JORNALISTAS ASSASSINADOS, COERÇÃO E CENSURA À LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL Professor orientador: Soraya Venegas Autores: Branca Andrade DEMOCRACIA X CENSURA O que é democracia? • Governo do povo, pelo povo e para o povo; • Na imprensa a democracia só existe de fato quando há: • Liberdade de Pensamento; • Liberdade de Expressão; • Liberdade de Imprensa; 2 DEMOCRACIA X CENSURA O que é censura? “A censura pode ser conceituada como uma política de restrição da expressão pública de idéias, opiniões, sentimentos e impulsos que têm, ou se supõe terem, capacidade para abalar a autoridade do governo ou a ordem social e moral que esta mesma autoridade se considera disposta a proteger.” LASSWELL, Harold apud BARBOSA, Gustavo - Dicionário de Comunicação – Rio de Janeiro, Campus,2001, P. 121 DEMOCRACIA X CENSURA “...prévia (supressão antecipada e preventiva de determinados veículos ou mensagens), a posteriori (repressiva ou punitiva, depois da publicação ou durante uma apresentação ou série de apresentações públicas), econômica (p. ex., pela dependência de uma instituição em relação ao Estado ou a outra instituição, através de verbas publicitárias, financiamentos, concessões), policial/militar (pela repressão e prisão de cidadãos considerados perigosos, em situações de emergência, ou pela vigilância, em tempo de guerra, contra o vazamento de segredos militares ou de informações que possam abalar a moral das tropas, do governo ou da população civil).” BARBOSA, Gustavo – Dicionário de Comunicação – Rio de Janeiro, Campus, 2001, P. 121 DEMOCRACIA X CENSURA Qual é o papel do jornalista? “Embora o direito de ser informado seja garantido a todos os cidadãos, é à imprensa que tem sido delegada tacitamente a faculdade de investigar assuntos de interesse coletivo. São direitos correspondentes: em outras palavras, não basta que o Estado assegure a livre imprensa, é imprescindível que garanta também o dever da administração pública de deixarse investigar.” SALOMÃO, Virgínia – Communicare: revista de pesquisa – Direito à informação: um armamento em desuso, Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, São Paulo, 2001. HISTÓRICO DA CENSURA A imprensa brasileira é livre de fato? •Censura aos livros: antes da chegada de d. João VI ler era um crime: Ler já foi considerado heresia. Os livros eram vistos apenas nas mãos de sacerdotes. As bibliotecas eram restritas a mosteiros e colégios. Só no final do séc. XVIII começaram a aparecer as bibliotecas particulares. (Nelson Werneck Sodré) •Correio Brasiliense – 1º de junho de 1808 – Hipólito da Costa Impresso na Europa, o Correio Braziliense era contra a administração de D. João VI, contra a escravidão. Logo ele foi censurado pelo Desembargo do Paço, órgão responsável por monitorar todo o material impresso que circulava no país. Foi proibido de circular no país. O Correio Brasiliense circulou até 1822, ano da Independência. •Gazeta do Rio – setembro de 1808 – Frei Tibúrcio Uma espécie de Diário Oficial. Era impresso no Brasil e revisado para que nenhum assunto polêmico fosse divulgado. •Augusto May, editor do Jornal A Malagueta, espancado depois de publicar artigo contra D. Pedro I, em 1823 Esta agressão aconteceu no ano em que foi publicada a primeira Lei de Imprensa do país. Na lei dizia-se: ‘nenhum escrito, de qualquer qualidade, volume ou denominação [era sujeito] à censura, nem antes, nem depois de impressos’. Tornava-se portanto, ‘livre a qualquer pessoa, imprimir, publicar, vender e comprar livros e escritos de toda a qualidade, sem responsabilidade’, exceto nos casos de abuso ‘da liberdade de imprensa. (Lúcia Maria Bastos Neves) HISTÓRICO DA CENSURA VOCÊ CONHECE? Giovanni Battista Libero Badaró “Morre um liberal, mas não morre a liberdade”. • O primeiro jornalista assassinado da história da imprensa brasileira; • Fundador e redator do jornal O Observador Constitucional, foi assassinado a mando do Ouvidor Cândido Ladislau Japiaçu por defender em uma publicação do jornal os estudantes que o ouvidor mandou prender por comemorarem a queda do governo francês pelas ruas; • Data da morte: 21/11/1830; HISTÓRICO DA CENSURA •Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente da República, 1839 Promulgou a primeira Lei de Censura do país com o apoio de jornalistas famosos como Rui Barbosa, Quintino Bocaiúva e Aristides Lobo. A lei ficou em vigor até 1890. “O controle da palavra impressa contudo, não se limitou ao texto da lei. A repressão do período investiu firme, batendo de frente com formadores de opinião de órgãos de imprensa. A historiografia da primeira hora da república elenca uma série de transgressões violentas ao regime, traduzidas por inúmeras prisões de jornalistas, lembrando-se aquelas de: Saturnino Cardoso, redator da Democracia, Pedro Tavares, redator da República, de Campos, no Rio de Janeiro; Carlos von Koseritz, redator da Reforma, e que morreu na prisão no dia em que devia ser transferido para o Rio de Janeiro; David Job e Ernesto Gerngross, redatores do Mercantil do Rio Grande do Sul; Hasslocher, redator da Folha da Tarde, de Porto Alegre, que teve seu periódico suprimido, assim como foi também O Globo, do Maranhão. E mais: O Tribuno e A Lanceta, de Pernambuco, tiveram as edições confiscadas; a Orbe, de Maceió, e O Século, tipografias destruídas; Diário do Comércio e Correio do Povo, do Rio de Janeiro, redatores advertidos”. (Maria de Lourdes Janotti) •1891 – Promulgada a primeira Constituição da República Nasce também o Jornal do Brazil. Na época monarquista ele teve a tipografia fechada e chegou a ficar fechado por crises financeiras depois de sucessivas invasões enviadas por Floriano Peixoto. Quando o Jornal do Brasil passou a ser republicano, sob o comando de Rui Barbosa, em 1893, o mesmo foi preso após publicar noticiário sobre a Revolta da Armada. HISTÓRICO DA CENSURA •Getúlio Vargas - Estado Novo - 1937 O DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) e o Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) intermediavam as relações da imprensa com a sociedade. O DIP, criado em 1939, tinha como finalidade controlar a opinião pública no campo das idéias, não só na imprensa e no rádio. Desta maneira, diversas formas de expressão da linguagem e do pensamento foram atingidas, assim como a cultura, o lazer e os espetáculos. O DIP controlava o registro dos jornais, das emissoras de rádio e serviços de alto-falantes, das revistas e qualquer espécie de divulgação. Era o DIP que distribuía toda a propaganda do regime, ordenava a prisão de jornalistas, fechava jornais e rádios e censurava ou permitia que determinado conteúdo tornasse-se ou não conhecido pelo público. Para se comunicar com os veículos, o DIP o fazia pessoalmente, pois os censores eram civis, funcionários públicos ou mesmo militares, treinados para o serviço de informação do exército, ou por telefone e bilhetes. (Juarez Bahia) •Ditadura Militar – 1964 a 1985 “Essas graves restrições às liberdades no país tornam-se mais extensivas no alcance e mais abusivas com o Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, que fecha o Congresso Nacional, determina a censura a toda e qualquer manifestação de pensamento, suspende as prerrogativas da magistratura e o direito de habeas-corpus para crimes de natureza política”. (Juarez Bahia) •Democracia – 1985 a 2008 A censura disfarçada. Os limites de relacionamento da imprensa com as diversas esferas de poder sociais. Neste ano de 2010, por exemplo, tentou-se censurar o humor na política em época de campanha. CENSURA E MORTE Jornalistas Assassinados •Brasil está entre os 14 países mais perigosos para jornalistas, segundo o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ); •Dentre os países da América Latina o Brasil (32) ocupa o terceiro lugar em mortes de jornalistas desde 1988, perdendo apenas para a Colômbia (122) e para o México (70). (Sociedade Interamericana de Imprensa) •Impunidade: Dentre os países com casos de jornalistas assassinados o Brasil possui o maior número de casos sem solução. Dos cerca de 20 casos solucionados em que os assassinos foram condenados e presos, oito foram liberados por benefícios penais. •Tim Lopes – Zeu fugiu quando recebeu condicional; •Wladimir Herzog – assassinato em 1975. Juíza considerou que o crime prescreveu em 2009. •Faltam de dados de mortes de jornalistas no país. Bancos de dados incompletos, falta de uma delegacia especializada no assunto, falta de investimento de associações e sindicatos na investigação e manutenção de informações sobre o assunto. •Este estudo tem informações de variados bancos de dados, dentre eles, associações de imprensa, sindicatos, Repórteres sem Fronteiras, Sociedade Interamericana de Imprensa, Abraji, Comitê de Proteção ao Jornalista, Polícia Civil, Impunidade.com, entre outros; •A pesquisa encontrou setenta casos de jornalistas assassinados desde 1808 até 2008, sendo o primeiro deles em 1830, conforme já mencionado. GRÁFICOS GRÁFICOS •1995 – sete profissionais de imprensa assassinados no país. Não há justificativa histórica. (3 – RJ; 2 – BA; 1- MG e 1 – GO). Todos por censura após divulgação de informações polêmicas. •Década de 1970 – 20 casos de jornalistas assassinados e desaparecidos. Os motivos eram ligações político-partidárias antagônicas aos ideais do governo. As mortes eram simuladas e maquiadas de modo a fazer-se parecer um acidente. Isso dificultou e muito a verdadeira estatística de mortes no período ditatorial. •Comparação mortes ditadura e democracia – 20 casos de jornalistas assassinados em regime democrático, de 1990 a 1999. De 2000 a 2008 este número é de 21 assassinatos. •Nos últimos dezoito anos, ou seja, dos 41 últimos assassinatos, 15 estão relacionados com punições advindas de instituições do Estado não satisfeitas com denúncias feitas por jornalistas; 14 casos ainda não tiveram seus autores encontrados pela polícia e 9 casos tem relação com investigações jornalísticas de crime e narcotráfico; apenas dois casos estão relacionados a situações de confronto. GRÁFICOS GRÁFICOS •São Paulo e Rio de Janeiro têm mais da metade dos assassinatos encontrados pela pesquisa. Só na década de 1990 não foi encontrado assassinato em SP. Os três primeiros assassinatos da história foram em SP, inclusive o de Libero Badaró. O terceiro foi de João Ferreira Romariz, assassinado a mando de Marechal Deodoro da Fonseca. •Rio de Janeiro – Nove, dos quinze assassinatos foram no período da Ditadura Militar. Os outros seis se distribuem da seguinte forma, três em 1995, e outros três em 2001, 2002 (Tim Lopes) e 2006. Após a década de 1990 as mortes no RJ estão mais ligadas a investigações de crime organizado e tráfico de drogas. Além do Tim Lopes, Aristeu Guida da Silva foi assassinado antes de publicar informações de uma quadrilha que ele investigava especializada em roubo de carros. •Bahia – os dez assassinatos aconteceram todos na década de 1990. Chegou a ser o estado mais perigoso para jornalistas do país nesta época. Marcel Leal, filho de um dos jornalistas assassinados na Bahia denuncia o governo de Antônio Carlos Magalhães como autor da chacina. Todos os dez jornalistas foram mortos após denunciarem prefeitos, políticos e policiais ligados ao governo estadual da Bahia. GRÁFICOS GRÁFICOS •CENSURA INDEFINIDA – para os casos em que a investigação não avançou o suficiente para se saber qual é o verdadeiro tipo de censura; •RISCO – apenas dois casos aparecem mais relacionados ao risco que a profissão impõe que à censura, mas ambos tem características inconfundíveis de execução; •CENSURA A POSTERIORI – após a publicação; •CENSURA MILITAR– ligada a regimes totalitários de governo (presente na Ditadura); •CENSURA PRÉVIA – antes da publicação da investigação ou em casos em que jornalistas sejam testemunhas de crimes (queima de arquivo); É PRECISO PENSAR NA CENSURA NÃO COMO UMA INSTITUIÇÃO, MAS, COMO TODA E QUALQUER AÇÃO QUE VENHA A TER COMO OBJETIVO A MORDAÇA AOS INDIVÍDUOS E A IMPRENSA, COMO SEU LEGÍTIMO REPRESENTANTE. Branca Andrade