Caso Clínico Endocardite INTERNATO / PEDIATRIA /ESCS/HRAS/SES/DF Apresentação: Thaís A. P. Garcia Coordenação: Sueli Falcão www.paulomargotto.com.br Brasília, 25 de maio de 2011 Caso clínico ID: Sexo feminino, 12 anos, natural e moradora de João Pinheiro HDA: Há 12 dias vem apresentando 1 pico febril diário de 38,5o C acompanhado de hiporexia, queda do estado geral, dores no corpo e, nos últimos 3 dias,dispnéia aos médios esforços. Procurou o posto de saúde com 3 dias do início dos sintomas, tendo sido medicada com sintomáticos e diagnosticada com virose. No 8o dia de evolução retornou ao hospital onde suspeitaram de pneumonia e lhe solicitaram Rx de tórax, mas este só foi realizado hoje. Ao retornar ao médico com o Rx de tórax, foi observado aumento de área cardíaca, sendo,então, encaminhada para este hospital. Caso clínico Antecedentes pessoais fisiológicos: Pré-natal com 7 consultas, não fez uso de medicações, de bebidas alcoólicas ou de drogas ilícitas; gestação sem intercorrências; Parto normal, 40 sem, pesando 3250g, Apgar 5’ 9/10; Aleitamento materno até 9⁰ mês de vida sem apresentar dispnéia ou cianose; Vacinação completa. Caso clínico História patológica pessoal: Nega internações prévias; N.D.N.. História patológica familiar: Tia materna portadora de lesão valvular – diagnóstico aos 25 anos durante prenatal – em acompanhamento com cardiologista; Mãe, 31 anos, sadia; Pais, 39 anos, sadio; Irmão, 10 anos, sadio. HS: Casa de alvenaria com saneamento básico; nega animais domésticos. Caso clínico Ao exame físico: emagrecida , dentes em péssimo estado de conservação , , hipocorada, hidratada, acianótica, desconforto respiratório leve; Pulsos periféricos palpáveis nas 4 extremidades e céleres; ACV: tórax hiperdinâmico ; ausência de fêmito; ictus de VE palpável com 3 poupas digitais 5⁰ EICE na linha axilar anterior; RCR em 3T B3 , FC 130 bpm, B1NF, B2 parcialmente encoberta pelo sopro diastólico +++/6+, audível em FAo Acessório e em Fao. PA:130x100mmHb Caso clínico Exames laboratoriais: HEMOGRAMA COMPLETO VALORES Leucócitos totais 32.000 Segmentados 65% Bastões 15% Linfócitos 20% Eosinófilos 0 Monóciots 0 Plaquetas 78.000 PCR 20 Discussão – Pontos Positivos Febre alta, hiporexia, mialgia e dispnéia aos médios esforços; Emagrecimento, dentes mal conservados, hipocorada; Pulsos céleres, ictus cordis difuso e desviado lateralmente, B3, taquicardia, sopro diastólico em FAo e FAoa; Estertores bibasais; Hepatoesplenomegalia; Leucocitose com desvio à esquerda e PCR elevada; Cardiomegalia. Discussão Diagnóstico topográfico: Coração; Valva aórtica. Diagnóstico sindrômico: Síndrome infecciosa; Síndrome consumptiva; Anemia; Insuficiência cardíaca congestiva; Insuficiência aórtica; Discussão Hipóteses diagnósticas Miocardite; Pericardite; Cardite reumática; Endocardite infecciosa. Miocardite Processo inflamatório do miocárdio que compromete o interstício, de forma aguda ou crôncia Viral (Coxsackie, ECHO, Poliovírus) Quadro infeccioso 2 a 3 semanas antes da eclosão da miocardite ou simultâneamente Cardiomiopatia dilatada em 14 dias Miocardite Aguda: Febre Baixo débito Taquidispnéica Taquicardica Sudorese noturna Palidez cutânea Pulso filiforme B1 hipofonética em FM Ritmo de galope, B3 Sinais de congestão pulmonar e sistêmcica Subaguda: Pouco sintomimática Ictus cordis desviado para esquerda e para baixo B1 hipofonética em FM, B2 hiperfonética em FP, B3 Sopro sistólico em FM Sinais de congestão sistêmica Discussão Hipóteses diagnósticas Miocardite; Pericardite; Endocardite infecciosa subaguda. Pericardite Febre, irritabilidade, dor precordial ou abdominal, mialgia fadiga (quadro gripal) Dispnéia Taquicárdico Atrito pericárdico (bifásico intermitente) ECG: corrente de lesão com supra de ST, de aspecto côncavo e onda T positiva e apiculada Fase I (dor) – supra ST em várias derivações, ponda T positiva e apiculada Fase II (dias após) – ST à linha de base, onda T aplainada Fase III (1-2 sem) – inversão onda T Fase IV (semanas ou meses) - normalização Demmler GJ. Pediatr Infect Dis J 2006;25:165-6. Pericardite Rx tórax: Derrame pericárdico de grande monta Leucocitose discreta e aumento de VHS Ecocardiograma: derrame pericárdico Demmler GJ. Pediatr Infect Dis J 2006;25:165-6. Discussão Hipóteses diagnósticas Miocardite; Pericardite; Endocardite infecciosa subaguda. Endocardite Processo inflamatório do endocárdio valvar ou mural, sobre um defeito septal, ou sobre as cordas tendíneas, como resultado de uma infecção bacteriana, viral, fúngica, ou por micobactérias e rickéttsias, que, na maioria das vezes, ocorre em pessoas com anormalidades pré-existentes do sistema cardiovascular.1 1. J. Pediatr. (Rio J.) vol.79 no.5 Porto Alegre Sept./Oct. 2003 Introdução Rara em crianças 0,2 a 0,5 das internações pediátrica; 1 20-64% mortalidade em crianças e adolescentes; 1 50% das crianças acometidas possuem doença cardíaca congenita; 2 Perfil epidemiológico: S. viridans x S. aureus;1 1. J. Pediatr. (Rio J.) vol.79 no.5 Porto Alegre Sept./Oct. 2003 2. Can J Infect Dis Med Microbiol Vol 19 No 1 January/February 2008 Patogenia LESÃO ENDOCÁRDICA VEGETAÇÃO ESTÉRIL BACTEREMIA TRANSITÓRIA PROLIFERAÇÃO E INVASÃO MICROBIANA DA SUPERFÍCIE ENDOCÁRDICA ENDOCARDITE INFECCIOSA 3.Tratado de Medicina Interna. Cecil, 22ª ed. Fatores de risco Uso de drogas IV; Próteses valvares (7-25% em países desenvolvidos): Precoce; Tardia. Doença estrutural cardíaca (75%); Endocardite infecciosa prévia (2,5-9% Rec); Procedimentos intravasculares ou cateteres endovenosos. 3.Tratado de Medicina Interna. Cecil, 22ª ed. Mmicrobiologia EI comunitária de valva nativa: Estreptococos: Subaguda HACEK (5%) Fungos Uso de drogas EV, cirurgia cardíaca recente ou uso de cateter endovenoso (nutrição parenteral total) Aspergillus e Candida sp. Mortalidade 50% Estafilocócos: Aguda E. viridans ß-hemolíticos – cirróticos, diabéticos e drogas EV E. bovis – neoplasia intestinal E. pneumonie – tríade de Osler Pacientes de hospitais de referência ou usuários de drogas EV (60%) S. aureus Enterococos: Subaguda 3.Tratado de Medicina Interna. Cecil, 22ª ed. Microbiologia EI nosocomial (9-17%): 48h após internação ou relacionada a procedimento realizado no intrahospitalar Cateteres endovenosos S. aureus e estafilococos coagulase negativo; enterococos e fungos EI de prótese valvar: PRECOCE • Estafilococos coagulase negativo • S. aureus • BGN • Enterococos • Fungos • Difteróides INTERMEDIÁRIA • Esfilococos coagulase negaticos • Enterococos • S aureus • Fungos • Estreptococos TARDIA • Estreptococos • S. aureus • Estafilococos coagulase negativo • Enterococos 3.Tratado de Medicina Interna. Cecil, 22ª ed. Manifestações clínicas EI aguda: Toxemia Febre alta Soro cardíaco Prostração importante Leucocitose significativa EI subaguda: Febre baixa e prolongada Sudorese noturna Fadiga Astenia Perda de peso Sopro cardíado Sintomas múscoloesqueléticos Anemia de doença crônica Leucócitos normais ou discretamente elevados FR positovo Manifestações clínicas Lesões nas próprias válvular cardíacas Êmbolos sépticos Fenômenos imunológicos Sinais e sintomas sistêmicos inespecíficos Manifestações clínicas Complicações Locais: ICC IAM Pericardite Embolia Infecções metastáticas Fenômenos imunológicos Febre prolongada Exames complementares HC com diferencial Eletrólitos Função renal Urina tipo I 3 hemoculturas Rx tórax ECG Ecocardiograma Diagnóstico Critérios de DUKE EI definida: 2 maiores 1 maior e 3 menores 5 menores EI provável: 1 maior e 1 menor 3 menores S 76-100% E 88-100% VPNeg 92% 1. J. Pediatr. (Rio J.) vol.79 no.5 Porto Alegre Sept./Oct. 2003 Diagnóstico Padrão-ouro: Cultura do tecido valvar ou de outra superfície endocárdica Tratamento AGENTE MDEDICAÇÃO Primeira escolha DURAÇÃO Alérgicos Streptococcus viridans Streptococcus bovis Enterococo Penicilina cristalina 200.000 mg/kg/dia ou Ceftriaxone 100mg/kg/dia + Gentamicina 3 -7,5mg/kg/dia Staphylococcus Oxacilina 200 mg/kg/dia aureus + Gentamicina Vancomicina 40 mg/kg/dia Cefazolina 100mg/kg/dia + Gentamicina ou vanco 4a6 semanas vancomicina Maual de condutas médicas, UFBA, 2005 Profilaxia – Grupos de risco Prótese ou reparo valvar EI prévia Cardiopatia congênita Cardiopatias congênitas cianóticas não reparadas Cardiopatias congênitas totalmente reparadas com material protético ou dispositivo, colocados por cirurgia ou por intervenção do cateter, durante os primeiros seis meses após procedimento Cardiopatia congênita reparados com defeitos residuais no local de remendo/dispositivo protético ou adjacente Receptores de transplante cardíaco que desenvolvem valvulopatia Paediatr Child Health Vol 15 No 4 April 2010 Profilaxia – medicamentos Odontológicos: Trato respiratório: Incisão ou biópsia de mucosa Se infecção adicionar ATB específico TGU e TGI: Manipulação de tecido gengival, de reigião periapical do dente ou perfuração de mucosa Infecção ou profilaxia para infecção de sítio cirúrgico ou para sepse, incluir anti esterococo (ampcilina ou vancomicina Manipulação de TGU ATBterapêutico/profilático Procedimentos em pele infectada, estrutura da pele e musculoesqueléticas Paediatr Child Health Vol 15 No 4 April 2010 Profilaxia - medicamentos CONDIÇÕES MEDICAÇÕES DOSE Capaz de ingerir medicação Amoxicilina 50mg/kg Incapaz de ingerir medicação Ampicilina 50mg/kg IM ou IV Alergicos a penicilina Cefazolina ou ceftriaxone 50mg/kg IM ou IV Cefalexina 50mg/kg Clindamicina Paediatr Child Health Vol 15 No 4 April 2010 20mg/kg Azitromicina ou 15mg/kg claritromicina Alergicos a penicilina e incapazes de ingerir medicação oral Cefazolina ou ceftriaxone 50mg/kg IM ou IV Clindamicina 20mg/kg IM ou IV Antes ou 2h após procedimento Paediatr Child Health Vol 15 No 4 April 2010 Fator de risco do caso? Valvulopatia reumática Valva aórtica bicúspede Cardiopatia Reumática Febre Reumática (FR) é uma doença inflamatória, não supurativa, de base imunológica, que ocorre após faringoamigdalites (FA) causadas pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A Indivíduo geneticamente predispostos entre 5 e 15 anos Maual de condutas médicas, UFBA, 2005 Cardiopatia Reumática Pancardite Endocardite manifesta-se por insuficiencia valvar, principalmente na mitral seguida pela aórtica Maual de condutas médicas, UFBA, 2005 Cardite reumática Diagnóstico: 2 manifestações maiores ou 1 maior e 2 menores + evidência de infecção prévia Critérios maiores • Cardite • Poliartrite • Eritema marginado • Coréia • Nódulos subcutâneos Crtéiros menores • Febre • Artralgia • Antecedentes de FR • VHS alterado • Proteína C reativa • Alterações no ECG (PR aumentado) • ASLO elevado recente Evidência de infecção estreptocócica prévia: 1. Cultura de orofaringe positiva para estreptococo do grupo A 2. Aumento de anticorpos produzidos contra a membrana do estreptococo do grupo A Maual de condutas médicas, UFBA, 2005 Valva aórtica bicúspede Valvopatia congênita mais comum; Indidência de 2% na população em geral; Mais comum no sexo masculino. Shi-min e col. The bicuspie aortic valve and related disordes; 2010 Valva aórtica bicúspede Quadro clínico: Sopro sistólico ejetivo, puco intenso, em área aórtica ou mesocárdio, precedido de um estalido ejetivo; Mínima obstrução ao fluxo do ventrículo esquerdo ou mínima insuficiência. Bibliografia Demmler GJ. Pediatr Infect Dis J 2006;25:1656. Shi-min e col. The bicuspie aortic valve and related disordes; 2010 Maual de condutas médicas, UFBA, 2005 Paediatr Child Health Vol 15 No 4 April 2010 J. Pediatr. (Rio J.) vol.79 no.5 Porto Alegre Sept./Oct. 2003 Tratado de Medicina Interna. Cecil, 22ª ed.