Entre Negros e Brancos, o que ficou?
Diásporas, identidades e representações em literaturas
africanas e afrodescendentes nas Américas
Conselho Editorial
Profa. Dra. Andrea Domingues
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©2015 Elenice Maria Nery; Elio Ferreira de Souza;
Sílvia Maria Fernandes Alves da Silva Costa
Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser
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meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.
N359 Nery, Elenice Maria; Souza, Elio Ferreira de;
Costa, Sílvia Maria Fernandes Alves da Silva
Entre Negros e Brancos, o que ficou? – Diásporas, identidades e representações em literaturas africanas e afrodescendentes nas Américas/Elenice
Maria Nery; Elio Ferreira de Souza; Sílvia Maria Fernandes Alves da Silva
Costa (orgs.). Jundiaí, Paco Editorial: 2015.
304 p. Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-462-0172-3.
1. Ensaios 2. Literatura Afrodescendente 3. Identidades Híbridas I. Nery,
Elenice Maria. II. Souza, Elio Ferreira de. III. Costa, Sílvia Maria Fernandes
Alves da Silva
CDD: 864
Índice para catálogo sistemático:
Coleção de Ensaios
808.84
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
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Às vozes silenciadas pelo caminho.
Agradecimentos
Para que este livro ficasse pronto, muitas barreiras precisaram ser ultrapassadas e muitas pontes construídas. Para tanto,
contamos, antes de tudo, com a vontade de cada um de nós a fim
de que os textos fossem publicados.
Assim, agradecemos, primeiramente, aos autores desta coletânea, por nos confiarem seus textos e, apesar dos contratempos,
não deixarem de acreditar.
Aos coordenadores do Mestrado Acadêmico em Letras da
Universidade Federal do Piauí, à época da disciplina de Literatura & Identidade, por nós cursada, que resultou nesse livro – prof.
Dr. Sebastião Lopes e profa. Dra. Maria Auxiliadora Lima.
Aos demais professores do Mestrado por nos proporcionarem oportunidades de crescimento em muitos dos debates singulares na UFPI, como o Prof. Dr. Saulo Brandão, Prof. Dra.
Marly Souza, prof. Dr. Diógenes Buenos Aires, Prof. Dra. Maria
do Socorro Magalhães...
À presença sempre doce, amiga, atenta e prestativa de Janice
Batista, Secretária do Mestrado em Letras da UFPI.
Aos organizadores, pela disponibilidade, carinho e cuidado
com que conduziram essa organização.
Queremos, por fim, agradecer aos leitores que enveredam
em meio aos nossos discursos diante de muitos outros oferecidos a nossa sociedade.
[...] a inteligência também nunca salvou ninguém,
e isto é verdade,
pois se é em nome da inteligência e
da filosofia que se proclama a igualdade dos homens
é também sob sua égide que se decide seu extermínio.
(Frantz Fanon)
A ella no igualan
Alba ni aurora,
Ni Apolo mira
Cuanto atesora:
Y no hay quien vierta
Luz tan amena,
Como los ojos
de mi morena.
(Gabriel de La Concepción Valdés – “Plácido”)
Sumário
Apresentação
Literatura afro-brasieleira: há lugares de onde falam a
subjetividade intransferível e a experiência do escritor negro? 13
Elio Ferreira
Prefácio
Literatura de margem: discurso, identidade e resistência
Naiara Sales Araújo Santos
21
PARTE I
O DISCURSO PÓS-COLONIAL
A alegoria do discurso racial no terceiro
espaço de O cercado, de Ramatis Jacino
Eliana Pereira de Carvalho
27
The representation of slavery in Rubens Teixeira
Scavone’s O Menino e o Robô (The Boy and the Robot, 1961)
Naiara Sales Araújo Santos
43
Assimilação e resistência em Autobiografía
de un esclavo, de Juan Francisco Manzano
Sílvia Maria Fernandes Alves da Silva Costa
53
Uma nação impressa: a construção da identidade
nacional em a Conjura, de José Eduardo Agualusa
Sueleny Ribeiro Carvalho
73
PARTE II
IDENTIDADES E REPRESENTAÇÕES
A reconstrução da identidade do negro no Brasil,
no poema “América Negra”, de Elio Ferreira
Antonia Pereira de Souza
91
Memória, identidade e solidariedade:
o coletivo negro na poética de Alzira Rufino
Douglas Rodrigues de Sousa
107
O santuário de alegorias luandinenses em
O guardador de memórias, de Isabel Ferreira
Elenice Maria Nery.
119
Gonçalves Dias afro-brasileiro e abolicionista
Elio Ferreira
133
Poesia negra: uma crítica ao discurso da estética ocidental
Emanoel Cesar Pires de Assis
151
A representação do homem negro
no conto Seiva da Vida, de éle Semog
Francisca Arlene Soares
163
Isaías Caminha: um propenso doutor
abatido pelo preconceito racial
Luziane de Sousa Feitosa
173
Entre negros e brancos, o que ficou?
Paula Fabrisia Fontinele de Sá
185
Africanidade e identidade de gênero em Kiluva, a tal...
e a sua fuma (fama) de o guardador de memórias, de Isabel Ferreira 195
Rita de Cássia Barros Assunção
Espelhos negros: constituição identitária em
Os donos das terras e das águas do mar, de Célia Pereira
Rúben de Jesus Reis Silva
Identidade em construção: uma análise do
personagem Marianinho do romance Um rio
chamado Tempo, uma casa chamada Terra, de Mia Couto
Wilma Avelino de Carvalho
211
227
PARTE III
DIÁSPORAS
O poema e o véu: a tradução da melancolia
na literatura da diáspora negra
Ana Cláudia dos Santos Silva
Onde o mar bebe o Capibaribe: o fenômeno
da crioulização e a poética da relação em
Caribenha Nação – Tuaregue Nagô, de Lenine
Jandira Lopes Pereira
241
251
Vozes afrodescendentes nos poemas “Batuque”
e “Linhagem”, de Carlos de Assumpção
Valdirene Rosa da Silva Melo
263
Tradição e tradução identitária nos poemas
Meu grito, escolha e Disfarce, de Oswaldo de Camargo
Wagner José Maurício Costa
281
Posfácio
Discursos de margem: as vozes silenciadas
Elenice Nery; Sílvia Costa
293
Sobre os autores
295
Apresentação
LITERATURA AFRO-BRASIELEIRA: há lugares de onde falam a
subjetividade intransferível e a experiência do escritor negro?
Não existe, na aparência, diferença essencial nos trabalhos dos brasileiros brancos e de cor. Mas justamente não passava de aparência,
que dissimulava no fundo contrastes reais.
(Roger Bastide, 1943)
No meu ver, a literatura negra se realiza quando o autor voltando-se
para a sua pessoa e sua vida como autor de origem negra, escreve em
torno dessa experiência específica.
(Oswaldo de Camargo, 2005)
Esse corpus [literatura afro-brasileira] se constituiria como uma produção escrita marcada por uma subjetividade construída, experimentada, vivenciada a partir da condição de homens negros e de mulheres
negras na sociedade brasileira.
(Conceição Evaristo, 2011)
Alertando para um fato de que [a literatura afrodescendente] se
trata de um conceito em construção.
(Eduardo de Assis Duarte, 2013)
Esta antologia de ensaios reúne dezenove textos, escritos
por mim e pelos alunos do Mestrado em Letras da Universidade
Federal do Piauí, área de Estudos Literários, que cursaram a disciplina Literatura e Identidade, quando fui professor dessa casa,
durante os anos de 2008, 2009, 2010 e 2011.
Nas 45h/a destinadas à disciplina, demos ênfase particularmente ao estudo de obras literárias escritas por autores afro-brasileiros do século XVIII aos contemporâneos dos Cadernos
Negros; também, dedicamos algumas leituras a obras de autores
negros de outras partes das Américas e África, junto àquele Mestrado da UFPI.
13
Elenice Maria Nery; Elio Ferreira de Souza; Sílvia Maria Fernandes Alves da Silva Costa
(orgs.)
A boa recepção dos alunos e alunas pelas obras não reconhecidas pelo Cânone e a leitura de teorias que discursam sobre
Identidade, Diáspora, Estereótipos, Hibridização, dentre outras,
resultaram na realização dessa obra. Isso se dera, em particular,
a partir da leitura das obras, do significado de se contar histórias,
de se recuperar memórias, de reconhecer experiências, respeitar
a diferença cultural, subjetividades e pontos de vistas do sujeito
negro, sob as perspectivas da crítica literária afrodescendente e
dos Estudos Culturais.
A ideia inicial da publicação deste livro surgiu em 2010, quando nos reunimos com esse propósito e a Elenice e a Sílvia se responsabilizaram pela coleta dos trabalhos escritos pelos mestrandos (hoje todos mestres, uma doutora e um número significativo
de ingressos em cursos de doutorado), bem como pela organização, logística e revisão final. A apresentação e a revisão da redação dos textos ficaram sob a minha responsabilidade. Na época,
não foi possível editar o livro e tivemos que adiar o projeto, o que
não compromete a atualização dos textos, tampouco diminui o
seu significado para os estudos de literatura e afrodescendência.
Indubitavelmente, esta antologia de ensaios possui um significado importante para a crítica literária afrodescendente. Isso
não só pela sua vocação didática no sentido de atender à demanda de pessoas interessadas no estudo, na pesquisa e ensino de temáticas relacionadas à afrodescendência, africanidade, etnia (Lei
n° 10.639/2003), gênero, memória, construção de identidades
pós-coloniais, como também pelo seu propósito de dar mais visibilidade à obra de afro-brasileiros, afrodescendentes e africanos.
Ela também cumpre o papel fundamental no sentido de contribuir para a consolidação da crítica literária afrodescendente no
Brasil, e, particularmente, no Estado do Piauí, onde nos últimos
dez anos, a publicação de livros e os estudos na área de literatura e
afrodescendência têm dado um salto de quantitativo à qualitativo.
Esta seara de estudos afrodescendentes e africanidades é
composta por sete ensaios sobre contos e poemas de autores
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Entre Negros e Brancos, o que ficou?
afro-brasileiros contemporâneos, cujos textos foram publicados
pelo periódico Cadernos Negros; um sobre os indicadores de africanidade evidenciados na obra de Gonçalves Dias; um ensaio
comparando textos de um poeta do Renascimento Negro do
Harlem (EUA) e o poeta afro-brasileiro Elio Ferreira; um sobre
a obra de Lima Barreto; um sobre a narrativa do escravo afro-cubano Juan Francisco Manzano; quatro acerca das literaturas
de Angola e de Moçambique; um discorre sobre a representação
do negro na canção de Lenine; um acerca da escravidão numa
narrativa de ficção científica infanto e juvenil; um sobre a poética de Elisa Lucinda e ainda um sobre a poesia do poeta afro-brasileiro Osvaldo de Camargo.
Dos sete textos citados inicialmente, destaca-se o que Antonia Souza faz a análise do poema narrativo “América Negra”, de
Elio Ferreira, a partir da abordagem de temas como memória,
construção de identidades e etnia, além de discorrer sobre estereótipo racial, conceitos de literatura negra e literatura afrodescendente; Eliana Carvalho discorre sobre a construção de identidades hibridizadas do negro em diáspora, apoiando-se na noção
de “entre-lugar”; nos discursos e narrativas pós-coloniais; e sob
o ponto de vista da estratégia de narrar “denominada alegoria”,
traduzida na escrita do autor afrodescendente durante a criação
da personagem/protagonista negra, desconstruindo estereótipos e valores de hegemonias eurocêntrica e branca.
Sob o viés da estética literária e da construção de identidades afrodescendentes, Emanoel Cesar de Assis debruça-se sobre
a análise de poemas de autores como Luiz Gama (1830-1882),
destacando ainda o papel da obra poética desses escritores enquanto lugares do imaginário e da reterritorialização da cultura,
afirmação da história e da autoestima da população negra em diáspora, marcada também pelo propósito de operar na desconstrução de estereótipos raciais elaborados pelas narrativas de valor eurocêntrico; Francisca Arlene Soares analisa o conto “Seiva da
vida”, de Éle Semog, destacando as estratégias do narrador no
15
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