam ao menos uma compreensão conceitual rudimentar do fenômeno que estão investigando, a atividade pode acabar acrescentando pouco ou nada ao seu conhecimento relevante e não passar de trabalho em vão”. (NOVAK apud NOVAK e CAÑAS, 2010, p.12) 12 Vale lembrar que a memória humana não é e não deve ser vista apenas como um repositório porque há diversos sistemas de memória interligados. Para atingir um conhecimento à longo prazo, Miller (2010) expressa a necessidade de atingir a memória de curto prazo e a “memória operacional”: “Toda informação que entra é organizada e processada pela memória operacional por meio da interação com o conhecimento presente na memória de longo prazo. O fator limitante aqui é que a memória operacional consegue processar apenas um número relativamente pequeno de unidades psicológicas (de cinco a nove) em um dado momento”. (MILLER apud NOVAK e CAÑAS, 2010, p.12) O aprendizado mecânico também chega ao estágio de memória de longo prazo após muita repetição, mas com um fator negativo, a estrutura cognitiva do aprendiz não é aprimorada ou modificada para esclarecer ideias incorretas. Assim, as concepções erradas persistirão e o conhecimento aprendido tem pouco ou nenhum potencial de ser usado em situações de aprendizagem e/ou resolução de problemas no futuro (NOVAK, 2002). Avalia-se que os pressupostos teóricos sobre a metodologia de “aprendizagem significativa” de Ausubel e discutido por Moreira e Masini (1982) em sua obra, possibilita a construção de uma reflexão contemporânea sobre os “objetos de aprendizagem”, como um recurso didático-pedagógico, a partir do qual seria possível o aluno obter uma “experiência significativa” relativa a um determinado recorte de conhecimento, de acordo com uma intencionalidade docente, esse visto como uma intelectualidade em movimento que apresenta consciência da própria função, como também do campo social, econômico e político. Há de considerar-se, por conseguinte, como advoga Gramsci (1979, p. 7), de que não existe atividade humana desprovida do uso da intelectualidade, mesmo aquelas destinadas a qualquer tipo de trabalho físico porque “mesmo no mais mecânico e degradado, existe um mínimo de atividade intelectual criadora”. Faz-se oportuno argumentar que quando se observa um determinado campo de atividades humanas, verifica-se que a relação entre o “esforço de elaboração intelectual-cerebral e o esforço muscular-nervoso não é sempre igual”, sendo possível, portanto, perceber-se que “existem graus diversos de atividade específica intelectual” (GRAMSCI, 1979, p. 7). É oportuno ainda destacar que, de acordo com Iturra (2009, p. 1), “todo o grupo social, como condição da sua continuidade [devido à possibilidade de sua extinção], precisa transmitir à geração seguinte a experiência acumulada no tempo”, em face de seus membros 13 individuais estarem sempre a renovarem-se, seja pela morte e/ou nascimento, o que na compreensão do autor, exige do ser humano a necessidade de dinamizar a transmissão de sua “experiência acumulada, que se denomina saber e que existe fora do tempo individual, fique organizada numa memória que permaneça no tempo histórico”. Trata-se de uma relação do ser humano com o conhecimento que é histórico e factível de negação, por intermédio da definição de processos de ensino e de aprendizagem, os quais podem ser projetados e elaborados com base na interlocução, mediação e interação, de forma a possibilitar que esse apreenda uma concepção de mundo, com vistas a transformar-se socialmente, decorrente da realização de uma relação contextualizada entre o mundo das coisas naturais, o mundo das coisas artificiais, e entre seus semelhantes e demais seres da Natureza. Interpreta-se que essa passagem de nível de desenvolvimento cognitivo do ser humano, pode ocorrer ao acaso, como no caso do conhecimento popular que está desprovido de argumentos científico-tecnológicos comprobatórios. A sociedade, todavia, em seu processo histórico percebeu a necessidade de propiciar uma formação mais densa do ponto de vista do conhecimento e desenvolver o conhecimento científico-tecnológico; idealizou e construiu instrumentos, de forma a oportunizar a formação de uma intelectualidade estratificada, porque uma determinada realidade do ser humano nunca lhe é suficiente ou mesmo satisfatória. Pinto (2005, 149) avalia que os ser humano, “dentre todos os seres vivos, é o único a produzir sua existência”, realizando-a de forma livre, “graças à escolha consciente dos meios a empregar, dos caminhos a seguir, está obrigado a inventar”, o que se poderia entender, contemporaneamente, pela busca incessante de inovação científico-tecnológica. Considera-se apropriado para o texto, em face da compreensão social sobre a educação e seu compromisso com segmentos sociais, apresentar a seguinte interpretação do autor: O homem é um ser destinado a viver necessariamente na natureza. Apenas, o que se entende por “natureza” em cada fase histórica corresponde a uma realidade diferente. Se no início era o mundo espontaneamente constituído, agora que o civilizado consegue cercar-se de produtos fabricados pela arte e pela ciência, serão estes que formarão para ele a nova “natureza”. (PINTO, 2005, p. 37). O processo destinado a formar essa intelectualidade estratificada é denominado de processo educativo porque além de formar sob a égide de um perfil profissional, busca educar o ser humano para viver em sociedade. Iturra (2009, p. 2) entende esse como “o meio pelo 14 qual os que já têm explicitado na sua memória pessoal o como e o porquê da sua experiência histórica tentam retirar os mais novos da inconsciência do seu saber daquilo que é percebido sem que seja explícito; e procurar inserir os mais novos nas taxonomias culturais”. Na compreensão do autor a questão “está em saber se é mais útil para a reprodução do grupo que os novos reproduzam o saber, ou entendam a necessidade dele ao praticar a sua utilidade” (ITURRA, 2009, p. 2). Interpreta-se que a situação levantada por Iturra (2009) apresenta conexão com a visão histórica sobre a educação profissional no Brasil e também com a seguinte manifestação de Pinto (2005, p. 132): “O esforço humano de valer pelo dispêndio de energia muscular, marginaliza quem não o pode fornecer em forma superior, intelectual, por culpa da organização social que os inferiorizou [no presente caso uma ação de tendência perpetuada e desenvolvida por governos federais e segmentos sociais estratificados], os trabalhadores, não os educando para isso.” Percebe-se que essa situação levantada por Iturra (2009) desponta na sociedade a partir de uma disputa de poder, na premissa de atender interesses gerais particularizados, como o caso de dispor-se de um exército de profissionais de nível médio, entenda-se de técnicos de reserva e a disposição das forças produtivas. Nessa situação exemplificada, o processo educativo, na visão do autor, estaria concebido como “uma reiteração do que já se tem” porque estaria perpassado pela ação que busca informar sobre, enquanto que numa outra perspectiva, o processo estaria perpassado por uma ação voltada para a “formação de uma estrutura de pensamento que pode entender as alternativas da resolução das questões colocadas pelo processo da vida” (ITURRA, 2009, p. 2). Está posto, portanto, que ensino e aprendizagem devem constituir-se como processos interseccionais, o que possibilitará uma aprendizagem mais ou menos significativa de acordo com a modelagem do formato do ensino, em face de que esse poderá ocorrer a partir de uma prática informativa ou destinada a discutir o conhecimento, em seu aspecto o mais global possível: natureza e uso. No que se refere aos recursos que esse incorpora, está perceptível que o formato do seu planejamento tenderá a inserir o educando num contexto educacional de forma a vivenciar experiências significativas. Percebe-se que Iturra (2009), em seu texto, também faz uma distinção entre dois formatos possíveis para o planejamento do ensino, provavelmente, de acordo com uma 15 determinada necessidade político-social que repercutirá num estrato social de uma sociedade, mediante a seguinte questão colocada pelo autor: “A questão está em saber se é mais útil para a reprodução do grupo que os novos reproduzam o saber, ou entendam a necessidade dele ao praticar a sua utilidade” (ITURRA, 2009, p. 2), nos seguintes termos: O primeiro seria ensinar o que já se tem, subordinado à letra do que já se possui como explicação da natureza e das relações entre os homens; o segundo seria aprender o processo que dinamiza as operações pelas quais a mente humana resolve uma questão, cada vez que uma problemática se lhe coloca. Na primeira modalidade, o processo educativo seria uma reiteração do que já se tem, enquanto que na segunda seria a formação de uma estrutura de pensamento que pode entender as alternativas da resolução das questões colocadas pelo processo da vida. (ITURRA, 2009, p. 2). Para uma visão mais alargada sobre as considerações apresentadas neste texto de Iturra (2009), faz-se referência a sua compreensão sobre ensino, como: Denomino ensino a pratica de transferir conhecimentos provados ou acreditados pela população que educa à população que se estima desconhecer as formas, estruturas e processos que ligam as relações sociais com as coisas: a pratica de fixar o estereotipo do social, seja resultado da ou da investigação ou da ideologia, é a que predomina ainda no processo educativo cristão e muçulmano. (ITURRA, 2009, p. 2). No que se refere à postura do professor, no exercício da profissão docência, Iturra (2009) declara que no ensino que ele conhece, “o iniciador [professor] tende a substituir a atividade do iniciado [aluno], seja na atividade direta, seja na obrigação do aprendiz [aluno] fazer como lhe é dito, imitando”; continua o autor: “Na aprendizagem, a iniciativa é de quem é introduzido ao mundo histórico em que o seu grupo já vive, sendo a atividade de quem orienta um mostrar alternativas e as suas consequências, ficando a opção com quem aprende” (ITURRA, 2009, p. 2-3). Na compreensão de Iturra (2009), no que se refere ao mundo ocidental, ensino e aprendizagem instituem-se como cenários apartados, inclusive com objetivos diferentes, portanto, instituições educacionais com práticas educacionais diferentes. A manifestação de conselheiros do CNE no Parecer CNE/CP no 009/2001, já abordado neste texto, está dirigida, entretanto, a todas as instituições educacionais, pois se refere ao exercício da profissão docência. Logo, independente de nível e modalidade de ensino, assim como sobre a natureza da instituição educacional e sua imersão na sociedade. 16 Mesmo sendo a educação profissional um processo fragmentário, em face das suas especificidades formativas e as urgências sociais e de mercado que lhe são atribuídas, em face da constante necessidade por inovação tecnológica, o que, de certa forma, contribui para a longevidade das organizações produtivas e de prestação de serviços, está patente a recorrência em perceber essa modalidade de formação de profissionais a partir de outra perspectiva que perceba que o processo educacional exige tempo de maturação do educando e adensamento de conhecimento. Nesse sentido, avalia-se imprescindível buscar outros componentes abordados no texto de Shulman (1968), a partir dos quais é possível fazer-se uma distinção entre três categorias de conhecimentos, interpretadas neste texto como: a) conhecimento sobre conteúdo: relacionado ao professor que planeja e desenvolve processos de ensino e de aprendizagem; b) conhecimento pedagógico do conteúdo: com vistas a que o professor perceba num determinado recorte de conhecimento a dimensão desse conhecimento em movimento no interior do processo de ensino e de aprendizagem; c) conhecimento curricular: constituído por um conjunto de conhecimentos de temas e tópicos relacionados a um determinado perfil profissional, bem como recursos e técnicas pedagógicas voltadas a abordagem dos mesmos. Shulman (1968, p. 10), em seu texto, faz referência a três categorias de conhecimento dos professores e suas formas de representação, vistas como: “propositional knowledge, case knowledge, and strategic knowledge”. Entende-se que o conhecimento intrínseco do professor em ação e relativo a um determinado recorte de conhecimento, desdobra-se segundo o contexto ao qual o mesmo se aplica ou a partir do qual se origina e se realimenta. Considera-se que essas três categorias de conhecimento abordadas pelo autor podem assumir interpretações distintas, segundo uma visão de realidade do professor, por conseguinte, não é possível subjuga-las, em face da repercussão que podem acarretar. Há de resgatar-se que conselheiros do CNE, em sua visão de ação do professor no exercício da profissão docência, haviam feito referência a uma “aprendizagem significativa” decorrente de uma imersão do aluno em “experiências significativas”. A partir dessa ótica, sem que se tenha a pretensão de adesão à tese de autores citados neste texto, percebe-se a repercussão e importância dessas três categorias de conhecimento ventiladas por Shulman (1968), no que se refere à visão de aprendizagem externada por conselheiros do CNE em sua norma legal e aqui apresentadas. 17 A esse contexto referido por Shulman (1986), Mishra e Koehler (2006) o veem na forma de um modelo constituído por três entidades apartadas e identificadas como: conhecimento sobre conteúdo; pedagogia; e tecnologia. Na visão dos autores a superação, passagem, dessa situação, somente será possível a partir do momento que se conseguir integrar esses três tipos de conhecimentos, originando três regiões de integração bipolares distintas, conhecidas como: conhecimento sobre conteúdo tecnológico; conhecimento sobre conteúdo pedagógico; e conhecimento tecnológico-pedagógico, e uma região de integração tripolar, denominada de: conhecimento sobre conteúdo tecnológico-pedagógico. Percebe-se na abordagem desenvolvida por Mishra e Koehler (2006) uma articulação integradora entre essas três entidades: conteúdo, pedagogia e tecnologia, em face de entenderem que o planejamento didático-pedagógico de um determinado recorte de conhecimento requer o desenvolvimento pelo professor de uma trama entre essas fontes de conhecimento. Está posto nesse processo a influência do professor como agente inteligível, em face dos conhecimentos adquiridos por ele, da sua visão de mundo e do seu entendimento sobre as complexas relações entre as entidades citadas, bem como sobre o exercício da sua função de educador na educação profissional. Nascimento (2013), construindo uma relação entre os objetos de aprendizagem e a relação com o professor, ao referir-se sobre uma possível prática educacional, apresenta a seguinte compreensão: Tudo depende da intenção inicial do professor, do objetivo dele ao selecionar um objeto de aprendizagem. O professor pode selecionar um objeto, um recurso no formato de vídeo, quando a sua intenção e ganhar a atenção dos alunos explorar um assunto. Outro exemplo e quando o professor precisa de um recurso para ajudar os alunos na compreensão de determinados conceitos complexos, e ele pode optar por uma simulação. As animações e simulações permitem que os alunos manipulem parâmetros c observem relações de causa e eleito dos fenômenos, acelerando o tempo de aprendizagem. O uso de objetos de aprendizagem pode representar para o aluno um ganho de tempo no processo de aprendizagem, pois eles podem agir como facilitadores desse processo. Além disso, eles podem tomar as aulas mais interessantes, mais diversificadas e adaptadas às características especifica dos alunos. (NASCIMENTO, 2013). Para expandir compreensões sobre os objetos de aprendizagem sem que se fique refém a um entendimento polarizado e que esteja vinculado à visão de pesquisadores nacional, porque se interpreta de que esses devem ser concebidos segundo a realidade educacional 18 brasileira, sem, contudo, perderem-se referências de outras culturas, faz-se referência a seguinte visão de Tavares (2013): De maneira geral o professor iria estruturar a sua disciplina fazendo escolhas de objetos de aprendizagem que mais se identificassem com as suas opções de trabalho, com o seu estilo de lecionar. O “mister” do professor em sala de aula poderia ser apoiado por uma sequencia de objetos de aprendizagem (e que englobariam toda a temática da disciplina), que iriam propiciar elementos além das possibilidades de um livro comum, principalmente quando consideramos as potencialidades de ferramentas instrucionais interativas. A utilização da interatividade acrescenta um ingrediente importante na facilitação dos processos de ensino e aprendizagem. (TAVARES, 2013). No que se refere à construção de processos de ensino e de aprendizagem voltados a conceber-se uma “aprendizagem significativa” por intermédio de “experiências significativas” e sua relação com objetos de aprendizagem, Tavares (2013) faz o seguinte destaque: Diante disso, existe uma gama enorme de possibilidades de construção de objetos de aprendizagem. Desde as propostas pedagógicas que contemplam unicamente o aspecto da memorização de conteúdo, quanto propostas que são estruturadas para facilitar a aprendizagem significativa. Acho mais adequada essa proposta que facilita a construção de significados, pois essa escolha propicia uma elaboração mais participativa, mais efetiva, mais transformadora, no sentido do ser humano como ator e autor de sua própria vida. (TAVARES, 2013). Entende-se que os objetos de aprendizagem na educação profissional e tecnológica possibilitam que o aluno seja imerso num contexto que disponha das condições a que ele possa construir modelos mentais. A esse respeito, Tavares (2013) apresenta as seguintes considerações: A grande vantagem na utilização do computador é a facilitação da construção de modelos mentais por parte dos alunos. É comum, entre os estudantes, identificar a dificuldade de entender um determinado modelo físico, com a dificuldade de compreender as equações usadas para descrevê-lo. Podemos construir uma modelagem que apresenta a visualização das características qualitativas de um fenômeno físico (ao invés de iniciar com as equações), assim como a apresentação de facetas que não são visíveis na Natureza (vetores, diferenças etc.). O aluno irá ser apresentado às equações que descrevem determinado fenômeno, já tendo tido contato com uma modelagem desse fenômeno, e inclusive já tendo construído um modelo mental desse fenômeno. Quando o aluno não consegue construir uma imagem mental de um fenômeno apresentado, a sua 19 tendência é de utilizar uma aprendizagem mecânica (ou memorística), com consequências desastrosas para a aprendizagem subsequente de temas correlatos. (TAVARES, 2013). Continua Tavares (2013) em sua reflexão: A animação interativa é extremamente útil para facilitar a aprendizagem de estudantes com dificuldades na destreza e percepção espaciais, e que desse modo são pouco hábeis para animar mentalmente sistemas complexos, a partir de uma serie de diagramas estáticos. Se aliarmos o mapa conceitual com a animação interativa (representação múltipla) estaremos potencializando a chance de sucesso da aprendizagem significativa, apresentando as varias nuances de determinado corpo de informações. Na medida em que facilita a construção de significados (aprendizagem significativa) a um maior numero de pessoas, esse tipo de animação interativa se coloca como uma ferramenta cognitiva inclusiva. (TAVARES, 2013). Há de considerar-se, neste texto, que não se tem a premissa de discutir características para objetos de aprendizagem, como: acessibilidade, durabilidade, reusabilidade, como granularidade, bem como outras, assim como uma convicção de um modelo único para que o professor possa projetar e desenvolver processos de ensino e de aprendizagem relativos à educação profissional e tecnológica. 6. Conclusões Percebe-se, por conseguinte, que o resultado dessa ação a ser promovida pelo professor propiciará a construção de um tecido com uma textura científico-tecnológica a partir do qual esse sujeito social disporá de uma base de conhecimentos para projetar, processos de ensino e de aprendizagem, com vistas a alcançar, do ponto de vista de resultados, o que Ausubel já denominava de “aprendizagem significativa”. Interpreta-se que esse tecido decorrente da intersecção entre conteúdo, pedagogia e tecnologia poderia ser o que Moreira e Masini (1982) abordam da teoria de Ausubel, como “organizadores prévios”, segundo uma estratégia que possibilitaria o professor projetar e desenvolver processos de ensino e de aprendizagem dirigidos a uma “aprendizagem significativa”. Avalia-se importante destacar que se trata de um processo pensado a partir de uma inteligência posta em movimento para esse fim, de forma a possibilitar que o aluno vivencie “experiências significativas”. 20 Interpreta-se que a junção dessas abordagens realizadas neste texto, a partir de: Ausubel em Moreira e Masini (1982); Iturra (2009); Shulman (1968); Mishra e Koehler (2006), possibilitam vislumbrar-se bases científico-tecnológicas para entender-se, contemporaneamente, e dimensionar-se a materialização de objetos de aprendizagem, com vistas à serem vinculados a processos de ensino e de aprendizagem, tendo como suporte sistemas informatizados. Avalia-se, contudo, que, em face das políticas governamentais para a educação profissional e tecnológica, é preciso definir-se pressupostos teóricos e epistemológicos como linhas mestras sobre esse fazer educacional, enquanto princípios balizares que possam nortear a ação dos Institutos Federais, com vistas à formação de uma força de trabalho que disponha de uma capacidade de raciocínio, o mais apurada possível. O todo apresentado neste texto possibilita concluir-se que a educação profissional e tecnológica no Brasil necessita de uma diretriz que defina esse fazer educacional como um pilar balizar da educação nacional, com vistas a superar uma visão rasteira de um compromisso com vistas à realização de um serviço. 7. Referências ASTOLFI, Jean Pierre; DEVELEY, Michel. A Didática das Ciências. São Paulo: Papirus Editora. 1989. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP no 009, de 8 de maio de 2001. 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