Entre Negros e Brancos, o que ficou? Diásporas, identidades e representações em literaturas africanas e afrodescendentes nas Américas Conselho Editorial Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antônio Carlos Giuliani Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Eraldo Leme Batista Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Magali Rosa de Sant’Anna Prof. Dr. Marco Morel Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Prof. Dr. Sérgio Nunes de Jesus Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt ©2015 Elenice Maria Nery; Elio Ferreira de Souza; Sílvia Maria Fernandes Alves da Silva Costa Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. N359 Nery, Elenice Maria; Souza, Elio Ferreira de; Costa, Sílvia Maria Fernandes Alves da Silva Entre Negros e Brancos, o que ficou? – Diásporas, identidades e representações em literaturas africanas e afrodescendentes nas Américas/Elenice Maria Nery; Elio Ferreira de Souza; Sílvia Maria Fernandes Alves da Silva Costa (orgs.). Jundiaí, Paco Editorial: 2015. 304 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-462-0172-3. 1. Ensaios 2. Literatura Afrodescendente 3. Identidades Híbridas I. Nery, Elenice Maria. II. Souza, Elio Ferreira de. III. Costa, Sílvia Maria Fernandes Alves da Silva CDD: 864 Índice para catálogo sistemático: Coleção de Ensaios 808.84 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal Av. Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 [email protected] Às vozes silenciadas pelo caminho. Agradecimentos Para que este livro ficasse pronto, muitas barreiras precisaram ser ultrapassadas e muitas pontes construídas. Para tanto, contamos, antes de tudo, com a vontade de cada um de nós a fim de que os textos fossem publicados. Assim, agradecemos, primeiramente, aos autores desta coletânea, por nos confiarem seus textos e, apesar dos contratempos, não deixarem de acreditar. Aos coordenadores do Mestrado Acadêmico em Letras da Universidade Federal do Piauí, à época da disciplina de Literatura & Identidade, por nós cursada, que resultou nesse livro – prof. Dr. Sebastião Lopes e profa. Dra. Maria Auxiliadora Lima. Aos demais professores do Mestrado por nos proporcionarem oportunidades de crescimento em muitos dos debates singulares na UFPI, como o Prof. Dr. Saulo Brandão, Prof. Dra. Marly Souza, prof. Dr. Diógenes Buenos Aires, Prof. Dra. Maria do Socorro Magalhães... À presença sempre doce, amiga, atenta e prestativa de Janice Batista, Secretária do Mestrado em Letras da UFPI. Aos organizadores, pela disponibilidade, carinho e cuidado com que conduziram essa organização. Queremos, por fim, agradecer aos leitores que enveredam em meio aos nossos discursos diante de muitos outros oferecidos a nossa sociedade. [...] a inteligência também nunca salvou ninguém, e isto é verdade, pois se é em nome da inteligência e da filosofia que se proclama a igualdade dos homens é também sob sua égide que se decide seu extermínio. (Frantz Fanon) A ella no igualan Alba ni aurora, Ni Apolo mira Cuanto atesora: Y no hay quien vierta Luz tan amena, Como los ojos de mi morena. (Gabriel de La Concepción Valdés – “Plácido”) Sumário Apresentação Literatura afro-brasieleira: há lugares de onde falam a subjetividade intransferível e a experiência do escritor negro? 13 Elio Ferreira Prefácio Literatura de margem: discurso, identidade e resistência Naiara Sales Araújo Santos 21 PARTE I O DISCURSO PÓS-COLONIAL A alegoria do discurso racial no terceiro espaço de O cercado, de Ramatis Jacino Eliana Pereira de Carvalho 27 The representation of slavery in Rubens Teixeira Scavone’s O Menino e o Robô (The Boy and the Robot, 1961) Naiara Sales Araújo Santos 43 Assimilação e resistência em Autobiografía de un esclavo, de Juan Francisco Manzano Sílvia Maria Fernandes Alves da Silva Costa 53 Uma nação impressa: a construção da identidade nacional em a Conjura, de José Eduardo Agualusa Sueleny Ribeiro Carvalho 73 PARTE II IDENTIDADES E REPRESENTAÇÕES A reconstrução da identidade do negro no Brasil, no poema “América Negra”, de Elio Ferreira Antonia Pereira de Souza 91 Memória, identidade e solidariedade: o coletivo negro na poética de Alzira Rufino Douglas Rodrigues de Sousa 107 O santuário de alegorias luandinenses em O guardador de memórias, de Isabel Ferreira Elenice Maria Nery. 119 Gonçalves Dias afro-brasileiro e abolicionista Elio Ferreira 133 Poesia negra: uma crítica ao discurso da estética ocidental Emanoel Cesar Pires de Assis 151 A representação do homem negro no conto Seiva da Vida, de éle Semog Francisca Arlene Soares 163 Isaías Caminha: um propenso doutor abatido pelo preconceito racial Luziane de Sousa Feitosa 173 Entre negros e brancos, o que ficou? Paula Fabrisia Fontinele de Sá 185 Africanidade e identidade de gênero em Kiluva, a tal... e a sua fuma (fama) de o guardador de memórias, de Isabel Ferreira 195 Rita de Cássia Barros Assunção Espelhos negros: constituição identitária em Os donos das terras e das águas do mar, de Célia Pereira Rúben de Jesus Reis Silva Identidade em construção: uma análise do personagem Marianinho do romance Um rio chamado Tempo, uma casa chamada Terra, de Mia Couto Wilma Avelino de Carvalho 211 227 PARTE III DIÁSPORAS O poema e o véu: a tradução da melancolia na literatura da diáspora negra Ana Cláudia dos Santos Silva Onde o mar bebe o Capibaribe: o fenômeno da crioulização e a poética da relação em Caribenha Nação – Tuaregue Nagô, de Lenine Jandira Lopes Pereira 241 251 Vozes afrodescendentes nos poemas “Batuque” e “Linhagem”, de Carlos de Assumpção Valdirene Rosa da Silva Melo 263 Tradição e tradução identitária nos poemas Meu grito, escolha e Disfarce, de Oswaldo de Camargo Wagner José Maurício Costa 281 Posfácio Discursos de margem: as vozes silenciadas Elenice Nery; Sílvia Costa 293 Sobre os autores 295 Apresentação LITERATURA AFRO-BRASIELEIRA: há lugares de onde falam a subjetividade intransferível e a experiência do escritor negro? Não existe, na aparência, diferença essencial nos trabalhos dos brasileiros brancos e de cor. Mas justamente não passava de aparência, que dissimulava no fundo contrastes reais. (Roger Bastide, 1943) No meu ver, a literatura negra se realiza quando o autor voltando-se para a sua pessoa e sua vida como autor de origem negra, escreve em torno dessa experiência específica. (Oswaldo de Camargo, 2005) Esse corpus [literatura afro-brasileira] se constituiria como uma produção escrita marcada por uma subjetividade construída, experimentada, vivenciada a partir da condição de homens negros e de mulheres negras na sociedade brasileira. (Conceição Evaristo, 2011) Alertando para um fato de que [a literatura afrodescendente] se trata de um conceito em construção. (Eduardo de Assis Duarte, 2013) Esta antologia de ensaios reúne dezenove textos, escritos por mim e pelos alunos do Mestrado em Letras da Universidade Federal do Piauí, área de Estudos Literários, que cursaram a disciplina Literatura e Identidade, quando fui professor dessa casa, durante os anos de 2008, 2009, 2010 e 2011. Nas 45h/a destinadas à disciplina, demos ênfase particularmente ao estudo de obras literárias escritas por autores afro-brasileiros do século XVIII aos contemporâneos dos Cadernos Negros; também, dedicamos algumas leituras a obras de autores negros de outras partes das Américas e África, junto àquele Mestrado da UFPI. 13 Elenice Maria Nery; Elio Ferreira de Souza; Sílvia Maria Fernandes Alves da Silva Costa (orgs.) A boa recepção dos alunos e alunas pelas obras não reconhecidas pelo Cânone e a leitura de teorias que discursam sobre Identidade, Diáspora, Estereótipos, Hibridização, dentre outras, resultaram na realização dessa obra. Isso se dera, em particular, a partir da leitura das obras, do significado de se contar histórias, de se recuperar memórias, de reconhecer experiências, respeitar a diferença cultural, subjetividades e pontos de vistas do sujeito negro, sob as perspectivas da crítica literária afrodescendente e dos Estudos Culturais. A ideia inicial da publicação deste livro surgiu em 2010, quando nos reunimos com esse propósito e a Elenice e a Sílvia se responsabilizaram pela coleta dos trabalhos escritos pelos mestrandos (hoje todos mestres, uma doutora e um número significativo de ingressos em cursos de doutorado), bem como pela organização, logística e revisão final. A apresentação e a revisão da redação dos textos ficaram sob a minha responsabilidade. Na época, não foi possível editar o livro e tivemos que adiar o projeto, o que não compromete a atualização dos textos, tampouco diminui o seu significado para os estudos de literatura e afrodescendência. Indubitavelmente, esta antologia de ensaios possui um significado importante para a crítica literária afrodescendente. Isso não só pela sua vocação didática no sentido de atender à demanda de pessoas interessadas no estudo, na pesquisa e ensino de temáticas relacionadas à afrodescendência, africanidade, etnia (Lei n° 10.639/2003), gênero, memória, construção de identidades pós-coloniais, como também pelo seu propósito de dar mais visibilidade à obra de afro-brasileiros, afrodescendentes e africanos. Ela também cumpre o papel fundamental no sentido de contribuir para a consolidação da crítica literária afrodescendente no Brasil, e, particularmente, no Estado do Piauí, onde nos últimos dez anos, a publicação de livros e os estudos na área de literatura e afrodescendência têm dado um salto de quantitativo à qualitativo. Esta seara de estudos afrodescendentes e africanidades é composta por sete ensaios sobre contos e poemas de autores 14 Entre Negros e Brancos, o que ficou? afro-brasileiros contemporâneos, cujos textos foram publicados pelo periódico Cadernos Negros; um sobre os indicadores de africanidade evidenciados na obra de Gonçalves Dias; um ensaio comparando textos de um poeta do Renascimento Negro do Harlem (EUA) e o poeta afro-brasileiro Elio Ferreira; um sobre a obra de Lima Barreto; um sobre a narrativa do escravo afro-cubano Juan Francisco Manzano; quatro acerca das literaturas de Angola e de Moçambique; um discorre sobre a representação do negro na canção de Lenine; um acerca da escravidão numa narrativa de ficção científica infanto e juvenil; um sobre a poética de Elisa Lucinda e ainda um sobre a poesia do poeta afro-brasileiro Osvaldo de Camargo. Dos sete textos citados inicialmente, destaca-se o que Antonia Souza faz a análise do poema narrativo “América Negra”, de Elio Ferreira, a partir da abordagem de temas como memória, construção de identidades e etnia, além de discorrer sobre estereótipo racial, conceitos de literatura negra e literatura afrodescendente; Eliana Carvalho discorre sobre a construção de identidades hibridizadas do negro em diáspora, apoiando-se na noção de “entre-lugar”; nos discursos e narrativas pós-coloniais; e sob o ponto de vista da estratégia de narrar “denominada alegoria”, traduzida na escrita do autor afrodescendente durante a criação da personagem/protagonista negra, desconstruindo estereótipos e valores de hegemonias eurocêntrica e branca. Sob o viés da estética literária e da construção de identidades afrodescendentes, Emanoel Cesar de Assis debruça-se sobre a análise de poemas de autores como Luiz Gama (1830-1882), destacando ainda o papel da obra poética desses escritores enquanto lugares do imaginário e da reterritorialização da cultura, afirmação da história e da autoestima da população negra em diáspora, marcada também pelo propósito de operar na desconstrução de estereótipos raciais elaborados pelas narrativas de valor eurocêntrico; Francisca Arlene Soares analisa o conto “Seiva da vida”, de Éle Semog, destacando as estratégias do narrador no 15