O Mundo do Rei Artur -4Antonio L. Furtado Ementa Introdução: Rei Artur - história, lenda, ficção? 1. Primeira fase: crônicas pseudo-históricas - Geoffrey of Monmouth 1.1. Bretões, saxões e normandos 1.2. História dos Reis da Bretanha 1.3. Vida de Merlim 2. Segunda fase: romances de cavalaria - Chrétien de Troyes 2.1. Cavalaria e amor cortês 2.2. Erec e Enide 2.3. Cligés 2.4. Lancelote 2.5. Yvain 2.6. Persival - ou o Conto do Graal 3. Terceira fase: estórias exemplares - Robert de Boron 3.1. Cruzadas e cavalaria sacra 3.2. Joseph ou O Romance da Estória do Graal 3.3. Vulgata Arturiana ou Lancelote-Graal 3.4. A Demanda do Santo Graal Conclusão: rei que foi, rei que será 4a. Apresentação 25/01/2011 Segunda fase: romances de cavalaria - Início Armaduras: cota de malha placa Cavalaria • • • • Suserano e vassalo, homenagem, desafio, feudo Cavaleiros: origem "gentil", aristocracia com terra, filho mais velho Pagem: 7-8 anos Escudeiro: 12-14 anos serviço a seu senhor - à mesa, no quarto, em torneios ou batalha treinamento com armas • Recebido na ordem da cavalaria em cerimônia solene: banho roupa: branco (pureza moral), vermelho (sangue), negro (morte) jejum, noite na igreja em orações confissão, missa. sermão chega ao altar com a espada pendurada no pescoço a espada é abençoada pelo padre Cavalaria • Recebido na ordem da cavalaria em cerimônia solene: dirige-se ao senhor que vai armá-lo cavaleiro para que desejas entrar na ordem? resposta adequada cavaleiros ou damas o armam e lhe põem as esporas o senhor lhe dá a acolada (três toques de espada no ombro ou pescoço) tapa no rosto, como última ofensa que poderá aceitar sem revide fórmula: "Em nome de Deus, S. Miguel e S. Jorge eu te faço cavaleiro." ganha lança, elmo e cavalo • Ou cavaleiro do banho ou cavaleiro da espada (bravura em batalha) • Ideal do cavaleiro: ser herói, cavalheiro, e cristão devoto dizer sempre a verdade, proteger a igreja, proteger os pobres, "largesse", manter a paz em sua localidade, perseguir os infiéis, defender damas e donzelas desprotegidas, tratar os reféns como hóspedes, poupar o vencido que se rende cortesia Fino amor, amor cortês • • • • • • • • Trovadorismo, começando no sul da França - região da langue d'oc Serviço à mulher, Frauendienst, fino amore, mulher como "senhor" Culto à Virgem Maria Espanha muçulmana Ovídio: Amores, Arte de Amar, Remédio para o Amor As grandes damas do amor cortês: Eleonora da Aquitânia, esposa de Henrique II da Inglaterra Maria condessa de Champagne (filha de Eleonora) As cortes de amor Maria encomenda um livro a Andreas Capellanus: De arte honeste amandi - conhecido como A Arte do Amor Cortês (circa 1184-1186) Regras do amor cortês (segundo André o Capelão) I. II. III. IV. V. VI. VII. VIII. IX. X. XI. XII. XIII. XIV. XV. Casamento não é desculpa para não amar. Quem não é ciumento não consegue amar. Ninguém pode prender-se a dois amores. É bem sabido que o amor está sempre ou aumentando ou diminuindo. O que um amante toma para si contra a vontade do outro não lhe dá prazer. Para a espécie masculina, o amor só acontece ao completar-se a puberdade. Quando um dos amantes falece, uma viuvez de dois anos deve ser cumprida pelo que sobrevive. Ninguém deve ser privado do amor sem motivo muito forte. Amar ninguém pode, a não ser que seja compelido pela persuasão amorosa. De onde mora a avareza o amor busca sempre se afastar. Não é certo amar uma mulher a quem se tem vergonha de propor casamento (?) O verdadeiro amante outro afeto não quer, além do abraço da mulher amada. Quando se torna público, o amor raramente dura. A conquista fácil deprecia o amor; a dificuldade da conquista o torna valioso. Todo amante fica pálido na presença da amada. Regras do amor cortês XVI. XVII. XVIII. XIX. XX. XXI. XXII. XXIII. XXIV. XXV. XXVI. XXVII. XXVIII. XXIX. XXX. XXXI. Quando o amante de repente avista a amada, seu coração palpita. Um novo amor põe em fuga o amor antigo. Apenas o bom caráter torna o homem digno de ser amado. Se o amor diminui, desaparece rápido e raramente revive. Quem ama está sempre preocupado. Ciúme, quando é real, sempre faz sentir o amor mais fortemente. O ciúme aumenta, e com ele o amor, quando se desconfia da pessoa amada. Aquele a quem o amor atormenta come e dorme muito pouco. Todo ato de um amante o leva no final a pensar na amada. Para o verdadeiro amante nada é bom, exceto o que possa agradar à amada. O amor não pode negar nada ao amor. Para um amante as consolações da amada nunca são bastantes. O menor indício leva o amante a suspeitar da amada. Homem que sofre de um excesso de paixão em geral não ama de verdade. O verdadeiro amante, sempre e sem descanso, vive da lembrança da amada. Nada impede que uma mulher seja amada por dois homens, ou um homem por duas mulheres. Chrétien de Troyes • Influências: Wace, que traduziu para o "romance" (francês) a História dos Reis da Bretanha de Geoffrey of Monmouth, canções de gesta, clássicos latinos, Romans d'antiquité, folclore bretão (?) • Versos de 8 sílabas, rimados aos pares • Conflitos e suas soluções: cavalaria (armas) vs. mulher amada (amor) • Obras arturianas: Erec e Enide - o herói negligencia as armas – 1170 Cligés - a mulher deve reservar o corpo a um só amor (o "anti-Tristão") – 1176 Lancelote, o Cavaleiro da Carroça - adultério (patrona: Marie de Champagne, filha de Eleonora da Aquitânia - amor cortês) – 1777 Yvain, o Cavaleiro do Leão - o herói negligencia o amor – 1177 Persival, o Conto do Graal - vida espiritual como terceiro fator (patrono: Felipe de Flandres - cruzadas) – 1182 Erec e Enide • Corte de Artur em Caradigan: caça ao cervo branco • Vêem passar: um cavaleiro (Ydier), uma donzela e um anão • Guinevere manda chamar o cavaleiro; o anão agride sua servidora, e logo também fustiga Erec filho do rei Lac • Erec os segue a Laluth, onde há uma festa em que a mais bela receberá um falcão como prêmio • Erec comparece acompanhando Enide, filha do nobre que o hospedara, e a faz pegar o falcão • Ydier desafia Erec, afirmando ser sua donzela a mais bela • Erec vence e o obriga a ir a Caradigan com o anão e a donzela, para contar tudo e pedir perdão a Guinevere • Erec apresenta Enide em Caradigan Távola Redonda em Erec e Enide Para os nobres barões que o rodeavam, clamando: "-Eu sou o melhor!", "-Eu é que sou!", a Távola Redonda Artur criou de que os bretões mil fábulas contavam. Wace, Roman de Brut • Mas eu bem sei dizer-vos os nomes de alguns dos maiores barões da Távola Redonda, que eram os melhores do mundo. Antes de todos os bons cavaleiros, Gawain deve ser considerado o primeiro, o segundo Erec o filho de Lac, o terceiro Lancelote do Lago. • Alguns outros: Gornemant de Gohort, o Belo Covarde, o Feio Ousado, Meliant de Liz, Yvain, Tristão que não ria jamais, Caradoc, Loholt filho de Artur, Sagremor, Beduero, Kay, ... Erec e Enide • Como era tradição nas caçadas ao cervo branco, Artur beija Enide, também ali a mais bela • Na festa de Pentecostes, casamento solene de Erec e Enide, seguido de torneio em Tenebroc, no qual Erec é proclamado vencedor • O casal vai viver na terra do rei Lac • Erec passa todo o tempo ao lado de Enide, negligencia os feitos de armas; falam mal dele como "recreant" • Um dia, ela chora a seu lado, pensando que ele dorme • Erec sai em busca de aventuras, obrigando-a a ir junto Erec e Enide • Vida de façanhas de Erec, e de sofrimentos de Enide • Guivret o pequeno - luta com Erec, e depois se torna seu amigo, assumindo o papel de ajudante (cf. Propp) • Análogo a (talvez fonte de) Guivret - Oberon rei dos elfos, na canção de gesta Huon de Bordeaux • Episódio da Alegria da Corte (Joie de la Cour) • Motivo semelhante: filme Jaula Amorosa - com Jane Fonda e Alain Delon • Morte do rei Lac - Erec assume o trono, com Enide, sendo coroados por Artur Cligés • No Prólogo, Chrétien diz ter traduzido obras de Ovídio, tais como a Arte de Amar, e de ter tratado do "rei Marcos e Isolda a Loura" • Início: Alexandre, filho do imperador de Constantinopla, futuro pai de Cligés, vem com mais 12 "gregos" juntar-se à corte de Artur • Expedição à pequena Bretanha (Armórica) • Alexandre e Soredamor, irmã de Gawain e companheira de Guinevere, se apaixonam mas não se declaram • A traição do conde Engrés de Guinesores (Windsor), regente na ausência de Artur, os faz voltar • Alexandre pede a Artur que arme cavaleiro a ele próprio e a seus 12 companheiros; vão antes banhar-se no mar • A rainha Guinevere dá a Alexandre uma camisa com fios de ouro e, ainda mais precioso, um fio do cabelo dourado de Soredamor Cligés • Para chegar até o traidor Engrés e capturá-lo, os gregos se disfarçam com o equipamento de inimigos mortos • Alexandre ganha taça de ouro prometida ao vencedor, juntamente com o reino de Gales e a mão de Soredamor - do casamento nasce Cligés • Morre o imperador, sendo sucedido pelo irmão mais moço, Alis, de Alexandre; há uma disputa terminada com um pacto: Alis promete não se casar - não poderá portanto ter filhos e Cligés será seu sucessor • Alis quebra a promessa, casando-se com Fenice, filha do imperador da Alemanha, antes prometida ao duque de Saxe Cligés • Cligés e Fenice se apaixonam • Diz Fenice a Thessala, sua aia: "Prefiro ser esquartejada a que, por causa de nós dois, seja relembrado o amor de Tristão e Isolda, do qual tantas loucuras são contadas que me envergonho de repetir." • Thessala fornece uma poção a ser servida toda noite ao imperador; ele terá a ilusão de ter Fenice nos braços • Fenice é raptada pelo duque de Saxe, e Cligés a liberta em combate singular • Seguindo recomendação do pai, Cligés vai igualmente à corte de Artur, onde participa 4 dias seguidos de um torneio, usando cada dia armas de côr diferente; vence Sagremor, Lancelote e Persival, e empata com Gawain (seu tio materno) • Ao voltar, ele e Fenice confessam um ao outro seu amor Cligés • Com ajuda de outra poção de Thessala, empreendem o truque da morte simulada (cf. Romeu e Julieta) • Médicos de Salerno, lembrando a história da mulher de Salomão, dizem ao imperador que ela não está morta • Este promete recompensá-los se tiverem sucesso, ou enforcá-los como bandidos se estiverem mentindo • Torturam o corpo inanimado de Fenice • Damas do palácio vêem a cena por uma fresta, arrombam a porta, e jogam os médicos pela janela • Fenice é enterrada, desenterrada, reanimada e tratada por Thessala, e se esconde com Cligés no subterrâneo de uma torre construída por Jean, homem de Cligés e hábil arquiteto Cligés • Passam a viver em um vergel • Um intruso os surpreende dormindo abraçados • A queda de uma pera os acorda a tempo; Cligés fere o intruso, mas ele escapa e os denuncia • Os amantes escapam para a corte de Artur • Artur reúne um exército e se prepara para atacar o imperador, pretendendo depô-lo -- já que descumprira a promessa de não se casar -- e colocar Cligés em seu lugar • Mas não é preciso: o imperador morre antes e Cligés assume a coroa, ao lado de Fenice • Desde esse tempo, as imperatrizes de Constantinopla são mantidas confinadas em seus quartos, e junto a elas nenhum homem é admitido, salvo se for castrado desde a infância Yvain, Cavaleiro do Leão • Na festa de Pentecostes reúne-se a corte em Cardoeil - Yvain, seu primo Calogrenant, Kay e outros conversam com a rainha • Calogrenant conta a estória de seu insucesso - maravilha da fonte da floresta de Broceliande: ao jogar água sobre uma pedra, cai uma tempestade, e vem um cavaleiro que o derruba • Kay zomba dele, e Yvain parte para vingar o primo • Acha o monstruoso guardador de touros, que lhe informa o caminho • Repete a aventura da fonte, fere de morte o cavaleiro • Galopa atrás dele até um castelo; porta corrediça mata seu cavalo • O cavaleiro morre e todos procuram seu matador • Lunete (serva de Laudine, a dona do castelo "mais bela do que qualquer deusa") dá a Yvain um anel que o torna invisível • Convence Laudine a casar-se com ele -- novo defensor da fonte Yvain, Cavaleiro do Leão • Artur e seus cavaleiros, tendo ouvido o relato sobre a fonte, chegam à fonte e provocam a tempestade • Yvain, agora defensor da fonte, enfrenta e derruba Kay • Laudine recebe Artur com grande honra; Gawain insiste com Yvain para voltar à corte e, junto com ele, participar de feitos guerreiros • Yvain consegue permissão de Laudine para ausentar-se por um ano; dá-lhe um anel que o protegerá de todo ferimento • Yvain deixa passar o prazo; vem uma donzela a mando de Laudine para tirar-lhe o anel e dizer-lhe que ela o repudia; ele enlouquece • A serva de uma dama o descobre desnudo na floresta e o cura com um unguento mágico • Yvain salva um leão atacado por uma serpente, e o leão passa a segui-lo (Propp: ajudante); ele é agora o Cavaleiro do Leão Yvain, Cavaleiro do Leão • Encontra Lunete presa numa capela junto à fonte, esperando a morte se ninguém a defender num duelo judiciário contra 3 homens; Yvain promete defendê-la, mas surgem antes várias tarefas: • Mata um gigante que ameaçava de desonra a irmã de Gawain - o leão o ajuda quando corre perigo • Duas irmãs disputam a herança do pai, e um combate é marcado na corte de Artur para decidir o caso; a mais velha recorre a Gawain e a mais nova a Yvain • No caminho, Yvain enfrenta dois "netuns" (entes diabólicos) no castelo da Pior Aventura, onde 300 jovens prisioneiras são obrigadas a trabalhar por salário vil, e todo cavaleiro que chega tem de combater com eles; Yvain os mata, com ajuda do leão • Yvain e Gawain lutam sem vencedor até o fim do dia; reconhecem um ao outro, abraçam-se, e fazem a paz entre as irmãs • Lunete apresenta Laudine ao Cavaleiro do Leão; a dama o perdoa Wace - Roman de Rou Lendas sobre Broceliande e Barenton O duque tinha homens de vários lugares, inclusive de Broceliande, da qual os bretões contam muitas fábulas. É uma floresta larga e profunda, muito famosa por toda a Bretanha. A fonte de Barenton brota lá, sob uma pedra. Para ela vem os caçadores em tempo de muito calor e, colhendo água em chifres, derramam-na na pedra para provocar chuva, que costuma cair, dizem eles, em toda a mata em volta -- por quê, não sei. Lá, também, se vêem fadas (se é verdade o que dizem os bretões) e ocorrem muitas outras maravilhas. O solo é abrupto e esburacado, e há uma abundância de cervos, mas os camponeses o abandonaram. Eu vi a floresta e a terra, e busquei as maravilhas, mas não achei nenhuma. Fui como um insensato, e voltei na mesma; o que buscava era loucura, e não passo de um tolo por minhas penas. Templo de Diana em Nemi Ovídio: Metamorfoses, Fastos, Frazer: O Graveto de Ouro • Templo de Diana, deusa da lua (lembrar Lunete), no bosque de Nemi • Sacerdote: escravo fugido, que conseguisse matar o antecessor - até ser morto pelo sucessor • O primeiro foi Hipólito, ressucitado por Esculápio • Ervas, com as quais uma cobra reviveu a companheira • Fonte, em que a ninfa Egéria se transformara, de tanto chorar pelo rei Numa • Amante e inspiradora de Numa: mandou-o prender Picus e Faunus até lhe ensinarem a conjurar Júpiter objetivo: aplacar o furor dos raios Diálogo com o deus Quando o rei Numa voltou a si, exclamou: "Ó soberano e pai dos deuses, se com mãos puras toquei vossas oferendas, e se com língua piedosa vos falo, o que eu peço é que concedais expiação para vossos raios." O deus atendeu às preces, mas encobriu seu verdadeiro intento e o aterrorizou com palavras ambíguas e confusas. - Disse o deus: "Corta uma cabeça" e o rei: "Assim farei; cortaremos a de uma cebola, colhida em minha horta" - O deus acrescentou: "Que seja de um homem" e o rei: "Dele tereis o cabelo" - O deus exigiu uma vida e o rei: "A de um peixe" O deus riu e disse: "Dessa forma expiareis meus raios, ó homem a quem nada impede de falar com os deuses!" Diana, deusa da Lua Diane, Lune Laudine Diana, deusa da Lua Diane, Lune Laudine A DI NE L U Diana, deusa da Lua Diane, Lune Laudine A DI NE L U Diana, deusa da Lua Diane, Lune Laudine A DI NE L U Diana, deusa da Lua Diane, Lune Laudine (obrigado, Simone!) A DI NE L U Lancelote • Prólogo: a condessa Marie de Champagne teria fornecido a Chrétien "matéria e significado" • Típica narrativa folclórica de rapto e resgate esquema de Vladimir Propp • O que Chrétien diz no Cligés parece contradizer os ditames do "amor cortês" seguidos por Marie • Chrétien não terminou - a tarefa coube a Godefroy de Lagny • Composto ao mesmo tempo que Yvain entrelaçamento, referências intertextuais Lancelote Primeiro movimento: rapto da rainha • Situação inicial. A corte de Artur se reúne alegre na festa da Ascenção. A rainha e vários barões participam. • Infortúnio preliminar. Mas Lancelote, principal defensor da rainha está ausente. O vilão, Meleagant, desafia Artur a enviar um cavaleiro à floresta, levando consigo a rainha, para lutar com ele. Vendo que o desafio fora ignorado, Kay finge querer deixar o serviço do rei, e força Artur e Guinevere a prometer o que ele vai pedir, sem saber o que é! A rainha concorda imprudentemente, e solicita ao rei que faça o mesmo. Kay pede que a rainha lhe seja entregue, para que ele assuma o desafio. Guinevere é assim exposta ao perigo, com sua própria cumplicidade. • Vilania. Meleagant bate Kay e sequestra a rainha. Lancelote • Partida do(s) herói(s). Gawain persuade o rei e vários de seus homens a ir atrás de Kay e da rainha. Percebem sinais da derrota de Kay. Gawain parte em busca da rainha e Lancelote o alcança, tendo sido talvez avisado pelo conde Guinable, que ouviu os queixumes da rainha (presumivelmente endereçados a Lancelote) enquanto Kay a conduzia pela floresta. • Testes do herói. (a) Ficando sem cavalo, Lancelote avista uma carroça guiada por um anão, o qual afirma saber por onde a rainha fôra levada; envergonhado por serem as carroças associadas à infâmia, Lancelote hesita um momento antes de embarcar. (b) Deitado em um leito, é apenas arranhado por uma lança em chamas lançada por mão invisível. (c) Encontra um ermitão num cemitério, que lhe diz que, segundo uma inscrição, aquele que puder erguer a coberta de uma certa tumba será capaz de libertar os prisioneiros da "terra sem retorno", onde habita Meleagant. Lancelote • Serviço a ser recompensado. Tendo derrotado um cavaleiro, Lancelote inicialmente atende a seu pedido de mercê, mas quando uma donzela pede a cabeça dele, combate de novo com ele e, obtendo a segunda vitória, corta-lhe a cabeça e a dá à donzela. Ela promete recompensá-lo pelo serviço, quando ele mais necessitar. • Marcação. (a) Lancelote é marcado moralmente com o nome vergonhoso de Cavaleiro da Carroça (b) Ele usa um anel que anula encantamentos, dado por uma fada. (c) Acha um pente com uns poucos cabelos da cabeça de Guinevere, e daí em diante guarda os fios dourados junto ao coração. Lancelote • Translado entre dois reinos. É guiado à Ponte da Espada (cf. al-Sirat, tradição islâmica) para ter acesso à terra de Gorre, do rei Bademagu, pai de Meleagant. Tirando a armadura, atravessa a ponte de modo doloroso, agarrando-se à borda afiada com mãos e pés desnudos. • Primeira vitória. Bademagu manda tratar as feridas de Lancelote. Tão cortês quanto o filho é arrogante, tenta convencê-lo a entregar Guinevere a Lancelote. Vendo seu pedido ignorado, fornece armas a Lancelote. Na luta, Lancelote está para vencer, Bademagu pede à rainha que interceda para poupar Meleagant. Luta adiada para a corte de Artur. A rainha e todos os demais prisioneiros são libertados. Lancelote Interludio: cena de amor na terra sem retorno • Tarefa difícil (a). No começo Guinevere trata Lancelote com desprezo por ter hesitado em subir na carroça (cf. Ramayana). Pouco depois, cada um é levado a crer na morte do outro. Agora ela lamenta a maneira áspera de tratar o amante. Por sorte as notícias eram falsas. Ele a visita, tendo de romper a grade de metal da janela. Nem nota como fere as mãos, que sangram profusamente. • Casamento (recompensa). Por uma (só) noite ficam juntos. • Tarefa difícil (b). A rainha é acusada por Meleagant ao ver o sangue, que ele imagina ser de Kay, nos lençóis dela. Segue-se um combate judicial, no qual Lancelote vindica a rainha derrotando Meleagant mais uma vez. A situação é ambígua: o juramento da rainha de não ter deitado com Kay serve para acobertar o caso com Lancelote, e para alegar uma total fidelidade a Artur. Lancelote Segundo movimento : o retorno do herói • Perseguição. Meleagant manda seus homens armar uma cilada para capturar Lancelote, e aprisioná-lo secretamente. • Pretensões infundadas. Com uma carta falsamente atribuída a Lancelote, Meleagant espalha o boato de que o cavaleiro já teria retornado à corte de Artur. Gawain escolta Guinevere de volta a Camelot, sendo saudado como seu libertador; entretetanto ele não assume essa pretensa honraria, apressando-se a dar todo crédito a Lancelote. Lancelote • Tarefa difícil (c). Ouvindo, durante o cativeiro, sobre um torneio confrontando as damas de Noauz com as de Pomelegloi, Lancelote suplica à esposa do nobre que o mantém prisioneiro que lhe permita sair para participar incógnito do torneio, mediante a promessa de retornar à prisão logo em seguida. No torneio, de início dá o melhor de si, em seguida o pior, e finalmente de novo o melhor, conforme a rainha Guinevere lhe determina por intermédio de uma donzela. [Para Lancelote, esta é a tarefa difícil definitiva; como se fizesse penitência pela hesitação no episódio da carroça, ele não desperdiça a oportunidade de provar sua total obediência, acima do orgulho de cavaleiro.] Ninguém o reconhece, salvo a rainha, e também um arauto que repetidamente proclama aos berros: "aquele que lhes tomará as medidas já chegou". Lancelote • Resgate. Uma filha de Bademagu acha a torre onde Lancelote está preso e o ajuda a escapar. É exatamente a mesma donzela a quem Lancelote dera a cabeça do cavaleiro. • Transfiguração. A filha de Bademagu cuida de Lancelote até que ele recupere a saúde e a força, e pareça não menos belo que um anjo. Dá-lhe ricas vestes e um cavalo esplêndido no momento da partida. • Reconhecimento e exposição. Lancelote chega, desta vez sem ocultar quem é, à corte de Artur quando Gawain se preparava para enfrentar Meleagant em seu lugar. Lancelote desmonta à frente de Gawain tão de repente que a este parece ver o herói descer das nuvens. A vilania de Meleagant é então revelada. • Punição. Lancelote derrota e mata Meleagant. Artur e os demais se rejubilam com o regresso e triunfo de Lancelote. A rainha, no entanto, precisa esconder seus sentimentos. Propp - dramatis personae • Herói - Lancelote, Gawain • Vítima - Guinevere -- mas depois passa a ser Lancelote (no segundo movimento) • • • • • Doador - Fada, Bademagu Ajudante - irmã de Meleagant Despachador - Artur Vilão - Meleagant Falso herói - Kay Funções proppianas conto folclórico preliminares busca volta para casa acerto de contas Funções proppianas preliminares ausência injunção proibição violação levantamento reconhecimento entrega de informação truque fraude cumplicidade busca vilania ou carência expedição convocação - mediação, resposta, partida preparação - prova, reação, objeto mágico translado confronto luta marcação vitória liquidação Funções proppianas volta para casa retorno captura perseguição resgate entrada chegada pretensões teste tarefa solução acerto de contas revelação reconhecimento exposição transfiguração retribuição punição casamento